Enauta 3T2021 1

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O Potencial de Enauta

ENAT3
Antes de falarmos sobre a empresa, vamos ressaltar alguns pontos importantes. O
primeiro é que você precisa entender a geração de valor no processo principal; afinal, é o
fator mais relevante de um negócio. Mesmo que a empresa conte com um histórico
notável, ainda assim ela só será saudável e eficaz para o investidor quando o processo,
que é a razão da existência da companhia, for rentável e o produto/serviço estiver em
sintonia com as necessidades futuras do mercado consumidor.
E o segundo é que as projeções de resultados precisam ser baseadas na capacidade de
assumir as demandas do mercado consumidor, seja em qualidade, quantidade, preço ou
inovação, e essas projeções são baseadas na capacidade de repetir e melhorar o
desempenho do passado, o que significa dizer que no longo prazo a consistência e a
rentabilidade de um negócio dependem da curva de demanda e oferta e todas as suas
variáveis (cadeia).
Nunca é demais lembrar que a companhia é resultado do spin-off da divisão de
exploração de petróleo do Grupo Queiroz Galvão. Veja abaixo a composição acionária:

Fonte: RI da companhia

Todos os setores da empresa possuem estratégias referentes a suas atividades


individuais, e o alinhamento entre os setores e suas estratégias formam o planejamento
estratégico global. Eu sei que isso não é novidade para a maioria de vocês, porém muitas
vezes o óbvio é subestimado e isso afeta a avaliação final.
“Aquilo que pensamos saber, com frequência nos impede de aprender”
Claude Bernard.

Análise Enauta – ENAT3 – 04/01/2021


A empresa:
A Enauta é uma das principais empresas de controle privado do setor de exploração e
produção de petróleo no Brasil. A companhia tem por objeto social a participação em
sociedades que se dediquem substancialmente à exploração, produção e
comercialização de petróleo, gás natural e seus derivados, seja como sócia, acionista ou
outras formas de associação, com ou sem personalidade jurídica.
Em 30 de setembro de 2021 possuía participação em 22 consórcios, sendo operadora em
um dos campos em fase de produção, atua ao longo da costa do Brasil e possui dois
ativos produtores, mas atenção ao Campo de Manati:
Campo de Atlanta, localizado nas águas profundas da Bacia de Santos, no qual detém a
operação com 100% de participação. No 3T2021 a empresa operou com a totalidade do
Campo de Atlanta e divulgou um recorde de geração de receita.
O campo de Atlanta teve sua produção iniciada em maio de 2018. O óleo é produzido
pelo FPSO Petrojarl I e é vendido para a Shell, que contratou a compra do óleo do
Sistema de Produção Antecipada do campo.
Vale lembrar que foi assinado em abril deste ano o acordo entre Enauta Energia e a
Dommo, dando fim a todos os litígios existentes em relação ao Campo de Atlanta,
aqueles que iniciaram após o exercício da notificação de retirada da Dommo pela Barra
Energia. O valor do acordo foi de US$ 2 milhões, sendo que US$ 1 milhão pago já em
abril e o restante será pago em quatro parcelas com vencimentos em abril e dezembro
dos anos, com previsão de encerramento em 2023.

Fonte: release da companhia 3T2021

Análise Enauta – ENAT3 – 04/01/2021


A produção cresceu 87,7% na comparação com mesmo período de 2020, devido ao
aumento de participação dela no Campo. A empresa também informou que Atlanta
operou por meio de dois poços com produção média diária de 13,1 mil barris de óleo,
6,1% menor em comparação com o 3T2020 e 4,1% menor em comparação com o 2T2021.
A diminuição em relação a 2020 se deve a interrupções geradas por falhas no sistema de
bombeio submarino localizado no leito marinho de um dos poços.
A companhia também concluiu a primeira etapa do projeto para ampliar a capacidade
de tratamento de água no FPSO, que libera a planta de processo para aumento da
produção de óleo, e como consequência aumentou de 5,9 mil barris para 8,5 mil barris
por dia, lembrando que existe mais uma fase nesse projeto para ampliar a produção,
chegando a uma capacidade de 20 mil barris por dia.
NO início do 4T 2021 a companhia informou que atingiu 19 milhões de barris
produzidos no Campo de Atlanta e que mantém a projeção de produção média para o
ano de 12 mil barris de óleo por dia, com margem de variação de 10% para + ou –, com
base na média diária em anual.

