A Transposição Didática Do Conhecimento Científico

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A TRANSPOSIÇÃO DIDÁTICA DO CONHECIMENTO CIENTÍFICO:

IMPACTOS E PERSPECTIVAS NO PROCESSO ENSINO- APRENDIZAGEM

Luciele Neves Lima*


José Ribeiro Filho **

RESUMO

A necessidade de ensinar o conhecimento científico de forma a ser

compreendido pelo aluno exige do professor estratégias que transformam o

conhecimento em algo que possa ser ensinado. Essa transformação do conteúdo

ocorre de forma interna e externa a escola, desde o momento em que o

conhecimento é produzido até sua transmissão pelo professor. O conceito de

transposição didática não é recente e foi bastante aplicado nos documentos oficiais

que regulamentam o ensino médio. Nesses documentos encontramos referencia a

relação que existe entre o professor, o saber e o aluno, a contextualização histórica

do conhecimento, a experiência cotidiana do aluno e a intenção didática do

professor de transformar a simples transmissão do conteúdo no desenvolvimento de

competências e habilidades que darão mais significado ao que é aprendido na

escola.

Palavras-chave: Conhecimento científico, transposição didática, contextualização,

competências.

RESUMEN

* Mestre em Ciências da educação pela Universidad San Lorenzo. Professora da Rede Pública
Estadual.

**Doutor em Física pela Universidade Federal do Ceará.


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La necesidad de enseñar los conocimientos científicos con el fin de ser

comprendidos por el alumno requiere del profesor estrategias que transforman el

conocimiento en algo que se puede enseñar. Esta transformación de los contenidos

se produce dentro y fuera de la escuela, desde el momento en que el conocimiento

es producido hasta su transmisión por el profesor. El concepto de transposición

didáctica no es nuevo y fue ampliamente utilizado en los documentos oficiales que

regulan la enseñaza secundaria. En estos documentos encontramos referencias a la

relación entre el profesor ,el alumno y el conocimiento, los antecedentes históricos

de los conocimientos, la experiência cotidiana del estudiante y la intención del

profesor de transformar la simple transmisión de contenidos en el desarrollo de

destrezas y habilidades que dan sentido lo que se aprende en la escuela.

Palabras clave: conocimiento científico, transposición didáctica, contexto, desalloro

de destrezas.

INTRODUÇÃO

É unâmine no meio educacional que o conhecimento para se tornar ensinável

passa por uma adaptação ao ambiente escolar. O conceito de transposição didática

não é novo e vem ganhando espaço nas práticas educacionais reforçado pelo

encaminhamento dado ao termo nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s) e

na própria legislação educacional brasileira. A articulação entre os conteúdos, os

recursos e meios para o desenvolvimento das competências exigidas nas áreas do

conhecimento, deve estar alicerçada na proposta pedagógica. E o que se pretende

alcançar é o que define a escolha, o tratamento e o recorte dado ao saber sábio

para ele se torne um saber à ensinar.


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Autores como Yves Chevallard (1991), Pinho Alves ( 2001) e Almeida (2007)

apresentados nesse artigo concebem a transposição didática como um conjunto de

ações transformadoras necessárias para tornar o conhecimento científico, sempre

composto de teorias complexas, em um conhecimento que possa ser assimilado

pelo aluno, sem que esse perca suas características. E esse grande desafio é

proposto ao professor. É ele que dará esse tratamento especial ao conhecimento e o

transformará em algo mais significativo para que seja melhor compreendido.

Uma das estratégias utilizadas pelo professor para enfrentar esse desafio é o

processo de contextualização ou recontextualização. Devido a fragmentação do

conteúdo, o saber a ser ensinado requer que o professor recrie o contexto ou um

novo texto na hora de sua transmissão que pode ser feita pela retomada do contexto

histórico-cultural ou pela reabilitação do saber ao contexto do aluno.

1. A TRANSPOSIÇÃO DIDÁTICA

A sociedade se expressa através de sua cultura e todo conhecimento é

resultado da aquisição de saberes que foram culturalmente acumulados em diversos

contextos históricos e sociais. É preciso reconhecer que parte desse conhecimento

não foi produzida para ser ensinado, mas para ser utilizado. A transição do

conhecimento considerado como útil do ponto de vista social em um conhecimento

como algo que possa ser ensinado e aprendido é segundo Yves Chevallard (1991)

definido como transposição didática do conhecimento. Segundo esse autor a maior

parte do trabalho de transposição, no entanto, já se encontra realizada antes da

intervenção do professor. Esse trabalho já se inicia desde a preparação o

conhecimento para sua divulgação e apresentação no meio científico, o que constitui


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o primeiro passo para seu processo de despersonalização e descontextualização.

