Homem de Neandertal
Homem de Neandertal
Homem de Neandertal
Histórico
Descoberta
Os primeiros achados de restos do homem de Neanderthal ocorreram nas grutas de Engis, na atual Bélgica (1829), por Philippe-
Charles Schmerling, e depois na pedreira de Forbes, em Gibraltar (1848)[18] - ambos anteriores à descoberta do espécime tipo, em
uma mina de calcário situada no Neanderthal (em português, 'vale de Neander'), que fica entre as cidades de Erkrath e Mettmann,
nas proximidades de Düsseldorf e Wuppertal, na Alemanha. A descoberta do espécime de Neanderthal ocorreu em agosto
de 1856, três anos antes da publicação de A origem das espécies, de Charles Darwin.[19]
O fóssil de Forbes foi descoberto na pequena gruta de uma pedreira. Esta descoberta é hoje considerada como o marco fundador
da paleoantropologia. Pouco tempo depois, foram aí encontrados vestígios antropológicos de cerca de 500 indivíduos, sobretudo
ossos, alguns dos quais bastante incompletos.[18] O espécime de Forbes, classificado como Neandertal 1, era constituído por
uma calota craniana, dois fémures, três ossos do braço direito, dois do esquerdo, parte do ilíaco esquerdo e fragmentos de
uma omoplata e costelas. O achado foi atribuído pelos operários da pedreira a despojos de ursos e entregue
ao naturalista amador Johann Carl Fuhlrott,[20] professor em Elberfeld. Impressionado pelo crânio baixo e espesso, pelas arcadas
supraciliares proeminentes, membros arqueados e curtos, Fuhlrott deduziu que deveriam ter pertencido a um ser humano muito
primitivo. Levou os fósseis ao anatomista Hermann Schaaffhausen[21][22] e, em 1857, a descoberta foi anunciada por ambos.
Em 1858, Schaaffhausen descrevia-o como tendo pertencido "às raças humanas mais antigas", que datou em cerca de alguns
milénios antes, o que daria origem a intensa polémica, já que a Teoria da Evolução ainda estava longe de ser aceite nos meios
académicos.
Nome e classificação
O topónimo Neandertal, na denominação da espécie (ou subespécie), é alusivo a Joachim Neander (1650-1680),
teólogo pietista que tinha por hábito fazer pregações entre as cidades de Erkrath e Mettmann, nas proximidades
de Düsseldorf e Wuppertal, na Alemanha.[21][22]
A expressão "homem de Neandertal" foi cunhada em 1863 pelo anatomista irlandês William King. Durante vários anos de intenso
debate científico quanto à denominação mais adequada, Homo neanderthalensis ou Homo sapiens neanderthalensis, a segunda
designação implicava ter de se considerar o homem de Neandertal como uma subespécie do Homo sapiens, o Homo sapiens
sapiens, ambos pertencendo à linhagem humana. Estudos ulteriores sobre o DNA mitocondrial levariam entretanto a supor que
tanto os neandertais como o Homo sapiens evoluíram de um ancestral comum.[23] A separação teria ocorrido há mais de 1 milhão
de anos.[24]
Ambiente
No que diz respeito ao ambiente em que o homem de Neandertal viveu, tem-se que, durante o período de existência nas regiões
da Europa e Ásia ocidental, os neandertais ocuparam ambientes periglaciais severos,[25] os quais os levaram a experienciar
condições climáticas inéditas, marcadas por temperaturas baixíssimas.[26]
Tais condições, inclusive, podem ser vistas como o cenário adaptativo que deu origem a muitas de suas características físicas
como membros mais curtos e cérebro maior, favorecendo uma estrutura corpórea adaptada para reter calor e, portanto,
fundamental para a sobrevivência no frio.[26]
Durante o Pleistoceno Superior, cerca de 50 mil a 30 mil anos atrás, iniciaram-se algumas mudanças abruptas e severas no clima
da Europa.[27] Bank e colaboradores[28] apontam que as diminuições nas temperaturas da superfície do Atlântico Norte levaram a
mudanças bruscas na composição e estrutura da vegetação.[27][28]
No geral, pode-se dizer que tais mudanças abruptas foram responsáveis por transformar o que antes eram ambientes
de floresta em ambientes abertos, em sua maioria dominados por vegetação herbácea.[27] Entre os principais cenários hipotéticos
nessas condições, tem-se o Mediterrâneo ocidental tomado por condições extremamente frias e secas, apresentando vegetação
semi-desértica entre 40 mil e 38 mil anos atrás. Já entre 38 mil e 36 mil anos atrás, condições suaves e úmidas se instalaram ao
longo das margens do Atlântico, resultando no desenvolvimento de florestas decíduas; enquanto que nas regiões do Mediterrâneo
ocidental os verões quentes e secos, em conjunto aos invernos úmidos, criaram uma floresta aberta.[28]
As rápidas transições entre clima e distribuição da vegetação afetou também a distribuição e adaptação de mamíferos, incluindo as
populações de hominídeos.
