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Vinicius Marçal
Lei de Crimes Ambientais
Aula 1
ROTEIRO DE AULA
CRIMES AMBIENTAIS
c) responsabilidade penal da Pessoa Jurídica foi atribuída sem uma teoria do crime própria
=> Ausente uma lei de adaptação.
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2. Denominação excêntrica: Lei Penal em Branco ao Quadrado
=> No contexto do estudo da lei dos crimes ambientais, surgiu a expressão excêntrica “lei penal em
branco ao quadrado”.
“Art. 38. Destruir ou danificar floresta considerada de preservação permanente, mesmo que em
formação, ou utilizá-la com infringência das normas de proteção:
Pena - detenção, de um a três anos, ou multa, ou ambas as penas cumulativamente.
Parágrafo único. Se o crime for culposo, a pena será reduzida à metade.”
“Art. 6º. Consideram-se, ainda, de preservação permanente, quando declaradas de interesse social
por ato do Chefe do Poder Executivo, as áreas cobertas com florestas ou outras formas de vegetação
destinadas a uma ou mais das seguintes finalidades: [...].”
“Art. 2º. Quem, de qualquer forma, concorre para a prática dos crimes previstos nesta Lei, incide nas
penas a estes cominadas, na medida da sua culpabilidade [teoria unitária ou monista],
=> similaridade com o art. 29, CP
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Obs1: As pessoas indicadas no dispositivo respondem tanto por ação como por omissão.
Obs2: Requisitos devem ser observados para evitar a responsabilidade objetiva.
Constituição Federal:
“Art. 173. § 5º. A lei, sem prejuízo da responsabilidade individual dos dirigentes da pessoa jurídica,
estabelecerá a responsabilidade desta, sujeitando-a às punições compatíveis com sua natureza, nos
atos praticados contra a ordem econômica [Lei 8.137/90] e financeira [Lei 7.492/86] e contra a
economia popular [Lei 1.521/51].
=> No entanto, nenhuma dessas três leis abordou a responsabilidade penal da Pessoa Jurídica, mas
apenas a responsabilidade individual, não cumprindo totalmente com o mandado de
constitucionalização do tema.
Constituição Federal:
“Art. 225. § 3º. As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os
infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da
obrigação de reparar os danos causados.” [Lei 9.605/98, art. 3º]
=> Neste caso, a lei cumpre o mandamento constitucional, havendo responsabilidade penal das
pessoas jurídicas.
Pode uma lei infraconstitucional estabelecer a responsabilidade penal da Pessoa Jurídica para outros
casos diversos daqueles previstos na CR?
=> Todavia, há projeto de lei nesse sentido, ampliando a responsabilidade para além dessas
hipóteses, nos crimes contra a Administração Pública:
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PL 236 (Novo Código Penal).
“Art. 41. As pessoas jurídicas de direito privado serão responsabilizadas penalmente pelos atos
praticados contra a administração pública, a ordem econômica, o sistema financeiro e o meio
ambiente, nos casos em que a infração seja cometida por decisão de seu representante legal ou
contratual, ou de seu órgão colegiado, no interesse ou benefício da sua entidade.”
1ª corrente: a CR/88 não criou a responsabilidade penal da Pessoa Jurídica e, por isso, o art. 3º da Lei
dos Crimes Ambientais é inconstitucional. [Paganella Boschi + LRPrado].
=> Esta corrente separa condutas para pessoas físicas e sanções penais; e atividades para pessoas
jurídicas e sanções administrativas.
“Art. 225, §3º. As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os
infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da
obrigação de reparar os danos causados.”
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2ª corrente (parte da teoria da ficção jurídica): e conclui que a Pessoa Jurídica não pode cometer
crimes. [CRB, Luiz Luisi, RGreco, PJCJr., JFM, FAToledo, Cernicchiaro, Zaffaroni e Pierangeli].
=> Corrente doutrinária majoritária
3ª corrente [LFG]: A Lei de Crimes Ambientais instituiu um direito judicial (aplicado por juiz)
sancionador (pois não conta a pena com o efeito estigmatizador típico das sanções penais).
=> Corrente defendida por Luiz Flávio Gomes.
=> Não há o efeito máximo do direito penal, qual seja a prisão.
4ª corrente [SM] (parte da necessidade de uma Lei de Adaptação como ocorreu na França): a CR/88
previu a responsabilidade penal da Pessoa Jurídica, o que, contudo, depende da criação de uma
teoria do crime e de normas processuais compatíveis com a natureza fictícia das Pessoas Jurídicas.
=> Corrente defendida por Silvio Maciel.
5ª corrente (parte da teoria da realidade): e conclui que a PJ pode cometer crimes, tal como previsto
na CR/88. [Damásio, SSShecaira, HBenjamin etc].
=> Corrente jurisprudencial majoritária
=> Para a prova objetiva, é verdadeiro se dizer que reconhece-se a responsabilidade penal da Pessoa
Jurídica. Em uma questão dissertativa ou oral, é possível explorar as demais teorias.
2. PJ: não possui consciência e vontade; não pratica condutas (elemento subjetivo). A vontade da PJ
é, em verdade, a vontade das PF’s que a representam.
3. PJ: como não é dotada de autoconsciência, não se consegue cumprir as funções da pena
(prevenção e repressão).
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4. PJ (culpabilidade): não é imputável (só o ser humano adquire capacidade de entender o caráter
ilícito de um fato e de determinar-se de acordo com esse entendimento).
5. PJ: atuação vinculada aos atos relacionados no seu estatuto social, aí não se incluindo a prática de
crimes;
6. Princípio constitucional da personalidade da pena (ou intranscendência): a punição da PJ
alcançaria, ainda que indiretamente, seus integrantes.
7. Não se pode aplicar PPL, característica indissociável do Direito Penal.
8. Viola o princípio da subsidiariedade do Direito Penal (Dec. 6.514/2008 > infrações administrativas
idênticas).
9. Tourinho: LCA, art. 3º As PJ’s serão responsabilizadas administrativa, civil e penalmente conforme
o disposto nesta Lei, nos casos em que a infração seja cometida por decisão de seu representante
legal ou contratual, ou de seu órgão colegiado, no interesse ou benefício da sua entidade.
=> Uma vez que não se tem uma lei de adaptação no Brasil, a jurisprudência foi fazendo uma
adaptação, de modo a reconhecer uma vontade institucional e culpabilidade social.
1. PJ: é um ente autônomo, dotado de consciência e vontade, razão pela qual pode realizar condutas
(“ação delituosa institucional”) e assimilar a natureza intimidatória da pena;
2. A vontade da PJ resulta do somatório das vontades dos seus dirigentes. Ao lado da “vontade
individual”, passa-se a ter uma “vontade institucional”;
3. PJ: à culpabilidade penal individual clássica, deve-se somar a culpabilidade social (baseada na ideia
da empresa como centro de emanação de decisões);
4. É óbvio que o estatuto social de uma PJ não prevê a prática de crimes como uma de suas
finalidades. Da mesma forma, não contém em seu bojo a realização de atos ilícitos, o que não os
impede de serem realizados (inadimplência, por exemplo);
5. A punição da PJ não viola o princípio da personalidade da pena. Deve-se distinguir a pena dos
efeitos decorrentes condenação, os quais também se verificam com a punição da pessoa física;
6. O Direito Penal não se limita à pena de prisão: LD, art. 28 + L.7.716, art. 4º, §2º.
7. Argumentos de ordem pragmática
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10. Responsabilidade Penal da Pessoa jurídica: 4 argumentos de ordem pragmática
a) insuficiência das sanções administrativas e civis para coibir ações empresariais predatórias;
b) a forte simbologia da pena criminal contribui para frear as empreitadas criminosas ambientais
praticadas pelos entes morais;
c) a punição exclusiva da PF acaba servindo como “escudo” para impedir a responsabilidade penal da
PJ, verdadeira beneficiária do delito ambiental.
d) tendência mundial de responsabilização penal das PJ’s: Inglaterra, EUA, Canadá, Nova Zelândia,
Austrália, França, Dinamarca, México, Cuba, Colômbia, Portugal, Áustria, Japão, China etc.
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“Os critérios para a responsabilização da pessoa jurídica são classificados na doutrina como
explícitos: 1) que a violação decorra de deliberação do ente coletivo; 2) que autor material da
infração seja vinculado à pessoa jurídica; e 3) que a infração praticada se dê no interesse ou benefício
da pessoa jurídica; e implícitos no dispositivo:
1) que seja pessoa jurídica de direito privado(...”
=> Processo Penal Kafkiano é aquele no qual o réu não sabe do que se defende. Criptoimpugnação é
a impugnação criptografada, ou seja, a pessoa não entende porque foi imputada a ela determinada
conduta.
Nos chamados crimes de autoria coletiva, “embora a vestibular acusatória não possa ser de todo
genérica, é válida quando, apesar de não descrever minuciosamente as atuações individuais dos
acusados, demonstra um liame entre o seu agir e a suposta prática delituosa, estabelecendo a
plausibilidade da imputação e possibilitando o exercício da ampla defesa.” (RHC 68.903, DJe
20/05/2016)
Dessarte, não é inepta a denúncia – geral – que apresenta uma narrativa fática congruente, de
modo a permitir o due process of law, descrevendo conduta típica que, “atentando aos ditames do
art. 41 do CPP, qualifica os acusados, descreve o fato criminoso e suas circunstâncias. O fato, por si
só, de o MP ter imputado ao recorrente a mesma conduta dos demais denunciados não torna a
denúncia genérica, indeterminada ou imprecisa.” (HC 311.571, STJ, DJe 15/12/2015).
“Não se pode confundir a denúncia genérica com a denúncia geral, pois o direito pátrio não admite
denúncia genérica, sendo possível, entretanto, nos casos de crimes societários e de autoria
coletiva, a denúncia geral, ou seja, aquela que, apesar de não detalhar minudentemente as ações
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imputadas aos denunciados, demonstra, ainda que de maneira sutil, a ligação entre sua conduta e o
fato delitivo.
Da leitura da inicial, verifica-se que os recorrentes Cristiano e Maria da Graça foram denunciados
apenas em virtude de serem sócios administradores da primeira recorrente, Caiçaras
Empreendimentos Imobiliários Ltda. A acusação limitou-se a vinculá-los ao crime porque eram sócios
administradores da primeira recorrente, o que torna a denúncia genérica e inadmissível. [...]
Recurso em habeas corpus provido em parte, para reconhecer a inépcia da denúncia apenas com
relação aos recorrentes CRISTIANO e MARIA DA GRAÇA, sem prejuízo de oferecimento de nova inicial
acusatória, desde que observados os requisitos do art. 41 do Código de Processo Penal.” (RHC
88.264/ES, 5ª T.STJ, DJe 21/02/2018)
“A mera condição de sócio, diretor ou administrador de determinada pessoa jurídica não enseja a
responsabilização penal por crimes praticados no seu âmbito, sendo indispensável que o titular da
ação penal demonstre uma mínima relação de causa e efeito entre a conduta do réu e os fatos
narrados na denúncia, permitindo-lhe o exercício da ampla defesa e do contraditório. [...]. No caso
dos autos, da leitura da exordial acusatória percebe-se que ao paciente foi imputada a prática de
crime contra o meio ambiente pelo simples fato de exercer o cargo de Diretor Presidente da
Companhia Paranaense de Energia Elétrica – COPEL, não tendo o órgão ministerial demonstrado a
mínima relação de causa e efeito entre os fatos que lhe fora assestados e a função por ele exercida
na mencionada pessoa jurídica, pelo que se mostra imperioso o trancamento da ação penal contra
ele instaurada” (STJ, HC 232751, DJe15.03.2013).
=> A denúncia genérica não é admitida, pois surge no contexto de um processo penal kafkiano, uma
vez que fulminado com a nódoa da criptoimputação.
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15. Encerramento do procedimento administrativo ambiental: necessidade?
Súmula Vinculante 24: “Não se tipifica crime material contra a ordem tributária, previsto no art. 1º,
incisos I a IV, da Lei n 8.137/90, antes do lançamento definitivo do tributo.”
“2. No caso dos autos, muito embora os crimes ambientais pelos quais o paciente foi acusado
(artigos 39 e 40 da Lei 9.605/1998) sejam materiais, dependendo da ocorrência de dano para que
possam se caracterizar, não há dúvidas de que o Ministério Público não precisa aguardar a
conclusão do processo administrativo instaurado junto ao IBAMA para deflagrar a respectiva ação
penal. 3. Isso porque as esferas administrativa e penal são independentes, razão pela qual o Parquet,
dispondo de elementos mínimos para oferecer a denúncia, pode fazê-lo, prescindindo-se da
apuração dos fatos pelo órgão administrativo competente. 4. Eventual celebração de termo de
ajustamento de conduta não impede a persecução criminal, repercutindo apenas na dosimetria da
eventual pena a ser cominada ao autor do ilícito ambiental. Precedentes.” (HC 160.525/RJ, 5ªT.STJ,
DJe 14/03/2013)
“Art. 3º. As pessoas jurídicas serão responsabilizadas administrativa, civil e penalmente conforme o
disposto nesta Lei, nos casos em que [1] a infração seja cometida por decisão de seu representante
legal ou contratual, ou de seu órgão colegiado, [2] no interesse ou benefício da sua entidade.”
[1] se um funcionário de uma empresa, que trabalha com motosserra, resolve, por sua conta e risco,
avançar em APP e cortar árvores nesse local proibido;
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[2] se o gerente de uma empresa autoriza o corte de árvores em uma APP, contra os interesses da
empresa, causando-lhe inclusive prejuízos enormes (perda de incentivos fiscais, perda de contratos
com a desmoralização pública).
CESPE: “Na hipótese de o diretor de uma empresa determinar a seus empregados que utilizem
veículos e instrumentos a ela pertencentes, em horário normal de expediente, para extraírem e
transportarem madeira de lei, sem autorização do órgão ambiental competente, destinada a
construção particular daquele dirigente, fica caracterizada a responsabilidade penal da pessoa física.
=> Falso. O benefício deve ser em favor da entidade.
O art. 3º da LCA foi o primeiro dispositivo a dispor sobre a responsabilidade penal da pessoa jurídica
no Brasil?
“Art. 19. [...] § 2º. Constitui contravenção penal, punível com multa, deixar a empresa de cumprir as
normas de segurança e higiene do trabalho.”
Art. 3º, parágrafo único: “A responsabilidade das Pessoas Jurídicas não exclui a das Pessoas Físicas,
autoras, coautoras ou partícipes do mesmo fato.”
“1. Para a validade da tramitação de feito criminal em que se apura o cometimento de delito
ambiental, na peça exordial devem ser denunciados tanto a pessoa jurídica como a pessoa física
(sistema ou teoria da dupla imputação). Isso porque a responsabilização penal da pessoa jurídica
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não pode ser desassociada da pessoa física – quem pratica a conduta com elemento subjetivo
próprio. 2. Oferecida denúncia somente contra a pessoa jurídica, falta pressuposto para que o
processo-crime desenvolva-se corretamente. 3. Recurso ordinário provido, para declarar a inépcia da
denúncia e trancar, consequentemente, o processo-crime instaurado contra a Empresa Recorrente,
sem prejuízo de que seja oferecida outra exordial, válida.” (RMS 37.293/SP, 5ªT.STJ, DJe 09/05/2013)
“1. O art. 225, § 3º, da Constituição Federal não condiciona a responsabilização penal da pessoa
jurídica por crimes ambientais à simultânea persecução penal da pessoa física em tese responsável
no âmbito da empresa. A norma constitucional não impõe a necessária dupla imputação.
2. As organizações corporativas complexas da atualidade se caracterizam pela descentralização e
distribuição de atribuições e responsabilidades, sendo inerentes, a esta realidade, as dificuldades
para imputar o fato ilícito a uma pessoa concreta.
3. Condicionar a aplicação do art. 225, § 3º, da Carta Política a uma concreta imputação também a
pessoa física implica indevida restrição da norma constitucional, expressa a intenção do constituinte
originário não apenas de ampliar o alcance das sanções penais, mas também de evitar a impunidade
pelos crimes ambientais frente às imensas dificuldades de individualização dos responsáveis
internamente às corporações, além de reforçar a tutela do bem jurídico ambiental.
4. A identificação dos setores e agentes internos da empresa determinantes da produção do fato
ilícito tem relevância e deve ser buscada no caso concreto como forma de esclarecer se esses
indivíduos ou órgãos atuaram ou deliberaram no exercício regular de suas atribuições internas à
sociedade, e ainda para verificar se a atuação se deu no interesse ou em benefício da entidade
coletiva. Tal esclarecimento, relevante para fins de imputar determinado delito à pessoa jurídica,
não se confunde, todavia, com subordinar a responsabilização da pessoa jurídica à
responsabilização conjunta e cumulativa das pessoas físicas envolvidas. Em não raras
oportunidades, as responsabilidades internas pelo fato estarão diluídas ou parcializadas de tal
modo que não permitirão a imputação de responsabilidade penal individual. [...].” (RE 548181, Rel.
Min. Rosa Weber, 1ªT.STF, DJe-213 de 30-10-2014)
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5. Sistema da Dupla Imputação ou das Imputações Paralela
“Este Superior Tribunal, na linha do entendimento externado pelo Supremo Tribunal Federal, passou
a entender que, nos crimes societários, não é indispensável a aplicação da teoria da dupla
imputação ou imputação simultânea, podendo subsistir a ação penal proposta contra a pessoa
jurídica, mesmo se afastando a pessoa física do polo passivo da ação. Precedentes.” (AgRg no RMS
48.851/PA, 6ª T.STJ, DJe 26/02/2018)
LCA: “Art. 6º. Para imposição e gradação da penalidade, a autoridade competente observará:
I. a gravidade do fato, tendo em vista os motivos da infração e suas consequências para a saúde
pública e para o meio ambiente;
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III. a situação econômica do infrator, no caso de multa.” [+]
LCA: “Art. 19. A perícia de constatação do dano ambiental, sempre que possível, fixará o montante
do prejuízo causado para efeitos de prestação de fiança e cálculo de multa.”
“Art. 7º. As Penas Restritivas de Direito são autônomas e substituem as privativas de liberdade
quando:
I. tratar-se de crime culposo ou for aplicada a PPL. inferior a 4 anos;
[≠ CP, art. 44, I. aplicada p.p.l. não superior a quatro anos e o crime não for cometido com violência
ou grave ameaça à pessoa ou, qualquer que seja a pena aplicada, se o crime for culposo;]
§ún. As PRD a que se refere este artigo terão a mesma duração da PPL substituída. [semelhante ao
CP, art. 55]”
PERGUNTA:
CP, art. 44. “As PRD são autônomas e substituem as privativas de liberdade, quando: II. o réu não for
reincidente em crime doloso;”
A LCA não traz essa exigência, assim, o reincidente em crime doloso [ainda que no mesmo crime]
tem direito à substituição da PPL por PRD?
Sim, em virtude do silêncio eloquente da LCA. Em seu silêncio, a LCA quis afastar esse critério
impeditivo.
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10. Penas Restritivas de Direitos aplicáveis às Pessoas Físicas
=> As penas previstas nos incisos III e V não possuem similar no Código Penal.
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CP, art. 46, §4º. “Se a pena substituída for superior a um ano, é facultado ao condenado cumprir a
pena substitutiva em menor tempo, nunca inferior à metade da pena privativa de liberdade fixada.”
Incide na LCA?
=> Sim, dada a aplicação subsidiária permitida pela própria LCA em seu artigo 79.
13. Penas Restritivas de Direitos Aplicáveis às Pessoas Físicas [Interdição Temporária de Direitos]
Obs2: [3] Art. 10 em flagrante contradição com o art. 7º, §ún. (“As p.r.d a que se refere este artigo
terão a mesma duração da p.p.l. substituída”).
*Em regra, os crimes dolosos da LCA tem pena máxima de 5 anos, e nenhum crime culposo tem pena
máxima de 3 anos. Portanto, como pode a PRD ser maior que a PPL. substituída?”,
*Desproporcionalidade chapada!
Em conclusão, há forte compreensão no sentido de que: os prazos mencionados no art. 10 devem ser
desconsiderados, aplicando-se a regra geral do art. 7º, § único (LFGeSM + Delmanto).
Ps.: não desprezem os prazos em provas objetivas!
=> Prazos muito criticados pela doutrina, por serem superior a qualquer pena privativa de liberdade
prevista pela lei.
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14. Penas Restritivas de Direitos Aplicáveis às Pessoas Físicas [Suspensão de Atividades]
“Art. 11. A suspensão de atividades será aplicada quando estas não estiverem obedecendo às
prescrições legais.”
Obs: Essa sanção do art. 11 pode ser aplicada ao empresário individual, que é pessoa física
(registrada na junta comercial e que tem CNPJ na Receita Federal, mas continua sendo pessoa física).
Obs1: CP, art. 45, §1º: o pagamento pode ser realizado para a vítima ou seus dependentes.
Pergunta: Incide na LCA?
=> Sim, por aplicação subsidiária (art. 79, LCA).
Obs2: CP, art. 45, §2º: se o beneficiário aceitar, a prestação pecuniária (em $) pode ser substituída
por prestação de outra natureza (prestação inominada).
Pergunta: Incide na LCA?
=> Também sim, por aplicação subsidiária (art. 79, LCA).
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permanecendo recolhido nos dias e horários de folga em residência ou em qualquer local destinado a
sua moradia habitual, conforme estabelecido na sentença condenatória.”
Crítica:
“Inventou-se uma prisão com formato de restrição a direito.” (GSN).
=> Similaridade:
Art. 36 do CP: “o regime aberto baseia-se na autodisciplina e senso de responsabilidade do
condenado”.
LCA, art. 13: “o recolhimento domiciliar baseia-se na autodisciplina e senso de responsabilidade do
condenado...”
Obs: ≠ CP, art. 48. A limitação de fim de semana consiste na obrigação de permanecer, aos sábados e
domingos, por 5 horas diárias, em casa de albergado ou outro estabelecimento adequado.
“II. Se o caótico sistema prisional estatal não possui meios para que o paciente cumpra a pena
restritiva de direitos em estabelecimento apropriado, é de se autorizar, excepcionalmente, que a
mesma seja cumprida em seu domicílio.
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III. O que é inadmissível, é impor ao paciente o cumprimento da limitação de fim de semana em
presídio, estabelecimento inadequado para tanto.” (HC 146.558/RS, 5ª Turma do STJ, DJe
05/04/2010)
3. 4 Atenuantes
“Art. 14. São circunstâncias que atenuam [incidem na segunda fase de fixação da] pena:
Obs: Por analogia in bonam partem, podem incidir as atenuantes nominadas e inominadas do CP
(arts. 65 e 66).
4. 4 Atenuantes
Masson (justificação):
“Embora o desconhecimento da lei seja inescusável (CP, art. 21) e não afaste o caráter criminoso do
fato, funciona como atenuante genérica. Suaviza-se, no campo penal, a regra definida pelo art. 3º da
Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro: ‘Ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que
não a conhece’. ... Justifica-se essa atenuante pelo fato de o ordenamento jurídico brasileiro ser
composto por um emaranhado complexo de leis e atos normativos, constantemente revogados e em
contínua modificação, dificultando por parte do cidadão a exata compreensão do seu significado e do
seu alcance.”
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(Advogado do Senado – FGV) Nos crimes previstos na Lei 9.605/98, o baixo grau de instrução ou
escolaridade do agente constitui circunstância que atenua a pena.
=> Verdadeiro.
5. 4 Atenuantes
Obs1 (*reparação do dano): aplica-se ao infrator que reparar o dano APÓS o recebimento da
denúncia.
1.1: Se houver reparação voluntária e integral do dano antes do recebimento da denúncia:
arrependimento posterior (CP, art. 16 do CP).
1.2: ≠ Delmanto [CP, art. 16 não se aplica à LCA, que considerou a reparação do dano apenas como
circunstância atenuante]. [posição minoritária]
Obs2 (*Limitação significativa da degradação ambiental): como não se trata de reparação integral
do dano, não há de se falar no art. 16 do CP.
6. 4 Atenuantes
GSN: “O agente está, também, se autodenunciando. Se o fizer de maneira espontânea, cremos que
essa comunicação pode ser tida como manifestação positiva de sua personalidade, o que
representa uma atenuante preponderante (art. 67, CP).”
=> Não há consenso, mas há respeitável opinião no sentido da preponderância dessa atenuante
sobre outras.
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7. 4 Atenuantes
Em verdade, a medida se aproxima muito mais da atenuante da confissão (CP, art. 65, III, d).
=> A maioria das agravantes já constituem elementares de outros tipos, de modo que não se aplicam
em algumas situações.
Art. 15. São circunstâncias que agravam a pena, quando não constituem ou qualificam o crime:
I. reincidência nos crimes de natureza ambiental;
LCA, art.. 79: “não prevalece a condenação anterior, se entre a data do cumprimento ou extinção da
pena e a infração posterior tiver decorrido período de tempo superior a 5 anos [...];”
9. 18 Agravantes
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[basta a intenção de obter a vantagem pecuniária, não sendo exigido o efetivo recebimento. TRF4,
AC 200570080015761 8ª T., u., 01/10/2008.]
10. 18 Agravantes
e) atingindo áreas de unidades de conservação ou áreas sujeitas, por ato do Poder Público, a regime
especial de uso;
[cuidado: Art. 40. Causar dano direto ou indireto às UC (...)]
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11. 18 Agravantes
h) em domingos ou feriados;
[Cuidado: Não se aplica a nenhum crime contra a flora: Art. 53. Nos crimes previstos nesta Seção, a
pena é aumentada de 1/6 a 1/3 se: II. o crime é cometido: e) durante a noite, em domingo ou
feriado]
=> Não se aplica ao sábado.
i) à noite;
[Cuidado: Não se aplica ao art. 29, §4º, III: “Matar, perseguir, caçar, apanhar, utilizar espécimes da
fauna silvestre [...]: Pena (...). §4º. A pena é aumentada de metade, se o crime é praticado: III.
durante a noite. + Não se aplica a nenhum crime contra a flora.]
12. 18 Agravantes
13. 18 Agravantes
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o) mediante abuso do direito de licença, permissão ou autorização ambiental;
[Cuidado: inaplicável aos crimes previstos nos arts. 29, caput e §1º, I, 55, 63 e 64 da LCA: abuso da
licença como elementar]
13. 18 Agravantes
Questões
(Cespe) Os crimes contra a fauna praticados durante a noite, aos sábados e aos domingos aumentam
as respectivas penas.
=> Errado, pois sábado e domingo não estão incluídos na causa de aumento de pena.
Domingo, feriado e noite (agravantes de qualquer crime ambiental: art. 15, II, h, i)
Domingo, feriado e noite (c.a.p. nos crimes contra a flora: art. 53, II, e)
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Noite (c.a.p. no crime do art. 29, § 4º, III)
(FGV, Advogado do Senado) Nos crimes previstos na Lei 9.605/98, a prática do crime no domingo é
circunstância que agrava a pena, quando não constitui elementar ou qualifica o crime.
=> Correto: art. 15, II, alínea “h”, da LCA.
“Art. 21. As penas aplicáveis isolada, cumulativa ou alternativamente às pessoas jurídicas, de acordo
com o disposto no art. 3º, são:
I. multa;
II. restritivas de direitos;
III. prestação de serviços à comunidade.
“Art. 18. A multa será calculada segundo os critérios do CP [No mínimo, 10 e, no máximo, de 360
dias-multa. Valor do dia-multa: ]; se revelar-se ineficaz, ainda que aplicada no valor máximo, poderá
ser aumentada até três vezes, tendo em vista o valor da vantagem econômica auferida.”
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17. Multa: critério para aplicação ≠ critério para triplicar
LCA CP
Art. 6º. Para imposição e Art. 60. Na fixação da pena de
gradação da penalidade, a multa o juiz deve atender,
autoridade competente principalmente, à situação
observará: econômica do réu.
III. a situação econômica do
infrator, no caso de multa. +
Art. 19. Montante do
prejuízo causado
Art. 18. Se revelar-se §1º. A multa pode ser aumentada
ineficaz, ainda que aplicada até o triplo, se o juiz considerar
no valor máximo, poderá que, em virtude da situação
ser aumentada até três econômica do réu, é ineficaz,
vezes, tendo em vista o embora aplicada no máximo.
valor da vantagem
econômica auferida
§1º. A suspensão de atividades será aplicada quando estas não estiverem obedecendo às disposições
legais ou regulamentares, relativas à proteção do meio ambiente.
§2º. A interdição será aplicada quando o estabelecimento, obra ou atividade estiver funcionando
sem a devida autorização, ou em desacordo com a concedida, ou com violação de disposição legal ou
regulamentar.
§3º. A proibição de contratar com o Poder Público e dele obter subsídios, subvenções ou doações
não poderá exceder o prazo de 10 anos.
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Crítica sobre o prazo do §3º do art. 22:
Sanção de “duvidosa constitucionalidade, uma vez que a imensa maioria dos crimes ambientais não
tem p.p.l. superior a 3 anos. [...] Assim, se o legislador comina uma pena máxima de 3 anos para
determinado delito, entendendo esse patamar como suficiente para a prevenção e reprovação do
crime, o que justificaria aplicar, para a mesma infração, uma pena de 10 anos de restrição de
direitos?
Em obediência aos princípios da proporcionalidade (razoabilidade) e da individualização da pena,
cremos, portanto, que esse patamar máximo de 10 anos deve ser desconsiderado, devendo esta
p.r.d. seguir os limites máximos da p.p.l. cominada para a infração.” (LFGeSM)
“Art. 23. A prestação de serviços à comunidade pela pessoa jurídica consistirá em:
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Obs1: ⇈ Pena de morte ⇈ (cautela: apenas quando a PJ tiver como atividade principal a prática de
crimes ambientais poderá ser extinta).”
“Art. 4º. Poderá ser desconsiderada a pessoa jurídica sempre que sua personalidade for obstáculo
ao ressarcimento de prejuízos causados à qualidade do meio ambiente.”
Obs1: É instituto relacionado à responsabilidade civil e administrativa. Portanto, não é sanção penal,
nem efeito da condenação [≠Édis Milaré].
Obs2: No direito ambiental, a medida independe do abuso de direito e da atuação com excesso de
poderes por parte dos sócios/administradores.
Basta a verificação de insuficiência patrimonial da PJ para reparar ou compensar os prejuízos por ela
causados à qualidade do meio ambiente.
LCA CP
Art. 16. Nos crimes Art. 77. A execução da p.p.l, não
previstos nesta Lei, a superior a dois anos, poderá ser
suspensão condicional suspensa, por dois a quatro
da pena pode ser anos, desde que: I. o condenado
aplicada nos casos de não seja reincidente em crime
condenação a p.p.l. não doloso; II. a culpabilidade, os
superior a três anos. antecedentes, a conduta social e
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personalidade do agente, bem
como os motivos e as
circunstâncias autorizem a
concessão do benefício; III. Não
seja indicada ou cabível a
substituição prevista no art. 44
deste Código.
LCA CP
Art. 17. A verificação da Art. 78, §2°. Se o condenado
reparação a que se houver reparado o dano, salvo
refere o § 2º do art. 78 impossibilidade de fazê-lo, e se
do CP será feita as circunstâncias do art. 59
mediante laudo de deste Código lhe forem
reparação do dano inteiramente favoráveis, o juiz
ambiental, e as poderá substituir a exigência do
condições a serem parágrafo anterior [§ 1º. No
impostas pelo juiz primeiro ano do prazo, deverá o
deverão relacionar-se condenado prestar serviços à
com a proteção ao meio comunidade ou submeter-se à
ambiente. limitação de fim de semana]
pelas seguintes condições,
aplicadas cumulativamente: a)
proibição de frequentar
determinados lugares; b)
proibição de ausentar-se da
comarca onde reside, sem
autorização do juiz; c)
comparecimento pessoal e
obrigatório a juízo,
mensalmente, para informar e
justificar suas atividades.
CP, art. 77, §2º (LCA, art. 79). A execução da p.p.l., não superior a 4 anos, poderá ser suspensa, por 4
a 6 anos, desde que o condenado seja maior de setenta anos de idade, ou razões de saúde
justifiquem a suspensão.
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Obs: Aplicam-se subsidiariamente as normas do CP sobre sursis (revogação obrigatória ou facultativa;
à prorrogação do período de prova etc.).
LCA, art. 27. Nos crimes ambientais de menor potencial ofensivo, a proposta de aplicação imediata
de p.r.d. ou multa, prevista no art. 76 da Lei 9.099/95, somente poderá ser formulada desde que
tenha havido a prévia composição do dano ambiental, de que trata o art. 74 da mesma lei, salvo em
caso de comprovada impossibilidade.
“Art. 28. As disposições do art. 89 da Lei 9.099/1995, aplicam-se aos crimes de menor potencial
ofensivo definidos nesta Lei, com as seguintes modificações:
=> Guarda relação com crimes de médio potencial ofensivo.
II. na hipótese de o laudo de constatação comprovar não ter sido completa a reparação, o prazo de
suspensão do processo será prorrogado, até o período máximo previsto no artigo referido no caput,
acrescido de mais um ano, com suspensão do prazo da prescrição;
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III. no período de prorrogação, não se aplicarão as condições dos incisos II, III e IV do § 1° do artigo
mencionado no caput; [proibição de frequentar determinados lugares; de ausentar-se da comarca
onde reside, sem autorização do Juiz; comparecimento pessoal e obrigatório a juízo...]
Obs: prazo máximo do período de prova: 14 anos! (após esse período, fica inviável qualquer
instrução processual efetiva. Importante, por isso mesmo, a produção antecipada de provas
urgentes).
Art. 25. Verificada a infração, serão apreendidos seus produtos e instrumentos, lavrando-se os
respectivos autos. §5º. Os instrumentos utilizados na prática da infração serão vendidos [...].
1ª corrente: Quaisquer instrumentos utilizados para a prática da infração ambiental podem ser
apreendidos e vendidos, sejam ou não permitidos o seu porte, fabrico ou alienação (Capez).
2ª corrente: A regra do art. 25, § 5º, não é absoluta, e deve observar se a utilização do instrumento é
reiterada em crime ambiental e se há proporcionalidade entre o valor do proveito e do bem. “Os
objetos que devem ser confiscados são apenas aqueles usualmente utilizados na prática de delitos
ambientais. Um objeto lícito, que muitas vezes representa o sustento do agente e de sua família, não
pode ser confiscado porque, esporadicamente, foi utilizado irregularmente e caracterizou a prática
de um delito ambiental. É preciso fazer a distinção, para não haver injustiças e abusos. Motosserras
utilizadas por madeireiras clandestinas, barcos utilizados por pesqueiros ilegais devem, sem dúvida,
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ser confiscados; mas um barco de um humilde pescador, que eventualmente pescou peixes além da
quantidade permitida, não tem necessidade de ser confiscado.” (LFGeSM)
“Art. 26. Nas infrações penais previstas nesta Lei, a APn é pública incondicionada.”
Profa. Ada (incialmente): interrogatório como meio de prova > deveria ser aplicado, por analogia, o
disposto no art. 843, §1º, da CLT, que permite o depoimento do preposto da empresa, que tenha
conhecimento do fato.
Profa. Ada (com a L. 10.792/03): > interrogatório como meio de defesa > passou a entender que deve
ser interrogado o gestor da empresa, que é quem tem interesse em realizar a defesa da PJ, devendo-
se observar todas as garantias constitucionais (presunção de inocência, direito ao silêncio etc.).
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Serão realizados dois interrogatórios: um em sua defesa e outro em nome da PJ. Não se pode cogitar
de um único interrogatório, por economia processual, tendo em vista o art. 191 do CPP (Havendo
mais de um acusado, serão interrogados separadamente).
“Se houver colidência de interesses entre as defesas da sociedade e do diretor, este não poderá
representá-la no ato de interrogatório. [...]. Acaso haja incompatibilidade entre as defesas do diretor
do qual emanou a ordem e da pessoa jurídica, por certo nesse processo a sociedade não será
interrogada, a não ser que exista outro administrador integrante do colegiado, que não tenha sido
acusado.” (TRF-4, MS 2002.04.01.013843-0, DJ 26.02.2003)
33. Competência
Em regra:
Justiça Estadual (STJ, CC 88.013), uma vez que a proteção do meio ambiente é de competência
comum da União, dos Estados e dos Municípios, e não há regra constitucional ou legal que determine
a Justiça competente (STJ, REsp 200200848713).
Súmula 91 do STJ: compete à JF processar e julgar os crimes praticados contra a fauna.
Excepcionalmente:
Justiça Federal: se o delito ambiental causar dano direto e específico a interesse da União ou de suas
entidades;
- se o delito atingir apenas interesse genérico e indireto daqueles entes, a competência será da
Justiça Estadual.
>>CASUÍSTICA>>
*Crime cometido em áreas de patrimônio nacional (CR, art. 225, §4º), a saber, a Mata Atlântica (STF,
RE 299.856, e RE 300.244), a Floresta Amazônica, a Serra do Mar e o Pantanal Mato-Grossense, que
não são considerados patrimônio da União (STJ, REsp 610.015);
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*Crimes contra a “fauna praticados em rios estaduais é da JE, ainda que com a utilização de
petrechos proibidos em normas federais” (STJ, CC 36594/RS).
*“O fato de o IBAMA ser responsável pela administração e a fiscalização da APA, conforme
entendimento desta Corte Superior, não atrai, por si só, a competência da Justiça Federal.
Art. 29. Matar, perseguir, caçar, apanhar, utilizar ↓espécimes da fauna silvestre↓, nativos ou em rota
migratória, sem a devida permissão, licença ou autorização da autoridade competente, ou em
desacordo com a obtida: Pena. detenção de 6 meses a 1 ano, e multa.
Obs1: Se o agente possuir a permissão, licença ou autorização e agir dentro dos limites concedidos,
não haverá crime >> ex. reg. dir. (CP, art. 23, III).
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Obs2 (objeto material): É a fauna silvestre, terrestre e aquática, em qualquer fase de
desenvolvimento (ovos, larvas, filhotes, adultos): § 3º. “São espécimes da fauna silvestre todos
aqueles pertencentes às espécies nativas, migratórias e quaisquer outras, aquáticas ou terrestres,
que tenham todo ou parte de seu ciclo de vida ocorrendo dentro dos limites do território brasileiro,
ou águas jurisdicionais brasileiras.” Exs.: aves, mamíferos, répteis, anfíbios.
Obs2: animais domésticos ou domesticados, cães p.ex.
Cuidado! “Os insetos também estão protegidos pela legislação penal, por serem considerados
animais. Possuem o corpo constituído por anéis ou segmentos que os dividem em três partes:
cabeça, tórax e abdome. Entre os insetos estão, p.ex., as borboletas (...), as abelhas (...), os grilos (...)
e as cigarras (...)”. (Vladimir & Gilberto Passos de Freitas)
=> Embora os insetos incluam-se na fauna, pode-se aplicar o princípio da bagatela. Ex: Matar uma
abelha.
2. Crime do art. 29
O tipo utiliza a expressão espécimes, no plural. E se a conduta atingir um único animal o fato é típico?
I. quem impede a procriação da fauna, sem licença, autorização ou em desacordo com a obtida;
II. quem modifica, danifica ou destrói ninho, abrigo ou criadouro natural;
III. quem vende, expõe à venda, exporta ou adquire, guarda, tem em cativeiro ou depósito, utiliza ou
transporta ovos, larvas ou espécimes da fauna silvestre, nativa ou em rota migratória, bem como
produtos [botas e roupas com couro de jacaré] e objetos [penas] dela oriundos, provenientes de
criadouros não autorizados ou sem a devida permissão, licença ou autorização da autoridade
competente. [busca-se evitar o comércio ilegal].
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3. Crime do art. 29
§2º. No caso de guarda doméstica de espécie silvestre não considerada ameaçada de extinção,
pode o juiz, considerando as circunstâncias, deixar de aplicar a pena.
Ex.: Animal silvestre como bicho de estimação (papagaio) > não ameaçado de extinção >
circunstâncias judiciais favoráveis > perdão judicial.
4. Crime do art. 29
I. contra espécie rara ou considerada ameaçada de extinção, ainda que somente no local da infração;
II. em período proibido à caça;
III. durante a noite;
IV. com abuso de licença;
V. em unidade de conservação;
VI. com emprego de métodos ou instrumentos capazes de provocar destruição em massa.
§ 5º. A pena é aumentada até o triplo, se o crime decorre do exercício de caça profissional.
Caça profissional é a exercida com habitualidade, intenção de lucro e de forma predatória (ex.:
caçadores de jacarés, no Pantanal).
5. Art. 37
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II. para proteger lavouras, pomares e rebanhos da ação predatória ou destruidora de animais, desde
que legal e expressamente autorizado pela autoridade competente;
III. Vetado
IV. por ser nocivo o animal, desde que assim caracterizado pelo órgão competente.”
I = estado de necessidade
II e IV = exercício regular de direito.
6. Art. 37
=> Questões:
(FCC) Pedro, em estado de necessidade, para saciar sua fome e de sua família, composta por esposa
e cinco filhos, abateu animal da fauna amazônica. Segundo a LCA, tal fato:
a) é tipificado como crime.
b) é tipificado como contravenção penal.
c) é tipificado como crime, sendo a situação descrita circunstância atenuante da pena.
d) não é considerado crime.
e) é tipificado como crime, sendo a ação penal neste caso pública condicionada à representação.
R: Alternativa D.
(Cespe) Com relação aos crimes contra o meio ambiente, a fauna e a flora, assinale a opção correta.
a) Abater um animal para proteger lavoura é um ato que independe de autorização.
b) O abate de animal, ainda que este seja considerado nocivo pelo órgão competente, é considerado
crime.
c) Os crimes contra a fauna praticados durante a noite, aos sábados e aos domingos aumentam as
respectivas.
d) Se um indivíduo, em estado de necessidade, abate um animal para saciar a sua fome, sua conduta
não será considerada crime.
R: Alternativa D.
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7. Crime do art. 30
Art. 30. Exportar para o exterior peles e couros de anfíbios [sapos] e répteis [crocodilos, cascavel] em
bruto, sem a autorização da autoridade ambiental competente: Pena. reclusão, de um a três anos, e
multa.
Necessária diferenciação:
*Se o agente exporta a pele ou couro de anfíbios e répteis em bruto (in natura):
=> crime do art. 30;
*Se o agente exporta produtos ou objetos confeccionados com a pele ou o couro dos anfíbios e
répteis (ex. bolsas e sapatos de jacaré):
=> crime do art. 29, §1º, III. (pena menor)
8. Crime do art. 31
Art. 31. Introduzir espécime animal no País [= importar], sem parecer técnico oficial favorável e
licença expedida por autoridade competente:
Pena. detenção, de três meses a um ano, e multa.
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de animais destinados ao consumo humano, sem fiscalização e parecer das autoridades
competentes, pode comprometer seriamente a saúde da população. Cite-se, por exemplo, o mal da
vaca louca e a gripe aviária, que acometem alguns animais exóticos.” (Luiz Flávio Gomes)
9. Crime do art. 32
Art. 32. Praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou
domesticados, nativos ou exóticos: Pena. detenção, de três meses a um ano, e multa.
Obs1: CR, art. 225, § 1º. [...] incumbe ao Poder Público: VII. proteger a fauna e a flora, vedadas, na
forma da lei, as práticas que [...] submetam os animais a crueldade.
Obs2: Já se entendeu cruéis as seguintes práticas: farra do boi (RE 153.531), as rinhas de galo (ADI
3.776) e as vaquejadas (ADI 4.983).
CR, art. 225, § 7º (EC 96/17). Para fins do disposto na parte final do inciso VII do § 1º deste artigo,
não se consideram cruéis as práticas desportivas que utilizem animais, desde que sejam
manifestações culturais, conforme o § 1º do art. 215 desta Constituição Federal, registradas como
bem de natureza imaterial integrante do patrimônio cultural brasileiro, devendo ser regulamentadas
por lei específica que assegure o bem-estar dos animais envolvidos.
https://www.dizerodireito.com.br/2017/06/breves-comentarios-ec-962017-emenda-da_7.html
O art. 64 da LCP está revogado? [Art. 64. Tratar animal com crueldade ou submetê-lo a trabalho
excessivo ...].
Sim: VERGeJPBJr + Lélio Braga Calhau.
Não: Nucci + Sirvinskas: o art. 32 somente protegeria os animais silvestres. Por isso, o art. 64
continuaria em vigor, devendo ser aplicado aos maus-tratos contra animais não silvestres (ex.: cães).
§1º. Incorre nas mesmas penas quem realiza experiência dolorosa ou cruel em animal vivo, ainda que
para fins didáticos ou científicos, quando existirem recursos alternativos.
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[incrimina-se a vivissecção: a experiência em animal vivo]
“Nem mesmo cientistas e professores estão, portanto, autorizados a causar sofrimentos
desnecessários nos animais, se dispuserem de recursos alternativos para realizar suas aulas,
pesquisas e estudos. Apenas quando for inevitável a utilização de animais (não houver nenhum
recurso alternativo) e quando o objetivo da experiência revelar um interesse socialmente mais
relevante do que a proteção da integridade física do animal é que será lícita a vivissecção.” (LFG&SM)
Mesmo assim, observando-se o disposto no art. 14, § 5º, da Lei 11.794/08: “experimentos que
possam causar dor ou angústia desenvolver-se-ão sob sedação, analgesia ou anestesia adequadas”.
=> Questão:
(MP-SC – Promotor de Justiça): “Somente com a presença do professor da disciplina especifica é
admitida, nos estabelecimentos de ensino fundamental, a prática da vivissecção de animais.”
=> R: Falso
LFGeSM:
“No caso de animais silvestres, apenas se aplica a causa de aumento de pena se a morte do animal
for culposa (crime preterdoloso).
Se o agente pretende, com os maus-tratos ou crueldade, matar o animal, haverá o delito do art. 29,
caput, com a agravante do art. 15, II, m (emprego de método cruel).
No caso de animais domésticos, domesticados ou exóticos, o crime pode ser doloso ou preterdoloso,
aplicando-se a majorante ainda que o agente tenha praticado os maus-tratos ou abuso com a
intenção de provocar a morte do animal.”
Art. 49. Destruir, danificar, lesar ou maltratar, por qualquer modo ou meio, plantas de
ornamentação de logradouros públicos [praças, parques etc.] ou em propriedade privada alheia:
Pena: detenção, de três meses a um ano, ou multa, ou ambas as penas cumulativamente.
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Obs1: destruir plantas ornamentais de sua própria propriedade.
Obs2: Inconstitucionalidade: “Em função do princípio da intervenção mínima, não se pode admitir
um tipo penal incriminador que diga respeito a, por exemplo, maltratar plantas ornamentais de
forma culposa, sem qualquer intenção, mas em virtude de pura negligência. Seria o ápice do abuso
do Estado no intervencionismo na vida privada de cada um.” (Nucci)
“Art. 54. Causar poluição de qualquer natureza em níveis tais que resultem ou possam resultar em
danos à saúde humana, ou que provoquem a mortandade de animais ou a destruição significativa
da flora: Pena. reclusão, de 1 a 4 anos, e multa.
“A LCA deve ser interpretada à luz dos princípios do desenvolvimento sustentável e da prevenção,
indicando o acerto da análise que a doutrina e a jurisprudência têm conferido à parte inicial do art.
54 da Lei n. 9.605/1998, de que a mera possibilidade de causar dano à saúde humana é idônea a
configurar o crime de poluição, evidenciada sua natureza formal ou, ainda, de perigo abstrato.”
(AgRg no AREsp 956.780/AM, 5ªT.STJ, DJe 05/10/2016).
“A ausência de indicação do efetivo dano à saúde das pessoas não implica o reconhecimento de falta
de justa causa, porquanto a conduta tipificada no art. 54 da Lei n. 9605/98 se trata de crime formal,
que não exige resultado naturalístico.” (RMS 50.393/PA, 5ªT.STJ, DJe 20/09/2017)
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14. Crime do art. 54
Diz o tipo: “poluição de qualquer natureza” (atmosférica; hídrica; do solo). Abarca a poluição sonora?
“CRIME AMBIENTAL. ... PESSOA JURÍDICA. POLUIÇÃO SONORA. [...] 1. A emissão de som, quando
em desacordo com os padrões estabelecidos, provocará a degradação da qualidade ambiental. 2. A
conduta narrada na denúncia mostra-se plenamente adequada à descrição típica constante no art.
54, caput, e § 2º, I [‘Se o crime: I. tornar uma área, urbana ou rural, imprópria para a ocupação
humana;’], da Lei n. 9.605/98, c/c o art. 3º, III, da Lei n. 6.938/81, pois descreve a emissão pela
pessoa jurídica de ruídos acima dos padrões estabelecidos pela NBR 10.151, causando, por
conseguinte, prejuízos à saúde humana, consoante preconiza a Resolução do Conama n.01/1990.”
(AgRg no REsp 1442333/RS, 6ªT.STJ, DJe 27/06/2016)
Obs (em qualquer caso): A poluição deve ser causada em níveis tais que
- resultem ou possam resultar em danos à saúde humana,
- ou que provoquem a mortandade de animais ou a destruição significativa da flora.
Não se adequa “ao tipo penal a conduta de poluir, em níveis incapazes de gerar prejuízos aos bens
juridicamente tutelados [...]. Não resta configurada a poluição hídrica, pois mesmo que o
rompimento do talude da lagoa de decantação tenha gerado a poluição dos córregos referidos na
denúncia, não se pode ter como ilícita a conduta praticada, pois o ato não foi capaz de gerar efetivo
perigo ou dano para a saúde humana, ou provocar a matança de animais ou a destruição significativa
da flora, elementos essenciais ao tipo penal.” (RHC 17.429/GO, 5ªT.STJ, DJ 01/08/2005).
Em consequência:
Se a poluição sonora não for em níveis que possa prejudicar a saúde humana:
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- Contravenção de perturbação do trabalho ou sossego alheio (LCP, art. 42).
A emissão de gás, fumaça ou vapor que não resulte ou possa resultar em dano à saúde humana, nem
tampouco provoque a mortandade de animais ou a destruição significativa da flora: LCP, art. 38.
“§ 3º. Incorre nas mesmas penas previstas no parágrafo anterior quem deixar de adotar, quando
assim o exigir a autoridade competente, medidas de precaução em caso de risco de dano ambiental
grave ou irreversível.”
Não afasta! “O dano grave ou irreversível que se pretende evitar com a norma prevista no artigo 54,
§ 3º, da Lei nº 9.605/98 não fica prejudicado pela degradação ambiental prévia. O risco tutelado
pode estar relacionado ao agravamento das consequências de um dano ao meio ambiente já
ocorrido e que se protrai no tempo.” (HC 90023, 1ªT.STF, DJe-157 de 07-12-2007)
=> Ex: Lixão preexistente a mandato de Prefeito.
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LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL
Lei de Abuso de Autoridade I
Renato Brasileiro
Aula 02
ROTEIRO DE AULA
ABUSO DE AUTORIDADE
(Lei n. 13.869/19, de acordo com o Pacote Anticrime – Lei n. 13.964/19)
- A origem da Lei de Abuso de Autoridade está diretamente relacionada com os desdobramentos da Operação
Lava Jato. Para muitos integrantes do Congresso Nacional seria necessário algum instrumento legal para frear
o ímpeto da Polícia; do Ministério Público e do Judiciário.
- Por mais que seja verdadeiro o fato de que o Congresso Nacional tenha aprovado a lei com a intenção de
inibir a atividade persecutória do Estado, também é verdade que a antiga Lei de Abuso de Autoridade já estava
ultrapassada (Lei nº 4898/95), tanto que a única pena privativa de liberdade contida na lei era a de 10 dias a
6 meses, contida no Art. 6º. Daí se concluir que todos os crimes previstos na lei revogada eram de competência
do Juizado Especial Criminal (JECRIM), já que se enquadravam na categoria de infrações de menor potencial
ofensivo.
- O maior problema da Lei de Abuso de Autoridade era em matéria de prescrição, já que uma pena como a do
Art. 6º tinha prazo prescricional de 03 anos.
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RENATO BRASILEIRO: a despeito da já citada motivação do Congresso Nacional para aprovar a nova lei, deve-
se reconhecer que esta foi editada em boa hora, visto que contribui para a diminuição de muitas condutas
indesejáveis, como aqueles que espetacularizam o Processo Penal (ex.: exposição desnecessária do preso pelo
policial ou promotor)
Art. 6º (...)
§3º A sanção penal será aplicada de acordo com as regras dos arts. 42 a 56 do Código Penal e consistirá em:
(...)
b) detenção por 10 dias a seis meses;
(...)
- Quando o legislador criminaliza determinadas condutas como a decretação de uma medida privativa
liberdade em manifesta desconformidade ou a demora demasiada para análise de processo em órgão
colegiado, fica claro para a doutrina que se tratam de crimes pluriofensivos, isto é, que tutelam mais de um
bem jurídico. Como regra, o primeiro bem jurídico tutelado sempre será o dever de probidade do agente
público; já o segundo depende do tipo penal objeto de análise.
(i) Dever de lealdade/probidade do agente público: quem exerce uma função pública tem a obrigação de
respeitar princípios basilares como a legalidade, a moralidade, a publicidade e a eficiência.
(ii) Liberdade de locomoção (Art. 9º - Juiz deixa de relaxar prisão ilegal / Art. 10º - Juiz decreta condução
coercitiva manifestamente descabida); honra objetiva/subjetiva do agente (Art. 13, I e II – Preso constrangido
a exibir ou ter parte do seu corpo exibido a curiosidade pública); liberdade individual; assistência de advogado,
dentre outros.
Lei n. 13.869/19
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Art. 1º. (...)
§1º As condutas descritas nesta Lei constituem crime de abuso de autoridade quando praticadas pelo agente
com a finalidade específica de prejudicar outrem ou beneficiar a si mesmo ou a terceiro, ou, ainda, por mero
capricho ou satisfação pessoal.
- O Art. 1º, §1º tem natureza de norma geral, aplicando-se, como regra, a todos os crimes previstos na lei.
- Para sua configuração, os crimes da Lei de Abuso de Autoridade devem contar com a presença não só do
elemento subjetivo geral do tipo - elemento este que a doutrina clássica denominava de dolo genérico -, mas
também do elemento subjetivo especial do tipo – chamado de dolo específico ou especial fim de agir pela
mesma doutrina.
Exemplo (furto):
LEMBRE-SE: ainda que o dolo geral continue presente, a ausência do elemento subjetivo especial implica na
atipicidade do crime.
Exemplo: o promotor que deixa transcorrer o prazo de 15 dias e não oferece denúncia em caso de réu solto,
não responderá pelo crime de prevaricação, uma vez que, a princípio, não há no caso concreto presença de
nenhum elemento subjetivo especial. E, como o juízo acerca do elemento subjetivo especial está inserido no
tipo da prevaricação (“para satisfazer interesse ou sentimento pessoal”).
RENATO BRASILEIRO: o estudo acerca da necessidade de elemento subjetivo especial para a tipificação dos
crimes da lei de abuso de autoridade revela que ela não é tão rigorosa quanto a mídia propaga. Assim, um juiz
não será automaticamente denunciado porque decretou uma prisão e esta foi cassada pelo Tribunal logo em
seguida. Há de se verificar neste caso se o especial fim de agir qualificado na lei está presente para que seja
possível acusar e condenar.
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(i) “prejudicar outrem”: o termo contém uma amplitude semântica muito grande, ainda mais se
considerarmos que a prisão de uma pessoa ou a instauração de inquérito para investiga-la quase sempre
implica prejuízo a ela. Por esta razão, a doutrina tem entendido que esse especial fim de agir qualificado deve
se referir a um prejuízo que transcenda o exercício regular das funções do agente. Não basta, portanto,
argumentar que a prisão é o prejuízo em si mesmo, mas sim que a sua decretação buscou prejudicar o
indivíduo de outras formas.
(ii) “beneficiar a si mesmo ou a terceiro”: vale a mesma observação feita para o item anterior. O benefício
deve ser interpretado como qualquer vantagem que o indivíduo possa obter, seja ela de ordem material; moral
ou patrimonial.
Exemplo (moral): agente público que pratica determinado ato para ganhar visibilidade em sua rede social
(curtidas).
Exemplo (material): agente público que pratica determinado ato com o objetivo de aferir vantagem
financeira.
RENATO BRASILEIRO: a depender do benefício em questão é possível falar em “vantagem indevida”, desde
que esta tenha sido exigida ou solicitada pelo agente. Neste caso, o indivíduo responderá não só pelo crime
de previsto na lei de abuso de autoridade, mas também pelos crimes de concussão ou corrupção passiva, a
despender do caso concreto (Arts. 316 e 317 do CP).
Exemplo (Art. 17): desembargador que pede vista de um processo e demora em sua análise com o fim de
obter vantagem indevida anteriormente solicitada ao réu.
(iii) “por mero capricho ou satisfação pessoal”: segundo a doutrina, o capricho pode ser entendido como uma
vontade repentina desprovida de qualquer justificativa. No tocante a satisfação pessoal, entende-se que ela
nunca pode ser a causa da conduta, mas sim a consequência.
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Observações:
Lei n. 13.869/19
Art. 29. Prestar informação falsa sobre procedimento judicial, policial, fiscal ou administrativo com o fim de
prejudicar interesse de investigado:
DOUTRINA: o crime de falsa informação tipificado no Art. 29 utiliza um especial fim de agir. Todavia, ao
contrário do que ocorre com a regra geral do Art. 1º,§1º, o texto do Art. 29 é um pouco mais restrito, deixando
de mencionar as hipóteses do “beneficiar a si mesmo”; “mero capricho” e “satisfação pessoal”. Daí se conclui
que o Art. 29, em sua parte final, seria uma norma especial quando comparada a regra do §1º do Art.1º, já
que o seu especial fim de agir estaria restrito ao objetivo de “prejudicar o interesse do investigado”.
- Vale notar que se a conduta tipificada no Art. 29 tivesse como fim de agir o benefício do investigado, haveria
crime de prevaricação (Art. 319, CP).
- O elemento subjetivo especial do injusto previsto no Art. 1º, §1º deve constar da peça acusatória sob pena
de inépcia/rejeição.
Exemplo: não basta que o promotor afirme que o juiz demorou na análise de um processo em específico. Há
de se descrever de forma minuciosa qual foi o dolo específico do magistrado no caso.
- O elemento subjetivo especial do injusto deve constar de eventual representação/notitia criminis, sob pena
da pessoa que acusa a outra de abuso de autoridade de denunciação caluniosa.
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Enunciado n. 29 do Conselho Nacional de Procuradores-Gerais dos Ministérios Públicos dos Estados e da
União (CNPG) e do Grupo Nacional de Coordenadores de Centro de Apoio Criminal (GNCCRIM):
“Representações indevidas por abuso de autoridade podem, em tese, caracterizar crime de denunciação
caluniosa (CP, art. 339), dano civil indenizável (CC, art. 953) e, caso o reclamante seja agente público, infração
disciplinar ou político-administrativa”.
- Todos os crimes de abuso de autoridade podem ser classificados como crimes de intenção ou delitos de
tendência interna transcendente. Tais delitos exigem uma intenção adicional de obter um resultado ulterior
distinto da realização do tipo penal. Ainda dentro da subdivisão dos crimes de intenção, o abuso de autoridade
pode ser classificado como um delito de resultado cortado, cujo tipo penal é marcado pela realização de um
ato que visa a produção de um resultado. Tal resultado, porém, fica fora do tipo e não conta com a intervenção
do autor.
Exemplo: a extorsão mediante sequestro (Art. 159, CP) é um exemplo de delito de resultado cortado, pois
nela o agente possui uma meta. Todavia, essa meta não precisa ocorrer para que haja a consumação do delito.
Ou seja, nos delitos de resultado cortado é necessário que a conduta seja praticada com o objetivo de atingir
uma finalidade específica, mas essa finalidade não precisa acontecer para que o crime seja tido como
consumado.
Especial fim de agir e dolo eventual: o especial fim de agir não é incompatível com a figura do dolo eventual,
isto é, com a assunção do risco pela produção do resultado pelo agente no momento da prática da conduta.
Como regra, os crimes de abuso de autoridade podem ser punidos tanto a título de dolo direto quanto a título
de dolo eventual.
Exceções (dolo direto): alguns crimes da Lei de Abuso de Autoridade só podem ser punidos a título de dolo
direto. Tais são os delitos contendo expressões do tipo “que sabe/“que deve saber”. Exemplo nesse sentido é
o parágrafo único do Art. 19 (“ciente do impedimento”). Ao todo, são 03 os tipos penais que admitem punição
apenas a título de dolo direto: Art. 19, parágrafo único; Art. 25, parágrafo único (“com prévio conhecimento
da ilicitude”) e Art. 30 (“contra quem sabe inocente”).
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4. Vedação do crime de hermenêutica.
- Na condição de agente público, o indivíduo se depara com certos problemas cuja solução depende, ora de
uma atividade de interpretação da norma e ora de uma avaliação de fatos e provas. Ocorre, porém, que tanto
em um caso quanto no outro há margem para o subjetivismo do agente, sobretudo quando a lei possui um
grau de abertura muito grande do ponto de vista semântico (conceitos jurídicos indeterminados, princípios,
etc...). Atento a isso o legislador inseriu a vedação ao crime de hermenêutica, pois, do contrário, o legislador
estaria tipificando uma conduta eminentemente subjetiva e, a depender do caso, inviabilizando o exercício de
determinadas funções. Trata-se de norma geral, aplicável a todos os crimes contidos na lei.
Exemplo: promotor que tem que decidir se oferece ou não denúncia; se aplica ou não o princípio da
insignificância no caso (ex.: furto de picanha argentina); etc...
Lei n. 13.869/19
§2º A divergência na interpretação de lei ou na avaliação de fatos e provas não configura abuso de autoridade.
JURISPRUDÊNCIA
STJ: “(...) AÇÃO PENAL ORIGINÁRIA. ABUSO DE AUTORIDADE. ART. 4º, “A”, DA LEI N.º 4.898/65.
DESEMBARGADOR. DECISÃO JUDICIAL. CONFRONTO COM DECISÃO DE RELATOR DO STF. CONDUÇÃO
COMPULSÓRIA PARA LAVRATURA DE TERMO CIRCUNSTANCIADO. QUESTÕES ATINENTES À ATIVIDADE
JUDICANTE. ATRIBUTOS DA FUNÇÃO JURISDICIONAL. 1. Faz parte da atividade jurisdicional proferir decisões
com o vício in judicando e in procedendo, razão por que, para a configuração do delito de abuso de
autoridade há necessidade da demonstração de um mínimo de “má-fé” e de “maldade” por parte do
julgador, que proferiu a decisão com a evidente intenção de causar dano à pessoa. 2. Por essa razão, não se
pode acolher denúncia oferecida contra a atuação do magistrado sem a configuração mínima do dolo exigido
pelo tipo do injusto, que, no caso presente, não restou demonstrado na própria descrição da peça inicial de
acusação para se caracterizar o abuso de autoridade. 3. Ademais, de todo o contexto, o que se conclui é que
houve uma verdadeira guerra de autoridades no plano jurídico, cada qual com suas armas e poderes, que, ao
final, bem ou mal, conseguiram garantir a proteção das instituições e dos seus representantes, não
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possibilitando a esta Corte a inferência da prática de conduta penalmente relevante. 4. Denúncia rejeitada”.
(STJ, Corte Especial, APn 858/DF, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, j. 24/10/2018, DJe 21/11/2018)
- Nem toda interpretação pode ser incluída na causa de atipicidade contida no §2º, mas apenas a interpretação
razoável. Se há limitação literal ou jurisprudencial
Exemplo (limitação literal): se a norma possui um grau alto de objetividade, não se pode atentar contra a sua
literalidade. Assim, não se pode considerar a entrada em um domicílio ás 2h da manhã como não sendo abuso
de autoridade nos termos do Art. 22 sob a justificativa de que o intérprete-aplicador considerava o horário
como “dia” e não como “noite”.
Exemplo (limitação jurisprudencial): quando o intérprete-aplicador verificar que não é necessário realizar
mais qualquer tipo de interpretação, tento em vista que já há uma decisão de caráter vinculante dos Tribunais
Superiores, e, a despeito disso, realizar interpretação contrária, há violação do limite jurisprudencial. Exemplo
nesse sentido é a o juiz que manda prender o depositário infiel e cuja a conduta preenche os demais requisitos
legais para a interpretação.
Sujeito passivo: os crimes de abuso de autoridade são crimes de dupla subjetividade passiva. Podem ser
atingidos tanto o Estado quanto a Pessoa Física ou Jurídica*.
Sujeito ativo: quanto ao sujeito passivo, os crimes de abuso de autoridade são crimes próprios, dado que há
necessidade de o autor da conduta ser um agente público. Cabe mencionar, entretanto, que o conceito de
agente público não será aquele contido no Art. 327 do Código Penal, mas extraído da própria Lei de Abuso de
Autoridade que o define em seu Art. 2º.
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ATENÇÃO: para que seja possível falar em crime de abuso de autoridade, é indispensável apontar a existência
de nexo funcional, isto é, demonstrar que o agente público praticou a conduta “no exercício de suas funções
ou a pretexto de exercê-las” (crime propter officium).
Exemplo².: não há abuso de autoridade quando o policial militar que fazia um bico de segurança em um
supermercado prende uma pessoa, extrapolando um pouco durante o ato de prender.
Lei n. 13.869/19, Art. 1º Esta Lei define os crimes de abuso de autoridade, cometidos por agente público,
servidor ou não, que, no exercício de suas funções ou a pretexto de exercê-las, abuse do poder que lhe tenha
sido atribuído.
Lei n. 13.869/19, Art. 2º É sujeito ativo do crime de abuso de autoridade qualquer agente público, servidor ou
não, da administração direta, indireta ou fundacional de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do
Distrito Federal, dos Municípios e de Território, compreendendo, mas não se limitando a:
Parágrafo único. Reputa-se agente público, para os efeitos desta Lei, todo aquele que exerce, ainda que
transitoriamente ou sem remuneração, por eleição, nomeação, designação, contratação ou qualquer outra
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forma de investidura ou vínculo, mandato, cargo, emprego ou função em órgão ou entidade abrangidos
pelo caput deste artigo.
- Se o indivíduo é considerado funcionário público para o Código Penal, ele não é considerado agente público
para fins de aplicação da LAA, pois seria uma analogia in malan parten trazer o §1º do Art. 327 do CP, cujo
conteúdo o legislador não decidiu replicar no Art. 2º da LAA.
CP, Art. 327 - Considera-se funcionário público, para os efeitos penais, quem, embora transitoriamente ou
sem remuneração, exerce cargo, emprego ou função pública.
§1º Equipara-se a funcionário público quem exerce cargo, emprego ou função em entidade paraestatal, e
quem trabalha para empresa prestadora de serviço contratada ou conveniada para a execução de atividade
típica da Administração Pública (ex.: empregado que trabalha na coleta de lixo).
(...)
- Um particular (= extraneus) pode responder por abuso de autoridade, desde que ele atue em conjunto com
um agente público e tenha consciência da função ocupada por este último. Isso é possível, tendo em vista que
a qualidade de agente público é uma elementar dos crimes de abuso de autoridade.
LEMBRE-SE: as elementares são dados essenciais da figura típica cuja ausência pode produzir uma atipicidade
absoluta ou relativa.
CP
Circunstâncias incomunicáveis
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Art. 30. Não se comunicam as circunstâncias e as condições de caráter pessoal, salvo quando elementares do
crime.
Exceção: é possível que o abuso de autoridade seja praticado por uma autoridade detentora de foro, de modo
que, neste caso, haverá competência originária dos Tribunais. Para isso, contudo, é preciso demonstrar que o
crime foi praticado durante o exercício da função detentora de foro e em razão dela (regra da
contemporaneidade).
JUSTIÇA COMPETENTE
Exceções:
(i) Justiça Federal quando praticado por funcionário público federal (ex.: abuso cometido por delegado da
policia federal, ou ainda, abuso praticado na qualidade de crime comum (estadual), mas em
conexão/continência com um crime federal.
Súmula n. 172 do STJ: “Compete à Justiça Comum processar e julgar militar por crime de abuso de autoridade,
ainda que praticado em serviço”.
- Quando foi editada a súmula seguia a lógica de que o abuso de autoridade a época era crime comum,
porquanto não estava previsto no Código Penal Militar. Além disso, neste período, a Justiça Militar só estava
autorizada a julgar os crimes previstos no CPM.
- A Lei 13491/17 alterou a competência da Justiça Militar, operando-se a superação do entendimento contido
na Súmula 172 do STJ (overruling).
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COM, Art. 9º Consideram-se crimes militares, em tempo de paz:
(...)
II – os crimes previstos neste Código e os previstos na legislação penal, quando praticados: (Redação dada
pela Lei n. 13.491/17)
(...)
c) por militar em serviço ou atuando em razão da função, em comissão de natureza militar, ou em formatura,
ainda que fora do lugar sujeito à administração militar contra militar da reserva, ou reformado, ou civil;
- Os crimes da legislação penal a que se refere o Art. 9º, II do CPM devem ser praticados em um dos contextos
mencionados nas alíneas do inciso II para que seja considerados crimes militares.
Exemplo: um Policial Militar que prende uma pessoa e a coloca em frente ao logo do batalhão para que possa
filmá-la e ganhar visibilidade nas redes sociais pela prisão realizada será processado pelo crime do Art. 13, I
da Lei 13.869/19 c/c Art. 9º, II, (c) do CPM.
E a Justiça Eleitoral?
Segundo o STF, a Justiça Eleitoral tem uma força atrativa quase que universal, o que a autoriza a trazer para
si, inclusive, crimes que são da competência da Justiça Federal.
- O Art. 3º basicamente reproduz o que o próprio Código Penal já diz, motivo pelo qual muitos o consideram
desnecessário.
Lei n. 13.869/19, Art. 3º Os crimes previstos nesta Lei são de ação penal pública incondicionada.
§ 1º Será admitida ação privada se a ação penal pública não for intentada no prazo legal, cabendo ao
Ministério Público aditar a queixa, repudiá-la e oferecer denúncia substitutiva, intervir em todos os termos do
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processo, fornecer elementos de prova, interpor recurso e, a todo tempo, no caso de negligência do
querelante, retomar a ação como parte principal.
§ 2º A ação privada subsidiária será exercida no prazo de 6 (seis) meses, contado da data em que se esgotar
o prazo para oferecimento da denúncia.
8. Efeitos da condenação.
- O Art. 4º da LAA prevê em seu inciso I um efeito extrapenal obrigatório, tal como previsto no Art. 91, I do
CP, mas também dispõe sobre uma faculdade da parte quando menciona fixação de um valor mínimo para a
indenização, tal como previsto no Art. 387, IV do CPP. Não havendo requerimento da parte, o juiz não poderá
fixar o valor mínimo.
RENATO BRASILEIRO: considerando que a LAA não fez nenhuma restrição quanto ao dano, pode-se entender
que qualquer espécie de dano passível de reparação poderá ser fixado pelo juiz neste momento (material;
moral; estético; dentre outros).
DICA: o examinador pode querer confundir o candidato trabalhando com as disposições do Art. 4º, III da LAA
e Art. 92, I do CP, que são próximas, mas distintas. Ao tratar do requisito para perda do cargo ou função, o
Código Penal exige que a pena privativa de liberdade seja por um tempo igual ou superior a 1 (um) ano,
requisito este que não foi transposto para a Lei de Abuso de Autoridade. É de se lamentar apenas que a LAA
exija que a reincidência seja requisito para a perda do cargo. Além disso, não se trata de qualquer tipo de
reincidência, mas reincidência em crime de abuso de autoridade.
Lei n. 13.869/19
I - tornar certa a obrigação de indenizar o dano causado pelo crime (= efeito extrapenal obrigatório),
devendo o juiz, a requerimento do ofendido, fixar na sentença o valor mínimo para reparação dos danos
causados pela infração, considerando os prejuízos por ele sofridos;
II - a inabilitação para o exercício de cargo, mandato ou função pública, pelo período de 1 (um) a 5 (cinco)
anos;
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III - a perda do cargo, do mandato ou da função pública.
Parágrafo único. Os efeitos previstos nos incisos II e III do caput deste artigo são condicionados à ocorrência
de reincidência em crime de abuso de autoridade e não são automáticos, devendo ser declarados
motivadamente na sentença.
Art. 92 - São também efeitos da condenação: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
I - a perda de cargo, função pública ou mandato eletivo: (Redação dada pela Lei nº 9.268, de 1º.4.1996)
a) quando aplicada pena privativa de liberdade por tempo igual ou superior a um ano, nos crimes praticados
com abuso de poder ou violação de dever para com a Administração Pública; (Incluído pela Lei nº 9.268,
de 1º.4.1996)
b) quando for aplicada pena privativa de liberdade por tempo superior a 4 (quatro) anos nos demais
casos. (Incluído pela Lei nº 9.268, de 1º.4.1996)
- O Art. 5º é uma norma especial em relação ao Art. 43, VI do Código Penal. Logo, a pena restritiva contida no
referido artigo do Código Penal não pode ser aplicada aos crimes de abuso de autoridade. Por outro lado, a
LAA não traz requisitos de aplicação, motivo pelo qual entende-se razoável o uso do Art. 44 do Código Penal.
Lei n. 13.869/19
Art. 5º As penas restritivas de direitos substitutivas das privativas de liberdade previstas nesta Lei são:
II - suspensão do exercício do cargo, da função ou do mandato, pelo prazo de 1 (um) a 6 (seis) meses, com a
perda dos vencimentos e das vantagens;
III - (VETADO).
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Parágrafo único. As penas restritivas de direitos podem ser aplicadas autônoma ou cumulativamente.
Art. 43. As penas restritivas de direitos são: (Redação dada pela Lei nº 9.714, de 1998)
Art. 44. As penas restritivas de direitos são autônomas e substituem as privativas de liberdade,
quando: (Redação dada pela Lei nº 9.714, de 1998)
I – aplicada pena privativa de liberdade não superior a quatro anos e o crime não for cometido com violência
ou grave ameaça à pessoa ou, qualquer que seja a pena aplicada, se o crime for culposo;(Redação dada pela
Lei nº 9.714, de 1998)
II – o réu não for reincidente em crime doloso; (Redação dada pela Lei nº 9.714, de 1998)
III – a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do condenado, bem como os motivos
e as circunstâncias indicarem que essa substituição seja suficiente. (Redação dada pela Lei nº 9.714, de 1998)
§ 1o (VETADO) (Incluído pela Lei nº 9.714, de 1998)
§ 2o Na condenação igual ou inferior a um ano, a substituição pode ser feita por multa ou por uma pena
restritiva de direitos; se superior a um ano, a pena privativa de liberdade pode ser substituída por uma pena
restritiva de direitos e multa ou por duas restritivas de direitos. (Incluído pela Lei nº 9.714, de 1998)
§ 3o Se o condenado for reincidente, o juiz poderá aplicar a substituição, desde que, em face de condenação
anterior, a medida seja socialmente recomendável e a reincidência não se tenha operado em virtude da prática
do mesmo crime. (Incluído pela Lei nº 9.714, de 1998)
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§ 5o Sobrevindo condenação a pena privativa de liberdade, por outro crime, o juiz da execução penal decidirá
sobre a conversão, podendo deixar de aplicá-la se for possível ao condenado cumprir a pena substitutiva
anterior. (Incluído pela Lei nº 9.714, de 1998)
CRIMES DA LAA
- Os crimes da LAA estão contemplados nos artigos 9º a 38, bem como no Art. 7º-B do Estatuto da OAB.