Assim sendo a transposição pode ser entendida como um conjunto de ações cuja

finalidade é transformar um saber científico em saber ensinável. Ainda segundo

Chevallard o saber passa inicialmente por uma desestruturação, separado do

contexto que o originou e dividido em partes para posteriormente sofrer uma nova

reestruturação e se constitui em um novo saber, dotado da subjetividade dos

agentes envolvidos.

Ensinar é certamente a tarefa mais antiga da humanidade, desde as

civilizações mais antigas até os dias de hoje se constitui em um desafio que requer

certa dose de criatividade e imaginação. O problema quanto ao ensino reside no fato

de que nenhum corpo de conhecimento se mantém em sua plena forma, na maioria

dos casos o conhecimento se apresenta fragmentado. Aqui como em muitos outros

lugares são as autoridades que determinam os objetivos e os conteúdos das

instituições de ensino. Muito dos conteúdos ensinados na escola a sua totalidade

reside fora da escola, quer seja parte da iniciativa privada nos grandes laboratórios

ou dos órgãos governamentais. Para Chevallard (1991) a transposição didática

inicialmente é feita por uma instituição “invisível”, a qual denominou de “noosfera”.

Tal instituição é formada por pesquisadores, cientistas, técnicos, professores,

especialista, enfim por aqueles ligados à universidades, redes de ensino, órgãos

governamentais responsáveis por definirem os objetivos e propósitos do ensino, que

estabelecem normas, parâmetros e diretrizes que orientam cada disciplina.

No ambiente escolar o ensino do conhecimento científico deve passar para o

formato de conhecimento científico escolar. Esse conteúdo escolar não é ensinado

no formato original como foi produzido e divulgado pelo cientista, passando a ser um

produto de um conjunto de transformações. Para adaptar os conteúdos para o


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ensino não significa apenas simplificá-lo para eliminar o difícil ou o abstrato, para o

ensino desse conteúdo nas escolas faz necessário transformá-lo em algo que possa

ser ensinado, com conceitos, experiências e linguagem própria. Conforme Pinho

Alves (2001), o saber científico foi desenvolvido e publicado ao longo de muitos anos

por muitos personagens, passou pela crítica, reformulações, aceitações e

legitimação de outros cientistas.

O ensino de algum corpo de conhecimento não se justifica no simples fato

que possa a vir a ser útil em determinadas situações sociais. É preciso ter em mente

que existem três fatores importantes envolvidos nesse processo- quem ensina, o

quê e para quem ensina.

Os conhecimentos que para os alunos se apresentam sem significado,

descontextualizados, devem receber um tratamento por parte do professor para que

passe a ter significado para o aluno e faça de alguma forma parte de sua realidade.

A tarefa de selecionar as atividades em sala de aula ainda é da responsabilidade da

equipe de professores da escola. Muito ainda se discute quanto ao grau de

intervenção do professor na preparação do currículo. Alguns modelos elaborados

por especialistas que chegam às escolas são introduzidos no contexto escolar de

forma deturpado, onde as atividades desenvolvidas em sala de aula apresentam

objetivos e abordagens muito diferentes daquelas previstas no projeto original.

É preciso destacar que mesmo o professor siga as orientações definidas por

gestores e órgãos educacionais ele tem de ser capaz de reformular e adaptar o

conteúdo ao contexto especifico de sua sala de aula e as situações de

aprendizagem que podem ocorrer. Fica clara a responsabilidade da equipe de

educadores que trabalham juntos em uma escola pela condução do processo de


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ensino-aprendizagem. Essa etapa da transposição Chevallard(1991) define como

sendo a transposição interna, onde o professor vai dar ao saber uma nova

roupagem, já que este incute nesse saber a ser ensinado aspectos particulares e

subjetivos de sua relação com esse saber. Ainda conforme esse autor o professor

reescreve e transforma os conceitos e cria um metatexto, que seria um texto criado

para concretizar a transposição de determinado conhecimento.