Coexistência com o Homo sapiens
Com base em antigos genomas, os pesquisadores concluíram que os Denisovans, os Neandertais e os seres humanos modernos
se misturaram na era glacial da Europa e da Ásia. Os genes de ambas as espécies humanas arcaicas estão presentes em muitas
pessoas hoje em dia.
Poucos dizem que dúvidas existem quanto à forma como decorreu a coexistência dos Homo sapiens com os homens de
Neandertal em locais como no sul da Península Ibérica ou na Dalmácia. Há quem defenda que a baixa densidade populacional da
época permitiu que os dois não tenham estabelecido contacto, existindo uma segregação a nível social que considerasse "tabu"
qualquer aproximação e, claro, hibridização. Outros autores, baseando-se, por exemplo, na descoberta de um fóssil de um menino
de quatro anos conhecido como o "Menino de Lapedo", em Vale do Lapedo, Portugal,[31] crêem que está provada a ligação e
cruzamento do homem moderno com o "Homo sapiens neanderthalensis".[32]
Estudos publicados em março de 2016 indicam que o Homem Moderno se cruzou de facto com hominídeos, incluindo o Homem
de Neandertal, em várias ocasiões.[33] Antes disto ser divulgado, certos autores preferiam uma abordagem de meio termo, crendo
que poderão ter existido contactos pouco relevantes a nível cultural e mesmo genético, já que podiam, até, considerar-se como
espécies assumidamente diferentes.
Esta discussão, complexa, tem gerado alguma polémica entre os autores que preferem uma
abordagem genética e paleoantropológica e aqueles que dão maior importância ao contexto cultural da evolução humana. Teorias
como a conhecida "Out of Africa (ou hipótese da origem única)," ao propor que o homem moderno teve origem em África e se
disseminou por todo o planeta num processo de "colonização" de cerca de 80 mil anos, não admite a miscigenação entre os dois
grupos. Outras teses, contudo, de carácter "regionalista", defendem que vários tipos humanos evoluíram simultânea e
gradualmente, estabelecendo contactos que permitiram a emergência do Homem moderno – esses teóricos são, portanto, mais
favoráveis à hipótese do cruzamento entre aqueles dois tipos humanos.
De facto, certos estudos pareciam demonstrar que pouco ou nada subsistiria do património genético dos neandertais no DNA do
homem atual. Em 7 de Maio de 2010 um estudo do Projecto do Genoma do Neandertal[34] foi publicado na revista Science.[35] Tal
estudo afirma que realmente ocorrera cruzamento entre as duas espécies.[36][37] Outro estudo, de 2016, utilizando registos médicos
eletrónicos e dados de ADN associados, de mais de 28 000 indivíduos, mostra que – coincidindo com os resultados divulgados em
março deste mesmo ano, acima referidos – o DNA Neanderthal produziu efeitos significativos no sistema imunitário do Homem
Moderno, protegendo-o dos riscos de desenvolvimento da depressão, de lesões de pele e de coagulação sanguínea excessiva.