Lei n. 13.869/19
Art. 9º Decretar medida de privação da liberdade em manifesta desconformidade com as hipóteses legais:
Sujeito ativo: é qualquer agente público, não se restringindo, segundo parte da doutrina, a figura do
magistrado, dado que o Policial Militar ou o Promotor também podem prender pessoas.
- O termo medida de privação da liberdade é expressão ampla, que abarca todas as hipóteses em que o
cidadão sofra um cerceamento em sua liberdade de locomoção (prisão em flagrante; prisão preventiva; etc...).
Exemplo (medida decretada em manifesta desconformidade com a lei): imagine que um juiz tenha
decretado, de ofício, uma prisão temporária durante o processo criminal, pela prática de um crime de furto
simples. Neste caso, há flagrante ilegalidade, pois, em primeiro lugar, o juiz não pode decretar prisão
oficiosamente, nem mesmo durante o processo, já que a prisão temporária cabe apenas durante as
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investigações. Além disso, não cabe prisão temporária nos crimes de furto simples, porquanto esse tipo de
prisão restringe-se ao rol taxativo contido no Art. 1º, III da Lei 7960.
RENATO BRASILEIRO: embora o dispositivo seja passível de crítica por utilizar de expressões vagas, há de se
reconhecer que é inviável a criação de um tipo penal que detalhe de forma taxativa todas as hipóteses em que
a medida estaria em manifesta desconformidade com a lei.
- Os crimes com pena de 6 meses a 2 anos e multa como o do Art. 16 são infrações de menor potencial
ofensivo, sendo competência do JECRIM. Logo, cabe transação penal ou, pelo menos em tese, suspensão
condicional do processo. Para os demais crimes, como o do Art. 9º, entende-se que a competência é do Juízo
Comum. Como a pena máxima é igual a 4 anos, segue-se o procedimento comum ordinário, mas com um
detalhe importante: deve-se observar a necessidade de defesa preliminar (Art. 514, CPP), já que os crimes de
abuso de autoridade são crimes funcionais típicos.
Acordo de não persecução penal: é cabível o acordo de não persecução penal nos crimes de 1 a 4 anos, desde
que os crimes não tenham sido cometidos com violência. O acordo de não persecução penal, outro previsto
na Resolução 181 do CNMP, está positivado atualmente no Art. 28-A do CPP. Não sendo cabível o acordo de
não persecução penal é possível se cogitrar de suspensão condicional do processo, já que a luz do Art. 89 da
Lei dos Juizados Especiais o seu requisito básico é a pena mínima de 1 (um) ano.
CPP
“Art. 28-A. Não sendo caso de arquivamento e tendo o investigado confessado formal e circunstancialmente
a prática de infração penal sem violência ou grave ameaça e com pena mínima inferior a 4 (quatro) anos, o
Ministério Público poderá propor acordo de não persecução penal, desde que necessário e suficiente para
reprovação e prevenção do crime, mediante as seguintes condições ajustadas cumulativa e alternativamente:
(...)
CPP
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§ 2º O disposto no caput deste artigo não se aplica nas seguintes hipóteses:
I - se for cabível transação penal de competência dos Juizados Especiais Criminais, nos termos da lei;
II - se o investigado for reincidente ou se houver elementos probatórios que indiquem conduta criminal
habitual, reiterada ou profissional, exceto se insignificantes as infrações penais pretéritas;
III - ter sido o agente beneficiado nos 5 (cinco) anos anteriores ao cometimento da infração, em acordo de não
persecução penal, transação penal ou suspensão condicional do processo; e
IV - nos crimes praticados no âmbito de violência doméstica ou familiar, ou praticados contra a mulher por
razões da condição de sexo feminino, em favor do agressor.
(...)
Lei n. 13.869/19
Art. 9º (...)
Parágrafo único. Incorre na mesma pena a autoridade judiciária que, dentro de prazo razoável, deixar de:
II - substituir a prisão preventiva por medida cautelar diversa ou de conceder liberdade provisória, quando
manifestamente cabível;
- Como regra, os crimes da LAA são crimes comissivos. A leitura do Art. 9º, paragrafo único, no entanto,
demonstra que tem-se aí a figura de um crime omissivo próprio, que só pode ser praticado pelo juiz (seja ele,
o juiz das garantias, se a decisão em questão foi proferida na fase investigatória, ou o juiz da instrução).
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Exemplos (prisão ilegal durante o processo): (i) prisão preventiva que já dura a 5 anos (excesso de prazo); (ii)
prisão preventiva cuja necessidade não foi avaliada no prazo de 90 dias (pacote anticrime).
Prazo razoável: a expressão “prazo razoável” contida no parágrafo único do Art. 9º também traz problemas
em razão de sua abertura. Ao observarmos o teor dos incisos I e II do mesmo dispositivo, é possível notar que
se tratam de medidas previstas, respectivamente, nos incisos I e III do Art. 310 do CPP, que trata da
convalidação judicial do flagrante, feita na audiência de custódia. Considerando que é na audiência de custódia
que o juiz pode relaxar a prisão ou conceder liberdade provisória fica mais fácil compreender qual seria o prazo
razoável exigido pela lei, o qual, neste caso, seria de 24 horas.
DOUTRINA: não sendo realizada a audiência de custódia, o prazo razoável pode ser equiparado àquele em
que o juiz analisa a concessão da fiança, que é o de 48 horas (Art. 322, parágrafo único). Ora, se a fiança é uma
das cautelares diversas da prisão, não há porque não tomar o prazo de sua concessão como aplicável as demais
hipóteses, inclusive para fins de tipificação do crime do Art. 9º, parágrafo único da LAA.
A responsabilidade penal referida no §3º do Art. 310 do CPP suscita dúvidas. Questiona-se por qual crime a
autoridade que deixa de realizar a audiência de custódia responderia.
RENATO BRASILEIRO: há uma falta de diálogo entre a LAA (Lei 13.869/19) e o Pacote Anticrime (Lei
13.964/19), pois se o pacote anticrime diz que a não realização da audiência de custódia sujeitará o juiz a uma
responsabilização penal, o Art. 9º, parágrafo único da LAA deveria conter um quarto inciso, dispondo sobre a
não realização da audiência de custódia.
1ª CORRENTE: não há crime de abuso de autoridade frente a não realização da audiência de custódia. Para
essa posição, a justificativa não se restringe ao fato de que o legislador deixou de acrescentar mais uma
hipótese no Art. 9º, mas, sobretudo, porque é sabido que na prática é possível a concessão de liberdade
provisória pelo juiz tão logo ele tome contato com o auto de prisão em flagrante, dispensando a realização da
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audiência. E, como neste caso não há qualquer prejuízo ao preso, mas apenas benefício, não há porque
criminalizar tal conduta.
2ª CORRENTE: a despeito do vazio legislativo na LAA, o §4º do Art. 310 do CPP regulamentou a consequência
da não realização da audiência de custódia, prevendo que a sua não realização em até 48 horas implica em
ilegalidade autorizadora de relaxamento da prisão. Logo, se a não realização da audiência acarreta a
ilegalidade e esta impõe o relaxamento, pode-se concluir que o não relaxamento pelo juiz diante destas
circunstancias fáticas caracteriza crime de abuso de autoridade, nos termos do Art. 9º, parágrafo único, I do
CPP.
CONCLUSÃO: o crime em si não seria a não realização da audiência de custódia, mas sim o fato da não
realização da audiência de custódia acarretar a ilegalidade da prisão.
CPP
(Redação alterada pela Lei n. 13.964/19)
Art. 310. Após receber o auto de prisão em flagrante, no prazo máximo de até 24 (vinte e quatro) horas após
a realização da prisão, o juiz deverá promover audiência de custódia com a presença do acusado, seu advogado
constituído ou membro da Defensoria Pública e o membro do Ministério Público, e, nessa audiência, o juiz
deverá, fundamentadamente:
§ 3º A autoridade que deu causa, sem motivação idônea, à não realização da audiência de custódia no prazo
estabelecido no caput deste artigo responderá administrativa, civil e penalmente pela omissão.
§ 4º Transcorridas 24 (vinte e quatro) horas após o decurso do prazo estabelecido no caput deste artigo, a não
realização de audiência de custódia sem motivação idônea ensejará também a ilegalidade da prisão, a ser
relaxada pela autoridade competente, sem prejuízo da possibilidade de imediata decretação de prisão
preventiva.” (NR)
- A condução coercitiva é cautelar pessoal diversa da prisão. Por meio da condução coercitiva, uma pessoa é
conduzida a mando da autoridade e contra a sua vontade para a prática de ato que dependa de sua presença.
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Lei n. 13.869/19
ATENÇÃO: o STF entende que o delegado de polícia pode decretar a condução coercitiva. Todavia, disso não
se pode extrair como conclusão que o delegado pode ser sujeito passivo do Art. 10 da LAA. Até porque, a luz
do Art. 282 do CPP, apenas o juiz pode decretar medidas cautelares pessoais. Uma leitura constitucional nos
leva a conclusão de que somente o juiz pode determinar medidas que impliquem restrição da liberdade de
locomoção, ainda que temporariamente.
- Podem ser submetidas a condução coercitiva: ofendido, perito, testemunhas e investigado/acusado (Arts.
201, 218, 411, 461, 260, 278 do CPP). Todavia, para fins de tipificação do Art. 10, só pode restar caracterizado
crime de abuso de autoridade quando a condução coercitiva for em relação a pessoa da testemunha ou do
investigado. Não é possível, assim, que a condução coercitiva do perito ou do ofendido sejam consideradas
abuso de autoridade, sob pena de analogia in malan parten.
- A condução do investigado não pode ser feita de forma livre, sobretudo quando se deseja obter do acusado
uma confissão. Esse tipo de condução, voltada a produzir um verdadeiro interrogatório, é vedada em
homenagem ao conteúdo do princípio do nemo tenetur se detegere (“ninguém é obrigado a produzir provas
contra si mesmo”).
Art. 260, CPP. Se o acusado não atender à intimação para o interrogatório, reconhecimento ou qualquer outro
ato que, sem ele, não possa ser realizado, a autoridade poderá mandar conduzi-lo à sua presença. (Vide ADPF
395)(Vide ADPF 444)
Parágrafo único. O mandado conterá, além da ordem de condução, os requisitos mencionados no art. 352,
no que Ihe for aplicável.
- A ADPF 395 tem força vinculante, de modo que o juiz que decretar a condução coercitiva para fins de
interrogatório não poderá invocar a vedação ao crime de hermenêutica como argumento. Vale dizer, porém,
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que a ação em questão vedou a condução para a prática de ato protegido pelo direito ao silêncio. Logo, se o
ato em questão não estiver protegido pelo princípio da não autoincriminação, não há que se falar em crime,
já que neste caso a condução coercitiva não seria manifestamente descabida. Perfeitamente cabível, assim, a
condução para fins de identificação criminal, porquanto o direito ao silencio não confere direito para falsear
a identidade.
STF: “(...) Arguição julgada procedente, para declarar a incompatibilidade com a Constituição Federal da
condução coercitiva de investigados ou de réus para interrogatório, tendo em vista que o imputado não é
legalmente obrigado a participar do ato, e pronunciar a não recepção da expressão “para o interrogatório”,
constante do art. 260 do CPP.” (STF, Pleno, ADPF 444/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 14/06/2018, DJe 107
21/05/2019).
- Só se admite a condução coercitiva quando houve intimação prévia para comparecimento e o indivíduo, a
despeito disso, não compareceu.
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LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL
Lei de Abuso de autoridade II
Renato Brasileiro
Aula 03
ROTEIRO DE AULA
ABUSO DE AUTORIDADE
(Lei n. 13.869/19, de acordo com o Pacote Anticrime – Lei n. 13.964/19)
Lei n. 13.869/19
Art. Decretar a condução coercitiva de testemunha ou investigado manifestamente descabida ou sem prévia
intimação de comparecimento ao juízo:
- A comunicação de qualquer prisão deve ser comunicada imediatamente a autoridade judiciária e, no caso de
prisão em flagrante, tal comunicação deve se dar no prazo de 24 horas, sob pena de se recair no delito do Art.
12 da LAA.
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Lei n. 13.869/19
Art. 12. Deixar injustificadamente de comunicar prisão em flagrante à autoridade judiciária no prazo legal:
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.
II - deixa de comunicar, imediatamente, a prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontra à sua família
ou à pessoa por ela indicada;
III - deixa de entregar ao preso, no prazo de 24 (vinte e quatro) horas, a nota de culpa, assinada pela
autoridade, com o motivo da prisão e os nomes do condutor e das testemunhas;
IV - prolonga a execução de pena privativa de liberdade, de prisão temporária, de prisão preventiva, de medida
de segurança ou de internação, deixando, sem motivo justo e excepcionalíssimo, de executar o alvará de
soltura imediatamente após recebido ou de promover a soltura do preso quando esgotado o prazo judicial ou
legal.
Sujeito ativo: é o agente público que tenha a obrigação de comunicar a prisão a autoridade judiciária, isto é,
o delegado de polícia.
Comunicação: o delegado de polícia deve comunicar a prisão em flagrante ao juiz das garantias (Art. 3º-B, I e
II, LAA), que é quem detém a competência para a fase investigatória, isto é, até o recebimento da peça
acusatória.
Norma penal em branco: o prazo legal a que se refere o Art. 12 da LAA está previsto em outras normas, como
o Art. 306 do CPP. Daí se concluir que o Art. 12 é espécie de norma penal em branco.
DOUTRINA: o prazo legal a que se refere o Art. 12 é o que consta do Art. 306, §1º do CPP, que prevê um prazo
de 24 horas para a remessa do Auto de Prisão em Flagrante para a autoridade judiciária. Trata-se, portanto,
de norma penal em branco HOMOGÊNEA e HETEROVITELINA. É homogênea porque o complemento do Art.
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12 é oriundo da mesma fonte legislativa que editou o preceito primário que precisa ser complementado (no
caso em questão, o Congresso Nacional). É heterovitelina porque o complemento está contido em outro
diploma legal.
ATENÇÃO: se a lei utiliza palavras diversas é porque o legislador possui intenção diversa. Assim, por mais
complicado que possa ser definir o que significa o termo IMEDIATAMENTE referido no inciso I, não é possível
estabelecer para ele o mesmo prazo que o da prisão em flagrante (24 horas), dado que o cumprimento de um
mandado de prisão preventiva ou temporária é muito mais rápido do que a lavratura de um auto de prisão
em flagrante. Logo, o termo imediatamente tem sentido mais restritivo para os demais casos.
Tutela da liberdade de locomoção: é fácil olhar para o Art. 12 e visualizar que ele como um todo tutela a
liberdade de locomoção. Com efeito, de nada adianta a Constituição assegurar a assistência da família e de
advogado se não houver uma norma penal que puna a conduta comissiva do agente público que não dá ao
preso direito a esse acesso.
Nota de culpa: a nota de culpa nada mais é do que um documento entregue ao preso em flagrante, com vistas
a dar ciência a ele de quais são os motivos e quais são os responsáveis por sua prisão. Além disso, o nome das
testemunhas também deve constar da nota de culpa.
DOUTRINA: excepcionalmente, é possível que o nome do condutor e das testemunhas não conste da nota de
culpa sem que isso seja considerado como crime. O fundamento da exceção pode ser encontrado com base
nas leis 12.890/12 (Lei das Organizações Criminosas) e 9.807/99 (Lei de Proteção às Testemunhas).
Previsão expressa do período da prisão temporária: o Art. 2º, §4º-A da Lei 7960/89 (Lei da Prisão Temporária)
estabelece que o mandado de prisão temporária conterá, necessariamente, o período de duração da prisão
temporária, bem como o dia em que o preso deverá ser libertado. Se a prisão temporária não for prorrogada
ou convertida em prisão preventiva, o indivíduo deve ser colocado em liberdade, sob pena do juiz recair no
delito do Art. 12, IV, LAA, o qual restará caracterizado quando presente o dolo específico exigido.
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- O enunciado vem ao encontro dos casos em que existem dúvidas acerca da autenticidade do alvará, bem
como em relação aqueles casos nos quais a autoridade tem dúvidas sobre a possível existência de outros
mandados de prisão.
Preso x detento: a lei utiliza duas palavras diversas (preso e detento) para significar situações distintas.
Entende-se a situação de preso como aquela em que a prisão já foi formalizada (ex.: auto de prisão em
flagrante já lavrado), ao passo que a situação do detento é aquela em que a prisão ainda não foi formalizada
(ex.: policial deu voz de prisão a uma pessoa).
Interesse público na exibição do preso: em geral, a exibição do preso não atende a nenhuma finalidade
pública, sendo o objetivo da autoridade apenas se autopromover. Excepcionalmente, porém, pode ser que
haja interesse público envolvido, como no caso de alguns crimes sexuais, nos quais a exibição do preso auxilia
outras vítima a identificarem o acusado e denunciarem.
Exemplos (situação vexatória): (i) preso que é obrigado a bater palmas e cantar parabéns, pois foi recolhido
a prisão no dia do seu aniversário; (ii) preso que é obrigado a vestir roupas de mulher; (iii) preso que é obrigado
a sair pedindo desculpas para todos na rua e é filmado fazendo isso.
Exemplo.: se um diretor de presídio coloca o preso no RDD sem autorização, ele exerce uma espécie de
constrangimento não autorizado em lei.
ATENÇÃO: apesar do uso de algemas não ser um crime autônomo, é possível que tal uso seja criminalizado.
Exemplo.: policial coloca algemas em uma pessoa de 95 anos que já está em cadeira de rodas.
LEMBRE-SE: há entendimento sumulado no sentido de que o uso de algemas é uma medida de natureza
excepcional, cabível apenas nos casos em que há um risco para os envolvidos na situação de perigo de fuga.
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- O inciso III do Art. 12 tutela não apenas o direito de não produzir provas contra si mesmo, mas também o
direito de não produzir provas contra terceiros.
Exemplo.: o preso que é obrigado a mostrar todas as suas mensagens de whatsapp para a autoridade que o
prendeu.
Lei n. 13.869/19
Art. 13. Constranger o preso ou o detento, mediante violência, grave ameaça ou redução de sua capacidade
de resistência, a:
III - (VETADO).
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa, sem prejuízo da pena cominada à violência.
Art. 3º-F. O juiz das garantias deverá assegurar o cumprimento das regras para o tratamento dos presos,
impedindo o acordo ou ajuste de qualquer autoridade com órgãos da imprensa para explorar a imagem da
pessoa submetida à prisão, sob pena de responsabilidade civil, administrativa e penal.
Parágrafo único. Por meio de regulamento, as autoridades deverão disciplinar, em 180 (cento e oitenta) dias,
o modo pelo qual as informações sobre a realização da prisão e a identidade do preso serão, de modo
padronizado e respeitada a programação normativa aludida no caput deste artigo, transmitidas à imprensa,
assegurados a efetividade da persecução penal, o direito à informação e a dignidade da pessoa submetida à
prisão.’”
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ATENÇÃO: não se pode confundir o delito do Art. 13, III da LAA com o crime de tortura-confissão, na medida
em que os dois diferenciam-se em, pelo menos, 03 (três) aspectos. Em primeiro lugar, o crime previsto na LAA
é crime próprio (Art. 2º, LAA), o que não acontece com a tortura-confissão que é crime comum. Em segundo
lugar, o crime da LAA pode ser cometido mediante violência; grave ameaça ou violência imprópria, ao passo
que o crime de tortura-confissão não admite a violência imprópria. Em terceiro lugar, na tortura-confissão, é
necessário que haja um resultado (causação de sofrimento físico ou mental), o que não acontece com os
delitos da LAA. Por fim, os crimes da LAA configuram-se mediante a prática de um especial fim de agir (dolo
específico) distinto daquele previsto para o crime de tortura-confissão.
Lei n. 9.455/97
I – constranger alguém com emprego de violência ou grave ameaça, causando-lhe sofrimento físico ou mental:
(...)
14. CONSTRANGIMENTO A DEPOR, SOB AMEAÇA DE PRISÃO, DE PESSOA QUE DEVA GUARDAR SEGREDO
OU RESGUARDAR SIGILO EM RAZÃO DE FUNÇÃO, MINISTÉRIO OU PROFISSÃO, E FIGURAS EQUIPARADAS.
Natureza do constrangimento: algumas pessoas tem o segredo como elemento essencial da função por elas
exercidas. Desta forma, a ideia do tipo penal contido no Art. 15 é obstar que tais pessoas sejam constrangidas
a depor (Art. 207, CP). Não se trata, contudo, de qualquer constrangimento, mas um constrangimento
exercido por meio da ameaça de prisão.
Natureza do interrogatório contido no tipo: o parágrafo único do Art. 15 não existe constrangimento, pois
seu tipo objetivo é tão somente prosseguir com o interrogatório. Cabe mencionar que o interrogatório aqui
aludido abrange, pelo menos em tese, tanto o interrogatório policial quanto o judicial.
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razões pelas quais a pessoa pretende exercer esse direito. Infelizmente, a criação do tipo penal na LAA não foi
acompanhada da mudança correspondente no CPP.
Presença obrigatória de advogado: Na mesma toada do Art. 7º, XXI do EOAB (Lei 8.906/94), o Art.15, II da LAA
criminaliza a conduta daquele que impede que o investigado/acusado seja assistido por advogado durante o
ato. No interrogatório judicial, a presença do advogado é obrigatória. O grande problema está no caso do
interrogatório policial/ministerial, onde a presença do advogado não era exigida até a edição da LAA. Também
no caso desta mudança a criminalização não foi acompanhada da necessária mudança no CPP, que previsse a
obrigatoriedade nos dois casos de um modo expresso. Deve-se ter cuidado, porém, pois a presença só será
obrigatória se o investigado/acusado optar por ser assistido por um advogado.
Lei n. 13.869/19
Art. 15. Constranger a depor, sob ameaça de prisão, pessoa que, em razão de função, ministério, ofício ou
profissão, deva guardar segredo ou resguardar sigilo:
II - de pessoa que tenha optado por ser assistida por advogado ou defensor público, sem a presença de seu
patrono.
CPP
Art. 207. São proibidas de depor as pessoas que, em razão de função, ministério, ofício ou profissão, devam
guardar segredo, salvo se, desobrigadas pela parte interessada, quiserem dar o seu testemunho.
CPP
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Art. 191. Deverão ser consignadas as perguntas que o réu deixar de responder e as razões que invocar para
não fazê-lo.
Art. 191. Havendo mais de um acusado, serão interrogados separadamente. (Redação dada pela Lei n.
10.792/03)
CPPM
Parágrafo único. Consignar-se-ão as perguntas que o acusado deixar de responder e as razões que invocar
para não fazê-lo.
Objetivo da criminalização: todo preso tem direito a identificação dos responsáveis por sua prisão. Portanto,
nada mais natural do que a LAA tipificar uma conduta nesse sentido. Trata-se de falsa identificação que, em
geral, é praticada pelo agente público de modo a evitar possível responsabilização por alguma tortura ou outro
ato criminoso que ele praticar naquele momento. A figura do Art. 16 da LAA é muito próxima a figura do Art.
307 do CP.
Lei n. 13.869/19
Art. 16. Deixar de identificar-se (= conduta omissiva) ou identificar-se falsamente (= conduta comissiva) ao
preso por ocasião de sua captura ou quando deva fazê-lo durante sua detenção ou prisão:
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem, como responsável por interrogatório em sede de
procedimento investigatório de infração penal, deixa de identificar-se ao preso ou atribui a si mesmo falsa
identidade, cargo ou função.
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16. SUBMISSÃO DE PRESO A INTERROGATÓRIO POLICIAL DURANTE O PERÍODO DE REPOUSO NOTURNO.
Lei n. 13.869/19
Art. 18. Submeter o preso a interrogatório policial durante o período de repouso noturno, salvo se capturado
em flagrante delito ou se ele, devidamente assistido, consentir em prestar declarações:
Elemento normativo do tipo (“repouso noturno”): o delito do Art. 18 também é marcado pela presença de
um conceito jurídico indeterminado, qual seja, o repouso noturno. O Art. 155, §1º do CP traz o repouso
noturno como uma qualificadora do furto. Ao tratar do assunto, a doutrina menciona que a expressão pode
ser melhor compreendida como uma espécie de costume, já que o período de repouso noturno em um lugar
(ex.:São Paulo capital) não é o mesmo de outro (ex.: cidade do interior de Minas Gerais). No que toca a LAA,
o ideal é entender que o conceito pode ser encontrado na própria lei, pois a própria lei, ao tratar do crime de
violação a domicílio, conceitua o que pode ser entendido como “noite”. A partir desta observação, podemos
entender o repouso noturno como o período compreendido entre 21h e ás 5h. Por isso, como regra, o
interrogatório não poderá ser feito durante este período, salvo raras exceções, como a prisão em flagrante –
cujo prazo de comunicação ao juiz é muito exíguo – e quando o indivíduo, estando devidamente assistido
(advogado?), aceitar a prestar depoimento.
Lei n. 13.869/19
§1º Incorre na mesma pena, na forma prevista no caput deste artigo, quem:
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(...)
III – cumpre mandado de busca e apreensão domiciliar após as 21 (vinte e uma) horas ou antes das 5 (cinco)
horas.
Lei n. 13.869/19
Art. 19. Impedir ou retardar, injustificadamente, o envio de pleito de preso à autoridade judiciária competente
para a apreciação da legalidade de sua prisão ou das circunstâncias de sua custódia:
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.
Parágrafo único. Incorre na mesma pena o magistrado que, ciente do impedimento ou da demora, deixa de
tomar as providências tendentes a saná-lo ou, não sendo competente para decidir sobre a prisão, deixa de
enviar o pedido à autoridade judiciária que o seja.
- Muitas vezes, o preso tem grandes dificuldades de manter contato com o mundo exterior, sobretudo se não
tem assistência da família; de um procurador ou quando não conta com a colaboração da polícia penal ou dos
agentes penitenciários. Nesse sentido, a lei visa coibir a conduta do agente público que obsta o envio do pleito
formulado pelo preso ao juiz competente. O problema aqui está na palavra pleito, cujo significado é
determinante neste caso. A palavra pleito é sinônimo de questão judicial; litígio ou demanda. Ainda assim, fica
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difícil identificar o que pode vir a ser uma demanda formulada por um preso. Uma leitura da integralidade do
Art. 19, contudo, nos permite realizar um paralelo entre pleito e a legalidade da prisão/custódia, o que nos
autoriza inferir que o pleito em questão pode ser equiparado a uma petição de habeas corpus.
18. RESTRIÇÃO, SEM JUSTA CAUSA, DA ENTREVISTA PESSOAL E RESERVADA DO PRESO COM SEU
ADVOGADO.
- De nada adianta o Estatuto da OAB prever que o individuo tem direito de se entrevistar privada e
reservadamente com seu advogado se não há instrumento coibindo a restrição injustificada dessa entrevista.
Tal entrevista é essencial para que o advogado colha os fundamentos de sua defesa técnica e, ao mesmo
tempo, oriente seu cliente no sentido do melhor exercício da defesa técnica.
Exemplo: no presídio de segurança máxima é possível a restrição de uma entrevista em período noturno. O
mesmo se diga dos casos em que o preso se encontra em RDD, onde o acesso é restrito.
Lei n. 13.869/19
Art. 20. Impedir, sem justa causa, a entrevista pessoal e reservada do preso com seu advogado:
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem impede o preso, o réu solto ou o investigado de entrevistar-
se pessoal e reservadamente com seu advogado ou defensor, por prazo razoável, antes de audiência judicial,
e de sentar-se ao seu lado e com ele comunicar-se durante a audiência, salvo no curso de interrogatório ou
no caso de audiência realizada por videoconferência.
- Geralmente, quando o advogado é constituído, é comum que o preso já tenha se entrevistado com ele, o
que pode não acontecer no caso de Defensor Público. Neste segundo caso, pode ser que a primeira
oportunidade de contato entre preso e defensor seja a audiência, motivo pelo qual o juiz deve conceder a eles
a oportunidade da entrevista em prazo razoável. Novamente tem-se o problema de um conceito aberto
quando há menção do termo “prazo razoável”.
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Extensão do direito de comunicação (1): o acusado é garantido o direito de comunicar-se com o seu defensor
durante a audiência. Quando esse direito é restringido, configura-se o crime do Art. 20 da LAA, tal como
quando não se concede que a entrevista seja feita em prazo razoável.
Extensão do direito de comunicação (2): durante o interrogatório não há direito de comunicação. O mesmo
se diga no caso da videoconferência.
Interpretação sistemática do direito de comunicação para tipificação do Art. 20 da LAA: uma lei não pode
mandar o que a outra proíbe. Logo, se o Art. 217 do CP possibilita a retirada do acusado da sala de audiência,
o acusado não ficará sentado ao lado de seu defensor, não configurando-se o crime do Art. 20 da LAA nesta
hipótese.
Caso Abaetetuba/PA: em meados de 2007, uma menina de 15 anos foi presa e colocada em uma cela com 20
homens durante 26 dias, sendo estuprada inúmeras vezes, na maioria dos casos para que ela tivesse acesso a
comida e materiais de higiene.
Lei n. 13.869/19
Art. 21. Manter presos de ambos os sexos na mesma cela ou espaço de confinamento:
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem mantém, na mesma cela, criança ou adolescente na
companhia de maior de idade ou em ambiente inadequado, observado o disposto na Lei n. 8.069/90 (Estatuto
da Criança e do Adolescente).
- O Art. 21 da LAA vem ao encontro da própria Constituição, cujo Art. 5º, XLVIII garante que a pena será
cumprida em estabelecimentos distintos de acordo com a natureza do delito; a idade e o sexo do apenado. A
Lei de Execução Penal também esboça a mesma garantia em seu Art. 82, §1º.
Portaria interministerial nº 210/2014: o Ministério da Justiça instituiu a chamada politica nacional de atenção
às mulheres em situação de privação de liberdade.
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Resolução Conjunta nº1/2014 do Conselho Nacional de Politica Criminal e Penitenciaria e do Conselho
Nacional do Combate a Discriminação: trata dos parâmetros de acolhimento de pessoas LGBT.
JURISPRUDÊNCIA
STF: “(...) a identidade de gênero é manifestação da própria personalidade da pessoa humana e, como tal,
cabe ao Estado apenas o papel de reconhecê-la, nunca de constituí-la. A pessoa transgênero que comprove
sua identidade de gênero dissonante daquela que lhe foi designada ao nascer por autoidentificação firmada
em declaração escrita desta sua vontade dispõe do direito fundamental subjetivo à alteração do prenome e
da classificação de gênero no registro civil pela via administrativa ou judicial, independentemente de
procedimento cirúrgico e laudos de terceiros, por se tratar de tema relativo ao direito fundamental ao livre
desenvolvimento da personalidade”. (STF, Pleno, ADI 4.275/DF, Rel. Min. Edson Fachin, j. 01/03/2018, DJe 45
06/03/2019).
HC nº 152.491/STF: neste julgado, o Ministro Luís Roberto Barroso concedeu a ordem para que presos
transexuais fossem colocados em estabelecimentos compatíveis com as orientações da Portaria acima
referida, de modo que se quer se exigiu a observância do gênero constante do registro civil, mas apenas do
gênero social.
ATENÇÃO: o paragrafo único não menciona nada sobre o sexo, pois o seu objetivo é coibir a colocação de
criança ou adolescente junto a pessoas maiores de idade como forma de evitar a promiscuidade, pouco
importando se a pessoa maior é ou não do mesmo sexo.
- O Art. 22 da LAA trata do crime de violação de domicilio em um contexto de abuso de autoridade, motivo
pelo qual todas as outras discussões atreladas ao tipo penal podem ter como base o crime do Art. 150 do
Código Penal.
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Conceito de “casa” para fins de tipificação do crime da LAA: o conceito de casa é retirado do Art. 150, §§4º e
5º do Código Penal. Nesse sentido, podem ser considerados como casa um escritório; um barracão e, até
mesmo, um supermercado (nesta última hipótese apenas na parte que não é aberta ao público).
Lei n. 13.869/19
Art. 22. Invadir ou adentrar, clandestina ou astuciosamente, ou à revelia da vontade do ocupante, imóvel
alheio ou suas dependências, ou nele permanecer nas mesmas condições, sem determinação judicial (=
cláusula de reserva de jurisdição) ou fora das condições estabelecidas em lei (= norma penal em branco
homogênea heterovitelina):
I - coage alguém, mediante violência ou grave ameaça, a franquear-lhe o acesso a imóvel ou suas
dependências;
II - (VETADO);
III - cumpre mandado de busca e apreensão domiciliar após as 21h (vinte e uma horas) ou antes das 5h (cinco
horas).
§ 2º Não haverá crime se o ingresso for para prestar socorro, ou quando houver fundados indícios que
indiquem a necessidade do ingresso em razão de situação de flagrante delito ou de desastre.
Norma penal em branco homogênea heterovitelina: o Art. 22, caput da LAA contém uma norma penal em
branco homogênea heterovitelina, pois coloca a necessidade de se buscar em outra norma os requisitos para
o cumprimento de um mandado judicial, ou seja, quais são as condições para que a polícia possa ingressar na
casa de alguém. Grosso modo, essas condições estão previstas no Art. 245 do CPP.
Mandado genérico: o mandado genérico é vedado pelo ordenamento, uma vez que todo mandado deve ser
individualizado.
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Exemplo (mandado genérico).: “dou autorização para que a polícia possa entrar em qualquer casa do bairro
“X”
Constituição Federal
(...)
XI – a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do morador,
salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação
judicial.
- A LAA oferece um conceito de noite em seu Art. 22, III. O problema é que tal conceito é muito restritivo,
tendo em vista que seria muito difícil sustentar que alguns horários fora do período fornecido pela LAA seriam
tidos como dia. Aqui também existem 3 correntes:
2ª CORRENTE: o inciso III é válido, mas desde que interpretado conforme a Constituição.
3ª CORRENTE (Renato): o inciso III é plenamente constitucional sem que haja a necessidade do elemento
“lumisosidade solar” para a sua interpretação. A razão da Constituição exigir o cumprimento da ordem judicial
durante o dia é respeitar o repouso noturno. Logo, ás 20h59, por exemplo, dificilmente alguém está dormindo.
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Além disso, vivemos em um país de dimensões continentais, de modo que em muitas localidades já é dia ás
5h.
RENATO BRASILEIRO: é melhor ter um conceito de dia definido em lei – ainda que este desagrade alguns – do
que depender da boa vontade do intérprete-aplicador ou do critério atrelado a luz solar. Mal ou bem esse
critério fornece segurança jurídica e, ainda que um pouco exagerado, está dentro de uma margem de
razoabilidade exigida da atuação legislativa.
JURISPRUDÊNCIA
- Nos últimos anos, os Tribunais Superiores tem exigido a chamada causa provável para o ingresso na casa
quando se tratar de hipótese de flagrante delito, pouco importando se o agente encontre algo ou não. A LAA
positiva a necessidade desta causa provável em seu Art. 22, §2º, LAA.
ATENÇÃO: no caso da chamada exploração de local – na qual coloca-se um grampo na casa de alguém durante
a diligência com objetivo de promover ali uma escuta ambiental - é possível ingresso no período noturno
(Inquérito nº 2424, STF).
Parâmetro para a tipificação (“início do cumprimento do mandado”): para fins de tipificação do delito
contido no Art. 22, III, LAA, interessa o início do cumprimento do mandado, pois a doutrina sempre entendeu
que o mandado deve ter início durante o dia, mas pode se prolongar durante a noite.
- A figura contida no Art. 23 da LAA é praticamente uma reprodução do crime de fraude processual contido
no Art. 347 do CP. O que a LAA faz é apenas enquadrar a conduta em um contexto de abuso de autoridade.
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Lei n. 13869/19
Art. 23. Inovar artificiosamente, no curso de diligência, de investigação ou de processo, o estado de lugar, de
coisa ou de pessoa, com o fim de eximir-se de responsabilidade ou de responsabilizar criminalmente alguém
ou agravar-lhe a responsabilidade:
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem pratica a conduta com o intuito de:
II - omitir dados ou informações ou divulgar dados ou informações incompletos para desviar o curso da
investigação, da diligência ou do processo.
CP
Art. 347. Inovar artificiosamente, na pendência de processo civil ou administrativo, o estado de lugar, de coisa
ou de pessoa, com o fim de induzir a erro o juiz ou o perito:
Parágrafo único. Se a inovação se destina a produzir efeito em processo penal, ainda que não iniciado, as penas
aplicam-se em dobro.
Lei n. 13869/19
Art. 24. Constranger, sob violência ou grave ameaça, funcionário ou empregado de instituição hospitalar
pública ou privada a admitir para tratamento pessoa cujo óbito já tenha ocorrido, com o fim de alterar local
ou momento de crime, prejudicando sua apuração:
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Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa, além da pena correspondente à violência.
Crime do Art. 24 e cadeia de custódia: à semelhança do que já foi estudado, o Art. 24 contém um dolo
específico diverso daquele contido no Art. 1º, §1º. Atualmente, o CPP foi alterado para prever muitas coisas
sobre a chamada cadeia de custódia, ou seja, sobre todo o processo atinente a documentação formal de uma
evidência. Daí a necessidade de se criminalizar a conduta de quem tenta constranger o funcionário de
instituição hospitalar a admitir pessoa morta em tratamento, visto que neste caso é muito provável que o
agente esteja buscando apagar os vestígios deixados por uma infração penal.
- São inadmissíveis no processo as provas obtidas por meios ilícitos. Aquele que produz a prova ilícita
responderá pelos demais delitos juntamente com o delito contida na LAA.
Exigência de dolo direto: o delito do Art. 25, parágrafo único só pode ser punido a título de dolo direto, isto
é, não se admite a punição a título de dolo eventual.
Entram no conceito de “meio manifestamente ilícito”: (i) provas ilícitas (obtidas com base em violação de
regra de direito material – ex.: confissão sob tortura; encontro de drogas sem autorização judicial prévia;
etc...); (ii) provas derivadas das ilícitas (= Teoria dos Frutos da Árvore Envenenada – ex.: cadáver encontrado
a partir da informação fornecida pelo torturado).
LEMBRE-SE: doutrina e jurisprudência admitem a prova ilícita pro reo, pois, neste caso, há hipótese de estado
de necessidade ou de legítima defesa (ex.: grampo sem autorização judicial que comprova a inocência do réu).
Não entram no conceito de manifestamente ilícito: (i) prova ilícita pro reo; (ii) teoria da fonte independente;
(iii) teoria da fonte inevitável; (iv) teoria da mancha puragada, dentre outras. Em nenhuma destas situações
há ilicitude, daí a sua não inclusão no conceito acima transcrito.
Lei n. 13869/19
Art. 25. Proceder à obtenção de prova, em procedimento de investigação ou fiscalização, por meio
manifestamente ilícito:
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Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem faz uso de prova, em desfavor do investigado ou fiscalizado,
com prévio conhecimento de sua ilicitude.
§5º O juiz que conhecer do conteúdo da prova declarada inadmissível não poderá proferir a sentença ou
acórdão.
- O §5º do 157 do CPP foi acrescentado pelo pacote anticrime. Trata-se de hipótese de descontaminação do
julgado, a partir da qual se entende que se o juiz teve contato com uma prova ilícita, ele é influenciado por ela
e, inevitavelmente, a levará em conta no momento de julgar (ainda que tenha determinado o seu
desentranhamento!). Logo, nada mais natural do que tirá-lo do processo.
Obs.: a mesma medida cautelar que suspendeu a eficácia da norma que previa o juiz das garantias, suspendeu
a eficácia do Art. 157, §5º do CP, uma vez que não é improvável que o conteúdo da norma em questão estimule
pessoas mal intencionadas a plantar provas ilícitas no processo como forma de retirar do caso um juiz visto
como indesejado pela parte.
Observação quanto ao sujeito ativo: o crime do Art. 27 é muito próximo das funções do delegado e do
promotor de justiça.
Lei n. 13869/19
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Art. 27. Requisitar instauração ou instaurar procedimento investigatório de infração penal ou administrativa,
em desfavor de alguém, à falta de qualquer indício da prática de crime, de ilícito funcional ou de infração
administrativa:
Parágrafo único. Não há crime quando se tratar de sindicância ou investigação preliminar sumária,
devidamente justificada.
Procedimentos alcançados pelo tipo penal: a lei fala em procedimento investigatório de infração penal ou
administrativa, abarcando as hipóteses de inquérito; procedimento investigatório criminal ou qualquer outro
procedimento.
Necessidade de demonstração dos indícios: a requisição deve ser feita à falta de qualquer indício para que se
configure o crime. A palavra indício aqui não se encontra no sentido de prova indireta, mas sim como prova
semi-plena, isto é, uma prova que não autoriza um juízo de certeza, mas sim de mera probabilidade. A
requisição de inquérito deve demonstrar que há uma mínimo de plausibilidade para a sua instauração, sob
pena da autoridade recair na prática de tal delito.
Inconstitucionalidade (?): não há falar em inconstitucionalidade do dispositivo por violação da norma que
atribui o poder de requisição ao MP. Todo e qualquer poder deve ser exercido de maneira legitima,
observando limites, de modo que o poder de requisição do MP não foge desta regra.
Constituição Federal
(...)
(...)
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Necessidade de VPI: no processo penal, a investigação penal sumária é o que comumente chamamos de
Verificação de Procedência de Informações (VPI), a qual antecede a instauração de um inquérito. A VPI é muito
comum nos casos de denuncia anônima, por exemplo.
Exemplo: se uma matéria jornalística traz imagens de um particular ou de um agente público cometendo um
delito, elas constituem indícios suficientes para que o promotor instaure o inquérito.
25. DIVULGAÇÃO DE GRAVAÇÃO SEM RELAÇÃO COM A PROVA QUE SE PRETENDA PRODUZIR, EXPONDO A
INTIMIDADE OU A VIDA PRIVADA DO INVESTIGADO OU ACUSADO.
Lei n. 13869/19
Art. 28. Divulgar gravação ou trecho de gravação sem relação com a prova que se pretenda produzir, expondo
a intimidade ou a vida privada ou ferindo a honra ou a imagem do investigado ou acusado:
- A gravação referida no Art. 28 pode ser resultado de uma interceptação ambiental (Art. 8º-A, Lei 9296) ou
telefônica (Art. 1º, Lei 9296).
- Para a tipificação do crime em questão a divulgação não pode guardar relação com a prova que se pretende
produzir.
Exemplo: Renato grampeia o telefone do Cleber e descobre que ele está tendo um relacionamento
extraconjugal com o Gialluca. O relacionamento extraconjugal não tem nenhuma relação com a prova a ser
produzida, motivo pelo qual o áudio que prova a sua existência deve ser destruído por meio de um
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procedimento incidental previsto em lei. Se, contudo, a autoridade que tem contato com o áudio repassa isso
para a imprensa por um certo preço, tem-se configurado o delito do Art. 28.
- Se a a gravação divulgada guardar relação com a prova que se pretende produzir, o crime será o contido no
Art. 10-A da Lei 9296.
Lei n. 13869/19
Art. 29. Prestar informação falsa sobre procedimento judicial, policial, fiscal ou administrativo com o fim de
prejudicar interesse de investigado:
Necessidade do tipo penal: a falsa informação prestada seria uma espécie de ofensa a Administração da
Justiça; daí a necessidade de tipificação.
Especial fim de agir: o Art. 29 funciona como verdadeira norma especial em relação ao Art. 1º, §1º ao restringir
ainda mais o dolo específico.
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finalidade de beneficiar, pode responder por outro delito, como prevaricação (art. 319 do CP), a depender das
circunstâncias do caso concreto”.
Observação quanto ao sujeito ativo: a figura do Art. 30 é muito próxima do Ministério Público.
Necessidade de justa causa: quem oferece denúncia sem justa causa recai no delito do Art. 30. Todavia, há
de se observar que a mera rejeição da denúncia pelo juiz com base na justa causa não implicará, por si só, na
responsabilização penal do promotor.
ATENÇÃO: o crime pode existir em duas modalidades; a ausência de justa causa ou ante a certeza da inocência
da pessoa contra quem se inicia a persecução penal.
Elemento normativo (“justa causa”): a justa causa a que se refere o Art. 30 é a mesma contida no Art. 395, III
do CPP, ou seja, um lastro probatório mínimo no tocante a autoria e a materialidade. O processo penal não é
espaço para aventuras levianas e temerárias. Responder um processo penal, por si só, pode ser um grande
problema a depender das pretensões da pessoa, ainda que ela seja absolvida depois.
Lei n. 13869/19
Art. 30. Dar início ou proceder à persecução penal, civil ou administrativa sem justa causa fundamentada ou
contra quem sabe inocente:
Constituição Federal
(...)
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VIII – requisitar diligências investigatórias e a instauração de inquérito policial, indicados os fundamentos
jurídicos de suas manifestações processuais;
(...)
Lei n. 13869/19
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem, inexistindo prazo para execução ou conclusão de
procedimento, o estende de forma imotivada, procrastinando-o em prejuízo do investigado ou do fiscalizado.
Prazo da investigação: nos termos do CPP e das leis especiais, a investigação tem um prazo determinado de
duração diferente conforme seja caso de réu preso ou réu solto. Excetuando os casos contidos em leis
especiais, quando o indivíduo está solto, o prazo previsto pelo CPP é de 30 dias, podendo tal prazo ser
prorrogado. Por outro lado, estando o indivíduo preso, o prazo é de 10 dias, admitindo-se também
prorrogação por mais 15 dias (Art. 3º-B, §2º, CPP). No caso de réu preso, há vedação expressa no sentido de
não permitir a prorrogação por mais de 15 dias. Todavia, em se tratando de réu solto, não é incomum que o
prazo seja prorrogado sucessivamente. Veja-se nesse sentido o caso do inquérito que durou 07 anos e que foi
analisado pelo STJ.
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Tutela da razoável duração do processo: o delito do Art. 31 tutela a duração razoável do processo, não
podendo o juiz permitir que um inquérito policial tramite por um tempo demasiadamente grande.
ATENÇÃO: o excesso e a procrastinação dependem do caso concreto. Não devemos pensar, portanto, que há
um prazo certo e objetivo para o alongamento da investigação. Logo, o prolongamento da investigação jamais
poderá ser considerado como crime sem a análise específica. O indivíduo deve, portanto, perguntar-se se há
alguma diligência que vem justificando o alongamento do processo.
Lei n. 13869/19
Art. 32. Negar ao interessado, seu defensor ou advogado acesso aos autos de investigação preliminar, ao
termo circunstanciado, ao inquérito ou a qualquer outro procedimento investigatório de infração penal, civil
ou administrativa, assim como impedir a obtenção de cópias, ressalvado o acesso a peças relativas a diligências
em curso, ou que indiquem a realização de diligências futuras, cujo sigilo seja imprescindível:
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- Em se tratando de diligência documentada, o investigado e seu advogado deverão ter acesso. Todavia, se se
tratar de uma diligência em andamento, não há porque franquear acesso, sob pena da eficácia de tal diligência
restar frustrada.
Súmula vinculante n. 14 do STF: “É direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos
elementos de prova que, já documentados em procedimento investigatório realizado por órgão com
competência de polícia judiciária, digam respeito ao exercício do direito de defesa”.
(...)
XIV - examinar, em qualquer instituição responsável por conduzir investigação, mesmo sem procuração, autos
de flagrante e de investigações de qualquer natureza, findos ou em andamento, ainda que conclusos à
autoridade, podendo copiar peças e tomar apontamentos, em meio físico ou digital;
(...)
§10. Nos autos sujeitos a sigilo, deve o advogado apresentar procuração para o exercício dos direitos de que
trata o inciso XIV.
Art. 7º.
§12. A inobservância dos direitos estabelecidos no inciso XIV, o fornecimento incompleto de autos ou o
fornecimento de autos em que houve a retirada de peças já incluídas no caderno investigativo implicará
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responsabilização criminal e funcional por abuso de autoridade do responsável que impedir o acesso do
advogado com o intuito de prejudicar o exercício da defesa, sem prejuízo do direito subjetivo do advogado de
requerer acesso aos autos ao juiz competente.
(...)
§11. No caso previsto no inciso XIV, a autoridade competente poderá delimitar o acesso do advogado aos
elementos de prova relacionados a diligências em andamento e ainda não documentados nos autos, quando
houver risco de comprometimento da eficiência, da eficácia ou da finalidade das diligências.
Lei n. 13869/19
Art. 33. Exigir informação ou cumprimento de obrigação, inclusive o dever de fazer ou de não fazer, sem
expresso amparo legal:
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem se utiliza de cargo ou função pública ou invoca a condição de
agente público para se eximir de obrigação legal ou para obter vantagem ou privilégio indevido.
Núcleo do tipo penal: exigir é impor como obrigação, sob pena de represália. A hipótese do Art. 33 da LAA é
diferente dos artigos 316/317 do CP, pois no primeiro caso a exigência dirige-se a prestação de informação ou
de direitos de fazer ou de não fazer, enquanto que no segundo (concussão) a exigência não é de cumprimento
de obrigação, mas de vantagem ilícita.
Distinção com tipos penais próximos: embora a redação do artigo 33 seja muito próxima daquela contida na
hipótese de corrupção passiva concussão, no crime do Art. 33 o indivíduo se utiliza do cargo/função e mostra
quem é, mas não há nenhuma ameaça implícita inerente ao exercício funcional.
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Exemplo: indivíduo invoca a sua condição de promotor em uma festa open bar para entrar (carteirada) → Se
o indivíduo fala que vai instaurar inquérito, há concussão/corrupção passiva. Por outro lado, se ele apenas
invoca a sua qualidade funcional o crime será o do Art. 33 da LAA.
Lei n. 13869/19
Art. 36. Decretar, em processo judicial, a indisponibilidade de ativos financeiros em quantia que extrapole
exacerbadamente o valor estimado para a satisfação da dívida da parte E, ante a demonstração, pela parte,
da excessividade da medida, deixar de corrigi-la:
Necessidade da realização de duas condutas: o tipo penal do Art. 36 só se configura com a prática das duas
condutas descritas na lei. Logo, não há razão para o temor excessivo dos juízes diante da incriminação
promovida pelo dispositivo.
Exemplo: quando o juiz decreta a penhora online via Bacenjud, é muito comum que todos os bancos sejam
comunicados. Assim, se o devedor que deve apenas R$ 50.000,00 tem 3 contas no valor de R$ 50.000,00 cada,
em 3 bancos diferentes, é possível que a penhora atinja as 3 contas, totalizando um valor de R$ 150.000,00.
Isso, no entanto, não se mostra suficiente para caracterizar o crime, o que só se verificará quando o juiz,
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comunicado do excesso (854, §3º, II, CPC), não proceder ao desbloqueio daquilo que extrapola o valor da
dívida.
CPC
Art. 854. Para possibilitar a penhora de dinheiro em depósito ou em aplicação financeira, o juiz, a
requerimento do exequente, sem dar ciência prévia do ato ao executado, determinará às instituições
financeiras, por meio de sistema eletrônico gerido pela autoridade supervisora do sistema financeiro
nacional, que torne indisponíveis ativos financeiros existentes em nome do executado, limitando-se a
indisponibilidade ao valor indicado na execução.
§ 1º No prazo de 24 (vinte e quatro) horas a contar da resposta, de ofício, o juiz determinará o cancelamento
de eventual indisponibilidade excessiva, o que deverá ser cumprido pela instituição financeira em igual prazo.
§ 2º Tornados indisponíveis os ativos financeiros do executado, este será intimado na pessoa de seu advogado
ou, não o tendo, pessoalmente.
§ 4º Acolhida qualquer das arguições dos incisos I e II do § 3º, o juiz determinará o cancelamento de eventual
indisponibilidade irregular ou excessiva, a ser cumprido pela instituição financeira em 24 (vinte e quatro)
horas.
32. DEMORA DEMASIADA E INJUSTIFICADA NO EXAME DE PROCESSO DE QUE TENHA REQUERIDO VISTA EM
ÓRGÃO COLEGIADO.
Lei n. 13869/19
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Art. 37. Demorar demasiada e injustificadamente no exame de processo de que tenha requerido vista em
órgão colegiado, com o intuito de procrastinar seu andamento ou retardar o julgamento:
DOUTRINA: como o Art. 37 da LAA fala em órgão colegiado, parte da doutrina sustenta que esse crime só
poderia ter como sujeito ativo os desembargadores ou ministros. Essa, contudo, não é a melhor interpretação,
sobretudo se levarmos em conta que o artigo 37 sequer menciona a necessidade do processo ser judicial. E,
ainda que se interprete nesse sentido, não se pode esquecer que há órgãos colegiados em 1ª instância, com
a participação de juízes (ex.: turma recursal; juízos colegiados para o julgamento de organizações criminosas
– Lei nº 12694; vara colegiada para o julgamento de organizações criminosas, etc...).
Elemento normativo: o termo “injustificadamente” pode ser interpretado conforme a mesma lógica da
demora na investigação, considerando elementos tais como complexidade do feito; eventual procrastinação
atribuída a alguém e número de pessoas envolvidas.
RENATO BRASILEIRO: a expressão “demora demasiada” pode ser extraída do Art. 940 do CPC.
33. ANTECIPAÇÃO DE ATRIBUIÇÃO DE CULPA POR MEIO DE COMUNICAÇÃO, INCLUSIVE REDE SOCIAL, ANTES
DE CONCLUÍDAS AS APURAÇÕES E FORMALIZADA A ACUSAÇÃO.
Lei n. 13869/19
Art. 38. Antecipar o responsável pelas investigações, por meio de comunicação, inclusive rede social,
atribuição de culpa, antes de concluídas as apurações e formalizada a acusação:
- A sociedade brasileira, como regra, nutri um sentimento de intolerância com relação a impunidade. Isso,
porém, tem causado uma certa pressa exagerada no âmbito da persecução penal, o que por vezes acaba
culminando na incriminação de um inocente.
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Tutela da presunção de inocência: a ideia desse tipo penal é proteger o princípio da presunção de inocência.
Se alguém é presumido inocente, essa pessoa deve assim ser tratada até o final do julgamento.
LEMBRE-SE: o crime do Art. 38 é infração de menor potencial ofensivo e, como tal, será processado e julgado
no JECRIM, havendo direito à transação penal.
34. APLICAÇÃO DO CÓDIGO PENAL, DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL E DA LEI N. 9.099/95 AOS CRIMES DE
ABUSO DE AUTORIDADE.
Lei n. 13869/19
Art. 39. Aplicam-se ao processo e ao julgamento dos delitos previstos nesta Lei, no que couber, as disposições
do Código de Processo Penal e da Lei n. 9.099/95.
Natureza da defesa preliminar: a figura da defesa preliminar traduz uma reação defensiva entre o
oferecimento e o recebimento da peça acusatória. Ou seja, oferecida a denúncia, o juiz deverá notificar o
acusado para constituir defensor que apresente essa defesa preliminar. Há de se ter cuidado, porém, pois
apenas alguns procedimentos contam com previsão para esse tipo de defesa. São eles: Lei de Drogas, JECRIM,
514, CPP e procedimento originário nos Tribunais.
• A defesa ou resposta preliminar aplica-se aos crimes da Lei de Abuso de Autoridade com base no
Art. 514 do CPP?
O Art. 514 do CPP aplica-se aos crimes de responsabilidade dos funcionários púbicos compreendidos entres
os artigos 312 e 326 do CP, nos quais a qualidade de funcionário público é elementar do tipo penal. A doutrina,
porém, afirma que apesar do abuso de autoridade não constar do Código Penal, ele não se diferencia em nada
dos delitos funcionais previstos entre os artigos 312 e 326 anteriormente citados.
CPP
(...)
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Art. 514. Nos crimes afiançáveis, estando a denúncia ou queixa em devida forma, o juiz mandará autuá-la e
ordenará a notificação do acusado, para responder por escrito, dentro do prazo de 15 dias.
Parágrafo único. Se não for conhecida a residência do acusado, ou este se achar fora da jurisdição do juiz, ser-
lhe-á nomeado defensor, a quem caberá apresentar a resposta preliminar.
- A LAA incluir no Estatuto da OAB o crime do Art. 7º-B. Há de se ter atenção, contudo, ao fato de que apenas
haverá crime quando houver violação das prerrogativas taxativamente elencadas e não de qualquer
prerrogativa.
RENATO BRASILEIRO: embora parte da doutrina defenda o contrário, o especial fim de agir (Art. 1º, §1º, LAA)
deve ser observado também neste caso, ainda que o crime esteja previsto fora da LAA. Além disso, o crime só
estará caracterizado se o indivíduo for advogado no exercício da advocacia. Se o mandado deixa claro que
nenhuma das condutas guardam relação com o exercício da advocacia, não haverá crime.
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Lei n. 8.906/94
Art. 7º-B Constitui crime violar direito ou prerrogativa de advogado previstos nos incisos II, III, IV e V do caput
do art. 7º desta Lei (Incluído pela Lei n. 13.869/19)
Lei n. 8.906/94
II – a inviolabilidade de seu escritório ou local de trabalho, bem como de seus instrumentos de trabalho, de
sua correspondência escrita, telefônica e telemática, desde que relativas ao exercício da advocacia;
III – comunicar-se com seus clientes, pessoal e reservadamente, mesmo sem procuração, quando estes se
acharem presos, detidos ou recolhidos em estabelecimentos civis ou militares, ainda que considerados
incomunicáveis;
IV – ter a presença de representante da OAB, quando preso em flagrante, por motivo ligado ao exercício da
advocacia, para lavratura do auto respectivo, sob pena de nulidade e, nos demais casos, a comunicação
expressa à seccional da OAB;
V – não ser recolhido preso, antes de sentença transitada em julgado, senão em sala de Estado Maior, com
instalações e comodidades condignas, assim reconhecidas pela OAB e, na sua falta, em prisão domiciliar; (Vide
ADI 1.127)
- A LAA tem 03 datas de vigência porque a lei foi publicada em um primeiro momento e o Presidente vetou
alguns dispositivos. Ocorre, porém, que alguns destes vetos foram derrubados pelo Congresso Nacional, sendo
a lei novamente publicada para incluir os vetos derrubados. Além disso, o crime do Art. 13 foi publicado sem
pena em razão de um erro de grafia, de modo que foi necessário proceder a retificação do dispositivo com
nova publicação no Diário Oficial.
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Regra: 03/01/2020
Exceções:
Art. 13: entrou em vigor apenas no dia 16/01/2020 após retificação no dia 18/09/2019
Caso dos vetos derrubados (Art. 3º, 9º, 13, III, 15, parágrafo único, I e II, 16, 20, 30, 32, 38 e 43): foram
publicados no dia 27/09/2020, entrando em vigor no dia 25/01/2020.
Lei n. 13.869/19
Art. 45. Esta Lei entra em vigor após decorridos 120 (cento e vinte) dias de sua publicação oficial.
LC 95/98
Art. 8º A vigência da lei será indicada de forma expressa e de modo a contemplar prazo razoável para que dela
se tenha amplo conhecimento, reservada a cláusula ‘entra em vigor na data de sua publicação’ para as leis de
pequena repercussão.
§1º A contagem do prazo para entrada em vigor das leis que estabeleçam período de vacância far-se-á com a
inclusão da data da publicação e do último dia do prazo, entrando em vigor no dia subsequente à sua
consumação integral. (Incluído pela Lei Complementar n. 107/01).
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LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL
Crimes de Trânsito
Sérgio Bautzer
Aula 04
ROTEIRO DE AULA
CRIMES DE TRÂNSITO
Art. 291, CTB. Aos crimes cometidos na direção de veículos automotores, previstos
neste Código, aplicam-se as normas gerais do Código Penal e do Código de Processo
Penal, se este Capítulo não dispuser de modo diverso, bem como a Lei nº 9.099, de
26 de setembro de 1995, no que couber.
§ 1o Aplica-se aos crimes de trânsito de lesão corporal culposa o disposto nos arts.
74, 76 e 88 da Lei no 9.099, de 26 de setembro de 1995, exceto se o agente
estiver: (Renumerado do parágrafo único pela Lei nº 11.705, de 2008)
- A Lei 9.099/95 possui 4 medidas despenalizadoras ou alternativas: (i) transação penal; (ii) composição cível;
(iii) exigência de representação em determinados crimes; (iv) suspensão condicional do processo (sursis
processual).
- A incidência da Lei 9099/95 será afastada em algumas hipóteses previstas no Código de Trânsito Brasileiro
(CTB).
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MP/SP (Oral): imagine que o condutor de um veículo deixou o caminhão desengatado e este desceu e
atropelou uma pessoa, que veio a óbito. Neste caso, não se tem um crime de trânsito, pois o critério do CTB é
a o agente estar na condução do veículo automotor.
- A lesão corporal culposa em virtude do crime de trânsito (303, CTB) diferencia-se da lesão culposa prevista
no Código Penal.
Exemplo: imagine que uma pessoa seja atropelada por um veículo que transita em velocidade superior a
permitida (ex.: veículo a 60km/h em uma pista de 40 km/h). O condutor, entretanto, não estava embriagado;
não participava de racha e, como se nota, a velocidade não ultrapassa a permitida em 50 km/h. Quando os
peritos do instituto de criminalista verificam a cena do crime, avaliando distância de frenagem e danos à
vítima, é possível lavrar-se o chamado termo circunstanciado. Imagine que depois disso o condutor do veículo
tenha arcado com todas as despesas relacionadas ao acidente e, ao chamar a vítima para ser ouvida na
delegacia, esta afirma que não deseja ser encaminhada para IML e, não obstante, renuncia o seu direito de
representar. Neste caso, a postura do delegado deve ser a de tomar o termo circunstanciado em apuração e
remetê-lo ao Poder Judiciário.
Renúncia ao direito de representação: a vítima pode renunciar ao seu direito de representação em situações
como a narrada, pois, como regra, a lesão corporal culposa em acidentes de transito é crime de ação penal
pública condicionada a representação, de modo cabe ao Delegado apurar o crime por meio de Termo
Circunstanciado.
Quem pode lavrar o termo circunstanciado: no Distrito Federal, por força de um ato normativo do TJ/DF, os
agentes do DR; DETRAN e das Polícias Rodoviária e Federal, também podem lavrar termo circunstanciado.
Trata-se de interpretação doutrinária do termo “autoridade policial”, que foi entendida de modo ampliativo
por doutrinadores como Damásio de Jesus e incorporada pelo ato normativo do Tribunal. Nesse sentido, há
quem sustente que em razão dos princípios que norteiam os Juizados Especiais (Art. 62, Lei 9099/95), um
oficial da polícia pode ser entendido como autoridade policial também. Para a maioria da doutrina e da
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jurisprudência, contudo, quando o CPP e as demais leis penais especiais se referem a expressão “autoridade
policial”, isso só inclui o delegado de polícia civil ou federal.
- Em regra, a lesão corporal culposa em virtude de acidente de trânsito é crime de ação penal pública
condicionada a representação e apurado por Termo Circunstanciado.
LEMBRE-SE: a Lei 12.830/13, que trata da condução da investigação pelo Delegado de Polícia, afirma que a
autoridade pode investigar por meio de Inquérito ou de Termo Circunstanciado.
Termo Circunstanciado: é o procedimento administrativo e inquisitivo, presidido por delgado de polícia, que
tem por finalidade apurar as infrações penais de menor potencial ofensivo (Art. 69, parágrafo único, Lei
9099/95).
Art. 69, Lei 9099/95. A autoridade policial que tomar conhecimento da ocorrência
lavrará termo circunstanciado e o encaminhará imediatamente ao Juizado, com o
autor do fato e a vítima, providenciando-se as requisições dos exames periciais
necessários.
Parágrafo único. Ao autor do fato que, após a lavratura do termo, for imediatamente
encaminhado ao juizado ou assumir o compromisso de a ele comparecer, não se
imporá prisão em flagrante, nem se exigirá fiança. Em caso de violência doméstica,
o juiz poderá determinar, como medida de cautela, seu afastamento do lar, domicílio
ou local de convivência com a vítima.(Redação dada pela Lei nº 10.455, de 13.5.2002)
• Quais são as infrações de menor potencial ofensivo? (Art. 61, Lei 9.099/95)
Como regra, o CTB autoriza os benefícios da Lei 9.099/95 aos crimes de lesão corporal culposa nele
previstos.
• Em alguns casos, o crime de lesão corporal culposa do CTB não será alcançado pelos benefícios da
Lei 9099/95:
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(i) Na COMPOSIÇÃO CIVIL, Autor e Vítima chegam a um acordo, lavrado em audiência preliminar convocada
antes do oferecimento da denúncia. Essa audiência de conciliação é realizada antes de se propor a transação
e, uma vez realizada a composição, a vítima renuncia ao direito de queixa ou de representação. A sentença
que homologa a composição civil é irrecorrível.
(ii) A TRANSAÇÃO PENAL também é realizada em audiência preliminar, constituindo-se em um acordo entre
o Promotor de Justiça e o autor do fato (Art. 76, Lei 9099/95). Da sentença que homologa a transação penal,
contudo, cabe Apelação, diferente do que ocorre com a composição civil (Art. 76, §5º, Lei 9099/95). Caso o
sujeito não cumpra o acordo, o juiz abre vista ao MP, que oferecerá a denúncia ou requererá o retorno do
procedimento investigatório para a unidade policial requisitar diligências.
§ 1º Nas hipóteses de ser a pena de multa a única aplicável, o Juiz poderá reduzi-la
até a metade.
I - ter sido o autor da infração condenado, pela prática de crime, à pena privativa de
liberdade, por sentença definitiva;
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§ 6º A imposição da sanção de que trata o § 4º deste artigo não constará de certidão
de antecedentes criminais, salvo para os fins previstos no mesmo dispositivo, e não
terá efeitos civis, cabendo aos interessados propor ação cabível no juízo cível.
(iii) O Art. 88 da Lei 9099/95 exige REPRESENTAÇÃO para os crimes de lesão corporal leve e lesão corporal
culposa.
Art. 88. Além das hipóteses do Código Penal e da legislação especial, dependerá de
representação a ação penal relativa aos crimes de lesões corporais leves e lesões
culposas.
Exceção ao Art. 88, L.9099/95: Art. 41 da Lei Maria da Penha determina que não se aplica a Lei 9099/95 aos
crimes cometidos em situação de violência doméstica. Logo, a lesão corporal em situação de violência
doméstica é de ação penal pública incondicionada.
Art. 41. Aos crimes praticados com violência doméstica e familiar contra a mulher,
independentemente da pena prevista, não se aplica a Lei nº 9.099, de 26 de
setembro de 1995.
Cabe sursis processual nos crimes cuja pena mínima é igual ou inferior a um ano. Quanto a suspensão
condicional do processo, há doutrinadores que entendem que o Art. 89 não deveria estar na Lei dos
Juizados, mas sim no CPP.
Art. 89. Nos crimes em que a pena mínima cominada for igual ou inferior a um ano, abrangidas ou não por
esta Lei, o Ministério Público, ao oferecer a denúncia, poderá propor a suspensão do processo, por dois a
quatro anos, desde que o acusado não esteja sendo processado ou não tenha sido condenado por outro
crime, presentes os demais requisitos que autorizariam a suspensão condicional da pena (art. 77 do Código
Penal).
- Se não há incidência das medidas despenalizadoras da Lei 9099/95, a lesão culposa do CTB passa a ser de
ação penal pública incondicionada.
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Art. 291, CTB.
§ 1o Aplica-se aos crimes de trânsito de lesão corporal culposa o disposto nos arts. 74, 76 e 88 da Lei
no 9.099, de 26 de setembro de 1995, exceto se o agente estiver: (Renumerado do parágrafo único
pela Lei nº 11.705, de 2008)
- Até um determinado tempo era possível lavrar o auto de prisão em flagrante por embriaguez ao volante se
houvesse a fita do bafômetro, motivo pelo qual muitas pessoas começaram a se recusar submeter-se ao
etilômetro.
- É a Portaria nº 344/98 do Ministério da Saúde que prevê o rol de substancias entorpecentes. No entanto, há
de se ter em conta que não são apenas as substancias ilícitas que determinam dependência. O Art. 243 do
ECA, por exemplo, fala em substâncias que causam dependência e que são vendidas livremente, como a cola
de sapateiro, por exemplo. Assim, ainda que a cola seja uma substancia lícita, não enquadrada no rol de
entorpecentes, ela causa dependência.
- Deve-se afastar a incidência de medidas despenalizadoras no crime de lesão corporal culposa em acidente
de trânsito quando o condutor estiver embriagado ou sob efeito de substâncias entorpecentes.
- Deve-se ter cuidado ao estudar o CTB, pois ele sofre muitas alterações.
- A exibição não autorizada, que é diferente do crime de racha, afasta a aplicação de medidas
despenalizadoras. Pessoas que costumam empinar motos com alguém na garupa, por exemplo, respondem
pelo crime de lesão corporal culposa do CTB sem a aplicação das medidas despenalizadoras, caso sua conduta
venha a lesionar o passageiro. Vale lembrar, porém, que existem exibições autorizadas pelo Poder Público.
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III - transitando em velocidade superior à máxima permitida para a via em 50 km/h (cinqüenta quilômetros
por hora). (Incluído pela Lei nº 11.705, de 2008)
CUIDADO: quando o indivíduo recebe uma multa administrativa, ela vem com a infração descrita em forma
de porcentagem e não nominalmente, como ocorre no inciso III (50 km/h).
Exemplo: o condutor que transita a 110 km/h em uma via de 60 km/h encaixa-se nesta exceção. Cabe
mencionar que o laudo/informação pericial juntados ao inquérito são capazes de indicar a velocidade do
motorista no momento do acidente que ocasionou a lesão corporal.
§ 2o Nas hipóteses previstas no § 1o deste artigo, deverá ser instaurado inquérito policial para a investigação
da infração penal. (Incluído pela Lei nº 11.705, de 2008)
ATENÇÃO (alterações da nova Lei de Abuso de Autoridade): a despeito de o inquérito ser um procedimento
inquisitivo, temos que lembrar que o Estatuto da OAB confere ao advogado o direito de formular perguntas e
apresentar quesitos após o interrogatório do indiciado. O pacote anticrime prevê até citação para o inquérito.
Art. 301. Ao condutor de veículo, nos casos de acidentes de trânsito de que resulte
vítima, não se imporá a prisão em flagrante, nem se exigirá fiança, se prestar pronto
e integral socorro àquela.
Voz de prisão x auto de prisão em flagrante: não podemos confundir o ato de dar voz de prisão em flagrante
com a lavratura do auto de prisão em flagrante, que é a peça inaugural do inquérito (304-306, CPP).
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Apresentação espontânea: a pessoa que se apresenta espontaneamente na unidade policial alegando a
prática de uma infração penal, não tem afastada a possibilidade do promotor ou do delegado pedir a
decretação da prisão temporária ou preventiva nos outros crimes que não os do CTB.
Sujeito passivo do auto de prisão em flagrante: o autor da infração penal de trânsito que presta pronto e
integral socorro à vítima de acidente de trânsito não poderá ser sujeito passivo do auto de prisão em flagrante.
Exemplo: motorista de caminhão de móveis que mata uma criança ao dar ré, mas, a despeito disso, chama a
ambulância; permanece no local até o socorro e a Polícia chegarem e, quando chamado a Delegacia,
comparece prontamente para prestar todos os esclarecimentos.
- Se há risco de o motorista ser linchado, ele até pode sair do local, mas desde que ligue para o SAMU ou tome
as medidas necessárias para providenciar o socorro.
Omissão de socorro como crime subsidiário: o crime de omissão de socorro previsto no Art. 304 do CTB é
infração de menor potencial ofensivo, mas é crime subsidiário, pois pode ser que o fato constitua elemento
de crime mais grave, como no caso do homicídio culposo.
Exemplo¹.: imagine que esteja acontecendo um racha do qual resulte um acidente. Neste acidente, o
passageiro que se encontra no banco de trás é atingido por um poste após a colisão do carro, vindo a falecer.
O outro veículo que estava disputando o racha, a despeito de também estar envolvido no acidente, dá ré e sai
da cena do local do crime.
Exemplo².: crime de trânsito onde as pessoas modificam a cena do local do crime, retirando os copos e latinhas
de bebida alcoólica antes da autoridade chegar.
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- Ao lermos o Art. 16, parágrafo único, I do Estatuto do Desarmamento, notamos que a modificação das
características de armas de fogo para induzir a erro as autoridades também é fraude processual.
- Quando o juiz, após o processo-crime, converter a pena privativa de liberdade em restritiva de direitos e o
sujeito for prestar serviços à comunidade, suas atividades serão disciplinadas pelo Art. 312-A do CTB.
(II) O MENOR, TENDO EM VISTA QUE O ECA JÁ PREVÊ UM PROCEDIMENTO ESPECIAL (= AUTO DE
APREENSÃO);
Caso do usuário de drogas: o Art. 48 da Lei de Drogas (11.343/06) dispõe que o usuário que se recusar a
assinar o termo de compromisso de comparecimento ao juizado especial criminal não será preso em flagrante.
Em verdade, mais correto e técnico seria que o Art. 48 da Lei de Drogas colocasse como consequência a não
lavratura de auto de prisão em flagrante considerando a impossibilidade de detenção do agente quando este
é usuário.
Art. 48. O procedimento relativo aos processos por crimes definidos neste Título
rege-se pelo disposto neste Capítulo, aplicando-se, subsidiariamente, as disposições
do Código de Processo Penal e da Lei de Execução Penal.
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§ 5º Para os fins do disposto no art. 76 da Lei nº 9.099, de 1995, que dispõe sobre os
Juizados Especiais Criminais, o Ministério Público poderá propor a aplicação imediata
de pena prevista no art. 28 desta Lei, a ser especificada na proposta.
ATENÇÃO: ninguém assina Termo Circunstanciado. O que o agente assina é o Termo de Comparecimento ao
Juizado, que é uma peça do Termo Circunstanciado.
LEMBRE-SE: a Lei de Drogas foi alterada em 2019, criando a chamada internação voluntária e involuntária no
âmbito administrativo, o que demonstra que o usuário é um caso de saúde pública.
(IV) AQUELE QUE ASSUME O COMPROMISSO DE COMPARECER AO JUIZADO ESPECIAL CRIMINAL (ART. 69,
PARÁGRAFO ÚNICO, LEI nº 9099/95).
- O autor de infração de menor potencial ofensivo que assumiu o compromisso de comparecer ao juizado não
poderá ser alvo de auto de prisão em flagrante. Do contrário, não assumindo o compromisso, será lavrado o
auto de prisão em flagrante e fixado o valor do fiança.
- Em 2017, o Código Penal foi alterado, de modo que o crime de lesão corporal em acidente de trânsito passou
a ter nova redação. Atualmente, se o sujeito causar uma lesão corporal culposa em virtude de acidente de
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trânsito e estiver embriagado ou sobre efeito de droga, a pena poderá ser de até 5 anos se a lesão for de
natureza grave ou gravíssima (ex.: moto que atropela um pedestre e deixa este paraplégico).