1.1 A RELAÇÃO DIDÁTICA ENTRE PROFESSOR- ALUNO- SABER

O termo didática do grego didaskein que significa ensinar é entendida como a

arte e técnica de ensinar, de dirigir e orientar a aprendizagem. De acordo com

Libâneo (1994, p. 52) “é o principal ramo de estudo da pedagogia para poder

estudar melhor os modos e condições de realizarmos o ensino e instrução”. A

capacidade do professor em adaptar as estratégias de ensino ao contexto de sua

turma reflete a relação didática que este tenha com o conteúdo e com o aluno. Essa

relação une três objetos importantes do ambiente escolar- o professor, o aluno e por

último não menos importante, o conhecimento. O conhecimento é ao mesmo tempo

o ingrediente essencial da didática e o mais escondido de seus constituintes. Nas

discussões entre professores é sempre mais presente a questão do relacionamento

professor-aluno e das estratégias de ensino, o conteúdo a ser ensinado, fica muitas

vezes oculto nesse processo. O conhecimento científico deve ser encarado como

ponto chave do ensino formal nas instituições de ensino. Professor e aluno não

estão livres do contexto em que esses conteúdos são produzidos, muitos menos

onde serão aplicáveis. De acordo com Haydt (2006) o conceito de conteúdo é muito

amplo, e não de caracteriza apenas como a simples aquisição e assimilação de

informação. É por meio dos conteúdos que assimilamos e transmitimos


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conhecimentos, mas também desenvolvemos hábitos e habilidades, realizamos

operações cognitivas e trabalhamos atitudes.

1.2 A INTENÇÃO DIDÁTICA DO PROFESSOR

A intenção didática se constitui na intenção de ensinar. Um dos atores deve

ter a intenção de ensinar o outro, e ensiná-lo alguma coisa. É decorrente da vontade

por parte do processo de ensinar para que o aluno aprenda o conteúdo a ser

ensinado. O ensino e a aprendizagem não podem estar separados, o aluno pode

aprender muitas coisas que não foram evidentemente ensinadas a ele. Entretanto só

haverá aprendizagem se realmente houver a intenção de ensino. Segundo Haydt

(2006, p.13) “ensinar e aprender são como duas faces da mesma moeda”. Não é

possível tratar do ensino por parte do professor sem considerar a aprendizagem por

parte do aluno.

As situações favoráveis para o ensino continuam sendo as do contexto

escolar, pois transformam as situações reais, normalmente bastante complexas em

situações mais simplificadas. No entanto é preciso considerar que cada indivíduo

apresenta seu ritmo e seu tempo de aprendizagem que é bastante subjetivo e que

inviabiliza a pretensão de um tempo didático único: o tempo de ensino que não

costuma a coincidir com o tempo de aprendizagem. Para Chevallard (1991) esse

tempo de ensino seria estruturado pelo ritmo didático- saber antigo, saber novo,

contradição, superação-aprendizagem, nova contradição, nova superação. O aluno

por sua vez traz sua história pessoal, sua bagagem, seu conhecimento prévio que

poderão facilitar ou dificultar a aprendizagem.

A aquisição do conhecimento não é de forma nenhuma linear, sem desvios ou

sem contradições. A aprendizagem não constitui um processo regular, lógico e sem


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erros, mas um constante processo de contextualização do saber científico. O

professor não deve estar preocupado apenas com a transmissão das informações

consideradas relevantes, mas também com o processo de construção de conceitos

pelo aluno.

A transposição didática é constituída de um corpo de saberes necessários ao

profissional. São condições mínimas, mas indispensáveis para fazer a adaptação e a

transposição do saber científico para o ambiente escolar. Conforme Almeida (2007)

é importante que o professor saiba que há sequencias para se dar uma explicação

ou para se introduzir um conteúdo novo no ambiente educativo. Segundo esse autor

algumas etapas devem ser seguidas: resgate do assunto, ou seja, o que o aluno já

sabe sobre; ouvir todo o saber trazido e sintetizá-lo; criar uma motivação; apresentar

o conteúdo proposto; observar e identificar possíveis dúvidas; tirar dúvidas; explorar

todas as fases do conteúdo e por último, um fechamento de tudo que foi feito, uma

síntese da aula.