Em 2018, um pedaço de um osso de uma adolescente que morreu há mais de 50 mil anos, desenterrado em uma caverna no vale
de Denisova, na Rússia, em 2012, indica que sua mãe era neandertal e seu pai era Denisovan.
Extinção
A extinção do homem de Neandertal ocorreu provavelmente entre 50 e 35 mil anos atrás, demonstrando uma rapidez nas quedas
populacionais. As hipóteses para explicar este fenômeno existentes envolvem competição com Homo sapiens, perda
de variabilidade genética por fragmentação populacional, influência de mudanças climáticas e da vegetação e contato
com patógenos. O tema ainda é amplamente debatido e estas possíveis causas de extinção não são mutuamente
exclusivas, podendo cada uma ter contribuído para a extinção dos neandertais conjuntamente, ou atuando em momentos e locais
diferentes nas populações da espécie, fazendo-se necessária a análise das causas de extinção de cada fragmento populacional da
época.
Entretanto, é comum ver nessas discussões uma divisão das hipóteses sobre a extinção entre as que dão ênfase à competição
com H. sapiens e as que dão ênfase aos fatores ambientais e patogênicos adversos. Algumas dessas hipóteses serão revisadas a
seguir.
Competição com Homo sapiens
Uma das primeiras e principais hipóteses acerca da extinção dos neandertais afirma que esta teria sido causada principalmente
devido à competição com H. sapiens. Ela motivada pela observação inicial de que o período de desaparecimento dos neandertais
coincidiu com a época da chegada de H. sapiens à Eurásia. Há evidências de que as duas espécies ocupariam
um nicho ecossocial similar, o que teria levado as duas a uma competição por recursos na qual H. sapiens obteve melhor
desempenho.
Algumas das possíveis vantagens adaptativas apresentadas por H. sapiens seriam uma melhor mobilidade devido à sua
constituição óssea, uma maior fecundidade e tempo de gestação, que permitiriam um desenvolvimento de populações de
crescimento mais rápido, uma possível maior resistência a patógenos e uma dieta mais abrangente, a qual permitiria a menor
dependência de recursos específicos.
Há também possíveis vantagens competitivas relacionadas ao comportamento e cultura de H. sapiens, tais como o
desenvolvimento de técnicas de caça mais eficazes. Outro estudo levanta a importância da confecção de roubas mais elaboradas
por H. sapiens pode ter sido uma pré-adaptação comportamental que conferiu vantagem à espécie em comparação com os
neandertais frente às condições climáticas variáveis da época. Por fim, há argumentos sobre uma cultura generalizadamente mais
avançada em H. sapiens, dizendo que as tecnologias, redes sociais e linguagens desenvolvidos por essa espécie na época eram
mais avançados, o que por sua vez seria um indício de maior poder cognitivo, o qual teria conferido vantagens no novo ambiente.
Entretanto, diversos autores discordam dessa visão, afirmando que a cultura de H. sapiens na época de chegada na Eurásia não
seria muito mais desenvolvida do que a neandertal. Ademais, sabe-se que o tópico de cultura neandertal ainda possui um amplo
debate, mas que ainda assim a espécie possuía diversas tecnologias avançadas, linguagem, possível seleção e uso de plantas
medicinais,] além de se ser discutida a possibilidade da existência de uma cultura simbólica na espécie. Deste modo, ainda que
houvesse um desnível entre as culturas das espécies competidoras, alguns autores questionam se isso seria de fato uma causa
central para a extinção neandertal ou se essa influência poderia estar sendo superestimada.
Sendo por fatores biológicos ou culturais, ou uma combinação dos dois, a competição com Homo sapiens possui amplo apoio de
pesquisadores. Além dos registros fósseis que demonstram a convivência entre espécies, há também estudos que fazem a
modelagem matemática de previsão de resultado de interações entre as espécies e dos neandertais com fatores ambientais. Em
um estudo de 2020 foi comparada a influência que mudanças climáticas e competição interespecífica teriam sobre a dinâmica
populacional dos neandertais através de modelagens e conclui-se que a competição teria efeitos mais fortes que seriam capazes
de explicar a rapidez do desaparecimento da espécie. Ainda assim, o estudo não descarta a importância de interação com o
ambiente, dizendo que as quedas de temperatura e consequentes variações na vegetação poderiam ter causado extinções
pontuais em algumas populações fragmentadas de neandertais. Entretanto, o fator mais generalizado e de maior importância para
os autores mencionados seria a competição.