Fonte: apresentação 3T2021

Em relação aos custos, a média do custo diário no 3T2021 foi de US$ 32,1 por barril,
incluindo o afretamento do FPSO, contra US$ 25,2 por barril no trimestre anterior. A
empresa justifica o aumento pelo custo do afretamento do FPSO, além de variações de
tarifas menores no 3T2020, o que acabou prejudicando a comparação.

Fonte: apresentação 3T2021

Análise Enauta – ENAT3 – 04/01/2021


Atlanta contribuiu com 80% da receita.
Projeções:

Atlanta: estimativa de produção média de 12.000 bbl por dia para 2021, com variação
positiva ou negativa de 10% da média diária em base anual. O Capex com estimativa de
US$ 40 milhões para 2021 e de US$ 105 milhões para 2022, com margem de variação
negativa ou positiva de 20%
Campo de Manati: um dos principais fornecedores de gás da região Nordeste, no qual
detém 45% de participação.
Lembrando que a companhia fechou contrato de alienação da participação no campo
Bloco BCAM‐40, campo de Manati para a Gas Bridge S.A. Mas esse contrato possui
condições precedentes que não foram concluídas até o 3T2021, e caso ocorra tudo
conforme planejado, a Enauta receberá um valor de R$560 milhões, sendo o fluxo de
caixa da operação do campo de Manati, entre 1º de janeiro de 2021 e a data do
fechamento da operação.
A companhia também informou no 3T2021 que assinou os contratos de concessão dos
blocos adquiridos em dezembro de 2020, com 30% de participação nos blocos terrestres
PAR‐T‐196, PAR‐T‐215, PAR‐T‐86 e PAR‐T‐99 na Bacia do Paraná no 2º Ciclo da
Oferta Permanente, realizado pela ANP. Esse consórcio é operado pela Eneva S.A., com
70% de participação, e o Programa Exploratório Mínimo será executado em até 6 anos.
A empresa divulgou também que espera o recebimento, no 4T2021, dos US$ 144
milhões referentes à última parcela da venda da participação no Bloco BM‐S‐8, ocorrida
em 11 de julho de 2017. O fato relevante do dia 09/12 informa que o prazo é de 45 dias
após a data do informe.
Recebimentos futuros:

▪ R$ 560 milhões: conclusão da venda da Manati (a venda foi cancelada em 03/01/2022,


clique aqui).

▪ US$ 144 milhões: última parcela da venda da BM-S-8.

Análise Enauta – ENAT3 – 04/01/2021


Fonte: release da companhia 3T2021

Portfólio de Exploração: bacia de Sergipe-Alagoas


A empresa possui participação de 30% em 9 blocos, sendo que o início da perfuração do
primeiro poço exploratório, no prospecto Cutthroat, localizado no Bloco SEAL–M-428,
é esperado para o quarto trimestre de 2021, com um investimento por parte da
Enauta de US$ 8 milhões nesse poço.
A empresa também informou que identificou outras oportunidades, estimando que as
descobertas realizadas em águas profundas na região ultrapassem 1,2 bilhão de boe.