O desenvolvimento dessas habilidades pedagógicas requer do professor a

capacidade de estudar, formar-se, preparar-se, aprofundar-se, pesquisar e envolver-

se com profissionais que possuam outros saberes. Fazer a transposição dos

saberes implica em adquirir competências que precisamos desenvolver, tais como:

julgar o que é conveniente, relevante e pertinente; dominar o conhecimento em

questão; relacionar o conteúdo com outros saberes; saber contextualizar e dominar

estratégias de ensino.

2. A CONTEXTUALIZAÇÃO COMO FORMA DE TRANSPOR O

CONHECIMENTO
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Como afirma Chevallard (1991) o saber para se tornar ensinável passa por

uma espécie de degradação, sofre uma fragmentação e perde o contexto original de

sua produção, sendo assim descontextualizado. Etapas de sua produção são

omitidas, dúvidas são esclarecidas, explicações são adicionadas, alguns elementos

são destacados enquanto outros são minimizados, tudo isso para deixar o

conhecimento mais próximo do nível cognitivo daquele que recebe a informação.

Esse processo inicial de descaracterização facilita e agiliza a troca de informações e

a divulgação dos resultados da descoberta. Segundo Pinho Alves (2000) o espaço

em que ocorre o processo de construção do saber é denominado ‘contexto da

descoberta’ e se refere a uma etapa do processo onde se buscam as respostas para

solucionar um problema. Ao se encontrar essa resposta e ela sendo satisfatória

passa-se a uma etapa seguinte onde pretende - se analisá-la e julgá-la, segundo o

autor essa fase denomina-se ‘contexto de justificação’ onde se finaliza com a

publicação no meio especializado. Nessa fase de finalização não se mostra os

conflitos, as dúvidas e incertezas, bem como as inúmeras tentativas que estiveram

presentes em todo processo, desde a formulação do problema até sua conclusão.

Diante do que foi exposto observa-se que o saber chega às universidades,

aos livros didáticos e, portanto ao ensino médio diferente de como foi produzido no

meio cientifico, necessitando de uma nova caracterização e de um novo processo de

contextualização, o que podemos denominar de recontextualização. No âmbito

escolar a ação de contextualizar é uma importante estratégia para a reconstrução de

significado do conhecimento, é uma forma de recolocar o saber no contexto original

do qual foi extraído ou de colocá-lo num novo contexto que o torne significativo.

A contextualização está presente na atual legislação para o Ensino Médio. A

LDB(1999) em seu Artigo 16 deixa clara sua intenção e dar autonomia às escolas
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complementarem seus programas oficiais de ensino com características regionais,

locais e da vida do estudante. Ainda segundo os PCN “contextualizar o conteúdo

que se quer aprendido significa, em primeiro lugar, que todo conhecimento envolve

uma relação entre sujeito-objeto” (Brasil,1999, p.78). O sentido apontado pelos

Parâmetros Curriculares refere-se a contextualização sociocultural vivenciada pelo

aluno, o que envolve principalmente seu ambiente e seu cotidiano. Ainda de acordo

com esse documento oficial, a contextualização é a condição necessária para tirar o

aluno da condição de agente passivo do processo educativo. O documento refere-se

a contextualização como meio de concretizar a transposição didática com intuito de

transformar a aprendizagem mais significativa e promover uma maior reciprocidade

entre o aluno e o conhecimento.

Embora a legislação educativa priorize a contextualização do conteúdo

baseada no cotidiano do aluno, esses mesmos documentos encorajam a olharmos

para a Ciência como atividade socialmente construída, que possui um contexto

histórico e social. Mesmo parecendo difícil ensinar observando os diversos contextos

históricos, epistemológicos, sociais e culturais em que cada saber foi produzido, é

importante o professor estar ciente de sua importância para a construção de um

saber em sua totalidade. Existe uma série de fatores que dificultam esse tipo de

contextualização, podemos citar a falta de preparo dos professores decorrente de

falhas em sua formação, a produção de textos e livros que abordem a construção

histórica do conhecimento também é bastante falha e escassez de prioridades

quanto ao que se deve ou não ensinar aos alunos que cursam o ensino médio.