Outros fatores
Em 2019, num artigo publicado na revista especializada The Anatomical Recordos defende que Neandertais podem ter sido
fortemente afetados por infeções do ouvido. Para os Neandertais, esta condição significava muitas complicações, incluindo
infeções respiratórias, perda de audição e pneumonia. Os antropólogos norte-americanos aperceberam-se que os ouvidos dos
Neandertais se assemelhava aos ouvidos das crianças humanas, mas não alteravam conforme a sua idade.] Para os Neandertais,
esta condição significava muitas complicações, incluindo infeções respiratórias, perda de audição e pneumonia. Os antropólogos
norte-americanos aperceberam-se que os ouvidos dos Neandertais se assemelhava aos ouvidos das crianças humanas, não se
alterando conforme a sua idade. Além das infecções de ouvido, há também estudos que, a partir de observações etnográficas de
povos coletores-caçadores, trouxeram a possibilidade de a encefalopatia espongiforme transmissível ter sido uma outra doença
que tenha contribuído para a redução populacional em neandertais. Esta doença causada por príons apresenta diversas variantes
(sendo mais conhecida a variante bovina de nome popular "doença da vaca louca") causa sintomas neurológicos severos e, nos
povos estudados, apresentou como principal rota de transmissão o canibalismo. É sabido que os neandertais
praticavam canibalismo, e por isso os autores especularam que a doença poderia ter tido sua rota de entrada nos neandertais
desta maneira e enfraquecido ainda mais populações neandertais já pequenas fragmentadas.[17] Este trabalho entretanto é de
caráter exclusivamente teórico, baseando suas inferências em modelos a partir de observações etnográficas, sendo que a hipótese
carece de mais investigação arqueológica. Ele também coloca a infecção com a doença como apenas mais um dos fatores que
podem ter contribuído para a extinção, e não o único ou mais importante dentre eles.
Durante o período de extinção dos neandertais, os territórios ocupados por eles encontravam-se numa época de glaciação. Apesar
de os neandertais serem bem adaptados a baixas temperaturas, essa condição climática provoca várias mudanças no
ecossistema, criando condições adversas generalizadas. Por isso, usualmente, estes períodos vem acompanhados de uma série
de extinções. Estudos conduzidos sobre uma população neandertal do sul da Península Ibérica demonstraram fonte correlação e
possível causalidade entre o período de glaciação e o desaparecimento dos neandertais no local.[49] É importante reiterar que estas
forças que levam à extinção possivelmente não estariam agindo sozinhas, então a criação de um ambiente mais adverso pode ter
resultado na intensificação da competição com H. sapiens, e a redução populacional pode ter aumentado a erosão genética das
populações. Assim, a colaboração de fatores gerais e locais para a extinção dos neandertais deve ser considerada.[17][15]
Por fim, outro fator que foi levantado como tendo sua importância para a extinção neandertal foi a dinâmica demográfica da
espécie. Sabe-se que neandertais tinham populações menores e mais fragmentadas do que as populações de H. sapiens.
Populações menores apresentam vulnerabilidade maior por motivos como menor variabilidade genética que permita a resposta a
fatores ambientais e maior susceptibilidade a quedas de fertilidade. Um estudo mostrou que uma pequena queda na fertilidade de
fêmeas poderia ter consequências expressivas a longo prazo para os tamanhos populacionais de neandertais. Essa perda de
fertilidade é considerada como sendo plausível no ambiente de glaciação, com recursos mais escassos e a chegada do novo
competidor H. sapiens. Além disso, com o contato com H. sapiens e a hibridização com esta espécie pode ter levado à formação
de híbridos inférteis. Para H. sapiens, que possuía tamanhos populacionais maiores, isso não traria grandes consequências. Para
os neandertais, porém, como tinham um tamanho populacional menor, a geração de prole infértil poderia comprometer
grandemente as populações. Assim, o estudo concluiu que o tamanho populacional provavelmente constituiu uma força central na
extinção neandertal.