PROBLEMA: até o advento da lei em 2017, a lesão corporação culposa não comportava modalidades
diferentes; era um tipo único. Hoje, o CTB prevê duas modalidades (grave e gravíssima).
- Nos termos do Art. 294 do CTB, o delegado pode representar pela proibição ou suspensão da habilitação, o
que pode ser feito no próprio relatório final de conclusão do inquérito policial. O juiz também pode decretar
tal medida cautelar de ofício, o que é questionável diante do princípio da imparcialidade.
Art. 296. Se o réu for reincidente na prática de crime previsto neste Código, o juiz
aplicará a penalidade de suspensão da permissão ou habilitação para dirigir veículo
automotor, sem prejuízo das demais sanções penais cabíveis. (Redação dada
pela Lei nº 11.705, de 2008)
- Da leitura do artigo, nota-se que após o devido processo legal, é possível a imposição das medidas cautelares
de suspensão ou proibição da CNH além das penas privativas de liberdade.
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Art. 297. A penalidade de multa reparatória consiste no pagamento, mediante
depósito judicial em favor da vítima, ou seus sucessores, de quantia calculada com
base no disposto no § 1º do art. 49 do Código Penal, sempre que houver prejuízo
material resultante do crime.
Art. 298. São circunstâncias que sempre agravam as penalidades dos crimes de
trânsito ter o condutor do veículo cometido a infração:
I - com dano potencial para duas ou mais pessoas ou com grande risco de grave dano
patrimonial a terceiros;
- Como o bafômetro só atesta a embriaguez ao volante, muitos estados já fazem também testes com a saliva
dos condutores para detectar eventual presença de substâncias psicoativas.
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Art. 306, CTB. Conduzir veículo automotor com capacidade psicomotora alterada em razão da influência de
álcool ou de outra substância psicoativa que determine dependência: (Redação dada pela Lei nº
12.760, de 2012)
Penas - detenção, de seis meses a três anos, multa e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a
habilitação para dirigir veículo automotor.
- A embriaguez ao volante é um crime de médio potencial ofensivo, isto é, um delito afiançável na esfera
policial, não havendo como aplicar-se a transação penal.
- A fiança é uma garantia prestada pelo indiciado/acusado para que ele responda ao inquérito/processo em
liberdade. Liberdade esta que é de natureza provisória. As finalidades da fiança são:
- O pagamento da multa reparatória prevista no 297 do CTB será abatido do valor indenizatório fixado no
processo cível.
- Como a pena mínima é de 06 (seis) meses, cabe suspensão condicional do processo nos processos judiciais
de embriaguez ao volante, o que determina também a suspensão do prazo prescricional. Tudo mediante
condições impostas ao beneficiário, como comparecimento ao fórum para informar a atividade que ele vem
exercendo. Em se tratando de sursis processual, o processo fica suspenso no prazo de 2 a 4 anos e, ao final, se
o beneficiário não der causa a nenhum tipo de revogação, o juiz declara extinta a punibilidade.
§ 1o As condutas previstas no caput serão constatadas por: (Incluído pela Lei nº 12.760, de 2012)
I - concentração igual ou superior a 6 decigramas de álcool por litro de sangue ou igual ou superior a 0,3
miligrama de álcool por litro de ar alveolar; ou (Incluído pela Lei nº 12.760, de 2012)
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- Note que quando a lei fala em sangue, a unidade de medida é o decigrama, e quando se refere ao bafômetro,
fala em miligrama. Ainda nesse sentido, a orientação do INMETRO é de que a autoridade leve em consideração
a margem de erro de 4 para cima e 4 para baixo. Assim, quando constatar-se a presença de 0,34 miligrama no
organismo do indivíduo, este deverá ser autuado em flagrante. Se for um valor abaixo de 0,34, só é possível
aplicar multa administrativa. Se for mais do que 0,34, haverá prisão em flagrante acompanhada de multa.
II - sinais que indiquem, na forma disciplinada pelo Contran, alteração da capacidade psicomotora. (Incluído
pela Lei nº 12.760, de 2012)
- Os sinais aos quais o inciso faz menção podem ser obtidos por meio de testemunhas; fotos; vídeos, dentre
outros. As fotos podem, por exemplo, registrar o indivíduo tomando soro ou glicose e mesmo assim com o
aspecto de confusão. Da mesma forma, pode-se filmar o indivíduo ziguezagueante caminhando para cela.
§ 2o A verificação do disposto neste artigo poderá ser obtida mediante teste de alcoolemia ou toxicológico,
exame clínico, perícia, vídeo, prova testemunhal ou outros meios de prova em direito admitidos, observado
o direito à contraprova. (Redação dada pela Lei nº 12.971, de 2014) (Vigência)
- Se o sujeito não quer soprar o bafômetro, é possível proceder-se, desde logo, ao auto de constatação, ou
então, lavrar-se um memorial de encaminhamento para o IML onde o médico legista pode atestar a
embriaguez. No geral, o legista pode afirmar 03 situações: (i) sujeito embriagado; (ii) sujeito não embriagado
ou (iii) sujeito não embriagado, mas sem exclusão da possibilidade de haver embriaguez durante o acidente.
O legista observa vários fatores durante o exame de constatação: a vermelhidão nos olhos; a fala desconexa;
o hálito; dentre outros elementos.
- O auto de constatação pode fundamentar o flagrante em casos excepcionais (ex.: plantão lotado).
- Se o policial regional federal entrar em contato com uma situação ao de embriaguez, ele remeterá o caso
para a unidade policial da polícia civil.
§ 3o O Contran disporá sobre a equivalência entre os distintos testes de alcoolemia ou toxicológicos para
efeito de caracterização do crime tipificado neste artigo. (Redação dada pela Lei nº 12.971, de
2014) (Vigência)
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§ 4º Poderá ser empregado qualquer aparelho homologado pelo Instituto Nacional de Metrologia,
Qualidade e Tecnologia - INMETRO - para se determinar o previsto no caput. (Incluído pela Lei nº 13.840,
de 2019)
Art. 309, CTB. Dirigir veículo automotor, em via pública, sem a devida Permissão para
Dirigir ou Habilitação ou, ainda, se cassado o direito de dirigir, gerando perigo de
dano:
- O Art. 309 do CTB, que trata da direção perigosa, suscitou polêmicas. O resultado das discussões na doutrina
foi a conclusão de que se uma pessoa conduz um veículo automotor sem CNH, mas não expõe terceiros a
risco, não há crime, mas, no máximo, uma infração administrativa. Por outro lado, se a pessoa tem habilitação
e está dirigindo perigosamente, aplica-se o Art. 34, LCP.
Art. 34, LCP. Dirigir veículos na via pública, ou embarcações em águas públicas,
pondo em perigo a segurança alheia: Pena – prisão simples, de quinze dias a três
meses, ou multa, de trezentos mil réis a dois contos de réis.
Art. 305, CTB. Afastar-se o condutor do veículo do local do acidente, para fugir à
responsabilidade penal ou civil que lhe possa ser atribuída:
- Na época, parte da doutrina chegava a afirmar que a previsão contida no Art. 305 do CTB era uma espécie
de prisão civil de forma reflexa, pois se estaria utilizando o Direito Penal para cobrar uma dívida passível de
resolução exclusivamente na esfera cível. Trata-se, porém, de tese excessivamente rigorista, apoiada em uma
separação absoluta entre as esferas civil e penal. Como se sabe, a própria Lei dos Juizados Especiais prevê a
hipótese de composição civil, de modo que a partir da decisão do STF pela constitucionalidade a prática da
autoridade policial deve ser, basicamente, a seguinte: (i) lavrar a ocorrência; (ii) tomar o termo
circunstanciado, (iii) identificar o causador do acidente de trânsito e, a partir disso, encaminhar o TC para a
Justiça Criminal.
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- A diferença entre o Art. 304 e 305 do CTB é que no primeiro a pessoa está completamente lesionada, ao
passo que no segundo analisam-se os demais delitos previstos no CTB.
Parágrafo único. Incide nas penas previstas neste artigo o condutor do veículo, ainda
que a sua omissão seja suprida por terceiros ou que se trate de vítima com morte
instantânea ou com ferimentos leves.
Penas - detenção, de seis meses a um ano e multa, com nova imposição adicional de
idêntico prazo de suspensão ou de proibição.
Parágrafo único. Nas mesmas penas incorre o condenado que deixa de entregar, no
prazo estabelecido no § 1º do art. 293, a Permissão para Dirigir ou a Carteira de
Habilitação.
- Muito se discutiu acerca da imposição ser administrativa. Ao ser examinada a questão pelo STJ, a Corte
concluiu que, havendo o processo administrativo que gere a cassação da habilitação, a violação da imposição
da autoridade de trânsito não atrai a aplicabilidade do Art. 307 do CTB, pois o disposto nele só se aplicaria a
violação de decisão judicial, constituindo-se em espécie de desobediência (doutrina majoritária e
jurisprudência do STJ). Esse entendimento do STJ é amparado na menção do Art. 293 no texto do pelo Art.
307 do CTB, sobretudo o fato de que o Art. 293 fala em “autoridade judiciária”.
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§ 2º A penalidade de suspensão ou de proibição de se obter a permissão ou a
habilitação para dirigir veículo automotor não se inicia enquanto o sentenciado, por
efeito de condenação penal, estiver recolhido a estabelecimento prisional.
Caso do crime à prazo (307, parágrafo único): o crime à prazo é aquele que só se consuma despois de
decorrido o transcurso do tempo previsto na lei.
- O crime de racha é crime de médio potencial ofensivo. Não cabe transação penal, mas cabe suspensão
condicional do processo.
- O Art. 308 do CTB só se aplica se do racha resultar lesão corporal. No entanto, se as pessoas que participam
da disputa assumirem o risco pelo resultado morte, pode ser que o crime seja de homicídio doloso previsto
no Código Penal (dolo eventual).
Exemplo¹.: imagine dois carros que fazem manobras no autódromo Nelson Piquet com os devidos
equipamentos de segurança, mas sem autorização. Em dado momento, um dos carros capota e o motorista
vem a óbito. Neste caso, a pessoa não assumiu o risco de produzir o resultado, tanto que o motorista estava
de capacete e com cinto de segurança.
Exemplo².: motorista embriagado que, durante a noite e com a pista molhada, ultrapassa o limite de
velocidade e acaba atropelando 2 crianças. Neste caso, há dolo eventual que justifica a autuação por homicídio
doloso.
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Penas - detenção, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos, multa e suspensão ou proibição
de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor. (Redação
dada pela Lei nº 12.971, de 2014) (Vigência)
III - deixar de prestar socorro, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à vítima do
acidente; (Incluído pela Lei nº 12.971, de 2014) (Vigência)
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Tese, STJ: na hipótese de homicídio praticado na direção de veículo automotor, havendo elemento nos autos
de que o condutor agiu, possivelmente, com dolo eventual, o julgamento acerca da ocorrência deste ou da
culpa consciente compete ao Tribunal do Júri.
Tese, STJ: quando há penalidade de imposição da proibição ou suspensão da CNH, não cabe habeas corpus,
pois quando o juiz a impõe não há ameaça à liberdade de ir e vir.
Tese, STJ: o fato de a infração do Art. 302, CTB ter sido praticada por motorista profissional não conduz a
substituição da pena acessória do direito de dirigir por outra, pois é justamente de tal categoria que se espera
mais cuidado e responsabilidade no trânsito.
Tese, STJ: quando não restar comprovado que o sujeito estava dirigindo perigosamente é quem causou a lesão
corporal, ou seja, quando não for possível provar a autonomia das vontades, a lesão corporal será majorada e
absorverá o delito do Art. 309, CTB. Temos nesta hipótese um caso de lesão corporal culposa com a pena
aumentada em virtude situação de direção perigosa.
Tese, STJ: o crime de embriaguez ao volante e de lesão corporal culposa na direção de veículo automotor, são
autônomos e o primeiro não é meio normal nem fase de preparação ou execução para o cometimento do
segundo, não havendo em se falar no princípio da consunção. Haverá, portanto, lesão corporal culposa em
concurso com embriaguez ao volante.
Art. 310, CTB. Permitir, confiar ou entregar a direção de veículo automotor a pessoa
não habilitada, com habilitação cassada ou com o direito de dirigir suspenso, ou,
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ainda, a quem, por seu estado de saúde, física ou mental, ou por embriaguez, não
esteja em condições de conduzi-lo com segurança:
Parágrafo único. Aplica-se o disposto neste artigo, ainda que não iniciados, quando
da inovação, o procedimento preparatório, o inquérito ou o processo aos quais se
refere.
Art. 312-A. Para os crimes relacionados nos arts. 302 a 312 deste Código, nas
situações em que o juiz aplicar a substituição de pena privativa de liberdade por pena
restritiva de direitos, esta deverá ser de prestação de serviço à comunidade ou a
entidades públicas, em uma das seguintes atividades: (Incluído pela Lei
nº 13.281, de 2016) (Vigência)
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LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL
Renato Brasileiro
Aula 5
JECRIM I
ROTEIRO DE AULA
- As infrações de menor potencial ofensivo não são alcançadas pela competência do juiz das garantias. Como
nos juizados existe o chamado Termo Circunstanciado de Ocorrência (TCO), que é um procedimento
investigatório demasiadamente simples, podemos dizer que sequer há uma investigação propriamente dita.
Tanto é assim, que dificilmente iremos nos deparar com a aplicação de medidas cautelares ou utilização de
meios de obtenção de prova. A simplicidade na investigação das infrações de menor potencial ofensivo
reclama pouco ou nenhuma influência do juiz nesta fase, motivo pelo qual não faria sentido haver um juiz das
garantias para tais situações.
LEMBRE-SE: o juiz das garantias é figura criada para evitar que o julgamento da instrução seja contaminado
por determinados elementos que possam surgir na investigação
CPP, Art. 3º-C. A competência do juiz das garantias abrange todas as infrações penais, exceto as de menor
potencial ofensivo, e cessa com o recebimento da denúncia ou queixa na forma do art. 399 deste Código
(Incluído pela Lei n. 13.964, de 2019).
Acordo de não persecução: o Art. 28-A do CPP passou a prever o acordo de não persecução penal. Trata-se
de negócio jurídico extraprocessual submetido a homologação judicial e celebrado pelo MP e o autor do delito,
o qual, estando assistido por seu defensor, confessa e assume o compromisso de cumprir certas condições
não privativas de liberdade em troca do compromisso assumido pelo promotor de pugnar pelo arquivamento
quando estiverem cumpridas todas as condições.
CPP, Art. 28-A. Não sendo caso de arquivamento e tendo o investigado confessado formal e
circunstancialmente a prática de infração penal sem violência ou grave ameaça e com pena mínima inferior a
4 (quatro) anos, o Ministério Público poderá propor acordo de não persecução penal, desde que necessário e
suficiente para reprovação e prevenção do crime, mediante as seguintes condições ajustadas cumulativa e
alternativamente: (Incluído pela Lei n. 13.964, de 2019)
(...)
§2º O disposto no caput deste artigo não se aplica nas seguintes hipóteses:
I – se for cabível transação penal de competência dos Juizados Especiais Criminais, nos termos da lei;
(...)
III – ter sido o agente beneficiado nos 5 (cinco) anos anteriores ao cometimento da infração, em acordo de
não persecução penal, transação penal ou suspensão condicional do processo; e
(...)
LEMBRE-SE: a transação penal tem preferência sobre o acordo de não persecução penal, dado que o próprio
CPP assevera que a celebração do acordo está condicionada ao não cabimento da transação.
Prazo entre os acordos: devemos ter cuidado com o Art. 28-A, §2º, III. Todos os negócios jurídicos que
beneficiam o réu no âmbito penal, trabalham com a noção de crime como um evento isolado na vida de uma
pessoa. Por esta razão, a lei estabelece um prazo mínimo de 5 anos entre a celebração de um acordo de não
persecução e outro.
1. PREVISÃO CONSTITUCIONAL.
Constituição Federal, Art. 98. A União, no Distrito Federal e nos Territórios, e os Estados criarão:
I - juizados especiais, providos por juízes togados, ou togados e leigos, competentes para a conciliação, o
julgamento e a execução de causas cíveis de menor complexidade e infrações penais de menor potencial
ofensivo, mediante os procedimentos oral e sumaríssimo, permitidos, nas hipóteses previstas em lei, a
transação e o julgamento de recursos por turmas de juízes de primeiro grau;
Objeto da competência do JECRIM: ao tratar do JECRIM, a Constituição chama a atenção do intérprete quanto
ao objeto da competência deste juízo (= IMPO → Infrações de Menor Potencial Ofensivo), destacando a
natureza oral e sumaríssima dos procedimentos.
Oralidade nos procedimentos penais: até o advento da Lei 9099/95, os procedimentos criminais eram lentos;
morosos e escritos. Somente em 1995 é que a Lei 9099/95 passou a trabalhar com um procedimento mais
rápido e oral. Após 2008, tais procedimentos de natureza oral passaram a ser trazidos também para o CPP,
seja pela Lei nº 11.719, seja pela Lei nº 11.689/08. Até 2008, portanto, a oralidade estava apenas no JECRIM.
De 2008 para frente, ela passou também para o CPP. A oralidade consegue conferir maior celeridade ao
processo, viabilizando uma maior economia processual e melhor acertamento/apuração do fato delituoso.
Jurisdição consensual: ao falar em transação, a Constituição Federal introduz a ideia de uma Jurisdição
Consensual no âmbito do processo penal.
§1º Lei federal disporá sobre a criação de juizados especiais no âmbito da Justiça Federal.
- A ideia da busca por um consenso no âmbito criminal suscitou dúvidas acerca da constitucionalidade da Lei
9099/95, pois, antes do avento da lei, isso era inconcebível, tendo em vista o objeto indisponível do processo
penal (direito de persecução penal do Estado e direito de locomoção do acusado).
- A validade dos acordos no âmbito criminal reside no fato de que as penas acordadas são penas restritivas de
direito/multa, não havendo transação na qual o objeto seja aplicação de pena privativa de liberdade. Vale
lembrar que, atualmente, até a pena privativa de liberdade passou a ser objeto de negociação, como ocorre
nos casos de colaboração premiada.
JURISPRUDÊNCIA
- O STF não só já reconheceu a constitucionalidade da Lei 9099/95, como também afirmou o seu caráter
retroativo, em virtude da presença de institutos despenalizadores.
(...) A Lei n. 9.099/95, que constitui o estatuto disciplinador dos Juizados Especiais, mais do que a
regulamentação normativa desses órgãos judiciários de primeira instância, importou em expressiva
transformação do panorama penal vigente no Brasil, criando instrumentos destinados a viabilizar,
juridicamente, processos de despenalização, com a inequívoca finalidade de forjar um novo modelo de Justiça
criminal, que privilegie a ampliação do espaço de consenso, valorizando, desse modo, na definição das
controvérsias oriundas do ilícito criminal, a adoção de soluções fundadas na própria vontade dos sujeitos que
integram a relação processual penal. (...)
(...) Esse novíssimo estatuto normativo, ao conferir expressão formal e positiva as premissas ideológicas que
dão suporte as medidas despenalizadoras previstas na Lei n. 9.099/95, atribui, de modo consequente, especial
primazia aos institutos (a) da composição civil (art. 74, parágrafo único), (b) da transação penal (art. 76), (c) da
representação nos delitos de lesões culposas ou dolosas de natureza leve (arts. 88 e 91) e (d) da suspensão
condicional do processo (art. 89). As prescrições que consagram as medidas despenalizadoras em causa
qualificam-se como normas penais benéficas, necessariamente impulsionadas, quanto a sua aplicabilidade,
pelo princípio constitucional que impõe a lex mitior uma insuprimível carga de retroatividade virtual e,
também, de incidência imediata”. (STF, Pleno, Inq. 1.055/ QO/AM, Rel. Min. Celso de Mello, j. 24/04/1996).
Turma Recursal: de nada adiantaria a Constituição Federal e a Lei 9099/95 criarem o JECRIM como forma de
procedimento mais simples e célere, se os recursos caíssem na vala comum dos Tribunais. Por isso, a própria
Constituição determina a criação da Turma Recursal para julgar os recursos do JECRIM. A Turma Recursal é
formada por juízes de 1º grau, podendo eles serem titulares de varas criminais concomitantemente a sua
atuação na Turma.
Lei n. 9.099/95, Art. 62. O processo perante o Juizado Especial orientar-se-á pelos critérios da oralidade,
simplicidade, informalidade, economia processual e celeridade, objetivando, sempre que possível, a reparação
dos danos sofridos pela vítima e a aplicação de pena não privativa de liberdade. (Redação dada pela Lei n.
13.603/18).
A) PRINCÍPIO DA ORALIDADE: deve se dar preferência à palavra falada sobre a escrita, sem que esta seja
excluída.
Exemplo¹.: no JECRIM, a peça acusatória (denúncia ou queixa) pode ser apresentada oralmente ou pode ser
feita por escrito e aditada oralmente quando necessário. Todavia, dada a importância deste tipo de peça,
todas as manifestações feitas oralmente serão reduzidas a termo, constando na ata da audiência.
Lei n. 9.099/95, Art. 77. Na ação penal de iniciativa pública, quando não houver aplicação de pena, pela
ausência do autor do fato, ou pela não ocorrência da hipótese prevista no art. 76 desta Lei, o Ministério Público
oferecerá ao Juiz, de imediato, denúncia oral, se não houver necessidade de diligências imprescindíveis.
a.1. Princípio da concentração: consiste na tentativa de redução do procedimento a uma única audiência,
objetivando encurtar o lapso temporal entre a data do fato e a do julgamento.
- A concentração auxilia no conhecimento jurisdicional do fato a ser julgado, facilitando, por exemplo, a
identificação de eventuais contradições nos depoimentos das testemunhas, fato este que se torna mais difícil
se uma testemunha depõe em um dia e a outra no dia seguinte.
a.2. Princípio do imediatismo: deve o juiz proceder diretamente à colheita de todas as provas, em contato
imediato com as partes.
a.3. Princípio da irrecorribilidade das decisões interlocutórias: pelo menos em regra, as decisões
interlocutórias não são recorríveis. Se coubesse recurso contra as interlocutórias jamais chegaríamos a
concluir a audiência uma de forma célere.
Exemplo.: se o juiz estiver cerceando a defesa ou a acusação, o advogado ou promotor podem arguir tal
matéria em preliminar de apelação.
a.4. Princípio da identidade física do juiz: o juiz que presidir a instrução deverá, pelo menos em regra, proferir
sentença.
- O princípio da identidade física consta também no CPP em seu Art.399, §2º.
B. PRINCÍPIO DA SIMPLICIDADE: procura-se diminuir o quanto possível a massa dos materiais que são
juntados aos autos do processo sem que se prejudique o resultado final da prestação jurisdicional.
RENATO BRASILEIRO (posição minoritária): embora a lei afirme não ser necessária a realização do corpo de
delito para o oferecimento da denúncia, podemos entender que ele não é necessário nem mesmo para a
sentença. Se assim não fosse, o §1º do Art. 77 estaria apenas repetindo algo que o CPP já diz, uma vez que o
Código prevê que, pelo menos em regra, não é necessário exame do corpo de delito para o oferecimento da
denúncia. Em outras palavras, se fosse para seguir a mesma sistemática do CPP, a ratio essendi do Art. 77, §1º
da Lei 9099/95 estaria prejudicada.
§ 1º Para o oferecimento da denúncia, que será elaborada com base no termo de ocorrência referido no art.
69 desta Lei, com dispensa do inquérito policial, prescindir-se-á do exame do corpo de delito quando a
materialidade do crime estiver aferida por boletim médico ou prova equivalente.
- É necessário renunciar ao formalismo e entender que se a forma existe é somente para que determinada
finalidade seja alcançada.
Lei n. 9.099/95, Art. 65. Os atos processuais serão válidos sempre que preencherem as finalidades para as
quais foram realizados, atendidos os critérios indicados no art. 62 desta Lei.
§1º Não se pronunciará qualquer nulidade sem que tenha havido prejuízo.
§2º A prática de atos processuais em outras comarcas poderá ser solicitada por qualquer meio hábil de
comunicação.
§3º Serão objeto de registro escrito exclusivamente os atos havidos por essenciais. Os atos realizados em
audiência de instrução e julgamento poderão ser gravados em fita magnética ou equivalente.
D. PRINCÍPIO DA ECONOMIA PROCESSUAL: entre duas alternativas igualmente válidas, deve se optar pela
menos onerosa às partes e ao próprio Estado;
- A competência dos juizados é baseada não apenas na natureza do delito (= Infração Penal de Menor Potencial
Ofensivo - IMPO), mas também no critério de deslocamento de competência para o juízo comum.
- Existem hipóteses nas quais a despeito de estarmos diante de infrações de menor potencial ofensivo, o
processo e julgamento é deslocado para o Juízo Comum.
- Além do aplicador da norma verificar se o objeto do julgamento é uma infração de menor potencial ofensivo,
deve analisar se estão presentes uma das 03 possíveis causas que deslocam a competência para o Juízo
Comum.
b.1. Conexão e continência: conexão e continência são causas modificativas da competência. Ambas sujeitam
determinados crimes à força atrativa de um único juízo, fato este que promove a reunião dos processos para
o julgamento conjunto.
Exemplo.: imagine a existência de um crime de homicídio (júri) e outro de desacato (IMPO – Jecrim). Imagine,
ainda, que o homicídio tenha sido praticado em conexão ou continência com o crime de desacato, pois o
agente, além de matar uma pessoa, desacata o policial no momento da prisão. Diante desta conexão, impõe-
se que o desacato seja processado e julgado pelo júri. A despeito disso, a lei determina que, mesmo no júri,
continuam sendo cabíveis os institutos despenalizadores no que toca a infração de menor potencial ofensivo,
desde que preenchidos todos os requisitos.
Lei 9.099/95, Art. 60. O Juizado Especial Criminal, provido por juízes togados ou togados e leigos, tem
competência para a conciliação, o julgamento e a execução das infrações penais de menor potencial ofensivo,
respeitadas as regras de conexão e continência. (Redação dada pela Lei nº 11.313, de 2006)
Parágrafo único. Na reunião de processos, perante o juízo comum ou o tribunal do júri, decorrentes
da aplicação das regras de conexão e continência, observar-se-ão os institutos da transação penal e da
composição dos danos civis. (Incluído pela Lei nº 11.313, de 2006)
REGRA: a citação deve ser pessoal, na secretaria do próprio juizado ou por meio de mandado, quando
necessário.
- Em homenagem aos princípios da celeridade e simplicidade, não cabe citação por edital do indivíduo não
encontrado, devendo o juiz encaminhar as peças existentes para o juízo comum.
Obs¹.: quando o juízo comum receber as peças do JECRIM e julgar o fato atrelado a IMPO, eventual apelação
interposta será julgada pelo Tribunal de Justiça (TJ), dado que a competência recursal é definida pela natureza
do órgão julgador (= juízo comum) e não pela natureza da infração.
Obs².: se o acusado for citado por edital no juízo comum e comparecer ao processo, os autos não voltarão
para o JECRIM (“processo não tem mola, não é pingue-ponge. É marcha para frente”).
Lei 9.099/95, Art. 66. A citação será pessoal e far-se-á no próprio Juizado, sempre que possível, ou por
mandado.
Parágrafo único. Não encontrado o acusado para ser citado, o Juiz encaminhará as peças existentes ao Juízo
comum para adoção do procedimento previsto em lei.
b.3. Complexidade da causa: a complexidade da causa também autoriza a remessa dos autos para o juízo
comum.
DOUTRINA: a complexidade da causa pode ser identificada com a (i) pluralidade de acusados ou com (ii) a
natureza complexa da prova pericial.
Lei 9.099/95, Art. 77 (...)
1ª CORRENTE: a competência do JECRIM é absoluta. Trabalha-se com a ideia de que a competência dos
juizados está presente na Constituição Federal tal como toda competência absoluta. Nesse sentido, ver: Ada
Pelegrini, Badaró, Mirabete → doutrina tradicional.
2ª CORRENTE: a competência absoluta tem como principal característica o fato dela ser imodificável. Logo, se
a própria Lei dos Juizados prevê causas de mudança de sua competência, é porque não se trata de
competência absoluta, mas sim relativa. Não interessa onde o indivíduo está sendo julgado, mas sim se foram
negociados com o réu os chamados institutos despenalizadores. Nesse sentido, ver: Eugenio Pacelli, Renato
Brasileiro e outros.
- O conceito de infração de menor potencial ofensivo sofreu mudanças ao longo dos anos: uma em 1995; outra
em 2001 (Lei 10.259) e, por fim, outro com Lei 11.340 (Lei Maria da Penha).
Art. 61. Consideram-se infrações penais de menor potencial ofensivo, para os efeitos desta Lei, as
contravenções penais e os crimes a que a lei comine pena máxima não superior a um ano, excetuados os
casos em que a lei preveja procedimento especial.
- Na redação original, o critério da pena máxima era o critério de 1 ano. E, além disso, a lei excetuava os
procedimentos especiais.
Lei 10.259/01 (JEF), Art. 2º Compete ao Juizado Especial Federal Criminal processar e julgar os feitos de
competência da Justiça Federal relativos às infrações de menor potencial ofensivo.
Parágrafo único. Consideram-se infrações de menor potencial ofensivo, para os efeitos desta Lei, os crimes a
que a lei comine pena máxima não superior a dois anos, ou multa.
- Ao contrário da Lei 9099/95, que trabalhava com um critério de 1 (um) ano, a Lei do JEF estabeleceu 2 (dois)
anos como critério. Não bastasse isso, ela também não ressalvou nada no que toca aos procedimentos
especiais.
- Mesmo com o silêncio da lei, podemos afirmar que haverá infração de menor potencial ofensivo
independentemente dela estar sujeita a procedimento especial ou não. Outro detalhe interessante é que a lei
antepõe a conjunção OU a palavra multa, motivo pelo qual muitos sustentavam que se a multa viesse de
maneira cumulativa, não teríamos uma IMPO. Diante desse impasse, surgiram dois sistemas à época:
A. SISTEMA UNITÁRIO
B. SISTEMA BIPARTIDO
- Dois conceitos distintos de IMPO: (i) JECRIM estadual (Lei 9099/95) e (ii) JECRIM federal (Lei 10.259/01).
RENATO BRASILEIRO: não faz sentido trabalharmos com dois conceitos diversos de infração de menor
potencial ofensivo, pois isso poderia gerar distorções, como no caso do crime de desacato. Nesse sentido, se
um indivíduo desacatasse um policial rodoviário federal, ele seria julgado pelo JECRIM federal, tendo direito
a todos os institutos despenalizadores, ao passo que se o mesmo desacato fosse praticado contra um policial
civil ou militar, o fato do crime ser de competência estadual faria com que o delito não fosse processado pelo
JECRIM em razão da pena máxima ser superior a 1 (um) ano. Logo, não há nenhum critério razoável para que
o discriminem apresentado por parte da doutrina seja válido, havendo, portanto, verdadeira violação ao
princípio da isonomia. Diante disso, acabou por prevalecer à época o chamado sistema unitário, no qual havia
um único conceito de IMPO, que é o da Lei 10.259/01.
DOUTRINA: o Art. 2º, parágrafo único da Lei 10.259/01 revogou tacitamente o Art. 61 da Lei 9099/95 em sua
redação original.
- A Lei 11.313/06 vem alterar o Art. 61 da Lei 9099/95 para colocar fim a controvérsia acima exposta, elevando-
se o patamar para 2 (dois) anos - à semelhança da Lei 10.259/01 - e asseverando que poderia haver cumulação
ou não com multa. Além disso, a nova redação do Art. 61 nada diz acerca dos procedimentos especiais.
- Hoje, sujeito ou não a procedimento especial, se o crime tiver pena máxima não superior a 2 (dois) anos, há
infração de menor potencial ofensivo.
ATENÇÃO: a maioria dos crimes da nova Lei de Abuso de Autoridade possuem pena de 6 meses a 2 anos,
constituindo-se em ótimos exemplos de IMPO.
Lei n. 9.099/95, Art. 61. Consideram-se infrações penais de menor potencial ofensivo, para os efeitos desta
Lei, as contravenções penais e os crimes a que a lei comine pena máxima não superior a 2 (dois) anos,
cumulada ou não com multa (sujeitos ou não a procedimentos especiais). (Redação dada pela Lei nº 11.313,
de 2006)
Infração de menor potencial ofensivo: contravenções e crimes com pena máxima não superior a 2 anos,
cumulada ou não com multa, submetidos ou não a procedimento especial, ressalvadas as hipóteses praticadas
no contexto da violência doméstica e familiar contra a mulher;
Art. 41, Lei 11.340/06. Aos crimes praticados com violência doméstica e familiar contra a mulher,
independentemente da pena prevista, não se aplica a Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995.
- O Art. 41 deve ser incorporado ao conceito de IMPO, visto que ele já foi declarado constitucional pelo STF.
Médio potencial ofensivo: trata-se de terminologia cunhada pela doutrina para tratar das infrações que
admitem suspensão condicional do processo (pena mínima igual ou inferior a 1 ano).
Máximo potencial ofensivo: são as infrações que não admitem suspensão condicional do processo.
4.2. ESTATUTO DO IDOSO (LEI 10.741/03)
Lei n. 10.741/03, Art. 94. Aos crimes previstos nesta Lei, cuja pena máxima privativa de liberdade não
ultrapasse 4 (quatro) anos, aplica-se o procedimento previsto na Lei no 9.099, de 26 de setembro de
1995, e, subsidiariamente, no que couber, as disposições do Código Penal e do Código de Processo Penal. (Vide
ADI 3.096-5 - STF).
- Quando o Estatuto do Idoso surgiu, houve quem dissesse que o Art. 94 teria introduzido um novo conceito
de infração de menor potencial ofensivo. Todavia, o Estatuto do Idoso foi concebido como forma de tutelar o
idoso, sendo no mínimo incoerente o seu uso para favorecer o agente que pratica condutas que colocam o
idoso na condição de vítima. Daí se conclui que o Art. 94 jamais teve a intenção de criar um novo conceito de
IMPO. O Estatuto apenas pretendeu conferir aplicabilidade do procedimento sumaríssimo previsto na Lei
9099/99 aos crimes nele previstos cuja pena máxima não ultrapasse 4 anos. Este é o posicionamento do
próprio STF no julgamento da ADI 3096. Segundo a Corte, a intenção do legislador é tonar mais célere o
procedimento, tendo em vista a maior probabilidade do idoso que foi vítima do crime vir a falecer. Deseja o
legislador que o idoso tenha a oportunidade de assistir ao resultado final do julgamento, o que talvez não
fosse possível se outro procedimento fosse utilizado.
ATENÇÃO: diversamente da Lei Maria da Penha, a Lei 10.741/03 não veda a aplicação da Lei 9.099/95, sendo
perfeitamente possível que um crime previsto no Estatuto do Idoso seja processado e julgado no JECRIM,
desde que sua pena máxima não ultrapasse 2 anos.
Os crimes do Estatuto do Idoso cuja pena máxima não ultrapasse 4 (quatro) anos serão encaminhados para
o juízo comum, mas seguiram o procedimento sumaríssimo previsto na Lei 9099/95.
- Se a pena máxima do crime previsto no Estatuto do Idoso ultrapassar 4 anos, o processo e julgamento será
no juízo comum, com uso do procedimento ordinário.
Regra da contemporaneidade: se o crime for praticado durante o exercício funcional e em razão das funções,
o detentor de foro por prerrogativa será julgado pelo respectivo Tribunal (STF, STJ, TRF), sem prejuízo da
aplicação da Lei 9.099/95.
4.4. CRIMES ELEITORAIS.
- Aplica-se a Lei 9099/95 aos crimes eleitorais, salvo quando houver sistema punitivo especial, como no caso
da cassação de registro. Não podemos esquecer que apenas estão sujeitos a negociação as penas de multa e
as restritivas de direito.
CE, Art. 334. Utilizar organização comercial de vendas, distribuição de mercadorias, prêmios e sorteios para
propaganda ou aliciamento de eleitores:
Pena - detenção de seis meses a um ano e cassação do registro se o responsável for candidato.
CONCEITO: os instrumentos de menor potencial ofensivo não instrumentos não letais, que devem ser usados
de maneira prioritária pelos órgãos de segurança pública.
Lei n. 13.060 (vigência em 23/12/2014), Art. 4º Para os efeitos desta Lei, consideram-se instrumentos de
menor potencial ofensivo aqueles projetados especificamente para, com baixa probabilidade de causar
mortes ou lesões permanentes, conter, debilitar ou incapacitar temporariamente pessoas.
Lei n. 13.060/14, Art. 2º Os órgãos de segurança pública deverão priorizar a utilização dos instrumentos de
menor potencial ofensivo, desde que o seu uso não coloque em risco a integridade física ou psíquica dos
policiais, e deverão obedecer aos seguintes princípios:
I - legalidade;
II - necessidade;
Lei n. 13.060/14 Art. 2º (...) Parágrafo único. Não é legítimo o uso de arma de fogo: I - contra pessoa em fuga
que esteja desarmada ou que não represente risco imediato de morte ou de lesão aos agentes de segurança
pública ou a terceiros; e II - contra veículo que desrespeite bloqueio policial em via pública, exceto quando o
ato represente risco de morte ou lesão aos agentes de segurança pública ou a terceiros.
- A violência doméstica e familiar contra a mulher tem como pressuposto o sujeito passivo “mulher”, devendo
a violência ser uma daquelas previstas no Art. 7º. Essa violência deve ser praticada em um dos contextos do
Art. 5º, I, II e III (no âmbito da unidade doméstica, no âmbito da unidade familiar ou em qualquer relação
íntima de afeto). Nestes casos, não se aplica o disposto na Lei 9099/95, nem no que se refere aos crimes e
nem quanto as contravenções (ex.: vias de fato – marido chega em casa e dá um empurrão na esposa).
Lei 11.340/06, Art. 41. Aos crimes praticados com violência doméstica e familiar contra a mulher,
independentemente da pena prevista, não se aplica a Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995.
Lei 11.340/06, Art. 5º Para os efeitos desta Lei, configura violência doméstica e familiar contra a mulher
qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou
psicológico e dano moral ou patrimonial:
I - no âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço de convívio permanente de pessoas, com
ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente agregadas;
Art. 5º (...)
II - no âmbito da família, compreendida como a comunidade formada por indivíduos que são ou se consideram
aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade expressa;
III - em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida,
independentemente de coabitação.
Parágrafo único. As relações pessoais enunciadas neste artigo independem de orientação sexual.
Art. 7º São formas de violência doméstica e familiar contra a mulher, entre outras:
I - a violência física, entendida como qualquer conduta que ofenda sua integridade ou saúde corporal;
Art. 7º (...)
II - a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe cause dano emocional e diminuição da
autoestima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas
ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação,
isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem, ridicularização, exploração e
limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à
autodeterminação;
Art. 7º (...)
III - a violência sexual, entendida como qualquer conduta que a constranja a presenciar, a manter ou a
participar de relação sexual não desejada, mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da força; que a
induza a comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, que a impeça de usar qualquer
método contraceptivo ou que a force ao matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à prostituição, mediante
coação, chantagem, suborno ou manipulação; ou que limite ou anule o exercício de seus direitos sexuais e
reprodutivos;
Art. 7º (...)
IV - a violência patrimonial, entendida como qualquer conduta que configure retenção, subtração, destruição
parcial ou total de seus objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou
recursos econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades;
Art. 7º (...)
V - a violência moral, entendida como qualquer conduta que configure calúnia, difamação ou injúria
JURISPRUDÊNCIA
STF: “(...) AÇÃO PENAL – VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA A MULHER – LESÃO CORPORAL – NATUREZA. A ação
penal relativa a lesão corporal resultante de violência doméstica contra a mulher é pública incondicionada –
considerações”. (STF, Pleno, ADI 4.424/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 09/02/2012).
- O STF referendou a aplicação do Art. 41 da Lei Maria da Penha, reconhecendo que não se aplica o
procedimento da Lei 9099/95 aos autores de violência doméstica, inclusive a suspensão condicional do
processo e a transação.
STF: “(...) VIOLÊNCIA DOMÉSTICA – LEI Nº 11.340/06 – GÊNEROS MASCULINO E FEMININO – TRATAMENTO
DIFERENCIADO. O artigo 1º da Lei nº 11.340/06 surge, sob o ângulo do tratamento diferenciado entre os
gêneros – mulher e homem –, harmônica com a Constituição Federal, no que necessária a proteção ante as
peculiaridades física e moral da mulher e a cultura brasileira. COMPETÊNCIA – VIOLÊNCIA DOMÉSTICA – LEI
Nº 11.340/06 – JUIZADOS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER. O artigo 33 da Lei nº
11.340/06, no que revela a conveniência de criação dos juizados de violência doméstica e familiar contra a
mulher, não implica usurpação da competência normativa dos estados quanto à própria organização
judiciária. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER – REGÊNCIA – LEI Nº 9.099/95 –
AFASTAMENTO. O artigo 41 da Lei nº 11.340/06, a afastar, nos crimes de violência doméstica contra a
mulher, a Lei nº 9.099/95, mostra-se em consonância com o disposto no § 8º do artigo 226 da Carta da
República, a prever a obrigatoriedade de o Estado adotar mecanismos que coíbam a violência no âmbito
das relações familiares”. (STF, Pleno, ADC 19/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 09/02/2012).
Súmula 536 do STJ: “A suspensão condicional do processo e a transação penal não se aplicam na hipótese de
delitos sujeitos ao rito da Lei Maria da Penha”. Terceira Seção, aprovada em 10/6/2015, DJe 15/6/2015.
Súmula n. 542 do STJ: “A ação penal relativa ao crime de lesão corporal resultante de violência doméstica e
familiar contra a mulher é pública incondicionada”;
4.6.1. JUIZADOS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER
- A violência doméstica e familiar contra a mulher demanda uma certa especialização do Poder Judiciário. Por
isso é que a própria Lei Maria da Penha passou a prever os juizados de violência doméstica e familiar contra a
mulher, que podem ser criados pelos estados. Frise-se, porém, que os juizados de violência doméstica não
têm natureza de juizado especial criminal, mas sim de vara especializada. Assim, tal como existem varas de
drogas e varas de crimes de trânsito, os estados podem criar varas especializadas para julgar a violência
doméstica e familiar. Enquanto tais varas não forem criadas e estruturadas pelos estados, a competência para
conhecer das causas cíveis e criminais relacionadas a violência doméstica contra a mulher será da justiça
criminal.
Lei 11.340/06, Art. 14. Os Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, órgãos da Justiça
Ordinária com competência cível e criminal, poderão ser criados pela União, no Distrito
Federal e nos Territórios, e pelos Estados, para o processo, o julgamento e a execução das causas decorrentes
da prática de violência doméstica e familiar contra a mulher.
Parágrafo único. Os atos processuais poderão realizar-se em horário noturno, conforme dispuserem as
normas de organização judiciária.
Art. 33. Enquanto não estruturados os Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, as varas
criminais acumularão as competências cível e criminal para conhecer e julgar as causas decorrentes da prática
de violência doméstica e familiar contra a mulher, observadas as previsões do Título IV desta Lei, subsidiada
pela legislação processual pertinente.
Parágrafo único. Será garantido o direito de preferência, nas varas criminais, para o processo e o julgamento
das causas referidas no caput.
PROBLEMA: no DF, uma Resolução do TJ-DF aplicou o Art. 33 e determinou que os casos que tratassem de
violência doméstica fossem encaminhados para o JECRIM sob o argumento de que se trata de vara criminal.
A grande questão é que com essa determinação, o JECRIM teve que passar a analisar duas situações
totalmente diversas:
(i) se o caso for de IMPO, há aplicabilidade da Lei 9099/95 com todos os seus institutos despenalizadores, de
modo que eventuais recursos interpostos seriam julgados pela Turma Recursal;
(ii) se o caso fosse de violência doméstica e familiar contra a mulher (Lei Maria da Penha), não se pode aplicar
a Lei 9099/95 e, não obstante, o juízo ad quem para o recurso contra as decisões é o próprio Tribunal (TJDFT),
tendo em vista que, neste caso, o JECRM atua como se fosse uma vara comum. Esse é o posicionamento do
STJ.
5. APLICAÇÃO DA LEI 9.099/95 NA JUSTIÇA MILITAR
- Passados alguns anos, a Lei 9.839/99 incluiu o Art. 90-A na Lei 9099/95, cujo texto determina o não cabimento
do procedimento e demais institutos aplicáveis aos juizados para a Justiça Militar.
ATENÇÃO: a Lei 9839/99 é lei gravior, pois retira a possibilidade de aplicação da Lei 9099/95 à Justiça Militar,
privando o acusado na Justiça Militar de se valer dos institutos despenalizadores. Trata-se, portanto, de lei
irretroativa. Assim, se o crime foi praticado antes da vigência da Lei 9.839/99, continua sendo cabível, pelo
menos em tese, a aplicação da Lei dos Juizados Especiais.
Constitucionalidade do Art. 90-A: o STF ainda não tem uma decisão definitiva sobre o assunto. Todavia, vale
a pena a leitura do HC 99.743, onde três ministros da Corte (Fux, Celso de Mello e Ayres Brito) discutiram se
haveria algum critério razoável capaz de justificar a não aplicação da Lei 9099/95 no âmbito da Justiça Militar.
Concluíram os ministros que o Art. 90-A se revela constitucional quando relacionado aos militares, pois não
faz sentido aplicar a Lei dos Juizados para crimes militares cometidos por militares. Todavia, ainda em sede de
obter dictum, afirmaram que Art. 90-A se revela inconstitucional quando o autor do crime militar for um civil.
Isso tem muita relevância em estados como o Rio de Janeiro, onde a grande atuação das forças armadas faz
com que muitos civis sejam julgados pela Justiça Militar da União. Exemplo nesse sentido são os desacatos
cometidos pelos civis que moram nas favelas onde os militares cumprem sua função de garantir a lei e a
ordem.
Lei 9.099/95, Art. 90-A. As disposições desta Lei não se aplicam no âmbito da Justiça Militar. (Artigo
incluído pela Lei nº 9.839, de 27.9.1999)
6. COMPETÊNCIA TERRITORIAL
CPP JECRIM
O critério que define a competência territorial é o O critério que define a competência territorial é o
local da consumação do delito ou do último ato de lugar onde foi praticada a infração penal.
execução.
CPP, Art. 70. A competência será, de regra, determinada pelo lugar em que se consumar a infração, ou, no
caso de tentativa, pelo lugar em que for praticado o último ato de execução.
Lei 9.099/95, Art. 63. A competência do Juizado será determinada pelo lugar em que foi praticada a infração
penal.
DOUTRINA: discute-se se o uso do termo “praticada” equivaleria a consumação ou, adotando-se uma posição
mista, se poderíamos dizer que pode ser tanto o local da conduta quanto o da consumação. Prevalece,
contudo, que o JECRIM adotou a teoria da conduta (ação ou omissão).
DICA (prova objetiva): convém não adentrar na discussão doutrinária e seguir a orientação de que a
competência territorial define-se pelo local onde a conduta foi perpetrada em virtude da facilidade para
colheita de provas.
7. TERMO CIRCUNSTANCIADO.
CONCEITO: trata-se de um relatório sumário da infração de menor potencial ofensivo, contendo: (i)
identificação das partes envolvidas; (ii) menção à infração praticada; (iii) dados básicos e fundamentais que
possibilitem a perfeita individualização dos fatos e (iii) indicação das provas, visando à formação da opinio
delicti pelo titular da ação penal.
- Como regra, portanto, o inquérito policial é dispensável quando se trata de IMPO. As exceções ficam por
conta da análise do caso concreto. Assim, havendo uma IMPO praticada por 50 pessoas, pode ser difícil
restringir a investigação a lavratura de um único TCO.
Lei 9.099/95, Art. 69. A autoridade policial que tomar conhecimento da ocorrência lavrará termo
circunstanciado e o encaminhará imediatamente ao Juizado, com o autor do fato e a vítima, providenciando-
se as requisições dos exames periciais necessários.
RENATO BRASILEIRO: a autoridade policial referida no Art. 69 não abarca apenas as policias que exercem a
função de polícia judiciária (civil e federal), mas também a polícia militar, em homenagem aos critérios da
simplicidade e da celeridade. O problema aqui é do ponto de vista prático, pois nenhuma das instituições
deseja conferir poder a outra. Daí ser comum posicionamentos da polícia civil e federal discordando do fato
da polícia militar também lavrar o TCO. Argumenta-se que ainda que simples, o TCO é um procedimento
investigatório e, como tal, só pode ser lavrado por um órgão policial que detenha as funções de polícia
judiciária. O STF acompanha este último posicionamento.
- Por ocasião do julgamento da ADI 3.614, concluiu a Suprema Corte que a lavratura de termos
circunstanciados pela Polícia Militar caracteriza hipótese de usurpação de atribuições exclusivas da Polícia
Judiciária, seja ela a Polícia Civil, seja ela a Polícia Federal. (STF, Pleno, ADI 3.614/PR, Rel. Min. Cármen Lúcia,
j. 20/09/2007, DJe 147 22/11/2007). Com entendimento semelhante: STF, 1ª Turma, RE 702.617 AgR/AM, Rel.
Min. Luiz Fux, j. 26/02/2013, DJe 54 20/03/2013.
Art. 69 (...)
Parágrafo único. Ao autor do fato que, após a lavratura do termo, for imediatamente encaminhado ao juizado
ou assumir o compromisso de a ele comparecer, não se imporá prisão em flagrante, nem se exigirá fiança. Em
caso de violência doméstica, o juiz poderá determinar, como medida de cautela, seu afastamento do lar,
domicílio ou local de convivência com a vítima*. (Redação dada pela Lei nº 10.455, de 13.5.2002)
* DOUTRINA: a parte final do Art. 69 da Lei 9099/95 foi tacitamente revogada pela Lei Maria da Penha.
• Embora não seja possível a prisão em flagrante no caso de IMPO, isso não significa que a autoridade
nada pode fazer. Senão vejamos:
CAPTURA: nos termos do Art. 302 do CPP, pode ser realizada a captura do cidadão que se encontra em
flagrante delito, inclusive com o emprego de força moderada se houver resistência por parte dele.
CONDUÇÃO COERCITIVA: como a Polícia Militar não pode lavrar TC, o cidadão deverá ser conduzido
coercitivamente até a Delegacia, onde o TC será lavrado no lugar do APF. Por isso, quando a lei diz que “não
se imporá prisão em flagrante”, entende-se que não é dado a polícia lavrar o APF e não que a captura e a
condução estão proibidas para fins de lavratura do termo circunstanciado.
- Uma vez lavrado o TC, o cidadão poderá sair livre da Delegacia, desde que ele seja encaminhado de imediato
ou assuma o compromisso de comparecer. Se, contudo, o indivíduo não assumir o compromisso de
comparecer, o Delegado de polícia poderá lavrar o APF no lugar do TC. Mesmo assim, é possível que o
indivíduo não permaneça preso, já que a autoridade pode arbitrar fiança e, havendo pagamento, a pessoa é
colocada em liberdade (Art. 322, CPP).
- No JECRIM, existe uma fase preliminar e uma fase judicial propriamente dita. A fase preliminar visa evitar a
fase judicial, o que pode se dar através de, pelo menos, dois mecanismos: (i) composição civil e (ii) transação
penal.
Lei 9.099/95, Art. 72. Na audiência preliminar, presente o representante do Ministério Público, o autor do fato
e a vítima e, se possível, o responsável civil, acompanhados por seus advogados, o Juiz esclarecerá sobre a
possibilidade da composição dos danos e da aceitação da proposta de aplicação imediata de pena não
privativa de liberdade.
Lei 9.099/95, Art. 74. A composição dos danos civis será reduzida a escrito e, homologada pelo Juiz mediante
sentença irrecorrível, terá eficácia de título a ser executado no juízo civil competente.
Parágrafo único. Tratando-se de ação penal de iniciativa privada ou de ação penal pública condicionada à
representação, o acordo homologado acarreta a renúncia ao direito de queixa ou representação.
Exemplo.: se alguém arranha o carro de outra pessoa com um prego, há crime de dano que configura IMPO.
Sendo o caso encaminhado para o JECRIM, o autor do delito e a vítima podem celebrar um acordo na presença
de seus advogados com vistas a recompor o dano causado. Vale anotar que o dano civil pode ser de qualquer
espécie.
- Como o crime de dano é de ação penal privada, a vítima que anui ao acordo renuncia, automaticamente, ao
direito de queixa.
- A composição dos danos civis pode ser feita nos crimes de ação privada, tendo como consequência a renúncia
ao direito de queixa.
CONSEQUÊNCIAS DA COMPOSIÇÃO:
Obs¹.: não se pode confundir o disposto no Código Penal com o que consta da Lei dos Juizados, pois, pelo CP,
o recebimento de dinheiro não é sinônimo de renúncia do direito de queixa, ao passo que a Lei 9099/95, em
seu Art. 74, parágrafo único prevê que a mera homologação do acordo já é sinônimo de renúncia ao direito
de queixa.
Se a vítima fez o acordo e este foi homologado, opera-se a renúncia automática à queixa ou à
representação. O não pagamento do título é problema que será resolvido na jurisdição civil, jamais tendo o
condão de restaurar o direito de queixa ou representação.
CP, Art. 104 - O direito de queixa não pode ser exercido quando renunciado expressa ou
tacitamente. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
Parágrafo único - Importa renúncia tácita ao direito de queixa a prática de ato incompatível com a vontade de
exercê-lo; não a implica, todavia, o fato de receber o ofendido a indenização do dano causado pelo crime.
CP, Art. 107 - Extingue-se a punibilidade: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
(...)
V - pela renúncia do direito de queixa ou pelo perdão aceito, nos crimes de ação privada;
Arrependimento posterior:
CP, Art. 16 - Nos crimes cometidos sem violência ou grave ameaça à pessoa, reparado o dano ou restituída a
coisa, até o recebimento da denúncia ou da queixa, por ato voluntário do agente, a pena será reduzida de um
a dois terços. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984).
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL
Renato Brasileiro
Aula 06
JECRIM II
ROTEIRO DE AULA
PREVISÃO CONSTITUCIONAL.
6. COMPETÊNCIA TERRITORIAL.
7. TERMO CIRCUNSTANCIADO.
1
- Existem duas fases no Juizado: (a) Preliminar e (b) Judicial.
Lei 9.099/95, Art. 72. Na audiência preliminar, presente o representante do Ministério Público, o autor do fato
e a vítima e, se possível, o responsável civil, acompanhados por seus advogados, o Juiz esclarecerá sobre a
possibilidade da composição dos danos e da aceitação da proposta de aplicação imediata de pena não
privativa de liberdade (= transação penal).
- A representação é uma condição de procedibilidade em relação a certos crimes. O melhor exemplo de crime
que depende de representação é o estelionato.
Lei 9099/95, Art. 75. Não obtida a composição dos danos civis, será dada imediatamente ao ofendido a
oportunidade de exercer o direito de representação verbal, que será reduzida a termo.
Parágrafo único. O não oferecimento da representação na audiência preliminar não implica decadência do
direito, que poderá ser exercido no prazo previsto em lei.
OBS¹.: nos casos em que não há acordo, o momento adequado para o oferecimento da representação é a
audiência preliminar. Se o ofendido estiver ausente na audiência, não podemos reaproveitar uma
representação feita na polícia (doutrina majoritária). Isso, porque a representação deve ser feita,
obrigatoriamente, na audiência.
RENATO BRASILEIRO: se no CPP, que é muito mais formalista, podemos reaproveitar a representação feita na
polícia, não há porque não aceita-la no JECRIM, onde prevalece a informalidade e a simplicidade. Além disso,
se não reaproveitarmos a representação é bem provável que se opere a decadência, tendo em conta a demora
para que a audiência ocorra.
2
OBS².: se o ofendido estiver ausente e não tiver havido representação em nenhum momento anterior, isso
não implica em extinção da punibilidade (vide parágrafo único). Ausente o ofendido, a decadência opera-se
apenas depois de 6 meses, contados estes do conhecimento da autoria (mesma ideia do Art. 38 do CPP).
ATENÇÃO: o prazo previsto em lei é o de 6 meses contido na regra geral do Art. 38, CPP e não o de dia 30 dias
previsto no Art. 91 da Lei 9099/95.
CONCEITO: trata-se de acordo celebrado entre o titular da ação penal e o autor do fato delituoso, assistido
por seu defensor, objetivando a aplicação imediata de pena restritiva de direitos ou de multa (penas não
privativas de liberdade).
- A transação representa aquilo que a doutrina convencionou chamar de princípio da oportunidade (ou
discricionariedade regrada), o qual substitui a ideia de obrigatoriedade da ação penal nestes casos.
- A ideia de consenso e de acordo é cada vez mais presente no âmbito processual penal.
- A transação penal não gera, por si só, efeitos penais e nem civis. Ou seja, o fato de o indivíduo ter celebrado
o acordo faz com que ele continue ostentando a qualidade de réu primário e com bons antecedentes. O único
efeito concreto decorrente do acordo nestes casos é a impossibilidade de novo acordo de transação penal ou
de não persecução penal nos próximos 5 anos.
Lei 9099/95, Art. 76. Havendo representação ou tratando-se de crime de ação penal pública incondicionada,
não sendo caso de arquivamento, o Ministério Público poderá propor a aplicação imediata de pena restritiva
de direitos ou multas, a ser especificada na proposta.
§1º Nas hipóteses de ser a pena de multa a única aplicável, o Juiz poderá reduzi-la até a metade.
I - ter sido o autor da infração condenado, pela prática de crime, à pena privativa de liberdade, por sentença
definitiva;
3
II - ter sido o agente beneficiado anteriormente, no prazo de cinco anos, pela aplicação de pena restritiva ou
multa, nos termos deste artigo;
III - não indicarem os antecedentes, a conduta social e a personalidade do agente, bem como os motivos e as
circunstâncias, ser necessária e suficiente a adoção da medida.
§ 3º Aceita a proposta pelo autor da infração e seu defensor, será submetida à apreciação do Juiz.
§ 4º Acolhendo a proposta do Ministério Público aceita pelo autor da infração, o Juiz aplicará a pena restritiva
de direitos ou multa, que não importará em reincidência, sendo registrada apenas para impedir novamente o
mesmo benefício no prazo de cinco anos (ver Art. 28—A, §2º, III, CPP).
§ 5º Da sentença prevista no parágrafo anterior caberá a apelação referida no art. 82 desta Lei.
§ 6º A imposição da sanção de que trata o § 4º deste artigo não constará de certidão de antecedentes
criminais, salvo para os fins previstos no mesmo dispositivo, e não terá efeitos civis, cabendo aos interessados
propor ação cabível no juízo cível.
- Ao aceitar o acordo, o indivíduo não está sequer assumindo culpa, não estando automaticamente obrigado
a reparar eventuais dano na seara cível.
11.1. REQUISITOS.
Infração de menor potencial ofensivo: contravenções e crimes com pena máxima não superior a dois anos,
cumulados ou não com multa, sujeitos ou não a procedimento especial, ressalvadas as hipóteses de violência
doméstica contra a mulher.
Súmula 536 do STJ: “A suspensão condicional do processo e a transação penal não se aplicam na hipótese de
delitos sujeitos ao rito da Lei Maria da Penha”. Terceira Seção, aprovada em 10/6/2015, DJe 15/6/2015.
4
- Só se deve celebrar o acordo quando verificar-se a viabilidade da denúncia, isto é, quando não está claro que
se trata de caso de arquivamento.
Exemplo.: termo circunstanciado por perturbação da ordem formulado contra a dona de uma chácara que
alugou o imóvel para um grupo de jovens que realizou uma festa barulhenta. Neste caso, é muito provável
que o caso seja de arquivamento, motivo pelo qual o mais razoável seria o promotor ter ordenado tal
providência e remetido o caso para a instância de revisão ministerial e não propor transação penal. O grande
problema é que a transação virou algo costumeiro no âmbito do JECRIM, mesmo quando ela não seria
estritamente necessária.
C. NÃO TER SIDO O AUTOR DA INFRAÇÃO CONDENADO, PELA PRÁTICA DE CRIME, À PENA PRIVATIVA DE
LIBERDADE, POR SENTENÇA DEFINITIVA;
- A condenação deve ser pela prática de crime e não por contravenção penal.
- A condenação pela prática de crime não pode ser em pena de multa ou restritiva de direitos.
D. NÃO TER SIDO O AGENTE BENEFICIADO ANTERIORMENTE, NO PRAZO DE 5 ANOS, PELA TRANSAÇÃO
PENAL;
- Uma vez visualizado que a transação não é necessária e suficiente em vista da análise das circunstâncias
judiciais elencadas acima, é possível negar a celebração do acordo.
Lei n. 9.605/98, Art. 27. Nos crimes ambientais de menor potencial ofensivo, a proposta de aplicação imediata
de pena restritiva de direitos ou multa, prevista no art. 76 da Lei n. 9.099/95, somente poderá ser formulada
desde que tenha havido a prévia composição do dano ambiental, de que trata o art. 74 da mesma lei, salvo
em caso de comprovada impossibilidade.
5
- Em crimes ambientais, deve haver a prévia composição.
- A transação penal NÃO é um direito subjetivo do acusado, pois, se assim, fosse, ela poderia ser concedida de
ofício pelo juiz, mesmo contra a vontade do titular da ação penal. Não há como realizar o acordo se uma das
partes (no caso o MP) não concordar. A transação encontra-se no plano da discricionariedade do titular da
ação penal.
- Se o promotor não oferecer a proposta e o juiz entender que a proposta é devida, ele remeterá o caso ao
procurador geral, pois a última palavra quanto a celebração do acordo cabe sempre ao MP.
Súmula 696 do STF: “Reunidos os pressupostos legais permissivos da suspensão condicional do processo, mas
se recusando o Promotor de Justiça a propô-la, o Juiz, dissentindo, remeterá a questão ao Procurador-Geral,
aplicando-se por analogia o art. 28 do Código de Processo Penal”.
LEMBRE-SE: o Art. 28 do CPP vem citado na súmula em sua redação antiga; antes do pacote anticrime. Na
redação antiga, havia um controle judicial do arquivamento. Hoje, não há mais tal controle, cabendo ao
promotor determinar o arquivamento e, em seguida, remeter para a instância ministerial.
- Apesar do juiz ter sido retirado do Art. 28, ele ainda continua autorizado a aplicar o dispositivo por analogia.
Isso, porque quando há discordância entre promotor e juiz, o magistrado não pode obrigar o promotor a
proceder da forma como ele, julgador, deseja.
- Pela literalidade do Art. 76, a transação penal só seria cabível em crimes de ação penal pública condicionada
à representação e crimes de ação penal pública incondicionada, devendo o MP oferecer a proposta. Desta
forma, não seria cabível transação nos crimes de ação penal privada. Isso é objeto de crítica pela doutrina já
há muitos anos, pois não haveria critério razoável para o estabelecimento desse discriminem (= violação da
isonomia). Por isso, doutrina e jurisprudência são pacíficas em dizer que a transação penal é cabível tanto nos
crimes de ação penal pública quanto nos de ação penal privada.
• Enquanto na ação penal pública quem oferece a proposta é o MP, na ação penal privada a doutrina
se divide:
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1ª CORRENTE: é o próprio MP quem oferece a proposta.
FONAJE - ENUNCIADO 112: na ação penal de iniciativa privada, cabem transação penal e a suspensão
condicional do processo, mediante proposta do Ministério Público (XXVII Encontro – Palmas/TO).
2ª CORRENTE: se a ação penal é a privada, a legitimidade é do querelante, pois ele é o titular da ação penal
neste caso. Se ele não quiser oferecer a proposta, nada mais pode ser feito para a solução consensual (não há
como aplicar o Art. 28 do CPP).
STJ: “(...) A transação penal, assim como a suspensão condicional do processo, não se trata de direito público
subjetivo do acusado, mas sim de poder-dever do Ministério Público (Precedentes desta e. Corte e do c.
Supremo Tribunal Federal). II - A jurisprudência dos Tribunais Superiores admite a aplicação da transação penal
às ações penais privadas. Nesse caso, a legitimidade para formular a proposta é do ofendido, e o silêncio do
querelante não constitui óbice ao prosseguimento da ação penal. III - Isso porque, a transação penal, quando
aplicada nas ações penais privadas, assenta-se nos princípios da disponibilidade e da oportunidade, o que
significa que o seu implemento requer o mútuo consentimento das partes”. (STJ, Corte Especial, Apn 634/RJ,
Rel. Min. Felix Fischer, DJe 03/04/2012).
11.3. RECUSA INJUSTIFICADA POR PARTE DO TITULAR DA AÇÃO PENAL EM OFERECER A PROPOSTA DE
TRANSAÇÃO PENAL.
Súmula 696 do STF: “Reunidos os pressupostos legais permissivos da suspensão condicional do processo, mas
se recusando o Promotor de Justiça a propô-la, o Juiz, dissentindo, remeterá a questão ao Procurador-Geral,
aplicando-se por analogia o art. 28 do Código de Processo Penal”.
7
- Se o processo já estiver em andamento, ainda é cabível a transação penal ou a suspensão condicional do
processo, sobretudo nos casos de (i) desclassificação ou (ii) procedência parcial da pretensão punitiva.
Exemplo.: imagine um processo de furto qualificado por emprego de chave falsa. Durante a audiência,
ninguém confirma que houve o emprego de chave falsa. Diante disso, o próprio MP, em sede de alegações
orais, admite a existência apenas de furto simples, o qual permite a suspensão condicional do processo. Uma
vez verificado o excesso na acusação, é perfeitamente possível que o promotor ofereça a suspensão
condicional.
CPP, Art. 383. O juiz, sem modificar a descrição do fato contida na denúncia ou queixa, poderá atribuir-lhe
definição jurídica diversa, ainda que, em consequência, tenha de aplicar pena mais grave.
§1o Se, em consequência de definição jurídica diversa, houver possibilidade de proposta de suspensão
condicional do processo, o juiz procederá de acordo com o disposto na lei.
§2o Tratando-se de infração da competência de outro juízo, a este serão encaminhados os autos.
- Se o indivíduo celebrar um acordo de transação penal e vier a descumpri-lo, o feito retoma o seu estado de
origem.
- Antigamente, o STJ entendia que a decisão que homologa a transação penal tinha natureza condenatória,
fazendo coisa julgada formal e material, de tal sorte que a única medida possível seria propor ação cível para
exigir a prestação devida. Hoje, entende-se que a decisão não tem natureza condenatória, mas meramente
homologatória, não fazendo coisa julgada formal e material. Por esta razão, o descumprimento injustificado
faz com que o feito retorne ao estado de origem (status quo).
Súmula vinculante n. 35 do STF: “A homologação da transação penal prevista no artigo 76 da Lei 9.099/1995
não faz coisa julgada material e, descumpridas suas cláusulas, retoma-se a situação anterior, possibilitando-
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se ao Ministério Público a continuidade da persecução penal mediante oferecimento de denúncia ou
requisição de inquérito policial”.
A) PEÇA ACUSATÓRIA
Lei 9.099/95, Art. 77. Na ação penal de iniciativa pública, quando não houver aplicação de pena, pela ausência
do autor do fato, ou pela não ocorrência da hipótese prevista no art. 76 desta Lei, o Ministério Público
oferecerá ao Juiz, de imediato, denúncia oral, se não houver necessidade de diligências imprescindíveis.
§ 1º Para o oferecimento da denúncia, que será elaborada com base no termo de ocorrência referido no art.
69 desta Lei, com dispensa do inquérito policial, prescindir-se-á do exame do corpo de delito quando a
materialidade do crime estiver aferida por boletim médico ou prova equivalente.
§ 3º Na ação penal de iniciativa do ofendido poderá ser oferecida queixa oral, cabendo ao Juiz verificar se a
complexidade e as circunstâncias do caso determinam a adoção das providências previstas no parágrafo único
do art. 66 desta Lei.
B) CITAÇÃO
Lei 9.099/95, Art. 66. A citação será pessoal e far-se-á no próprio Juizado, sempre que possível, ou por
mandado.
Parágrafo único. Não encontrado o acusado para ser citado, o Juiz encaminhará as peças existentes ao Juízo
comum para adoção do procedimento previsto em lei.
- Como regra, a citação será pessoal e no próprio JECRIM. Não sendo possível, o juiz expedirá o mandado de
citação para que seja feita por Oficial de Justiça.
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- Não cabe citação por edital ou por carta rogatória no JECRIM. Todavia, há entendimento no sentido de que
é cabível a citação por hora certa. Nesse sentido, vejamos:
FONAJE - ENUNCIADO 110: no Juizado Especial Criminal é cabível a citação com hora certa (XXV Encontro –
São Luís/MA).
C) DEFESA PRELIMINAR
- Oferecida a peça acusatória, o indivíduo é notificado para apresentar a defesa preliminar. Somente depois
disso é que o juiz realiza o juízo de admissibilidade, rejeitando ou acolhendo a denúncia e, neste último caso,
determinando a citação.
- Não há previsão legal da defesa preliminar para todos os procedimentos, tendo em vista que ela é exceção.
Exemplos de procedimentos que contam com defesa preliminar são: JECRIM; Lei 8038; Art. 514 do CPP, Lei de
Drogas, etc...
Lei 9.099/95, Art. 81. Aberta a audiência, será dada a palavra ao defensor para responder à acusação, após o
que o Juiz receberá, ou não, a denúncia ou queixa; havendo recebimento, serão ouvidas a vítima e as
testemunhas de acusação e defesa, interrogando-se a seguir o acusado, se presente, passando-se
imediatamente aos debates orais e à prolação da sentença.
§ 1º Todas as provas serão produzidas na audiência de instrução e julgamento, podendo o Juiz limitar ou
excluir as que considerar excessivas, impertinentes ou protelatórias.
§ 2º De todo o ocorrido na audiência será lavrado termo, assinado pelo Juiz e pelas partes, contendo breve
resumo dos fatos relevantes ocorridos em audiência e a sentença.
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- Ao contrário do que ocorre no CPP, a sentença no JECRIM dispensa o relatório como consequência do
princípio da celeridade.
- Uma leitura fria da lei poderia nos levar a conclusão de que, uma vez citado o acusado, permanece a
necessidade de apresentar-se resposta à acusação por força do Art. 393, §4º do CPP. Isso, contudo, não faz
muito sentido, dado que a defesa já foi ouvida durante o procedimento. Por isso, o ideal é entender que a
defesa preliminar é NECESSÁRIA e em todos os procedimentos legais nos quais ela estiver presente, o
conteúdo da resposta à acusação deve ser por ela abarcado. Ou seja, o conteúdo do Art. 396-A do CPP,
relacionado a resposta à acusação, deve ser abordado em sede de defesa preliminar também. Aplica-se aqui
o princípio da eventualidade.
§4º As disposições dos arts. 395 a 398 (396-A e 397) deste Código aplicam-se a todos os procedimentos penais
de primeiro grau, ainda que não regulados neste Código.
CPP, Art. 396. Nos procedimentos ordinário e sumário, oferecida a denúncia ou queixa, o juiz, se não a rejeitar
liminarmente, recebê-la-á e ordenará a citação do acusado para responder à acusação, por escrito, no prazo
de 10 (dez) dias.
Parágrafo único. No caso de citação por edital, o prazo para a defesa começará a fluir a partir do
comparecimento pessoal do acusado ou do defensor constituído.
CPP, Art. 394., §4º As disposições dos arts. 395 a 398 deste Código aplicam-se a todos os procedimentos penais
de primeiro grau, ainda que não regulados neste Código.
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CPP, Art. 397. Após o cumprimento do disposto no art. 396-A, e parágrafos, deste Código, o juiz deverá
absolver sumariamente o acusado quando verificar:
- A absolvição sumária deve ser aplicada no âmbito do JECRIM por força do que consta no Art. 394, §4º do
CPP.
- Embora a Lei 9099/95 determine de forma expressa que são passíveis de interposição os Embargos de
Declaração e Apelação, a mesma lei admite a aplicação subsidiária do CPP, o que amplia a possibilidade de
interposição de recursos.
Constituição Federal Art. 98. A União, no Distrito Federal e nos Territórios, e os Estados criarão:
I - juizados especiais, providos por juízes togados, ou togados e leigos, competentes para a conciliação, o
julgamento e a execução de causas cíveis de menor complexidade e infrações penais de menor potencial
ofensivo, mediante os procedimentos oral e sumaríssimo, permitidos, nas hipóteses previstas em lei, a
transação e o julgamento de recursos por turmas de juízes de primeiro grau;
Obs.: a turma recursal funciona como juízo ad quem apenas no âmbito do JECRIM.
12
- Se houver uma causa de mudança de competência do juizado (conexão, complexidade da causa, citação por
edital), os autos serão encaminhados para o juízo comum, o qual julgará a infração de menor potencial
ofensivo. Nestes casos, eventual recurso deverá ser interposto no Tribunal e não na Turma Recursal.
• 3 hipóteses de cabimento:
- Há aqui uma diferença em relação ao CPP, pois nele o Art. 581, I determinar que o RESE é o recurso cabível
contra a rejeição da peça acusatória.
Lei n. 9.099/95, Art. 82. Da decisão de rejeição da denúncia ou queixa e da sentença caberá apelação, que
poderá ser julgada por turma composta de três juízes em exercício no primeiro grau de jurisdição, reunidos
na sede do Juizado.
§1º A apelação será interposta no prazo de 10 dias, contados da ciência da sentença pelo Ministério Público,
pelo réu e seu defensor, por petição escrita, da qual constarão as razões e o pedido do recorrente.
13
- O prazo é maior no JECRIM, pois nele a petição de interposição deve estar acompanhada, obrigatoriamente,
das razões.
- O prazo dos Embargos na Lei 9099/95 é mais elástico do que aquele previsto no CPP, onde o prazo é de 2
dias (382 e 619 do CPP). Além disso, os ED podem ser apresentados oralmente nos juizados.
Lei n. 9.099/95, Art. 83. Cabem embargos de declaração quando, em sentença ou acórdão, houver
obscuridade, contradição ou omissão.
§1º Os embargos de declaração serão opostos por escrito ou oralmente, no prazo de cinco dias, contados da
ciência da decisão.
§ 2o Os embargos de declaração interrompem o prazo (= devolução do prazo por inteiro à parte) para a
interposição de recurso. (Redação dada pelo novo CPC).
CF, Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição Federal,
cabendo-lhe:
(...)
III – julgar, mediante recurso extraordinário, as causas decididas em única ou última instância, quando a
decisão recorrida:
- A Constituição não diz, em nenhum momento, que tal decisão precisaria ter sido proferida por um Tribunal.
Por isso, doutrina e jurisprudência entendem que o RE é cabível no âmbito do JECRIM, desde que observado
todos os requisitos constitucionais e infraconstitucionais.
Súmula 640 do STF: “É cabível recurso extraordinário contra decisão proferida por juiz de primeiro grau nas
causas de alçada, ou por turma recursal de juizado especial cível e criminal”.
14
CF, Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça:
(...)