Retomando o conceito de contextualização segundo o Dicionário Interativo de

Educação Brasileira, de forma geral, é o ato de vincular o conhecimento à sua

origem e à sua aplicação. Qualquer que seja o sentido empregado torna-se uma
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estratégia fundamental para a transposição direta em sala, que é de

responsabilidade do professor. Ao incorporar vivências concretas e diversificadas ao

ensino, o professor muda sua postura frente ao conteúdo porque nenhum saber é

neutro. É fundamental incorporar valores que expressem o cotidiano e construam

uma melhor compreensão dos problemas em torno do contexto não apenas local

mas mundial. O ato de contextualizar não pode ser reduzido ao de exemplificar, na

verdade deve ser uma postura frente ao ensino o tempo todo.

Conforme Peçanha de Almeida (2007, p. 39) “ é a contextualização que deixa

claro para o aluno que o saber é sempre mais amplo, que o conteúdo é sempre mais

complexo do que aquilo que está sendo apresentado naquele momento”. Diante da

consciência de que existe uma complexibilidade é condição mínima para que ele

tenha acesso ao conhecimento e supere essa complexibilidade seu

comprometimento com o conteúdo e com a aprendizagem.

Ao mesmo tempo em que os conhecimentos prévios dos alunos são


problematizados, deve-se fazer a contextualização histórica dos
problemas que originaram o conhecimento científico e culminaram
nas teorias e modelos que fazem parte do programa de conteúdos
escolares a ser aprendido pelo aluno. (BRASIL, 2006, p.51)

De qualquer forma a contextualização sempre será uma ferramenta

indispensável ao processo de transposição do conhecimento. Se, de um lado a

contextualização sociocultural ambientada no contexto do aluno o aproxima do

objeto de estudo, dando-lhe sentido e significado, de outro lado a contextualização

histórica ambientada na origem e produção do conhecimento aproxima o aluno do

cientista construtor desse conhecimento, o que torna seu estudo mais motivador,

palpável e mais acessível, pois desmistifica a ciência, dando a entender que essa
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atividade é realizada por pessoas normais e não aquele caráter de entidade

sobrenatural muitas vezes atribuída ao cientista.

3. A TRANSPOSIÇÃO DIDÁTICA E O DESENVOLVIMENTO DE

COMPETÊNCIAS

Como já afirmamos os saberes escolares são simplificados para possibilitar

seu ensino, por exemplo, a Física escolar é diferente da ciência Física, embora

ambas estejam intimamente relacionadas. Então para garantir seu ensino devemos

desenvolver formas de articular teoria e prática, pois além das pesquisas científicas,

fundamentais ou aplicadas também existem outras práticas, com funções sociais

que não podem ser ignoradas. Essa forma de entender o ensino é defendida pela

LDB (1996) e pelas Diretrizes Curriculares Nacionais do Ensino Médio onde “busca-

se proporcionar ao aluno a aquisição de elementos de compreensão/manuseio de

aparatos tecnológicos, de máquinas e dos processos de produção industrial e outras

atividades profissionais. (Brasil, 2006, p.46). O desenvolvimento de competências

quer para o mercado de trabalho ou para possibilitar o enfrentamento frente a

questões éticas, sociais e políticas deve ser o objetivo da instituição escolar, pois dá

sentido aos conteúdos escolares. E dessa forma evitar oferecer aos alunos

conteúdos fragmentados ou, em muitos casos técnicas de resolução de exercícios

que apenas reproduz o conteúdo e que fora da escola apresenta pouca utilidade.

Almeida (2007) define as competências como nossas habilidades primárias

com um maior aprofundamento teórico e com direcionamento prático. Ou seja, as

competências são fruto de nossas habilidades que foram trabalhadas e aprimoradas.

Esse autor ainda afirma que competência vem de técnica e técnica se aprende
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fazendo, o que nos leva a considerar que o desenvolvimento de competências deve

ser um ato diário do cotidiano escolar.

Os documentos oficiais que legislam a educação brasileira propõem

incorporar ao cotidiano escolar o desenvolvimento de habilidades e o surgimento de

novas aptidões onde se deve privilegiar a aplicação da prática sobre a teoria. Diante

de tal orientação algumas questões se interpõem entre o trabalho do professor e a

aquisição das competências. Que tipo de habilidades cada jovem deve obter após

completar cada etapa do ensino médio? Que atividades seriam adequadas para que

o jovem adquirisse tais habilidades? Definir essas questões deve ser um trabalho

coletivo no ambiente escolar, o professor e o núcleo gestor devem ter a consciência

de que devem promover esse aprendizado e que devem fazer de forma intencional e

planejada.