Fonte: release da companhia 3T2021

Exploração:

Análise Enauta – ENAT3 – 04/01/2021


Sobre o faturamento e recorrência:
A Enauta Energia possui um contrato de longo prazo que vence em 2030. Nele está
previsto o fornecimento de um volume mínimo anual de gás à Petrobras do campo de
Manati, sendo que o preço é ajustado tendo como base um índice contratual corrigido
pela inflação, com cláusula de take or pay (anualmente).
O volume é de 23 bilhões de m³ de gás.
Sobre o contrato com a Shell, para a comercialização da produção do sistema de
produção antecipada do campo de Atlanta, após a renegociação do contrato, a
companhia informou que o vencimento das faturas emitidas ocorrerá sempre em 30 dias
após a data do último Bill of Lading. Aliás, a título de informação, o B/L é emitido pelo
armador no país de origem e é um dos documentos mais importantes do processo, a
base para o desembaraço aduaneiro.
As vendas de óleo são “FOB” no FPSO, com desconto fixo inferior a US$ 1 por barril em
relação ao Brent.
FPSO: unidade flutuante de produção, armazenamento e transferência. É um tipo de
navio utilizado pela indústria petrolífera para a produção, armazenamento de petróleo
e/ou gás natural e escoamento da produção por navios aliviadores.
FOB: modalidade de repartição de responsabilidades, direitos e custos entre comprador
e vendedor no comércio de mercadorias. Na modalidade FOB, o exportador é
responsável pelos custos de transporte e seguro da carga somente até que esta seja
embarcada no navio. A partir desse ponto, o importador torna-se responsável pelo
pagamento do transporte e do seguro.
Financeiro:

Análise Enauta – ENAT3 – 04/01/2021


Fonte: release da companhia 3T2021

Resultado de Atlanta puxado por:


Campo 100% operado
A alta da commodity
A redução do desconto do óleo para menos de US$ 1 em relação ao Brent
Em Manati:
Alta do preço do gás
Aumento da produção no 3T2021 versus 3T2020
Custos:
Os custos operacionais aumentados em 223% refletem a totalidade da operação no
campo de Atlanta; em Manati o aumento foi de 48,2%.

Análise Enauta – ENAT3 – 04/01/2021


Fonte: release da companhia 3T2021

Excluindo o impacto do IFRS-16, os custos de Manati totalizaram R$ 50,9 milhões,


aumento de 37,3%, reflexo do aumento da produção. Em Atlanta, os custos aumentaram
211,9%, totalizando R$ 384,6 milhões; a justificativa é a maior participação no Campo.
Geração de Valor:
Influenciaram o resultado a contabilização da totalidade de Atlanta, a alta do Brent e o
desconto de menos de US$ 1 em relação ao Brent na venda do óleo.

A margem EBITDAX subiu 5,3 p.p.


Resultado Financeiro

Análise Enauta – ENAT3 – 04/01/2021


Resultado financeiro negativo em R$ 6,5 milhões, contra R$ 33,9 milhões no mesmo
período de 2020, devido à variação cambial sobre os contratos de arrendamento em
moeda estrangeira. Ao excluir o impacto do IFRS-16, o saldo seria positivo em R$ 85
milhões, aumento de 1.750%, justificado pela maior rentabilidade de aplicações
financeiras e ganho de variação cambial, isso porque a empresa aumentou aplicações
financeiras em dólares e também sobre os recebíveis da venda de óleo.
Lucro líquido
A empresa apurou R$ 134 milhões, contra R$ 29,4 milhões no mesmo trimestre de 2020,
devido, como dito anteriormente, à maior participação no Campo de Atlanta e à alta do
preço do Brent.
O caixa da companhia ao final do período era de R$ 2,4 bilhões, 41,2% superior ao
3T2020 e 19% acima do trimestre anterior. O fluxo de caixa operacional foi de R$ 491,8
milhões, contra R$ 159,5 milhões no 3T2020, devido ao aumento do fluxo de recebíveis
do Campo de Atlanta.
OBS: 38% do caixa denominado em dólares.
Dívida

Dívida bruta de R$ 174,8 milhões, redução de 22,1% contra 3T2020, devido aos
pagamentos da dívida tanto do FINEP quanto do BNB.
Capex 2021-2022: US$ 145 milhões

▪ 2021: US$ 40 milhões

▪ 2022: US$ 105 milhões


Duas coisas são cristalinas nesse negócio: concentração e baixa alavancagem. Portanto,
é preciso entender que uma pode ser resolvida com a outra. E considerando que estamos
falando de petróleo/gás natural, o preço é sempre uma variável que surpreende, assim é
preciso cuidado em momentos de alta da commodite, afinal, o preço leva em
consideração variáveis diversas. No caso do petróleo/preço do Brent, é importante ficar
de olho: estoques, EUA - produção, OPEP produção, acordo dos EUA com Irã, que pode
aumentar o volume de exportação.

