Capacitismo e Lugar de Fala
Capacitismo e Lugar de Fala
Capacitismo e Lugar de Fala
1 INTRODUÇÃO
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Decreto nº 6.949, de 25 de agosto de 2009, promulgou a Convenção Internacional sobre os Direitos
das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo, assinados em Nova York, em 30 de março
de 2007.
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As categorias usadas pelo IBGE, à época, foram visual, auditiva, motora ou intelectual.
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Diniz (2003) explica que os estudos sobre deficiência foram iniciados nos Estados Unidos e no
Reino Unidos no início dos anos 1970 por homens com deficiência decorrente de lesões físicas na
medula e que tinham tradição em estudos marxistas.
A expressão lugar de fala tem surgido nos últimos tempos com mais
frequência não só nos debates públicos, entre militantes, acadêmicos e
interessados, mas também nas discussões virtuais, por meio das redes sociais. Em
síntese, pode ser entendida como contraponto ao silenciamento de vozes de grupos
historicamente invisibilizados. No entanto, com sua apropriação por um segmento
mais amplo da sociedade, Berth chama atenção para que seu uso não se torne
incompleto (MOREIRA; DIAS, 2017)8.
Apesar da origem do termo não ser precisa, Ribeiro (2017) afirma que
para conceituar lugar de fala é necessário retomar os percursos intelectuais e de luta
de mulheres negras durante a história. Seu uso advém, segundo a autora, da
tradição da teoria racial crítica, assim como dos estudos sobre diversidade e gênero
que questionam quem tem o poder do discurso. Desde esta perspectiva, o termo
serve para reivindicar o poder de falar e produzir discursos contra hegemônicos e,
assim, quebrar com a autorização discursiva de somente um grupo, o qual se
entende como sujeito universal, comumente representado pelo homem branco, cis e
hétero (e, importante marcar, dotado de um corpo adequado a uma suposta
normalidade).
Nesse sentido, faz-se necessário compreender a noção de discurso, uma
vez que este não se trata de um simples “amontoado de palavras ou concatenação
de frases que pretendem um significado em si” (RIBEIRO, 2017, p. 56). Mais do que
isso, a noção foucaultiana de discurso remete a um sistema que estrutura
determinado imaginário social, pois está intimamente ligado ao poder e ao controle
(RIBEIRO, 2017). Deve-se considerar que os acessos não são garantidos a todos de
maneira justa, ocorrendo um desequilíbrio entre os grupos na ocupação de lugares
de produção e disseminação de conhecimento, como as universidades, e na
ocupação de instâncias de poder, como a política institucional. Assim, as vozes
destes grupos não são representadas, tampouco catalogadas, a ponto de
produzirem um discurso sólido na sociedade. Por isso, o poder de “falar”, para além
de simplesmente emitir palavras, diz respeito ao poder de existir (RIBEIRO, 2017).
Apesar da origem do termo ser imprecisa, é possível pensar lugar de fala
a partir da teoria do ponto de vista feminista, a qual tem origem na tradicional
discussão norte-americana sobre o feminist standpoint (RIBEIRO, 2017). Uma de
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Trata-se de entrevista concedida pela arquiteta Joice Berth ao jornal Nexo.
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Trata-se de entrevista concedida pela professora e ativista Rosane Borges ao jornal Nexo.
6 REFERÊNCIAS
MOREIRA, Matheus. DIAS, Tatiana. O que é lugar de fala e como ele é aplicado
no debate público. Nexo Jornal, 16 jan. 2017. Disponível em:
<https://goo.gl/KgMHZQ> Acesso em 02 mai. 2019.
SETUBAL, Joyce Marquezin; FAYAN, Regiane Alves Costa (orgs.). Lei Brasileira de
Inclusão da Pessoa com Deficiência – Comentada. Campinas: Fundação FEAC,
2016.