Atualizada Apostila - Sociologia Geral - Unifatecie
Atualizada Apostila - Sociologia Geral - Unifatecie
Atualizada Apostila - Sociologia Geral - Unifatecie
Gilmar de Oliveira
Diretor Administrativo
Eduardo Santini
UNIFATECIE Unidade 4
BR-376 , km 102,
FICHA CATALOGRÁFICA Saída para Nova Londrina
Paranavaí-PR
FACULDADE DE TECNOLOGIA E
(44) 3045 9898
CIÊNCIAS DO NORTE DO PARANÁ.
Núcleo de Educação a Distância;
BATISTA, Flávio Donizete. www.fatecie.edu.br
Sociologia Geral. Flávio Donizete. Batista.
Paranavaí - PR.: Fatecie, 2019. 85 p.
As imagens utilizadas neste
Ficha catalográfica elaborada pela bibliotecária livro foram obtidas a partir
Zineide Pereira da Silva. do site ShutterStock
AUTOR
Grande abraço.
UNIDADE I....................................................................................................... 6
O Pensamento sobre a Sociedade: Breve Resgate Histórico
UNIDADE II.................................................................................................... 25
O Pensamento Clássico e Contemporâneo da Sociologia
UNIDADE III................................................................................................... 45
Cultura e Sociedade
UNIDADE IV................................................................................................... 63
Política e Poder
UNIDADE I
O Pensamento sobre a Sociedade:
Breve Resgate Histórico
Professor Mestre Flávio Donizete Batista
Plano de Estudo:
• A sociologia: antecedentes na história
• Os gregos e as origens do pensamento científico
• O Renascimento e as novas formas de pensar a sociedade
• Maquiavel e a emergência da Ciência Política
• O iluminismo e o liberalismo
•O positivismo de Auguste Comte e a Sociologia
Objetivos de Aprendizagem:
• Conhecer os precursores do pensamento sobre a sociedade.
• Compreender o processo de desenvolvimento histórico da ciência social.
• Estabelecer relações entre os momentos históricos e a forma de pensar a sociedade.
6
INTRODUÇÃO
Todos nós vivemos em sociedade, e até o mais remoto ermitão é um ser humano
que já foi socializado e optou pelo isolamento da sociedade. Entretanto, isolamento indi-
vidual não é isolamento da sociedade. O mero ato de pensar é um ato social; aprender a
linguagem é um ato social. Embora qualquer um de nós venha ao mundo com a capacidade
de aprender línguas, só as aprendemos em contato com o mundo social. Essa constatação
simples, “vivemos em sociedade”, deu origem a muitas reflexões sobre o lugar do indivíduo
no mundo.
Desde o fim do século XIX, essas reflexões têm sido sistematizadas em ciências,
denominadas Ciências Sociais. A proposta nesta unidade é convidar você a conhecer
alguns aspectos que antecederam na história essas ciências, nos ajudando a aumentar
nossa compreensão sobre o que significa conhecer a vida em sociedade.
Os gregos antigos, habitantes de uma península que se abria para o Oriente, foram
um povo original - comerciantes, navegadores e viajantes que aprenderam a conviver com
diferentes povos e culturas, dos quais receberam inúmeras influências e conhecimentos.
Além disso, desenvolveram o apreço pela reflexão, dedicando-se à Filosofia. Tinham um
estilo de vida urbano e um agudo apreço pela vida pública. Os gregos não formaram impé-
rios como os egípcios e os mesopotâmios, mas desenvolveram uma cultura diversificada,
cuja principal unidade eram as cidades-Estado. Cidades como Atenas, Esparta, Tebas e
Corinto, entre outras, eram independentes entre si e cada qual criou suas leis, a sua or-
ganização sociopolítica e as suas tradições. Entretanto, compartilhavam a mesma língua,
mitologia e tradições, denominada helenística. Essa cultura, posteriormente, foi apropriada
pelo Império Romano, que a difundiu pela Europa e pelo Oriente.
O crescimento econômico das cidades gregas, promovido pela expansão comer-
cial e colonial, com base no trabalho escravo, permitiu o surgimento de uma elite livre
das tarefas e do trabalho, com tempo e recursos para o exercício e a intensa prática da
reflexão sobre a própria cultura e daquelas advindas dos povos com quem conviviam e
comerciavam. Isso lhes permitiu desenvolver as artes, a Filosofia e o pensamento racional.