Análise Enauta – ENAT3 – 04/01/2021


Uma pessoa física que tem algum entendimento dos indicadores fundamentalistas
olhará a Enauta como uma grande oportunidade ou, talvez, a maior oportunidade da
bolsa de valores atualmente.

Veja um cálculo simples que um investidor com um pouco de experiência faria sem
muitas dificuldades:

Empresa tem Caixa Líquido de R$ 2,237 bilhões;


Receberá US$ 144 milhões da última parcela da venda do BM-S-8 (recebido em 09/12);
Receberá R$ 560 milhões da venda da sua participação no Campo de Manati (venda
cancelada em 03/01/2021, clique aqui);
Incorrerá em um Capex (investimento) de US$ 145 milhões.

Ou seja, a companhia possui hoje quase R$ 2,2 bilhões em caixa atual ou a receber, já
excluindo dívidas e investimentos. Mas o seu valor de mercado atual é de R$ 3,5 bilhões.
Ou seja, é difícil não perceber uma empresa que, excluindo caixa, vale apenas R$ 1,3
bilhão e que possui uma produção média de 13,1 mil barris por dia e 1,2 milhão de barris
produzidos no trimestre, além da produção do campo de Manati, que já está em
declínio, mas que ainda possui uma geração de caixa esperada futura de ao menos R$ 1
bilhão (valor futuro).

No último trimestre, o Ebitda da companhia alcançou R$ 438 milhões, puxado pelo


aumento do preço do petróleo e aumento do valor do câmbio. Ou seja, a empresa gera
caixa em três ou quatro trimestres suficientes para pagar todo o seu valor de mercado
ex-caixa.

Outra conta simples que um investidor poderia fazer e que a gente observa muito no
Twitter é a seguinte:

Valor de Mercado Caixa Líquido Produção Diária


Esperada
ENAT3 R$ 3,5 bilhões R$ 2,2 bilhões 20 mil barris
RRRP3 R$ 6,7 bilhões R$ 0,6 bilhões 25,6 mil barris
PRIO3 R$ 18,1 bilhões R$ 0,5 bilhões 82 mil barris ou
36 mil barris sem
Albacora

Análise Enauta – ENAT3 – 04/01/2021


Obs.: Produção de Enauta esperada já leva em consideração a perfuração de novo poço
no Campo de Atlanta, que deve terminar em 2023, e a produção total incluindo a parte
adquirida da Barra Energia, além de redução normal de produção.
Obs.: 3R inclui toda a produção esperada de todos os campos adquiridos pela
companhia, além dos dois campos adquiridos pela subsidiária em que a 3R possui 70%,
a 3R offshore.
Obs.: Na PetroRio incluímos a produção atual, a perfuração do campo de Frade, com
projeção de 4000 novos barris e o closing de Albacora para 2023. Não incluímos a
produção de Wahoo. Não inclui produção de gás, apenas óleo.

Como vimos acima, em um cálculo direto fica muito difícil não perceber o quanto a
Enauta encontra-se barata. A 3R consumirá bastante caixa realizando o fechamento das
operações, mas também possui upside. Assim como a PetroRio, que deverá incorrer em
um pagamento de US$ 2,8 bilhões para adquirir 70% de Albacora. Enquanto isso, a
Enauta parece ter um cenário muito propício para manter um belo caixa.