III – julgar, em recurso especial, as causas decididas em única ou última instância pelos Tribunais Regionais
Federais ou pelos Tribunais dos Estados, do Distrito Federal e Territórios, quando a decisão recorrida:
- Ao tratar do REsp, a Constituição fala em TRF e Tribunais Estaduais e, como a Turma Recursal não tem
natureza de Tribunal, não cabe Recurso Especial no âmbito do JECRIM.
Súmula 203 do STJ: “Não cabe recurso especial contra decisão proferida por órgão de segundo grau dos
juizados especiais”.
- O HC é cabível no âmbito do JECRIM, mas desde que haja risco potencial à liberdade de locomoção. No
JECRIM, existem muitas infrações penais nas quais não há cominação de pena privativa de liberdade (ex.: porte
de drogas para uso pessoal – Art. 28, Lei de Drogas) e, nestas infrações, não há risco que justifique a
impetração de HC.
- É possível impetrar HC contra decisão do juiz de 1º grau no JECRIM, cabendo o seu julgamento a Turma
Recursal. Se, no entanto, a Turma Recursal se tornar autoridade coatora, o julgamento do HC será realizado
pelo Tribunal (Federal ou Estadual) e não pelo STF como acontecia anteriormente (= overruling da Súmula nº
690 do STF pelo HC nº 86.834).
Súmula 693 do STF: não cabe "habeas corpus" contra decisão condenatória a pena de multa, ou relativo a
processo em curso por infração penal a que a pena pecuniária seja a única cominada.
Súmula n. 690 do STF: “Compete originariamente ao Supremo Tribunal Federal o julgamento de habeas corpus
contra decisão de turma recursal de juizados especiais criminais”.
STF: “(...) COMPETÊNCIA - HABEAS CORPUS - ATO DE TURMA RECURSAL. Estando os integrantes das turmas
recursais dos juizados especiais submetidos, nos crimes comuns e nos de responsabilidade, à jurisdição do
tribunal de justiça ou do tribunal regional federal, incumbe a cada qual, conforme o caso, julgar os habeas
impetrados contra ato que tenham praticado”. (STF, Pleno, HC 86.834, Rel. Min. Marco Aurélio, DJe
09/03/2007).
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13.6 MANDADO DE SEGURANÇA.
Súmula n. 376 do STJ: “Compete à Turma Recursal processar e julgar o mandado de segurança contra ato de
juizado especial”.
MS impetrado contra ato da Turma Recursal: o julgamento cabe a própria Turma Recursal, aplicando-se a
mesma lógica aplicada no caso de MS contra os Tribunais. Assim, tal como o MS impetrado contra os Tribunais
não vai para o STJ, o MS contra Turma Recursal é apreciado pela própria Turma. Há aqui a aplicação analógica
do Art. 21, VI da Lei Complementar nº 35.
Lei n. 9.099/95, Art. 59. Não se admitirá ação rescisória nas causas sujeitas ao procedimento instituído por
esta Lei.
- A vedação ao cabimento de ação rescisória no âmbito do Juizado Especial Cível não foi repetida no âmbito
do JECRIM para a revisão criminal, motivo pelo qual esta é sim cabível, desde que preenchidos os pressupostos
do Art. 621 s.s do CPP. Afinal, onde a lei não distingue, não é dado ao intérprete faze-lo.
- O julgamento da revisão criminal cabe a própria Turma Recursal, já que é ela que exerce a função de juízo ad
quem no âmbito do JECRIM.
STJ: “(...) Apesar da ausência de expressa previsão legal, mostra-se cabível a revisão criminal no âmbito dos
Juizados Especiais, decorrência lógica da garantia constitucional da ampla defesa, notadamente quando a
legislação ordinária vedou apenas a ação rescisória, de natureza processual cível. É manifesta a incompetência
do Tribunal de Justiça para tomar conhecimento de revisão criminal ajuizada contra decisum oriundo dos
Juizados Especiais. (...) A falta de previsão legal específica para o processamento da ação revisional perante o
Colegiado Recursal não impede seu ajuizamento, cabendo à espécie a utilização subsidiária dos ditames
previstos no Código de Processo Penal. Caso a composição da Turma Recursal impossibilite a perfeita
obediência aos dispositivos legais atinentes à espécie, mostra-se viável, em tese, a convocação dos
magistrados suplentes para tomar parte no julgamento, solucionando-se a controvérsia e, principalmente,
16
resguardando-se o direito do agente de ver julgada sua ação revisional. Competência da Turma Recursal”. (STJ,
3ª Seção, CC 47.718/RS, Rel. Min. Jane Silva, DJe 26/08/2008).
- Durante muito tempo, o STJ entendeu que a Turma Recursal estaria no mesmo nível hierárquico dos
Tribunais, motivo pelo qual a competência para julgar o conflito pertenceria a ele. Nesse sentido, veja-se a
súmula:
Súmula n. 348 do STJ: “Compete ao Superior Tribunal de Justiça decidir os conflitos de competência entre
Juizado Especial Federal e Juízo Federal, ainda que da mesma Seção Judiciária” (= overrruling da Súmula 348
do STJ).
- Se tanto o juiz federal quanto o juiz do JECRIM estão submetidos ao mesmo Tribunal, é ele quem julgará o
conflito. Vale anotar, porém, que se o juiz estiver vinculado a um Tribunal (SP – TRF 3ª Região) e o magistrado
do Jecrim vinculado a outro (MG – TRF 1ª Região) em virtude de pertencerem, cada um, a um estado da
federação, o conflito deverá ser julgado pelo STJ.
Súmula n. 428 do STJ: “Compete ao Tribunal Regional Federal decidir os conflitos de competência entre
Juizado Especial Federal e Juízo Federal da mesma Seção Judiciária (Tribunal)”.
- Apesar da Súmula 428 ter sido redigida sob a ótica da Justiça Federal, o seu raciocínio se aplica também ao
conflito entre juiz estadual (Justiça Comum Estadual) e juiz do JECRIM estadual.
17
CONCEITO: a suspensão condicional do processo é instituto despenalizador por meio do qual o processo fica
suspenso durante certo tempo (= período de prova), permanecendo o indivíduo submetido ao cumprimento
de certas condições para que seja possível extinguir-se a punibilidade.
Lei 9.099/95, Art. 89. Nos crimes em que a pena mínima cominada for igual ou inferior a um ano, abrangidas
ou não por esta Lei, o Ministério Público, ao oferecer a denúncia, poderá propor a suspensão do processo, por
dois a quatro anos, desde que o acusado não esteja sendo processado ou não tenha sido condenado por outro
crime, presentes os demais requisitos que autorizariam a suspensão condicional da pena (art. 77 do Código
Penal).
Exemplo.: a competência para julgar o furto simples, que tem pena de 1 a 4 anos, é do Juízo Comum. No
entanto, ainda assim, cabe a suspensão condicional do processo, pelo menos em tese.
Art. 89 (...)
§ 1º Aceita a proposta pelo acusado e seu defensor, na presença do Juiz, este, recebendo a denúncia, poderá
suspender o processo, submetendo o acusado a período de prova, sob as seguintes condições:
IV - comparecimento pessoal e obrigatório a juízo, mensalmente, para informar e justificar suas atividades.
§ 2º O Juiz poderá especificar outras condições a que fica subordinada a suspensão, desde que adequadas ao
fato e à situação pessoal do acusado.
§ 3º A suspensão será revogada se, no curso do prazo, o beneficiário vier a ser processado por outro crime ou
não efetuar, sem motivo justificado, a reparação do dano.
18
§ 4º A suspensão poderá ser revogada se o acusado vier a ser processado, no curso do prazo, por
contravenção, ou descumprir qualquer outra condição imposta.
§ 7º Se o acusado não aceitar a proposta prevista neste artigo, o processo prosseguirá em seus ulteriores
termos.
14.1. REQUISITOS.
A) CRIMES (OU CONTRAVENÇÕES PENAIS) COM PENA MÍNIMA IGUAL OU INFERIOR A 1 ANO:
CP, Art. 155 - Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel:
OBS. 1: atenção para crimes com pena de multa cominada de maneira alternativa;
- É muito raro que tenhamos crimes com penas elevadas nos quais a pena de multa venha cominada de forma
alternativa. Em geral, quando a pena é elevada, a multa é aplicada de forma cumulativa. Existem, todavia,
exceções como a contida no Art. 7º da Lei 8.137/90:
(...)
STF: se a pena de multa é cominada de maneira alternativa, isso significa dizer que ao final desse processo o
indivíduo pode ser condenado, exclusivamente, à pena de multa. E, se o indivíduo é condenado apenas a uma
pena de multa, seria incongruente não dar a ele direito à suspensão condicional do processo, porquanto a
pena de multa representa um minus quando comparada à pena privativa de liberdade. Com base nesse
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raciocínio, o STF entendeu que quando o crime tiver pena de multa cominada de maneira alternativa, a
suspensão condicional será cabível, ainda que a pena mínima cominada seja superior a 1 (um) ano.
STF: “(...) Previsão alternativa de multa. Suspensão condicional do processo. Admissibilidade. Recusa de
proposta pelo Ministério Público. Constrangimento ilegal caracterizado. HC concedido para que o MP examine
os demais requisitos da medida. Interpretação do art. 89 da Lei nº 9.099/95. Quando para o crime seja
prevista, alternativamente, pena de multa, que é menos gravosa do que qualquer pena privativa de liberdade
ou restritiva de direito, tem-se por satisfeito um dos requisitos legais para a suspensão condicional do
processo”. (STF, 2ª Turma, HC 83.926/RJ, Rel. Min. Cezar Peluso, DJe 101 13/09/2007).
Exemplo.: furto simples (pena de 1 a 4 anos) em concurso com o desacato (pena de 6 meses a 2 anos).
- Os Tribunais entendem que as hipóteses de concurso de crimes devem ser levadas em consideração, seja no
critério do cúmulo material, seja quando houver o critério da exasperação (Art. 70, CP).
SÚMULA 723 DO STF: não se admite a suspensão condicional do processo por crime continuado, se a soma
da pena mínima da infração mais grave com o aumento mínimo de um sexto for superior a um ano.
SÚMULA 243 DO STJ: O benefício da suspensão do processo não é aplicável em relação às infrações penais
cometidas em concurso material, concurso formal ou continuidade delitiva, quando a pena mínima cominada,
seja pelo somatório, seja pela incidência da majorante, ultrapassar o limite de um (01) ano.
Lei 11.340/06, Art. 41. Aos crimes praticados com violência doméstica e familiar contra a mulher,
independentemente da pena prevista, não se aplica a Lei no 9.099, de 26 de setembro de 1995.
Súmula 536 do STJ: “A suspensão condicional do processo e a transação penal não se aplicam na hipótese de
delitos sujeitos ao rito da Lei Maria da Penha”. Terceira Seção, aprovada em 10/6/2015, DJe 15/6/2015.
B) NÃO ESTAR SENDO PROCESSADO OU NÃO TER SIDO CONDENADO POR OUTRO CRIME:
20
- Não há necessidade de o indivíduo ter sido condenado. O processo em andamento já é óbice à suspensão.
Isso não viola a presunção de inocência, pois estamos diante de um instituto despenalizador, ou seja, um
prêmio para o sujeito que tem o crime em questão como um fato isolado de sua vida. A lei, portanto, não
pode autorizar a realização de acordos com indivíduos que já estão sendo processados por outro delito.
- Vale anotar que a condenação que é óbice à suspensão é a que diz respeito a crime e não à contravenção.
CP, Art. 77 - A execução da pena privativa de liberdade, não superior a 2 (dois) anos, poderá ser suspensa, por
2 (dois) a 4 (quatro) anos, desde que: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
I - o condenado não seja reincidente em crime doloso; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
III - Não seja indicada ou cabível a substituição prevista no art. 44 deste Código. (Redação dada pela Lei nº
7.209, de 11.7.1984)
14.2. CABIMENTO DA SUSPENSÃO EM CRIMES DE AÇÃO PENAL PRIVADA (vide BLOCO DA TRANSAÇÃO
PENAL)
Súmula 696 do STF: reunidos os pressupostos legais permissivos da suspensão condicional do processo, mas
se recusando o promotor de justiça a propô-la, o juiz, dissentindo, remeterá a questão ao procurador-geral,
aplicando-se por analogia o art. 28 do código de processo penal.
21
14.5. CONDIÇÕES DA SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO
- Ao oferecer uma denúncia pelo furto, o promotor, pode, concomitantemente, oferecer a proposta de
suspensão. Diante disso, o juiz recebe a denúncia – o que é importante para fins de interrupção da prescrição
– determinando, logo em seguida, a suspensão condicional do processo, submetendo o acusado a um período
de prova.
Art. 89, § 2º O Juiz poderá especificar outras condições a que fica subordinada a suspensão, desde que
adequadas ao fato e à situação pessoal do acusado.
RENATO BRASILEIRO: embora parte da doutrina entenda que as condições referidas no Art. 89, §2º não
possam ser equivalentes a penas restritivas de direito, pois a lei fala em condições e não em pena, esta não é
a orientação que prevalece na visão dos Tribunais Superiores. Nesses é dominante o entendimento de que o
promotor pode sim oferecer condições que, na verdade, reproduzem penas restritivas de direito.
STJ: “(...) Não há óbice a que se estabeleçam, no prudente uso da faculdade judicial disposta no art. 89, § 2º,
da Lei n. 9.099/1995, obrigações equivalentes, do ponto de vista prático, a sanções penais (tais como a
prestação de serviços comunitários ou a prestação pecuniária), mas que, para os fins do sursis processual, se
apresentam tão somente como condições para sua incidência. (STJ, 3ª Seção, Resp 1.498.034/RS, Rel. Min.
Rogerio Schietti Cruz, j. 25/11/2015, DJe 02/12/2015).
RENATO BRASILEIRO: é questionável se valer da força do Direito Penal para constranger alguém a um gesto
humanitário. Além disso, até mesmo o caráter invasivo dessa intervenção pode ser questionado.
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Art . 89
§ 3º A suspensão será revogada se, no curso do prazo, o beneficiário vier a ser processado por outro crime ou
não efetuar, sem motivo justificado, a reparação do dano.
§ 4º A suspensão poderá ser revogada se o acusado vier a ser processado, no curso do prazo, por
contravenção, ou descumprir qualquer outra condição imposta.
§ 7º Se o acusado não aceitar a proposta prevista neste artigo, o processo prosseguirá em seus ulteriores
termos.
PRAZO: 2 a 4 anos
- Embora haja quem entenda que o decurso por si só extingue a punibilidade, prevalece o entendimento de
que o benefício pode ser revogado mesmo depois do decurso do período de prova de 2 anos, desde que a
causa revogatória seja a ele anterior.
STJ: “(...) Se descumpridas as condições impostas durante o período de prova da suspensão condicional do
processo, o benefício poderá ser revogado, mesmo se já ultrapassado o prazo legal, desde que referente a
fato ocorrido durante sua vigência. (STJ, 3ª Seção, Resp 1.498.034/RS, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, j.
25/11/2015, DJe 02/12/2015).
Lei 9.605/98, Art. 28. As disposições do art. 89 da Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995, aplicam-se aos
crimes de menor potencial ofensivo definidos nesta Lei, com as seguintes modificações:
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I - a declaração de extinção de punibilidade, de que trata o § 5° do artigo referido no caput, dependerá de
laudo de constatação de reparação do dano ambiental, ressalvada a impossibilidade prevista no inciso I do §
1° do mesmo artigo;
II - na hipótese de o laudo de constatação comprovar não ter sido completa a reparação, o prazo de suspensão
do processo será prorrogado, até o período máximo previsto no artigo referido no caput, acrescido de mais
um ano, com suspensão do prazo da prescrição;
III - no período de prorrogação, não se aplicarão as condições dos incisos II, III e IV do § 1° do artigo mencionado
no caput;
STF: “(...) AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE ESTADUAL. SERVIÇO PÚBLICO. POLÍCIA MILITAR.
ATRIBUIÇÃO PARA LAVRAR TERMO CIRCUNSTANCIADO. LEI 9.099/95. ATIVIDADE DE POLÍCIA JUDICIÁRIA.
ACÓRDÃO RECORRIDO EM HARMONIA COM O ENTENDIMENTO DO SUPREMO. (...)”. (STF, 1ª Turma, RE
702.617 AgR/AM, Rel. Min. Luiz Fux, j. 26/02/2013, Dje 54 20/03/2013).
24
25
FONAJE - ENUNCIADO 110: no Juizado Especial Criminal é cabível a citação com hora certa (XXV Encontro –
São Luís/MA).
26
27
1
ROTEIRO DE AULA
1. INTRODUÇÃO
- Até 1997, o porte de arma era mera contravenção penal no Brasil (Art. 19 da Lei de Contravenções Penais) e
a posse de arma de fogo era fato atípico. Com o aumento da violência, entrou em vigor a Lei nº 9437/97, que
ficou conhecida como a Lei das Armas de Fogo. A Lei das Armas de Fogo transformou o porte ilegal de arma
de fogo em crime e tipificou a posse ilegal de arma de fogo em crime também. O grande problema é que a Lei
nº 9437/97 cotinha muitas impropriedades técnicas. Tal lei durou apenas 6 anos, sendo revogada pelo
Estatuto do Desarmamento.
2. COMPETENCIA
- Quando o Estatuto entrou em vigor, ele trouxe consigo um grande problema. O Estatuto criou o SINARM
(Sistema Nacional de Armas de Fogo), sistema de responsabilidade da União, cuja função é controlar todas as
armas de fogo no Brasil mediante cadastro de aquisição ou uso (inclusive para fins ilícitos). O fato desse
controle ser uma atribuição da União fez com que surgisse o entendimento (TJ-RJ) de que todos os crimes do
estatuto eram de competência da Justiça Federal e não mais da Justiça Estadual. Afinal, se o controle de armas
é da competência da União por meio do SINARM, todos os crimes do estatuto atingiriam interesse da União.
Logo, a competência caberia a Justiça Federal. Trata-se de raciocínio que, embora simples e sedutor, provocou
casos de conflito de competência. Ao decidir os conflitos, o STJ pacificou entendimento no sentido de que
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2
todos os crimes do Estatuto do Desarmamento continuam sendo de competência da Justiça Estadual, salvo o
tráfico internacional de drogas. Segundo o STJ, o que fixa a competência é o bem jurídico violado e, neste caso,
o bem jurídico violado é a incolumidade pública (paz e segurança), que é bem pertencente à coletividade e
não à União.
Obs.: se, no caso concreto, o crime atingir de modo específico o interesse da União, a competência será da
Justiça Federal.
Exemplo.: policial federal em serviço que está portando ilegalmente uma arma com numeração raspada.
Neste caso, a situação envolve um serviço prestado pela União, havendo, portanto, interesse que justifica a
competência da Justiça Federal.
Crime praticado por militar: até 2017, o crime de posse ou porte ilegal de arma de fogo praticado por militar
era crime comum, julgado pela Justiça Comum, ainda que praticado dentro de área militar. Ocorre, porém,
que a Lei 13.491 alterou o Art. 9º do Código Penal Militar, ampliando o conceito de crime penal militar, de
modo que os crimes militares passaram a ser todos aqueles praticados por militares, ainda que previstos em
legislação especial. Assim, com a ampliação do conceito de crime militar, o crime de porte ilegal de arma por
militar passou a ser crime militar de competência da Justiça Militar.
- De acordo com a jurisprudência do STF e do STJ, todos os crimes do Estatuto do Desarmamento são crimes
de perigo abstrato ou presumido. Ou seja, há crime mesmo que não haja uma situação de perigo concreta ou
real. Ou seja, o perigo está abstratamente previsto no tipo.
Exemplo.: indivíduo que porta apenas munição no carro. Mesmo que não haja armas e o individuo alegue que
vendeu a arma que tinha, há crime; ainda que a caixa de munição não cause situação real de perigo, posto
que está sem a arma.
Inconstitucionalidade dos crimes de perigo abstrato: parte da doutrina (Luiz Flávio Gomes, Damásio,
Bittencourt, etc...) afirma que os crimes de perigo abstrato são inconstitucionais. Mais correto, porém, é
entender que os crimes de perigo abstrato ou presumido são constitucionais, desde que estejam tipificando
comportamentos comprovadamente perigosos de acordo com as regras de experiência.
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- O STF e o STJ dividiram os bens jurídicos protegidos pelo Estatuto do Desarmamento em dois grupos:
(i) bem jurídico imediato/principal: é sempre a incolumidade pública (paz e segurança pública).
- A arma que está colocando em perigo a segurança de todos pode, a qualquer momento, ser utilizada em um
roubo (patrimônio); homicídio (vida) ou em um sequestro (liberdade).
Art. 12. Possuir ou manter sob sua guarda arma de fogo, acessório ou munição, de uso permitido, em
desacordo com determinação legal ou regulamentar, no interior de sua residência ou dependência desta, ou,
ainda no seu local de trabalho, desde que seja o titular ou o responsável legal do estabelecimento ou empresa:
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4
- O bem jurídico principal é a incolumidade pública e os bens reflexamente protegidos são o patrimônio; a
honra, dentre outros.
5.2 CONDUTAS
Alguns doutrinadores, como FERNANDO CAPEZ, afirmam que “possuir” significa estar na posse da própria
arma, ao passo que “manter sob a guarda” seria equivalente a guardar arma para terceiro.
SILVIO MACIEL: o entendimento acima não é o mais acertado, tendo em vista que se o indivíduo está
guardando a arma, ele comete o crime de porte previsto no Art. 14. Deve-se preferir, portanto, o
entendimento esboçado por NUCCI, para quem possuir e manter sob a guarda significam a mesma coisa, ou
seja, estar na posse de uma arma. Há aqui apenas algo comum na legislação brasileira, que é a mania do
legislador em se repetir.
ATENÇÃO: não é necessário contato físico entre o infrator e a arma para existir o crime. Assim, o infrator pode
estar trabalhando e a arma ilegal estar guardada em sua casa. Mesmo neste caso, o fato de a pessoa possuir
uma arma sem registro guardada em casa configura situação de flagrante.
- Os objetos materiais do crime são: (i) arma de fogo; (ii) munição e (iii) acessório, todos de uso permitido.
Note, portanto, que o Art. 12 do Estatuo contém uma norma penal em branco, a qual é complementada pelo
Decreto nº 9847/19.
- O Decreto nº 9847/19 define o que é arma de fogo e o que é munição, mas não define o que é acessório. O
conceito de acessório era definido no Art. 3º, Decreto 3665/2000. O problema é que esse decreto foi revogado
pelo Decreto nº 9847/19. Por isso, não havendo definição legal do que é acessório, cabe ao juiz defini-lo diante
das circunstâncias do caso concreto.
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5
- A doutrina denomina o elemento normativo contido no Art. 12 como elemento espacial do tipo.
Art. 12. Possuir ou manter sob sua guarda arma de fogo, acessório ou munição, de uso permitido, em
desacordo com determinação legal ou regulamentar, no interior de sua residência ou dependência desta, ou,
ainda no seu local de trabalho, desde que seja o titular ou o responsável legal do estabelecimento ou
empresa (=ELEMENTO NORMATIVO)
POSSE PORTE
Ocorre na residência do infrator ou na dependência Em qualquer outro local
da residência (= intramuros)
Local de trabalho do infrator, desde que o infrator
seja o proprietário do local de trabalho ou o seu
responsável legal.
Exemplo.: se o indivíduo guarda uma arma no quarto de sua casa, há posse. Se ele pega a arma e sai para a
rua, há porte.
Exemplo.: imagine que tanto o gerente de um posto de gasolina quanto o frentista estejam trabalhando
armados no posto. O gerente, neste caso, comete crime de posse ilegal, ao passo que o frentista está
cometendo crime de porte ilegal de arma de fogo.
OBS.: o Pacote Anticrime alterou o Estatuto para prever que toda a propriedade rural deve ser considerada
residência para fins da diferença entre posse e porte.
Exemplo.: se um caminhoneiro está com uma arma na boléia de seu caminhão, ou ainda, está dormindo em
seu caminhão e a polícia acha uma arma ao lado de sua cama, há crime de porte.
STJ: veículos não são residência, ainda que utilizados como meio de trabalho. Portanto, se o caminhoneiro
portar uma arma ilegal dentro do caminhão, ele comete crime de porte e não de posse.
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6
- Existe ainda outro elemento normativo do tipo: “em desacordo com determinação legal ou regulamentar.”
- Do dia 24/10/2005 a 31/12/2009, o Governo Federal continuo editando medidas provisórias, dando mais
prazo para que as pessoas pudessem regularizar a posse de arma permitida. Neste período, a posse de arma
permitida continuou não sendo crime e a posse de arma proibida passou a ser crime. Essa situação perdurou
até 31/12/2009. De 01/01/2010 até hoje a posse de arma permitida ou proibida passou a ser crime.
- O problema neste cenário é que o Art. 31/32 do Estatuto dispõe que se a pessoa entregar a arma
espontaneamente a arma para a polícia, está extinta a punibilidade do crime.
Art. 31. Os possuidores e proprietários de armas de fogo adquiridas regularmente poderão, a qualquer tempo,
entregá-las à Polícia Federal, mediante recibo e indenização, nos termos do regulamento desta Lei.
Art. 32. Os possuidores e proprietários de arma de fogo poderão entregá-la, espontaneamente, mediante
recibo, e, presumindo-se de boa-fé, serão indenizados, na forma do regulamento, ficando extinta a
punibilidade de eventual posse irregular da referida arma. (Redação dada pela Lei nº 11.706, de
2008) Parágrafo único. O procedimento de entrega de arma de fogo de que trata o caput será definido em
regulamento. (Incluído pela Medida Provisória nº 417, de 2008) (Revogado pela Lei nº 11.706,
de 2008)
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7
CONCLUSÃO: do dia 01/01/2010 até hoje toda e qualquer posse de arma passou a ser crime, mas a entrega
espontânea da arma é causa extintiva da punibilidade.
Súmula 513 do STJ - A 'abolitio criminis' temporária prevista na Lei n. 10.826/2003 aplica-se ao crime de posse
de arma de fogo de uso permitido com numeração, marca ou qualquer outro sinal de identificação raspado,
suprimido ou adulterado, praticado somente até 23/10/2005.(Súmula 513, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em
11/06/2014, DJe 16/06/2014)
ATENÇÃO: a abolitio criminis temporária aqui estudada só se aplica ao crime de posse ilegal de arma de fogo.
O porte ilegal de arma de fogo é crime desde o dia 23/12/2003, isto é, desde o primeiro dia de vigência do
Estatuto.
- Se a polícia entra na casa e acha a arma ilegal, a punibilidade não estará extinta.
HC 94.673, STJ: a conduta de quem se dirige até a delegacia para entregar arma de fogo, não pode ser
equiparada ao crime de porte ilegal, uma vez que tal comportamento é autorizado pelo Estado (Art. 30, 31 e
32 do Estatuto do Desarmamento). Falta a esta ação antinormatividade.
STJ: para que haja o crime, basta o dolo de possuir ou manter sob a guarda ilegalmente, pouco importando a
finalidade específica.
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8
- O crime é de mera conduta, consumando-se com a simples posse da arma, ainda que não ocorra nenhuma
situação real de perigo.
Art. 14. Portar, deter, adquirir, fornecer, receber, ter em depósito, transportar, ceder, ainda que
gratuitamente, emprestar, remeter, empregar, manter sob guarda ou ocultar arma de fogo, acessório ou
munição, de uso permitido, sem autorização e em desacordo com determinação legal ou regulamentar:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa. Parágrafo único. O crime previsto neste artigo é
inafiançável, salvo quando a arma de fogo estiver registrada em nome do agente. (Vide Adin 3.112-1)
- Note que embora o nome do crime seja porte ilegal de arma de fogo de uso permitido, são punidas 13
condutas. Trata-se, portanto, de crime de conduta múltipla ou variada (tipo misto alternativo). O crime de
porte ilegal não existe apenas se a pessoa está portando uma arma, mas também em outra situação (comprar,
emprestar, ceder, etc...).
- Se o individuo cometer várias condutas no mesmo contexto fático, há crime único, tendo em vista que pelo
princípio da alternatividade uma conduta absorve as demais. Assim, se o indivíduo adquire; transporta e
guarda uma mesma arma de fogo, há crime único. Por outro lado, se ele cometer várias condutas em contextos
fáticos diferentes, haverá concurso de crimes.
- Quem pode portar arma de fogo são pouquíssimas pessoas, uma vez que no Brasil o porte ilegal de armas é
proibido, salvo raras exceções previstas no Estatuto do Desarmamento.
- Sujeitos do crime, elemento subjetivo, consumação, tentativa e objeto material (=> IDEM do Art. 12).
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Não. Trata-se de ilícito administrativo, podendo a arma de brinquedo ser apreendida e confiscada.
- A lei de armas de fogo (9437/97) previa, em seu Art. 10,§1º, II, que a utilização de arma de brinquedo para o
fim de cometer crimes era crime.
a) Exame pericial
STJ e STF: É possível reconhecer o crime de posse ou de porte sem exame pericial da arma, uma vez que ambos
são crimes de perigo abstrato ou presumido, sendo desnecessário perícia que demonstre a potencialidade
lesiva da arma. Logo, é possível reconhecer o crime mesmo se a arma não for apreendida ou periciada.
b) Arma quebrada
DOUTRINA E JURISPRUDÊNCIA (REsp 1387.227, STJ): se a arma é relativamente quebrada, ou seja, se as vezes
ela funciona e as vezes não, existe crime. Por outro lado, se a arma é absolutamente quebrada (ex.: revólver
sem tabor) e, portanto, inapta para disparar, há crime impossível por absoluta impropriedade do objeto.
- Se o objeto não tinha nenhuma aptidão para disparar, ele não se enquadra no conceito jurídico de arma.
- A arma sem munição configura crime, pois se trata de delito de perigo abstrato/presumido.
- Mesmo que a munição esteja desacompanhada de uma arma e não esteja gerando situação real de perigo
naquele momento, há crime.
ATENÇÃO: muitos julgados do STJ aplicam o princípio da insignificância na posse ou no porte ilegal de munição.
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Exemplo.: polícia entra na casa de uma pessoa e acha apenas duas munições passíveis de serem utilizadas em
um revólver nº38.
- O homicídio e o roubo podem absorver a posse/porte ilegal de arma a depender da situação. Se a posse/porte
ocorreram exclusivamente para o cometimento do homicídio ou do roubo, ficam absorvidos como crime-
meio. Por outro lado, se o individuo possui/porta uma arma e, eventualmente, pratica roubo/homicídio,
haverá concurso de crimes.
Exemplo.: se o indivíduo tem uma arma ilegal em sua casa há um ano e um dia decide sair com a arma para
roubar, ele responderá pelo crime de posse ilegal de arma de fogo em concurso com o crime de roubo, com a
causa de aumento de pena da arma de fogo. Não há bis in idem neste caso, pois a posse ilegal tutela a
segurança pública e o roubo tutela o patrimônio, ou seja, cada um protege um bem jurídico diferente.
- Prevalece no STJ que o porte/posse simultânea de duas ou mais armas configura apenas um crime tendo em
vista que a situação de perigo gerada é apenas uma.
ATENÇÃO: há decisão recente do STJ na qual o individuo estava portando uma arma permitida e outra proibida
e, como uma era proibida, o STJ entendeu pela presença de concurso formal de crimes.
- O indivíduo que age em legitima defesa utilizando uma arma sem registro, poderá responder, mesmo assim,
pelo crime de posse/porte da arma.
- Se o porte/posse ocorreu apenas para o ato de legítima defesa, fica absorvido, não havendo crime. Por outro
lado, se o indivíduo já portava a arma anteriormente, e, eventualmente, precisou utilizá-la para garantir a
legítima defesa, ele responderá normalmente pelo crime de porte ilegal, o qual já estava consumado muito
antes de surgir a situação de legitima defesa.
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Art. 15. Disparar arma de fogo ou acionar munição em lugar habitado ou em suas adjacências, em via pública
ou em direção a ela, desde que essa conduta não tenha como finalidade a prática de outro crime:
Parágrafo único. O crime previsto neste artigo é inafiançável. (Vide Adin 3.112-1) Posse ou porte ilegal
de arma de fogo de uso restrito
7.1 CONDUTAS
- Embora o nome do crime seja disparo de arma de fogo, o crime pode acontecer com o mero fato de se
acionar a munição, ainda que não haja disparo. O tipo penal pune duas condutas.
- É o dolo de disparar ou de apenas acionar a munição, sendo desnecessária qualquer finalidade específica.
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- O elemento espacial situa-se na expressão “em lugar habitado ou em suas adjacências, em via pública ou em
direção a ela.”
STJ: o crime de disparo de arma de fogo é crime de perigo abstrato, uma vez que existe mesmo que não gerar
nenhuma situação de perigo concreto para ninguém.
7.6 SUBSIDIARIEDADE
- A subsidiariedade está expressa no tipo (“desde que essa conduta não tenha como finalidade a prática de
outro crime”).
ART. 15 DOUTRINA
Não há o crime do Art. 15 se o disparo tem a Não há o crime do Art. 15 se o disparo tem a
finalidade de outro crime, pouco importando se finalidade de outro crime mais grave. Por outro lado,
mais grave ou menos grave. se ele visa um crime menos grave, prevalece o
disparo (princípio da consunção => o crime mais
grave absorve o menos grave, mas o contrário não é
possível).
- Aplica-se à esse crime tudo o que foi falado em relação ao crime do Art. 14, exceto quanto ao objeto material,
o qual, neste caso, é a arma de fogo; acessório ou munição de uso proibido/restrito.
Art. 14 Art. 16
Arma de fogo, acessório ou munição de uso Arma de fogo, acessório ou munição de uso
permitido. proibido.
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- O pacote anticrime fez uma alteração no Art. 16. Com a alteração, ficou consignado que se a arma é de uso
restrito, aplica-se a pena do caput (pena de 3 a 6 anos e multa). Por outro lado, sendo de uso proibido, aplica-
se a qualificadora do §2º (pena de 4 a 12 anos).
Art. 16. Possuir, deter, portar, adquirir, fornecer, receber, ter em depósito, transportar, ceder, ainda que
gratuitamente, emprestar, remeter, empregar, manter sob sua guarda ou ocultar arma de fogo, acessório ou
munição de uso restrito, sem autorização e em desacordo com determinação legal ou
regulamentar: (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)
§ 1º Nas mesmas penas incorre quem: (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)
I – suprimir ou alterar marca, numeração ou qualquer sinal de identificação de arma de fogo ou artefato;
II – modificar as características de arma de fogo, de forma a torná-la equivalente a arma de fogo de uso
proibido ou restrito ou para fins de dificultar ou de qualquer modo induzir a erro autoridade policial, perito
ou juiz;
III – possuir, detiver, fabricar ou empregar artefato explosivo ou incendiário, sem autorização ou em desacordo
com determinação legal ou regulamentar;
IV – portar, possuir, adquirir, transportar ou fornecer arma de fogo com numeração, marca ou qualquer outro
sinal de identificação raspado, suprimido ou adulterado;
V – vender, entregar ou fornecer, ainda que gratuitamente, arma de fogo, acessório, munição ou explosivo a
criança ou adolescente; e
VI – produzir, recarregar ou reciclar, sem autorização legal, ou adulterar, de qualquer forma, munição ou
explosivo.
§ 2º Se as condutas descritas no caput e no § 1º deste artigo envolverem arma de fogo de uso proibido, a pena
é de reclusão, de 4 (quatro) a 12 (doze) anos. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
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Art. 16, caput e §2º Art. 16, §1º (Nas mesmas penas incorre quem...)
Tem como objeto as armas proibidas ou restritas. No inciso III, o objeto material é artefato explosivo
ou incendiário e não arma de fogo; acessório ou
munição. (STJ: o inciso III se aplica também às armas
permitidas).
STJ: o §1º é tipo penal autônomo em relação ao caput e em relação ao §2º, de modo que as condutas nele
previstas se aplicam, inclusive, para as armas de uso permitido.
DOUTRINA: como o Estatuto do Desarmamento fala em arma de fogo e o ECA fala apenas em arma, a doutrina
entende que vender; entregar ou fornecer arma de fogo enquadra-se no estatuto do Desarmamento. Por
outro lado, se a venda for de outra arma, como arma branca, por exemplo, aplica-se o ECA. Desta forma, o
crime do Art. 242 do ECA está parcialmente revogado pelo Estatuto do Desarmamento, salvo no que se refere
a arma branca.
10. CRIME DE COMÉRCIO ILEGAL DE ARMA DE FOGO (ART. 17, ESTATUTO DO DESARMAMENTO)
- Trata-se de tipo misto alternativo, que prevê várias condutas. Sendo as condutas praticadas no mesmo
contexto fático, há crime único. Por outro lado, se os contextos fáticos forem diferentes, haverá concurso de
crimes.
Art. 17. Adquirir, alugar, receber, transportar, conduzir, ocultar, ter em depósito, desmontar, montar,
remontar, adulterar, vender, expor à venda, ou de qualquer forma utilizar, em proveito próprio ou alheio, no
exercício de atividade comercial ou industrial, arma de fogo, acessório ou munição, sem autorização ou em
desacordo com determinação legal ou regulamentar:
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Pena - reclusão, de 6 (seis) a 12 (doze) anos, e multa. (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)
§ 1º Equipara-se à atividade comercial ou industrial, para efeito deste artigo, qualquer forma de prestação de
serviços, fabricação ou comércio irregular ou clandestino, inclusive o exercido em residência. (Redação dada
pela Lei nº 13.964, de 2019)
§ 2º Incorre na mesma pena quem vende ou entrega arma de fogo, acessório ou munição, sem autorização
ou em desacordo com a determinação legal ou regulamentar, a agente policial disfarçado, quando presentes
elementos probatórios razoáveis de conduta criminal preexistente. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
SUJEITO ATIVO: comerciante ou industrial, legal ou ilegal, de arma de fogo; acessório e munição. Trata—se de
crime próprio, pois exige uma condição especial por parte do sujeito ativo.
Exemplo.: uma pessoa comum que vende sua arma para o vizinho poderá cometer o crime do Art. 14 ou 16,
mas não o crime do Art. 17.
OBJETO MATERIAL: arma de fofo, acessório ou munição, pouco importando se é de uso permitido; proibido
ou restrito.
- Trata-se de crime que não exige nenhuma finalidade específica, nem mesmo a finalidade de lucro (STJ).
- A competência é da Justiça Estadual, mesmo que a comercialização seja praticada pela internet.
ATENÇÃO: o crime do Art. 17 foi alterado pelo pacote anticrime para prever um aumento da pena de 4 a 8
anos para 6 a 12 anos. Criou-se um delito novo com o acréscimo do §2º ao dispositivo. O grande problema é
que parece haver aqui uma hipótese de flagrante preparado/provocado. Além disso, o tipo penal trabalha
com presunção, o que é problemático, pois se havia presunção de que o indivíduo já cometia crime, ele deveria
ser denunciado pelo que consta no caput.
I) Aumento de pena;
II) Criação do crime do parágrafo único, que é idêntico ao crime do Art. 17, §2º.
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- Se há elementos razoáveis indicando que o indivíduo praticava tráfico, ele deveria ser punido pelo tráfico
(Art. 18, caput)
11.1 CONDUTAS
Importar/exportar: crime material, pois se consuma com a efetiva entrada ou saída da arma de fogo, acessório
ou munição do país. É possível a tentativa e pelo princípio da especialidade esse tipo penal prevalece sobre o
tipo penal do contrabando.
Favorecer a entrada/saída de arma de fogo; acessório ou munição: o crime é formal, consumando-se com o
simples favorecimento, ainda que a arma não entre e nem saia do país. É possível a tentativa.
- Não se aplica o princípio da insignificância para o comércio ilegal e tráfico internacional de munição.
- O parágrafo único do Art. 14 veda fiança, salvo se a arma está registrada no nome do infrator.
- O Art.21 veda liberdade provisória, com ou sem fiança, para os crimes dos artigos 16, 17 e 18.
CONCLUSÃO: cabe liberdade provisória, com ou sem fiança, em todos os crimes do Estatuto do
Desarmamento.
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A posse/porte de arma de uso restrito => crime Os crimes dos Arts. 16, 17 e 18 passaram a ser crimes
hediondo. hediondos.
Art. 34-A. Os dados relacionados à coleta de registros balísticos serão armazenados no Banco Nacional de
Perfis Balísticos. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
§ 1º O Banco Nacional de Perfis Balísticos tem como objetivo cadastrar armas de fogo e armazenar
características de classe e individualizadoras de projéteis e de estojos de munição deflagrados por arma de
fogo. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
§ 2º O Banco Nacional de Perfis Balísticos será constituído pelos registros de elementos de munição
deflagrados por armas de fogo relacionados a crimes, para subsidiar ações destinadas às apurações criminais
federais, estaduais e distritais. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
§ 3º O Banco Nacional de Perfis Balísticos será gerido pela unidade oficial de perícia criminal. (Incluído pela
Lei nº 13.964, de 2019)
§ 4º Os dados constantes do Banco Nacional de Perfis Balísticos terão caráter sigiloso, e aquele que permitir
ou promover sua utilização para fins diversos dos previstos nesta Lei ou em decisão judicial responderá civil,
penal e administrativamente. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
§ 5º É vedada a comercialização, total ou parcial, da base de dados do Banco Nacional de Perfis Balísticos.
(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
§ 6º A formação, a gestão e o acesso ao Banco Nacional de Perfis Balísticos serão regulamentados em ato do
Poder Executivo federal. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
15. JURISPRUDÊNCIA
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HC 554.485: o §1º do Art.16 também se enquadra na definição de crime hediondo (conduta equiparada)
AgRg no Resp 183.9290: o crime de posse ilegal de munição é crime de perigo abstrato ou presumido, mesmo
que a munição esteja desacompanhada de arma.
AgRg no Resp 180.7692: é possível o indivíduo ser punido por porte ilegal de armas e por crime de roubo,
desde que as condutas sejam autônomas.
AgRg no AREsp 159.0721: arma permitida com a numeração raspada equipara-se à arma proibida,
respondendo o indivíduo pelo crime de arma de fogo de uso proibido.
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LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL
Crimes Hediondos
Cleber Masson
Aula 8
ROTEIRO DE AULA
A expressão, “crimes hediondos”, que não existia no direito positivo brasileiro, aparece no art. 5º, XLIII, CF/88.
Trata-se de uma norma constitucional de eficácia limitada (José Afonso da Silva), que precisava ser regulamentada,
então, como o objetivo de disciplinar o artigo vem a lei dos crimes hediondos.
A época era marcada por crimes de extorsão mediante sequestro (art. 159, CP/Ex: sequestro de Abilio Diniz e outros); é
certo que, estava em formação, no Brasil, a organização criminosa.
O legislador foi cobrado. Um deputado sugeriu por em prática a lei de crimes hediondos, contudo, apenas o crime de
extorsão mediante sequestro era hediondo. O Senado contestou porque era uma lei casuística (protegia somente os
ricos). E, mesmo com as modificações, ainda existem falhas!
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- Legal = aquele descrito na lei como hediondo;
- Misto = legislador fornece parâmetros mínimos e o juiz decidirá dentro dos limites estabelecidos.
No Brasil, o critério adotado é o legal (CF, art. 5º, XLIII), que, evidentemente, proporciona segurança jurídica. De outro
modo, seria como ganhar na loteria: juiz/promotor liberais x juiz/promotor rigorosos.
Art. 5º, XLIII, da Constituição Federal: “a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática
da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles
respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem.”.
Art. 1º, caput, da Lei 8.072/1990: “São considerados hediondos os seguintes crimes, todos tipificados no Decreto-Lei no
2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal, consumados ou [tentados]:”.
Grave isso: a tentativa não exclui a [hediondez do delito]. Ela diminui a pena.
O princípio da insignificância é uma criação doutrinária e jurisprudencial. Trata-se de causa supralegal de exclusão da
tipicidade = o fato tem tipicidade formal, mas ausente a tipicidade material.
Não se aplica aos crimes hediondos! Existe uma incompatibilidade lógica entre crimes hediondos e princípio da
insignificância.
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STF e “crimes de máximo potencial ofensivo” = para o STF são aqueles que a CF impõe um tratamento mais severo:
XLII – racismo;
XLIII – hediondos e equiparados;
XLIV – ação de grupos armados. Incompatíveis com o princípio da insignificância.
O item 2.5, mais adiante, tratará dos crimes constitucionalmente equiparados aos hediondos T.T.T.
NÃO, são crimes equiparados, assemelhados aos hediondos, ou seja, recebem o mesmo tratamento dispensado à CF e
aos crimes hediondos!
A) Homicídio
Inc. I – homicídio (art. 121), quando praticado em atividade típica de grupo de extermínio, ainda que cometido por um
só agente, e homicídio qualificado (art. 121, § 2o, incisos I, II, III, IV, V, VI, VII e VIII);
- Inc. VIII? = lambanças do legislador, porque a qualificadora foi vetada pelo Presidente da República.
Caso verídico: A musa de uma novela brasileira (filha da escritora Glória Perez) foi morta por um casal (Guilherme de
Pádua e Paula Tomaz). A escritora movimentou uma iniciativa popular para criação da mencionada lei.
Em regra NÃO!
Exceção: quando praticado em atividade típica de grupo de extermínio, ainda que cometido por um só agente.
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- Homicídio simples: a questão do grupo de extermínio (CP, art. 121, § 6º).
Grave isso: não precisa existir o grupo de extermínio, basta que o agente tenha praticado sozinho, em uma atividade
típica de grupo de extermínio.
Ex: dono de um comércio, sozinho em uma madrugada, mata todos os moradores de rua que dormiam na frente do seu
estabelecimento comercial.
*parte crítica: o homicídio, em uma atividade típica de grupo de extermínio, nunca será simples porque incide
qualificadora!
É crime hediondo?
E Subjetiva
/
A qualificadora = pode ter natureza ou
\
* Objetiva
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A razão de ser é em decorrência do rito do tribunal do júri. Na votação do tribunal do júri, o privilégio antecede a
qualificadora, logo se o privilégio (que tem natureza subjetiva) for reconhecido, automaticamente afasta a qualificadora
de natureza subjetiva, restando somente, e, se houver a qualificadora de natureza *Objetiva.
Para o STJ (HC 153.728), NÃO! Por duas razões: a falta de previsão legal; e, a incompatibilidade lógica (já que a
gravidade da hediondez é incompatível com a brandura do privilégio).
Contundo, na sua prova oral do MP ou Delegado Civil, fale sobre a posição do STJ [e] acrescente a posição do MP, que
defende ser o homicídio híbrido crime hediondo, porque o privilégio é causa de diminuição da pena (1/6-1/3).
Para o MP, SIM! Porque o privilégio se limita a diminuir a pena e não altera a tipicidade do homicídio.
B) Lesão Corporal
Inc. I-A – lesão corporal dolosa de natureza gravíssima (art. 129, § 2o) e lesão corporal seguida de morte (art. 129, § 3o),
quando praticadas contra {autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal}, {integrantes do
sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra
seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição};
C) Roubo
Inc. II
- circunstanciado pela restrição de liberdade da vítima (art. 157, § 2º, inciso V);
Por que nas outras não?
Por falta de critério do legislador!
- circunstanciado pelo emprego de arma de fogo (art. 157, § 2º-A, inciso I) ou pelo emprego de arma de fogo de uso
proibido ou restrito (art. 157, § 2º-B);
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Qualquer arma de fogo?
SIM.
Arma branca?
NÃO
- qualificado pelo resultado lesão corporal grave/gravíssima ou morte (art. 157, § 3º);
Pacote anticrime tirou a expressão “latrocínio”, que também não consta no CP. Agora só existe na doutrina!
D) Extorsão Qualificada Pela Restrição Da Liberdade Da Vítima, Ocorrência De Lesão Corporal Ou Morte (art. 158, §
3º).
É conhecido como sequestro-relâmpago, que sempre deveria ter sido considerado hediondo.
Para o professor, a extorsão com restrição da liberdade da vítima é crime hediondo, mesmo sem lesão corporal e
mesmo sem morte, em decorrência do critério legal = que determina todo o art. 158, §3º.
Evidente que haverá doutrinadores defendendo ao contrário, o legislador poderia ter evitado!
Ponto muito bizarro! Inacreditável, mas o legislador exclui o art. 158,§2º (extorsão qualificada pela morte).
Inc. IV - extorsão mediante sequestro e na forma qualificada (art. 159, caput, e §§ 1o, 2o e 3o).
f) Estupro
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EM TODAS AS SUAS MODALIDADES.
G) Estupro De Vulnerável
I) Falsificação De Medicamentos
Inc. VII-B - falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais (art.
273, caput e § 1o, § 1o-A e § 1o-B, com a redação dada pela Lei no 9.677, de 2 de julho de 1998).
A falsificação de cosméticos e saneantes é crime hediondo, com pena superior ao de tráfico de drogas.
Inc. VIII - favorecimento da prostituição ou de outra forma de exploração sexual de criança ou adolescente ou de
vulnerável (art. 218-B, caput, e §§ 1º e 2º).
K) Furto Qualificado Pelo Emprego De Explosivo Ou De Artefato Análogo Que Cause Perigo Comum (Art. 155, § 4º-A).
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Inc. IX: Esse é de matar!
Foi fatores extrajurídicos que motivou a qualificadora no furto = o lobby bancário em decorrência da onda de furtos em
caixas eletrônicos.
Ex: o mega furto, mais de 100 milhões de reais, no Banco Central de Fortaleza não foi crime hediondo!
Mas
Ex: roubo, com uso de arma branca, para obrigar o funcionário do posto a explodir o caixa eletrônico não é crime
hediondo.
Curiosidade:
- o genocídio esta previsto em norma penal em branco “ao avesso” = conduta criminosa é detalhada, mas falta a pena.
N) Posse Ou Porte Ilegal De Arma De Fogo De Uso Proibido, previsto no art. 16 DA LEI Nº 10.826, de 22 de dezembro
de 2003.
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Art. 16. Possuir, deter, portar, adquirir, fornecer, receber, ter em depósito, transportar, ceder, ainda que gratuitamente,
emprestar, remeter, empregar, manter sob sua guarda ou ocultar arma de fogo, acessório ou munição de uso restrito,
sem autorização e em desacordo com determinação legal ou regulamentar:
I – suprimir ou alterar marca numeração ou qualquer sinal de identificação de arma de fogo ou artefato;
II – modificar as características de arma de fogo, de forma a torná-la equivalente a arma de fogo de uso proibido ou
restrito ou para fins de dificultar ou de qualquer modo induzir a erro autoridade policial, perito ou juiz;
III – possuir, detiver, fabricar ou empregar artefato explosivo ou incendiário, sem autorização ou em desacordo com
determinação legal ou regulamentar;
IV – portar, possuir, adquirir, transportar ou fornecer arma de fogo com numeração, marca ou qualquer outro sinal de
identificação raspado, suprimido ou adulterado;
V – vender, entregar ou fornecer, ainda que gratuitamente, arma de fogo, acessório, munição ou explosivo a criança ou
adolescente; e.
VI – produzir, recarregar ou reciclar, sem autorização legal, ou adulterar, de qualquer forma, munição ou explosivo.
§ 2º Se as condutas descritas no caput e no § 1º deste artigo envolverem arma de fogo de uso proibido, a pena é de
reclusão, de 4 (quatro) a 12 (doze) anos.
2) arma de fogo de uso proibido ou restrito – posição do professor assume, porque foi lambança do legislador, e,
portanto, façamos uma interpretação constitucional e histórica, acompanhe o raciocínio: lembre-se que a CF e a Lei de
Crimes Hediondos adotam o critério legal. Ademais, o pacote anticrime veio para alterar o estatuto do desarmamento,
tornando mais grave as condutas, então a intenção é todo art. 16!
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- Acessórios e munições?
Adotando um critério legal, ao professor parece que a lei também abrange os acessórios e munições. Não daria pra
fazer interpretação literal, que muito pobre.
Para STJ e professor: a lei dos crimes hediondos coloca todo artigo 16.!
O) Comércio Ilegal De Armas De Fogo, previsto no art. 17 da LEI Nº 10.826, de 22 de dezembro de 2003.
P) Tráfico Internacional De Arma De Fogo, acessório ou munição, previsto no art. 18 da LEI Nº 10.826, de 22 de
dezembro de 2003.
O direto brasileiro não admite cláusula salvatória, que é retirar do crime, no caso concreto, as notas da hediondez, ou
seja, o juiz não pode tirar do crime a hediondez.
a) Tráfico de drogas
- Alcance da expressão?
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A CF fala em tráfico ilícito de entorpecentes – mas, é redundante, por que não existe tráfico lícito de entorpecentes.
A lei não diz. E, a jurisprudência se inclina na seguinte posição (que é a majoritária para fins de concurso): tráfico de
drogas são os crimes do art. 33, caput, § 1º; e art. 34, da Lei de drogas.
4 requisitos = agente primário + bons antecedentes + não se dedica a atividades criminosas + não integra organização
criminosa → NÃO é crime equiparado a hediondo, pelos motivos abaixo:
SIM
“§ 2º Aquele que se omite em face dessas condutas, quando tinha o dever de evitá-las ou apurá-las, incorre na pena de
detenção de um a quatro anos.”
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3. VEDAÇÕES LEGAIS
“Art. 2º Os crimes hediondos, a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins e o terrorismo são
insuscetíveis de:”
inc. I - ok
CF, art. 5º, inc. XLIII: “a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática da tortura, o
tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles
respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem.”
E, por fim, a Lei de Tortura teve um silêncio eloquente no tocante ao indulto: (omissão).
Art. 1º, § 6º, da Lei 9.455/1997: “§ 6º O crime de tortura é inafiançável e insuscetível de graça ou anistia.”.
E como resolve?
Defensoria Pública – a proibição do indulto pela Lei dos crimes hediondos é inconstitucional, porque a lei extrapolou o
mandamento constitucional.
Demais carreiras – vedação do indulto é constitucional (posição do STF), porque a graça abrange graça propriamente
dita + indulto.
3.2. FIANÇA:
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- Cabimento de liberdade provisória, sem fiança, é possível:
I. Na redação original, da Lei dos crimes hediondos, o regime era integralmente fechado, sem direito a progressão.
II. De 1990 à 2005 o Supremo dizia que era constitucional. Mas, em 1997, vem a Lei de Tortura:
Art. 1º, § 7º, da Lei de Tortura: “O condenado por crime previsto nesta Lei, salvo a hipótese do § 2º, [iniciará] o
cumprimento da pena em regime fechado.”
Percebeu a diferença?
A Lei de Tortura determinou o seguinte que: começa no fechado, mas é possível a progressão.
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IV. E, em 2005, movido por questões políticas, sumulou novamente:
STF: Violação aos princípios da individualização da pena e da proporcionalidade, e ausência de previsão na CF (Plenário,
HC 111.840, Informativo 672). Conforme a LEP.
Depois disso, em 2007, vem a Lei dos Crimes Hediondos e mudou para inicialmente fechado.
Vem o Supremo e diz que também é inconstitucional, o inicialmente fechado, porque não tem previsão na CF.
Atualmente: pode começar no fechado (regra), mas também, pode começar no semiaberto ou aberto, vai depender da
fundamentação do magistrado.
2/5
/
Como era antes da Lei anticrime --- 3/5 (reincidência)
\
1/8 (mãe, gestante, ou responsável legal de criança/deficiente)*
Isso mudou! Não existem mais, agora, os percentuais estão na LEP, e variam de 16% a 70% + 1/8*:
V - 40% (quarenta por cento) da pena, se o apenado for condenado pela prática de crime hediondo ou equiparado, se
for primário;
a) condenado pela prática de crime hediondo ou equiparado, com resultado morte, se for primário, vedado o
livramento condicional;
b) condenado por exercer o comando, individual ou coletivo, de organização criminosa estruturada para a prática de
crime hediondo ou equiparado;
VII - 60% (sessenta por cento) da pena, se o apenado for reincidente na prática de crime hediondo ou equiparado;
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VIII - 70% (setenta por cento) da pena, se o apenado for reincidente em crime hediondo ou equiparado com resultado
morte, vedado o livramento condicional.
Exceção - condenado por crime hediondo com resultado morte não pode:
Lei anticrime criou uma proibição – não terá direito o condenado que cometeu crime hediondo com resultado morte.
É constitucional?
SIM, porque a saída temporária esta prevista na LEP e não é direito constitucional.
7. PRISÃO TEMPORÁRIA
NÃO
Cabimento:
Art. 2º, § 4º: “A prisão temporária, sobre a qual dispõe a Lei no 7.960, de 21 de dezembro de 1989, nos crimes previstos
neste artigo, terá o prazo de 30 (trinta) dias, prorrogável por igual período em caso de extrema e comprovada
necessidade.”
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8. ESTABELECIMENTOS PENAIS DE SEGURANÇA MÁXIMA
“Art. 3º. A União manterá estabelecimentos penais, de segurança máxima, destinados ao cumprimento de penas
impostas a condenados de alta periculosidade, cuja permanência em presídios estaduais ponha em risco a ordem ou
incolumidade pública.”
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LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL
L. Antiterrorismo – Lei n. 13.260/16
Renato Brasileiro
Aula 9
ROTEIRO DE AULA
Sugestão de leitura: Manual de Legislação Criminal Especial, Professor Renato Brasileiro, trata o assunto de modo
completo.
São normas constitucionais que criam para o legislador infraconstitucional a obrigação de criminalizar lesões a
determinados bens jurídicos. Veja:
Constituição Federal
Art. 5º (...)
(...)
XLIII - a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática da tortura , o tráfico ilícito de
entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes,
os executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem;
Legislação:
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Crimes hediondos – L. 8.072/90;
Trafico ilícito de entorpecentes – L. 11. 343/06;
Tortura – L. 9455/97;
Terrorismo – L. 13.260/16.
Lei n. 13.260/16
Art. 1o Esta Lei regulamenta o disposto no inciso XLIII do art. 5º da Constituição Federal, disciplinando o terrorismo,
tratando de disposições investigatórias e processuais e reformulando o conceito de organização terrorista.
1º corrente (minoritária) -> Antonio Scarance Fernades: o terrorismo já estava previsto no ordenamento jurídico, no
art. 20 da Lei 7.170/83 (Lei de Segurança Nacional – define os crimes políticos).
Lei n. 7.170/83
Art. 20. Devastar, saquear, extorquir, roubar, sequestrar, manter em cárcere privado, incendiar, depredar, provocar
explosão, praticar atentado pessoal ou atos de [terrorismo], por inconformismo político ou para obtenção de fundos
destinados à manutenção de organizações políticas clandestinas ou subversivas.
2ª corrente (majoritária) -> Alberto Silva Franco: o terrorismo não estava previsto no ordenamento jurídico porque o
art. 20, da L. 7.170/83, muito embora contenha a expressão “atos de terrorismo”. não define o que é terrorismo. E,
considerar a expressão como forma de crime, seria uma violação ao princípio da legalidade, em uma de suas vertentes,
ou seja, a taxatividade – “nullum crimen nulla poena sine lege certa”.
O STF reconheceu, indiretamente, a 2ª corrente, no julgado da PPE 730/2014, ao determinar que não seria possível a
extradição por falta de previsão no ordenamento jurídico brasileiro.
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Conclusão: hoje não há mais controvérsia, com o advento da L. 13.260/16, seu art. 2º traz, expressamente, o conceito
de terrorismo.
Crime:
Art. 2o O terrorismo consiste na prática por um ou mais indivíduos dos atos previstos neste artigo, [1] por razões de
xenofobia, discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia e religião, quando cometidos com [2] a finalidade de
provocar terror social ou generalizado, [3] expondo a perigo pessoa, patrimônio, a paz pública ou a incolumidade
pública.
Meios de execução:
§ 1o São atos de terrorismo:
I - usar ou ameaçar usar, transportar, guardar, portar ou trazer consigo explosivos, gases tóxicos, venenos, conteúdos
biológicos, químicos, nucleares ou outros meios capazes de causar danos ou promover destruição em massa;
II – (VETADO);
III - (VETADO);
(...)
IV - sabotar o funcionamento ou apoderar-se, com violência, grave ameaça a pessoa ou servindo-se de mecanismos
cibernéticos, do controle total ou parcial, ainda que de modo temporário, de meio de comunicação ou de transporte, de
portos, aeroportos, estações ferroviárias ou rodoviárias, hospitais, casas de saúde, escolas, estádios esportivos,
instalações públicas ou locais onde funcionem serviços públicos essenciais, instalações de geração ou transmissão de
energia, instalações militares, instalações de exploração, refino e processamento de petróleo e gás e instituições
bancárias e sua rede de atendimento;
V - atentar contra a vida ou a integridade física de pessoa:
Pena - reclusão, de doze a trinta anos, além das sanções correspondentes à ameaça ou à violência.
Cuidado: ataques do PCC não é terrorismo por ausência dos 3 elementos constantes nos caput do art. 2º.
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A CF, no art. 5º, XLIII, estabelece que o tráfico ilícito de drogas, a tortura e o terrorismo (T.T.T) são equiparados aos
crimes hediondos.
Para a corrente ampliativa, os crimes de terrorismo, que podem ser equiparados aos hediondos, são todos os previstos
na L. 13.260/16, ou seja, os arts. 2º + 3º + 5º + 6º.
1) terrorismo
Art. 2o O terrorismo consiste na prática por um ou mais indivíduos dos atos previstos neste artigo, por razões de
xenofobia, discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia e religião, quando cometidos com a finalidade de provocar
terror social ou generalizado, expondo a perigo pessoa, patrimônio, a paz pública ou a incolumidade pública.
§ 1o São atos de terrorismo:
(...)
2) organização terrorista
Art. 3o Promover, constituir, integrar ou prestar auxílio, pessoalmente ou por interposta pessoa, a [organização
terrorista] -> definição de organização criminosa da L. 12.850/13
Pena - reclusão, de cinco a oito anos, e multa.
4) financiamento ao terrorismo
Art. 6o Receber, prover, oferecer, obter, guardar, manter em depósito, solicitar, investir, de qualquer modo, direta ou
indiretamente, recursos, ativos, bens, direitos, valores ou serviços de qualquer natureza, para o [planejamento, a
preparação ou a execução] dos crimes previstos nesta Lei:
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Pena - reclusão, de quinze a trinta anos.
A corrente ampliativa é equivocada, porque a CF é clara ao especificar que o delito equiparado ao crime hediondo é o
“terrorismo”, portando os demais (organização terrorista, atos preparatórios e financiamento do terrorismo) não!
b) Corrente restritiva: apenas o delito do art. 2º, da L. 13.260/16, é equiparado aos crimes hediondos.
L. 13.260/16
Art. 17. Aplicam-se as disposições da Lei n. 8.072/90 (crimes hediondos), aos crimes previstos nesta Lei.
Art. 18. O inciso III do art. 1o da Lei n. 7.960/89 (lei da prisão temporária), passa a vigorar acrescido da seguinte alínea p:
“Art. 1º
III (...)
p) crimes previstos na Lei de Terrorismo.”
Na obra Derecho Penal Del Terrorismo, Mariona Llobet Angli diz que podemos ter ao menos 3 correntes:
O erro da 1ª corrente -> o terrorismo (art. 2º, caput) é diferente de atos de terrorismo (art. 2º, §1º) e, o dispositivo, ao
estabelecer a pena, já afasta a aplicabilidade do princípio da consunção (crimes fins absorvem os crimes meios):
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Pena - reclusão, de doze a trinta anos, além das sanções correspondentes à ameaça ou à violência.
Ou seja, 12 a 30 anos, em concurso formal impróprio com o crime de ameaça ou violência, portanto os bens jurídicos
tutelados são diversos.
O erro da 2ª corrente -> no Brasil o terrorismo não contém o especial fim de agir de provocar mudanças políticas.
Por tudo isso, o ideal é dizer que o bem jurídico tutelado é a paz pública.
Curiosidade: tramita, no Congresso Nacional, um PL 236/2012 de alteração do Código Penal, que determina a
incorporação dos crimes previstos em leis penais especiais ao Código Penal, e, por esse PL, a L. 13.260/16 foi adicionada
ao Código Penal, no capítulo que trata dos crimes que tutelam a paz pública!
Também, para o doutrinador André Luis Calegario, é a paz pública o bem jurídico tutelado.
O terrorismo é um crime comum, ou seja, aquele que pode ser praticado por qualquer pessoa. A lei não exige nenhuma
qualidade especial do agente.
O crime de terrorismo tem que ser praticado por uma organização terrorista?
Para doutrina estrangeira, a organização terrorista é uma elementar do crime de terrorismo, de modo que pode ser
praticado por um agente, mas desde que tal agente faça parte de uma organização terrorista.
No Brasil não! O art. 2º é claro ao dizer que o terrorismo pode ser praticado “por um ou mais indivíduos”, sendo assim
não é elementar do crime ser praticado por uma organização terrorista.
No ordenamento jurídico brasileiro o crime de terrorismo é unissubjetivo (que pode ser praticado por uma ou mais
pessoas). E, veja que:
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Se praticado por 1 pessoa -> responde o agente pelo art. 2º, caput;
Se praticado por 1 pessoa participante de uma organização terrorista -> responde o agente pelo art. 2º, acrescido do
art. 3º e pelos demais crimes que houver cometido (homicídios, ameaças, lesões corporais, danos, incêndio, explosivo e
outros.
Terminologia usada pela doutrina estrangeira - LOBO SOLITÁRIO – Long Wolf -> alguém que organiza e executa atos
terroristas sem estar associado à nenhuma organização terrorista.
O FBI está evitando a expressão lobo porque traduz a ideia de um animal bonito e simpático, e, por isso, nos EUA eles
substituem por RATO SOLITÁRIO – Long Rat.
O crime de terrorismo é praticado através da execução, reiterada e aleatória, de crimes violentos contra bens jurídicos
essenciais.
O caput do art. 2º, por conter a expressão “dos atos previstos neste artigo”, é uma Norma Penal Em Branco*, que
necessita de complementação, e que, por isso, traz no § 1º os atos de terrorismo, que não define o crime de terrorismo,
mas estabelece os Meios De Execução do crime de terrorismo.
*Como o próprio artigo, em seu §1º, já traz a complementação, que foi editada pelo mesmo órgão (Congresso Nacional)
e oriundo do mesmo ramo do direito (penal), trata-se de uma Norma Penal Em Branco Homogênea e Homovitelina.
Principal problema!
Dificilmente, condutas têm sido enquadradas como terrorismo devido ausência do preenchimento de todas
elementares atinentes ao tipo subjetivo.
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O tipo subjetivo é constituído por um elemento geral (dolo = consciência e vontade) somado ao especial motivo de agir
e especial fim de agir.
Evidente que, o especial MOTIVO não se confunde com o especial FIM de agir! Porque, como o próprio nome indica,
refere-se aos MOTIVOS que impulsionaram a conduta:
b)Discriminação: promover qualquer tipo de distinção ou exclusão, mediante ações negativas (discriminação negativa);
porque a discriminação positiva (cotas raciais, por exemplo) é permitida;
Perceba que, apesar da lei usar “ou” o correto seria “e”, porque o preconceito se materializa através de algum ato de
discriminação:
Art. 2o O terrorismo consiste na prática por um ou mais indivíduos dos atos previstos neste artigo, [1] por razões de
xenofobia, discriminação (“ou”) preconceito de raça, cor, etnia e religião, quando cometidos com [2] a finalidade de
provocar terror social ou generalizado, [3] expondo a perigo pessoa, patrimônio, a paz pública ou a incolumidade
pública.
Entenda que a discriminação e preconceito estão obrigatoriamente, e diretamente, ligados com as elementares abaixo:
d)Raça: conjunto de pessoas com características físicas ou biológicas semelhantes porque transmitidas
hereditariamente -> mas, o conceito de raça, vem sendo criticado pela doutrina mais moderna, inclusive HC 82.424 do
STF, porque não pode estabelecer diferença sob ponto de vista biológico;
g) Religião; modo de manifestação da fé ou da ausência de fé, portanto ate o ateu poder ser vítima.
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2.6.2. Especial fim de agir de provocar terror social ou generalizado.
O especial FIM de agir refere-se à finalidade, ou seja, o objetivo do agente ao praticar o delito, qual seja, de provocar
terror social ou generalizado.
Método terrorista:
a) Caráter aleatório (ou indiscriminado de escolha das vítimas - vítimas sem rosto); porque gera mais pânico;
b) Instrumentalização das vítimas (intimidação massiva); vitimas são usadas como instrumentos para intimidar toda a
sociedade;
c) Perspectiva de reiteração dos atos; o terrorismo não é crime habitual, basta a perspectiva de que haverão outros
d) Terrorismo e mídia; a mídia tem a obrigação e direito de levar informações, mas, por conta da internet, as imagens de
um ato terrorista circulam de um aparelho eletrônico para outro de modo rápido e impactante, causando um temor nas
pessoas.
2.8. Classificação doutrinária do crime de terrorismo do art. 2º, caput, da Lei n. 13.260/16.
O terrorismo é um crime:
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2.9. Distinção entre o crime de terrorismo e atos de terrorismo.
O crime de terrorismo está tipificado no art. 2º, já os atos de terrorismo são meios de execução, especificados no §1º.
Crime:
Art. 2o O terrorismo consiste na prática por um ou mais indivíduos dos atos previstos neste artigo, [1] por razões de
xenofobia, discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia e religião, quando cometidos com [2] a finalidade de
provocar terror social ou generalizado, [3] expondo a perigo pessoa, patrimônio, a paz pública ou a incolumidade
pública.
Meios de execução:
§ 1o São atos de terrorismo:
I - usar ou ameaçar usar, transportar, guardar, portar ou trazer consigo explosivos, gases tóxicos, venenos, conteúdos
biológicos, químicos, nucleares ou outros meios capazes de causar danos ou promover destruição em massa;
II – (VETADO);
III - (VETADO);
(...)
IV - sabotar o funcionamento ou apoderar-se, com violência, grave ameaça a pessoa ou servindo-se de mecanismos
cibernéticos, do controle total ou parcial, ainda que de modo temporário, de meio de comunicação ou de transporte, de
portos, aeroportos, estações ferroviárias ou rodoviárias, hospitais, casas de saúde, escolas, estádios esportivos,
instalações públicas ou locais onde funcionem serviços públicos essenciais, instalações de geração ou transmissão de
energia, instalações militares, instalações de exploração, refino e processamento de petróleo e gás e instituições
bancárias e sua rede de atendimento;
V - atentar contra a vida ou a integridade física de pessoa:
Pena - reclusão, de doze a trinta anos, além das sanções correspondentes à ameaça ou à violência.
As manifestações sociais NÃO tipificam o terrorismo, por ausência do especial motivo de agir.
Mas, se a parte inicial do § 2º, expressamente se refere ao art. 2º, como ficam os demais crimes?
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Art. 2º(...)
§ 2o O disposto [neste artigo] não se aplica à conduta individual ou coletiva de pessoas em manifestações políticas,
movimentos sociais, sindicais, religiosos, de classe ou de categoria profissional, direcionados por propósitos sociais ou
reivindicatórios, visando a contestar, criticar, protestar ou apoiar, com o objetivo de defender direitos, garantias e
liberdades constitucionais, [sem prejuízo da tipificação penal contida em lei].
O §2º deve ser interpretado extensivamente aos demais crimes previstos na L. 13.260/16.
A parte final do §2ª acrescenta que as manifestações sociais podem caracterizar outros delitos.
3. Organização terrorista.
Lei n. 13.260/16
Art. 3o Promover, constituir, integrar ou prestar auxílio, pessoalmente ou por interposta pessoa, a organização
terrorista:
Pena - reclusão, de cinco a oito anos, e multa.
Como o artigo 3º da L. 13.260/16 não definiu o conceito de organização terrorista, deve-se aproveitar o conceito de
organização criminosa, da L. 12.850/13, atrelado ao terrorismo
4. Preparação de terrorismo.
Lei n. 13.260/16
Art. 5o Realizar [atos preparatórios] de terrorismo com o propósito inequívoco de consumar tal delito:
Pena - a correspondente ao delito consumado, diminuída de um quarto até a metade.
§ lo Incorre nas mesmas penas o agente que, com o propósito de praticar atos de terrorismo:
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I - recrutar, organizar, transportar ou municiar indivíduos que viajem para país distinto daquele de sua residência ou
nacionalidade; ou
II - fornecer ou receber treinamento em país distinto daquele de sua residência ou nacionalidade.
Combatente terrorista estrangeiro: aqueles indivíduos que viajam para um Estado distinto daqueles de sua residência
ou nacionalidade, com o propósito de perpetrar, planejar, preparar ou participar de atos terroristas, ou fornecer ou
receber treinamento para o terrorismo, inclusive em conexão com conflitos armados.
A regra é que o direito penal intervenha quando houver atos de execução, todavia, alguns atos preparatórios são tão
graves que serão punidos como crime. Ex: arts. 288, 291, do CP; e art. 5º da L. 13.260/16.
NÃO.
Na verdade o problema do art .5º não é punir atos preparatórios, mas a falta de definição legal do que seriam atos
preparatórios de terrorismo.
E, a pouca doutrina que temos, sobre a L.13.260/90, vem questionando do art. 5º sob a ótica do princípio da legalidade,
sobre a regra da taxatividade - “nullum crimem nulla poena sine lege certa”, porque o tipo penal não descreve o que é
atos preparatórios de terrorismo.
Veja que o § 1º, do art. 5º, também pune atos preparatórios de terrorismo, mas, ao invés de se valer de uma fórmula
genérica e aberta (como a do caput), ele específica quais seriam os atos preparatórios.
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Combatente terrorista estrangeiro: aqueles indivíduos que viajam para um Estado distinto daqueles de sua residência
ou nacionalidade, com o propósito de perpetrar, planejar, preparar ou participar de atos terroristas, ou fornecer ou
receber treinamento para o terrorismo, inclusive em conexão com conflitos armados.
Treinamento para terrorismo: deve ser compreendido como o fato de dar instruções para o fabrico ou para a utilização
de explosivos, armas de fogo ou outras armas ou substâncias nocivas ou perigosas ou para outros métodos e técnicas
específicos tendo em vista a prática de uma infração terrorista ou contribuir para a sua prática, sabendo que os
conhecimentos específicos fornecidos visam à realização de tal objetivo;
Art. 6o Receber, prover, oferecer, obter, guardar, manter em depósito, solicitar, investir, de qualquer modo, direta ou
indiretamente, recursos, ativos, bens, direitos, valores ou serviços de qualquer natureza, para o planejamento, a
preparação ou a execução dos crimes previstos nesta Lei:
Pena - reclusão, de quinze a trinta anos.
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem oferecer ou receber, obtiver, guardar, mantiver em depósito, solicitar,
investir ou de qualquer modo contribuir para a obtenção de ativo, bem ou recurso financeiro, com a finalidade de
financiar, total ou parcialmente, pessoa, grupo de pessoas, associação, entidade, organização criminosa que tenha como
atividade principal ou secundária, mesmo em caráter eventual, a prática dos crimes previstos nesta Lei.
É a chamada ponte de ouro que o ordenamento jurídico coloca no iter criminis para que o agente, que já haja praticado
atos executórios, possa voltar atrás:
CP
Art. 15. O agente que, voluntariamente, desiste de prosseguir na execução [ou] impede que o resultado se produza, só
responde pelos atos já praticados.