Foram capazes, então, de organizar sistematicamente diferentes áreas do conhecimento,
como a Geometria, a Filosofia e a Política. Deram grande importância ao espírito público e
à participação política, sendo responsáveis pela criação de um regime político único, com
O Renascimento revelou autores como Nicolau Maquiavel, que se destacou por sua
obra O Príncipe, considerada pioneira no desenvolvimento do pensamento político. Em seu
texto, Maquiavel analisa o exercício do poder, mostrando as condições sociais necessárias
para que um governante conquiste, mantenha e governe seu reino, acreditando que das
qualidades de liderança desse governante dependeria a felicidade de seus governados.
Maquiavel pensava realisticamente as relações de poder. Ele procurava desvendar
suas condições e variantes. Identificava nelas diferentes categorias sociais envolvidas - a
nobreza, o clero, os ministros, os militares, o povo - e mostrava como o príncipe deveria se
relacionar com cada um. Não deixou de mostrar que o governo também depende das ações
nem sempre meritórias, como a manipulação, as barganhas e o uso oportuno e estratégico
da violência. Em síntese, Maquiavel receitava doses bem medidas de persuasão, seja
pelo convencimento e eventuais benfeitorias, seja pela força bruta das armas. Maquiavel
expressava ideias pertinentes sobre a sociedade, o poder e as relações sociais.
Costa (2016) destaca que a obra de Maquiavel é considerada pelos especialistas
o primeiro estudo sistemático da Ciência Política, ou de Filosofia Moderna, mas por causa
da crueza que demonstrou ao descrever as condições de exercício do poder, foi indevida-
mente considerado defensor da doutrina de que os “fins justificam os meios”, ao aconselhar
os poderosos a assassinar, mentir e bajular, quando necessário, para conquistar ou manter
o poder. O seu livro é muito mais aprofundado do que tais classificações. Em razão desse
Imagem: http://editoraunesp.com.br/blog/os-impactos-historicos-da-revolucao-francesa
REFLITA
“O progresso não é mais do que o desenvolvimento da ordem.” (Augusto Comte)
A expressão é o lema político do positivismo, forma abreviada do lema religioso
positivista.
(CHAUÍ, Marilena. Convite à filosofia. São Paulo: Ática, 1994, p. 59).
Leitura Complementar
LIVRO
Título: Fazenda-modelo
Autor: Chico Buarque de Holanda.
Editora: Civilização Brasileira, 1989.
Sinopse: Trata-se de uma obra ficcional que mostra as tendências
negativas da sociedade em que vivemos. Por meio desse texto, é
possível pensar os problemas sociais e entender de que forma a
literatura e a ficção podem contribuir para isso.
FILME/VÍDEO
Título: A invenção da infância, de Liliana Sulzbach
Ano: 2000.
WEB (OPCIONAL)
Apresentação do link: Sociedade Brasileira de Sociologia.
Fundada em 1937, primeiramente como uma sociedade estadual, Sociedade Pau-
lista de Sociologia, e rebatizada e transformada em sociedade científica atuante em escala
nacional e internacional em 1950, como Sociedade Brasileira de Sociologia, a SBS é uma
entidade jurídica sem fins lucrativos, de direito privado, que busca reunir institucionalmen-
te pesquisadores brasileiros atuantes nas áreas de Sociologia e Ciências Sociais afins.
Desde 1987, mantém a regularidade bienal de seus Congressos Brasileiros de Sociologia.
Somando-se a outros eventos, apoiados e realizados em co-parceria institucional, e a um
leque de publicações editadas, a história da Sociedade Brasileira de Sociologia é marcada
pelo constante debate e interação de sua pauta acadêmico-científica com os problemas e
questões interpostos ao desenvolvimento do país.
• Link do site: http://www.sbsociologia.com.br/2017/index.php?formulario=asocie-
dade&metodo=0&id=1
ARAÚJO, Silvia Maria de; BRIDI, Maria Aparecida; MOTIM, Benilde Maria Lenzi. Sociolo-
gia: um olhar crítico. São Paulo: Contexto. Disponível em: http: <//fcv.bv4.digitalpages.com.
br>
Plano de Estudo:
● O que é sociologia e qual seu objeto?
