Unidade - 2 História Matemática Cederj
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O Dilema de Pitágoras
Nesta unidade didática você descobrirá como a Matemática tornou-se uma
ciência, no sentido de ter uma maneira bem definida de se
estabelecer a verdade.
Isso ocorreu com o surgimento da cultura grega, por volta de 600 a.C., quando
os primeiros matemáticos de que temos notı́cia passaram a fazer e responder
perguntas que começam com “por que”, além daquelas que
começam com “como”.
No entanto, após os primeiros triunfos dessa jovem força criativa, surgiu uma
grande crise, conhecida como o dilema de Pitágoras.
Para entender melhor essa história, você precisa conhecer um pouco o conteúdo
matemático produzido pelos povos que habitavam as margens do rio Nilo, na
África, e a região entre os rios Tigre e Eufrates, no Oriente Médio, cujas culturas
antecederam a grega e, certamente, a influenciaram.
Uma das mais fascinantes civilizações antigas de que temos notı́cia desenvolveu-
se às margens do rio Nilo, no norte da África – a civilização egı́pcia.
Todos nós sabemos como foi requintada a cultura desse povo que adorava
gatos, construı́a pirâmides monumentais para enterrar seus reis embalsamados
– os faraós – que eles acreditavam serem descendentes de seus deuses.
Entre tantas coisas dignas de nota a respeito dos antigos egı́pcios está o fato de
eles terem desenvolvido uma forma de escrita – os hieróglifos – deixando-nos,
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É por isso que Demócrito, filósofo grego que teria visitado o Egito, chamava
os matemáticos locais de “esticadores de cordas”, que eles usavam para fazer
as demarcações. Veja que geometria é formada pelas palavras gregas geo, que
quer dizer terra, e metria, que quer dizer medida.
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42 19 /
42 19 /
84 9 /
42 19 /
84 9 /
168 4
336 2
672 1 /
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19 × 42 = 42 + 84 + 672 = 798.
Parece mágica, mas não é. Esse algoritmo de multiplicação se baseia na ex-
pansão do multiplicando na base 2.
Atividade 5
31 26
62 13 /
124
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É interessante notar que o algoritmo conhecido pelos egı́pcios nos ensina a obter
a expansão de um dado número na base 2. Usar apenas dois dı́gitos, 0 e 1, para
denotar os números, é a base da construção dos nossos modernos computadores.
a2 + b2 = c2 ,
Para obter um ângulo reto, tão necessário para suas construções, eles usa-
vam doze pedaços de corda de mesmo comprimento amarrados uns aos outros,
formando um laço. Esticando propriamente esse laço obtinham um triângulo
retângulo de lados 3, 4 e 5 e o desejado ângulo. Veja a figura a seguir.
s s
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s s s s s s
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Os sumérios foram absorvidos pelos babilônios, que tiveram sua fase mais de-
senvolvida por volta de 575 a.C., durante o reinado de Nabucodonossor.
2uv, u2 − v 2 e u2 + v 2
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Atividade 6
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• ângulos opostos pelo vértice, formados por duas retas que se intersectam,
são iguais;
B
α
β
α β
q
A O C
α + β + (α + β) = 2 ângulos retos.
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A figura mais lembrada desse perı́odo inicial da matemática grega foi, sem
dúvida, Pitágoras. Entre os vários resultados atribuı́dos a ele, o mais famoso
é o Teorema de Pitágoras, sobre triângulos retângulos. Como você pode ver,
esse resultado era, essencialmente, conhecido pelas culturas que o antecederam,
mas é atribuı́da a ele sua primeira demonstração. Conta a história que Pitágoras
teria sacrificado cem bois quando descobriu a prova do teorema. Difı́cil de crer,
uma vez que Pitágoras teria sido vegetariano. De qualquer forma, não sabemos
exatamente qual foi a demonstração de Pitágoras. A demonstração oficial,
digamos assim, apresentada no livro 1 dos Elementos, de Euclides, é o ápice do
livro, que parece ter sido escrito para apresentá-la.
a b
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quatro triângulos:
µ ¶
2 2 ab 2
(a + b) = a +b +4 = a2 + 2ab + b2 .
2
Agora, um novo arranjo dos triângulos dentro do quadrado maior revela em seu
interior um quadrado de lado c, a hipotenusa do triângulo retângulo de catetos
a e b.
a b
(a + b)2 = 2ab + c2 .
a+b √ 2ab
• Estudo das médias aritmética , geométrica ab e harmônica ,
2 a+b
assim como as relações entre elas.
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n(n + 1)
Os números da forma , para n inteiro maior ou igual a 1, eram conhe-
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cidos pelos pitagóricos como números triangulares. Isso porque eles podem ser
dispostos num diagrama na forma de triângulos. Aqui estão alguns deles.
•
• • •
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• • • • • • • • • • • • • • • ...
1 3 6 10 15
Agora consideraremos os números quadrados. Esses podem ser representados
em diagramas na forma de quadrados, daı́ o seu nome:
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1 4 9 16 25
Veja um resultado de teoria de números que os pitagóricos demonstrariam
usando, digamos assim, simples geometria.
1 = 1
1+3 = 4
1+3+5 = 9
1 + 3 + 5 + 7 = 16
1 + 3 + 5 + 7 + 9 = 25
1 • • • • • •
+3 • • • • • •
+5 • • • • • •
+7 • • • • • •
+9 • • • • • •
+11 • • • • • •
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Atividade 7
Use um esquema semelhante para mostrar que a soma de dois números trian-
gulares subseqüentes, como 6 e 10, é um número quadrado.
Atividade 8
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√
2
1
√
O fato de 2 não poder ser expresso na forma p/q, para números inteiros p
e q, significa que não existe segmento u tal que “lado do quadrado” = q u e
“diagonal do quadrado” = p u.
Essa descoberta gerou uma crise monumental, pois isso colocava em xeque toda
a crença deles, de que a Matemática seria capaz de expressar qualquer coisa da
natureza. Devemos lembrar que número para os pitagóricos significa número
inteiro e as possı́veis razões seriam os chamados números racionais.
Do ponto de vista prático, todo raciocı́nio matemático que empregava a su-
posição de que quaisquer dois segmentos são comensuráveis estava invalidado.
Isso deixava um enorme mal-estar, pois os resultados demonstrados usando essa
informação estavam, subitamente, invalidados. Era urgente descobrir uma nova
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UD 2 História da Matemática
cadeia de raciocı́nio que pudesse substituir esse elo partido e contornar o terrı́vel
imbróglio.
Quem resolveu o problema foi Eudoxo de Cnido. Mas isso será assunto para a
próxima unidade didática. No entanto, antes de terminarmos esta unidade,
veja uma demonstração.
√
5.7 2 não é um número racional
p2
A demonstração de que não há dois números inteiros p e q tais que seja igual
q2
a 2 está no livro Primeiros Analı́ticos, de Aristóteles. Ela é do tipo redução ao
p2
absurdo. Vamos supor que haja dois inteiros p e q tais que = 2 e produzir
q2
uma afirmação absurda.
Realmente, suponhamos que tais números existam. Então, podemos tomá-los
de tal forma que eles são primos entre si (não têm fatores comuns). Geometri-
camente, estamos supondo que a unidade u escolhida é a maior possı́vel. Em
particular, isso significa que eles não são ambos pares. Por outro lado, como
p2 = 2 q 2 , podemos concluir que p é par, uma vez que seu quadrado é um
número par. Assim, existe um número inteiro r, tal que p = 2 r.
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