De modo geral os PCN nos trazem quais competências e as habilidades

devem ser desenvolvidas de forma conjunta pelas disciplinas da área de ciências

naturais. Apresentamos uma síntese dessa proposta.

Representação e comunicação - para o desenvolvimento dessa competência o


aluno deve ser capaz de reconhecer e utilizar adequadamente símbolos, códigos e
nomenclatura da linguagem científica; ler, articular e interpretar símbolo e códigos;
consultar, analisar e interpretar textos e outras comunicações; elaborar
comunicações orais ou escritas e analisar, argumentar e discutir criticamente temas
de ciência e tecnologia.

Investigação e compreensão- identificar estratégias para enfrentamento de


situações-problema; identificar fenômenos, relações, regularidades, invariantes e
transformações de um dado conhecimento científico; selecionar e utilizar
instrumentos de medida, representar os dados e interpretar os resultados;
reconhecer, utilizar, interpretar e propor modelas explicativos para os fenômenos;
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articular, integrar e sistematizar conhecimentos disciplinares, interdisciplinares e


interáreas.

Contextualização sociocultural- compreender o conhecimento científico como


resultado de uma construção humana, inserido em um contexto histórico e social;
compreender a ciência e a tecnologia como partes integrantes da cultura
contemporânea; reconhecer e avaliar a ciência e tecnologia na atualidade;
reconhecer e avaliar o carácter ético do conhecimento científico e tecnológico.

Essas qualidades devem ser apreendidas no contexto escolar, para isso cabe

a escola e ao professor desenvolver um projeto pedagógico que promova a

articulação dos meios e dos recursos disponíveis na escola para definir o papel das

disciplinas para essa aquisição, bem como de outras atividades que possam ser

incorporadas ao currículo escolar. Compreendendo o currículo como uma

construção coletiva dos atores escolares é possível traçar estratégias que

possibilitem uma melhor adequação do currículo que a escola adota seguindo as

diretrizes e orientações curriculares dos organismos governamentais. Segundo

Sancho (2006) hoje não há mais grandes barreiras entre o conhecimento científico e

o cotidiano, pois o mais importante não é o que se aprende, mas como se aprende,

por que se aprende e o que fazemos com esse aprendizado, ou seja que impacto

esse conhecimento terá em nossa vida.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como a função principal da escolar é ensinar, o ensino do conhecimento deve

ser mais significativo e contextualizado para o aluno. Ele precisa saber o que fazer

com aquilo que aprendeu. Por meio das intervenções e das estratégias definidas

pelo professor ele será capaz de compreender como, porque e para que aquele

saber deve ser apreendido.


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Essa tarefa torna-se mais fácil para o professor quando ele compreende os

mecanismos da transposição didática do conhecimento. De posse das informações

sobre que elementos são importantes para o processo de ensino aprendizagem, o

professor pode planejar mais criteriosamente suas aulas. A transposição do

conhecimento científico deve ser um ato contínuo e consciente, para isso deve ser

pensada desde o momento do planejamento até sua execução.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

ALMEIDA, Geraldo Peçanha de. Transposição didática: por onde começar? São
Paulo: Cortez, 2007.

BRASIL. Secretaria de Educação Média e Tecnologia. Parâmetros Curriculares


Nacionais: Ensino Médio. Brasilia. MEC/SEMTEC. 1999.
BRASIL.Secretaria de Educação Básica. Orientações curriculares para o ensino
médio. Ciências da Natureza, Matemática e suas tecnologías. Brasília.SEB/MEC.
2006

CHEVALLARD, Y. La transposición didática: de saber sabio al saber ensinado.


Tradución. Claudia Gilman. Buenos Aires: Auque Grupo editor S.A

Dicionário interativo da Educação Brasileira.


Em http://www.educabrasil.com.br/eb/dic/dicionario.asp?id=55 acesso em 20 de
junho de 2010.

HAYDT, Regina Célia Cazaux. Curso de didática geral. 8 ed. São Paulo: Ática, 2006,
327 p.

LIBANEO, José Carlos. Didática. São Paulo: Cortez, 1994.

PINHO ALVES, J. Atividades Experimentais: do método à prática construtiva. Tese


de doutorado. CED. UFSC. 2000. Em http://nupic.incubadora.fapesp.br/portal/banco-
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20 de junho de 2010.

SANCHO, Juana. Currículo é tudo que acontece na escola. In: Patio. Ano X, n.37, 20
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