● Émile Durkheim: fatos sociais, solidariedade mecânica e orgânica
● Karl Marx
● Max Weber
● Teorias sociológicas contemporâneas
Objetivos de Aprendizagem:
● Compreender o conceito de Sociologia.
● Conhecer qual seu objeto a partir de seus teóricos.
● Conhecer o pensamento dos clássicos e dos contemporâneos da Sociologia.
25
INTRODUÇÃO
O que é essa coisa chamada “o social” que os sociólogos estudam? Podemos dizer
que o social é o ponto de partida. Muitas pessoas preferem ver a vida humana como algo
biológico, individual, econômico ou religioso, mas para os sociólogos, o ponto de partida
sempre está em tudo o que é ser social. Essa é uma ideia com vários significados. E
queremos em nosso estudo aprender como a Sociologia encara e relaciona esses mesmos
significados para, ao final, compreender como o homem vive em sociedade.
As pessoas vivem juntas, ou seja, em sociedade. E os cientistas sociais são os
interessados em entender como acontece essa vida em sociedade. Quais são as formas de
convivência entre as pessoas? Que relações são fundamentais em uma sociedade? Como
funciona uma sociedade? Por que as pessoas, em geral, fazem coisas muito parecidas?
Como as sociedades mudam? Por que a vida em sociedade produz diferenças tão grandes
entre seus membros? Quais os fatores diferenciam grupos ou sociedades? Por que algu-
mas são tão exploradas, subjugadas e até mesmo escravizadas?
Vejam quantas perguntas. Talvez não demos conta de todas nesse estudo. Mas
é esta busca pela compreensão cada vez maior de nossa própria vida em sociedade que
estamos dando continuidade na unidade que se inicia. E que busquemos sempre mais
conhecimentos sobre nossa vida em sociedade.
Tenhamos todos um bom estudo.
Para esse sociólogo a sociedade prevalece sobre o indivíduo. Ela deve ser enten-
dida como um conjunto de normas de ação, pensamento e sentimento que não existem
apenas nas consciências individuais, mas que são construídas exteriormente. Gil (2011)
lembra que, na vida em sociedade, os seres humanos se defrontam com regras de conduta
que não foram diretamente criadas por eles, mas que existem e devem ser seguidas por
todos, pois sem elas a sociedade não existiria.
Imagem: https://cafecomsociologia.com/fato-social-durkheim/
Imagem: https://pt.slideshare.net/98698999/mile-durkheim-54363064
Gil (2011) escreve que a definição da natureza dos fatos sociais constitui a maior
contribuição de Durkheim à Sociologia. Mas ele dedicou-se também a estudos compara-
tivos da sociedade procurando apreender seu desenvolvimento e as tendências de sua
evolução. Buscava identificar fases que mostrassem as transformações das sociedades ao
longo do tempo ou das diversas fases históricas.
Para ele, as principais forças da vida social estavam nas tradições e nos costumes
que alicerçam os deveres de uns para com os outros, como membros de uma mesma
comunidade. Três instituições colaboram para intensificar essas integrações: a família,
o Estado e as corporações profissionais, assim como as leis, que costuram e legitimam
direitos, deveres e reciprocidades.
Nesse contexto, os indivíduos desenvolvem relações de solidariedade cuja função
permite distinguir dois tipos de sociedade - as de solidariedade mecânica e as de solidarie-
dade orgânica.
A solidariedade mecânica é característica das sociedades pré-capitalistas e de
alguns grupos sociais do meio rural. Nelas, os indivíduos se relacionam principalmente por
meio da família, da religião e dos costumes. A divisão social do trabalho é simples ou quase
inexistente e a consciência coletiva tem forte poder de coerção sobre os indivíduos.