É aí que mora o perigo, e é nesse ponto que gostamos de avisar sobre o “value trap”, ou
armadilha de valor. Isso significa que o investidor que gosta de colocar os números em
Excel e calcular indicadores verá uma empresa extremamente descontada, mas falta a
esse investidor entender a geração de valor.

Veja na imagem abaixo se você não considera estranho tantas paradas no Campo de
Atlanta, e veja se você não acredita que vale um desconto. Lembre-se que se a empresa
não explorar o petróleo e vender, a companhia não gera receitas, mas continua tendo
alguns custos e despesas.

Análise Enauta – ENAT3 – 04/01/2021


Fonte – Enauta
Todas as setas acima são paradas de produção no Campo de Atlanta, o único campo de
produção de petróleo que a companhia possui, ou no Campo de Manati. Cabe
mencionar que não foram paradas programadas e sim paradas por falhas de produção.
Isso mostra um problema grave na empresa, que incorre em custos, e que a solução é a
mudança da FPSO da empresa, a PetroJarl, que é bastante antiga; se eu não me engano,
da década de 80.

Quando falamos de falha em extração de petróleo, não podemos deixar de pensar que
uma falha maior que não seja controlada poderá causar um impacto ambiental de
proporções maiores que o próprio tamanho da Enauta. Claro que um impacto ambiental
pode acontecer com qualquer empresa, mas a empresa com mais falhas possui maior
suscetibilidade a isso.

A imagem abaixo mostra como a produção da Enauta se reduziu devido a todas essas
paradas e segue em patamar abaixo do estimado em outubro e novembro.

Análise Enauta – ENAT3 – 04/01/2021


Fonte – Enauta

A partir do fim de junho de 2021, a Enauta adquiriu 50% da produção da Barra Energia.
Investidores acreditavam que a empresa atingiria uma produção no campo de Atlanta
de 17 mil a 18 mil barris diários, e vemos que a empresa mal consegue chegar a 14 mil
barris diários.
Inclusive, vemos uma redução gradativa da produção:

 Agosto – 14,9 mil barris diários


 Setembro – 14,7 mil barris diários
 Outubro – 13,9 mil barris diários
 Novembro – 13,3 mil barris diários

Por isso vimos o lifting cost, que nada mais é que o custo caixa da exploração do
petróleo subir da faixa de US$ 23 a US$ 25 em 2020 para os atuais US$ 32 no 3T2021, e
com a redução da produção deverá subir mais ainda. Enquanto isso, a PetroRio reduz
seu lifting cost para US$ 12 com muita eficiência em sua produção.
Enquanto o petróleo estiver no atual patamar de preços próximo a US$ 80, não veremos
maiores problemas para a Enauta gerar caixa, mas no futuro vemos que ela possui uma
desvantagem competitiva que a impede de se valorizar como empresa.

A Enauta possui duas soluções para resolver o seu problema, e ambas poderiam fazê-la
se valorizar muito, mas dependem de um dispêndio de caixa muito grande em
investimentos ou aquisições.

Análise Enauta – ENAT3 – 04/01/2021


A solução número 1 teve o seu início em 20/12/2021 (clique aqui), quando a Enauta
assinou uma carta de intenções com a Yinson para substituir a sua FPSO. Na verdade, a
Yinson fará um procedimento chamado EPCI com garantia de adaptação e manutenção
da FPSO já existente por 24 meses, no valor de US$ 500 milhões. A Yinson terá uma
opção de compra da nova FPSO que terá capacidade para produzir até 50 mil barris
diários. No caso da Yinson exercer sua opção de compra antes do início da produção, o
que deve ocorrer até o ano de 2024, um contrato de afretamento de 20 anos será
assinado, que terá um custo para a Enauta de US$ 2 bilhões ao longo de 20 anos, ou seja,
uma média de US$ 100 milhões por ano, a geração de caixa de 4 meses de hoje em dia,
apenas para servir como base.
O Sistema Definitivo SD só entra em funcionamento em 2024. Em 2022, a Enauta deverá
tomar a decisão desse investimento, que custará adicionais de US$ 500 milhões a US$
700 milhões, incluindo a perfuração de 6 a 8 poços e os equipamentos subsea
(equipamentos usados no fundo do mar).
A troca da FPSO ainda deverá trazer um período sem produção que poderá durar até 6
meses. Ou seja, 6 meses sem Receita Líquida, embora eu acredite que o cenário mais
plausível seja algo em torno de 3 meses.
Além disso, veremos investimentos de US$ 1,2 bilhão no campo de Atlanta, sendo que
US$ 500 milhões terão de ser nos próximos 2 anos, o que termina com a posição atual
de caixa da companhia.