Ex: marido envenena sua esposa, com intenção de matá-la, mas, desiste e impede o resultado lhe oferecendo um
antídoto.
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Agora veja a diferença com na L. 13.260/16:
Lei n. 13.260/16
Art. 10. Mesmo antes de iniciada a execução do crime de terrorismo, na hipótese do art. 5 o desta Lei, aplicam-se as
disposições do art. 15 do Código Penal.
Ex; agente vai ao Paraguai compra um fuzil, mas desiste de cometer o terrorismo, por isso vai responde pelos atos já
praticados.
Lei n. 13.260/16
Art. 11. Para todos os efeitos legais, considera-se que os crimes previstos nesta Lei são praticados contra o interesse da
União, cabendo à Polícia Federal a investigação criminal, em sede de inquérito policial, e à Justiça Federal o seu
processamento e julgamento, nos termos do [inciso IV do art. 109 da Constituição Federal].
|
Para prova objetiva,
conheça o texto legal!
Mas, de acordo com a doutrina, que escreve sobre a L.13.260/16, nesse ponto a redação do artigo 11 é manifestamente
inconstitucional.
Veja alguns dos 5 motivos elencados no Manual de Legislação Criminal Especial, do Professor Renato Brasileiro:
1º) o crime de terrorismo não é praticado contra a União, porque o bem jurídico tutelado, sendo a paz pública, pertence
a toda sociedade:
3ª) o crime de terrorismo não tem o requisito de internacionalidade territorial do resultado exigido para os crimes
previstos em tratado ou convenção internacional;
Então, é inconstitucional, segundo o professor, assim como para Fabio Roque (Legislação Criminal Especial, Fábio Roque,
Nestor Távora e Rosmar Rodrigues Alencar)
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8. Atribuições investigatórias em relação aos crimes previstos na L. 13.260/16
Lei n. 13.260/16
Art. 11. Para todos os efeitos legais, considera-se que os crimes previstos nesta Lei são praticados contra o interesse da
União, cabendo à [Polícia Federal] a investigação criminal, em sede de inquérito policial, e à Justiça Federal o seu
processamento e julgamento, nos termos do inciso IV do art. 109 da Constituição Federal.
O art. 11 é constitucional porque está em conformidade com o art. 144, §1º, I, da CF:
Constituição Federal
Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da
ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos:
§ 1º A polícia federal, instituída por lei como órgão permanente, estruturado em carreira, destina-se a:
I - apurar infrações penais contra a ordem política e social ou em detrimento de bens, serviços e interesses da União ou
de suas entidades autárquicas e empresas públicas, (1) assim como outras infrações cuja prática tenha repercussão
interestadual ou internacional e exija repressão uniforme, (2) segundo se dispuser em lei;
L. 10.446/02
L. 13. 260/16
Lei n. 13.260/16
Art. 11. Para todos os efeitos legais, considera-se que os crimes previstos nesta Lei são praticados contra o interesse da
União, cabendo à [Polícia Federal] a investigação criminal, em sede de inquérito policial, e à Justiça Federal o seu
processamento e julgamento, nos termos do inciso IV do art. 109 da Constituição Federal.
Conclusão:
Para a prova objetiva, a posição adotada deve ser conforme a lei, por isso:
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-a competência será da Justiça Federal, e, a atribuição investigatória, da Polícia Federal.
-a atribuição investigatória é da Polícia Federal (conforme a CF), MAS a competência da Justiça Federal é
inconstitucional.
9. Aplicação das disposições da Lei das Organizações Criminosas para a investigação, processo e julgamento dos crimes
previstos na Lei Antiterrorismo
Lei n. 13.260/16
Art. 16. Aplicam-se as disposições da Lei n. 12.850/13, para a [investigação], [processo e julgamento] na dos crimes
previstos nesta Lei. |
L. 12.694/12
Prevê um Juízo Colegiado
Como o legislador, no art. 16, disse menos do que pretendia, deve-se interpretar, extensivamente, o art. 16 nos
seguintes termos:
10. Aplicação das disposições da Lei dos Crimes Hediondos aos crimes previstos na Lei n. 13.260/16.
Lei n. 13.260/16
Art. 17. Aplicam-se as disposições da Lei n. 8072/90 aos crimes previstos nestas lei.
11. Cabimento de prisão temporária em relação aos crimes previstos na Lei de Terrorismo.
Lei n. 13.260/16
Art. 18. O inciso III do art. 1º da Lei n. 8.072/90 passa a vigorar acrescido da seguinte alínea p:
“Art. 1º (...)
III (...)
p) crimes previstos na Lei de Terrorismo.” (NR)
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LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL
Lei de Tortura
Renato Brasileiro
Aula 10
ROTEIRO DE AULA
Tema: Tortura
TORTURA
(Lei n. 9.455/97)
O martírio que o crime de tortura acarreta à vítima é tão grave, que as pesquisas demonstram que o constrangimento
físico, que a vítima é submetida, causa um transtorno psicológico gravíssimo, de modo que as sequelas psicológicas
dificilmente são superadas.
1. Previsão normativa.
-Convenção Contra a Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes – ONU (10/12/84),
Decreto n. 40/91.
-Protocolo Facultativo à Convenção contra a Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou
Degradantes (18/12/02), Decreto n. 6085/07.
1
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A Tortura na Legislação Brasileira:
Na legislação brasileira, a tortura está prevista na CF/88, posteriormente, o ECA/90 tipificou uma modalidade especial
de tortura, e, finalmente, o legislador infraconstitucional tipificou o crime de tortura na Lei n. 9.455/97.
Compreenda:
Constituição Federal
Art. 5º (...)
(...)
III – ninguém será submetido à tortura nem a tratamento desumano ou degradante;
(...)
XLIII - a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática da tortura, o tráfico ilícito de
entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes,
os executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem; (mandado de criminalização para os crimes hediondos e aos
crimes equiparados aos hediondos).
A tortura era prevista na Lei 8.069/90 (ECA), como uma modalidade especial de tortura (com sujeito passivo próprio),
contudo foi revogada pela Lei n. 9.455/97.
Dentre outros, o doutrinador Alberto Silva Franco criticava a redação do art. 233 (ECA) porque violava a legalidade,
mais precisamente, em um de seus subprincípios, que é a taxatividade (proibição de tipos penais indeterminados).
Lei n. 8.069/90
Art. 233. Submeter criança ou adolescente sob sua autoridade, guarda ou vigilância a tortura:
Pena - reclusão de um a cinco anos. (Revogado pela Lei n. 9.455/97)
§1º Se resultar lesão corporal grave:
Pena - reclusão de dois a oito anos.
§2º Se resultar lesão corporal gravíssima:
Pena - reclusão de quatro a doze anos.
§ 3º Se resultar morte:
Pena - reclusão de quinze a trinta anos.
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O STF, por sua vez, decidiu que o art. 233 do ECA, era constitucional:.
STF: “(...) O crime de tortura, desde que praticado contra criança ou adolescente, constitui entidade delituosa
autônoma cuja previsão típica encontra fundamento jurídico no art. 233 da Lei nº 8.069/90. Trata-se de preceito
normativo que encerra tipo penal aberto suscetível de integração pelo magistrado, eis que o delito de tortura - por
comportar formas múltiplas de execução - caracteriza- se pela inflição de tormentos e suplícios que exasperam, na
dimensão física, moral.
ou psíquica em que se projetam os seus efeitos, o sofrimento da vítima por atos de desnecessária, abusiva e inaceitável
crueldade. - A norma inscrita no art. 233 da Lei nº 8.069/90, ao definir o crime de tortura contra a criança e o
adolescente, ajusta-se, com extrema fidelidade, ao princípio constitucional da tipicidade dos delitos (CF, art. 5º, XXXIX).
O Brasil, ao tipificar o crime de tortura contra crianças ou adolescentes, revelou-se fiel aos compromissos que assumiu
na ordem internacional, especialmente àqueles decorrentes da Convenção de Nova York sobre os Direitos da Criança
(1990), da Convenção contra a Tortura adotada pela Assembleia Geral da ONU (1984), da Convenção Interamericana
contra a Tortura concluída em Cartagena (1985) e da Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de São José
da Costa Rica), formulada no âmbito da OEA (1969). Mais do que isso, o legislador brasileiro, ao conferir expressão
típica a essa modalidade de infração delituosa, deu aplicação efetiva ao texto da Constituição Federal que impõe ao
Poder Público a obrigação de proteger os menores contra toda a forma de violência, crueldade e opressão (art. 227,
caput, in fine). (...)”. (STF, Pleno, HC 70.389/SP, Rel. Min. Celso de Mello, j. 23/06/1994, DJ 10/08/2001).
Contudo, a decisão do STF foi superada pela Lei n. 9.455/97, que tipifica o crime de tortura e revoga o art. 233 do ECA.
-CF/88;
-em 1990: Lei 8.069/90 (ECA) e Lei 8072/90 (Crimes Hediondos);
-em 1997: Lei 9.455/97 (Tortura - 09/04/97).
Os motivos da demora, para a criação da Lei de Tortura, são bem explicados pelo professor Alberto Silva Franco, em sua
obra Crimes Hediondos.
É certo que, as torturas ocorridas na Favela Naval, em Diadema, foram determinantes para a criação da lei.
Lei n. 9.455/97
Art. 1º Constitui crime de tortura:
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I - constranger alguém com emprego de violência ou grave ameaça, causando-lhe sofrimento físico ou mental:
a) com o fim de obter informação, declaração ou confissão da vítima ou de terceira pessoa;
b) para provocar ação ou omissão de natureza criminosa;
c) em razão de discriminação racial ou religiosa;
II - submeter alguém, sob sua guarda, poder ou autoridade, com emprego de violência ou grave ameaça, a intenso
sofrimento físico ou mental, como forma de aplicar castigo pessoal ou medida de caráter preventivo.
Pena - reclusão, de dois a oito anos.
§ 1º Na mesma pena incorre quem submete pessoa presa ou sujeita a medida de segurança a sofrimento físico ou
mental, por intermédio da prática de ato não previsto em lei ou não resultante de medida legal.
§ 2º Aquele que se omite em face dessas condutas, quando tinha o dever de evitá-las ou apurá-las, incorre na pena de
detenção de um a quatro anos.
Lei n. 9.455/97
Art. 4º Revoga-se o art. 233 da Lei n. 8.069/90 - Estatuto da Criança e do Adolescente.
Compreenda que não houve abolitio criminis (norma posterior deixa de considerar crime uma conduta que até então
era criminosa), porque a conduta tipificada pelo art. 233, do ECA/90, migrou para o art. 1º da Lei 9.455/97, em
decorrência do principio abaixo:
Obs. 1: Princípio da Continuidade Normativo-Típica; a conduta não deixa de ser crime porque migra de um dispositivo
para outro.
Mas, para os crimes de tortura previsto no art. 233 (ECA) praticados antes da Lei. 9.455/97, a pena a ser cominada,
segundo o STJ, será a prevista na lei anterior (ECA) porque mais benéfica:
STJ: “(...) Em matéria penal, a nova lei que redefine a conduta criminal, editada no curso do processo, não provoca o
fenômeno da abolitio criminis, ensejando, todavia, a ultratividade da lei penal antiga mais benigna. - Embora o art. 233
da Lei nº 8.069/90 (ECA), que tipificava o crime de tortura contra menores, tenha sido revogado pelo art. 4º da Lei nº
9.455/97, esta conduta recebeu definição criminal neste novo diploma legal, de forma mais gravosa, impondo-se,
portanto, a aplicação da lei anterior, mais benéfica. - Recurso ordinário desprovido. (...)”. (STJ, 6ª Turma, RHC
10.049/CE, Rel. Min. Vicente Leal, j. 06/12/2001, DJ 18/02/2002 p. 494).
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Por fim, a Lei n. 12.847/13, de natureza programática, que instituiu no Brasil o Sistema Nacional de Prevenção e
Combate à Tortura:
Lei n. 12.847/13
CAPÍTULO I
DO SISTEMA NACIONAL DE PREVENÇÃO E COMBATE À TORTURA - SNPCT
Art. 1o Fica instituído o Sistema Nacional de Prevenção e Combate à Tortura- SNPCT, com o objetivo de fortalecer a
prevenção e o combate à tortura, por meio de articulação e atuação cooperativa de seus integrantes, dentre outras
formas, permitindo as trocas de informações e o intercâmbio de boas práticas.
Art. 2o O SNPCT será integrado por órgãos e entidades públicas e privadas com atribuições legais ou estatutárias de
realizar o monitoramento, a supervisão e o controle de estabelecimentos e unidades onde se encontrem pessoas
privadas de liberdade, ou de promover a defesa dos direitos e interesses dessas pessoas.
(...)
Dois exemplos práticos do SNPCT, que contribuem para monitoramento/supervisão/controle de tortura, de modo a
promover a defesa dos direitos e interesses de pessoas privadas de liberdade, são:
2. Competência de Justiça.
Cuidado porque o art. 109, V, CF, determina que a Justiça Federal tenha competência se: o crime esteja previsto em um
tratado ou convenção internacional, e seja dotado de uma internacionalidade territorial do resultado.
*Obs. 1: não se pode negar que os crimes previstos na Lei n. 9.455/97 também podem ser julgados por outras
“Justiças”, a depender do caso concreto:
Justiça Federal-Súmula n. 147 do STJ: “Compete à Justiça Federal processar e julgar os crimes praticados contra/por
funcionário público federal, quando relacionados com o exercício da função”.
Justiça Federal-STJ: “(...) Existindo indícios de que o crime de tortura fora praticado por policiais militares estaduais no
interior de Delegacia da Polícia Federal, compete à Justiça Federal, a teor do art. 109, IV, da Constituição Federal, o
processamento e julgamento do feito. Conflito conhecido para declarar competente o Juízo Federal da Subseção.
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Judiciária de Rio Verde/GO, o suscitante”. (STJ, 3ª Seção, CC 102.714/GO, Rel. Min. Jorge Mussi, j. 26/05/2010, DJe
10/06/2010).
CPM
Art. 9º Consideram-se crimes militares, em tempo de paz:
(...)
II – os crimes previstos neste Código e os previstos na legislação penal, quando praticados: (Redação dada pela Lei n.
13.491/17) |.
(CP + Legislação Especial)
(...)
c) por militar em serviço ou atuando em razão da função, em comissão de natureza militar, ou em formatura, ainda que
fora do lugar sujeito à administração militar contra militar da reserva, ou reformado, ou civil; .
(...)
Atenção com a constitucionalidade da Lei 13.491/17 (vídeo no Youtube – Professor Renato Brasileiro).
3.1. Tortura e o cenário da bomba-relógio (Tortura para salvamento ou Ticking Time Bomb Scenario Theory)
1ª corrente: dá preponderância ao direito à vida, e por isso, para proteger milhares de vidas, e diante da presença de
alguns pressupostos específicos, seria possível a tortura para salvamento, sem responder o torturador por crime.
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Norberto Bobbio: “(...) o direito a não ser escravizado implica a eliminação do direito de possuir escravos, assim como o
direito de não ser torturado implica a eliminação do direito de torturar. Esses dois direitos podem ser considerados
absolutos (...)”.
Artigo 29
Imprescritibilidade
Os crimes da competência do Tribunal não prescrevem.
1ª corrente – minoritária: imprescritibilidade do crime de tortura (Rogério Grecco). Para essa corrente, que trabalha
segundo a orientação do princípio “pro homine”, deve prevalecer o Estatuto de Roma porque mais protege os direitos
humanos.
2ª corrente – majoritária: prescritibilidade do crime de tortura (Eduardo Cabette e Francisco Sannini). Precedentes dos
Tribunais Superiores:
STF – Extradição 1.278: (...) 2. Crimes de tortura, homicídio, sequestro qualificado e desaparecimento forçado de
pessoas. 3. Atendimento dos requisitos formais. 4. Dupla tipicidade. Desaparecimento forçado de pessoas. Análise da
dupla tipicidade com base no delito de sequestro. Entendimento adotado na EXT 974/Argentina. 5. Prescrição dos
crimes de tortura e homicídio, segundo o ordenamento jurídico brasileiro. 6. Pedido de extradição deferido sob a
condição de que o Estado requerente assuma, em caráter formal, o compromisso de comutar eventual pena de
prisão perpétua em pena privativa de liberdade, com o prazo máximo de 30 anos. 7. Extraditando que responde a
processo penal no Brasil por crime diverso daquele que versa o pedido de extradição. 8. Discricionariedade do Chefe
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do Poder Executivo para ordenar a extradição ainda que haja processo penal instaurado ou mesmo condenação no
Brasil (art. 89 da Lei 6.815/1980). 9. Pedido de extradição deferido parcialmente (somente em relação aos crimes de
sequestro).
(STF - Ext: 1278 DF, Relator: Min. GILMAR MENDES, Data de Julgamento: 18/09/2012, Segunda Turma, Data de
Publicação: ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-195 DIVULG 03-10-2012 PUBLIC 04-10-2012).
Essa orientação é a que prevalece porque a CF em momento algum diz que a tortura será imprescritível:
Constituição Federal
Art. 5º (...)
(...)
XLII - a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei;
(...) XLIII - tortura prescritível (art. 109, CP)
XLIV - constitui crime inafiançável e imprescritível a ação de grupos armados, civis ou militares, contra a ordem
constitucional e o Estado Democrático;
Cuidado com ações cíveis de indenização por tortura porque são imprescritíveis:
-Obs. 1: conquanto seja dominante a orientação no sentido de que o crime de tortura está sujeito à prescrição, há
precedentes dos Tribunais Superiores (STF/STJ) no sentido de que a reparação civil do dano decorrente da prática de
tortura é imprescritível:
STF: “(...) As ações indenizatórias por danos morais decorrentes de atos de tortura ocorridos durante o Regime Militar
de exceção são imprescritíveis. Inaplicabilidade do prazo prescricional do art. 1º do Decreto 20.910/1932. Precedentes
do STJ. O Brasil é signatário do Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos das Nações Unidas – incorporado
ao ordenamento jurídico pelo Decreto-Legislativo 226/1991, promulgado pelo Decreto 592/1992 –, que traz a garantia
de que ninguém será submetido à tortura, nem a pena ou a tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes, e prevê a
proteção judicial para os casos de violação de direitos humanos. A Constituição da República não estipulou lapso
prescricional à faculdade de agir, correspondente ao direito inalienável à dignidade. Agravo Regimental não provido.” 4.
Agravo regimental DESPROVIDO”. (STF, 1ª Turma, RE 715.268 AgR/RJ, Rel. Min. Luiz Fux, j. 06/05/2014, DJe 98
22/05/2014).
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Lei n. 9.455/97
Art. 1º Constitui crime de tortura:
1º crime
I - constranger alguém com emprego de violência ou grave ameaça, causando-lhe sofrimento físico ou mental:
alíneas a, b = especial fim de agir ou dolo específico
a) com o fim de obter informação, declaração ou confissão da vítima ou de terceira pessoa;
b) para provocar ação ou omissão de natureza criminosa;
alínea c = especial motivo de agir
c) em razão de discriminação racial ou religiosa;
2º crime
II - submeter alguém, sob sua guarda, poder ou autoridade, com emprego de violência ou grave ameaça, a intenso
sofrimento físico ou mental, como forma de aplicar castigo pessoal ou medida de caráter preventivo.
Pena - reclusão, de dois a oito anos.
3º crime
§ 1º Na mesma pena incorre quem submete pessoa presa ou sujeita a medida de segurança a sofrimento físico ou
mental, por intermédio da prática de ato não previsto em lei ou não resultante de medida legal.
4º crime
§ 2º Aquele que se omite em face dessas condutas, quando tinha o dever de evitá-las ou apurá-las, incorre na pena de
detenção de um a quatro anos.
Art. 1º, I:
→ constranger;
→ violência ou grave ameaça;
→ sofrimento:
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físico = dor/tormento: choque elétrico, pau de arara, afogamento, sufocamento, e outros;
mental = angústia/medo: privação do sono, roleta russa, e outros.
-Dolo direto ou eventual (não basta o dolo genérico) somado ao + especial fim de agir (alíneas a e b) ou ao + especial
motivo de agir (alínea c).
Nos tratados internacionais a tortura é crime próprio porque o agente deve ser um funcionário público (corrente
minoritária):
Convenção contra a Tortura e outros tratamentos ou penas cruéis, desumanos ou degradantes da ONU (Decreto n.
40/1991).
ARTIGO 1º
1. Para os fins da presente Convenção, o termo "tortura" designa qualquer ato pelo qual dores ou sofrimentos agudos,
físicos ou mentais, são infligidos intencionalmente a uma pessoa a fim de obter, dela ou de uma terceira pessoa,
informações ou confissões; de castigá-la por ato que ela ou uma terceira pessoa tenha cometido, ou seja, suspeita de
ter cometido; de intimidar ou coagir esta pessoa ou outras pessoas; ou por qualquer motivo baseado em discriminação
de qualquer natureza; quando tais dores ou sofrimentos são infligidos por um funcionário público ou outra pessoa no
exercício de funções públicas, ou por sua instigação, ou com o seu consentimento ou aquiescência. Não se considerará
como tortura as dores ou sofrimentos que sejam consequência unicamente de sanções legítimas, ou que sejam
inerentes a tais sanções ou delas decorram.
Atenção porque cai em prova: na Lei n. 9455/97 a tortura, em regra, é crime comum, porque o art. 1º não exige que o
sujeito ativo seja funcionário público.
1ª corrente (minoritária): a tortura é crime próprio -> sujeito ativo é funcionário público;
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2ª corrente (majoritária): a tortura é crime comum -> sujeito ativo é qualquer pessoa. A corrente esta em conformidade
com o principio “pro homine” porque a lei brasileira confere aos direitos humanos uma proteção maior, já que
qualquer pessoa pode praticar tortura.
STJ: “(...) O conceito de tortura, tomado a partir dos instrumentos de direito internacional, tem um viés estatal,
implicando que o crime só poderia ser praticado por agente estatal (funcionário público) ou por um particular no
exercício de função pública, consubstanciando, assim, crime próprio. 2. O legislador pátrio, ao tratar do tema na Lei n.
9.455/1997, foi além da concepção estabelecida nos instrumentos internacionais, na medida em que, ao menos no art.
1º, I, ampliou o conceito de tortura para além da violência perpetrada por servidor público ou por particular que lhe
faça às vezes, dando ao tipo o tratamento de crime comum. (...) A adoção de uma concepção mais ampla do tipo, tal
como estabelecida na Lei n. 9.455/1997, encontra guarida na Convenção contra a Tortura e outros Tratamentos ou
Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes, que ao tratar do conceito de tortura estabeleceu -, em seu art. 1º, II -, que: o
presente artigo não será interpretado de maneira a restringir qualquer instrumento internacional ou legislação nacional
que contenha ou possa conter dispositivos de alcance mais amplo; não há, pois, antinomia entre a concepção adotada
no art. 1º, I, da Lei n. 9.455/1997 - tortura como crime comum - e aquela estatuída a partir do instrumento
internacional referenciado. (...)”. (STJ, 6ª Turma, Resp 1.738.264/DF, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, j. 23/08/2018, DJe
14/09/2018).
A tentativa é admitida porque sendo a tortura um crime plurissubsistente existe a possibilidade de fracionamento da
execução.
Os crimes de lesão corporal leve, ameaça, constrangimento ilegal são fases normais (crimes meios) de um crime fim,
que é a tortura, portanto pelo principio da consunção serão absorvidos.
5.6. Materialidade.
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Não é obrigatório o exame de corpo de delito, ou seja, o laudo pericial não é condição sine qua non para condenação
do crime de tortura.
Agora, se houver vestígios, deverá ser feito exame de corpo de delito direto, do contrário a prova deverá ser por meio
de prova testemunhal/documental:
STJ: “(...) O crime previsto no artigo 1º, inciso I, letra a, da Lei 9.455/1997 pressupõe o suplício físico ou mental da
vítima, não se podendo olvidar que a tortura psicológica não deixa vestígios, não podendo, consequentemente, ser
comprovada por meio de laudo pericial, motivo pelo qual a materialidade delitiva depende da análise de todo o
conjunto fático-probatório constante dos autos, principalmente do depoimento da vítima e de eventuais testemunhas.
Precedentes. (...)”. (STJ, 5ª Turma, HC 214.770/DF, Rel. Min. Jorge Mussi, j. 01/12/2011, DJe 19/12/2011).
5.7. Tortura-confissão (tortura persecutória, tortura prova, tortura probatória, tortura institucional ou tortura
inquisitorial).
Segundo a doutrina, pouco importa a natureza do fato que teria sido objeto dessa informação, declaração ou confissão.
E, a informação, a declaração ou confissão obtida por meio da tortura será prova ilícita.
5.8. Tortura-crime.
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(...)
A expressão “criminosa”, contida no final da alínea “b”, não abrange contravenção penal, do contrário seria uma
analogia in malam partem (adotar uma regulamentação de um caso semelhante, mas que prejudica o réu)
E, seguindo o mesmo raciocínio acima, no caso de ato infracional (que pode ser um crime ou contravenção), se o ato
for crime pode caracterizar tortura, se for contravenção não.
A vítima da tortura, que praticou ação ou omissão criminosa, não responde pelo crime porque é caso de inexigibilidade
de conduta diversa (a culpabilidade é excluída).
O sujeito ativo da tortura responde pelo crime do art. 1º, I, b, em concurso material com o crime praticado pela vítima
da tortura.
Ex: o sujeito ativo tortura vítima, que pratica apropriação indébita, a culpabilidade da vítima é excluída e o sujeito ativo
responderá por ambos os crime:
5.9. Tortura-preconceito.
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-racial = a discriminação racial é tratar de modo diferenciado porque a pessoa tem características físicas ou biológicas
semelhantes em decorrência da hereditariedade.
-religiosa =a discriminação religiosa é tratar de modo diferenciado, ou porque a pessoa tem uma religião (crença) ou
porque a pessoa não tem uma religião (ateu).
Homofobia e Transfobia – a decisão do STF abrange somente a Lei 7.716/89, portanto não se aplica à lei de tortura.
Observação: ADO 26/DF e MI 4.733/DF – por maioria, o Plenário do STF julgou procedentes os pedidos formulados para
reconhecer a mora do Congresso Nacional em editar lei que criminalizasse os atos de homofobia e transfobia.
Determinou, também, até que seja colmatada essa lacuna legislativa, a aplicação da Lei n. 7.716/89 (que define os
crimes resultantes de preconceito de raça ou de cor) às condutas de discriminação por orientação sexual ou identidade
de gênero, com efeitos prospectivos e mediante subsunção.
Lei n. 9.455/97
Art. 1º Constitui crime de tortura:
(...)
II - submeter alguém, sob sua guarda, poder ou autoridade, com emprego de violência ou grave ameaça, a intenso
sofrimento físico ou mental, como forma de aplicar castigo pessoal ou medida de caráter preventivo.
Pena - reclusão, de dois a oito anos.
(...)
O crime de tortura é um crime bipróprio, ou seja, exige uma qualidade especial tanto do sujeito ativo (pessoa que tem a
guarda, poder ou autoridade) quanto do sujeito passivo (pessoa que está sob a guarda).
Guarda = é estar sob a assistência de alguém (pai, tutor, curador, babá e cuidador de idoso).
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STJ: “(...) O crime de tortura, na forma do art. 1º, II, da Lei n. 9.455/1997 (tortura-castigo), ao contrário da figura típica
do inciso anterior, não pode ser perpetrado por qualquer pessoa, na medida em que exige atributos específicos do
agente ativo, somente cometendo essa forma de tortura quem detiver outra pessoa sob sua guarda, poder ou
autoridade (crime próprio). A expressão guarda, poder ou autoridade denota um vínculo preexistente, de natureza
pública, entre o agente ativo e o agente passivo do crime. Logo, o delito até pode ser perpetrado por um particular, mas
ele deve ocupar posição de garante (obrigação de cuidado, proteção ou vigilância) com relação à vitima, seja em virtude
da lei ou de outra relação jurídica. (...).Ampliar a abrangência da norma, de forma a admitir que o crime possa ser
perpetrado por particular que não ocupe a posição de garante, seja em decorrência da lei ou de prévia relação jurídica,
implicaria uma interpretação desarrazoada e desproporcional, também não consentânea com os instrumentos
internacionais que versam sobre o tema. No caso, embora a vítima estivesse subjugada de fato, ou seja, sob poder dos
recorridos, inexistia uma prévia relação jurídica apta a firmar a posição de garante dos autores com relação à vítima,
circunstância que obsta a tipificação da conduta como crime de tortura, na forma do art. 1º, II, da Lei n. 9.455/1997”.
(STJ, 6ª Turma, Resp 1.738.264/DF, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, j. 23/08/2018, DJe 14/09/2018).
Ex: adolescente tatuado na testa pelos tatuadores; Tim Lopes que ficou sob o poder de criminosos que o torturou.
Autoridade = quem exerce cargo, emprego ou função pública, de natureza civil ou militar, ainda que transitoriamente e
sem remuneração (art. 5º, Lei n. 4.898/65).
- Obs. 1: para fins de tipificação do crime do art. 1º, II, da Lei n. 9.455/97, é necessário que o ofendido esteja sob a
guarda, poder ou autoridade do torturador;
STJ: “(...) A conduta da paciente enquadra-se no tipo penal previsto no art. 1º, II, § 4º, II, da Lei n. 9.455/1997. A
paciente possuía os atributos específicos para ser condenada pela prática da conduta descrita no art. 1º, II, da Lei n.
9.455/1997. Indubitável que o ato foi praticado por quem detinha as crianças sob guarda, na condição de babá. (...)”.
(STJ, 6ª Turma, HC 169.379/SP, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, j. 22/08/2011, DJe 31/08/2011).
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CP
Art. 136 - Expor a perigo a vida ou a saúde de pessoa sob sua autoridade, guarda ou vigilância, para fim de educação,
ensino, tratamento ou custódia, quer privando-a de alimentação ou cuidados indispensáveis, quer sujeitando-a a
trabalho excessivo ou inadequado, quer abusando de meios de correção ou disciplina:
Pena - detenção, de dois meses a um ano, ou multa.
§1º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave:
Pena - reclusão, de um a quatro anos.
§2º - Se resulta a morte:
Pena - reclusão, de quatro a doze anos.
§3º - Aumenta-se a pena de um terço, se o crime é praticado contra pessoa menor de 14 (catorze) anos.
No Manual de Processo Penal (Professor Renato Brasileiro) são apontados ao menos 3 diferenças:
O crime de maus tratos não é de forma livre, trata-se de um crime de forma vinculada porque o próprio legislador já diz
como tem que ser praticado,
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STJ: “(...) Para que se configure o delito de maus tratos é necessária a demonstração de que os castigos infligidos
tenham por fim a educação, o ensino, o tratamento ou a custódia do sujeito passivo, circunstâncias que não se
evidenciam na hipótese. Precedente desta Corte. 2. A conduta verificada nos autos encontra melhor adequação típica
na descrição feita pelo art. 1o., II da Lei 9.455/97 - tortura, o que não exclui a possibilidade de outra definição do fato se
verificado, depois de realizada mais aprofundada cognição probatória, serem outras as circunstâncias delitivas. (...)”.
(STJ, 3ª Seção, CC 102.833/MG, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, j. 26/08/2009, DJe 10/09/2009).
Observações importantes:
- a figura do art. 1º, §1º, é um crime próprio porque somente o agente que tem a custódia pode praticar o delito;
- compreenda o significado de “por intermédio da prática de ato não previsto em lei* ou não resultante de medida
legal**”:
*O art. 45 especifica vários direitos do preso, dentre eles o direito à alimentação, então, se, por exemplo, o preso for
privado de alimentação, responderá o agente por tortura porque praticou ato não previsto em lei.
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**Por outro lado o RDD (regime disciplinar diferenciado) é previsto na LEP e por isso é uma medida legal que não
caracteriza tortura.
8. Tortura-omissão
Atente para o fato de que “dessas condutas”, constante no §2º, refere-se ao art. 1º, I, II, §1º.
8.1. Não-evitação da prática de qualquer das modalidades de tortura (art. 1º, §2º, 1ª parte).
(1ª conduta - crime omissivo impróprio - a tortura ainda não fora praticada)
Mas veja que a pena dos crimes previstos, no art. 1º I, II, §1º, é de reclusão de 2 à 8 anos.
Isso ocorre porque o §2º funciona como uma norma especial em relação ao art.13, § 2º, alínea “a”, do CP, que prevê a
figura do garante:
CP
Art. 13. (...)
§ 2º - A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir para evitar o resultado. O dever de agir
incumbe a quem:
a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância;
b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado;
c) com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resultado.
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A norma especial do §2º é tratada, por alguns doutrinadores, como inconstitucional porque o tratamento benigno dado
ao “garante” está em confronto com o art. 5º da CF:
Constituição Federal
Art. 5º (...)
(...)
XLIII - a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática da tortura , o tráfico ilícito de
entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes,
os executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem;
Porém, a tese da inconstitucionalidade do §2º, mencionada acima, não é a que prevalece, porque, segundo a maioria da
doutrina e jurisprudência, o § 2º é uma norma especial, e, então, com base no princípio da especialidade, deve
prevalecer sobre a regra do art. 13, § 2º, alínea “a”, do CP.
A não-evitação da prática de qualquer das modalidades de tortura (art. 1º, §2º, 1ª parte), é crime omissivo impróprio.
8.2. Não-apuração da prática de qualquer das modalidades de tortura (art. 1º, §2º, in fine).
(2ª conduta - crime omissivo próprio - a tortura já ocorreu, mas o responsável não efetua a apuração )
A lesão corporal leve é absorvida pela tortura, por outro lado, a lesão corporal grave e a gravíssima não.
Lei n. 9.455/97
Art. 1º Constitui crime de tortura:
(...)
§ 3º Se resulta lesão corporal de natureza grave ou gravíssima, a pena é de reclusão de quatro a dez anos; se resulta
morte, a reclusão é de oito a dezesseis anos.
1ª corrente (Guilherme de Souza Nucci) – o crime do §3º pode ser preterdoloso ou não;
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2ª corrente – o crime do §3º é preterdoloso;
Existem 3 correntes:
2ª corrente (majoritária na doutrina) – as qualificadoras do §3º incidem no art. 1º, I e II, e §1º;
3ª corrente – como o §3º não faz nenhuma ressalva, ele será aplicado a tudo que o antecedeu - art. 1º, I e II, §§ 1º e §
2º.
CP
Art. 121. Matar alguém: (ANIMUS NECANDI = intenção de matar)
(...)
§2º Se o homicídio é cometido:
(...)
III – com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar
perigo comum;
§4º:
Lei n. 9.455/97
Art. 1º Constitui crime de tortura:
(causa de aumento de pena – incide na terceira fase da dosimetria da pena):
(...)§4º Aumenta-se a pena de um sexto até um terço:
I - se o crime é cometido por agente público (art. 327,CP);
II – se o crime é cometido contra criança, gestante, portador de deficiência, adolescente ou maior de 60 (sessenta) anos;
(Redação dada pela Lei n. 10.741/03).
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III - se o crime é cometido mediante sequestro (de acordo com a doutrina, também abrange o cárcere privado).
As 3 correntes, referentes a abrangência das qualificadoras do § 3º (já mencionadas no ‘item 9.2. Abrangência das
qualificadoras do §3º do art. 1º da Lei n. 9.455/97’ acima), também se aplicam à causa de aumento do §4:
Perceba que o § 5º não faz menção à quantidade da pena a ser aplicada, portanto, independente, do quantum da pena
a condenação, automaticamente, acarreta a perda do cargo, função ou emprego público.
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12. Vedação à liberdade provisória com fiança e (im) possibilidade de concessão de liberdade provisória sem fiança
cumulada com as medidas cautelares diversas da prisão.
Mas, a tortura admite a liberdade provisória sem fiança se for cumulativa com as medidas cautelares diversas da prisão.
E, atenção, porque as cautelares diversas da prisão são obrigatórias, segundo entendimento da doutrina, inclusive do
Ministro Rogério Schietti Cruz.
13. (Des) necessidade de defesa preliminar nos procedimentos penais referentes ao crime de tortura.
Defesa preliminar = é a manifestação da defesa antes do recebimento da peça acusatória, ou seja, uma espécie de
contraditório prévio, ao juízo de admissibilidade da peça acusatória, previsto em alguns procedimentos especiais:
CPP
Art. 514. Nos crimes afiançáveis, estando a denúncia ou queixa em devida forma, o juiz mandará autuá-la e ordenará a
notificação do acusado, para responder por escrito, dentro do prazo de quinze dias.
Parágrafo único. Se não for conhecida a residência do acusado, ou este se achar fora da jurisdição do juiz, ser-lhe-á
nomeado defensor, a quem caberá apresentar a resposta preliminar.
No crime de tortura não será observado o art. 514, do CPP, por 2 motivos:
-a tortura é inafiançável;
-e, a jurisprudência determina que:
STJ: “(...) O procedimento especial previsto no Capítulo II, do Título II, do Código de Processo Penal, apenas se aplica aos
crimes próprios e impróprios previstos no Código Penal, não abarcando outros ilícitos comuns, ainda que a qualidade de
funcionário público os qualifique ou caracterize causa de aumento de pena. 3. No caso, o paciente foi condenado pelos
crimes descritos no art. 1º, inciso I, alínea a, c/c o § 4º, da Lei n.º 9.455/1997, e no art. 299 do Código Penal, situação
que afasta a obrigatoriedade de oferecimento de resposta antes do recebimento da denúncia, nos termos do art. 514
do Código de Processo Penal. Precedentes. (...)”. (STJ, 5ª Turma, HC 167.503/MG, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j.
21/05/2013, DJe 29/05/2013).
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Lei n. 8.072/90 (crimes hediondos)
Art. 2º Os crimes hediondos, a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins e o terrorismo são
insuscetíveis de:
I - anistia, graça e indulto;
2ª corrente (minoritária) – o indulto também é cabível para os demais crimes hediondos e equiparados;
3ª corrente (majoritária) – não cabe indulto nem mesmo para a tortura, porque a graça é o gênero do qual indulto é
espécie:
STF: “(...) A jurisprudência deste Supremo Tribunal Federal é firme no sentido de que o instituto da graça, previsto no
art. 5.º, inc. XLIII, da Constituição Federal, engloba o indulto e a comutação da pena, estando a competência privativa do
Presidente da República para a concessão desses benefícios limitada pela vedação estabelecida no referido dispositivo
constitucional. (...)”. (STF, 2ª Turma, HC 115.099/SP, Rel. Min. Cármen Lúcia, j. 19/02/2013, DJe 49 13/03/2013).
STF: “(...) Revela-se inconstitucional a possibilidade de que o indulto seja concedido aos condenados por crimes
hediondos, de tortura, terrorismo ou tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, independentemente do lapso
temporal da condenação. (...)”. (STF, Pleno, ADI 2.795 MC/DF, Rel. Min. Maurício Corrêa, j. 08/05/2003).
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A Lei n. 8.072/90 = determina o regime integralmente fechado:
Redação original da Lei n. 8.072/90
Art. 2º Os crimes hediondos, a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins e o terrorismo são
insuscetíveis de:
(...)
§1º A pena por crime previsto neste artigo será cumprida integralmente em regime fechado.
A Lei n. 9.455/97 = determina que, em regra, o regime inicial fechado e, por exceção, regime aberto ou semiaberto, para
a tortura-omissão do § 2º.
Lei n. 9.455/97
Art. 1º Constitui crime de tortura:
(...)
§ 7º O condenado por crime previsto nesta Lei, salvo a hipótese do § 2º, iniciará o cumprimento da pena em regime
fechado.
A doutrina, então, passou a sustentar a revogação tácita do § 1ª, do art. 2º, da Lei. 8.072/90
Súmula n. 698 do STF: “Não se estende aos demais crimes hediondos a admissibilidade de progressão no regime de
execução da pena aplicada ao crime de tortura”.
Por isso, após esse julgado do HC, os crimes hediondos também passaram a admitir o regime inicial fechado e
possibilidade de progressão do regime:
Súmula vinculante n. 26: “Para efeito de progressão de regime no cumprimento da pena por crime hediondo ou
equiparado, o juízo da execução observará a inconstitucionalidade do art. 2º da Lei n. 8.072/90, sem prejuízo de avaliar
se o condenado preenche, ou não, os requisitos objetivos e subjetivos do benefício, podendo determinar, para tal fim,
de modo fundamento, a realização de exame criminológico”.
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Posteriormente, nova redação da Lei n. 8.072/90 = regime inicial fechado:
Redação nova da Lei n. 8.072/90
Art. 2º (...)
§1º A pena por crime previsto neste artigo será cumprida inicialmente em regime fechado.
§2º A progressão de regime, no caso dos condenados pelos crimes previstos neste artigo, dar-se-á após o cumprimento
de 2/5 da pena, se o apenado for primário, e de 3/5, se reincidente. (Revogado pela Lei n. 13.964/19 – Pacote
Anticrime).
LEP
Art. 112. A pena privativa de liberdade será executada em forma progressiva com a transferência para regime menos
rigoroso, a ser determinada pelo juiz, quando o preso tiver cumprido ao menos: (Redação dada pela Lei n. 13.964, de
2019)
(...)
V – 40% (quarenta por cento) da pena, se o apenado for condenado pela prática de crime hediondo ou equiparado, se
for primário;
VI – 50% (cinquenta por cento) da pena, se o apenado for:
a) Condenado pela prática de crime hediondo ou equiparado, com resultado morte, se for primário, vedado o
livramento condicional;
(...)
VII – 60% (sessenta por cento) da pena, se o apenado for reincidente na prática de crime hediondo ou equiparado;
VIII – 70% (setenta por cento) da pena, se o apenado for reincidente em crime hediondo ou equiparado com resultado
morte, vedado o livramento condicional.
Na visão do STF, para os crimes hediondos, não necessariamente tem que ser o regime inicial fechado, pois, se o
indivíduo preencher os requisitos do CP, o regime inicial pode ser o aberto ou semiaberto:
Pergunta da sua prova: se o STF declarou a inconstitucionalidade do regime inicial fechado para os crimes hediondos e
como fica a tortura?
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A Doutrina, de maneira arrasadora, diz que: se a própria CF impõe tratamento uniforme para os crimes hediondos e aos
crimes equiparados, a partir do momento que o STF passou admitir, para os crimes hediondos, o cumprimento da pena
em regime inicial NÃO NECESSARIAMENTE fechado, igual raciocínio deve valer também para o crime de tortura.
STJ: “(...) É flagrante o constrangimento ilegal em relação à fixação do regime inicial fechado com base no art. 1.º, § 7.º,
da Lei de Tortura. 4. Com a declaração pelo Pretório Excelso da inconstitucionalidade do regime integral fechado e do §
1.º do art. 2.º da Lei de Crimes Hediondos, com redação dada pela lei n.º 11.464/2007 - também aplicável ao crime de
tortura -, o cumprimento da pena passou a ser regido pelas disposições gerais do Código Penal. Porém, consideradas
desfavoráveis as circunstâncias judiciais do caso concreto, cabível aplicar inicialmente o regime prisional semiaberto,
atendendo ao disposto no art. 33, c.c. o art. 59, ambos do Código Penal. (...)”. (STJ, 5ª Turma, HC 286.925/RR, Rel. Min.
Laurita Vaz, j. 13/05/2014, DJe 21/05/2014).
STF: “(...) O regime de cumprimento da pena é fixado a partir do período correspondente e as circunstâncias judiciais.
PENA – REGIME DE CUMPRIMENTO – PREVISÃO LEGAL. Se a lei de regência prevê o regime inicial de cumprimento da
pena, impõe-se a observância, independente das circunstâncias judiciais”. (STF, 1ª Turma, HC 123.316/SE, Rel. Min.
Marco Aurélio, j. 09/06/2015, DJe 154 05/08/2015).
Lei n. 9.455/97
Art. 2º O disposto nesta Lei aplica-se ainda quando o crime não tenha sido cometido em território nacional, sendo a
vítima brasileira ou encontrando-se o agente em local sob jurisdição brasileira.
Extraterritorialidade é a possibilidade de aplicação da lei penal brasileira para crimes cometidos no exterior, em 2
situações:
-vitima brasileira (princípio de defesa ou real) = é extraterritorialidade incondicionada porque não há necessidade de
preencher as condições do art. 7º, §§ 2º e 3º, do CP;
-autor do delito está em local sob jurisdição brasileira (princípio da justiça universal).
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Lembre-se que, nos casos de extraterritorialidade, a competência é da Justiça Estadual. No Manual de Legislação
Criminal, do professor Renato Brasileiro, consta o precedente do STJ - CC 107.397 sobre o assunto.
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LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL
Crimes Contra Ordem Tributária
Renato Brasileiro
Aula 11
ROTEIRO DE AULA
1. Noções introdutórias.
A doutrina chama os crimes tributários de Direito Penal Simbólico, já que, a quantidade de benefícios dados ao infrator,
demonstra não se tratar, efetivamente, de um Direito Penal.
E, não obtendo, o Estado, o bom êxito no recebimento dos tributos, ele se socorre do Direito Penal para compelir as
pessoas ao pagamento dos tributos.
Já caiu em prova, a diferença entre o direito tributário penal e o direito penal tributário:
O Direito Tributário Penal é o ramo do Direito Tributário que versa sobre a aplicação de sanções extrapenais às condutas
ilícitas de cunho administrativo e tributário.
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As condutas ilícitas, do direito tributário penal, podem ser atribuídas ao agente tanto a título de dolo quanto a título de
culpa, conforme determina o CTN:
CTN
5. Art. 136. Salvo disposição de lei em contrário, a responsabilidade por infrações da legislação tributária independe da
Intenção (dolo ou culpa) do agente ou do responsável e da efetividade, natureza e extensão dos efeitos do ato.
Por outro lado, o Direito Penal Tributário é ramo do Direito Penal que incide sobre condutas que atentam contra a
ordem tributária;
As condutas ilícitas, do direito penal tributário, só podem ser atribuídas ao agente a título de dolo. Não há nenhum
crime, contra a ordem tributária, de natureza culposa.
-> e também, no CP: nos arts. 168-A, 316, 318, 334, 337.
Lei 8.137/90
CAPÍTULO I
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Leia com atenção o art. 1º e observe que o caput traz um único crime. E, nos incisos, estão previstos os modos
(condutas) em que o crime pode ser praticado:
O crime do art.1º:
Art. 1° Constitui crime contra a ordem tributária suprimir ou reduzir tributo, ou contribuição social e qualquer acessório,
mediante as seguintes condutas: (Vide Lei nº 9.964, de 10.4.2000)
Pena - reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa. (não cabe suspensão condicional do processo)
Parágrafo único. A falta de atendimento da exigência da autoridade, no prazo de 10 (dez) dias, que poderá ser
convertido em horas em razão da maior ou menor complexidade da matéria ou da dificuldade quanto ao atendimento
da exigência, caracteriza a infração prevista no inciso V.
A expressão “crime da mesma natureza”, contida no caput do art.2º, significa que, também, faz parte do Capitulo I,
Seção I - Dos Crimes Contra a Ordem Tributária.
Agora, entenda a diferença entre o art. 1º, I (crime material) e o art. 2º, I (crime formal):
O Art. 1º determina que suprimir ou reduzir, mediante as condutas de omitir informação ou prestar declaração falsa.
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O crime do art. 1º é material porque o resultado está inserido no tipo penal e sem a produção, do resultado, o crime
não se consuma.
Já o Art. 2º determina que fazer ou omitir ou empregar, para eximir-se, e veja que não é um resultado, previsto no tipo,
mas uma finalidade.
I - fazer declaração falsa ou omitir declaração sobre rendas, bens ou fatos, ou empregar outra fraude, para eximir-se,
total ou parcialmente, de pagamento de tributo;
II - deixar de recolher, no prazo legal, valor de tributo ou de contribuição social, descontado ou cobrado, na qualidade
de sujeito passivo de obrigação e que deveria recolher aos cofres públicos; (apropriação indébita tributária que se
assemelha ao crime de apropriação de contribuição previdenciária, art. 168-A, do CP).
Importantíssimo!
No julgamento do RHC 163.334/SC (Rel. Min. Roberto Barroso, j. 11/12/2019), no qual se discutia se a conduta de não
recolhimento de ICMS próprio, regularmente escriturado e declarado pelo contribuinte, enquadra-se no tipo penal do
art. 2º, II, da Lei n. 8.137/90, concluiu o Plenário do Supremo, por maioria, que não haveria como se afastar a tipicidade
da referida conduta, pelo menos em tese. No caso concreto, sócios e administradores de uma empresa declararam
operações de venda ao Fisco, mas deixaram de recolher o ICMS relativamente a diversos períodos. Para o Relator, Min.
Roberto Barroso, três premissas fundamentais seriam fundamentais para o equacionamento da matéria: (i) o Direito
Penal deve ser sério, igualitário e moderado; (ii) o pagamento de tributos é dever fundamental de todo cidadão, na
medida em que ocorra o fato gerador e ele exiba capacidade contributiva; e (iii) o mero inadimplemento tributário não
deve ser tido como fato típico criminal, para que seja reconhecida a tipicidade de determinada conduta impende haver
um nível de reprovabilidade especial que justifique o tratamento mais gravoso. Explicitou que o sujeito ativo do crime é
o sujeito passivo da obrigação, que, na hipótese do ICMS próprio, é o comerciante. O objeto do delito é o valor do
tributo. No caso, a quantia transferida pelo consumidor ao comerciante. O ponto central do dispositivo em apreço é a
utilização dos termos “descontado” e “cobrado”. Tributo descontado, não há dúvidas, refere-se aos tributos diretos. Já a
expressão “cobrado” abarcaria o contribuinte nos tributos indiretos. Portanto, cobrado significa o tributo que é
acrescido ao preço da mercadoria, pago pelo consumidor — contribuinte de fato — ao comerciante, que deve recolhê-
lo ao Fisco. O consumidor paga mais caro para que o comerciante recolha o tributo à Fazenda estadual. O ministro
salientou que o valor do ICMS cobrado em cada operação não integra o patrimônio do comerciante, que é depositário
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desse ingresso de caixa. Entendimento coerente com o decidido pelo STF no RE 574.706 (Tema 69 da Repercussão
Geral). Oportunidade na qual assentado que o ICMS não integra o patrimônio do sujeito passivo e, consequentemente,
não compõe a base de cálculo do PIS e da Cofins. Dessa maneira, a conduta não equivale a mero inadimplemento
tributário, e sim à apropriação indébita tributária. A censurabilidade está em tomar para si valor que não lhe pertence.
Para caracterizar o tipo penal, a conduta é composta da cobrança do consumidor e do não recolhimento ao Fisco. Ao
versar sobre a interpretação teleológica, o ministro observou que são financiados, com a arrecadação de tributos,
direitos fundamentais, serviços públicos, consecução de objetivos da República. No país, o ICMS é o tributo mais
sonegado e a principal fonte de receita própria dos estados-membros da Federação. Logo, é inequívoco o impacto da
falta de recolhimento intencional e reiterado do ICMS sobre o erário. Considerar crime a apropriação indébita tributária
produz impacto relevante sobre a arrecadação. Também a livre iniciativa é afetada por essa conduta. Empresas que
sistematicamente deixam de recolher o ICMS colocam-se em situação de vantagem competitiva em relação as que se
comportam corretamente. No mercado de combustíveis, por exemplo, são capazes de alijar os concorrentes que
cumprem suas obrigações. O ministro esclareceu que a oscilação da jurisprudência do STJ afirmando a atipicidade da
conduta adversada fez com que diversos contribuintes passassem a declarar os valores devidos, sem recolhê-los. Houve
uma “migração” do crime de sonegação para o de apropriação indébita e não é isso que o direito deseja estimular. No
tocante às consequências do reconhecimento da tipicidade sobre os níveis de encarceramento no país, aduziu que é
virtualmente impossível alguém ser efetivamente preso pelo delito de apropriação indébita tributária. A pena cominada
é baixa, portanto, são cabíveis transação penal, suspensão condicional do processo e, em caso de condenação,
substituição da pena privativa de liberdade por medidas restritivas de direito. Demais disso, é possível a extinção da
punibilidade se o sonegador ou quem tenha se apropriado indevidamente do tributo quitar o que devido. Assentada a
possibilidade do delito em tese, o relator assinalou que o crime de apropriação indébita tributária não comporta a
modalidade culposa. É imprescindível a demonstração do dolo e não será todo devedor de ICMS que cometerá o delito.
O inadimplente eventual distingue-se do devedor contumaz, este faz da inadimplência tributária seu modus operandi. O
relator consignou que o dolo da apropriação deve ser apurado na instrução criminal, pelo juiz natural da causa, a partir
de circunstâncias objetivas e factuais, tais como a inadimplência reiterada, a venda de produtos abaixo do preço de
custo, a criação de obstáculos à fiscalização, a utilização de “laranjas”, a falta de tentativa de regularização de situação
fiscal, o encerramento irregular de atividades com aberturas de outras empresas.
III - exigir, pagar ou receber, para si ou para o contribuinte beneficiário, qualquer percentagem sobre a parcela dedutível
ou deduzida de imposto ou de contribuição como incentivo fiscal;
IV - deixar de aplicar, ou aplicar em desacordo com o estatuído, incentivo fiscal ou parcelas de imposto liberadas por
órgão ou entidade de desenvolvimento;
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V - utilizar ou divulgar programa de processamento de dados que permita ao sujeito passivo da obrigação tributária
possuir informação contábil diversa daquela que é, por lei, fornecida à Fazenda Pública.
Seção II
Importante ressaltar que não se trata de qualquer funcionário público, mas, somente, o que atua junto à Fazenda.
Art. 3° Constitui crime funcional contra a ordem tributária, além dos previstos no Decreto-Lei n° 2.848, de 7 de
dezembro de 1940 - Código Penal (Título XI, Capítulo I):
I - extraviar livro oficial, processo fiscal ou qualquer documento, de que tenha a guarda em razão da função; sonegá-lo,
ou inutilizá-lo, total ou parcialmente, acarretando pagamento indevido ou inexato de tributo ou contribuição social; (é
uma norma especial em relação ao art. 314, do CP).
II - exigir (semelhante à concussão, art. 316, CP), solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente,
ainda que fora da função ou antes de iniciar seu exercício, mas em razão dela, vantagem indevida; ou aceitar
(semelhante à corrupção passiva, art. 317, CP) promessa de tal vantagem, para deixar de lançar ou cobrar tributo ou
contribuição social, ou cobrá-los parcialmente. Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa.
III – patrocinar (semelhante ao crime de advocacia administrativa, art. 321. CP), direta ou indiretamente, interesse
privado perante a administração fazendária, valendo-se da qualidade de funcionário público. Pena - reclusão, de 1 (um)
a 4 (quatro) anos, e multa.
Os Crimes Tributários, como já foi dito, também são previstos pelo CP, observe:
CP
Art. 168-A. Deixar de repassar à previdência social as contribuições recolhidas dos contribuintes (contribuições
previdenciárias), no prazo e forma legal ou convencional:
Pena: reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.
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CP
Art. 316. (...)
Excesso de exação
§1º - Se o funcionário exige tributo ou contribuição social que sabe ou deveria saber indevido, ou, quando devido,
emprega na cobrança meio vexatório ou gravoso, que a lei não autoriza: (Redação dada pela Lei n. 8.137/90).
CP
Facilitação de contrabando ou descaminho
Art. 318 - Facilitar, com infração de dever funcional, a prática de contrabando ou descaminho (art. 334):
Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa.
CP
Descaminho
Art. 334. Iludir, no todo ou em parte, o pagamento de direito ou imposto devido pela entrada, pela saída ou pelo
consumo de mercadoria (Redação dada pela Lei n. 13.008/14).
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos.
CP
Sonegação de contribuição previdenciária
Art. 337-A. Suprimir ou reduzir contribuição social previdenciária e qualquer acessório, mediante as seguintes
condutas: (é uma norma especial em relação ao art. 1º, da Lei 8.137/90).
I – omitir de folha de pagamento da empresa ou de documento de informações previsto pela legislação previdenciária
segurados empregado, empresário, trabalhador avulso ou trabalhador autônomo ou a este equiparado que lhe prestem
serviços;
II – deixar de lançar mensalmente nos títulos próprios da contabilidade da empresa as quantias descontadas dos
segurados ou as devidas pelo empregador ou pelo tomador de serviços;
III – omitir, total ou parcialmente, receitas ou lucros auferidos, remunerações pagas ou creditadas e demais fatos
geradores de contribuições sociais previdenciárias:
À luz da CF, a prisão civil por dívida é possível se for devedor de alimentos ou depositário infiel:
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CF
Art. 5º
LXVII - não haverá prisão civil por dívida, salvo a do responsável pelo inadimplemento voluntário e inescusável de
obrigação alimentícia e a do depositário infiel;
Mas, segundo a Convenção Americana sobre Direitos Humanos (CADH), somente a prisão civil do devedor de alimentos
subsiste.
NÃO, porque a prisão de crimes tributários é pela prática de uma conduta que encontra subsunção em um tipo penal, e,
portanto, não pelo fato de o agente ter uma dívida/débito. Portanto, a prisão de crimes tributários é prisão penal e não
uma prisão civil.
Atente-se para o fato de que, em regra*, os crimes tributários são praticados mediante uma fraude, praticamente um
estelionato contra o fisco.
A *exceção está nos crimes de apropriação indébita previdenciária ou tributária (art. 168-A/art. 2º, II, L. 8.137/90), veja:
STF (20/03/2017): “(...) O Supremo Tribunal Federal (STF) reafirmou a jurisprudência no sentido de que a criminalização
de sonegação fiscal (prevista na Lei 8.137/1990) não viola o artigo 5°, inciso LXVII, da Constituição Federal (CF), em
virtude de ter caráter penal e não se relacionar com a prisão civil por dívida. A decisão foi tomada pelo Plenário Virtual
na análise do Recurso Extraordinário com Agravo (ARE) 999425, que teve repercussão geral reconhecida. (...) as
condutas tipificadas na norma de 1990 não se referem simplesmente ao não pagamento de tributos, mas aos atos
praticados pelo contribuinte com o fim de sonegar o tributo devido, consubstanciados em fraude, omissão, prestação
de informações falsas às autoridades fazendárias e outras estratégias. “Não se trata de punir a inadimplência do
contribuinte, ou seja, apenas a dívida com o Fisco”, sustentou o ministro Lewandowski. (...)”.
Sobre o assunto:
a. Corrente funcionalista (minoritária): o bem jurídico tutelado seria a função que o tributo exerce em determinada
sociedade (posição sustentada por Hugo de Brito Machado);
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b. Corrente patrimonialista (majoritária): o bem jurídico tutelado é o erário público/arrecadação tributária/patrimônio
da Fazenda Pública (posição sustentada por Cezar Roberto Bitencourt e Luiz Regis Prado).
É a exclusão da tipicidade material, que para ser aplicada depende do preenchimento dos seguintes pressupostos:
Pressupostos:
a) Mínima ofensividade da conduta do agente;
b) Nenhuma periculosidade social da ação;
c) Reduzidíssimo grau de reprovabilidade do comportamento;
d) Inexpressividade da lesão jurídica provocada;
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II - o não ajuizamento de execuções fiscais de débitos com a Fazenda Nacional, cujo valor consolidado seja igual ou
inferior a R$ 20.000,00 (vinte mil reais).
O STJ, num primeiro momento continuou a aplicar o patamar de R$ 10.000,00, da Lei 10.522/02.
Por outro lado, o STF utilizava o patamar de R$ 20.000,00, estabelecido pelo Ministério da Fazenda.
Então, o STJ, para se adequar ao STF, também passou a aplicar a atualização do Ministério da Fazenda.
De acordo com o EREsp 1217514/RS, na prática reiterada, não incidirá o princípio da insignificância.
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Supremo Tribunal Federal (STF) sobre o tema e do parâmetro fixado pelas Portarias 75 e 130 do Ministério da Fazenda.
Dessa forma, a Terceira Seção decidiu revisar o Tema 157, que passa a ter a seguinte redação: “Incide o princípio da
insignificância aos crimes tributários federais e de descaminho quando o débito tributário verificado não ultrapassar o
limite de R$ 20.000,00, a teor do disposto no artigo 20 da Lei 10.522/2002, com as atualizações efetivadas pelas
Portarias 75 e 130, ambas do Ministério da Fazenda.” Divulgada em data de 06/03/2018, esta notícia refere-se ao
processo: REsp 1.688.878 e REsp 1.709.029.
Obs. 1: não se pode considerar despida de lesividade (sob o aspecto valorativo) a conduta de quem, reiteradamente,
omite o pagamento de tributos sempre em valor abaixo da tolerância estatal, amparando-se na expectativa sincera de
inserir-se nessa hipótese de exclusão da tipicidade, sob pena de o princípio da insignificância funcionar indevidamente
como verdadeiro incentivo à prática do descaminho. Nessa linha: STJ, 6ª Turma, RHC 31.612/PB, Rel. Min. Rogerio
Schietti Cruz, j. 20/5/2014, DJe 29/05/2014.
Obs. 2: esse patamar de R$ 10.000,00 (dez mil reais) estabelecido no art. 20 da Lei 10.522/02 não tem o condão de
afastar a tipicidade material quando se tratar de delitos concernentes a tributos que não sejam da competência da
União. Afinal, para a aplicação desse patamar a crimes tributários praticados em detrimento dos Estados, dos
Municípios, ou do Distrito Federal, seria necessária a existência de lei do ente federativo competente, porque a
arrecadação da Fazenda Nacional não se equipara à dos demais entes federativos. Ademais, um dos requisitos
indispensáveis à aplicação do princípio da insignificância é a inexpressividade da lesão jurídica provocada, que pode se
alterar de acordo com o sujeito passivo. Nesse contexto: STJ, 6ª Turma, HC 165.003/SP, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior,
j. 20/3/2014, DJe 22/04/2014.
Obs. 3: em se tratando de contrabando (CP, art. 334-A, com redação dada pela Lei n. 13.008/14), os Tribunais
Superiores não admitem a aplicação do princípio da insignificância, ainda que o valor do tributo incidente sobre a
mercadoria seja inferior a R$ 20.000,00 (vinte mil reais). Afinal, quando se trata de importação ou exportação de
mercadoria absoluta ou relativamente proibida, para além da sonegação de tributos, há lesão à moral, higiene,
segurança e saúde pública. Nessa linha: STJ, 6ª Turma, REsp 1.427.796/RS, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, j.
14/10/2014.
5. Competência criminal.
Mas, a justiça federal tem força atrativa, quando se tratar de conexão entre crimes federais e estaduais (Súmula 122,
STJ).
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Alguns exemplos:
STJ: “(...) o suposto crime tributário - consistente em sonegação de imposto sobre serviço de qualquer natureza (ISSQN)
- cometido, em tese, por fundação privada em detrimento do Distrito Federal não atrai a competência da Justiça
Federal, porquanto ausente qualquer violação a bem, serviço ou interesse da União, de suas autarquias ou empresas
públicas. 2. Conflito conhecido para declarar a competência do Juízo da 1ª Vara Criminal da Circunscrição Especial
Judiciária de Brasília, o suscitado”. (STJ, 3ª Seção, CC 114.274/DF, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 12/06/2013).
Para o STJ:
STJ: “(...) Conforme o disposto no enunciado n. 24 da Súmula vinculante do STF, os delitos contra ordem tributária
tipificados no art. 1o e incisos da Lei 8.137/1990 consumam-se no momento da constituição do crédito tributário. 2.
Não se deve, assim, confundir o momento consumativo da sonegação fiscal com aquele em que a fraude é praticada,
máxime quando se tem em conta que não há tipicidade do delito antes do lançamento definitivo do crédito tributário.
3. Com isso em mente, a jurisprudência desta Corte assentou-se no sentido de que, "tratando-se de crime material
contra a ordem tributária (art. 1º da Lei n. 8.137/1990), a competência para processar e julgar o delito é do local onde
houver ocorrido a sua consumação, por meio da constituição definitiva do crédito tributário, sendo irrelevante a
mudança de domicílio fiscal do contribuinte" (...) No caso em apreço, embora a empresa investigada tivesse domicílio
em Barueri/SP no momento em que a fraude foi cometida (2005 e 2006), na data da constituição do crédito tributário,
em setembro/2010, já havia transferido seu domicílio fiscal para o Estado do Rio de Janeiro desde novembro/2009.
Tem-se, assim, que, no momento da consumação do crime, seja dizer, no momento da constituição do crédito
tributário, a empresa investigada já possuía domicílio fiscal no Estado do Rio de Janeiro, sendo esse o local que fixa a
competência para a condução do presente inquérito policial e de eventual ação penal daí decorrente”. (STJ, 3ª Seção,
CC 144.872, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, j. 25/02/2016).
6. Fiscalização tributária.
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SIM, a inviolabilidade domiciliar.
Muito embora os arts. 195 e 200, do CTN, estabeleçam de modo diferente, veja:
CTN
Art. 195. Para os efeitos da legislação tributária, não têm aplicação quaisquer disposições legais excludentes ou
limitativas do direito de examinar mercadorias, livros, arquivos, documentos, papéis e efeitos comerciais ou fiscais, dos
comerciantes industriais ou produtores, ou da obrigação destes de exibi-los.
Precedente do STF:
STF: “(...) Sem que ocorra qualquer das situações excepcionais taxativamente previstas no texto constitucional (art. 5º,
XI), nenhum agente público, ainda que vinculado à administração tributária do Estado, poderá, contra a vontade de
quem de direito (“invito domino”), ingressar, durante o dia, sem mandado judicial, em espaço privado não aberto ao
público onde alguém exerce sua atividade profissional, sob pena de a prova resultante da diligência de busca e
apreensão assim executada reputar-se inadmissível, porque impregnada de ilicitude material. (...) O atributo da auto-
executoriedade dos atos administrativos, que traduz expressão concretizadora do “privilège du préalable”, não
prevalece sobre a garantia constitucional da inviolabilidade domiciliar, ainda que se cuide de atividade exercida pelo
Poder Público em sede de fiscalização tributária. (...)”. (STF, 2ª Turma, HC 103.325/RJ, Rel. Min. Celso de Mello, j.
03/04/2012).
6.2. (In) constitucionalidade da transferência direta de informações das entidades bancárias aos órgãos de fiscalização
tributária.
A LC 105/01 trata do sigilo bancário e financeiro. Ela tem dois artigos que são polêmicos porque independem de
autorização judicial prévia para a transferência de informações, leia:
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Lei Complementar n. 105/01
Art. 5º. O Poder Executivo disciplinará, inclusive quanto à periodicidade e aos limites de valor, os critérios segundo os
quais as instituições financeiras informarão à administração tributária da União, as operações financeiras efetuadas
pelos usuários de seus serviços. (não há necessidade de autorização judicial)
Melhor entendimento: não há quebra de sigilo bancário ou financeiro, porque as informações não são enviadas a
terceiros, e, por isso, não há necessidade de autorização judicial.
Decisão importantíssima:
STF: “(...) Os artigos 5º e 6º da Lei Complementar nº 105/2001 (...) consagram, de modo expresso, a permanência do
sigilo das informações bancárias obtidas com espeque em seus comandos, não havendo neles autorização para a
exposição ou circulação daqueles dados. Trata-se de uma transferência de dados sigilosos de um determinado portador,
que tem o dever de sigilo, para outro, que mantém a obrigação de sigilo, permanecendo resguardadas a intimidade e a
vida privada do correntista, exatamente como determina o art. 145, § 1º, da Constituição Federal. (...)”. (STF, Pleno, ADI
2.859/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 24/02/2016).
E, se é possível o envio de informações do Banco para a Fazenda, esta, por sua vez, ao constatar um ilícito, contra a
ordem tributária, deverá informar, independente de autorização judicial, ao MP e à Polícia.
Precedentes: HC 422.473/SP.
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procedimentos de investigação criminal que foram instaurados à míngua de supervisão do Judiciário e de sua prévia
autorização sobre os dados compartilhados pelos órgãos de fiscalização e controle, que vão além da identificação dos
titulares das operações bancárias e dos montantes globais, consoante decidido pela Corte (v.g., ADI’S 2.386, 2.390,
2.397 e 2.859). Restou consignado que a contagem do prazo da prescrição ficaria suspensa, conforme já decidido no RE
966.177RG-QO.
Teses do STF:
-Por maioria, o Plenário fixou as seguintes teses (Tema 990 da Repercussão Geral): 1. É constitucional o
compartilhamento dos relatórios de inteligência financeira da UIF e da íntegra do procedimento fiscalizatório da Receita
Federal do Brasil (RFB), que define o lançamento do tributo, com os órgãos de persecução penal para fins criminais, sem
a obrigatoriedade de prévia autorização judicial, devendo ser resguardado o sigilo das informações em procedimentos
formalmente instaurados e sujeitos a posterior controle jurisdicional; 2. O compartilhamento pela UIF e pela RFB,
referente ao item anterior, deve ser feito unicamente por meio de comunicações formais, com garantia de sigilo,
certificação do destinatário e estabelecimento de instrumentos efetivos de apuração e correção de eventuais desvios.
1ª corrente (minoritária) – o crime é comum e o sujeito ativo pode ser qualquer pessoa (Hugo de Brito Machado);
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2ª corrente (majoritária) – o crime é próprio e o sujeito ativo é o sujeito passivo da obrigação tributária (Luiz Regis
Prado), conforme determina o CTN:
CTN
Art. 121. Sujeito passivo da obrigação principal é a pessoa obrigada ao pagamento de tributo ou penalidade pecuniária.
Parágrafo único. O sujeito passivo da obrigação principal diz-se:
I - contribuinte, quando tenha relação pessoal e direta com a situação que constitua o respectivo fato gerador;
II - responsável, quando, sem revestir a condição de contribuinte, sua obrigação decorra de disposição expressa de lei.
7.2. (Im) possibilidade de responsabilização penal da pessoa jurídica pela prática de crimes contra a ordem tributária.
A regra é que o sujeito ativo dos crimes tributários não pode ser pessoa jurídica, mas somente a pessoa física, em
decorrência do art. 11, da Lei 8.137/90:
Lei n. 8.137/90
Art. 11. Quem, de qualquer modo, inclusive por meio de pessoa jurídica, concorre para os crimes definidos nesta lei,
incide nas penas a estes cominadas, na medida de sua culpabilidade.
A denúncia genérica era admitida pelo STF, atualmente não é mais viável!
Precedente importante:
STF: “(...) Nos crimes contra a ordem tributária a ação penal é pública. Quando se trata de crime societário, a denúncia
não pode ser genérica. Ela deve estabelecer o vínculo do administrador ao ato ilícito que lhe está sendo imputado. É
necessário que descreva, de forma direta e objetiva, a ação ou omissão da paciente. Do contrário, ofende os requisitos
do CPP, art. 41 e os Tratados Internacionais sobre o tema. Igualmente, os princípios constitucionais da ampla defesa e
do contraditório. Denúncia que imputa co-responsabilidade e não descreve a responsabilidade de cada agente, é inepta.
O princípio da responsabilidade penal adotado pelo sistema jurídico brasileiro é o pessoal (subjetivo). A autorização
pretoriana de denúncia genérica para os crimes de autoria coletiva não pode servir de escudo retórico para a não
descrição mínima da participação de cada agente na conduta delitiva. Uma coisa é a desnecessidade de pormenorizar.
Outra, é a ausência absoluta de vínculo do fato descrito com a pessoa do denunciado. Habeas deferido”. (STF, 2ª Turma,
HC 80.549/SP, Rel. Min. Nelson Jobim, DJ 24/08/2001).
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O sujeito passivo dos crimes tributários é o sujeito ativo da obrigação tributária, segundo o CTN determina:
CTN
Art. 119. Sujeito ativo da obrigação é a pessoa jurídica de direito público, titular da competência para exigir o seu
cumprimento.
8. Consumação e tentativa.
A consumação e tentativa serão analisadas, especificamente, quanto aos crimes do art. 1º.
1ª corrente (adotada pelo professor) – os crimes tributários se consumam com a supressão/redução do tributo;
2ª corrente – os crimes tributários se consumam com a decisão final do procedimento administrativo de lançamento.
E a tentativa?
Em regra, sim, porque o crime do art. 1º é crime plurissubsistente, pode ser fracionado e admite a tentativa.
Todavia, tenha cuidado, porque vários atos tentados foram alçados à figura de crime no art. 2º. E, por isso, a doutrina
sugere que, com base no princípio da especialidade, não responderá por crime tentado, mas por crime do art. 2º.
De acordo com a 2ª corrente o marco inicial para contagem do lapso prescricional é a data da consumação do delito.
9. Concurso de crimes.
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Imagine uma conduta em que haja sonegação de vários tributos: ICMS/IRPF/ISS...
Para uma corrente minoritária haveria pluralidade de delitos, para outra corrente majoritária haveria um único crime.
9.1. Conduta única e supressão de dois ou mais tributos de titularidade de entes diversos.
A posição do STJ:
STJ: “(...) No crime de sonegação fiscal o bem jurídico tutelado não é o patrimônio ou erário de cada pessoa jurídica de
direito público titular de competência para instituir e arrecadar tributos - fiscais (entes federativos) ou parafiscais
(entidades autárquicas) - mas, sim, a ordem jurídica tributária como um todo. 2. A conduta consistente em praticar
qualquer uma ou todas as modalidades descritas nos incisos I a V do art. 1 da Lei nº 8.137/90 (crime misto alternativo)
conduz à consumação de crime de sonegação fiscal quando houver supressão ou redução de tributo, pouco importando
se atingidos um ou mais impostos ou contribuições sociais. 3. Não há concurso formal, mas crime único, na hipótese em
que o contribuinte, numa única conduta, declara Imposto de Renda de Pessoa Jurídica com a inserção de dados falsos,
ainda que tal conduta tenha obstado o lançamento de mais de um tributo ou contribuição. 4. Recurso improvido”. (STJ,
6ª Turma, Resp 1.294.687/PE, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, j. 15/10/2013.
Lembre-se da irretroatividade da Lex Gravior, ou seja, do princípio da ultratividade da lei penal mais benigna.
Quando a lei for mais benéfica ela vale tanto para os crimes praticados anteriormente quanto para os crimes futuros;
Quando a lei for menos benéfica ela vale somente para os crimes futuros e não vale para crimes praticados
anteriormente.
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Agora, entenda que o pagamento, segundo a regra* do CP, é um arrependimento posterior, ou seja, haverá uma
diminuição da pena imposta:
CP
Arrependimento posterior – causa de diminuição da pena
Art. 16. Nos crimes cometidos sem violência ou grave ameaça à pessoa, reparado o dano ou restituída a coisa, até o
recebimento da denúncia ou da queixa, por ato voluntário do agente, a pena será reduzida de um a dois terços.
No CP:
Peculato culposo.
CP.
Art. 312. (...)
§3º. No caso do parágrafo anterior, a reparação do dano, se precede a sentença irrecorrível, extingue a punibilidade; se
lhe é posterior, reduz de metade a pena imposta.
CP
Fraude no pagamento por meio de cheque:
Art. 171. (...)
§2º (...)