Já a solidariedade orgânica é típica das sociedades capitalistas, do meio urbano e
industrial, em que os indivíduos se tornam interdependentes, unidos pela intensa divisão
social do trabalho e laços impessoais, que substituem a integração pessoal e familiar das
sociedades agrárias. Nessas sociedades, a consciência coletiva é enfraquecida, pois, ao
mesmo tempo que os indivíduos se tornam mutuamente dependentes, cada um se espe-
Cristina Costa (2016) lembra que Karl Marx não se dedicou explicitamente à disci-
plina de Sociologia. Inclusive nem esse nome aparece em suas obras. No entanto, está na
base de todo o desenvolvimento dessa ciência nos anos que se seguiram. Para explicar a
origem do capitalismo e a natureza da organização econômica, formulou uma teoria abran-
gente e universal que procura dar conta de toda e qualquer forma produtiva criada pelo ser
humano em qualquer tempo e lugar. Os princípios dessa teoria é que dão origem ao que
ele mesmo definiu como materialismo histórico e que constitui o principal método de análise
dos sociólogos de orientação marxista.
Em sua obra A Ideologia Alemã, de 1845, escrita em parceria com Friedrich Engels,
Para Marx, todos os conflitos na história têm sua origem na contradição entre
as formas produtivas e as relações de produção. Dessa forma, a família, a
religião, as formas de governo, as leis, as ideias políticas e os valores sociais,
constituem apenas aspectos da sociedade, cuja explicação depende do de-
senvolvimento e do colapso dos modos de produção (GIL, 2011, p. 31).
Para entendermos como Weber desenvolveu suas análises da vida social é preciso
dizer que, ao contrário de seus antecessores, ele não opõe indivíduo e sociedade, mas os
Imagem: http://almaprolixa.blogspot.com/2008/12/sociologia-contempornea-e-seu-esforo.html
Silvia Araújo (2013) escreve que, ancoradas ou não nos autores clássicos, novas
teorias e abordagens das Ciências Sociais são concebidas no compasso das mudanças
sociais. Veremos algumas características gerais do pensamento de alguns sociólogos mais
representativos do século XX: o norte-americano Talcott Parsons (1902-1979), o francês
Pierre Bourdieu e os autores alemães da chamada Teoria Crítica, denominada Escola
de Frankfurt, na década de 1920. São representantes da Teoria Crítica, em diversos mo-
mentos do século XX: Theodor Adorno (1903-1969), Max Horkheimer (1895-1973), Walter
Benjamin (1892-1940), Herbert Marcuse (1898-1979), Erich Fromm (1900-1980) e Jürgen
Habermas (1929-).
A Sociologia mais recentemente produzida pensa a sociedade pela ótica de sujeitos
ativos em relações. Araújo (2013) lembra que, ao desenvolver, nos anos 1950, uma teoria
CONSIDERAÇÕES FINAIS
LIVRO
Título: Casa-Grande & Senzala.
Autor: Gilberto Freyre.
Editora: Global, 2006.
Sinopse: Gilberto Freyre procurou responder o que é ser brasilei-
ro, retratando as relações sociais a partir de documentos pessoais
e públicos sobre o cotidiano do brasileiro.
FILME/VÍDEO
Título: O Bem Amado, Guel Arraes
Ano: 2010.
WEB (OPCIONAL)
• Biblioteca Virtual CEBRAP. O site visa circular os conhecimentos de suas pes-
quisas, documentadas em livros, relatórios, projetos, periódicos e documentos sonoros e
audiovisuais das correlatas das Ciências Humanas.
• Link do site: http://cebrap.org.br/bv
ARAÚJO, Silvia Maria de; BRIDI, Maria Aparecida; MOTIM, Benilde Maria Lenzi. Sociolo-
gia: um olhar crítico. São Paulo: Contexto. Disponível em: http: <//fcv.bv4.digitalpages.com.
br>
Plano de Estudo:
● Os sentidos da palavra cultura.
● Cultura, etnocentrismo e relativismo cultural.
● Diversidade cultural.
● Diversidade cultural na sociedade brasileira.
● Mudanças culturais na sociedade.
● A sociedade do espetáculo: cultura de massa
Objetivos de Aprendizagem:
● Conceituar cultura e perceber suas variações.
● Entender a diversidade cultural como sinal de riqueza das sociedades.
● Promover a prática do respeito diante das muitas diferenças culturais, superando todo
preconceito e discriminação.