Já a solução número 2 seria a Enauta adquirir participação em algum outro Campo de


Petróleo, o que traria alguma geração de caixa para esse período de transição da FPSO,
que deve demorar ainda 2 anos no mínimo.
Recentemente, a Enauta estava em um consórcio para adquirir 42,5% do Campo de
Albacora, mas a Petrobras informou que o consórcio da PetroRio com a indiana Cobra
se sagrou vencedor e estão negociando as condições de aquisição.

Como podemos ver, a solução da Enauta para crescer passa por um investimento
grande, caso contrário a produção do Campo de Atlanta irá ser interrompida com cada
vez mais frequência, os custos irão subir cada vez mais, a produção irá diminuir, o que já
é natural na exploração do petróleo em qualquer campo.

No patamar atual, o investidor compra o caixa e a possibilidade da empresa pagar altos


dividendos, como a empresa pagou em 2018, 2019 e 2020 e não pagou em 2021.

Considerando uma produção variando de 10 mil barris diários ou 0,9 milhão de barris
por trimestre, até 18 mil barris diários ou 1,6 milhão por trimestre, a Enauta consegue

Análise Enauta – ENAT3 – 04/01/2021


gerar o caixa da imagem abaixo por barril, sendo que em um eixo existe o preço do
barril do petróleo e no outro eixo a produção esperada. Os cálculos abaixo consideram
apenas o campo de Atlanta:

BarrilBrent/Produção 10 mil 14 mil 18 mil


US$ 60,00 por barril US$ 23,00 US$ 27,00 US$ 32,00
US$ 70,00 por Barril US$ 32,00 US$ 36,00 US$ 40,00
US$ 80,00 por barril US$ 41,00 US$ 45,00 US$ 49,00

Considerando um barril médio em US$ 70,00 para o ano de 2022, um pouco mais do
que isso no primeiro semestre e um pouco menos no segundo semestre e, além disso,
considerando uma redução da produção para algo próximo a 12 mil barris diários,
teremos um Ebitda por barril ex-IFRS de US$ 34,00 a US$ 36,00.
A companhia teria uma venda de 4,3 milhões de barris por ano, número 3x menor do
que o esperado para a PetroRio e com isso alcançaria uma receita de R$ 1,7 bilhão,
supondo um câmbio de R$ 5,60 médio. Seriam R$ 1,7 bilhão e Ebitda de R$ 850 milhões
em 2022 ex-IFRS. Além disso, ainda veremos R$ 300 milhões a R$ 350 milhões do
Campo de Manati, o que nos leva a uma geração de caixa de R$ 1,2 bilhão e
considerando o preço atual um indicador EV/Ebitda de 3x, que é bastante baixo.

Eu particularmente vejo potencial para a empresa alcançar o patamar entre R$ 15,00 e


R$ 17,00, que precifica bem uma empresa sem crescimento atualmente, até porque
acredito que a empresa pagará dividendos altos em abril de 2022, mas a minha
recomendação é neutra. Lembrando que a grande posição de caixa deverá ajudar em um
ano de juros mais altos.

Essa recomendação muda se a empresa adquirir algum outro campo produtivo, ou se a


companhia conseguir encaminhar a nova FPSO e parar com as interrupções tão
frequentes no Campo de Atlanta.