VI – emite cheque, sem suficiente provisão de fundos em poder do sacado, ou lhe frustra o pagamento.
Súmula n. 554 do STF: “O pagamento de cheque emitido sem provisão de fundos, após o recebimento da denúncia, não
obsta ao prosseguimento da ação penal”.
Lei n. 8.137/90.
Art. 14. Extingue-se a punibilidade dos crimes definidos nos arts. 1° a 3° quando o agente promover o pagamento de
tributo ou contribuição social, inclusive acessórios, antes do recebimento da denúncia.
(Revogado pela Lei n. 8.383/1991- que é uma Lex Gravior porque revogou uma cláusula extintiva de punibilidade).
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Lei n. 9.249/95
Art. 34. Extingue-se a punibilidade dos crimes definidos na Lei n. 8.137/90, e na Lei n. 4.729/65, quando o agente
promover o pagamento do tributo ou contribuição social, inclusive acessórios, antes do recebimento da denúncia.
(Repristinou o art.14 da Lei 8.137/90-então, a Lei 9.249/90 é uma Lex Mellius, porque mais benéfica e assim de caráter
retroativo).
Atenção, porque, por analogia in bonam partem, o art. 34, da Lei 9.249/95 será também aplicado aos crimes tributários
previstos no CP.
A posição do STJ:
STJ: “(...) o art.9º da Lei 10.684/03 trata da extinção da punibilidade pelo pagamento da dívida previdenciária antes do
trânsito em julgado da condenação uma vez que faz menção expressa á pretensão punitiva do Estado. Não há que se
falar em extinção da punibilidade pelo pagamento quando se trata de pretensão executória, que é o caso dos autos.
(...)”. (STJ, 6ª Turma, HC 302.059/SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, j. 03/02/2015, DJe 11/02/2015).
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A posição do STF, em alguns precedentes:
STF: “(...) Tratando-se de apropriação indébita previdenciária (art. 168-A, §1º, I, CP), o pagamento integral do débito
tributário, ainda que após o trânsito em julgado da condenação, é causa de extinção da punibilidade do agente, nos
termos do art. 9º, §2º, da Lei 10.684/03. Precedentes. (...)”. (STF, 2ª Turma, RHC 128.245/SP, Rel. Min. Dias Toffoli, j.
23/08/2016, DJE 225 20/10/2016).
Lei 9.430/96
Art. 83 (...) o caput do artigo traz os crimes tributários do arts. 1º e 2º, da Lei 8.137/90; e dos arts. 168-A e 337-A, do
CP).
§ 1º Na hipótese de concessão de parcelamento do crédito tributário, a representação fiscal para fins penais somente
será encaminhada ao Ministério Público após a exclusão da pessoa física ou jurídica do parcelamento. (Incluído pela Lei
nº 12.382, de 2011).
Observe que o §2º é idêntico ao art. 9º da Lei 10.684/03
§ 2º É suspensa a pretensão punitiva do Estado referente aos crimes previstos no caput, durante o período em que a
pessoa física ou a pessoa jurídica relacionada com o agente dos aludidos crimes estiver incluída no parcelamento, desde
que o pedido de parcelamento tenha sido formalizado antes do recebimento da denúncia criminal.
(o §2º foi Incluído pela Lei nº 12.382, de 2011-que é uma Lex Gravior).
§ 3º A prescrição criminal não corre durante o período de suspensão da pretensão punitiva. (Incluído pela Lei nº
12.382, de 2011).
§ 4º Extingue-se a punibilidade dos crimes referidos no caput quando a pessoa física ou a pessoa jurídica relacionada
com o agente efetuar o pagamento integral dos débitos oriundos de tributos, inclusive acessórios, que tiverem sido
objeto de concessão de parcelamento. (Incluído pela Lei nº 12.382, de 2011).
§ 5º O disposto nos §§ 1º a 4º não se aplica nas hipóteses de vedação legal de parcelamento. (Incluído pela Lei nº
12.382, de 2011).
§ 6° As disposições contidas no caput do art. 34 da Lei no 9.249, de 26 de dezembro de 1995, aplicam-se aos processos
administrativos e aos inquéritos e processos em curso, desde que não recebida a denúncia pelo juiz. (Renumerado do
Parágrafo único pela Lei nº 12.382, de 2011).
Posição do STJ:
STJ: “(...) Tendo a Lei 12.382/2011 previsto, no artigo seu 6º, que a suspensão da pretensão punitiva estatal ocorre
apenas quando há o ingresso no programa de parcelamento antes do recebimento da denúncia, consideram-se
revogadas as disposições em sentido contrário, notadamente o artigo 9º da Lei 10.684/2003. 2. Na própria exposição de
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motivos da Lei 12.382/2011, esclareceu- se que a suspensão da pretensão punitiva estatal fica suspensa "durante o
período em que o agente enquadrado nos crimes a que se refere o art. 83 estiver incluído no parcelamento, desde que
o requerimento desta transação tenha sido formalizado antes do recebimento da denúncia criminal". 3. Por
conseguinte, revela-se ilegítima a pretensão da defesa, no sentido de que a persecução penal em tela seja suspensa em
decorrência do parcelamento dos tributos devidos após o acolhimento da inicial. (...)”. (STJ, 5ª Turma, HC 278.248/SC,
Rel. Min. Jorge Mussi, j. 12/08/2014).
11. Decisão final do procedimento administrativo de lançamento nos crimes materiais contra a ordem tributária.
1º Corrente (minoritária): a natureza jurídica, da decisão final do procedimento administrativo, é uma questão
prejudicial heterogênea.
CPP
Art. 93. Se o reconhecimento da existência da infração penal depender de decisão sobre questão diversa da prevista no
artigo anterior, da competência do juízo cível, e se neste houver sido proposta ação para resolvê-la, o juiz criminal
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poderá, desde que essa questão seja de difícil solução e não verse sobre direito cuja prova a lei civil limite, suspender o
curso do processo, após a inquirição das testemunhas e realização das outras provas de natureza urgente.
§ 1º O juiz marcará o prazo da suspensão, que poderá ser razoavelmente prorrogado, se a demora não for imputável à
parte. Expirado o prazo, sem que o juiz cível tenha proferido decisão, o juiz criminal fará prosseguir o processo,
retomando sua competência para resolver, de fato e de direito, toda a matéria da acusação ou da defesa.
§ 2º Do despacho que denegar a suspensão não caberá recurso.
§ 3º Suspenso o processo, e tratando-se de crime de ação pública, incumbirá ao Ministério Público intervir
imediatamente na causa cível, para o fim de promover-lhe o rápido andamento.
2ª Corrente (minoritária): a natureza jurídica, da decisão final do procedimento administrativo, é uma elementar do
crime material contra a ordem tributária.
3ª Corrente (majoritária): a natureza jurídica é uma condição objetiva de punibilidade, ou seja, uma condição inserida
entre o preceito primário e o preceito secundário da norma penal, condicionando a punição da conduta.
Súmula vinculante 24: não se tipifica crime material contra a ordem tributária, previsto no art. 1º, incisos I a IV, da Lei nº
8.137/90, antes do lançamento definitivo do tributo.
Obs. 1: o lançamento definitivo só se faz necessário em relação aos crimes materiais contra a ordem tributária.
Obs. 2: o lançamento definitivo se faz necessário em relação ao crédito tributário, mas não há necessidade de haver um
lançamento para cada um dos acusados.
.
11.2. Desnecessidade de se Aguardar o Deslinde do Procedimento Administrativo para cada um dos Corréus.
Como já foi dito acima, é desnecessário aguardar o deslinde do procedimento administrativo para cada um dos corréus.
Se é possível o envio de informações do Banco para a Fazenda, esta, por sua vez, ao constatar um ilícito, contra a ordem
tributária, deverá informar, independente de autorização judicial, ao MP e à Polícia.
Precedentes: HC 422.473/SP.
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Teses do STF:
-Por maioria, o Plenário fixou as seguintes teses (Tema 990 da Repercussão Geral): 1. É constitucional o
compartilhamento dos relatórios de inteligência financeira da UIF e da íntegra do procedimento fiscalizatório da Receita
Federal do Brasil (RFB), que define o lançamento do tributo, com os órgãos de persecução penal para fins criminais, sem
a obrigatoriedade de prévia autorização judicial, devendo ser resguardado o sigilo das informações em procedimentos
formalmente instaurados e sujeitos a posterior controle jurisdicional; 2. O compartilhamento pela UIF e pela RFB,
referente ao item anterior, deve ser feito unicamente por meio de comunicações formais, com garantia de sigilo,
certificação do destinatário e estabelecimento de instrumentos efetivos de apuração e correção de eventuais desvios.
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1
ROTEIRO DE AULA
Trata-se de um tema extremamente recorrente em concursos públicos, principalmente os federais, ante a sua
intensa relevância aos operadores do Direito.
➢ ATENÇÃO: Antes de iniciar o estudo da matéria, o professor insiste que é necessário fazer uma leitura
da lei, porque o texto da lei é o mais cobrado principalmente nas primeiras fases dos concursos.
A criminalização da lavagem de capitais é algo relativamente novo, em comparação com os crimes constantes
da parte especial do Código Penal.
________________________________________________________________________________________
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2
desse tipo de crime (tráfico de drogas) é a fungibilidade de seus membros. Portanto, notou-se
relevante combater a movimentação financeira proveniente do tráfico.
O Brasil é signatário dessa Convenção, que foi ratificada no ordenamento jurídico pátrio através do Decreto
n. 154/91, se comprometendo a criminalizar os crimes de lavagem de capitais, o que ocorreu somente em
1998 com a edição da Lei n. 9.613/98.
O principal objetivo desta lei, sem dúvida alguma, foi tornar mais eficiente a persecução penal dos crimes de
lavagem de capitais, atendendo exigências do GAFI (Grupo de Ação Financeira Internacional) para que o Brasil
“melhorasse” a lei.
Segundo o relatório de 2011 do GAFI, apontou-se que o Brasil efetivou poucas condenações nesses crimes,
que o sistema judiciário estava com falhas, que havia falta de responsabilização civil/administrativa das
pessoas jurídicas, poucos confiscos ligados à lavagem de capitais, etc.
LAVAGEM DE CAPITAIS = suponha que uma pessoa tenha em mãos R$ 100.000,00, obtido com propina. A
lavagem de capitais é consistente na prática de um ato ou sequência de atos visando conferir a esse numerário
uma “aparência lícita” – abrindo um lava-jato, um cinema, etc..
a) Extinção do rol taxativo de infrações antecedentes: quando a lei brasileira entrou em vigor, em sua
redação original, elencava um rol taxativo de crimes antecedentes, ou seja, à época, era necessário
ter cuidado porque, ainda que o indivíduo estivesse lavando dinheiro, tinha que se averiguar se aquele
dinheiro que estava sendo lavado era proveniente de algum dos crimes do rol;
Art. 1º da Lei n. 9.613/98 em sua REDAÇÃO ORIGINAL: Ocultar ou dissimular a natureza, origem, localização,
disposição, movimentação ou propriedade de bens, direitos ou valores provenientes, direta ou indiretamente,
de crime:
I - De tráfico ilícito de substâncias entorpecentes ou drogas afins;
II - De terrorismo;
III - De contrabando ou tráfico de armas, munições ou material destinado à sua produção;
IV - De extorsão mediante sequestro;
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V - Contra a Administração Pública, inclusive a exigência, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, de
qualquer vantagem, como condição ou preço para a prática ou omissão de atos administrativos;
VI - Contra o sistema financeiro nacional;
VII - Praticado por organização criminosa;
VIII – praticado por particular contra a administração pública estrangeira (arts. 337-B, 337-C e 337-D do Código
Penal). (incisos revogados pela Lei nº 12.683/12)
➢ Exemplo: há alguns anos, antes da revogação do rol taxativo e dos incisos acima, uma organização
criminosa especializada em roubo de relógios de marca foi presa no Aeroporto de Guarulhos. Ainda
que essa organização criminosa cometesse o crime de lavagem de capitais, este não restaria
configurado porque o crime de roubo não era constante do rol taxativo da redação original.
Nova redação do art. 1º, “caput”, da Lei 9.613/98, alterada pela Lei 12.683/12:
Art. 1º Ocultar ou dissimular a natureza, origem, localização, disposição, movimentação ou propriedade de
bens, direitos ou valores provenientes, direta ou indiretamente, de infração penal.
I a VIII – revogados pela Lei nº 12.683, de 2012.
INFRAÇÃO PENAL: esse conceito abarca não somente os crimes, como também as contravenções penais (jogo
do bicho). Com essa alteração, toda e qualquer infração penal pode figurar como antecedente para a lavagem
de capitais, desde que seja uma infração penal “produtora” – aquela que possui o condão de produzir bens,
valores ou direitos passíveis de ocultação ou dissimulação.
➢ E o crime de prevaricação? Pode ser antecedente da lavagem de capitais? Esse crime, previsto no
art. 319 do CP 1 (como se o professor deixasse de oferecer uma denúncia porque o indiciado é seu
amigo ou oferecesse, sem justa causa, porque o indiciado é seu inimigo), NÃO pode ser antecedente
da lavagem de capitais, porque é exemplo de um crime que não proporciona ao agente nenhum bem,
valor ou direito que possa ser objeto de lavagem.
1
Art. 319 do CP - Retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou praticá-lo contra disposição
expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal:
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Art. 4º da Lei n. 9.613/98: O juiz, de ofício, a requerimento do Ministério Público ou mediante representação
do delegado de polícia, ouvido o Ministério Público em 24 (vinte e quatro) horas, havendo indícios suficientes
de infração penal, poderá decretar medidas assecuratórias de bens, direitos ou valores do investigado ou
acusado, ou existentes em nome de interpostas pessoas, que sejam instrumento, produto ou proveito dos
crimes previstos nesta Lei ou das infrações penais antecedentes. (Redação dada pela Lei nº 12.683, de 2012)
§ 1º Proceder-se-á à alienação antecipada para preservação do valor dos bens sempre que estiverem sujeitos
a qualquer grau de deterioração ou depreciação, ou quando houver dificuldade para sua manutenção.
(Redação dada pela Lei nº 12.683, de 2012)
c) Ampliação das pessoas físicas/jurídicas responsáveis pela comunicação de operações suspeitas (Lei
9.613/98, art. 9º): é ineficaz as operações de combate à lavagem de capitais se as pessoas físicas e
jurídicas que operam no sistema financeiro não cooperarem com o Poder Público.
➢ Exemplo: imagine um indivíduo que compra joias, apartamentos, carros de luxo, etc. Por trás dessas
operações, existe uma joalheria, um corretor de imóveis e uma concessionária de veículos. Os
funcionários desses estabelecimentos achariam estranho se esse indivíduo comprasse esses bens com
dinheiro vivo, sem que o indivíduo exigisse nota fiscal? Assim, esses operadores do sistema financeiro
precisam cooperar para a eficácia do sistema.
Portanto, por lei, são obrigados a conhecerem os seus clientes (política do know your customer/gate keepers)
e comunicarem ao COAF eventuais movimentações suspeitas:
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II – Promover a interlocução institucional com órgãos e entidades nacionais, estrangeiros e internacionais que
tenham conexão com suas atividades.
Surge em Chicago, nos EUA (money laundering) a partir da década de 1920 com a movimentação financeira
que os gangsters da época faziam para trazer aparência lítica ao dinheiro proveniente da venda de álcool e
outras atividades ilícitas. Assim, começaram a surgir lavanderias onde o dinheiro era “lavado”.
No Brasil, onde atualmente vemos notícias de que indivíduos transportam dinheiro na cueca, se trata de uma
expressão bastante corriqueira.
Em alguns países da Europa, ao se tratar dos mesmos crimes, é empregada a expressão “reciclagem” de
dinheiro ou “branqueamento” de capitais (França, Portugal e Espanha), a qual não foi adotada pelo Brasil pelo
seu evidente cunho racista.
3. CONCEITO.
É o ato ou a sequência de atos praticados para encobrir a natureza, localização ou propriedade de bens,
direitos ou valores de origem delituosa (proveniente de crime ou contravenção penal – incabível para ilícito
civil e ato de improbidade administrativa), com o objetivo de reintroduzi-los à economia formal com
aparência lícita.
Não há necessidade de que sejam quantias elevadas, nem tampouco grande complexidade das operações
transnacionais para reintegrar o produto delituoso na circulação econômica legal, do mesmo ou de outro país.
➢ Leis de 1ª geração: apenas o tráfico de drogas era considerado como crime antecedente;
➢ Leis de 2ª geração: ampliação dos crimes antecedentes, ainda mantendo um rol taxativo. Exemplo: a
Lei n. 9.613/98 em sua redação original;
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➢ Leis de 3ª geração: qualquer infração penal, em regra, pode figurar como antecedente da lavagem de
capitais. Exemplo: Lei n. 12.683/12 e a revogação do rol taxativo.
CRÍTICA DOUTRINÁRIA: de fato era necessária a ampliação do rol, porém permitir que todas as infrações
penais sejam antecedentes nos causa um problema. Dessa forma, o crime antecedente pode ter uma pena
branda enquanto o crime de lavagem de capitais tem uma pena muito mais elevada, causando
desproporcionalidade.
➢ Exemplo: jogo do bicho 2 (art. 50 da Lei das Contravenções Penais) possui uma pena de prisão simples
de três meses a um ano.
Idealizadas pelo GAFI – Grupo de Ação Financeira Internacional, são três as fases:
Ementa: AÇÃO PENAL. CORRUPÇÃO PASSIVA E LAVAGEM DE DINHEIRO. (...). 8. LAVAGEM DE CAPITAIS. 8.1.
RECEBIMENTO DE DINHEIRO EM ESPÉCIE. ATIPICIDADE. 8.2. VANTAGEM INDEVIDA DEPOSITADA DE FORMA
PULVERIZADA EM CONTAS-CORRENTES. CONDUTA TÍPICA. 8.3. DECLARAÇÃO À AUTORIDADE FAZENDÁRIA DE
DISPONIBILIDADE MONETÁRIA INCOMPATÍVEL COM RENDIMENTOS REGULARMENTE PERCEBIDOS.
CONFIGURAÇÃO DO DELITO. 8.4. DOAÇÃO ELEITORAL. FORMA DE ADIMPLEMENTO DE VANTAGEM INDEVIDA.
INFRAÇÃO PENAL DE BRANQUEAMENTO CARACTERIZADA. CONDENAÇÃO.
(...)
8.2. O depósito fracionado de valores em conta corrente, em quantias que não atingem os limites
estabelecidos pelas autoridades monetárias à comunicação compulsória dessas operações, apresenta-se
2
Art. 50. Estabelecer ou explorar jogo de azar em lugar público ou acessível ao público, mediante o pagamento
de entrada ou sem ele:
Pena – prisão simples, de três meses a um ano, e multa, de dois a quinze contos de réis, estendendo-se os
efeitos da condenação à perda dos moveis e objetos de decoração do local.
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como meio idôneo para a consumação do crime de lavagem de capitais. No caso, tal prática foi cabalmente
demonstrada pelo conjunto probatório amealhado aos autos.
STF, Segunda Turma, Ministro Relator Edson Fachin, Julgamento em 29/05/2018
5.2. Dissimulação ou Mascaramento (layering): são realizados diversos negócios jurídicos, diversas
movimentações financeiras para dificultar, ainda mais, o rastreamento da origem ilícita desses
valores;
Exemplos: R$ 500.000,00 em propina para o professor não oferecer denúncia contra um militar. Fraciona em
depósitos menores na conta bancárias de laranjas. Esse dinheiro evidentemente não pode ficar parado nas
contas, assim, são feitas novas transferências ou aplicações, compra de dólares, joias, etc.
5.3. Integração (integration): os recursos monetários são reintroduzidos ao sistema financeiro – muitas
vezes para ser reaplicado na atividade ilícita de origem – já com a aparência lícita através de
investimentos no mercado mobiliário ou imobiliário (compra de um veículo ou apartamento).
Obs.: A consumação da lavagem de capitais independe do preenchimento dessas três fases. Os tribunais
superiores entendem que a consumação pode ocorrer até mesmo na primeira fase. Ver RHC 80.816.
Existem três correntes doutrinárias acerca do bem jurídico tutelado pela lavagem de capitais:
➢ 1ª Corrente: O mesmo bem jurídico tutelado pela infração penal antecedente. Se trata de uma
corrente absolutamente minoritária, porque uma mesma lei estaria tutelando bens jurídicos
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➢ 2ª Corrente: o bem jurídico tutelado é a administração da justiça. Essa corrente já ganha mais peso,
com doutrinadores renomados, como Roberto Podval e Rodolfo Tigre Maia. Para eles, a lavagem de
capitais seria uma espécie de favorecimento real (art. 349 do CP 3 - crime contra a administração da
justiça) por decorrência de o intuito do agente ser dificultar os órgãos persecutórios na identificação
do produto direto ou indireto da infração penal;
➢ 3ª Corrente: para fins de concurso, é a que vem prevalecendo, sendo majoritária. O crime de lavagem
de capitais é um crime contra a ordem econômico-financeira, afetando a livre concorrência, as
relações de consumo e causa desequilíbrio na competitividade.
➢ Exemplo: um traficante de drogas acaba de vender em uma festa R$ 500,00 em cocaína. Esse dinheiro
é depositado na conta de um laranja. Em tese (termos formais), está configurado o crime de lavagem
de capitais, mas se aplica o princípio da insignificância. Nesse momento, o professor remete à aula de
crimes tributários, ocasião na qual tal princípio é abordado com maior profundidade.
3
Art. 349 do CP - Prestar a criminoso, fora dos casos de coautoria ou de receptação, auxílio destinado a tornar
seguro o proveito do crime:
Pena - detenção, de um a seis meses, e multa.
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Art. 1o da Lei n. 9.613/98: Ocultar ou dissimular a natureza, origem, localização, disposição, movimentação ou
propriedade de bens, direitos ou valores provenientes, direta ou indiretamente, de infração penal. (Redação
dada pela Lei n. 12.683/12).
QUESTÕES DE CONCURSO
➢ Partindo da premissa de que o crime de lavagem de capitais é crime acessório, suponha que o autor
da infração penal antecedente tenha sido absolvido. Ainda é possível a condenação pelo crime de
lavagem de capitais? A doutrina trabalha com a premissa de que a lei brasileira adota a teoria da
acessoriedade limitada – a conduta do autor precisa ser típica e ilícita e, assim o sendo, o partícipe é
punido. Nesse raciocínio, a infração penal antecedente precisa ser típica e ilícita. Se assim o for, a
conduta subsequente de lavagem de capitais será punível.
Ou seja, depende do fundamento da absolvição – se for excludente da culpabilidade, a lavagem será punível.
Entretanto, se o indivíduo foi absolvido pelo princípio da insignificância, foi excluída a tipicidade material e
não mais poderá configurar o crime de lavagem de capitais.
Art. 2º da Lei n. 9.613/98: O processo e julgamento dos crimes previstos nesta Lei:
(...)
§ 1o A denúncia será instruída com indícios suficientes da existência da infração penal antecedente, sendo
puníveis os fatos previstos nesta Lei, ainda que desconhecido ou isento de pena o autor (excludentes da
culpabilidade), ou extinta a punibilidade da infração penal antecedente. (Redação dada pela Lei n. 12.683/12).
➢ Suponha que o autor do crime antecedente teve sua punibilidade extinta, é possível a condenação
por lavagem de capitais? Sim, pelo mesmo fundamento acima. Pelo menos em regra, a lavagem de
capitais continua sendo punível.
Exemplo: o traficante de drogas falece, mas se eu lavei o dinheiro proveniente dessa atividade ilícita, o
processo de lavagem de capitais pode continuar contra mim.
Exceção: se a punibilidade for extinta for pela anistia (clemência/indulgência) ou pela abolitio criminis (lei
posterior que deixa de criminalizar a conduta do crime antecedente), o processo da lavagem de capitais não
será mais punível.
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➢ Partindo da premissa que existe uma acessoriedade da lavagem de capitais quanto à infração
antecedente, os processos criminais da infração antecedente e da lavagem de capitais precisam
tramitar, obrigatoriamente, juntos? Podem tramitar conjuntamente, pela evidente conexão
probatória, mas não se trata de reunião obrigatória, a depender do caso concreto.
➢ Se os processos podem tramitar juntos, quem decide quanto à tramitação conjunta dos dois
processos? Geralmente, quando há conexão ou continência, se busca o juiz com força atrativa que
decide essa questão (juízo com o crime da pena mais grave ou maior número de crimes.
Exceção: na lei de lavagem de capitais, existe uma exceção à essa regra, trazendo a disposição que quem
decide sobre a reunião dos processos é o juiz da lavagem de capitais.
Art. 2º da Lei n. 9.613/98: O processo e julgamento dos crimes previstos nesta Lei:
(...)
II - Independem do processo e julgamento das infrações penais antecedentes, ainda que praticados em outro
país, cabendo ao juiz competente para os crimes previstos nesta Lei a decisão sobre a unidade de processo
e julgamento (Redação dada pela Lei nº 12.683, de 2012);
8. SUJEITOS DO CRIME.
Crime comum, podendo ser praticado por qualquer pessoa física, independente do cargo. A pessoa jurídica
não pode ser responsabilizada do ordenamento jurídico pátrio pelo crime, respondendo apenas
administrativamente – estando sujeita à imposição de multas.
Ocorre quando a mesma pessoa que teria praticado a infração penal antecedente é quem, na sequência,
pratica o crime de lavagem de capitais.
➢ No Brasil, é possível que o mesmo agente responda pelos dois crimes, o antecedente e o de lavagem
de capitais? Para responder essa pergunta, existem duas correntes:
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favorecimento real e, se o agente praticou a infração antecedente, a ocultação dos valores é uma
consequência natural – princípio do nemo tenetur se detegere (ninguém é obrigado a produzir provas
contra si mesmo). Apesar de ser uma corrente interessante, é minoritária. Mais utilizada para provas
orais em concurso da Defensoria;
Exemplo de autolavagem: o professor recebeu R$ 500.000,00 de propina para não denunciar um militar. Com
esse numerário, o professor começa a vender suas próprias palestras pelo mesmo valor, a fim de lavar esse
dinheiro.
STJ: “(...) A lavagem de dinheiro pressupõe a ocorrência de delito anterior, sendo próprio do delito que esteja
consubstanciado em atos que garantam ou levem ao proveito do resultado do crime anterior, mas recebam
punição autônoma. Conforme a opção do legislador brasileiro, pode o autor do crime (leia-se infração penal
de acordo com a Lei n. 12.683/12) antecedente responder por lavagem de dinheiro, dada à diversidade dos
bens jurídicos atingidos e à autonomia deste delito. (...)”.
(STJ, 5ª Turma, Resp 1.234.097/PR, Rel. Min. Gilson Dipp, j. 03/11/2011).
➢ Para que Tício seja responsabilizado penalmente por esse crime, existe a necessidade de que ele
tenha participado ou tenha sido coautor do crime antecedente? NÃO, porque, para que um indivíduo
responda para o crime de lavagem de capitais é desnecessário que tenha tido participação ou
coautoria na infração antecedente, desde que tenha consciência quanto a origem ilícita dos valores.
Se o sujeito não tiver consciência quanto à origem ilícita dos valores, falta a consciência de uma das
elementares do crime de lavagem de capitais, estando o agente em erro de tipo que, se invencível, afasta o
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dolo e a culpa e se vencível, afasta o dolo, restando a culpa, se prevista em lei (o que não é o caso da lei em
estudo).
Como se trata de crime comum, o advogado também pode ser sujeito ativo. Por ser um crime mais complexo
do que os tratados no Código Penal, em alguns casos, tem se tornado cada vez mais comum a utilização dos
serviços de profissionais oriundos das mais diversas áreas (como os advogados), que empregam seus
conhecimentos para otimizar o processo de lavagem de capitais.
Art. 9º da Lei 9.613/98: Sujeitam-se às obrigações referidas nos arts. 10 e 11 (de conhecer o cliente, manter
registros e comunicar atividades suspeitas) as pessoas físicas e jurídicas que tenham, em caráter permanente
ou eventual, como atividade principal ou acessória, cumulativamente ou não: (Redação dada pela Lei nº
12.683, de 2012)
(...)
Parágrafo único. Sujeitam-se às mesmas obrigações:
(...)
XIV - as pessoas físicas ou jurídicas que prestem, mesmo que eventualmente, serviços de assessoria,
consultoria, contadoria, auditoria, aconselhamento ou assistência, de qualquer natureza, em operações:
(Incluído pela Lei nº 12.683, de 2012)
a) de compra e venda de imóveis, estabelecimentos comerciais ou industriais ou participações societárias de
qualquer natureza; (Incluída pela Lei nº 12.683, de 2012);
b) de gestão de fundos, valores mobiliários ou outros ativos; (Incluída pela Lei nº 12.683, de 2012);
c) de abertura ou gestão de contas bancárias, de poupança, investimento ou de valores mobiliários; (Incluída
pela Lei nº 12.683, de 2012);
d) de criação, exploração ou gestão de sociedades de qualquer natureza, fundações, fundos fiduciários ou
estruturas análogas; (Incluída pela Lei nº 12.683, de 2012);
e) financeiras, societárias ou imobiliárias; e (Incluída pela Lei nº 12.683, de 2012)
f) de alienação ou aquisição de direitos sobre contratos relacionados a atividades desportivas ou artísticas
profissionais; (Incluída pela Lei nº 12.683, de 2012)
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Para entender a diferença entre as obrigações dos advogados de reportar movimentações financeiras
suspeitas, é necessário fazer a seguinte distinção:
ATENÇÃO: O COAF e a OAB se manifestaram a respeito do assunto e disseram que o advogado NÃO tem a
obrigação de comunicar as movimentações suspeitas porque, se o fizesse, estaria violando a própria
Constituição que lhe assegura, no exercício da advocacia, o sigilo indispensável que deve ser respeitado entre
o cliente e o advogado.
➢ Nesse sentido, a Resolução n. 24/2013 do COAF: “Dispõe sobre os procedimentos a serem adotados
pelas pessoas físicas ou jurídicas não submetidas à regulação de órgão próprio regulador que prestem,
mesmo que eventualmente, serviços de assessoria, consultoria, contadoria, auditoria,
aconselhamento ou assistência, na forma do § 1º do art. 14 da Lei nº 9.613, de 1998”.
9. TIPO OBJETIVO.
- Dissimular: ocultação com fraude, encobrir, disfarçar, tornar invisível ou pouco perceptível, ou seja, qualquer
operação efetuada pelo agente para dificultar ainda mais o rastreamento dos valores.
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Tício é o autor dos dois crimes (infração antecedente e lavagem de capitais), havendo dúvidas se o segundo
crime está realmente consumado.
Com a nova redação, qualquer infração penal pode ser antecedente à lavagem de capitais. Deve se ter muito
cuidado, contudo, com o raciocínio de que, se existiu infração penal antecedente, obrigatoriamente virá uma
lavagem de capitais na sequência.
Exemplo 1: o professor, promotor de justiça, recebeu propina de um milhão de reais. Esse dinheiro está dentro
de um armário na casa dele. Aqui, não existe lavagem de capitais.
Exemplo 2: o professor, promotor de justiça, recebeu propina de R$ 100.00,00 e, com esse dinheiro
proveniente de atividade ilícita, comprou um carro e colocou em seu próprio nome. Aqui, não existe lavagem
de capitais.
Exemplo 3: em um caso antigo que ocorreu na cidade de São Paulo, a polícia surpreendeu jovens que ficavam
abordando mulheres em saídas de shoppings, nos estacionamentos e as conduzindo até caixas eletrônicos
para que elas fizessem saques e lhes entregassem os valores. Com esse dinheiro, os jovens iam para o litoral
norte do Estado e comparavam bebidas alcóolicas, alugavam mansões, contratavam DJ e convidavam uma
galera para festas.
➢ ATENÇÃO: Não se pode confundir o exaurimento da infração penal antecedente que pode até,
eventualmente, envolver, gastar o dinheiro, mas o cuidado deve ser observado se o agente está
escondendo ou não o dinheiro. Ocorre a lavagem de capitais quando o agente pratica UM ou MAIS
atos tentando dar a esse numerário uma aparência lícita.
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➢ 2ª Corrente: crime permanente, segundo entendimento do Rodolfo Tigre Maia, Vladimir Aras e Carla
Veríssimo de Carli. Aquele crime cuja consumação se prolonga no tempo e, durante todo esse período
o autor do delito tem o poder de fazer cessar a execução do crime. Ver Ação Penal 863/STF.
Súmula n. 711 do STF: “A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime permanente, se a
sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou da permanência".
PENAL E PROCESSUAL PENAL. AÇÃO PENAL ORIGINÁRIA. EX-PREFEITO MUNICIPAL. ATUAL DEPUTADO
FEDERAL. DENÚNCIA. ALEGAÇÃO DE NULIDADE DO LAUDO PERICIAL. IMPROCEDÊNCIA. NATUREZA DA PROVA
DA MATERIALIDADE DOCUMENTAL E NÃO PERICIAL. AUSÊNCIA DE OPINIÃO TÉCNICA ESPECIALIZADA. PARCIAL
EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE PELA PRESCRIÇÃO. CRIME DE LAVAGEM DE DINHEIRO. MODALIDADE OCULTAR.
NATUREZA PERMANENTE DO CRIME RECONHECIDA. PRESCRIÇÃO QUE NÃO TERIA OCORRIDO AINDA QUE O
CRIME FOSSE INSTANTÂNEO DE EFEITOS PERMANENTES. IMPROCEDÊNCIA DA ALEGAÇÃO DE
RETROATIVIDADE “IN MALAM PARTEM” DA LEI PENAL. ATOS DE LAVAGEM PRATICADOS QUANDO JÁ ESTAVA
EM VIGOR A LEI 9.613/98 A DESPEITO DE O CRIME ANTECEDENTE TER SIDO PRATICADO ANTERIORMENTE.
MATERIALIDADE, AUTORIA, TIPICIDADE OBJETIVA E SUBJETIVA PROVADAS. CONDENAÇÃO DECRETADA. (...) 3.
O crime de lavagem de bens, direitos ou valores, quando praticado na modalidade típica de “ocultar”, é
permanente, protraindo-se sua execução até que os objetos materiais do branqueamento se tornem
conhecidos, razão pela qual o início da contagem do prazo prescricional tem por termo inicial o dia da
cessação da permanência, nos termos do art. 111, III, do Código Penal. (...) 5. Embora não estivesse em vigor
a Lei 9.613/98 quando o crime antecedente (corrupção passiva) foi praticado, os atos de lavagem ocorreram
durante sua vigência, razão pela qual não há falar em retroatividade da lei penal em desfavor do réu. A Lei
9.613/98 aplica-se aos atos de lavagem praticados durante sua vigência, ainda que o crime antecedente
tenha ocorrido antes de sua entrada em vigor (...).
(AP 863, Relator: Min. EDSON FACHIN, Primeira Turma, julgado em 23/05/2017, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-
191 DIVULG 28-08-2017 PUBLIC 29-08-2017)
Punida, exclusivamente, a título de dolo, que pode ser tanto o dolo direito (agente quis o resultado) quanto o
dolo eventual (agente assumiu o risco de produzir o resultado). Inexiste a punição a título de culpa.
➢ O único crime desta lei que não admite o dolo eventual é o do art. 1º, §2º, II da Lei n. 9.613/98.
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Na 2ª instância, os empresários foram absolvidos porque o tribunal entendeu que a notícia do furto ao banco
central só veio a público depois que a venda dos veículos já tinha se concretizado.
➢ Segundo essa teoria, nesses crimes é comum que o autor da lavagem de capitais deliberadamente
prefira permanecer na cegueira do que tomar conhecimento da origem ilícita dos valores. Isto
porque ele sabe que, ao tomar esse conhecimento, esse álibi/tese de defesa de que “eu não sabia”
desaparece.
Para que essa teoria seja aplicada, se faz necessária a presença de dois requisitos:
a) O agente precisa uma elevada possibilidade de conhecimento quanto à origem ilícita desses valores,
ou seja, deve ter a possibilidade de saber que os valores são provenientes de infração penal;
b) O agente deve agir de forma indiferente quanto a esse conhecimento – dolo eventual.
São os bens, direitos ou valores que sejam produto direto (resultado imediato da operação delinquencial,
como o veículo em caso de furto de veículos) ou indireto (resultado mediato do delito, ou seja, proveito obtido
pelo criminoso com o resultado da transformação do produto direto – no crime de furto de veículos, é o
dinheiro obtido pela venda do veículo)de infração penal – art. 1º, caput, da Lei n. 9.613/98.
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Terminologia doutrinária para designar quando um crime de lavagem funciona como infração antecedente.
Esse conceito já foi arguido em prova oral do MP/GO.
Exceção: Art. 2º da Lei n. 9.613/98: O processo e julgamento dos crimes previstos nesta Lei:
(...)
III - são da competência da Justiça Federal:
a) quando praticados contra o sistema financeiro e a ordem econômico-financeira, ou em detrimento de bens,
serviços ou interesses da União, ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas (CF, art. 109, IV e V);
b) quando a infração penal antecedente for de competência da Justiça Federal (Súmula n. 122 do STJ).
Súmula n. 122 do STJ: “Compete à Justiça Federal o processo e julgamento unificado dos crimes conexos de
competência federal e estadual, não se aplicando a regra do art. 78, II, a, do CPP”.
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Sabemos que a justa causa é requisito para oferecimento da peca acusatória, se consubstanciando no suporte
probatório mínimo para o início de um processo penal.
Quando se trata de lavagem de capitais, essa justa causa é duplicada porque o suporte probatório mínimo
deve existir não somente para a lavagem de capitais propriamente dita, como também em relação à infração
penal antecedente.
Não é possível, haja vista que a lei de lavagem de capitais veda a aplicação do art. 366 do CPP, ou seja, se o
acusado não comparecer quando citado por edital nem constituir advogado, o juiz decreta a revelia e nomeia
defensor dativo, seguindo normalmente o processo.
Art. 366 do CPP: Se o acusado, citado por edital, não comparecer, nem constituir advogado, ficarão suspensos
o processo e o curso do prazo prescricional, podendo o juiz determinar a produção antecipada das provas
consideradas urgentes e, se for o caso, decretar prisão preventiva, nos termos do disposto no art. 312.
Esse tópico será abordado com maior profundidade na aula sobre lei de organização criminosa. Entretanto,
não se pode olvidar que existe ação controlada na lei de lavagem de capitais.
Art. 4o-B da Lei n. 9.613/98: A ordem de prisão de pessoas ou as medidas assecuratórias de bens, direitos ou
valores poderão ser suspensas pelo juiz, ouvido o Ministério Público, quando a sua execução imediata puder
comprometer as investigações.
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Apesar de essa alteração legislativa não fazer referência, a infiltração de agentes deve obedecer aos requisitos
que constam da Lei n. 12.850/13.
No que tange a ação controlada, já estava prevista no art. 4º-B. Então, qual a necessidade da inserção desse
artigo pelo Pacote Anticrime? Existem duas correntes:
➢ 1º Corrente: não houve nenhuma novidade. O Pacote Anticrime quis apenas reforçar o disposto no
art. 4º-B. O professor discorda desse posicionamento;
➢ 2ª Corrente: o intuito do Pacote Anticrime foi explicitar que a ação controlada, da mesma forma que
a infiltração de agentes, também deve seguir as regas da lei da organização criminosa (Lei n.
12.850/13). E, para essa lei, não há necessidade de autorização judicial prévia. Assim, houve a
revogação tácita do art. 4º-B da Lei n. 9.613/98. Essa é a corrente que deve ser adotada para fins de
concurso público.
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ROTEIRO DE AULA
Trata-se de um tema de enorme relevância porque hoje em dia ninguém sai de casa sem seu aparelho celular
e, além das medidas de interceptação a serem estudadas, as comunicações telefônicas e dados servem como
meio de prova nas mais diversas infrações penais.
➢ ATENÇÃO: em uma primeira leitura, com interpretação literal, do dispositivo acima, fica a impressão
de que a ressalva “último caso” se refere somente às “comunicações telefônicas” e que apenas essas
poderiam ser objeto de violação, desde que houvesse ordem judicial, lei dispondo sobre a matéria e
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a medida fosse usada para fins de investigação criminal ou instrução processual, o que não é o melhor
entendimento acerca do tema;
➢ Essas espécies de sigilo, previstas no art. 5º, XII, da CF, têm natureza absoluta? Não. Na verdade,
apesar da existência da interpretação literal, tanto o sigilo da correspondência, quanto das
comunicações telegráficas, os dados e as comunicações telefônicas têm natureza relativa → nenhum
direito, nem mesmo a vida, tem natureza absoluta (Princípio da Convivência das Liberdades
Fundamentais).
A alteração realizada no sistema do RDD (Regime Disciplinar Diferenciado) previsto na LEP (art. 52, V 1) agora
diz que o monitoramento das conversas entre o preso e seus amigos/familiares em visitas é uma regra geral.
➢ Mas e o direito à liberdade desse preso? O indivíduo já está preso, sob o regime de RDD (não é um
preso comum) e recebendo visitas, parece, ao professor, absolutamente natural e inerente ao próprio
Regime que suas conversas sejam monitoradas.
Art. 11 da Lei n. 9.296/96. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. (25/07/1996). A Constituição
Federal é de 1988 e, posteriormente, veio a Lei n. 9.296/96.
➢ Durante esse período, interceptações telefônicas foram ordenadas? Sim, e o fundamento estava no
Código Brasileiro de Telecomunicações até o advento da Lei n. 9.296/96.
1
Art. 52 da LEP. A prática de fato previsto como crime doloso constitui falta grave e, quando ocasionar
subversão da ordem ou disciplina internas, sujeitará o preso provisório, ou condenado, nacional ou
estrangeiro, sem prejuízo da sanção penal, ao regime disciplinar diferenciado, com as seguintes
características: (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)
(...)
V - Entrevistas sempre monitoradas, exceto aquelas com seu defensor, em instalações equipadas para
impedir o contato físico e a passagem de objetos, salvo expressa autorização judicial em contrário; (Incluído
pela Lei nº 13.964, de 2019)
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II - O conhecimento dado:
e) ao juiz competente, mediante requisição ou intimação deste;
➢ Essas interceptações telefônicas feitas antes da Lei n. 9.296/96 e com base no Código Brasileiro de
Telecomunicações são válidas? O STF entendeu que não. Isto porque o art. 5º, XII, da CF exigia uma
lei específica acerca do tema → reserva legal em sentido qualificado. Portanto, tudo aquilo feito até a
vigência da Lei n. 9.296/96 não foi considerado como prova lícita.
STF: “(...) O art. 5º, XII, da Constituição, que prevê, excepcionalmente, a violação do sigilo das comunicações
telefônicas para fins de investigação criminal ou instrução processual penal, não é autoaplicável: exige lei
que estabeleça as hipóteses e a forma que permitam a autorização judicial. Precedentes. a) Enquanto a
referida lei não for editada pelo Congresso Nacional, é considerada prova ilícita a obtida mediante quebra do
sigilo das comunicações telefônicas, mesmo quando haja ordem judicial (CF, art. 5º, LVI). (...) O art. 57, II, a,
do Código Brasileiro de Telecomunicações não foi recepcionado pela atual Constituição (art. 5º, XII), a qual
exige numerus clausus para a definição das hipóteses e formas pelas quais é legítima a violação do sigilo das
comunicações telefônicas. A garantia que a Constituição dá, até que a lei o defina, não distingue o telefone
público do particular, ainda que instalado em interior de presídio, pois o bem jurídico protegido é a privacidade
das pessoas, prerrogativa dogmática de todos os cidadãos. (...)”.
(STF, Pleno, HC 72.588/PB, Rel. Min. Maurício Corrêa, DJ 04/08/2000).
3. Terminologia
Comunicação
Telefônica Ambiental
a) Comunicações telefônicas: abrange não apenas a conversa por telefone, mas também a transmissão,
emissão ou recepção de símbolos, caracteres, sinais, escritos, imagens, sons ou informações de
qualquer natureza, por meio de telefonia, estática ou móvel (celular).
Por conseguinte, é possível a interceptação de qualquer comunicação via telefone, conjugada ou não com a
informática, o que compreende aquelas realizadas direta (fax, modens) e indiretamente (internet, e-mail,
correios eletrônicos).
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Art. 1º da Lei n. 9.296/96: A interceptação de comunicações telefônicas, de qualquer natureza, para prova em
investigação criminal e em instrução processual penal, observará o disposto nesta Lei e dependerá de ordem
do juiz competente da ação principal, sob segredo de justiça.
Parágrafo único. O disposto nesta Lei aplica-se à interceptação do fluxo de comunicações em sistemas de
informática e telemática.
➢ ATENÇÃO: Partindo da premissa que as comunicações ambientais estão tuteladas pelo inciso X do art.
5º da CF (e não pelo inciso XII), haja vista que as conversas que as pessoas têm nas ruas ou dentro de
suas casas, necessitam da tutela da intimidade/vida privada, não há menção explícita a necessidade
de autorização judicial para essa interceptação ambiental.
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Interceptação
Violação das
Comunicações
Escuta
Telefônicas E
Ambientais
Gravação
➢ Exemplo: polícia está investigando tráfico internacional de drogas e descobre que o traficante
Zequinha, do Paraguai, está trazendo drogas para o traficante Juquinha, em Mogi Mirim/SP. A polícia
efetua uma interceptação telefônica em sentido estrito grampeando o telefone e nenhum dos
traficantes sabe que o telefone está grampeado.
d) Escuta telefônica (ou ambiental): é a captação da comunicação efetuada por um terceiro, com o
conhecimento de um dos comunicadores e desconhecimento do outro;
➢ Exemplo: uma pessoa está sendo vítima de extorsão, recebendo ligações insistentes e perturbadoras.
Essa pessoa procura a polícia e o Ministério Público, que passam a monitorar aquelas conversas
telefônicas com seu consentimento. Se trata de escuta telefônica porque é feita por um terceiro
(autoridade policial), com o conhecimento da vítima e sem o conhecimento do criminoso.
A doutrina entende que a escuta telefônica e a escuta ambiental também estão tuteladas pela Lei n. 9.296/96.
Obs. 1: suposto consentimento de um suspeito e gravação de conversas telefônicas por viva-voz porque, ao
se colocar a conversa telefônica no viva-voz, o agente transforma a conversa que era entre aquelas duas
pessoas em escuta telefônica e, essa escuta telefônica, pressupõe a autorização judicial;
STJ: “(...). Quando não houver consentimento do investigado ou autorização judicial, são consideradas
ilícitas as provas obtidas pela polícia por meio de conversas realizadas entre ele e outras pessoas pelo
sistema de viva-voz de telefones. (...) Segundo a denúncia do Ministério Público do Rio de Janeiro, policiais
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militares da cidade de Campos dos Goytacazes (RJ) realizavam patrulhamento quando perceberam
“nervosismo” em dois homens que trafegavam em uma motocicleta e resolveram abordá-los. Nada foi
encontrado na revista; todavia, após um dos suspeitos receber uma ligação de sua mãe – e ter sido
compelido pelos policiais a colocar o celular no modo viva-voz –, na qual ela pedia que o filho retornasse à
casa e entregasse certo “material” para uma pessoa que o aguardava, os policiais foram até a residência e
encontraram 11 gramas de crack, acondicionados em 104 embalagens plásticas. (...)”.
(STJ, 5ª Turma, REsp 1.630.097, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, j. 26/04/2017).
Obs. 2: crime contra incapazes e consentimento do genitor para a gravação das comunicações telefônicas.
Atualmente, cada vez mais crianças tem aparelhos celulares e contas em redes sociais, estando mais
suscetíveis a serem vítimas de pedófilos → por se tratar de crianças, o consentimento para o acesso dessas
comunicações telefônicas é o dos genitores;
STJ: “(...). No caso concreto, a genitora da vítima solicitou auxílio técnico a terceiro para a gravação de
conversas realizadas através de terminal telefônico de sua residência, na qualidade de representante civil
do menor impúbere e investida no poder-dever de proteção e vigilância do filho, não havendo ilicitude na
gravação. Dada a absoluta incapacidade da vítima para os atos da vida civil - e ante a notícia de que estava
sendo vítima de crime de natureza hedionda - a iniciativa da genitora de registrar conversa feita pelo filho
com o autor da conjecturada prática criminosa se assemelha à gravação de conversa telefônica feita com a
autorização de um dos interlocutores, sem ciência do outro, quando há cometimento de delito por este
último, hipótese já reconhecida como válida pelo Supremo Tribunal Federal. (...)”.
(STJ, 6ª Turma, REsp 1.026.605/ES, Rel. Min. Rogério Schietti Cruz, j. 13/05/2014).
Segundo a doutrina, essa gravação clandestina NÃO está abrangida pela Lei n. 9.296/96. Em regra, contudo,
os tribunais entendem que se trata de prova lícita, mesmo sem a autorização judicial.
Art. 10-A da Lei n. 9.296/96: Realizar captação ambiental de sinais eletromagnéticos, ópticos ou acústicos para
investigação ou instrução criminal sem autorização judicial, quando esta for exigida: (Incluído pela Lei nº
13.964, de 2019)
(...)
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➢ Ressalva doutrinária: se, por acaso, nessa comunicação ambiental ou telefônica, houver alguma
obrigação de guardar segredo. Nesse caso, não poderá ser gravada. Exemplo: cliente que está
conversando com seu advogado (sigilo profissional resguardado constitucionalmente).
4. Natureza Jurídica
a) Comunicações telefônicas (ou ambientais): são fontes de prova (as pessoas ou coisas que têm algum
conhecimento sobre o fato delituoso → dessas fontes se extrai a comprovação do delito);
c) Gravação da interceptação das comunicações: essa gravação não é obrigatória. Em regra, deve ser
feita a fim de documentar, mas, não necessariamente, precisa ocorrer. Há situações que não se pode
gravar e, mesmo assim, a interceptação telefônica continua → a gravação é materialização
(documentação) da fonte de prova.
d) Transcrição das gravações: é o meio de prova. Essa transcrição não precisa ser total e nem realizada
por perito.
STF: “(...). Gravação clandestina, feita por um dos interlocutores, sem conhecimento do outro. Juntada da
transcrição em inquérito policial, onde o interlocutor requerente era investigado ou tido por suspeito.
Admissibilidade. (...) Como gravação meramente clandestina, que se não confunde com interceptação, objeto
de vedação constitucional, é lícita a prova consistente no teor de gravação de conversa telefônica realizada
por um dos interlocutores, sem conhecimento do outro, se não há causa legal específica de sigilo nem de
reserva da conversação, sobretudo quando se predestine a fazer prova, em juízo ou inquérito, a favor de
quem a gravou”.
(STF, 2ª Turma, RE 402.717/PR, Rel. Min. Cezar Peluso, DJe 30 12/02/2009).
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Obs.: gravações clandestinas de eventual confissão de suspeito sem prévia advertência quanto ao direito
ao silêncio → nesse caso, não pode, porque o preso deve ser informado de seus direitos, dentro os quais o de
permanecer em silêncio (nemo tenetur se detegere).
STF: “(...) Gravação clandestina de “conversa informal” do indiciado com policiais. Ilicitude decorrente -
quando não da evidência de estar o suspeito, na ocasião, ilegalmente preso ou da falta de prova idônea do
seu assentimento à gravação ambiental - de constituir, dita “conversa informal”, modalidade de
“interrogatório” sub-reptício, o qual - além de realizar-se sem as formalidades legais do interrogatório no
inquérito policial (Código de Processo Penal, art. 6º, V) -, se faz sem que o indiciado seja advertido do seu
direito ao silêncio. O privilégio contra a autoincriminação - nemo tenetur se detegere -, erigido em garantia
fundamental pela Constituição - além da inconstitucionalidade superveniente da parte final do art. 186 do
Código de Processo Penal. - importou compelir o inquiridor, na polícia ou em juízo, ao dever de advertir o
interrogado do seu direito ao silêncio: a falta da advertência - e da sua documentação formal - faz ilícita a
prova que, contra si mesmo, forneça o indiciado ou acusado no interrogatório formal e, com mais razão, em
“conversa informal” gravada, clandestinamente ou não. (...)”.
(STF, 1ª Turma, HC 80.949/RJ, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, DJ 14/12/2001).
Esse tema foi enfrentado há poucos anos pelo STJ, no julgamento acerca da necessidade ou não de autorização
judicial para se obter acesso às conversas realizadas via whatsapp. Nesse julgamento, o STJ faz referência aos
três casos (Olmstead-Katz-Kyllo) da Suprema Corte dos EUA.
6.1. Direito probatório de 1ª geração → o caso Olmstead: esse é um caso de 1928. A polícia instalou um
aparelho de interceptação sem a autorização judicial na fiação de uma empresa telefônica, em via pública.
Um cidadão foi grampeado, não houve busca na casa dele, e esse caso foi parar na Suprema Corte dos
EUA, que firmou entendimento no sentido de que não teria havido violação ao direito à intimidade.
Teoria Proprietária → como o grampo foi feito na fiação da empresa telefônica, em via pública, não teria
havido violação de áreas demarcáveis/tangíveis (sem o ingresso na residência do indivíduo), afastando a
ilicitude da medida.
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6.2. Direito probatório de 2ª geração → o caso Katz: o precedente é de 1967, onde a Suprema Corte dos
EUA muda seu entendimento. Nesse caso, a captação foi feita através de uma gravação em uma cabine
de telefone público e essa gravação foi usada sem autorização judicial. Se fosse aplicada a Teoria
Proprietária do precedente anterior, não haveria problema algum com a licitude da prova. Nesse caso,
entretanto, a Suprema Corte dos EUA entendeu que a prova era ilícita porque foi feita sem a autorização
judicial.
Teoria da Proteção Constitucional Integral → não se pode considerar apenas eventual devassa da autoridade
na casa do indivíduo, o raciocínio deve ser no sentido de que, por mais que ele estivesse em cabine de
telefônico público, ele tinha, ao menos, uma expectativa de proteção da sua intimidade/vida privada não só
porque essas cabines telefônicas são fechadas, mas também pelo fato de que esse serviço é pago.
6.3. Direito probatório de 3ª geração → o caso Kyllo: precedente do ano de 2001. Houve um significativo
avanço da tecnologia. Nesse caso, o cidadão era suspeito de plantar maconha em casa. A polícia, a fim de
averiguar esses supostos fatos, usou equipamentos de captação térmica (sem autorização judicial) para
monitorar, do lado de fora da residência, se lá dentro havia as lâmpadas com a intensidade térmica
necessária ao cultivo dessas plantas. Essa tecnologia apontou a existência dessas lâmpadas e, com isso, a
polícia adentrou a casa do indivíduo.
A Suprema Corte dos EUA, se utilizasse as teorias dos dois casos acima, entenderia que essa prova era lícita,
porque não houve violação tangível da residência dele (caso Olmstead), nem houve, em tese, violação da
intimidade/vida privada dele (caso Katz). Entretanto, a Suprema Corte dos EUA entendeu que o emprego dessa
tecnologia, não disponível ao público como regra, demandaria um mandado judicial → tecnologias intangíveis.
Pode parecer algo distante da realidade, mas, atualmente, temos, inclusive no Brasil empregado o uso de
drones para as mais diversas finalidades, isto porque uma pessoa pode adentrar na casa de outra por
intermédio de um drone.
6.4. (Des)necessidade de autorização judicial prévia para a extração de dados e de conversas registradas
em aparelhos celulares apreendidos:
O STF tem um precedente antigo, cujo caso concreto ocorreu em 2004 e o julgamento se deu em 2012
(abaixo). No ano de 2004, os aparelhos celulares tinham tecnologia significativamente inferior aos da
atualidade e eram carregados, em sua maioria, na cintura (somente faziam e recebiam ligações).
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O STJ usou bastante, em caso julgado no ano de 2016, esse detalhe da evolução tecnológica, no julgado
subsequente, a fim de apontar o distinguishing entre os casos → há a necessidade de autorização judicial, pelo
nível de informações sobre o indivíduo que seu celular fornece hoje em dia.
STF: “(...). Suposta ilegalidade decorrente do fato de os policiais, após a prisão em flagrante do corréu, terem
realizado a análise dos últimos registros telefônicos dos dois aparelhos celulares apreendidos. (...) Não se
confundem comunicação telefônica e registros telefônicos, que recebem, inclusive, proteção jurídica distinta.
Não se pode interpretar a cláusula do artigo 5º, XII, da CF, no sentido de proteção aos dados enquanto registro,
depósito registral. A proteção constitucional é da comunicação de dados e não dos dados. (...) Art. 6º do CPP:
dever da autoridade policial de proceder à coleta do material comprobatório da prática da infração penal. Ao
proceder à pesquisa na agenda eletrônica dos aparelhos devidamente apreendidos, meio material indireto
de prova, a autoridade policial, cumprindo o seu mister, buscou, unicamente, colher elementos de
informação hábeis a esclarecer a autoria e a materialidade do delito (dessa análise logrou encontrar ligações
entre o executor do homicídio e o ora paciente). Verificação que permitiu a orientação inicial da linha
investigatória a ser adotada, bem como possibilitou concluir que os aparelhos seriam relevantes para a
investigação”.
(STF, 2ª Turma, HC 91.867/PA, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 24/04/2012).
STJ: “(...). Ilícita é a devassa de dados, bem como das conversas de whatsapp, obtidas diretamente pela
polícia em celular apreendido no flagrante, sem prévia autorização judicial. Recurso ordinário em habeas
corpus provido, para declarar a nulidade das provas obtidas no celular do paciente sem autorização judicial,
cujo produto deve ser desentranhado dos autos”.
(STJ, 6ª Turma, RHC 51.531, Rel. Min. Nefi Cordeiro, j. 19/04/2016).
A pessoa morta, no caso abaixo, era a vítima do delito. A esposa do falecido entregou o celular dele à polícia,
que, ao manipular esse aparelho, obteve as provas necessárias. Se a pessoa que morreu era a própria vítima,
inexiste ilegalidade.
STJ: “Não há ilegalidade na perícia de aparelho de telefonia celular pela polícia, sem prévia autorização
judicial, na hipótese em que seu proprietário – a vítima – foi morto, tendo o referido telefone sido entregue
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à autoridade policial por sua esposa. Sobre o tema, vale salientar que a Sexta Turma desta Corte Superior
vem reconhecendo a ilicitude da referida prova nos casos em que dizem respeito à interceptação de celular
do acusado, cujo conteúdo vem a ser devassado sem autorização judicial. Na hipótese em exame, todavia, a
situação é oposta, visto que houve um homicídio em que o telefone – de propriedade da vítima – teria sido,
inclusive, um veículo para a prática do crime; sendo entregue à polícia por sua esposa após o cometimento
do ilícito. Portanto, se o detentor de eventual direito ao sigilo estava morto, não havia mais sigilo algum a
proteger do titular daquele direito. Sendo assim, não há sequer necessidade de uma ordem judicial porque,
frise-se, no processo penal, o que se protege são os interesses do acusado. Logo, soa como impróprio
proteger-se a intimidade de quem foi vítima do homicídio, sendo que o objeto da apreensão e da
investigação é esclarecer o homicídio e punir aquele que, teoricamente, foi o responsável pela morte.
(STJ, 6ª Turma, RHC 86.076/MT, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, j. 19/10/2017, DJe 12/12/2017).
Extração de dados de conversas pretéritas do whatsapp: são provas lícitas, desde que haja prévia autorização
judicial.
Espelhamento, via whatsapp web, de conversas realizadas pelo investigado com terceiros: plataforma cuja
polícia pede autorização judicial para ter acesso às conversas atuais. O problema é que, nesse espelhamento
em que o indivíduo projeta o whatsapp do seu celular para conversar através de um computador, a polícia
costuma se passar pelo próprio interlocutor → provas ilícitas, conforme julgado abaixo, haja vista que esse
espelhamento gera sérios problemas em relação à fiscalização da cadeia de custódia, não permitindo o
adequado controle de quem teria inserido o espelhamento no sistema, ao permitir que essas mensagens
sejam apagadas.
Informativo n. 640 do STJ (15/02/2019): É impossível aplicar a analogia entre o instituto da interceptação
telefônica e o espelhamento, por meio do Whatsapp Web, das conversas realizadas pelo aplicativo Whatsapp.
Inicialmente, cumpre salientar que, ao contrário da interceptação telefônica, no âmbito da qual o investigador
de polícia atua como mero observador de conversas empreendidas por terceiros, no espelhamento
via WhatsApp Web o investigador de polícia tem a concreta possibilidade de atuar como participante tanto
das conversas que vêm a ser realizadas quanto das conversas que já estão registradas no aparelho celular,
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haja vista ter o poder, conferido pela própria plataforma online, de interagir diretamente com conversas
que estão sendo travadas, de enviar novas mensagens a qualquer contato presente no celular, e de excluir,
com total liberdade, e sem deixar vestígios, qualquer mensagem passada, presente ou futura.
(...)
Insta registrar que, por mais que os atos praticados por servidores públicos gozem de presunção de
legitimidade, doutrina e jurisprudência reconhecem que se trata de presunção relativa, que pode ser ilidida
por contraprova apresentada pelo particular. Não é o caso, todavia, do espelhamento: o fato de eventual
exclusão de mensagens enviadas (na modalidade "Apagar para mim") ou recebidas (em qualquer caso) não
deixar absolutamente nenhum vestígio nem para o usuário nem para o destinatário, e o fato de tais
mensagens excluídas, em razão da criptografia end-to-end, não ficarem armazenadas em nenhum servidor,
constituem fundamentos suficientes para a conclusão de que a admissão de tal meio de obtenção de prova
implicaria indevida presunção absoluta da legitimidade dos atos dos investigadores, dado que exigir
contraposição idônea por parte do investigado seria equivalente a demandar-lhe produção de prova diabólica
(o que não ocorre em caso de interceptação telefônica, na qual se oportuniza a realização de perícia).
(...)
Em segundo lugar, ao contrário da interceptação telefônica, que tem como objeto a escuta de conversas
realizadas apenas depois da autorização judicial (ex nunc), o espelhamento via QR Code viabiliza ao
investigador de polícia acesso amplo e irrestrito a toda e qualquer comunicação realizada antes da
mencionada autorização, operando efeitos retroativos (ex tunc). Em termos técnico-jurídicos, o espelhamento
seria melhor qualificado como um tipo híbrido de obtenção de prova consistente, a um só tempo, em
interceptação telefônica (quanto às conversas ex nunc) e em quebra de sigilo de e-mail (quanto às
conversas ex tunc). Não há, todavia, ao menos por agora, previsão legal de um tal meio de obtenção de prova
híbrido. Por fim, ao contrário da interceptação telefônica, que é operacionalizada sem a necessidade
simultânea de busca pessoal ou domiciliar para apreensão de aparelho telefônico, o espelhamento via QR
Code depende da abordagem do indivíduo ou do vasculhamento de sua residência, com apreensão de seu
aparelho telefônico por breve período de tempo e posterior devolução desacompanhada de qualquer
menção, por parte da autoridade policial, à realização da medida constritiva, ou mesmo, porventura
acompanhada de afirmação falsa de que nada foi feito.
(STJ, 6ª Turma, RHC 99.735/SC, Rel. Min. Laurita Vaz, j. 27/11/2018, DJe 12/12/2018).
6.7. (Des)necessidade de autorização judicial para o acesso a dados constantes do aparelho celular
quando a materialidade delitiva estiver inserida na própria coisa
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➢ Exemplo: um pedófilo acaba de ser preso. A polícia precisa de autorização judicial para acessar o
celular dele? Se o celular foi o meio utilizado não apenas para o armazenamento como também para
o envio das mensagens e imagens pedófilas-pornográficas (o próprio corpo de delito), o acesso ao
celular do criminoso é lícito, sendo desnecessária a autorização judicial → distinguishing.
STJ: “(...) O entendimento prevalecente nesta Corte e no STF é o de que são ilícitas as provas obtidas de
aparelhos celulares sem prévia e devida autorização, seja judicial seja do réu, ressalvados os casos
excepcionais. No entanto, deve ser realizado um discrímen nos casos em que a materialidade delitiva está
incorporada na própria coisa. É dizer, quando se tratar do próprio corpo de delito, ou seja, quando a própria
materialidade do crime se encontrar plasmada em fotografias que são armazenadas naquele aparelho,
como na espécie, a autorização judicial não será imprescindível”.
(STJ, 6ª Turma, RHC 108.262/MS, Rel. Min. Antônio Saldanha Palheiro, j. 05/09/2019, DJe 09/12/2019).
Dados telefônicos: eventuais registros obtidos geralmente junto às próprias empresas telefônicas → não está
sujeita à cláusula de reserva de jurisdição, podendo ser decretada, inclusive, pela CPI (Comissão Parlamentar
de Inquérito), por exemplo.
STF: “(...) A quebra do sigilo fiscal, bancário e telefônico de qualquer pessoa sujeita a investigação legislativa
pode ser legitimamente decretada pela Comissão Parlamentar de Inquérito, desde que esse órgão estatal o
faça mediante deliberação adequadamente fundamentada e na qual indique, com apoio em base empírica
idônea, a necessidade objetiva da adoção dessa medida extraordinária. (...)”.
(STF, Pleno, MS 23.652/DF, Rel. Min. Celso de Mello, j. 22/11/2000, DJ 16/02/2001).
Questão do concurso para Delegado PF/2013: Em cada item a seguir, é apresentada uma situação hipotética,
seguida de uma assertiva a ser julgada “certa” ou “errada” com base no direito penal.
O presidente de uma comissão parlamentar mista de inquérito, após as devidas formalidades, ordenou, de
forma sigilosa e reservada, a interceptação telefônica e a quebra do sigilo de dados telefônicos de testemunha
que se reservara o direito de permanecer calada perante a comissão. Nessa situação, a primeira medida é
ilegal, visto que a interceptação telefônica se restringe à chamada reserva jurisdicional, sendo permitida, por
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outro lado, a quebra do sigilo de dados telefônicos da testemunha, medida que não se submete ao mesmo
rigor da primeira, consoante entendimento da doutrina majoritária.
Gabarito: Certo.
Com as autorizações legislativas apontadas a baixo, passou a se prever a possibilidade da Polícia e do MP ter
acesso a esses dados.
Art. 13-A do CPP. Nos crimes previstos nos arts. 148, 149 e 149-A, no §3º do art. 158 e no art. 159 do Código
Penal, e no art. 239 do Estatuto da Criança e do Adolescente, o membro do Ministério Público ou o delegado
de polícia poderá requisitar, de quaisquer órgãos do poder público ou de empresas da iniciativa privada,
dados e informações cadastrais da vítima ou de suspeitos. (Incluído pela Lei n. 13.344/16).
Parágrafo único. A requisição, que será atendida no prazo de 24 (vinte e quatro) horas, conterá:
I - O nome da autoridade requisitante;
II - O número do inquérito policial; e
III - A identificação da unidade de polícia judiciária responsável pela investigação.
Art. 17-B da Lei n. 9.613/98 (Lavagem de Capitais). A autoridade policial e o Ministério Público terão acesso,
exclusivamente, aos dados cadastrais do investigado que informam qualificação pessoal, filiação e
endereço, independentemente de autorização judicial, mantidos pela Justiça Eleitoral, pelas empresas
telefônicas, pelas instituições financeiras, pelos provedores de internet e pelas administradoras de cartão de
crédito. (Incluído pela Lei n. 12.683/12).
Art. 15 da Lei n. 12.850/13 (Organização Criminosa): O delegado de polícia e o Ministério Público terão acesso,
independentemente de autorização judicial, apenas aos dados cadastrais do investigado que informem
exclusivamente a qualificação pessoal, a filiação e o endereço mantidos pela Justiça Eleitoral, empresas
telefônicas, instituições financeiras, provedores de internet e administradoras de cartão de crédito.
Art. 17 da Lei n. 12.850/13 (Organização Criminosa): As concessionárias de telefonia fixa ou móvel manterão,
pelo prazo de 5 (cinco) anos, à disposição das autoridades mencionadas no art. 15, registros de identificação
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dos números dos terminais de origem e de destino das ligações telefônicas internacionais, interurbanas e
locais.
ERB’s: são antenas nas quais os nossos aparelhos celulares se conectam, quando em uso (ligação ou
enviando/recebendo mensagens).
Suponhamos a existência de uma antena situada, exemplificativamente, na Avenida Paulista em São Paulo/SP.
Outra antena situada na Rua da Consolação, também em São Paulo/SP. Com isso, estando o celular do
indivíduo em uso, é possível que a ERB forneça uma localização aproximada dele → funciona como um “contra
álibi”, a fim de se provar que o álibi fornecido por uma pessoa é falso.
➢ O acesso às informações acerca das ERB’s precisa de autorização judicial? A Lei n. 13.344/16, que
alterou alguns dispositivos do CPP, é altamente contraditória porque, em alguns momentos afirma
que é necessária a autorização judicial e, em outros, afirma que o decurso do prazo pelo juiz sem
autorização judicial a dispensa.
Art. 13-B do CPP: Se necessário à prevenção e à repressão dos crimes relacionados ao tráfico de pessoas, o
membro do Ministério Público ou o delegado de polícia poderão requisitar, mediante autorização judicial,
às empresas prestadoras de serviço de telecomunicações e/ou telemática que disponibilizem imediatamente
os meios técnicos adequados – como sinais, informações e outros – que permitam a localização da vítima ou
dos suspeitos do delito em curso. (Incluído pela Lei n. 13.344/16)
§ 1o Para os efeitos deste artigo, sinal significa posicionamento da estação de cobertura, setorização e
intensidade de radiofrequência.
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§ 3o Na hipótese prevista neste artigo, o inquérito policial deverá ser instaurado no prazo máximo de 72
(setenta e duas) horas, contado do registro da respectiva ocorrência policial.
§ 4o Não havendo manifestação judicial no prazo de 12 (doze) horas, a autoridade competente requisitará
às empresas prestadoras de serviço de telecomunicações e/ou telemática que disponibilizem
imediatamente os meios técnicos adequados – como sinais, informações e outros – que permitam a
localização da vítima ou dos suspeitos do delito em curso, com imediata comunicação ao juiz.
➢ Enquanto o caput desse dispositivo deixa claro que é necessária a autorização judicial, seu § 4º, de
maneira surpreendente, diz que, se, em 12 horas a autoridade policial ou o MP não tiver a autorização
judicial, essa não mais será necessária.
➢ Os governantes de São Paulo, em tempos de coronavírus, estavam utilizando os dados dessas ERB’s a
fim de verificar se essas pessoas estavam, e que porcentagem delas, em isolamento social ou não →
na opinião do professor, esses dados independem de autorização judicial. A uma, porque seria
impossível pedir essa autorização para cada um dos milhões de habitantes. A duas, porque os dados
são obtidos de forma coletiva, por bairros, e não de forma individual. Não há, portanto, violação da
intimidade/vida privada de ninguém.
A própria Constituição Federal, diante do grau de lesão à intimidade/privada, diz que a interceptação
telefônica somente pode ser feita para fins criminais (investigação criminal e instrução processual,
originariamente) e não para fins cíveis e administrativos.
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Art. 1º da Lei n. 9.296/96: A interceptação de comunicações telefônicas, de qualquer natureza, para prova
em investigação criminal e em instrução processual penal, observará o disposto nesta Lei e dependerá de
ordem do juiz competente da ação principal, sob segredo de justiça.
➢ Exemplo: um auditor da Receita Federal, que trabalha na aduana, está em Foz do Iguaçu/PR, sendo
investigado pelo crime de tráfico internacional de drogas. A autoridade policial faz uma interceptação
telefônica com o intuito de se apurar a materialidade e autoria do tráfico de drogas, de forma lícita.
Os elementos aí obtidos poderão ser utilizados em eventual processo cível e/ou administrativo, sem
problema algum, funcionando como prova emprestada.
STF: “(...). A jurisprudência desta Corte admite o uso de prova emprestada em processo administrativo
disciplinar, em especial a utilização de interceptações telefônicas autorizadas judicialmente para
investigação criminal. Precedentes. Recurso ordinário a que se nega provimento”.
(STF, 1ª Turma, RM 28.774/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, j. 09/08/2016).
Art. 1º da Lei n. 9.296/96: A interceptação de comunicações telefônicas, de qualquer natureza, para prova em
investigação criminal e em instrução processual penal, observará o disposto nesta Lei e dependerá de ordem
do juiz competente da ação principal, sob segredo de justiça (1).
Parágrafo único. O disposto nesta Lei aplica-se à interceptação do fluxo de comunicações em sistemas de
informática e telemática.
Art. 2° da Lei n. 9.296/96: Não será admitida a interceptação de comunicações telefônicas quando ocorrer
qualquer das seguintes hipóteses → esse dispositivo, por ter sido redigido de forma negativa, deve ser
interpretado a contrariu sensu a fim de se extrair os requisitos para interceptação telefônica.
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Parágrafo único. Em qualquer hipótese deve ser descrita com clareza a situação objeto da investigação,
inclusive com a indicação e qualificação dos investigados, salvo impossibilidade manifesta, devidamente
justificada.
(2) Fumus comissi delicti → indícios razoáveis de autoria e participação: não se admite a chamada
“interceptação de prospecção” (uma espécie de interceptação sem quaisquer indícios, como se uma
autoridade presumisse, ao ver um corinthiano, que ele é autor de crimes). Ainda que surja alguma prova dela,
a interceptação de prospecção não é cabível porque é necessário um mínimo de substrato prévio para sua
decretação e admissão como prova lícita;
➢ Fishing expedition: expedição de “pescaria”. A autoridade policial lança verdadeira uma rede a fim de
tentar “pescar” provas de autoria delitiva, sem o menor indício prévio → não é permitido.
➢ Para o STJ, a interceptação telefônica só será deferida quando não houver outros meios de prova
disponíveis à época na qual a medida invasiva foi requerida, sendo ônus da defesa demonstrar
violação ao disposto no art. 2º, inciso II, da Lei n. 9.296/96. Nessa linha: STJ, 5ª Turma, RHC
61.207/PR, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, j. 25/09/2018, DJe 08/10/2018; STJ, 5ª Turma, AgRg no RMS
52.818/SP, Rel. Min. Felix Fischer, j. 25/09/2018, DJe 03/10/2018; STJ, 5ª Turma, RHC 83.320/DF, Rel.
Min. Jorge Mussi, j. 11/09/2018, DJe 19/09/2018; STJ, 6ª Turma, HC 148.413/SP, Rel. Min. Sebastião
Reis Júnior, j. 21/08/2014, DJe 01/09/2014.
Obs. 1: teoria do juízo aparente. Suponhamos a existência de um crime federal (tráfico internacional de
drogas). O juiz que concedeu a autorização para a interceptação telefônica é um juiz federal. Com o
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andamento da investigação, o cenário muda e se percebe que, na verdade, o crime não é federal e sim
estadual.
➢ Nesse exemplo, essa interceptação telefônica autorizada pelo juiz federal ainda será considerada
prova lícita, ou se tornará prova ilícita porque foi determinada por juízo incompetente? A teoria do
juízo aparente é aplicável ao caso ao passo que, quando se trata de meios cautelares de obtenção de
prova como a interceptação telefônica, deve ser analisado o juízo competente com base nos dados
então existentes. Se mudar o contexto, não existe motivos para invalidar aquela prova obtida.