45
INTRODUÇÃO
A palavra cultura vem do latim colere, que significa o cultivo da terra, ou seja, a
agricultura. Com o tempo, por força da capacidade metafórica da linguagem humana, isto
é, da capacidade de desprender-se do que é concreto e material para se referir ao que é
imaterial e abstrato, o termo cultura passou a designar aquilo que se cultiva mentalmente,
não mais semeando apenas a terra, mas também o espírito. Assim, por exemplo, atividades
de cunho religioso, como as preces, que se faziam para obter uma melhor colheita, também
passaram a fazer parte da cultura (COSTA, 2016).
Geralmente, quando falamos de cultura, a primeira ideia que nos vem à mente é
algo relacionado ao teatro, à música, à literatura, à pintura, à escultura e a outras áreas das
artes. Mas também são considerados como elementos culturais de grande relevância as
festas tradicionais, as lendas, o folclore e os costumes de um povo. Seu significado abrange
ainda os meios de comunicação de massa, como a televisão, o rádio, a mídia impressa,
a internet, o cinema, etc. cultura, portanto, não se resume só às manifestações artísticas,
às tradições e aos hábitos de uma dada coletividade. Na Sociologia e na Antropologia, o
conceito de cultura também está relacionado aos conhecimentos, às ideias e às crenças de
uma sociedade e/ou das diversas sociedades.
Silvia Araújo (2011) escreve que o termo cultura foi aplicado em português por
bastante tempo como sinônimo de erudição, mas não existe diferença em termos de im-
portância entre a chamada “alta cultura” e as expressões culturais populares, pois ambas
(cada uma a seu modo) são criadas e cultivadas pela participação efetiva do ser humano na
No final do século XIX, o antropólogo alemão Franz Boas construía uma crítica
à ideia de civilização de teorias evolutivas muito fortes na época, que estabeleciam uma
hierarquia entre os civilizados europeus (e norte-americanos) e as demais populações, que
eram escalonadas entre mais e menos atrasadas (MACHADO, 2014).
Para Boas, as diferentes populações que existem no mundo têm diferentes culturas
e é praticamente impossível estabelecer entre elas qualquer tipo de hierarquia, uma vez
que cada povo tem sua história particular, preenchidas por interesses tão diferentes, que
qualquer comparação só seria possível se fosse utilizada uma medida de análise, que
seria sempre arbitrária. Ou seja, a comparação para estabelecer uma hierarquia sempre
deveria adotar algum critério, tomado de alguma população, e nesse processo a própria
comparação seria injusta.
Igor Machado (2014) lembra que assim, Boas inaugurava o que mais tarde ficou
conhecido como relativismo cultural: uma tomada de posição perante a diferença cultural,
segundo a qual cada cultura deve ser avaliada apenas em seus próprios termos. Portanto,
é uma forma de encarar a diversidade sem impor valores e normas alheios. Podemos
considerar o relativismo uma inversão do evolucionismo: se este escalona as diferenças a
partir de valores específicos das sociedades ocidentais, o relativismo evita qualquer tipo de
escala, analisando as diferenças segundo os termos da própria sociedade da qual fazem
parte.
Tendência inversa ao relativismo cultural é o etnocentrismo, quando se julga outra
As minorias sociais não são definidas pela questão numérica, mas pelas dificuldades
impostas a esses grupos no acesso às instâncias de poder e pela situação discriminatória e
excludente em que se encontram. Por exemplo, o número de indivíduos que se consideram
negros e pardos no Brasil, segundo o IBGE, corresponde proporcionalmente à população
que se diz branca. Entretanto, se comparados aos brancos, apresentam reduzida presença
em funções socialmente mais valorizadas e com melhores salários. Colocadas em situa-
ções como essas, sobretudo por fatores históricos, tais minorias enfrentam dificuldades em
manter ou melhorar sua condição socioeconômica e em expressar suas tradições culturais.
Muitas manifestações culturais alternativas são consideradas contra-hegemônicas,
por serem reações à cultura dominante e à sua visão do mundo. Hegemonia cultural é o
conceito utilizado pelo cientista político italiano Antonio Gramsci para designar a dominação
de uma classe social sobre a outra fundada na ideologia e, portanto, no convencimento (e
não na coerção) (ARAÚJO, 2013).
REFLITA
Assim falou Boas: “Como ser pensante, o resultado mais importante desta viagem,
para mim, está no fortalecimento do meu ponto de vista de que a ideia de um in-
divíduo “culturado” (culto) é simplesmente relativa: o valor de um pessoa deve ser
atribuído pela “cultura do coração”. Esta qualidade está presente ou ausente entre os
esquimós tanto quanto entre nós”.