Características
De nariz curto, mas largo e volumoso, os neandertais estavam adaptados ao clima frio. Essas características, observadas nas
modernas populações sub-árticas, resultam da seleção natural. Os neandertais teriam habitado em áreas próximas do Ártico.
[51]
Seus cérebros eram aproximadamente 10% maiores em volume do que os dos humanos modernos.[52] Em média, os
neandertais tinham cerca de 1,65 m de altura e eram muito musculosos. Comparados com os humanos modernos, possuíam
feições morfológicas distintas, especialmente no crânio, que gradualmente acumulou aspectos específicos, em particular devido ao
seu relativo isolamento geográfico. A sua estatura atarracada pode ter sido uma adaptação ao clima frio da Europa durante
o Pleistoceno. Nada se conhece sobre a forma dos olhos, orelhas e lábios dos neandertais. Por analogia, teriam pele muito branca,
para um melhor aproveitamento do calor nessas frias latitudes da Europa. Estudos recentes revelam que alguns indivíduos eram
de pele branca e de cabelo ruivo.[53][54]
Segue uma lista de traços físicos que distinguem os neandertais dos humanos modernos. Nem todos esses traços servem para
distinguir populações específicas de neandertais, de diversas áreas geográficas ou de diversos períodos da evolução, de outros
humanos extintos. Por outro lado, muitos desses traços estão ocasionalmente presentes nos modernos humanos, sobretudo em
determinados grupos étnicos.
Crânio
o
Fossa suprainíaca (canal sobre a protuberância occipital externa do crânio)
o
Meio da face projetado para frente
o
Crânio alongado para trás
o
Toro supraorbital proeminente, formando um arco sobre as órbitas oculares
o
Capacidade encefálica entre 1 200 e 1 700 cm³ (levemente maior que a dos humanos modernos)
o
Ausência de queixo
o
Testa baixa, quase ausente
o
Espaço atrás dos molares
o
Abertura nasal ampla
o
Protuberâncias ósseas nos lados da abertura nasal
o
Forma diferente dos ossos do labirinto no ouvido
Pós-crânio
o
Consideravelmente mais musculoso
o
Dedos grandes e robustos
o
Caixa torácica volumosa e saliente
o
Forma diferente da pélvis
o
Patelas grandes[55]
o
Clavícula alongada
o
Escápulas curtas e arqueadas
o
Ossos da coxa robustos e arqueados
o
Tíbias e fíbulas muito curtas[56][57]
Cultura
Cultura pode ser definida como como sendo um conjunto de comportamentos, conhecimentos, normas sociais, saberes,
valores e crenças compartilhado por um grupo de indivíduos. [63][64]. Essa definição abrange tanto comportamentos concretos,
como a fabricação de artefatos de utilização no cotidiano, quanto comportamentos simbólicos, como a ocorrência de religião e
rituais em um grupo. A fabricação de objetos por Neandertais é amplamente conhecida, sendo a indústria musteriense uma
característica central do grupo [65].
Entretanto, quando se fala de cultura simbólica em neandertais, o tópico ainda se encontra sobre intenso debate. Há registros
arqueológicos que apontam para a possibilidade de esta espécie realizar sepultamentos, uso de adornos e realização de
pinturas, todos sinais da existência de comportamentos simbólicos. Contudo, estas evidências são questionadas por alguns
pesquisadores. O principal problema apresentado para a confirmação da existência de comportamentos simbólicos em
neandertais é relacionado às datas e locais dos fósseis. Grande parte dos possíveis adornos encontrados associados a fósseis
neandertais datam de épocas em que essa espécie convivia com a espécie humana, então argumenta-se que o uso desses
artefatos e rituais poderia ser uma simples imitação da cultura dos Homo sapiens. Há também a dificuldade de inferir se
sepultamentos ou uso de tintas corporais - que também poderiam ter sido usadas como repelentes de insetos - seriam
realmente comportamentos associados a rituais ou se isso seria realizado pelas populações apenas para fins pragmáticos.