➢ Contudo, o mesmo raciocínio perde validade se o exemplo for diferente. Imaginemos o caso de um
crime federal e um juiz militar deu a ordem de interceptação telefônica. Nesse caso, é inaplicável a
teoria do juízo aparente.
STF: “(...) Se se cuida de obter a autorização para a interceptação telefônica no curso de processo penal, não
suscita dúvidas a regra de competência do art. 1º da L. 9296/96: só ao juiz da ação penal condenatória - e que
dirige toda a instrução -, caberá deferir a medida cautelar incidente. 2. Quando, no entanto, a interceptação
telefônica constituir medida cautelar preventiva, ainda no curso das investigações criminais , a mesma
norma de competência há de ser entendida e aplicada com temperamentos, para não resultar em absurdos
patentes: aí, o ponto de partida à determinação da competência para a ordem judicial de interceptação -
não podendo ser o fato imputado, que só a denúncia, eventual e futura, precisará -, haverá de ser o fato
suspeitado, objeto dos procedimentos investigatórios em curso. 3. Não induz à ilicitude da prova resultante
da interceptação telefônica que a autorização provenha de Juiz Federal - aparentemente competente, à vista
do objeto das investigações policiais em curso, ao tempo da decisão - que, posteriormente, se haja declarado
incompetente, à vista do andamento delas.
(STF, Pleno, HC 81.260/ES, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, DJ 19/04/2002).
Obs. 3: crime de catálogo = é aquele crime apenado com reclusão, que admite interceptação telefônica.
10. Encontro fortuito de elementos probatórios em relação a outros fatos delituosos e/ou a outras
pessoas (serendipidade)
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Na prática, é extremamente comum que, no curso prolongado de uma interceptação telefônica contra Tício
para apurar um crime de estupro, por exemplo, acabar descobrindo o envolvimento de Mévio ou a existência
de outros crimes, como o homicídio ou tráfico de drogas, por exemplo.
➢ Esses elementos probatórios obtidos em relação a outras pessoas são válidos? Teoria do Encontro
Fortuito de Elementos Probatórios ou Teoria da Serendipidade → tudo depende de como esses
elementos probatórios foram encontrados.
Obs. 1: encontro de elementos probatórios relacionados a crimes punidos com pena de detenção → não
haverá problemas.
➢ Exemplo: crime de tráfico de drogas e o encontro fortuito ocorrer em relação a um crime de ameaça,
não há problema algum. O que não pode ocorrer é a autorização de interceptação telefônica para
crime de ameaça, porque este não e apenado com reclusão.
STF: “(...). Uma vez realizada a interceptação telefônica de forma fundamentada, legal e legítima, as
informações e provas coletas dessa diligência podem subsidiar denúncia com base em crimes puníveis com
pena de detenção, desde que conexos aos primeiros tipos penais que justificaram a interceptação. Do
contrário, a interpretação do art. 2º, III, da L. 9.296/96 levaria ao absurdo de concluir pela impossibilidade
de interceptação para investigar crimes apenados com reclusão quando forem estes conexos com crimes
punidos com detenção. Habeas corpus indeferido”.
(STF, Pleno, HC 83.515/RS, Rel. Min. Nelson Jobim, DJ 04/03/2005)
1º Corrente: dizendo que há a necessidade de conexão e/o continência entre os fatos delituosos para que
sirva como prova, corrente que é defendida por, entre outros, Luiz Flávio Gomes. Se não houver conexão e/ou
continência, servirá como notitia criminis para se deflagrar uma investigação em relação ao outro crime.
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STJ: “(...). Em princípio, havendo o encontro fortuito de notícia da prática futura de conduta delituosa, durante
a realização de interceptação telefônica devidamente autorizada pela autoridade competente, não se deve
exigir a demonstração da conexão entre o fato investigado e aquele descoberto, a uma, porque a própria
Lei nº 9.296/96 não a exige, a duas, pois o Estado não pode se quedar inerte diante da ciência de que um
crime vai ser praticado e, a três, tendo em vista que se por um lado o Estado, por seus órgãos investigatórios,
violou a intimidade de alguém, o fez com respaldo constitucional e legal, motivo pelo qual a prova se
consolidou lícita. A discussão a respeito da conexão entre o fato investigado e o fato encontrado
fortuitamente só se coloca em se tratando de infração penal pretérita, porquanto no que concerne as
infrações futuras o cerne da controvérsia se dará quanto a licitude ou não do meio de prova utilizado e a partir
do qual se tomou conhecimento de tal conduta criminosa. Habeas corpus denegado”.
(STJ, 5ª Turma, HC 69.552/PR, Rel. Min. Felix Fischer, DJ 14/05/2007).
A palavra serendipidade deriva do inglês “serendipity” → sair a procura de uma coisa e encontrar outra,
provavelmente mais valiosa.
Obs. 4: encontro fortuito de diálogos mantidos com autoridade dotada de foro por prerrogativa de função
e momento adequado para a remessa dos autos ao Tribunal competente.
A maioria dos criminosos, em delitos que envolvem a administração pública, mantém diálogos recorrentes
com políticos (pessoas influentes e dotadas de foro por prerrogativa de função), o que ensejaria o envio dos
elementos colhidos com a interceptação telefônica aos Tribunais Superiores;
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Contudo, não pode existir exagero nessa medida. Não pode ser qualquer conversa entre esses indivíduos e os
políticos que pode ir parar no STF → foro por prerrogativa de função.
(i) O simples fato de o alvo (pessoa que está sendo gravado com autorização judicial) conversar com
alguém dotado de foro por prerrogativa de função não necessariamente implica na remessa
automática da investigação ao STF;
(ii) Se, durante a interceptação autorizada por juiz de primeira instância, ficar evidenciado, desde já,
o envolvimento de autoridade dotada de foro por prerrogativa de função em algum crime cometido
durante e em razão de suas funções → os autos serão remetidos ao STF a fim de que um Ministro
solicite ou não a prorrogação da medida de interceptação telefônica, com o claro intuito de manter a
licitude da prova que está sendo colhida com a medida.
STJ: “(...) Sob diversa perspectiva, a remessa imediata de toda e qualquer investigação, em que noticiada a
possível prática delitiva de detentor de prerrogativa de foro, ao órgão jurisdicional competente não só pode
implicar prejuízo à investigação de fatos de particular e notório interesse público, como, também,
representar sobrecarga acentuada dos tribunais, a par de, eventualmente, engendrar prematuras suspeitas
sobre pessoa cujas honorabilidade e respeitabilidade perante a opinião pública são determinantes para a
continuidade e o êxito de suas carreiras políticas. 10. Habeas corpus não conhecido”.
(STJ, 6ª Turma, HC 307.152/GO, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, DJe 15/12/2015).
STF: “(...) A jurisprudência da Corte é no sentido de que a simples menção ao nome de autoridades detentoras
de prerrogativa de foro, seja em depoimentos prestados por testemunhas ou investigados, seja na captação
de diálogos travados por alvos de censura telefônica judicialmente autorizada, assim como a existência de
informações, até então, fluidas e dispersas a seu respeito, são insuficientes para o deslocamento da
competência para o juízo hierarquicamente superior. Para que haja a atração da causa para o foro
competente, é imprescindível a constatação da existência de indícios da participação ativa e concreta do titular
da prerrogativa em ilícitos penais. (...).
Todavia, a hipótese retratada nos autos não se coaduna com o entendimento jurisprudencial mencionado por
não se tratar de simples menção a detentor de prerrogativa de foro, nem, muito menos, de encontro fortuito
de provas. Em relação à operação Vegas, deflagrada em 2008, embora as autoridades nela envolvidas
negassem que se tratasse de uma investigação direta em desfavor de detentor de prerrogativa de foro, os
documentos contidos nos autos demonstraram que, no auge da persecução penal, nos idos de 2008 já havia
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indícios reflexos de seu envolvimento com o objeto em apuração, não obstante a denúncia mencione que
os fatos em relação a ele teriam como termo inicial somente a data de 22/6/09, que antecedeu o
deslocamento da competência para esta Corte. Portanto, o surgimento de indícios de envolvimento do
recorrente já no ano de 2008 tornou impositiva a remessa do caso para o Supremo Tribunal Federal, o que,
por não ter ocorrido oportune tempore, maculou os elementos de prova arrecadados em seu desfavor. (...)
Recurso parcialmente provido para se conceder a ordem de habeas corpus no sentido de invalidar as
interceptações telefônicas relacionadas ao recorrente nas operações Vegas e Monte Carlo, realizadas em
primeiro grau, bem como as provas diretamente delas derivadas, determinando-se seu desentranhamento
dos autos da ação penal à qual responde perante o Tribunal de Justiça do Estado de Goiás, a quem compete
avaliar se remanesce justa causa para o prosseguimento do feito, a partir de eventual constatação de outras
provas autônomas suficientes ao embasamento da acusação, uma vez que a via estreita do habeas corpus, na
linha de precedentes, não permite revolver o acervo fático-probatório para melhor se reanalisar essa
questão”.
(STF, 2ª Turma, RHC 135.683/GO, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 25/10/2016).
Art. 5° da Lei n. 9.296/96: A decisão será fundamentada, sob pena de nulidade, indicando também a forma de
execução da diligência, que não poderá exceder o prazo de quinze dias, renovável por igual tempo uma vez
cuidado com a interpretação literal comprovada a indispensabilidade do meio de prova.
➢ Esse prazo, na prática, é ridículo porque é insuficiente para a colheita adequada de elementos
probatórios → o pedido de prorrogação deve ser feito antes do fim dos 15 dias.
➢ O prazo de 15 dias pode ser renovado por igual período (não só por mais uma vez e sim várias vezes,
pelo mesmo período) → desde que comprovada a sua indispensabilidade.
Ao prorrogar a medida, o juiz pode se valer da denominada fundamentação per relacionem → se remete a
decisões anteriores ou manifestações ministeriais/do delegado de polícia.
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STJ: “(...). A legislação infraconstitucional (Lei 9.296/96) não faz qualquer limitação quanto ao número de
terminais que podem ser interceptados, ou ao prazo de renovação da medida; tudo irá depender do tipo de
investigação a ser feita - quanto mais complexo o esquema criminoso, maior é a necessidade da quebra do
sigilo telefônico, de mais pessoas e por mais tempo, com vistas à apuração da verdade que interessa ao
processo penal. Precedentes do STJ e STF. 4. É dispensável a degravação integral dos áudios captados ou que
esta seja feita por peritos ou intérpretes, cabendo à autoridade policial, nos exatos termos do art. 6o., §§ 1o.
e 2o. da Lei 9.296/96, conduzir a diligência, dentro dos parâmetros fixados pelo Juiz. Precedentes do STJ e STF.
5. Eventual nulidade da interceptação telefônica por breve período (7 dias), por falta de autorização judicial,
não há de macular todo o conjunto probatório colhido anteriormente ou posteriormente de forma
absolutamente legal; todavia, a prova obtida nesse período deve ser desentranhada dos autos e
desconsiderada pelo Juízo. (...)”.
(STJ, 5ª Turma, HC 45.630/RJ, Rel. Min. Felix Fischer, DJ 10/04/2006).
Obs. 2: há precedentes dos Tribunais Superiores admitindo, em caráter excepcional, a fixação do prazo de
30 dias consecutivos para a execução da interceptação telefônica. Nesse sentido:
STJ: “(...). A despeito de contrariar a literalidade do art. 5º da Lei n. 9.296/96, a limitação do prazo para a
realização de interceptações telefônicas não constitui óbice ao deferimento da medida excepcional por
período superior a 15 dias, desde que haja circunstanciada justificação, com específica indicação da
indispensabilidade de tal prazo. (...)”.
(STJ, 6ª Turma, HC 421.914/RS, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, j. 19/03/2019, DJe 26/03/2019).
Quando uma pessoa intercepta outra e grava a conversa, precisa ser feita a transcrição?
➢ Essa transcrição deve ser integral ou poder ser apenas parcial, do que é realmente relevante? Parte
minoritária da doutrina aponta que a integralidade dessas conversas gravadas deve ser transcrita. Já
para a maioria da doutrina, essa transcrição pode ser parcial → somente o que interessa para o
julgamento daquela demanda;
A transcrição, portanto, pode ser parcial, mas a mídia deverá ser integral.
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Ao gravar uma aula do G7 jurídico, portanto, é feita a transcrição do que realmente interessa, mas a mídia em
si (o DVD, pendrive) deve ser disponibilizada em sua integralidade aos interessados → fiscalização da cadeia
de custódia por parte da defesa.
➢ Essa transcrição precisa ser feita por perito (auxiliar do juízo)? Não, ante a desnecessidade de
conhecimentos especializados para ouvir uma comunicação telefônica/ambiental e coloca-la no
papel;
STF: “(...). PROVA. Criminal. Interceptação telefônica. Transcrição da totalidade das gravações.
Desnecessidade. Gravações diárias e ininterruptas de diversos terminais durante período de 7 (sete) meses.
Conteúdo sonoro armazenado em 2 (dois) DVDs e 1 (um) HD, com mais de quinhentos mil arquivos.
Impossibilidade material e inutilidade prática de reprodução gráfica. Suficiência da transcrição literal e integral
das gravações em que se apoiou a denúncia. Acesso garantido às defesas também mediante meio magnético,
com reabertura de prazo. Cerceamento de defesa não ocorrente. Preliminar repelida. Interpretação do art.
6º, § 1º, da Lei nº 9.296/96. Precedentes. Votos vencidos. O disposto no art. 6º, § 1º, da Lei federal nº 9.296,
de 24 de julho de 1996, só comporta a interpretação sensata de que, salvo para fim ulterior, só é exigível, na
formalização da prova de interceptação telefônica, a transcrição integral de tudo aquilo que seja relevante
para esclarecer sobre os fatos da causa sub iudice. (...)”.
(STF, Pleno, Inq. 2.424/RJ, Rel. Min. Cezar Peluso, j. 26/11/2008).
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Quando uma interceptação telefônica é feita, se faz necessário preservar a integralidade da mídia, ainda que
a transcrição seja parcial.
Essa sistemática da cadeia de custódia foi introduzida no Código de Processo Penal com a Lei n. 13.964/19
(Pacote Anticrime) entre os arts. 158-A e 158-F → em vigor, sem suspensão do Ministro Fux.
Cadeia de Custódia é, portanto, a documentação formal de uma evidência, ou seja, o meio de comprovar que
a droga encontrada com o agente é a mesma que foi submetida à perícia → aplica-se a todas as fontes de
provas, inclusive à interceptação telefônica.
STJ: “(...). Apesar de ter sido franqueado o acesso aos autos, parte das provas obtidas a partir da
interceptação telemática foi extraviada, ainda na Polícia, e o conteúdo dos áudios telefônicos não foi
disponibilizado da forma como captado, havendo descontinuidade nas conversas e na sua ordem, com
omissão de alguns áudios. A prova produzida durante a interceptação não pode servir apenas aos interesses
do órgão acusador, sendo imprescindível a preservação da sua integralidade, sem a qual se mostra
inviabilizado o exercício da ampla defesa, tendo em vista a impossibilidade da efetiva refutação da tese
acusatória, dada a perda da unidade da prova. (...).
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e diálogos interceptados. (...) Ordem concedida, de ofício, para anular as provas produzidas nas
interceptações telefônica e telemática, determinando, ao Juízo de 1º Grau, o desentranhamento integral do
material colhido, bem como o exame da existência de prova ilícita por derivação (...)”.
(STJ, 6ª Turma, HC 160.662/RJ, Rel. Min. Assusete Magalhães, j. 18/02/2014, DJe 17/03/2014).
➢ ANTES do Pacote Anticrime: a interceptação ambiental era meio de obtenção de prova (nominado,
porque estava previsto em lei, e atípico, porque, apesar de estar previsto em lei, não tinha
procedimento probatório) previsto no art. 3º, II, da Lei n. 12.850/13 (Lei das Organizações Criminosas),
se valendo do mesmo procedimento de lei semelhante, o de interceptação telefônica.
Art. 3o da Lei n. 12.850/13 (Lei das Organizações Criminosas): Em qualquer fase da persecução penal, serão
permitidos, sem prejuízo de outros já previstos em lei, os seguintes meios de obtenção da prova:
(...)
II - Captação ambiental de sinais eletromagnéticos, ópticos ou acústicos;
➢ DEPOIS do Pacote Anticrime: finalmente, houve a regulamentação da matéria. Agora, foi inserido o
art. 8º-A na Lei n. 9.296/96, com procedimento probatório próprio.
Art. 8º-A da Lei n. 9.296/96: Para investigação ou instrução criminal, poderá ser autorizada pelo juiz, a
requerimento da autoridade policial ou do Ministério Público, a captação ambiental de sinais
eletromagnéticos, ópticos ou acústicos, quando: (Incluído pela Lei n. 13.964, de 2019)
I - A prova não puder ser feita por outros meios disponíveis e igualmente eficazes; e
II - Houver elementos probatórios razoáveis de autoria e participação em infrações criminais cujas penas
máximas sejam superiores a 4 (quatro) anos ou em infrações penais conexas.
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§ 2º (VETADO).
§ 3º A captação ambiental não poderá exceder o prazo de 15 (quinze) dias, renovável por decisão judicial por
iguais períodos, se comprovada a indispensabilidade do meio de prova e quando presente atividade criminal
permanente, habitual ou continuada.
§ 4º (VETADO).
Indícios de autoria (fumus comissi delicti e periculum Fumus comissi delicti e periculum libertatis
libertatis) por se tratar de medida cautelar
Prova não pode ser obtida por outros meios
Prova não pode ser obtida por outros meios disponíveis e igualmente eficazes
disponíveis e igualmente eficazes
Crimes punidos com reclusão, independentemente Infrações penais cujas penas máximas sejam
do quantum de pena superiores a 04 anos ou conexas (em tese, tanto
para reclusão quanto para detenção)
Prazo de 15 dias, renovável pelo mesmo período, Prazo de 15 dias, renovável por iguais períodos,
uma vez comprovada a indispensabilidade do meio desde que comprovada a indispensabilidade do
de prova meio de prova e quando presente atividade criminal
permanente, habitual ou continuada
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O legislador do Pacote Anticrime cometeu um erro (ou assim o fez de forma proposital) ao redigir o art. 8º-A
pois, nessa redação do caput, para a decretação da captação ambiental sempre é necessária autorização
judicial → com a mesma ideia da interceptação telefônica.
➢ ATENÇÃO: Essa ideia do legislador foi pautada na premissa de que o direito à inviolabilidade da
captação ambiental estaria tutelado pelo art. 5º, XII, da CF. Entretanto, não é o caso, o inciso que o
tutela, na verdade, é o X, ou seja, nem sempre é necessária a autorização judicial.
Por conseguinte, a fim de se apurar a necessidade ou não de autorização judicial, a doutrina mais recente
sobre o assunto aponta a necessidade de se distinguir os locais dessa captação ambiental.
a) Captação de conversa alheia mantida em local público ou privado, mas aberto ao público: não
precisa de autorização judicial porque, em alguns desses casos, a pessoa que filma está filmando um
delito que está acontecendo naquele exato momento;
➢ Exemplos: câmeras de vigilâncias em prédios que capturam a imagem de assaltos que os moradores
podem eventualmente sofrer na portaria → meio de obtenção de prova lícita.
b) Captação de conversa alheia mantida em local público (ou privado, mas aberto ao público), porém
em caráter sigiloso, expressamente admitido pelos interlocutores: nesse caso, há uma legítima
expectativa de proteção da intimidade/vida privada dos envolvidos. O ideal é o entendimento de que
é necessária a autorização judicial, a depender do caso concreto → no caso de conversa entre cliente
e advogado, nem com autorização judicial.
➢ Exemplo: caso Suzane Von Richthofen. Ela concedeu uma entrevista ao programa “Fantástico” da
Rede Globo e essa emissora captou, clandestinamente, uma conversa dela com seu advogado, que se
deu em local público. Essa conversa está protegida constitucionalmente pelo sigilo profissional
(resguardar a ampla defesa).
c) Captação de conversa alheia mantida em local privado não aberto ao público (como o interior de
uma residência): pressupõe a inviolabilidade domiciliar assegurada pela Constituição Federal, em seu
art. 5º, XI → necessária a autorização judicial.
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➢ Exemplo: a polícia desconfia que determinado sujeito está praticando tráfico de drogas na casa dele
e a autoridade policial deseja colocar uma câmera escondida na garagem do condomínio que esse
sujeito mora. Essa tecnologia deve ser instalada durante ou dia, obrigatoriamente, ou pode ser feita
no período noturno?
RAZÕES DO VETO: “A propositura legislativa gera insegurança jurídica, haja vista que, ao mesmo tempo em
que admite a instalação de dispositivo de captação ambiental, esvazia o dispositivo ao retirar do seu alcance
a ‘casa’, nos termos do inciso XI do art. 5º da Lei Maior. Segundo a doutrina e a jurisprudência do Supremo
Tribunal Federal, o conceito de ‘casa’ deve ser entendido como qualquer compartimento habitado, até mesmo
um aposento que não seja aberto ao público, utilizado para moradia, profissão ou atividades, nos termos do
art. 150, § 4º, do Código Penal.
(v. g. HC 82788, Relator: Min. CELSO DE MELLO, Segunda Turma, julgado em 12/04/2005).”
STF: “(...). Para fins de persecução criminal de ilícitos praticados por quadrilha, bando, organização ou
associação criminosa de qualquer tipo, são permitidos a captação e a interceptação de sinais
eletromagnéticos, óticos e acústicos, bem como seu registro e análise, mediante circunstanciada autorização
judicial. PROVA. Criminal. Escuta ambiental e exploração de local. Captação de sinais óticos e acústicos.
Escritório de advocacia. Ingresso da autoridade policial, no período noturno, para instalação de
equipamento. Medidas autorizadas por decisão judicial. Invasão de domicílio. (...). Não caracterização.
Suspeita grave da prática de crime por advogado, no escritório, sob pretexto de exercício da profissão.
Situação não acobertada pela inviolabilidade constitucional. Inteligência do art. 5º, X e XI, da CF, art. 150, §
4º, III, do CP, e art. 7º, II, da Lei nº 8.906/94. Preliminar rejeitada. Votos vencidos. Não opera a inviolabilidade
do escritório de advocacia, quando o próprio advogado seja suspeito da prática de crime, sobretudo concebido
e consumado no âmbito desse local de trabalho, sob pretexto de exercício da profissão. (...)”.
(STF, Pleno, Inq. 2.424/RJ, Rel. Min. Cezar Peluso, j. 26/11/2008, DJe 55 25/03/2010).
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Art. 8º-A da Lei n. 9.296/96: Para investigação ou instrução criminal, poderá ser autorizada pelo juiz, a
requerimento da autoridade policial ou do Ministério Público, a captação ambiental de sinais
eletromagnéticos, ópticos ou acústicos, quando: (Incluído pela Lei n. 13.964, de 2019)
I - A prova não puder ser feita por outros meios disponíveis e igualmente eficazes; e
II - Houver elementos probatórios razoáveis de autoria e participação em infrações criminais cujas penas
máximas sejam superiores a 4 (quatro) anos ou em infrações penais conexas.
§ 2º (VETADO).
§ 3º A captação ambiental não poderá exceder o prazo de 15 (quinze) dias, renovável por decisão judicial por
iguais períodos, se comprovada a indispensabilidade do meio de prova e quando presente atividade criminal
permanente, habitual ou continuada.
§ 4º (VETADO).
Art. 10 da Lei n. 9.296/96 (redação ANTERIOR à Lei Art. 10 da Lei n. 9.296/96 (redação DADA pela Lei n.
n. 13.869/19 – Lei de Abuso de Autoridade): 13.869/19 – Lei de Abuso de Autoridade):
Constitui crime realizar interceptação de Constitui crime realizar interceptação de
comunicações telefônicas, de informática ou comunicações telefônicas, de informática ou
telemática / ou quebrar segredo da Justiça, sem telemática, PROMOVER ESCUTA AMBIENTAL ou
autorização judicial ou com objetivos não quebrar segredo da Justiça, sem autorização judicial
autorizados em lei. ou com objetivos não autorizados em lei:
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Pena: reclusão, de dois a quatro anos, e multa. Pena: reclusão, de dois a quatro anos, e multa.
Art. 10-A da Lei n. 9.296/96 (redação dada pela Lei n. 13.869/19 – Pacote Anticrime): Realizar captação
ambiental de sinais eletromagnéticos, ópticos ou acústicos para investigação ou instrução criminal sem
autorização judicial, quando esta for exigida:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.
§ 2º A pena será aplicada em dobro ao funcionário público que descumprir determinação de sigilo das
investigações que envolvam a captação ambiental ou revelar o conteúdo das gravações enquanto mantido o
sigilo judicial.
➢ A alteração promovida pelo Pacote Anticrime retirou, tacitamente, a alteração trazida pela Lei de
Abuso de Autoridade do art. 10 e inserido no art. 10-A.
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LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL
Renato Brasileiro
L. 11.340/06
Aula 14
ROTEIRO DE AULA
A preocupação em coibir esse tipo de violência encontra guarida não apenas na Constituição Federal, mas
também em diversas convenções internacionais das quais o Brasil é signatário.
Um desses mecanismos é exatamente a publicação da Lei n. 11.340/06. O Brasil, ainda, é signatário de várias
convenções internacionais acerca da temática, exemplificativamente:
1975: A ONU realizou a I Conferência Mundial sobre a Mulher – Convenção sobre a Eliminação de Todas as
Formas de Discriminação contra as Mulheres (Convenção da Mulher), entrando em vigor no dia 03/09/1981;
1994: Convenção Interamericana para Punir e Erradicar a Violência Doméstica – Convenção de Belém do Pará,
incorporada em nosso ordenamento jurídico pelo Decreto n. 1.973/96.
2. Origem da “Lei Maria da Penha”
A “Lei Maria da Penha” entrou em vigor no dia 22/09/2006. Esse nome diz respeito à farmacêutica Maria da
Penha Maia Fernandes que, no dia 29/05/1983, foi vítima de uma agressão física enquanto dormia – atingida
por disparo de espingarda desferido pelo próprio marido. Por conta desse disparo, ela ficou paraplégica.
Uma semana depois, em junho de 1983, as agressões ainda não haviam cessado. Sofreu nova violência
enquanto tomava banho – uma descarga elétrica por parte do marido. Esse indivíduo foi denunciado no dia
28/09/1984. Por causa de sucessivos recursos e apelos, esse individuo somente foi preso em setembro de
2002 (quase 18 anos depois das tentativas de homicídio).
Em decorrência dessa lentidão no processo e por esses crimes envolverem grave violação aos direitos
humanos, esse fato foi levado à Corte Interamericana sobre Direitos Humanos, ante a inércia do Judiciário
brasileiro. Essa Corte publicou o seguinte relatório:
Cinco anos depois da publicação desse Relatório e, tentando solucionar o problema, surge a Lei n. 11.340/06,
popularmente conhecida como Lei Maria da Penha.
Por conta de seu caráter multidisciplinar (existem várias medidas cíveis, de competência cível e até mesmo
empregatícias nessa lei), o professor somente irá abordar os aspectos criminais (Direito Penal e Direito
Processual Penal).
Art. 1o da Lei n. 11.340/06: Esta Lei cria mecanismos para coibir e prevenir a violência doméstica e familiar
contra a mulher, nos termos do §8º do art. 226 da Constituição Federal, da Convenção sobre a Eliminação de
Todas as Formas de Violência contra a Mulher, da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar
a Violência contra a Mulher e de outros tratados internacionais ratificados pela República Federativa do Brasil;
dispõe sobre a criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; e estabelece medidas
de assistência e proteção às mulheres em situação de violência doméstica e familiar.
4. Interpretação da Lei Maria da Penha
Considerando que se trata de uma lei criada com a finalidade social de coibir a violência contra a mulher, a
interpretação certamente será sempre no sentido de proteção à mulher.
Art. 4º da Lei n. 11.340/06: Na interpretação desta Lei, serão considerados os fins sociais a que ela se destina
e, especialmente, as condições peculiares das mulheres em situação de violência doméstica e familiar.
➢ Tornou-se muito famosa uma decisão proferida por um juiz de Sete Lagoas/MG qualificando a Lei
Maria da Penha como “um monstrengo tinhoso, um conjunto de regras diabólicas, apontando,
ademais, que a desgraça humana começou no Éden por causa da mulher, todos nós sabemos, mas
também em virtude da ingenuidade, da tolice e da fragilidade emocional do homem. O mundo é
masculino. A ideia que temos de Deus é masculina. Jesus foi homem”.
Essa decisão foi, felizmente, revertida pelo Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais.
➢ Exemplo: imagine que um homem está conduzindo seu veículo automotor nas ruas e se desentende
no trânsito com um uma mulher que o “fechou” na via pública e começa a xinga-la, desce de seu carro
e resolve agredi-la. Essa violência contra a mulher, no trânsito, caracteriza violência doméstica e
familiar contra a mulher? O professor pede cuidado com isso, pois se trata de um erro comum. As
pessoas costumam achar que qualquer agressão verbal, física ou psicológica contra a mulher se
encaixa na Lei Maria da Penha e não necessariamente é o que ocorre.
Nem toda violência contra uma mulher estará sujeita à Lei Maria da Penha.
No exemplo da briga de trânsito, os dois primeiros pressupostos cumulativos foram preenchidos, faltando,
entretanto, o terceiro.
Necessariamente o sujeito passivo é uma mulher, que pode ser sogra, esposa, amante, companheira, mãe,
filha, pessoa pobre, pessoa rica, etc.
- Violência de gênero: o objetivo da Lei Maria da Penha não foi o de conferir uma proteção indiscriminada a
toda e qualquer mulher, mas apenas àquelas que efetivamente se encontrarem em uma situação de
vulnerabilidade. É indispensável, portanto, que a vítima esteja em uma situação de hipossuficiência física ou
econômica, enfim, que a infração tenha como motivação a opressão à mulher. Ausente esta violência de
gênero, não se aplica a Lei Maria da Penha;
Essa situação de vulnerabilidade estará presente em uma das hipóteses do art. 5º da Lei n. 11.340/06.
➢ Obs. 1: homem como vítima de violência doméstica e familiar, porém sem a possibilidade de aplicação
da Lei Maria da Penha;
Em tese, o homem pode ser vítima de violência doméstica e familiar, isso porque a própria Lei Maria da Penha
incluiu no crime de lesão corporal previsto no Código Penal um § 9º. Entretanto, jamais poderá ser aplicada a
Lei Maria da Penha conta um sujeito passivo do sexo masculino.
Súmula n. 589 do STJ: “É inaplicável o princípio da insignificância nos crimes ou contravenções penais
praticados contra a mulher no âmbito das relações domésticas”.
O princípio da insignificância não analisa somente a extensão da lesão, e sim pressupostos aos quais o STF
sempre faz referência:
- Danosidade/lesividade da conduta;
- Grau de reprovação que recai sobre a conduta em si;
➢ Obs. 3: sujeito passivo sendo mulher e a situação envolvendo transgêneros e transsexuais. Em dois
julgados recentes (ADI 4.275/DF e RE 670.422), o Supremo Tribunal Federal reconheceu aos
transgêneros e aos transexuais, independentemente da cirurgia de transgenitalização, ou da
realização de tratamentos hormonais ou patologizantes, o direito à alteração de prenome e gênero
diretamente no registro civil. No referido julgado, concluiu a Suprema Corte que o direito à igualdade
sem discriminações abrange a identidade ou a expressão de gênero. A identidade de gênero é
manifestação da própria personalidade da pessoa humana e, como tal, cabe ao Estado apenas o papel
de reconhecê-la, nunca de constituí-la. A pessoa não deve provar o que é, e o Estado não deve
condicionar a expressão da identidade a qualquer tipo de modelo, ainda que meramente
procedimental. Para tanto, considerou-se desnecessário qualquer requisito atinente à maioridade, ou
outros que limitem a adequada e integral proteção da identidade de gênero autopercebida. Além
disso, independentemente da natureza dos procedimentos para a mudança de nome, asseverou que
a exigência da via jurisdicional constitui limitante incompatível com essa proteção. Ressaltou que os
pedidos podem estar baseados unicamente no consentimento livre e informado pelo solicitante, sem
a obrigatoriedade de comprovar requisitos tais como certificações médicas ou psicológicas, ou outros
que possam resultar irrazoáveis ou patologizantes. Pontuou que os pedidos devem ser confidenciais,
e os documentos não podem fazer remissão a eventuais alterações. Os procedimentos devem ser
céleres e, na medida do possível, gratuitos. Por fim, concluiu pela inexigibilidade da realização de
qualquer tipo de operação ou intervenção cirúrgica ou hormonal. Com base nessa decisão, é de rigor
a conclusão no sentido de que, na eventualidade de um transgênero (ou transexual) proceder à
alteração de seu gênero diretamente no registro civil, identificando-se, a partir de então, como
mulher, poderá ser sujeito passivo da violência doméstica e familiar prevista na Lei Maria da Penha.
(STF, Pleno, ADI 4.275/DF, Rel. Min. Edson Fachin, j. 1º/03/2018; RE 670.422/RS, Rel. Min. Dias Toffoli,
j. 15/08/2018).
Pelo menos quanto ao sujeito ativo, tanto pode ser homem quanto pode ser mulher. A única diferença
trabalhada pela doutrina é a de que, quando o sujeito ativo for homem, haveria uma presunção absoluta de
vulnerabilidade da vítima. Já quando o sujeito ativo também for mulher, essa presunção seria relativa.
Quando nos referimos a uma presunção de natureza absoluta, esta é uma presunção que não admite prova
em sentido contrário. No entanto, quando tanto o sujeito ativo quanto a vítima forem mulheres, deve ser
analisado o caso concreto porque é admitida prova em sentido contrário;
➢ Exemplo 1: duas colegas moram juntas em uma república. Uma bate na outra. O professor entende
que não se aplica a Lei Maria da Penha porque inexiste vulnerabilidade, nenhuma sendo mais forte
que a outra, nem havendo relação de dependência financeira entre elas;
➢ Exemplo 2: duas mulheres casadas. Uma delas é dona de casa e cuida das crianças. A outra trabalha
fora, trazendo o dinheiro para casa e pagando todas as despesas. Ainda que fisicamente não haja
nenhuma superioridade de uma em relação a outra, economicamente essa vulnerabilidade existe e,
nesse caso, seria aplicável a Lei Maria da Penha.
5.4. Elemento subjetivo necessário para fins de incidência da Lei Maria da Penha
Sabemos que todos os crimes, no tocante ao elemento subjetivo, ora são praticados a título de dolo e ora são
praticados a título de culpa.
➢ A lesão culposa entra na Lei Maria da Penha? Não existe muita discussão doutrinária acerca do tema,
porque a Lei n. 11.340/06 não é explícita quanto a isso e deveria ter sido. A despeito do silêncio da lei,
sabemos que a violência doméstica e familiar contra a mulher é uma violência de gênero.
Art. 5º da Lei n. 11.340/06: Para os efeitos desta Lei, configura violência doméstica e (ou) familiar contra a
mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou
psicológico e dano moral ou patrimonial:
I - No âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço de convívio permanente de pessoas, com
ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente agregadas;
(...)
Os incisos desses dispositivos são alternativos, não precisando a agressão de violência de gênero se dar em
mais de um desses contextos. Apesar de a lei dizer violência doméstica E familiar, a conjunção aditiva “E”
demonstra, à primeira vista, que essa violência precisaria ser tanto doméstica quanto familiar.
➢ Exemplo: na casa de uma família reside, além dos membros da família, uma cuidadora de idosos que
está ali para cuidar da avó. Essa cuidadora poderia ser vítima da “violência doméstica E familiar”? A
priori, você poderia que responder que não porque ela não é da família. Entretanto, essa pessoa pode
ser vítima com incidência da Lei Maria da Penha.
O ideal é ler o caput do art. 5º com a conjunção alternativa “ou” → “violência doméstica OU familiar”.
➢ A uma empregada doméstica pode ser aplicada a Lei Maria da Penha? Depende do contexto fático.
Não precisa ser do mesmo vínculo familiar, mas precisa ser uma pessoa do convívio permanente. Se
for uma faxineira que só vai duas vezes por semana, não se aplica a Lei Maria da Penha.
Art. 5º da Lei n. 11.340/06: Para os efeitos desta Lei, configura violência doméstica e (ou) familiar contra a
mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou
psicológico e dano moral ou patrimonial:
(...)
II - No âmbito da família, compreendida como a comunidade formada por indivíduos que são ou se
consideram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade expressa;
Nesse caso, quando a vítima é ligada ao agressor por vínculos familiares, pouco interessa o local do delito.
➢ Obs. 1: Não se pode acreditar que todo e qualquer crime envolvendo relação entre parentes possa
dar ensejo à aplicação da Lei Maria da Penha;
STJ: “(...) AMEAÇA. SOGRA E NORA. (...) A incidência da Lei n.º 11.340/2006 reclama situação de violência
praticada contra a mulher, em contexto caracterizado por relação de poder e submissão, praticada por
homem ou mulher sobre mulher em situação de vulnerabilidade. Precedentes. No caso não se revela a
presença dos requisitos cumulativos para a incidência da Lei n.º 11.340/06, a relação íntima de afeto, a
motivação de gênero e a situação de vulnerabilidade. Concessão da ordem. Ordem não conhecida. Habeas
corpus concedido de oficio, para declarar competente para processar e julgar o feito o Juizado Especial
Criminal da Comarca de Santa Maria/RS”.
(STJ, 5ª Turma, HC 175.816/RS, Rel. Min. Marco Aurélio Belizze, j. 20/06/2013, DJe 28/06/2013).
Art. 5º da Lei n. 11.340/06: Para os efeitos desta Lei, configura violência doméstica e (ou) familiar contra a
mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou
psicológico e dano moral ou patrimonial:
(...)
III - Em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida,
independentemente de coabitação.
Esse contexto é o que mais causa confusão na doutrina. O primeiro problema surge quando da comparação
entre esse inciso III e a Convenção Interamericana de Belém do Pará.
Isto porque essa Convenção define a violência contra a mulher como aquele que ocorreu dentro da família ou
da unidade doméstica em que o agressor conviva ou haja convivido no mesmo domicílio que a mulher → exige
coabitação.
➢ Essa discussão se trata de matéria de Direito Internacional, mas, quando há uma aparente antinomia
(conflito aparente de normas) entre o direito interno e uma convenção internacional, um dos critérios
usados para resolver esse conflito aparente é a prevalência da norma mais benéfica → inciso III do
art. 5º da Lei Maria da Penha.
QUALQUER RELAÇÃO ÍNTIMA DE AFETO = a doutrina discute se a Lei Maria da Penha é aplicável a uma relação
de amizade ou se a hipótese do inciso em tela somente se aplica às relações amorosas/sexuais. O professor
entende que, a partir do momento em que o legislador usa o termo relação íntima de afeto, há a necessidade
de relacionamento dotado de conotação amorosa ou sexual.
STJ: “(...) CRIME DE AMEAÇA PRATICADO CONTRA IRMÃ DO RÉU. (...) Na espécie, apurou-se que o Réu foi à
casa da vítima para ameaçá-la, ocasião em que provocou danos em seu carro ao atirar pedras. Após, foi
constatado o envio rotineiro de mensagens pelo telefone celular com o claro intuito de intimidá-la e forçá-
la a abrir mão "do controle financeiro da pensão recebida pela mãe" de ambos. Nesse contexto, inarredável
concluir pela incidência da Lei n.º 11.340/06, tendo em vista o sofrimento psicológico em tese sofrido por
mulher em âmbito familiar, nos termos expressos do art. 5.º, inciso II, da mencionada legislação. Para a
configuração de violência doméstica, basta que estejam presentes as hipóteses previstas no artigo 5º da Lei
11.343/2006 (Lei Maria da Penha), dentre as quais não se encontra a necessidade de coabitação entre autor
e vítima.
(STJ, 5ª Turma, REsp 1.239.850/DF, Rel. Min. Laurita Vaz, j. 16/02/2012).
Súmula n. 600 do STJ: “Para a configuração da violência doméstica e familiar prevista no art. 5º da Lei n.
11.340/2006 (Lei Maria da Penha), não se exige a coabitação entre autor e vítima”.
Art. 7º da Lei n. 11.340/06: São formas de violência doméstica e familiar contra a mulher, entre outras:
(...)
Art. 7º da Lei n. 11.340/06: São formas de violência doméstica e familiar contra a mulher, entre outras:
I - A violência física, entendida como qualquer conduta que ofenda sua integridade ou saúde corporal;
(...)
A doutrina discute se esse rol do art. 7º seria um rol taxativo ou não.
2ª Corrente: não, esse é um rol meramente exemplificativo (entendimento do professor) porque o próprio
caput do dispositivo empregou a expressão “entre outras” → fórmula de interpretação analógica.
Art. 7º da Lei n. 11.340/06: São formas de violência doméstica e familiar contra a mulher, entre outras:
(...)
II - A violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe cause dano emocional e diminuição da
autoestima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas
ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação,
isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem, ridicularização, exploração e
limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à
autodeterminação; (Redação dada pela Lei nº 13.772, de 2018)
Em muitas ocasiões, pode ser pior do que a violência física consubstanciada em lesões corporais. A chantagem
tem ocorrido muito frequentemente nas mídias sociais, quando a mulher consensualmente envia nudes a um
rapaz e ele, com o término do relacionamento, a chantageia ameaçando divulgar tais imagens. Esse tipo de
atitude pode acabar com a vida de uma mulher, algo que já levou muitas a cometerem suicídio.
Art. 7º da Lei n. 11.340/06: São formas de violência doméstica e familiar contra a mulher, entre outras:
(...)
III - A violência sexual, entendida como qualquer conduta que a constranja a presenciar, a manter ou a
participar de relação sexual não desejada, mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da força; que a
induza a comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, que a impeça de usar qualquer
método contraceptivo ou que a force ao matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à prostituição, mediante
coação, chantagem, suborno ou manipulação; ou que limite ou anule o exercício de seus direitos sexuais e
reprodutivos;
Aqui, não temos previsão de crimes e sim diretrizes para análise da incidência da Lei Maria da Penha. As
condutas criminosas, os tipos penais, encontram respaldo no Código Penal e em legislação especial.
Art. 7º da Lei n. 11.340/06: São formas de violência doméstica e familiar contra a mulher, entre outras:
(...)
IV - A violência patrimonial, entendida como qualquer conduta que configure retenção, subtração, destruição
parcial ou total de seus objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou
recursos econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades;
➢ Obs. 1: (Im)possibilidade de aplicação das imunidades absolutas e relativas aos crimes patrimoniais
praticados no contexto da violência doméstica e familiar contra a mulher sem o emprego de violência
ou grave ameaça à pessoa;
Art. 181 do CP - É isento de pena quem comete qualquer dos crimes previstos neste título, em prejuízo:
I - Do cônjuge, na constância da sociedade conjugal;
II - De ascendente ou descendente, seja o parentesco legítimo ou ilegítimo, seja civil ou natural.
Art. 182 do CP - Somente se procede mediante representação, se o crime previsto neste título é cometido
em prejuízo:
I - Do cônjuge desquitado ou judicialmente separado;
II - De irmão, legítimo ou ilegítimo;
III - De tio ou sobrinho, com quem o agente coabita.
1ª Corrente: não são aplicáveis (Maria Berenice Dias). Para o professor, essa deveria ser a melhor corrente.
Contudo, a lei não é expressa acerca disso.
2ª Corrente: são aplicáveis, porque tal vedação somente pode ser feita por intermédio da lei, igual foi feito
pelo Estatuto do Idoso – os argumentos são o Princípio da Legalidade e proibição da analogia in malam partem.
Esse é o entendimento majoritário e do professor.
Art. 183 do CP - Não se aplica o disposto nos dois artigos anteriores:
I - Se o crime é de roubo ou de extorsão, ou, em geral, quando haja emprego de grave ameaça ou violência à
pessoa;
II - Ao estranho que participa do crime.
III - Se o crime é praticado contra pessoa com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos. (Incluído pela Lei
nº 10.741, de 2003 – Estatuto do Idoso)
O Estatuto do Idoso, com claro intuito de proteger o idoso, inseriu esse inciso III ao art. 183 do CP a fim de não
autorizar as duas imunidades previstas nos arts. 181 e 182 do CP. Entretanto, a Lei Maria da Penha não teve o
mesmo cuidado.
Art. 7º da Lei n. 11.340/06: São formas de violência doméstica e familiar contra a mulher, entre outras:
(...)
V - A violência moral, entendida como qualquer conduta que configure calúnia, difamação ou injúria.
O legislador chama de violência moral o que corresponde, basicamente, aos crimes contra a honra previstos
no Código Penal → vem se propagando muito nos últimos tempos devido às fake news e as redes sociais.
Ante a excessiva e desumana demora de 18 anos no caso Maria da Penha, se faz necessária a criação de um
órgão especializado para cuidar de casos relativos à violência doméstica e familiar contra a mulher →
prestação jurisdicional de melhor qualidade e mais célere.
Art. 14 da Lei n. 11.340/06: Os Juizados (Varas Especializadas) de Violência Doméstica e Familiar contra a
Mulher, órgãos da Justiça Ordinária com competência cível e criminal, poderão ser criados pela União, no
Distrito Federal e nos Territórios, e pelos Estados, para o processo, o julgamento e a execução das causas
decorrentes da prática de violência doméstica e familiar contra a mulher.
Parágrafo único. Os atos processuais poderão realizar-se em horário noturno, conforme dispuserem as
normas de organização judiciária.
A lei nos diz que teremos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, entretanto, a mesma
lei traz, em seu art. 41, a vedação da aplicação da Lei dos Juizados e, mais especificamente, o JECRIM (Lei n.
9.099/95).
É confuso e o legislador poderia ter sido um pouco mais didático porque a palavra “Juizados” desse art. 14 não
foi empregada como sinônimo de JECRIM → o mais correto seria lermos esse artigo como se fossem “Varas
Especializadas de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher”.
STJ: “(...) Configurada a conduta praticada como violência doméstica contra a mulher, independentemente
de sua classificação como crime ou contravenção, deve ser fixada a competência da Vara Criminal para
apreciar e julgar o feito, enquanto não forem estruturados os Juizados de Violência Doméstica e Familiar
contra a Mulher, consoante o disposto nos artigos 7º e 33 da Lei Maria da Penha. (...)”.
(STJ, 5ª Turma, HC 158.615/RS, Rel. Min. Jorge Mussi, DJE 08/04/2011).
Art. 14-A da Lei n. 11.340/06: A ofendida tem a opção de propor ação de divórcio ou de dissolução de união
estável no Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher (Incluído pela Lei n. 13.894/19)
§1º Exclui-se da competência dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher a pretensão
relacionada à partilha de bens.
§2º Iniciada a situação de violência doméstica e familiar após o ajuizamento da ação de divórcio ou de
dissolução de união estável, a ação terá preferência no juízo onde estiver.
Art. 33 da Lei n. 11.340/06. Enquanto não estruturados os Juizados (Varas Especializadas) de Violência
Doméstica e Familiar contra a Mulher, as varas criminais acumularão as competências cível e criminal para
conhecer e julgar as causas decorrentes da prática de violência doméstica e familiar contra a mulher,
observadas as previsões do Título IV desta Lei, subsidiada pela legislação processual pertinente.
Parágrafo único. Será garantido o direito de preferência, nas varas criminais, para o processo e o julgamento
das causas referidas no caput.
O TJDFT jogou para os JECRIM a competência cumulativa de que se trata o art. 33 da Lei n. 11.340/06. Em uma
cidade do DF, haviam 4 varas criminais e 1 do JECRIM. Essa competência cumulativa foi atribuída justamente
ao JECRIM (infração de menor potencial ofensivo).
Quando a Lei Maria da Penha entrou em vigor, no ano de 2006, os artigos 14 e 33 foram questionados no STF
acerca de eventual violação ao poder de auto-organização do Judiciário local → não são inconstitucionais,
porque o próprio art. 14 traz a expressão de que “poderão ser criados”, inexistindo a obrigatoriedade.
STF: “(...) COMPETÊNCIA – VIOLÊNCIA DOMÉSTICA – LEI Nº 11.340/06 – JUIZADOS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA
E FAMILIAR CONTRA A MULHER. O artigo 33 da Lei nº 11.340/06, no que revela a conveniência de criação
dos juizados de violência doméstica e familiar contra a mulher, não implica usurpação da competência
normativa dos estados quanto à própria organização judiciária. (...)”.
(STF, Pleno, ADC 19/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 09/02/2012).
➢ Obs. 2: outorga dessa competência cumulativa a varas dos Juizados Especiais Criminais;
6.2. Crimes dolosos contra a vida praticados no contexto da violência doméstica e familiar contra a
mulher
Desde o advento da Lei n. 11.340/06, em alguns estados do país, o Poder Judiciário local alterou a lei de
organização judiciária e passou a prever que, se houver crime doloso contra a vida, nesse contexto de violência
doméstica e familiar contra a mulher → será trabalhado o procedimento bifásico do Júri, mas a primeira fase
poderá tramitar na vara especializada de violência doméstica e familiar contra a mulher e, depois, se
pronunciado, o indivíduo será submetido ao Júri.
➢ Essa alteração na lei de organização judiciária é valida desde que preservada a competência do Júri
para o julgamento do crime doloso contra a vida.
STJ: “(...). Ressalvada a competência do Júri para julgamento do crime doloso contra a vida, seu
processamento, até a fase de pronúncia, poderá ser pelo Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra
a Mulher, em atenção à Lei 11.340/06. (...)”.
(STJ, 5ª Turma, HC 73.161/SC, Rel. Min. Jane Silva, DJ 17/09/2007).
Art. 10-A da Lei n. 11.340/06: É direito da mulher em situação de violência doméstica e familiar o atendimento
policial e pericial especializado, ininterrupto e prestado por servidores - preferencialmente do sexo feminino
- previamente capacitados. (Incluído pela Lei n. 13.505/17)
§ 1o A inquirição de mulher em situação de violência doméstica e familiar ou de testemunha de violência
doméstica, quando se tratar de crime contra a mulher, obedecerá às seguintes diretrizes: I - salvaguarda da
integridade física, psíquica e emocional da depoente, considerada a sua condição peculiar de pessoa em
situação de violência doméstica e familiar;
II - Garantia de que, em nenhuma hipótese, a mulher em situação de violência doméstica e familiar, familiares
e testemunhas terão contato direto com investigados ou suspeitos e pessoas a eles relacionadas;
III - Não revitimização da depoente, evitando sucessivas inquirições sobre o mesmo fato nos âmbitos criminal,
cível e administrativo, bem como questionamentos sobre a vida privada.
§ 2o Na inquirição de mulher em situação de violência doméstica e familiar ou de testemunha de delitos de
que trata esta Lei, adotar-se-á, preferencialmente, o seguinte procedimento:
I - A inquirição será feita em recinto especialmente projetado para esse fim, o qual conterá os equipamentos
próprios e adequados à idade da mulher em situação de violência doméstica e familiar ou testemunha e ao
tipo e à gravidade da violência sofrida;
II - Quando for o caso, a inquirição será intermediada por profissional especializado em violência doméstica e
familiar designado pela autoridade judiciária ou policial;
III - O depoimento será registrado em meio eletrônico ou magnético, devendo a degravação e a mídia integrar
o inquérito.
7. Ação penal nos crimes de lesão corporal leve e lesão corporal culposa praticados no contexto de
violência doméstica e familiar contra a mulher
Esquecendo o âmbito da violência doméstica e familiar contra a mulher, a lesão corporal leve e a lesão
corporal culposa eram crimes de ação penal pública incondicionada até a Lei n. 9.099/95. Com o advento da
Lei dos Juizados, os dois delitos passam a ser crimes de ação penal pública condicionada à representação.
Art. 88 da Lei n. 9.099/95: Além das hipóteses do Código Penal e da legislação especial, dependerá de
representação a ação penal relativa aos crimes de lesões corporais leves e lesões culposas.
➢ Entretanto, esses dois delitos são comumente praticados no contexto de violência doméstica e
familiar contra a mulher e, portanto, não se aplica o dispositivo acima acerca da condição de
procedibilidade da ação, que é a representação;
➢ Se não se aplica o art. 88 da Lei n. 9.099/95, qual será a ação penal no crime de lesão corporal
leve/grave/gravíssima, praticado nesse contexto? A ação penal será pública incondicionada e esse
entendimento é dominante tanto no STF quanto no STJ;
➢ E o crime de lesão corporal culposa, aplica-se o mesmo raciocínio? Muitos entendem que, como o
STF e a Súmula n. 542 do STJ não fizeram distinção, se aplicaria o mesmo raciocínio. Entretanto, esse
não é o melhor entendimento, segundo o professor. Pelos motivos explicitados no item 5.4 desse
material, o professor entende que não incide a Lei n. 11.340/06 (nenhum dispositivo se aplica, nem o
41) aos crimes culposos. Portanto, aos crimes culposos, ainda que praticados no âmbito da unidade
familiar, se aplica o JECRIM.
Art. 16 da Lei n. 11.340/06: Nas ações penais públicas condicionadas à representação da ofendida de que
trata esta Lei, só será admitida a renúncia à representação perante o juiz, em audiência especialmente
designada com tal finalidade, antes do recebimento da denúncia e ouvido o Ministério Público.
Art. 41 da Lei n. 11.340/06: Aos crimes (e também às contravenções) praticados com violência doméstica e
familiar contra a mulher, independentemente da pena prevista, não se aplica a Lei n. 9.099/95.
STF: “(...) AÇÃO PENAL – VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA A MULHER – LESÃO CORPORAL – NATUREZA. A
ação penal relativa à lesão corporal resultante de violência doméstica contra a mulher é pública
incondicionada – considerações” → não faz distinção entre a leve e a culposa
(STF, Pleno, ADI 4.424/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 09/02/2012).
Súmula n. 542 do STJ: “A ação penal relativa ao crime de lesão corporal resultante de violência doméstica
contra a mulher é pública incondicionada” → não faz distinção entre a leve e a culposa
A propósito, por ocasião da apreciação da Pet 11.805 sob o rito dos repetitivos, a 3ª Seção do STJ deliberou
pela revisão do entendimento firmado no REsp n. 1.097.042/DF para fixar a seguinte tese: “A ação penal nos
crimes de lesão corporal leve cometidos em detrimento da mulher, no âmbito doméstico e familiar, é pública
incondicionada”.
7.1. Retratação da representação nos crimes praticados no contexto da violência doméstica e familiar
contra a mulher
Art. 25 do CPP. A representação será irretratável, depois de oferecida a denúncia. (REGRA GERAL)
Art. 16 da Lei n. 11.340/06: Nas ações penais públicas condicionadas à representação da ofendida de que
trata esta Lei, só será admitida a renúncia (retratação) à representação perante o juiz, em audiência
especialmente designada com tal finalidade, antes do recebimento da denúncia e ouvido o Ministério Público.
➢ “Todo crime praticado no contexto da Lei Maria da Penha é crime de ação penal pública
incondicionado” → errado, é perfeitamente possível que haja crimes dependentes de representação,
mesmo nesse contexto. Exemplos: a ameaça e o estelionato, que recebeu essa natureza de crime
dependente de representação pelo Pacote Anticrime;
Se o crime depende de representação, a persecução penal como um todo só pode ter sido desencadeada se
aconteceu a apresentação da representação por parte da vítima;
A lei usa a palavra “renúncia”, que pode ser feita até o recebimento da denúncia e o emprego dessa expressão
foi feito de forma incorreta. Isto porque renunciar é abrir mão de um direito que jamais foi exercido (como a
renúncia da herança). Deve ser lida como “retratação”, no sentido de voltar atrás;
STJ: “(...) A audiência de que trata o art. 16, da Lei n.º 11.340/06, não deve ser realizada ex officio, como
condição da abertura da ação penal, sob pena de constrangimento ilegal à mulher, vítima de violência
doméstica e familiar, pois configuraria ato de 'ratificação' da representação, inadmissível na espécie.
4. A realização da referida audiência deve ser precedida de manifestação de vontade da ofendida, se assim
ela o desejar, em retratar-se da representação anteriormente registrada, cabendo ao magistrado verificar a
espontaneidade e a liberdade na prática do referido ato. Precedentes”.
(STJ, 5ª Turma, RMS 34.607/MS, Rel. Min. Adilson Vieira Macabu, j. 13/09/2011).
➢ Obs. 2: Não atende ao disposto no art. 16 da Lei Maria da Penha a retratação da suposta ofendida
ocorrida em cartório de vara, sem a designação de audiência específica necessária para a confirmação
do ato. Nesse sentido: STJ, 5ª Turma, HC 138.143/MG, Rel. Min. Ribeiro Dantas, j. 03/09/2019, DJe
10/09/2019.
Essa retratação deve ser analisada em uma audiência designada para tal finalidade. Posso verificar isso em
uma secretaria de cartório, ou através do Oficial de Justiça? Evidentemente que não, porque a lei exige que
seja mediante audiência designada com o juiz.
Antes da Lei n. 11.340/06, a violência doméstica e familiar contra a mulher ia parar no JECRIM. E, nesse
procedimento, era possível a aplicação de penas de cesta básica ou prestação pecuniária ao agressor.
Art. 17 da Lei n. 11.340/06: É vedada a aplicação, nos casos de violência doméstica e familiar contra a mulher,
de penas de cesta básica ou outras de prestação pecuniária, bem como a substituição de pena que implique
o pagamento isolado de multa.
➢ Não há óbice ao pagamento cumulativo da pena de multa, a vedação do art. 17 é expressa somente
quanto ao pagamento isolado da multa → não se pode transformar a violência doméstica em dinheiro.
Art. 44 do CP: As penas restritivas de direitos são autônomas e substituem as privativas de liberdade, quando:
I – Aplicada pena privativa de liberdade não superior a quatro anos e o crime não for cometido com violência
ou grave ameaça à pessoa ou, qualquer que seja a pena aplicada, se o crime for culposo;
II – O réu não for reincidente em crime doloso;
III – A culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do condenado, bem como os motivos
e as circunstâncias indicarem que essa substituição seja suficiente.
➢ ATENÇÃO: não se pode dizer que jamais será cabível a substituição por pena restritiva de direitos na
Lei Maria da Penha porque, em tese, podemos ter um crime cometido nesse contexto que não
necessariamente envolva violência (FÍSICA) ou grave ameaça, como nos casos da calúnia ou injúria.
STF: Não se admite a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos nem mesmo em
caso de contravenção penal envolvendo violência doméstica. Por isso, em caso concreto em que um indivíduo
fora condenado por vias de fato (LCP, art. 21), a 1ª Turma do STF (HC 137.888/MS, Rel. Min. Rosa Weber, j.
31/10/2017) fez uso de interpretação extensiva do art. 44, I, do CP, para concluir que, no caso de violência
doméstica e familiar contra a mulher, a noção de crime teria o condão de abarcar qualquer conduta delituosa,
inclusive contravenção penal. Nesse sentido, reconhecida a necessidade de combate à cultura de violência
contra a mulher no Brasil, a Turma considerou a equiparação da conduta do paciente à infração de menor
potencial ofensivo incoerente com o entendimento da violência de gênero como grave violação dos direitos
humanos.
Súmula n. 588 do STJ: “A prática de crime ou contravenção penal contra a mulher com violência ou grave
ameaça no ambiente doméstico impossibilita a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de
direitos”.
São medidas de natureza cautelar → aplicável o mesmo raciocínio do estudo do art. 282 e parágrafos do CPP.
Art. 19 da Lei n. 11.340/06: As medidas protetivas de urgência poderão ser concedidas pelo juiz, a
requerimento do Ministério Público ou a pedido da ofendida.
§ 1o As medidas protetivas de urgência poderão ser concedidas de imediato, independentemente de audiência
das partes e de manifestação do Ministério Público, devendo este ser prontamente comunicado.
§ 2o As medidas protetivas de urgência serão aplicadas isolada ou cumulativamente, e poderão ser
substituídas a qualquer tempo por outras de maior eficácia, sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei
forem ameaçados ou violados.
§ 3o Poderá o juiz, a requerimento do Ministério Público ou a pedido da ofendida, conceder novas medidas
protetivas de urgência ou rever aquelas já concedidas, se entender necessário à proteção da ofendida, de seus
familiares e de seu patrimônio, ouvido o Ministério Público.
➢ Obs. 1: (im)possibilidade de aplicação das medidas protetivas a pessoas do sexo masculino → pode.
Art. 313 do CPP. Nos termos do art. 312 deste Código, será admitida a decretação da prisão preventiva:
(...)
III - se o crime envolver violência doméstica e familiar contra a mulher, criança, adolescente, idoso, enfermo
ou pessoa com deficiência, para garantir a execução das medidas protetivas de urgência;
➢ Obs. 2: a aplicação das medidas protetivas de urgência pressupõe a existência de violência doméstica
e familiar contra a mulher, mas não necessariamente a prática de crime no contexto dos arts. 5º e 7º
da Lei Maria da Penha;
➢ Obs. 3: (in)aplicabilidade do art. 308 do novo CPC às medidas protetivas de urgência;
Diante dessas protetivas de natureza cautelar, e algumas delas de natureza cível (como a prestação de
alimentos do art. 22, V, da Lei Maria da Penha), discute-se na doutrina se eu tenho ou não que observar o art.
308 do NCPC.
Art. 308 do NCPC. Efetivada a tutela cautelar, o pedido principal terá de ser formulado pelo autor no prazo
de 30 (trinta) dias, caso em que será apresentado nos mesmos autos em que deduzido o pedido de tutela
cautelar, não dependendo do adiantamento de novas custas processuais.
Súmula n. 482 do STJ: “A falta de ajuizamento da ação principal no prazo do art. 806 do CPC (CPC/73) acarreta
a perda da eficácia da liminar deferida e a extinção do processo cautelar”.
1ª Corrente: deve ser observado o art. 308 do CPC. Essa corrente é minoritária.
2ª Corrente: o STJ já tem julgados no sentido de que não é necessária a observância do art. 308 do CPC.
STJ: Para a 3ª Turma do STJ, a decisão proferida em processo penal que fixa alimentos provisórios ou
provisionais em favor da companheira e da filha, em razão da prática de violência doméstica, constitui título
hábil para imediata cobrança e, em caso de inadimplemento, passível de decretação de prisão civil. De início,
relevante assentar que o art. 14 da Lei n. 11.340/2006 estabelece a competência híbrida (criminal e civil) da
Vara Especializada da Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, para o julgamento e execução das
causas decorrentes da prática de violência doméstica e familiar contra a mulher. A amplitude da competência
conferida pela Lei n. 11.340/2006 à Vara Especializada tem por propósito justamente permitir ao mesmo
magistrado o conhecimento da situação de violência doméstica e familiar contra a mulher, permitindo-lhe
bem sopesar as repercussões jurídicas nas diversas ações civis e criminais advindas direta e indiretamente
desse fato. Providência que, a um só tempo, facilita o acesso da mulher, vítima de violência doméstica, ao
Poder Judiciário, e confere-lhe real proteção. Assim, se afigura absolutamente consonante com a abrangência
das matérias outorgadas à competência da Vara Especializada da Violência Doméstica e Familiar contra a
Mulher o deferimento de medida protetiva de alimentos, de natureza cível, no âmbito de ação criminal
destinada a apurar crimes de violência doméstica e familiar contra a mulher. É de se reconhecer, portanto,
que a medida protetiva de alimentos, fixada por Juízo materialmente competente é, por si, válida e eficaz,
não se encontrando, para esses efeitos, condicionada à ratificação de qualquer outro Juízo, no bojo de outra
ação, do que decorre sua natureza satisfativa, e não cautelar. Tal decisão consubstancia, em si, título judicial
idôneo a autorizar a credora de alimentos a levar a efeito, imediatamente, as providências judiciais para a sua
cobrança, com os correspondentes meios coercitivos que a lei dispõe (perante o próprio Juízo), não sendo
necessário o ajuizamento, no prazo de 30 (trinta) dias, de ação principal de alimentos (propriamente dita), sob
pena de decadência do direito. Compreensão diversa tornaria inócuo o propósito de se conferir efetiva
proteção à mulher, em situação de hipervulnerabilidade.
(STJ, 3ª Turma, RHC 100.446/MG, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 27/11/2018, DJe 05/12/2018).
➢ Obs. 4: (im)possibilidade de aplicação das medidas protetivas de urgência pela autoridade policial.
Art. 12-B da Lei n. 11.340/06: Verificada a existência de risco atual ou iminente à vida ou à integridade física
e psicológica da mulher em situação de violência doméstica e familiar ou de seus dependentes, a autoridade
policial, preferencialmente da delegacia de proteção à mulher, poderá aplicar provisoriamente, até
deliberação judicial, as medidas protetivas de urgência previstas no inciso III do art. 22 e nos incisos I e II do
art. 23 desta Lei, intimando desde logo o agressor.
§ 1o O juiz deverá ser comunicado no prazo de 24 (vinte e quatro) horas e poderá manter ou rever as medidas
protetivas aplicadas, ouvido o Ministério Público no mesmo prazo.
§2º Não sendo suficientes ou adequadas as medidas protetivas previstas no caput, a autoridade policial
representará ao juiz pela aplicação de outras medidas protetivas ou pela decretação da prisão do agressor.
§3º A autoridade policial poderá requisitar os serviços públicos necessários à defesa da mulher em situação
de violência doméstica e familiar de seus dependentes”.
Razões dos vetos: Os dispositivos, como redigidos, impedem o veto parcial do trecho que incide em
inconstitucionalidade material, por violação aos artigos 2o e 144, § 4o, da Constituição, ao invadirem
competência afeta ao Poder Judiciário e buscarem estabelecer competência não prevista para as polícias civis.
Art. 12-C da Lei n. 11.340/06: Verificada a existência de risco atual ou iminente à vida ou à integridade física
da mulher em situação de violência doméstica e familiar, ou de seus dependentes, o agressor será
imediatamente afastado do lar, domicílio ou local de convivência com a ofendida: (Incluído pela Lei n.
13.827/19, com vigência em data de 14/05/2019).
I - Pela autoridade judicial;
II - Pelo delegado de polícia, quando o Município não for sede de comarca; ou
III - Pelo policial (a lei não especifica qual), quando o Município não for sede de comarca e não houver delegado
disponível no momento da denúncia.
§ 1º Nas hipóteses dos incisos II e III do caput deste artigo, o juiz será comunicado no prazo máximo de 24
(vinte e quatro) horas e decidirá, em igual prazo, sobre a manutenção ou a revogação da medida aplicada,
devendo dar ciência ao Ministério Público concomitantemente.
§ 2º Nos casos de risco à integridade física da ofendida ou à efetividade da medida protetiva de urgência, não
será concedida liberdade provisória ao preso.
Quanto à possibilidade de o delegado ou policial concederem medida protetiva de afastamento do lar, existem
duas correntes doutrinárias:
1ª Corrente: dispositivo constitucional porque, se o delegado pode conceder fiança (art. 322 do CPP), também
pode determinar o imediato afastamento do lar;
2ª Corrente: dispositivo inconstitucional porque, na verdade, quem tem que aplicar medida protetiva de
urgência, ainda que de menor gravidade como é o caso do afastamento do lar, só pode ser o Poder Judiciário,
mesmo porque se trata de uma restrição na liberdade de locomoção do agressor (entendimento do professor).
Art. 12 da Lei n. 11.340/06: Em todos os casos de violência doméstica e familiar contra a mulher, feito o
registro da ocorrência, deverá a autoridade policial adotar, de imediato, os seguintes procedimentos, sem
prejuízo daqueles previstos no Código de Processo Penal:
(...)
§ 1º O pedido da ofendida será tomado a termo pela autoridade policial e deverá conter:
(...)
IV - Informação sobre a condição de a ofendida ser pessoa com deficiência e se da violência sofrida resultou
deficiência ou agravamento de deficiência preexistente. (Incluído pela Lei n. 13.836, de 2019).
É relevante a criação de um banco de dados porque de nada adiantaria fixar uma medida protetiva se não
houver um banco de dados em que se possa verificar a existência ou não de medidas protetivas, em
semelhança ao que já ocorre com os mandados de prisão.
Art. 38-A da Lei n. 11.340/06: O juiz competente providenciará o registro da medida protetiva de urgência.
(Incluído pela Lei n. 13.827/19)
Parágrafo único. As medidas protetivas de urgência serão registradas em banco de dados mantido e
regulamentado pelo Conselho Nacional de Justiça, garantido o acesso do Ministério Público, da Defensoria
Pública e dos órgãos de segurança pública e de assistência social, com vistas à fiscalização e à efetividade das
medidas protetivas. (Incluído pela Lei n. 13.827/19)
Lei n. 11.340/06
DAS MEDIDAS PROTETIVAS DE URGÊNCIA QUE OBRIGAM O AGRESSOR
Art. 22. Constatada a prática de violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos desta Lei, o juiz
poderá aplicar, de imediato, ao agressor, em conjunto ou separadamente, as seguintes medidas protetivas de
urgência, entre outras:
I - Suspensão da posse ou restrição do porte de armas, com comunicação ao órgão competente, nos termos
da Lei n. 10.826/03;
II - Afastamento do lar, domicílio ou local de convivência com a ofendida;
III - Proibição de determinadas condutas, entre as quais:
a) Aproximação da ofendida, de seus familiares e das testemunhas, fixando o limite mínimo de distância entre
estes e o agressor;
b) Contato com a ofendida, seus familiares e testemunhas por qualquer meio de comunicação;
c) Frequentação de determinados lugares a fim de preservar a integridade física e psicológica da ofendida;
IV - Restrição ou suspensão de visitas aos dependentes menores, ouvida a equipe de atendimento
multidisciplinar ou serviço similar;
V - Prestação de alimentos provisionais ou provisórios;
VI – Comparecimento do agressor a programas de recuperação e reeducação; e (Incluído pela Lei n.
13.984/20)
VII – Acompanhamento psicossocial do agressor, por meio de atendimento individual e/ou em grupo de apoio.
(Incluído pela Lei n. 13.984, de 2020)
➢ Esses incisos VI e VII, recentemente adicionados pela Lei n. 13.984/20, já eram trabalhados pelos juízes
com base no poder geral de cautela.
Art. 23. Poderá o juiz, quando necessário, sem prejuízo de outras medidas:
I - Encaminhar a ofendida e seus dependentes a programa oficial ou comunitário de proteção ou de
atendimento;
II - Determinar a recondução da ofendida e a de seus dependentes ao respectivo domicílio, após afastamento
do agressor;
III - Determinar o afastamento da ofendida do lar, sem prejuízo dos direitos relativos a bens, guarda dos filhos
e alimentos;
IV - Determinar a separação de corpos;
V – Determinar a matrícula dos dependentes da ofendida em instituição de educação básica mais próxima do
seu domicílio, ou a transferência deles para essa instituição, independentemente da existência de vaga.
(Incluído pela Lei n. 13.882/19)
Art. 24. Para a proteção patrimonial dos bens da sociedade conjugal ou daqueles de propriedade particular
da mulher, o juiz poderá determinar, liminarmente, as seguintes medidas, entre outras:
I - Restituição de bens indevidamente subtraídos pelo agressor à ofendida;
II - Proibição temporária para a celebração de atos e contratos de compra, venda e locação de propriedade
em comum, salvo expressa autorização judicial;
III - Suspensão das procurações conferidas pela ofendida ao agressor;
IV - Prestação de caução provisória, mediante depósito judicial, por perdas e danos materiais decorrentes da
prática de violência doméstica e familiar contra a ofendida.
Parágrafo único. Deverá o juiz oficiar ao cartório competente para os fins previstos nos incisos II e III deste
artigo.
A mulher sofre agressões físicas tanto em casa quanto fora de casa. Algumas vezes o juiz determina o
afastamento da ofendida ou do agressor do lar, mas ela precisa continuar trabalhando.
Art. 9º da Lei n. 11.340/06: A assistência à mulher em situação de violência doméstica e familiar será prestada
de forma articulada e conforme os princípios e as diretrizes previstos na Lei Orgânica da Assistência Social, no
Sistema Único de Saúde, no Sistema Único de Segurança Pública, entre outras normas e políticas públicas de
proteção, e emergencialmente quando for o caso.
(...)
§ 2º O juiz assegurará à mulher em situação de violência doméstica e familiar, para preservar sua integridade
física e psicológica:
II - Manutenção do vínculo trabalhista, quando necessário o afastamento do local de trabalho, por até seis
meses.
(...)
- Em importante julgado acerca dessa medida protetiva, a 6ª Turma do STJ (REsp 1.757.775/SP, Rel. Min.
Rogerio Schietti Cruz, j. 20/08/2019, DJe 02/09/2019) firmou as seguintes conclusões:
1) Tem competência o juiz da vara especializada em violência doméstica e familiar ou, caso não
haja na localidade o juízo criminal, para apreciar pedido de imposição de medida protetiva de manutenção
de vínculo trabalhista, por até seis meses, em razão de afastamento do trabalho de ofendida decorrente de
violência doméstica e familiar, uma vez que o motivo do afastamento não advém de relação de trabalho,
mas de situação emergencial que visa garantir a integridade física, psicológica e patrimonial da mulher;
2) Tem direito ao recebimento de salário a vítima de violência doméstica e familiar que teve
como medida protetiva imposta ao empregador a manutenção de vínculo trabalhista em decorrência de
afastamento do emprego por situação de violência doméstica e familiar, ante o fato de a natureza jurídica
do afastamento ser a interrupção do contrato de trabalho, por meio de interpretação teleológica da Lei
n. 11.340/2006;
Art. 20 da Lei n. 11.340/06: Em qualquer fase do inquérito policial ou da instrução criminal, caberá a prisão
preventiva do agressor, decretada pelo juiz, de ofício, a requerimento do Ministério Público ou mediante
representação da autoridade policial.
Parágrafo único. O juiz poderá revogar a prisão preventiva se, no curso do processo, verificar a falta de motivo
para que subsista, bem como de novo decretá-la, se sobrevierem razões que a justifiquem.
1ª Corrente: possível a decretação de ofício, porque, diante do princípio da especialidade, prevalece sobre a
norma geral. Entendimento minoritário e não condizente com o Pacote Anticrime que alterou o art. 311 do
CPP.
Art. 311 do CPP. Em qualquer fase da investigação policial ou do processo penal, caberá a prisão preventiva
decretada pelo juiz, a requerimento do Ministério Público, do querelante ou do assistente, ou por
representação da autoridade policial. (Redação dada pela Lei n. 13.964/19)
STJ: “(...) Muito embora o art. 313, IV, do Código de Processo Penal, com a redação dada pela Lei nº
11.340/2006, admita a decretação da prisão preventiva nos crimes dolosos que envolvam violência doméstica
e familiar contra a mulher, para garantir a execução de medidas protetivas de urgência, a adoção dessa
providência é condicionada ao preenchimento dos requisitos previstos no art. 312 daquele diploma. É
imprescindível que se demonstre, com explícita e concreta fundamentação, a necessidade da imposição da
custódia para garantia da ordem pública, da ordem econômica, por conveniência da instrução criminal ou
para assegurar a aplicação da lei penal, sem o que não se mostra razoável a privação da liberdade, ainda
que haja descumprimento de medida protetiva de urgência, notadamente em se tratando de delitos
punidos com pena de detenção”.