(MACHADO, Igor José de Renó. Sociologia Hoje. São Paulo: Ática, p. 49, 2014.).
Nesta unidade vimos um pouco da discussão realizada pelas Ciências Sociais sobre
o conceito de cultura. Percebemos que é um dos conceitos mais importantes para conhecer
a sociedade, suas manifestações e sentidos, que ajudam em uma melhor compreensão
sobre sua maneira de existir.
Que este estudo tenha nos ajudado a aprender a importância de se respeitar as di-
ferentes culturas, uma vez que todas elas representam um modo de viver e de se identificar,
em meio a tantos grupos, superando assim, atitudes etnocêntricas.
Vamos prosseguir nosso estudo. Há muito mais coisa importante pela frente.
Leitura Complementar
LIVRO
Título: Maíra.
Autor: Darcy Ribeiro
Editora: Brasiliense.
Sinopse: Maíra é um romance de ficção escrito pelo antropólogo
Darcy Ribeiro, que apresenta sua trama em meio a uma tribo fic-
tícia - os Mairuns - que guarda inúmeras correspondências com
outros grupos indígenas.
FILME/VÍDEO
Título: A Caverna dos Sonhos Esquecidos, de Werner Herzog.
Ano: 2010.
WEB (OPCIONAL)
• Museu da Imigração do Estado de São Paulo: O Museu está localizado no antigo
prédio da Hospedaria do Imigrante, fundada em 1887, e pretende ser um espaço de refle-
xão sobre a contribuição dos inúmeros grupos de mais de 70 diferentes nacionalidades que
por ali passaram, ajudando a construir o estado e o país. Pretende ser também um ponto
de encontro das comunidades de imigrantes. O Museu organiza eventos, oferece cursos
e possui acervo documental, de memória oral e digital. No site é possível fazer a consulta
on-line sobre os documentos existentes.
• Link do site: http://museudaimigracao.org.br
ARAÚJO, Silvia Maria de; BRIDI, Maria Aparecida; MOTIM, Benilde Maria Lenzi. Sociolo-
gia: um olhar crítico. São Paulo: Contexto. Disponível em: http: <//fcv.bv4.digitalpages.com.
br>
MACHADO, Igor José de Renó. Sociologia hoje. São Paulo: Ática, 2014.
Plano de Estudo:
● Política e poder
● A liderança nos grupos humanos
● O espaço público como uma construção grega
● Sobre a liderança e o poder
● Estado e sociedade
● Concepções de Estado e sociedade civil moderna
● O que é o Estado?
● Estado e Governos
● Partidos políticos e o quadro partidário no Brasil
● Perspectivas teóricas acerca da política: funcionalista e do conflito
● Poder e autoridade
Objetivos de Aprendizagem:
● Conhecer as relações de poder existentes na sociedade.
● Entender o que e o Estado moderno.
● Estabelecer distinções entre Estado e Governo.
● Compreender a importância do sistema democrático para nosso sistema político.
63
INTRODUÇÃO
Prezados estudantes:
Nesta unidade estudaremos um campo específico da sociedade humana: o das
relações de poder, por meio das quais somos capazes de interferir nos comportamentos e
nos sentimentos dos membros de grupos, sejam eles os integrantes da família, os amigos
ou a sociedade como um todo.
Essa sobre discussão sobre política e poder teve início há muitos séculos e conti-
nua ainda hoje despertando em nós o interesse para conhecer como se dão essas relações
e como toda a sociedade é influenciada pelos seus desdobramentos.
Vamos ao estudo. Um bom trabalho para todos. Aproveitem.
É possível que o poder que alguns seres humanos passaram a exercer sobre os
membros de seu grupo tenha obedecido a critérios existentes entre quase todos os grupos
de mamíferos, especialmente os primatas, nos quais o poder é exercido pelos mais velhos
e mais fortes. Mas, à medida que o ser humano começou a diferenciar-se e a substituir o
comportamento “natural” por normas ditadas pela cultura, outros aspectos passaram a ser
importantes. Entre eles, destacamos o exercício das funções religiosas, uma vez que a
crença na capacidade de que algumas pessoas pudessem estabelecer uma relação com
as divindades e fazê-las intervir na realidade em momentos difíceis passou a ser importante
(COSTA, 2016).