Neste caso, o investidor que entrar em Enauta com esse racional de longo prazo precisa
esperar todo o projeto. A FPSO vai até 2024, depois tem perfuração de poços, com
conclusão prevista para 2026/2027.

Em 2027, após todos os investimentos de expansão e manutenção que devem totalizar


US$ 1,5 bilhão, podemos pensar em:

Análise Enauta – ENAT3 – 04/01/2021


Preço do Barril do Petróleo: US$ 60,00
Quantidade de barris diários: 40 mil barris, ou 14,6 milhões por ano.
Câmbio médio em 2027 – R$ 7,20 (inclui a inflação do período Brasil menos a inflação
do período Estados Unidos).
Receita de 2027 esperada – R$ 6,3 bilhões.
Manati estará desmobilizado em 2027.
Margem Ebitda de 60% ou US$ 36,00 por barril com grande redução do lifting cost.

Ebitda esperado em 2027 – R$ 3,8 bilhões.

Investimento necessário do período de R$ 9 bilhões, considerando um câmbio médio de


2022 a 2025 de R$ 6,00.
Se pensarmos 4x Ebitda de R$ 3,8 bilhões, são R$ 15,2 bilhões de valor da firma em 202.
Descontando o investimento de R$ 9 bilhões e o caixa líquido atual de R$ 2,2 bilhões,
sobram R$ 8,4 bilhões de valor de mercado, sem incluir nenhuma nova aquisição.

R$ 8,4 bilhões de valor de mercado. Dividindo pelas atuais 265 milhões de ações, temos
um preço-alvo esperado em 2027 de R$ 31,70.

Mas veja que existe um risco muito grande, até mesmo da Enauta precisar emitir novas
ações em algum período para realizar esse investimento total, por exemplo. O preço do
petróleo poderia cair, o que deixaria comprometida essa expansão e a necessidade de
perfuração de novos poços.

Então, nada mais justo que descontar a uma taxa de bastante risco ao longo desses 5
anos. Uma taxa de 18% ao ano.

R$ 31,67 em 2027; descontado à taxa de 18% ao ano por 5 anos, chega a um preço justo
de R$ 13,90 atual.

Acredito que tenha ficado claro, pelos riscos apresentados, porque a minha
recomendação atual é neutra para a Enauta.

Análise Enauta – ENAT3 – 04/01/2021


Daniel Isaac Nigri – analista CNPI

Disclosure

Elaborado pelo analista independente Daniel Isaac Nigri, CNPI 1810, este relatório
é de uso exclusivo de seu destinatário.

Este estudo é baseado em informações disponíveis ao público nos próprios sites de


RI das empresas analisadas ou comparadas, consideradas confiáveis na data de
publicação.

As opiniões aqui expressas estão sujeitas a mudanças, por se tratarem de


estimativas baseadas em fundamentos e projeções de futuro, que podem ou não
ocorrer.

Este relatório não representa oferta de negociação de valores mobiliários ou de


outros instrumentos financeiros.

As análises, informações e estratégias de investimento têm como único propósito


fomentar o debate entre o analista responsável e os destinatários. Os destinatários
devem, portanto, desenvolver as próprias análises e estratégias (ou seja, “caminhar
com as próprias pernas” e ter bom senso).

Informações adicionais sobre quaisquer sociedades, valores mobiliários ou outros


instrumentos financeiros aqui abordados podem ser obtidas mediante solicitação e
serão arquivadas por 5 anos, conforme determinação da CVM.

O analista responsável pela elaboração deste relatório declara, nos termos da


Resolução 20/2021, que substituiu a Instrução CVM nº 598/18, que as
recomendações do relatório de análise refletem única e exclusivamente a sua
opinião e foram elaboradas de forma independente.

O analista Daniel Isaac Nigri CNPI é o responsável principal pelo conteúdo do


relatório e pelo cumprimento da Resolução 20/2021, que substituiu a Instrução
ICVM 598.

Análise Enauta – ENAT3 – 04/01/2021


Análise Enauta – ENAT3 – 04/01/2021

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