(STJ, 6ª Turma, HC 100.512/MT, Rel. Min. Paulo Gallotti, DJe 23/06/2008).
Parte da doutrina diz que, nesse caso, se a medida protetiva tiver natureza exclusivamente cível e não houver
evidências da prática de crimes, a prisão preventiva não seria cabível → sob pena de ser uma prisão de
natureza cível, o que é inadmissível.
9.3. Tipificação do crime de descumprimento das medidas protetivas de urgência previstas na Lei Maria
da Penha (Lei n. 13.641/18) → primeiro e único crime da Lei Maria da Penha.
Antes de analisarmos o crime previsto no art. 24-A, é necessário entender como era a sistemática anterior.
➢ Exemplo: antes da alteração legislativa, suponhamos que o indivíduo está obrigado, por conta de uma
medida protetiva em seu desfavor, a manter uma distância de 500m de sua esposa e está na porta da
casa dela. Ainda não a ameaçou, não está armado e nem está atirando contra ela. Está somente
descumprindo a medida protetiva. A esposa liga para a polícia.
➢ Quando a Polícia Militar chegava ao local, poderia prendê-lo em flagrante pelo crime de
desobediência? Não, porque, na visão dos tribunais superiores, quando a lei prevê o descumprimento
de uma decisão judicial e não ressalva a possibilidade de tipificação da desobediência, não haverá o
crime do art. 330 → a polícia podia, no máximo, comunicar o juiz, para que essa autoridade judicial
pensasse a respeito da decretação da prisão preventiva, o que dava ensejo ao agressor para retornar
outro dia e praticar graves crimes contra a esposa.
Desobediência
Art. 330 do CP - Desobedecer a ordem legal de funcionário público:
Pena - detenção, de quinze dias a seis meses, e multa.
Informativo n. 544 do STJ: O descumprimento de medida protetiva de urgência prevista na Lei Maria da Penha
(art. 22 da Lei 11.340/2006) não configura crime de desobediência (art. 330 do CP). De fato, a jurisprudência
do STJ firmou o entendimento de que, para a configuração do crime de desobediência, não basta apenas o
não cumprimento de uma ordem judicial, sendo indispensável que inexista a previsão de sanção específica
em caso de descumprimento (HC 115.504-SP, Sexta Turma, Dje 9/2/2009).
Desse modo, está evidenciada a atipicidade da conduta, porque a legislação previu alternativas para que
ocorra o efetivo cumprimento das medidas protetivas de urgência, previstas na Lei Maria da Penha, prevendo
sanções de natureza civil, processual civil, administrativa e processual penal. Precedentes citados: REsp
1.374.653-MG, Sexta Turma, DJe 2/4/2014; e AgRg no REsp 1.445.446-MS, Quinta Turma, DJe 6/6/2014. RHC
41.970-MG, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 7/8/2014 (Vide Informativo n. 538 do STJ).
Art. 24-A da Lei n. 11.340/06: Descumprir decisão judicial que defere medidas protetivas de urgência previstas
nesta Lei: (Incluído pela Lei n. 13.641/18)
Pena – detenção, de 3 (três) meses a 2 (dois) anos.
§1º A configuração do crime independe da competência civil ou criminal do juiz que deferiu as medidas.
§2º Na hipótese de prisão em flagrante, apenas a autoridade judicial poderá conceder fiança.
§3º O disposto neste artigo não exclui a aplicação de outras sanções cabíveis.
➢ Obs. 1: art. 24-A da Lei Maria da Penha e a discussão acerca da sua natureza de infração de menor
potencial ofensivo;
Essa discussão ainda é acadêmica porque, ao analisar a pena do delito, existem duas correntes:
1ª Corrente: se trata de infração de menor potencial ofensivo, por conta da pena máxima. Logo, é aplicável a
Lei n. 9.099/95, até mesmo porque o crime em questão seria um criem contra a administração da justiça →
crime de desobediência intimamente ligado às medidas protetivas;
2ª Corrente: a despeito da pena cominada, não é infração de menor potencial ofensivo. Portanto, se aplica a
Lei n. 11.340/06 para dizer que, ao delito em questão, não é aplicável a Lei n. 9.099/95 (o professor prefere
esse entendimento) → não é uma mera desobediência a ordem judicial, haja vista que envolve violência
psicológica, no mínimo, contra a mulher.
Art. 322 do CPP. A autoridade policial somente poderá conceder fiança nos casos de infração cuja pena
privativa de liberdade máxima não seja superior a 4 (quatro) anos.
CUIDADO! A despeito de a pena ser compatível, não é possível a aplicação desse dispositivo, porque o § 2º do
art. 24-A da Lei n. 11.340/06 é especial em relação àquele.
Art. 24-A, §2º, Lei n. 11.340/06: Na hipótese de prisão em flagrante, apenas a autoridade judicial poderá
conceder fiança.
➢ Obs. 3: aplicação de outras sanções cabíveis, independentemente da tipificação do crime do art. 24-
A da Lei Maria da Penha;
Art. 20 da Lei n. 11.340/06: Em qualquer fase do inquérito policial ou da instrução criminal, caberá a prisão
preventiva do agressor, decretada pelo juiz, de ofício, a requerimento do Ministério Público ou mediante
representação da autoridade policial.
Parágrafo único. O juiz poderá revogar a prisão preventiva se, no curso do processo, verificar a falta de motivo
para que subsista, bem como de novo decretá-la, se sobrevierem razões que a justifiquem.
Posso usar esse art. 24-A e aplicar, por tabela, para as cautelares diversas da prisão dos arts. 319 e 320 do
CPP? Não, porque se for feita essa interpretação, é analogia in malam partem.
1. (In)aplicabilidade da Lei dos Juizados Especiais Criminais às infrações penais praticadas com
violência doméstica e familiar contra a mulher
Art. 41 da Lei n. 11.340/06: Aos crimes (e contravenções penais, segundo entendimento do STF) praticados
com violência doméstica e familiar contra a mulher, independentemente da pena prevista, não se aplica a Lei
n. 9.099/95.
➢ Obs. 1: contravenções penais praticadas no contexto da violência doméstica e familiar contra a mulher
e (im) possibilidade de aplicação da Lei dos Juizados;
STF: “(...) O preceito do artigo 41 da Lei nº 11.340/06 alcança toda e qualquer prática delituosa contra a
mulher, até mesmo quando consubstancia contravenção penal, como é a relativa a vias de fato. (...)”.
(STF, Pleno, HC 106.212/MS, Rel. Min. Marco Aurélio, DJe 112 10/06/2011).
- A promoção da igualdade entre os sexos passa não apenas pelo combate à discriminação contra a mulher,
mas também pela adoção de políticas compensatórias capazes de acelerar a igualdade de gênero;
- Ações afirmativas: podem ser conceituadas como o conjunto de ações, programas e políticas especiais e
temporárias que buscam reduzir ou minimizar os efeitos intoleráveis da discriminação em razão do gênero,
raça, sexo, religião, deficiência física, ou outro fator de desigualdade.
STF: “(...) VIOLÊNCIA DOMÉSTICA – LEI Nº 11.340/06 – GÊNEROS MASCULINO E FEMININO – TRATAMENTO
DIFERENCIADO. O artigo 1º da Lei nº 11.340/06 surge, sob o ângulo do tratamento diferenciado entre os
gêneros – mulher e homem –, harmônica com a Constituição Federal, no que necessária a proteção ante as
peculiaridades física e moral da mulher e a cultura brasileira. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A
MULHER – REGÊNCIA – LEI Nº 9.099/95 – AFASTAMENTO. O artigo 41 da Lei nº 11.340/06, a afastar, nos crimes
de violência doméstica contra a mulher, a Lei nº 9.099/95, mostra-se em consonância com o disposto no § 8º
do artigo 226 da Carta da República, a prever a obrigatoriedade de o Estado adotar mecanismos que coíbam
a violência no âmbito das relações familiares”. (STF, Pleno, ADC 19/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 09/02/2012).
1
ROTEIRO DE AULA
1. FINALIDADES DA PENA
No ordenamento jurídico penal brasileiro a pena tem múltiplas funções, conforme podemos extrair do art. 59,
caput, do Código Penal e do art. 1º da Lei de Execução Penal.
a) Retributiva: ocorre no momento da cominação de penas, bem como na execução penal, onde a pena
cominada e posteriormente executada representa imposição de “mal justo” contra o “mal injusto”
causado pelo crime;
b) Preventiva:
✓ Prevenção Geral: ocorre com a definição de crimes e a cominação das respectivas penas e tem a
intenção de criar, na coletividade, uma intimidação natural à prática delitiva;
✓ Prevenção Especial: ocorre no momento da individualização da pena como resposta necessária e
suficiente para a prevenção do crime em análise, bem como na fase executória, com o fim de
promover a harmônica reinserção social do apenado.
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c) Reeducativa: a finalidade educativa da pena atua na fase da execução, onde o objetivo é não só efetivar
a sentença penal, mas também a busca da ressocialização do apenado, de modo a que esteja apto a voltar
ao convívio social.
Lei 11.671/2008
(Trata da transferência de presos para estabelecimentos penais federais de segurança máxima)
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Art. 1º- A inclusão de presos em estabelecimentos penais federais de segurança máxima e a transferência de
presos de outros estabelecimentos para aqueles obedecerão ao disposto nesta Lei.
Art. 6º- Admitida a transferência do preso condenado, o juízo de origem deverá encaminhar ao juízo federal
os autos da execução penal.
Súmula 717: Não impede a progressão de regime de execução da pena, fixada em sentença não transitada em
julgado, o fato de o réu se encontrar em prisão especial.
“Art. 3º da LEP, Parágrafo único. Não haverá qualquer distinção de natureza racial, social, religiosa ou política”.
A LEP, por sua vez, estabelece em seu art. 5º que “os condenados serão classificados, segundo os seus
antecedentes e personalidade, para orientar a individualização da execução penal.
Art. 194. O procedimento correspondente às situações previstas nesta Lei será judicial, desenvolvendo-se
perante o Juízo da execução.
Código de Processo Penal
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Art. 668. A execução, onde não houver juiz especial, incumbirá ao juiz da sentença, ou, se a decisão for do
Tribunal do Júri, ao seu presidente.
Gabarito: Letra D
Justificativa: Súmula n. 192 do STF: Compete ao juízo das execuções penais do estado a execução das penas
impostas a sentenciados pela Justiça Federal, Militar ou Eleitoral, quando recolhidos a estabelecimentos
sujeitos à administração estadual.
Obs.: o ofendido não pode figurar como assistente da acusação no processo de execução, essa habilitação vai
somente até a sentença, podendo tão somente requerer a abertura do processo de execução.
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A lei que trata da transferência de presos para estabelecimentos penais federais estabelece as hipóteses
bastante rígidas nas quais essa transferência irá ocorrer. São situações bem peculiares relacionadas a presos
graves.
Essa Súmula n. 639 do STJ surgiu porque tais transferências eram, muitas vezes, realizadas sem a oitiva do
preso, passando a ser questionada a constitucionalidade desse procedimento → ante a gravidade e
peculiaridade do caso, inexiste a necessidade de contraditório e oitiva prévia desses presos.
Constituição Federal
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito
Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: (...)
III - A dignidade da pessoa humana;
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Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:
(...)
XLV - Nenhuma pena passará da pessoa do condenado (Princípio da Intranscendência), podendo a obrigação
de reparar o dano e a decretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores e
contra eles executadas, até o limite do valor do patrimônio transferido;
XLVII - Não haverá penas:
a) De morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do art. 84, XIX;
b) De caráter perpétuo;
c) De trabalhos forçados;
d) De banimento;
e) Cruéis;
XLVIII - A pena será cumprida em estabelecimentos distintos, de acordo com a natureza do delito, a idade e o
sexo do apenado;
XLIX - É assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral;
L - Às presidiárias serão asseguradas condições para que possam permanecer com seus filhos durante o
período de amamentação;
• Art. 75 do Código Penal → esse montante de 40 anos foi inserido pelo Pacote Anticrime:
Art. 75 do CP: O tempo de cumprimento das penas privativas de liberdade não pode ser superior a 40
(quarenta) anos. (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019) → Dignidade da Pessoa Humana.
§ 1º Quando o agente for condenado a penas privativas de liberdade cuja soma seja superior a 40 (quarenta)
anos, devem elas ser unificadas para atender ao limite máximo deste artigo. (Redação dada pela Lei nº 13.964,
de 2019)
§ 2º - Sobrevindo condenação por fato posterior ao início do cumprimento da pena, far-se-á nova unificação,
desprezando-se, para esse fim, o período de pena já cumprido.
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Parágrafo único. É vedado o uso de algemas em mulheres grávidas durante os atos médico-hospitalares
preparatórios para a realização do parto e durante o trabalho de parto, bem como em mulheres durante o
período de puerpério imediato. (Redação dada pela Lei nº 13.434, de 2017)
• O Supremo Tribunal Federal decidiu que o Poder Judiciário pode impor à Administração Pública
obrigação de fazer, consistente na promoção de medidas ou na execução de obras emergenciais em
estabelecimentos prisionais, de forma a assegurar a dignidade humana dos presos.
REPERCUSSÃO GERAL. RECURSO DO MPE CONTRA ACÓRDÃO DO TJRS. REFORMA DE SENTENÇA QUE
DETERMINAVA A EXECUÇÃO DE OBRAS NA CASA DO ALBERGADO DE URUGUAIANA. ALEGADA OFENSA AO
PRINCÍPIO DA SEPARAÇÃO DOS PODERES E DESBORDAMENTO DOS LIMITES DA RESERVA DO POSSÍVEL.
INOCORRÊNCIA. DECISÃO QUE CONSIDEROU DIREITOS CONSTITUCIONAIS DE PRESOS MERAS NORMAS
PROGRAMÁTICAS. INADMISSIBILIDADE. PRECEITOS QUE TÊM EFICÁCIA PLENA E APLICABIILIDADE IMEDIATA.
INTERVENÇÃO JUDICIAL QUE SE MOSTRA NECESSÁRIA E ADEQUADA PARA PRESERVAR O VALOR
FUNDAMENTAL DA PESSOA HUMANA. OBSERVÂNCIA, ADEMAIS, DO POSTULADO DA INAFASTABILIDADE DA
JURISDIÇÃO. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO PARA MANTER A SENTENÇA CASSADA PELO TRIBUNAL. I - É
lícito ao Judiciário impor à Administração Pública obrigação de fazer, consistente na promoção de medidas ou
na execução de obras emergenciais em estabelecimentos prisionais. II - Supremacia da dignidade da pessoa
humana que legitima a intervenção judicial. III - Sentença reformada que, de forma correta, buscava assegurar
o respeito à integridade física e moral dos detentos, em observância ao art. 5º, XLIX, da Constituição Federal.
IV - Impossibilidade de opor-se à sentença de primeiro grau o argumento da reserva do possível ou princípio
da separação dos poderes. V - Recurso conhecido e provido. (RE 592581, Relator(a): Min. RICARDO
LEWANDOWSKI, Tribunal Pleno, julgado em 13/08/2015, ACÓRDÃO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL -
MÉRITO DJe-018 DIVULG 29-01-2016 PUBLIC 01-02-2016) → A professora insiste na leitura do inteiro teor
desse julgado.
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V - Os Departamentos Penitenciários;
VI - O Patronato;
VII - O Conselho da Comunidade.
VIII - A Defensoria Pública.
Art. 63 da LEP: O Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária será integrado por 13 (treze) membros
designados através de ato do Ministério da Justiça, dentre professores e profissionais da área do Direito Penal,
Processual Penal, Penitenciário e ciências correlatas, bem como por representantes da comunidade e dos
Ministérios da área social.
Parágrafo único. O mandato dos membros do Conselho terá duração de 2 (dois) anos, renovado 1/3 (um terço)
em cada ano.
Art. 64 da LEP: Ao Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária, no exercício de suas atividades, em
âmbito federal ou estadual, incumbe:
I - Propor diretrizes da política criminal quanto à prevenção do delito, administração da Justiça Criminal e
execução das penas e das medidas de segurança;
II - Contribuir na elaboração de planos nacionais de desenvolvimento, sugerindo as metas e prioridades da
política criminal e penitenciária;
III - Promover a avaliação periódica do sistema criminal para a sua adequação às necessidades do País;
IV - Estimular e promover a pesquisa criminológica;
V - Elaborar programa nacional penitenciário de formação e aperfeiçoamento do servidor;
VI - Estabelecer regras sobre a arquitetura e construção de estabelecimentos penais e casas de albergados;
VII - Estabelecer os critérios para a elaboração da estatística criminal;
VIII - Inspecionar e fiscalizar os estabelecimentos penais, bem assim informar-se, mediante relatórios do
Conselho Penitenciário, requisições, visitas ou outros meios, acerca do desenvolvimento da execução penal
nos Estados, Territórios e Distrito Federal, propondo às autoridades dela incumbida as medidas necessárias
ao seu aprimoramento;
IX - Representar ao Juiz da execução ou à autoridade administrativa para instauração de sindicância ou
procedimento administrativo, em caso de violação das normas referentes à execução penal;
X - Representar à autoridade competente para a interdição, no todo ou em parte, de estabelecimento penal.
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Em alguns Estados da Federação Brasileira, dentro dos juízos da execução, alguns magistrados atuam
especificamente com alguma parte da execução, como a execução das penas privativas de liberdade, das
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penas alternativas, etc., a depender da estrutura de cada Tribunal, o que não desnatura a competência dos
juízos da execução, como um todo.
ATENÇÃO: O art. 51, do Código Penal, por sua vez, com a nova redação que lhe foi dada pela Lei 13.964/2019,
estabelece a competência da Vara de Execução Penal para executar a pena de multa:
Art. 51 do CP - Transitada em julgado a sentença condenatória, a multa será executada perante o juiz da
execução penal e será considerada dívida de valor, aplicáveis as normas relativas à dívida ativa da Fazenda
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Departamento Penitenciário Local: órgãos que tem por finalidade fiscalizar os estabelecimentos prisionais
das unidades federativas a que pertencerem → vinculados aos Poderes Executivos Locais (Estados/DF).
Art. 73 da LEP. A legislação local poderá criar Departamento Penitenciário ou órgão similar, com as atribuições
que estabelecer.
Art. 74 da LEP. O Departamento Penitenciário local, ou órgão similar, tem por finalidade supervisionar e
coordenar os estabelecimentos penais da Unidade da Federação a que pertencer.
Parágrafo único. Os órgãos referidos no caput deste artigo realizarão o acompanhamento de que trata o inciso
VII do caput do art. 72 desta Lei e encaminharão ao Departamento Penitenciário Nacional os resultados
obtidos.
4.6. Patronato
Art. 78 da LEP. O Patronato público ou particular destina-se a prestar assistência aos albergados e aos egressos
(artigo 26).
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escolhido pela Delegacia Seccional do Conselho Nacional de Assistentes Sociais. (Redação dada pela Lei nº
12.313, de 2010).
Parágrafo único. Na falta da representação prevista neste artigo, ficará a critério do Juiz da execução a escolha
dos integrantes do Conselho.
QUESTÃO DE PROVA
CEBRASPE (CESPE) - Promotor de Justiça (MPE CE) / 2020
De acordo com a Lei de Execução Penal (LEP), o órgão da execução penal destinado especificamente a prestar
assistência aos albergados e aos egressos é
a) o patronato.
b) a casa de albergado.
c) o conselho penitenciário.
d) o conselho da comunidade.
e) o departamento penitenciário.
Gabarito: letra A
Justificativa: Art. 78 LEP. O Patronato público ou particular destina-se a prestar assistência aos albergados e
aos egressos (artigo 26).
Art. 81-B da LEP. Incumbe, ainda, à Defensoria Pública: (Incluído pela Lei nº 12.313, de 2010).
I - Requerer: (Incluído pela Lei nº 12.313, de 2010).
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a) todas as providências necessárias ao desenvolvimento do processo executivo; (Incluído pela Lei nº 12.313,
de 2010).
b) a aplicação aos casos julgados de lei posterior que de qualquer modo favorecer o condenado; (Incluído pela
Lei nº 12.313, de 2010).
c) a declaração de extinção da punibilidade; (Incluído pela Lei nº 12.313, de 2010).
d) a unificação de penas; (Incluído pela Lei nº 12.313, de 2010).
e) a detração e remição da pena; (Incluído pela Lei nº 12.313, de 2010).
f) a instauração dos incidentes de excesso ou desvio de execução; (Incluído pela Lei nº 12.313, de 2010).
g) a aplicação de medida de segurança e sua revogação, bem como a substituição da pena por medida de
segurança; (Incluído pela Lei nº 12.313, de 2010).
h) a conversão de penas, a progressão nos regimes, a suspensão condicional da pena, o livramento condicional,
a comutação de pena e o indulto; (Incluído pela Lei nº 12.313, de 2010).
i) a autorização de saídas temporárias; (Incluído pela Lei nº 12.313, de 2010).
j) a internação, a desinternação e o restabelecimento da situação anterior; (Incluído pela Lei nº 12.313, de
2010).
k) o cumprimento de pena ou medida de segurança em outra comarca; (Incluído pela Lei nº 12.313, de 2010).
l) a remoção do condenado na hipótese prevista no § 1o do art. 86 desta Lei; (Incluído pela Lei nº 12.313, de
2010).
II - Requerer a emissão anual do atestado de pena a cumprir; (Incluído pela Lei nº 12.313, de 2010).
III - Interpor recursos de decisões proferidas pela autoridade judiciária ou administrativa durante a execução;
(Incluído pela Lei nº 12.313, de 2010).
IV - Representar ao Juiz da execução ou à autoridade administrativa para instauração de sindicância ou
procedimento administrativo em caso de violação as normas referentes à execução penal; (Incluído pela Lei
nº 12.313, de 2010).
V - Visitar os estabelecimentos penais, tomando providências para o adequado funcionamento, e requerer,
quando for o caso, a apuração de responsabilidade; (Incluído pela Lei nº 12.313, de 2010).
VI - Requerer à autoridade competente a interdição, no todo ou em parte, de estabelecimento penal. (Incluído
pela Lei nº 12.313, de 2010).
Parágrafo único. O órgão da Defensoria Pública visitará periodicamente os estabelecimentos penais,
registrando a sua presença em livro próprio → MP = visitas mensais.
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Dos Deveres
Art. 38 da LEP: Cumpre ao condenado, além das obrigações legais inerentes ao seu estado, submeter-se às
normas de execução da pena.
Dos Direitos
Art. 40 da LEP- Impõe-se a todas as autoridades o respeito à integridade física e moral dos condenados e dos
presos provisórios → Dignidade da Pessoa Humana.
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VII - Assistência material, à saúde, jurídica, educacional, social e religiosa → possibilidade de assistência à
saúde às expensas do próprio acusado, art. 43 da LEP 1;
VIII - Proteção contra qualquer forma de sensacionalismo → Dignidade da Pessoa Humana;
IX - Entrevista pessoal e reservada com o advogado;
X - Visita do cônjuge, da companheira (heteroafetivas e homoafetivas), de parentes e amigos em dias
determinados;
XI - Chamamento nominal;
XII - Igualdade de tratamento salvo quanto às exigências da individualização da pena;
XIII - Audiência especial com o diretor do estabelecimento;
XIV - Representação e petição a qualquer autoridade, em defesa de direito;
XV - Contato com o mundo exterior por meio de correspondência escrita, da leitura e de outros meios de
informação que não comprometam a moral e os bons costumes.
XVI – Atestado de pena a cumprir, emitido anualmente, sob pena da responsabilidade da autoridade judiciária
competente. (Incluído pela Lei nº 10.713, de 2003)
Art. 42 da LEP- Aplica-se ao preso provisório e ao submetido à medida de segurança, no que couber, o disposto
nesta Seção.
Parágrafo único. Os direitos previstos nos incisos V, X e XV poderão ser suspensos ou restringidos mediante
ato motivado do diretor do estabelecimento.
6. ESTABELECIMENTOS PENAIS
São os estabelecimentos destinados aos condenados à pena privativa de liberdade, aos internados para
cumprimento de medida de segurança, ao preso provisório e aos egressos.
1
Art. 43 da LEP - É garantida a liberdade de contratar médico de confiança pessoal do internado ou do
submetido a tratamento ambulatorial, por seus familiares ou dependentes, a fim de orientar e acompanhar o
tratamento.
Parágrafo único. As divergências entre o médico oficial e o particular serão resolvidas pelo Juiz da execução.
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As penas devem ser executadas de forma progressiva, iniciando-se o cumprimento no regime mais gravoso e
sendo atenuada para regimes menos gravosos, de acordo com os critérios de individualização da pena que
levam em conta aspectos objetivos, relativos ao de tempo de cumprimento de pena e subjetivos,
concernentes à classificação do merecimento do sentenciado. (Art. 33, §§ 2º e 3º do Código Penal e art. 5º da
Lei de Execução Penal).
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Segundo o parágrafo único do art. 111, a pena nova será somada ao restante da pena anterior para fins de
definição do regime de cumprimento de pena.
Supremo Tribunal Federal - 1ª Turma - RHC 135.826 - Rel. Min. Luiz Fux -Julgamento: 26/05/2017
AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. EXECUÇÃO PENAL. HABEAS CORPUS
ORIGINARIAMENTE SUBSTITUTIVO DE RECURSO. INADMISSIBILIDADE. PRECEDENTES. DATA-BASE PARA A
CONCESSÃO DE NOVOS BENEFÍCIOS. DATA DO TRÂNSITO EM JULGADO DA ÚLTIMA CONDENAÇÃO. ACÓRDÃO
EM CONFORMIDADE COM A JURISPRUDÊNCIA DESTA CORTE. INEXISTÊNCIA DE TERATOLOGIA, ABUSO DE
PODER OU FLAGRANTE ILEGALIDADE. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO. 1. Inexiste excepcionalidade que
permita a concessão da ordem de ofício ante a ausência de teratologia na decisão atacada, flagrante
ilegalidade ou abuso de poder. 2. A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal se fixou no sentido de que “a
superveniência de nova condenação definitiva no curso da execução criminal sempre altera a data-base para
concessão de benefícios, ainda que o crime tenha sido cometido antes do início de cumprimento da pena. A
data do trânsito em julgado da nova condenação é o termo inicial de contagem para concessão de
benefícios, que passa a ser calculado a partir do somatório das penas que restam a ser cumpridas” (HC
101.023, Primeira Turma, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, DJe de 26/3/2010). 3. In casu, o recorrente, em sede
de execução da pena privativa de liberdade, sofreu nova condenação, a qual resultou na soma das penas com
interrupção do lapso temporal para contagem do prazo para aquisição de benefícios, dentre eles a progressão
de regime. 4. Verifica-se a existência de óbice processual, porquanto o habeas corpus impetrado perante o
Tribunal a quo foi manejado em substituição a recurso cabível. 5. Agravo regimental desprovido.
Súmula n. 715 do STF: A pena unificada para atender ao limite de trinta anos de cumprimento, determinado
pelo art. 75 do Código Penal, não é considerada para a concessão de outros benefícios, como o livramento
condicional ou regime mais favorável de execução.
Cuidado com a leitura da Súmula acima, porque o artigo 75 do CP, conforme já vimos, foi alterado pelo Pacote
Anticrime.
➢ Exemplo: Preso condenado a 120 anos de pena. Seus benefícios serão calculados sob o montante total
de sua pena e não sob o montante de 40 anos previsto no art. 75 do Código Penal, com a nova redação
que lhe foi dada pela Lei 13.964/2019.
Superior Tribunal de Justiça - REsp 1.55.461 - Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz- Julgamento: 22/02/20018
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Súmula 719: A imposição do regime de cumprimento mais severo do que a pena aplicada permitir exige
motivação idônea.
Súmula 269: É admissível a adoção do regime prisional semiaberto aos reincidentes condenados a pena igual
ou inferior a quatro anos se favoráveis as circunstâncias judiciais.
Transitando em julgado a sentença que aplicar pena privativa de liberdade, se o réu estiver ou vier a ser preso,
o Juiz ordenará a expedição da guia de recolhimento para a execução, sem a qual ninguém será recolhido para
cumprimento de pena privativa de liberdade.
8. PROGRESSÃO DE REGIME
A pena privativa de liberdade será executada de forma progressiva, com a transferência para regime de
cumprimento de pena menos rigoroso, a depender do cumprimento de requisitos de ordem subjetiva (bom
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comportamento) e de ordem objetiva (frações ou percentuais de cumprimento de pena). Aos fatos praticados
antes da Lei 13.964/2019, aplicam-se as regras previstas na anterior redação do art. 112 da LEP que previa:
“A pena privativa de liberdade será executada em forma progressiva, com a transferência para regime menos
rigoroso, a ser determinada pelo juiz, quando o preso tiver cumprido ao menos um sexto da pena em regime
anterior e ostentar bom comportamento, comprovado pelo diretor do estabelecimento, respeitadas as
normas que vedam a progressão”.
Relativamente aos crimes hediondos e equiparados, praticados antes da vigência da Lei 13.964/2019, aplicam-
se as disposições contidas nos § 1º e 2º, do art. 2º da Lei 8.072/90:
Art. 2º da Lei n. 8.072/90- Os crimes hediondos, a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas
afins e o terrorismo são insuscetíveis de:
§ 1º A pena por crime previsto neste artigo será cumprida inicialmente em regime fechado. (Parágrafo com
redação dada pela Lei nº 11.464, de 28/3/2007).
§ 2º A progressão de regime, no caso dos condenados aos crimes previstos neste artigo, dar-se-á após o
cumprimento de 2/5 (dois quintos) da pena, se o apenado for primário, e de 3/5 (três quintos), se reincidente.
(Parágrafo acrescido pela Lei nº 11.464, de 28/3/2007).
Observações importantes:
✓ O direito à progressão de regime somente será concedido se o preso ostentar boa conduta carcerária
(§1º do art. 112 da LEP) → requisito subjetivo;
✓ A decisão do juiz que determinar a progressão de regime deverá ser precedida de manifestação do
Ministério Público e do defensor (§ 2º, do art. 112 da LEP);
✓ Não se considera hediondo ou equiparado, para os fins do art. 112, com a nova redação que lhe foi
dada, o crime de tráfico de drogas “privilegiado”, previsto no art. 33, § 4º da Lei 11.343/2006. (§ 5º,
do art. 112 da LEP);
✓ O cometimento de falta grave durante a execução da pena privativa de liberdade interrompe o prazo
para a progressão no regime de cumprimento da pena. Caso em que o reinício da contagem do
requisito objetivo terá como base a pena remanescente (§ 6º, do art. 112 da LEP).
Exemplo: José, reincidente, foi condenado a pena de 7 anos de reclusão (74 meses), pela prática de crime de
roubo circunstanciado (art. 157, § 2º, incisos I e II do CP), em regime inicial fechado. Para atingir a progressão
para o regime semiaberto, deveria cumprir, ao menos, 30% da pena total, o que corresponde a 2 anos e 4
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meses de pena no regime fechado (28 meses). Ocorre que após cumprir 6 meses de pena, comete falta grave.
Nesse caso, o cometimento da falta grave INTERROMPE o prazo para obtenção da progressão do regime,
recomeçando, portanto, a contagem, levando-se em conta a pena remanescente (74-6 = 68 meses). Assim
sendo, José somente poderá ter direito à progressão de regime após cumprir 30% dos 68 meses restantes.
✓ A progressão de regime prisional deve passar obrigatoriamente por todos os regimes subsequentes
previstos na lei. A chamada progressão per saltum é vedada, conforme entendimento do STF, contínuo
no enunciado da Súmula 491: É inadmissível a chamada progressão per saltum de regime prisional.
✓ Segundo o enunciado da Súmula Vinculante 56 do Supremo Tribunal Federal: A falta de vagas em
estabelecimento penal adequado não autoriza a manutenção do condenado em regime prisional mais
gravoso, devendo-se observar, nessa hipótese, os parâmetros fixados no RE 641.320/RS.
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Aos fatos praticados depois da entrada em vigor das alterações trazidas pela Lei 13.964/2019 - Pacote
Anticrime, aplicam-se os percentuais abaixo. As alterações do art. 112, por terem natureza penal, não
retroagem, já que são mais gravosas ao apenado.
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As mulheres gestantes ou que forem mães ou responsáveis por crianças com deficiência terão regras de
progressão de regime mais brandas, conforme dispõe o § 3º do art. 112 da LEP:
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LEGISLAÇÃO CRIMINAL ESPECIAL
LEP II
Larissa Luz
Aula 16
ROTEIRO DE AULA
➢ Sob qual montante de pena incide o cálculo do requisito temporal para progressão do regime
semiaberto para o aberto? Da pena que faltar ser cumprida, a pena remanescente.
Art. 114 da LEP: Somente poderá (requisitos obrigatórios) ingressar no regime aberto o condenado que:
I - Estiver trabalhando ou comprovar a possibilidade de fazê-lo imediatamente; (podendo ser dispensado do
trabalho as pessoas referidas no art. 117 da LEP 1)
II - Apresentar, pelos seus antecedentes ou pelo resultado dos exames a que foi submetido, fundados indícios
de que irá ajustar-se, com autodisciplina e senso de responsabilidade, ao novo regime.
O preso em regime aberto, deverá observar as seguintes condições gerais e obrigatórias, observadas por
equipe penitenciária, sem prejuízo de outras impostas pelo juiz: (art. 115 LEP):
I - Permanecer no local que for designado, durante o repouso e nos dias de folga;
II - Sair para o trabalho e retornar, nos horários fixados;
1
Art. 117 da LEP: Somente se admitirá o recolhimento do beneficiário de regime aberto em residência
particular (regime domiciliar) quando se tratar de:
I - Condenado maior de 70 (setenta) anos;
II - Condenado acometido de doença grave;
III - Condenada com filho menor ou deficiente físico ou mental;
IV - Condenada gestante.
III - Não se ausentar da cidade onde reside, sem autorização judicial;
IV - Comparecer a Juízo, para informar e justificar as suas atividades, quando for determinado.
QUESTÃO DE PROVA
1 - FCC - Promotor de Justiça (MPE MT) / 2019
O Código de Processo Penal e a Lei de Execuções Penais disciplinam a prisão em residência particular. É
requisito comum a ambas as normas:
a) ser o homem preso o único responsável pelos cuidados de criança de até 12 anos de idade.
b) a presa ser gestante.
c) a pessoa beneficiada ser maior de 70 anos.
d) estar o(a) preso(a) extremamente debilitado(a) por motivo de doença grave.
e) a prisão domiciliar substituir a prisão em regime fechado.
Gabarito: Alternativa B
Justificativa:
Art. 115. O Juiz poderá estabelecer condições especiais para a concessão de regime aberto, sem prejuízo das
seguintes condições gerais e obrigatórias:
I - Permanecer no local que for designado, durante o repouso e nos dias de folga;
II - Sair para o trabalho e retornar, nos horários fixados;
III - Não se ausentar da cidade onde reside, sem autorização judicial;
IV - Comparecer a Juízo, para informar e justificar as suas atividades, quando for determinado.
I - Comportamento adequado;
II - Cumprimento mínimo de 1/6 (um sexto) da pena,
se o condenado for primário, e 1/4 (um quarto), se
reincidente;
QUESTÃO DE PROVA
CEBRASPE (CESPE) - Promotor de Justiça (MPE CE) / 2020
Mário e Tiago estão em regime semiaberto, têm bom comportamento e já cumpriram mais da metade da
pena. Mário foi comunicado do falecimento de sua irmã e deseja ir ao funeral dela. Tiago deseja visitar a
família e participar do casamento de uma prima. Ambos preenchem os demais requisitos legais para a saída.
Nessa situação, deve-se:
a) negar a ambos os condenados os pedidos, porque não cabe autorização de saída nas hipóteses indicadas.
b) permitir a saída temporária, sem escolta, de ambos os condenados.
c) permitir a saída, com escolta, de ambos os condenados.
d) permitir a saída, sem escolta, de Mário; e a saída temporária, com escolta, de Tiago.
e) permitir a saída, com escolta, de Mário; e a saída temporária, sem escolta, de Tiago.
Gabarito: Alternativa E
Justificativa:
Art. 120 da LEP: Os condenados que cumprem pena em regime fechado ou semiaberto e os presos provisórios
poderão obter permissão para sair do estabelecimento, mediante escolta, quando ocorrer um dos seguintes
fatos:
I - Falecimento ou doença grave do cônjuge, companheira, ascendente, descendente ou irmão;
Art. 122 da LEP. Os condenados que cumprem pena em regime semiaberto poderão obter autorização para
saída temporária do estabelecimento, sem vigilância direta, nos seguintes casos:
I - Visita à família;
Art. 123 da LEP. A autorização será concedida por ato motivado do Juiz da execução, ouvidos o Ministério
Público e a administração penitenciária e dependerá da satisfação dos seguintes requisitos:
I - Comportamento adequado;
II - Cumprimento mínimo de 1/6 (um sexto) da pena, se o condenado for primário, e 1/4 (um quarto), se
reincidente;
6.6. Remição da Pena
Possibilidade que o condenado possui de diminuir o tempo de cumprimento de pena por meio do trabalho,
estudo ou leitura (isolada ou cumulativamente), conforme autoriza o art. 126 da LEP. O tempo de pena remido,
assim declarado pelo juízo da execução, será considerado tempo de pena cumprido, para todos os efeitos.
(Art. 128 da LEP).
Observações importantes:
✓ O preso impossibilitado por acidente a prosseguir no trabalho ou estudos continuará a beneficiar-se
com a remição.
✓ A remição aplica-se ao preso cautelar.
✓ A remição pelo trabalho é concedida ao preso em regime fechado ou semiaberto.
✓ A remição pelo estudo é concedida ao preso em regime fechado, semiaberto, aberto ou em livramento
condicional.
✓ A remição será declarada pelo juiz da execução, ouvidos o Ministério Público e a defesa.
Súmula 715 STF: A pena unificada para atender ao limite de trinta anos2 de cumprimento, determinado pelo
art. 75 do Código Penal, não é considerada para a concessão de outros benefícios, como o livramento
condicional ou regime mais favorável de execução.
2
O limite máximo de cumprimento de pena foi alterado pela Lei 13.964, de 2019, e agora é de 40 anos. Art. 75. O
tempo de cumprimento das penas privativas de liberdade não pode ser superior a 40 (quarenta) anos. (Redação
dada pela Lei nº 13.964, de 2019)
Condições Facultativas do Livramento Condicional
Poderão ainda ser impostas, dentre outras obrigações, as seguintes:
a) não mudar de residência sem comunicação ao Juiz e à autoridade incumbida da observação cautelar e de
proteção;
b) recolher-se à habitação em hora fixada;
c) não frequentar determinados lugares.
Revogação facultativa
Art. 87 - O juiz poderá, também, revogar o livramento, se o liberado deixar de cumprir qualquer das obrigações
constantes da sentença, ou for irrecorrivelmente condenado, por crime ou contravenção, a pena que não seja
privativa de liberdade.
Efeitos da Revogação
Art. 88 - Revogado o livramento, não poderá ser novamente concedido, e, salvo quando a revogação resulta
de condenação por outro crime anterior àquele benefício, não se desconta na pena o tempo em que esteve
solto o condenado.
Interpretando o dispositivo acima a contrariu sensu, se o benefício foi revogado, o tempo em que ele esteve
em livramento condicional não vai servir como tempo de pena efetivamente cumprido, a menos que a
condenação superveniente seja por crime anterior.
3
Art. 84 do CP - As penas que correspondem a infrações diversas devem somar-se para efeito do livramento.
A inobservância das referidas regras enseja sanções disciplinares, a serem impostas no âmbito do devido
processo disciplinar. As infrações disciplinares podem ser consideradas leves, médias e graves, sendo as leves
e médias definidas pelas legislações locais (art. 49 da LEP).
Súmula 533 STJ: Para o reconhecimento da prática de falta disciplinar no âmbito da execução penal, é
imprescindível a instauração de procedimento administrativo pelo diretor do estabelecimento prisional,
assegurado o direito de defesa, a ser realizado por advogado constituído ou defensor público nomeado.
O diretor do estabelecimento prisional poderá determinar o isolamento cautelar do preso, por até dez dias,
conforme autoriza o art. 60 da LEP.
Art. 60. A autoridade administrativa poderá decretar o isolamento preventivo do faltoso pelo prazo de até dez
dias. A inclusão do preso no regime disciplinar diferenciado, no interesse da disciplina e da averiguação do
fato, dependerá de despacho do juiz competente.
Parágrafo único. O tempo de isolamento ou inclusão preventiva no regime disciplinar diferenciado será
computado no período de cumprimento da sanção disciplinar.
7.1.2. Recompensas
Art. 55. As recompensas têm em vista o bom comportamento reconhecido em favor do condenado, de sua
colaboração com a disciplina e de sua dedicação ao trabalho.
Art. 56. São recompensas:
I - O elogio (constando da ficha do condenado, de atribuição do diretor do estabelecimento prisional);
II - A concessão de regalias.
Parágrafo único. A legislação local e os regulamentos estabelecerão a natureza e a forma de concessão de
regalias.
Considerando o entendimento jurisprudencial do STJ, julgue o item a seguir em relação às faltas disciplinares
praticadas no curso da execução penal.
O reconhecimento de falta grave decorrente da prática de fato definido como crime doloso independe do
trânsito em julgado de sentença penal condenatória.
Gabarito: Certo
Justificativa:
RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA. ARTIGO 543-C DO CPC. EXECUÇÃO PENAL. FALTA
GRAVE. FATO DEFINIDO COMO CRIME DOLOSO. TRÂNSITO EM JULGADO DA SENTENÇA PENAL
CONDENATÓRIA. DESNECESSIDADE.
1. O reconhecimento de falta grave decorrente do cometimento de fato definido como crime doloso no
cumprimento da pena prescinde do trânsito em julgado de sentença penal condenatória no processo penal
instaurado para apuração do fato.
2. Recurso especial representativo de controvérsia provido para afastar a nulidade proclamada e reconhecer
a prática de falta grave independentemente do trânsito em julgado de sentença penal condenatória. Acórdão
sujeito ao regime do art. 543- C do CPC e da Resolução STJ 08/2008. (REsp 1336561/RS, Rel. Ministra LAURITA
VAZ, Rel. p/ Acórdão Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 25/09/2013,
DJe 01/04/2014).
Súmula 526 do STJ - O reconhecimento de falta grave decorrente do cometimento de fato definido como
crime doloso no cumprimento da pena prescinde (independe) do trânsito em julgado de sentença penal
condenatória no processo penal instaurado para apuração do fato.
§ 1º O regime disciplinar diferenciado também será aplicado aos presos provisórios ou condenados, nacionais
ou estrangeiros: (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)
I - Que apresentem alto risco para a ordem e a segurança do estabelecimento penal ou da sociedade; (Incluído
pela Lei nº 13.964, de 2019); OU
II - Sob os quais recaiam fundadas suspeitas de envolvimento ou participação, a qualquer título, em
organização criminosa, associação criminosa ou milícia privada, independentemente da prática de falta grave.
(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
§ 2º (Revogado).
§ 3º Existindo indícios de que o preso exerce liderança em organização criminosa, associação criminosa ou
milícia privada, ou que tenha atuação criminosa em 2 (dois) ou mais Estados da Federação, o regime disciplinar
diferenciado será obrigatoriamente cumprido em estabelecimento prisional federal. (Incluído pela Lei nº
13.964, de 2019)
§ 4º Na hipótese dos parágrafos anteriores, o regime disciplinar diferenciado poderá ser prorrogado
sucessivamente, por períodos de 1 (um) ano, existindo indícios de que o preso: (Incluído pela Lei nº 13.964,
de 2019)
I - Continua apresentando alto risco para a ordem e a segurança do estabelecimento penal de origem ou da
sociedade; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
II - Mantém os vínculos com organização criminosa, associação criminosa ou milícia privada, considerados
também o perfil criminal e a função desempenhada por ele no grupo criminoso, a operação duradoura do
grupo, a superveniência de novos processos criminais e os resultados do tratamento penitenciário. (Incluído
pela Lei nº 13.964, de 2019)
§ 5º Na hipótese prevista no § 3º deste artigo, o regime disciplinar diferenciado deverá contar com alta
segurança interna e externa, principalmente no que diz respeito à necessidade de se evitar contato do preso
com membros de sua organização criminosa, associação criminosa ou milícia privada, ou de grupos rivais.
(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
§ 6º A visita de que trata o inciso III do caput deste artigo será gravada em sistema de áudio ou de áudio e
vídeo e, com autorização judicial, fiscalizada por agente penitenciário. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
§ 7º Após os primeiros 6 (seis) meses de regime disciplinar diferenciado, o preso que não receber a visita de
que trata o inciso III do caput deste artigo poderá, após prévio agendamento, ter contato telefônico, que será
gravado, com uma pessoa da família, 2 (duas) vezes por mês e por 10 (dez) minutos. (Incluído pela Lei nº
13.964, de 2019)
SÚMULA 533: Para o reconhecimento da prática de falta disciplinar no âmbito da execução penal, é
imprescindível a instauração de procedimento administrativo pelo diretor do estabelecimento prisional,
assegurado o direito de defesa, a ser realizado por advogado constituído ou defensor público nomeado.
SÚMULA 534: A prática de falta grave interrompe a contagem do prazo para a progressão de regime de
cumprimento de pena, o qual se reinicia a partir do cometimento dessa infração.
SÚMULA 535: A prática de falta grave não interrompe o prazo para fim de comutação de pena ou indulto.
Art. 44. As penas restritivas de direitos são autônomas e substituem as privativas de liberdade, quando:
I – Aplicada pena privativa de liberdade não superior a quatro anos e o crime não for cometido com violência
ou grave ameaça à pessoa ou, qualquer que seja a pena aplicada, se o crime for culposo;
II – O réu não for reincidente em crime doloso;
III – A culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do condenado, bem como os motivos
e as circunstâncias indicarem que essa substituição seja suficiente.
Art. 147. Transitada em julgado a sentença que aplicou a pena restritiva de direitos, o Juiz da execução, de
ofício ou a requerimento do Ministério Público, promoverá a execução, podendo, para tanto, requisitar,
quando necessário, a colaboração de entidades públicas ou solicitá-la a particulares.
Art. 148. Em qualquer fase da execução, poderá o Juiz, motivadamente, alterar*, a forma de cumprimento das
penas de prestação de serviços à comunidade e de limitação de fim de semana, ajustando-as às condições
pessoais do condenado e às características do estabelecimento, da entidade ou do programa comunitário ou
estatal
9.1 Competência
O Supremo Tribunal Federal, no julgamento da ADI 3150, de relatoria do Min. Marco Aurélio, 13 de dezembro
de 2018, havia decidido que a execução da pena de multa, por se tratar de dívida de valor, era de competência
dos juízos de Fazenda Pública.
Ocorre que, em 24 de dezembro de 2019, foi editada a Lei 13.964/2019 que, ao alterar a redação do art. 51
do Código Penal, assim passou a prever:
“Art. 51. Transitada em julgado a sentença condenatória, a multa será executada perante o juiz da execução
penal e será considerada dívida de valor, aplicáveis as normas relativas à dívida ativa da Fazenda Pública,
inclusive no que concerne às causas interruptivas e suspensivas da prescrição.
9.2. Legitimidade/Procedimento
Segundo o art. 164 da LEP, a legitimidade para a execução da pena de multa é do Ministério Público. Cotejar
com ADI 3150 e acompanhar a evolução da jurisprudência nesse sentido em relação aos órgãos fazendários.
Art. 164. Extraída certidão da sentença condenatória com trânsito em julgado, que valerá como título
executivo judicial, o Ministério Público requererá, em autos apartados, a citação do condenado para, no prazo
de 10 (dez) dias, pagar o valor da multa ou nomear bens à penhora.
§ 1º Decorrido o prazo sem o pagamento da multa, ou o depósito da respectiva importância, proceder-se-á à
penhora de tantos bens quantos bastem para garantir a execução.
§ 2º A nomeação de bens à penhora e a posterior execução seguirão o que dispuser a lei processual civil.
Art. 185. Haverá excesso ou desvio de execução sempre que algum ato for praticado além dos limites fixados
na sentença, em normas legais ou regulamentares.
O excesso está caracterizado quando houver alguma impropriedade na execução de natureza quantitativa,
causando prejuízo ao sentenciado. Exemplo: punição disciplinar cumprida em tempo maior do que o previsto
na lei ou regulamento.
Já o desvio na execução se configura quando há alguma impropriedade na execução de natureza qualitativa,
podendo ser mais prejudicial ou mais benéfico ao sentenciado. Ex: manutenção do sentenciado em um
regime, quando já faz jus a outro ou progressão para um regime de cumprimento mais benéfico sem o
atendimento dos requisitos legais devidos.
O desvio e o excesso são apurados por meio do incidente de desvio ou excesso previsto no art. 186 da LEP,
nos seguintes termos:
QUESTÃO DE PROVA
CEBRASPE (CESPE) - Juiz Estadual (TJ SC) / 2019
De acordo com a Lei de Execução Penal, caso seja verificada a exigência de que o sentenciado cumpra medida
além dos limites fixados na sentença, deverá ser instaurado o incidente
a) de conversão da pena, que poderá ser provocado pelo Ministério Público.
b) administrativo, que poderá ser suscitado por qualquer um dos órgãos que atuam na execução penal.
c) de indulto individual, que poderá ser provocado pela autoridade administrativa.
d) de excesso ou desvio, que poderá ser suscitado pelo sentenciado.
e) de chamamento da execução à ordem, que poderá ser provocado pelo Ministério Público.
Gabarito: alternativa D.
Justificativa:
Art. 185. Haverá excesso ou desvio de execução sempre que algum ato for praticado além dos limites fixados
na sentença, em normas legais ou regulamentares.
Art. 186. Podem suscitar o incidente de excesso ou desvio de execução:
I - O Ministério Público;
II - O Conselho Penitenciário;
III - O sentenciado;
IV - Qualquer dos demais órgãos da execução penal.
GRAÇA/INDULTO INDIVIDUAL
Art. 188. O indulto individual poderá ser provocado por petição do condenado, por iniciativa do Ministério
Público, do Conselho Penitenciário, ou da autoridade administrativa.
Art. 189. A petição do indulto, acompanhada dos documentos que a instruírem, será entregue ao Conselho
Penitenciário, para a elaboração de parecer e posterior encaminhamento ao Ministério da Justiça.
Art. 190. O Conselho Penitenciário, à vista dos autos do processo e do prontuário, promoverá as diligências
que entender necessárias e fará, em relatório, a narração do ilícito penal e dos fundamentos da sentença
condenatória, a exposição dos antecedentes do condenado e do procedimento deste depois da prisão,
emitindo seu parecer sobre o mérito do pedido e esclarecendo qualquer formalidade ou circunstâncias
omitidas na petição.
Art. 191. Processada no Ministério da Justiça com documentos e o relatório do Conselho Penitenciário, a
petição será submetida a despacho do Presidente da República, a quem serão presentes os autos do processo
ou a certidão de qualquer de suas peças, se ele o determinar.
Art. 192. Concedido o indulto e anexada aos autos cópia do decreto, o Juiz declarará extinta a pena ou ajustará
a execução aos termos do decreto, no caso de comutação.
INDULTO COLETIVO
Art. 193. Se o sentenciado for beneficiado por indulto coletivo, o Juiz, de ofício, a requerimento do interessado,
do Ministério Público, ou por iniciativa do Conselho Penitenciário ou da autoridade administrativa,
providenciará de acordo com o disposto no artigo anterior.
Art. 197 da LEP. Das decisões proferidas pelo Juiz caberá recurso de agravo, sem efeito suspensivo.
12.1. Prazos
a) Interposição: 5 dias
b) Razões: 2 dias
Supremo Tribunal Federal
Súmula 700: É de cinco dias o prazo para interposição de agravo contra decisão do juiz da execução penal.
12.2. Legitimados
Ministério Público ou sentenciado.
12.3. Procedimento
O agravo em execução seguirá o mesmo procedimento previsto para o Recurso em Sentido Estrito, previsto
nos artigos 581 e seguintes do Código de Processo Penal, não possuindo, em regra, efeito suspensivo. O
recurso é interposto em 05 dias. Em 02 dias, o juiz devolve o recurso para o agravante apresentar as razões
recursais. No mesmo prazo de 02 dias, intima a parte contrária para que ofereça a contra minuta em relação
ao agravo, exercitando o contraditório. Após essas contrarrazões, assim como no RESE, o juiz poderá se
retratar de sua decisão (efeito regressivo). Na hipótese de retratação, a parte que seria sucumbente poderá
vir a apresentar novo recurso que, dessa vez, não é possível o juízo de retratação. Se ele mantém a decisão,
segue o recurso e o julgamento será feito pelo tribunal ad quem.
QUESTÃO DE PROVA
FCC - Juiz Estadual (TJ AL) / 2019
Quanto aos aspectos processuais da Lei de Execução Penal,
a) é de cinco dias o prazo ordinário para interposição de agravo contra a decisão do Juiz da execução penal,
descabendo intimação do defensor nomeado por publicação no órgão incumbido da publicidade dos atos
judiciais da comarca.
b) compete ao Juízo das Execuções Federal a execução das penas impostas a sentenciados pela Justiça Federal,
Militar ou Eleitoral, ainda que recolhidos a estabelecimentos sujeitos à Administração estadual.
c) a aplicação das sanções disciplinares de isolamento e de inclusão no regime disciplinar diferenciado é de
competência, respectivamente, do diretor do estabelecimento prisional e do Juiz da execução, não podendo
a primeira exceder a sessenta dias.
d) a regressão do condenado a regime mais rigoroso depende de sua prévia oitiva se a falta grave imputada
consistir em incitar ou participar de movimento para subverter a ordem ou a disciplina, mas não no caso de
possuir, indevidamente, instrumento capaz de ofender a integridade física de outrem.
e) das decisões proferidas pelo Juiz caberá recurso de agravo, sem efeito suspensivo, podendo o Ministério
Público obtê-lo por meio da interposição de mandado de segurança.
Gabarito: Alternativa A
Justificativa:
Alternativa A:
Art. 197 da LEP: Das decisões proferidas pelo Juiz caberá recurso de agravo, sem efeito suspensivo.
Súmula 700. É de cinco dias o prazo para interposição de agravo contra decisão do juiz da execução penal.
Art. 340 § 4º CP - A intimação do Ministério Público e do defensor nomeado será pessoal.
Alternativa B:
Súmula 192. Compete ao juízo das execuções penais do Estado a execução das penas impostas a sentenciados
pela Justiça Federal, Militar ou Eleitoral, quando recolhidos a estabelecimentos sujeitos à administração
estadual.
Alternativa C:
Art. 60 LEP. A autoridade administrativa poderá decretar o isolamento preventivo do faltoso pelo prazo de até
dez dias. A inclusão do preso no regime disciplinar diferenciado, no interesse da disciplina e da averiguação
do fato, dependerá de despacho do juiz competente.
Alternativa D:
Art. 118. A execução da pena privativa de liberdade ficará sujeita à forma regressiva, com a transferência para
qualquer dos regimes mais rigorosos, quando o condenado:
I - Praticar fato definido como crime doloso ou falta grave;
II - Sofrer condenação, por crime anterior, cuja pena, somada ao restante da pena em execução, torne
incabível o regime (artigo 111).
§ 1° O condenado será transferido do regime aberto se, além das hipóteses referidas nos incisos anteriores,
frustrar os fins da execução ou não pagar, podendo, a multa cumulativamente imposta.
§ 2º Nas hipóteses do inciso I e do parágrafo anterior, deverá ser ouvido previamente o condenado.
Alternativa E:
Súmula 604 - O mandado de segurança não se presta para atribuir efeito suspensivo a recurso criminal
interposto pelo Ministério Público.
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL
Cleber Masson
Aula 17
Lei de Drogas I
ROTEIRO DE AULA
1. Introdução
➢ Tratamento da matéria: a Lei n. 11.343/2006 revogou expressamente as Leis n. 6.368/1976 (Lei de
Tóxicos) e 10.409/2002 (regulamentou apenas a parte procedimental);
➢ Substituição da expressão “substâncias entorpecentes” por “drogas”.
➢ Criação do SISNAD – Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas → tratar o usuário como
doente, como sendo um problema de saúde pública.
Art. 3º da Lei n. 11.343/2006: O SISNAD tem a finalidade de articular, integrar, organizar e coordenar as
atividades relacionadas com:
I - A prevenção do uso indevido, a atenção e a reinserção social de usuários e dependentes de drogas;
II - A repressão da produção não autorizada e do tráfico ilícito de drogas → enfoque criminal.
➢ Dizer “tráfico ilícito” é uma redundância, posto que inexiste tráfico lícito.
§ 1º Entende-se por SISNAD o conjunto ordenado de princípios, regras, critérios e recursos materiais e
humanos que envolvem as políticas, planos, programas, ações e projetos sobre drogas, incluindo-se nele, por
adesão, os Sistemas de Políticas Públicas sobre Drogas dos Estados, Distrito Federal e Municípios. (Incluído
pela Lei nº 13.840, de 2019)
§ 2º O SISNAD atuará em articulação com o Sistema Único de Saúde - SUS, e com o Sistema Único de
Assistência Social - SUAS. (Incluído pela Lei nº 13.840, de 2019)
➢ Norma penal em branco homogênea ou heterogênea? Aquela cujo preceito primário depende de
complementação, ou seja, a pena foi devidamente cominada, mas a conduta criminosa é incompleta
por si só e depende de complementação. No caso da Lei de Drogas, é norma penal em branco
homogêneas e heterogêneas porque a complementação pode vir tanto de outra lei quanto de ato
administrativo da União. Atualmente, porém, os crimes da Lei de Drogas estão previstos em normas
penais em branco heterogêneas → portarias da ANVISA.
Art. 66 da Lei 11.343/2006: “Para fins do disposto no parágrafo único do art. 1o desta Lei, até que seja
atualizada a terminologia da lista mencionada no preceito, denominam-se drogas substâncias entorpecentes,
psicotrópicas, precursoras e outras sob controle especial, da Portaria SVS/MS no 344, de 12 de maio de 1998.”
➢ Princípio ativo e prova da materialidade: depende de exame pericial a fim de se atestar a presença
do princípio ativo da droga na substância colhida.
4. Sujeito ativo
Regra geral: crimes comuns ou gerais;
Exceção: crime próprio ou especial do profissional de Medicina ou da Odontologia; do profissional de
Enfermagem ou Farmácia → Art. 38 da Lei 11.343/2006: “Prescrever ou ministrar, culposamente, drogas, sem
que delas necessite o paciente, ou fazê-lo em doses excessivas ou em desacordo com determinação legal ou
regulamentar”.
5. Sujeito passivo
Crimes vagos: o sujeito passivo é um ente destituído de personalidade jurídica – a coletividade, na parte
criminal, porque não se preocupa individualmente com os usuários e/ou traficantes.
6. Elemento subjetivo
Regra geral: crimes dolosos – tanto o dolo direto quando o dolo eventual;
Exceção: Art. 38 da Lei 11.343/2006: “Prescrever ou ministrar, culposamente, drogas, sem que delas necessite
o paciente, ou fazê-lo em doses excessivas ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar”.
8. Ação Penal
Todos os crimes da Lei de Drogas são de ação penal pública incondicionada porque atingem vítimas
indeterminadas.
STF: “Ao aplicar o princípio da insignificância, a 1ª Turma concedeu habeas corpus para trancar procedimento
penal instaurado contra o réu e invalidar todos os atos processuais, desde a denúncia até a condenação, por
ausência de tipicidade material da conduta imputada. No caso, o paciente fora condenado, com fulcro no
art. 28, caput, da Lei 11.343/2006, à pena de 3 meses e 15 dias de prestação de serviços à comunidade por
portar 0,6 g de maconha” (HC 110.475/SC, Relator Ministro Dias Toffoli, 1ª Turma, j. 14.02.2012, noticiado no
Informativo 655) → entendimento mais pacificado.
STJ: “Não é possível afastar a tipicidade material do porte de substância entorpecente para consumo próprio
com base no princípio da insignificância, ainda que ínfima a quantidade de droga apreendida” (RHC
35.920/DF, Relator Ministro Rogerio Schietti Cruz, 6ª Turma, j. 20.05.2014, noticiado no Informativo 541) →
resistência maior.
10.4. Natureza jurídica → quando a lei entrou em vigor, Luís Flávio Gomes defendia que esse art. 28
não seria um crime e sim um ilícito penal “sui generis”. Hoje, está pacificado o entendimento.
Posse de droga para consumo pessoal: (art. 28 da L. 11.343/06 - nova lei de drogas): natureza jurídica de crime.
1. O art. 1º da LICP - que se limita a estabelecer um critério que permite distinguir quando se está diante de
um crime ou de uma contravenção - não obsta a que lei ordinária superveniente adote outros critérios gerais
de distinção, ou estabeleça para determinado crime - como o fez o art. 28 da L. 11.343/06 - pena diversa da
privação ou restrição da liberdade, a qual constitui somente uma das opções constitucionais passíveis de
adoção pela lei incriminadora (CF/88, art. 5º, XLVI e XLVII). 2. Não se pode, na interpretação da L. 11.343/06,
partir de um pressuposto desapreço do legislador pelo "rigor técnico", que o teria levado inadvertidamente
a incluir as infrações relativas ao usuário de drogas em um capítulo denominado "Dos Crimes e das Penas",
só a ele referentes. (L. 11.343/06, Título III, Capítulo III, arts. 27/30). (...) 6. Ocorrência, pois, de
"despenalização", entendida como exclusão, para o tipo, das penas privativas de liberdade. 7. Questão de
ordem resolvida no sentido de que a L. 11.343/06 não implicou abolitio criminis (C. Penal, art. 107). II.
Prescrição: consumação, à vista do art. 30 da L. 11.343/06, pelo decurso de mais de 2 anos dos fatos, sem
qualquer causa interruptiva. III. Recurso extraordinário julgado prejudicado. (STF, RE 430.105 QO/RJ, Relator
Ministro Sepúlveda Pertence, Primeira Turma, j. 13/02/2007).
a) A lei, ao tratar do tema, classificou a conduta como crime.
b) Estabeleceu o rito processual junto ao Juizado Especial Criminal.
c) No tocante à prescrição, o art. 30 determina a aplicação das regras do art. 107 do Código Penal.
d) A finalidade do art. 1º da Lei da Lei de Introdução ao Código Penal era apenas a de diferenciar, em
1942, os crimes das contravenções penais, uma vez que o CP e a LCP entraram em vigor
simultaneamente, em 01 de janeiro de 1942.
e) A Lei de Introdução ao Código Penal pode ser modificada por outra lei ordinária, como aconteceu com
a Lei de Drogas.
f) Quanto entrou em vigor a Lei de Introdução Ao Código Penal, não existiam penas alternativas.
10.5. Figura equiparada – art. 28, § 1º → cultivo de droga para consumo pessoal. Exemplo do sujeito
que possui, na sacada de seu apartamento, um vaso em que plana um pé de maconha para consumo
pessoal, incidindo nas mesmas penas.
“§ 1o Às mesmas medidas submete-se quem, para seu consumo pessoal, semeia, cultiva ou colhe plantas
destinadas à preparação de pequena quantidade de substância ou produto capaz de causar dependência física
ou psíquica.” → consumo pessoal em pequena quantidade (a ser aferida no caso concreto), sendo esses
requisitos cumulativos.
“Art. 2º. Ficam proibidas, em todo o território nacional, as drogas, bem como o plantio, a cultura, a colheita e
a exploração de vegetais e substratos dos quais possam ser extraídas ou produzidas drogas, ressalvada a
hipótese de autorização legal ou regulamentar, bem como o que estabelece a Convenção de Viena, das
Nações Unidas, sobre Substâncias Psicotrópicas, de 1971, a respeito de plantas de uso estritamente
ritualístico-religioso → Ayahuasca.
Parágrafo único. Pode a União autorizar o plantio, a cultura e a colheita dos vegetais referidos no caput deste
artigo, exclusivamente para fins medicinais ou científicos, em local e prazo predeterminados, mediante
fiscalização, respeitadas as ressalvas supramencionadas.”
Distinção com o art. 33, § 1º, inc. II: “Semeia, cultiva ou faz a colheita, sem autorização ou em desacordo com
determinação legal ou regulamentar, de plantas que se constituam em matéria-prima para a preparação de
drogas” → destinação ao tráfico.
E no caso de dúvida? Com base nesses critérios legislativos do art. 28, § 2º, se ainda subsistir a dúvida entre
o tráfico e consumo pessoal, o juiz deve decidir em favor do réu (in dubio pro reo).
10.7 Penas
Prestação de serviços à comunidade e medida educativa (incisos II e III): prazo máximo de 5 meses (art. 28, §
3º). No caso de reincidência, prazo máximo de 10 meses (art. 28, § 4º) → essa reincidência é a específica, isto
é, reincidência no mesmo art. 28 da Lei de Drogas.
“A reincidência de que trata o § 4º do art. 28 da Lei n. 11.343/2006 é a específica. Não obstante a existência
de precedente em sentido diverso (AgRg no HC 497.852/RJ, Rel. Ministra Laurita Vaz, Sexta Turma, julgado em
11/06/2019, DJe 25/06/2019) – em que a reincidência genérica era pela prática dos delitos de roubo e de
porte de arma –, em revisão de entendimento, embora não conste da letra da lei, forçoso concluir que a
reincidência de que trata o § 4º do art. 28 da Lei n. 11.343/2006 é a específica. Com efeito, a melhor exegese,
segundo a interpretação topográfica, essencial à hermenêutica, é de que os parágrafos não são unidades
autônomas, estando vinculadas ao caput do artigo a que se referem. Vale dizer, aquele que reincidir na prática
do delito de posse de drogas para consumo pessoal ficará sujeito a penas mais severas – pelo prazo máximo
de 10 meses –, não se aplicando, portanto, à hipótese vertente, a regra segundo a qual ao intérprete não cabe
distinguir quando a norma não o fez. Desse modo, condenação anterior por crime de roubo não impede a
aplicação das penas do art. 28, II e III, da Lei n. 11.343/2006, com a limitação de 5 meses de que dispõe o § 3º
do referido dispositivo legal” (STJ: REsp 1.771.304/ES, Relator Ministro Nefi Cordeiro, 6.ª Turma, j. 10.12.2019,
noticiado no Informativo 662).
“Art. 27. As penas previstas neste Capítulo poderão ser aplicadas isolada ou cumulativamente, bem como
substituídas a qualquer tempo, ouvidos o Ministério Público e o defensor.”
“Art. 28, § 6o Para garantia do cumprimento das medidas educativas a que se refere o caput, nos incisos I, II e
III, a que injustificadamente se recuse o agente, poderá o juiz submetê-lo, sucessivamente a:
I - Admoestação verbal;
II - Multa.”
➢ Não trata especificamente de penas e sim medidas coercitivas para o cumprimento das penas.
MULTA: Seu valor é creditado ao Fundo Nacional Antidrogas (art. 29). É fixada em duas fases:
1ª fase: Número de dias-multa: entre 40 e 100. Leva em conta a reprovabilidade da conduta; e
2ª fase: Valor do dia-multa: entre 1/30 do salário mínimo até três vezes o valor do salário mínimo. Leva em
conta a capacidade econômica do agente.
10.8. Prescrição
Art. 30: “Prescrevem em 2 (dois) anos a imposição e a execução das penas, observado, no tocante à
interrupção do prazo, o disposto nos arts. 107 e seguintes do Código Penal.”
Art. 40, inc. II: “As penas previstas nos arts. 33 a 37 desta Lei são aumentadas de um sexto a dois terços, se:
(…) II - o agente praticar o crime prevalecendo-se de função pública ou no desempenho de missão de
educação, poder familiar, guarda ou vigilância.”
11.2. Elemento normativo do tipo → aquele cuja identificação dependa de um juízo de valor do
operador do Direito.
“Sem autorização e em desacordo com determinação legal ou regulamentar”.
É possível o comércio lícito de drogas? Sim, como no caso do farmacêutico que cumpre uma receita médica
com as devidas retenções e dentro da legalidade ou tratamento com uso da maconha por fins medicinais.
“Art. 31. É indispensável a licença prévia da autoridade competente para produzir, extrair, fabricar,
transformar, preparar, possuir, manter em depósito, importar, exportar, reexportar, remeter, transportar,
expor, oferecer, vender, comprar, trocar, ceder ou adquirir, para qualquer fim, drogas ou matéria-prima
destinada à sua preparação, observadas as demais exigências legais.”
➢ Exemplo: policial que sabe quem é o traficante, somente precisa apreender a droga para constatar o
que já é fato. Todos os dias, esse traficante tem a mesma rotina de ir na mesma padaria tomar café-
da-manhã. O policial entra nessa padaria, disfarçado, e tenta comprar cocaína com o suposto
traficante, mostrando várias notas de dinheiro.
➢ Quando o traficante entrega a droga, ocorre a “prisão em flagrante”, o que é vedado pela súmula
acima → “ter em depósito” e não “vender”. Se denunciar por “ter em depósito”, o flagrante é válido
porque o crime é permanente.
“O agente nada mais é do que o protagonista inconsciente de uma comédia criminosa” HUNGRIA, Nelson.
“Art. 42. O juiz, na fixação das penas, considerará, com preponderância sobre o previsto no art. 59 do Código
Penal, a natureza e a quantidade da substância ou do produto, a personalidade e a conduta social do agente.”
Pena de multa
“Art. 43. Na fixação da multa a que se referem os arts. 33 a 39 desta Lei, o juiz, atendendo ao que dispõe o
art. 42 desta Lei, determinará o número de dias-multa, atribuindo a cada um, segundo as condições
econômicas dos acusados, valor não inferior a um trinta avos nem superior a 5 (cinco) vezes o maior salário-
mínimo.
Parágrafo único. As multas, que em caso de concurso de crimes serão impostas sempre cumulativamente,
podem ser aumentadas até o décuplo se, em virtude da situação econômica do acusado, considerá-las o juiz
ineficazes, ainda que aplicadas no máximo.”
Plenário do STF e não equiparação do crime de tráfico privilegiado aos delitos hediondos (HC 118.533, j.
23.06.2016, noticiado no Informativo 831).
Cancelamento da Súmula 512 do STJ: “A aplicação da causa de diminuição de pena prevista no art. 33, § 4º,
da Lei n. 11.343/2006 não afasta a hediondez do crime de tráfico de drogas”.
Art. 112, § 5º, da Lei de Execução Penal: “Não se considera hediondo ou equiparado, para os fins deste artigo,
o crime de tráfico de drogas previsto no § 4º do art. 33 da Lei nº 11.343, de 23 de agosto de 2006.” (Redação
dada pela Lei n. 13.964/2019 – Pacote Anticrime) → esse dispositivo trata da progressão de regimes prisional.
Requisitos cumulativos
➢ O fato de existirem ações penais em andamento afasta o privilégio? Não, porque ações penais em
andamento não retiram do agente nem a primariedade nem caracterizam maus antecedentes.
“Não cabe afastar a causa de diminuição prevista no art. 33, § 4º, da Lei 11.343/2006 (Lei de Drogas) com base
em condenações não alcançadas pela preclusão maior (coisa julgada). Com esse entendimento, a Primeira
Turma deferiu a ordem em habeas corpus para que o juízo implemente a aludida causa de diminuição. O
colegiado salientou que, na dosimetria, situações processuais sem o trânsito em julgado foram consideradas
como maus antecedentes” (STF: HC 166.385/MG, Relator Ministro Marco Aurélio, 1.ª Turma, j. 14.04.2020,
noticiado no Informativo 973).
STF: “A quantidade de drogas não constitui isoladamente fundamento idôneo para negar o benefício da
redução da pena” (HC 138.138/SP, Relator Ministro Ricardo Lewandowski, 2ª Turma, j. 29.11.2016, noticiado
no Informativo 849).
➢ A atividade criminosa deve ser exercida com exclusividade para inviabilizar o benefício? Não.
STJ: “Ainda que a dedicação a atividades criminosas ocorra concomitantemente com o exercício de atividade
profissional lícita, é inaplicável a causa especial de diminuição de pena prevista no art. 33, § 4º, da Lei n.
11.343/2006” (REsp 1.380.741/MG, Relator Ministro Rogerio Schietti Cruz, 6ª Turma, j. 12.04.2016, noticiado
no Informativo 582).
STF: “A 1ª Turma concedeu “habeas corpus” de ofício impetrado em favor de condenados pela prática de
tráfico internacional de entorpecentes. A defesa pleiteava a aplicação da causa especial de diminuição do art.
33, §4º, da Lei 11.343/2006. A Turma considerou que a atuação dos pacientes na condição de “mulas” não
significaria, necessariamente, que integrassem organização criminosa. No caso, eles seriam meros
transportadores, o que não representaria adesão à estrutura de organização criminosa” (HC 124.107/SP,
Relator Ministro Dias Toffoli, 1ª Turma, j. 04.11.2014, noticiado no Informativo 766)
No mesmo sentido: STJ - HC 387.077/SP, Relator Ministro Ribeiro Dantas, 5ª Turma, j. 06.04.2017, noticiado
no Informativo 602.
“A Segunda Turma, por unanimidade, deu parcial provimento a recurso ordinário em “habeas corpus” para
reconhecer a incidência da causa de diminuição da pena prevista no art. 33, § 4º, da Lei 11.343/2006 e
determinar que o juízo “a quo”, após definir o patamar de redução, recalcule a pena e proceda ao reexame
do regime inicial do cumprimento da sanção e da substituição da pena privativa de liberdade por sanções
restritivas de direitos, se preenchidos os requisitos do art. 44 do Código Penal. No caso, a paciente foi
condenada à pena de cinco anos de reclusão, em regime inicial fechado, e ao pagamento de quinhentos dias-
multa, pela prática do crime previsto no art. 33, “caput”, da Lei 11.343/2006. A defesa alegou que o não
reconhecimento da minorante prevista no § 4º do art. 33 da Lei de Drogas, pelas instâncias ordinárias, baseou-
se unicamente na quantidade da droga apreendida. O Colegiado assentou que a grande quantidade de
entorpecente, apesar de não ter sido o único fundamento apontado para afastar a aplicação do redutor do
art. 33, § 4º, da Lei 11.343/2006, foi isoladamente utilizada como elemento para presumir-se a participação
da paciente em uma organização criminosa e, assim, negar-lhe o direito à minorante. Ressaltou que, conforme
a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, a quantidade de drogas não pode automaticamente levar ao
entendimento de que a paciente faria do tráfico seu meio de vida ou integraria uma organização criminosa.
Ademais, observou que a paciente foi absolvida da acusação do delito de associação para o tráfico, tipificado
no art. 35 da Lei 11.343/2006, por ausência de provas. Dessa forma, a Turma considerou ser patente a
contradição entre os fundamentos usados para absolvê-la da acusação de prática do mencionado delito e os
utilizados para negar-lhe o direito à minorante no ponto referente à participação em organização criminosa”
(STF: RHC 138.715/MS, Relator Ministro Ricardo Lewandowski, 2ª Turma, j. 23.05.2017).