Assim como a religião, o desenvolvimento da cultura passou a dar voz de comando
a certos membros de um grupo. Os guerreiros mais hábeis, capazes de defender seu grupo
de animais ou de inimigos, também devem ter adquirido algum poder de liderança.
À medida que os grupos humanos cresceram, espalharam-se pelos continentes,
desenvolveram estilos de vida peculiares, criaram novos idiomas e formas de viver -, é pre-
sumível que a coesão entre os membros tenha se tornado maior que as lideranças tenham
passado a ser necessárias, perpetuando-se na defesa e da manutenção desses grupos.
O crescente abandono da vida nômade e o avanço da agricultura também trouxe-
A primeira definição de sociedade civil foi elaborada pelo filósofo inglês Thomas
Hobbes (1588-1679). Ele acreditava que, em seu estado natural, os homens lutavam uns
contra os outros pelo poder e por riqueza. Por isso, os indivíduos abrem mão da liberdade
e concebem regras de convivência a fim de garantir condições mínimas de estabilidade.
Forma-se, assim, a sociedade civil - que, no pensamento de Hobbes, é sinônimo de Estado.
Para o filósofo inglês John Locke (1632-1704), a sociedade civil é mais um apri-
Algumas das mais antigas questões formuladas acerca da constituição das insti-
tuições políticas são as que se referem a como o estado-nação se tornou uma sociedade
coesa e como uma nação desenvolve leis que unem sua população, criam uma sociedade
organizada, conferem autoridade ao governante e restringem a necessidade do uso da
força física. Respostas a essas questões têm sido oferecidas por sociólogos vinculadas a
duas perspectivas: à teoria funcionalista e à teoria do conflito (GIL, 2011).
SAIBA MAIS
Zygmunt Bauman (1925-2017) escreve:
“Esta ideia [de cidadão como membro de um corpo político e titular do de-
cidir, com outros membros, sobre direitos e deveres, prerrogativas e obrigações] foi
lançada na fundação de uma democracia moderna e da visão de república - res pu-
blica - como um corpo político cujos membros deliberam coletivamente sobre como
moldar as condições de sua coabitação, cooperação e solidariedade.
Tal modelo de democracia moderna nunca foi completamente implementado.
[...] Enquanto poderes constituídos promovem o governo de poucos, a democracia é
uma constante alegação em nome de todos[...]
(BAUMAN, Zygmunt. A sociedade individualizada: vidas contadas e histórias
vividas. Rio de Janeiro: Zahar, 2008, p.74).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Leitura Complementar
LIVRO
Título: O que são direitos da pessoa
Autor: Dalmo de Abreu Dallari
Editora: Brasiliense.
Sinopse: Toda pessoa tem direitos. Isso acontece em qualquer
parte do mundo. Assim, por exemplo, todos têm direito à vida, não
importando a idade, a cor, o lugar de nascimento, a preferência po-
lítica, a profissão, a riqueza ou a pobreza, ou qualquer outro fato.
Por que existem esses direitos? Como se justifica a existência de
injustiças apoiadas pelo direito? E se o direito é útil ou necessário
para os seres humanos, como se explica que os direitos não sejam
respeitados por todos?
FILME/VÍDEO
Título: dois dias, uma noite.
Ano: 2014.
WEB (OPCIONAL)
• AVAAZ.Org: Avaaz significa “voz” em várias línguas europeias, do Oriente Médio
e asiáticas. Ele pretende ser um veículo de mobilização em torno de questões mundiais,
como a pobreza e as guerras. É uma iniciativa internacional que opera em 15 línguas dife-
rentes. Mobiliza campanhas instantâneas relacionadas a crises que ocorrem em qualquer
lugar do mundo.
• Link do site: www.avaaz.org/po/about.php
ARAÚJO, Silvia Maria de; BRIDI, Maria Aparecida; MOTIM, Benilde Maria Lenzi. Sociolo-
gia: um olhar crítico. São Paulo: Contexto. Disponível em: http: <//fcv.bv4.digitalpages.com.
br>