Apesar disso, mesmo que estes comportamentos fossem apenas reproduções da cultura humana, isso ainda seria um
indicativo das altas capacidades cognitivas dos neandertais. [14]
Tecnologia
Os sítios arqueológicos compostos por jazidas com ocupações de homens de Neandertal do Paleolítico Médio, altura em que
os neandertais terão atingido o auge da sua existência, mostram um conjunto de ferramentas menor e menos flexível em
comparação com os sítios do Paleolítico Superior, ocupados pelos humanos modernos que mais tarde surgiram.
Esta cultura técnica, atribuída aos neandertais, designada como musteriense, consistia na produção de ferramentas de pedra
lascada pelo desbastamento em leque de um bloco lítico inicial (ou núcleo): lascas a partir das quais se encadeava a produção
de instrumentos diversos, como machados destinados a tarefas específicas, bifaces, raspadeiras, furadores e lanças. Muitas
dessas ferramentas eram bastante afiadas. No Paleolítico Superior teriam desenvolvido uma cultura material mais complexa
na tecnologia de talhe da pedra, designada chatelperronense[66] e caracterizada pelo desdobramento do núcleo lítico em peças
menores e mais manuseáveis. Um estudo mostra que os neandertais que vivem na Europa há cerca de 55 mil a 40 mil anos
viajaram para longe de suas cavernas para coletar resina de pinheiros. Eles então utilizaram esse adesivo para colar
instrumentos de pedra em alças feitas de madeira ou osso.[67] Antropólogos evolucionistas na Alemanha, em 2020, confirmaram
que os humanos modernos na Europa há pelo menos 45 000 anos ensinaram os neandertais a fazer colares com dentes de
urso.
Há ainda indícios de que os neandertais usavam chifres, conchas e outros materiais ósseos para fazer ferramentas: uma
indústria primária que passou a incluir, mais tarde, adornos de osso e pedra que alguns autores descrevem como imitação das
técnicas do Homo sapiens, enquanto que outros lhes atribuem autoria própria.[69][70]
Mesmo usando armas, não as arremessavam. Tinham lanças compridas de madeira com uma seta na ponta, mas não as
lançavam. As lanças fabricadas para serem arremessadas eram usadas pelo Homo sapiens. De modo idêntico,
os ritos funerários neandertais, embora implicassem enterrar os mortos, eram menos elaborados que os dos modernos
humanos. Os neandertais também sabiam executar tarefas sofisticadas como as tradicionalmente atribuídas aos humanos:
construir abrigos complexos, controlar o fogo, esfolar animais. Particularmente intrigante é um fémur de urso descoberto em
1995, na Eslovênia, junto de uma fogueira do período musteriense: um tubo com quatro furos em escala diatónica, uma flauta.
Porém ainda existem debates acerca da natureza desse osso e se seria de fato uma flauta ou resultado de predação.
No sítio croata de Krapina[71] datado de há cerca de 130 mil anos, entre muitos itens, uma rocha calcária partida[72] foi escavada
por Dragutin Gorjanović-Kramberger entre 1899 e 1905. A rocha foi analisada por especialistas que propuseram que ela foi
coletada não para processamento adicional pelos neandertais, mas sim por causa de seus atributos estéticos, sugerindo que
os neandertais eram capazes de incorporar objetos simbólicos em sua cultura.[73] Em 2015, Prof Frayer publicou um artigo
sobre um conjunto de garras de águia-rabalva do mesmo sítio Neanderthal que incluía marcas de cortes feitos para transformá-
las em uma jóia, provavelmente, um colar.[74] Em outros locais, os pesquisadores descobriram que eles coletaram conchas e
usaram pigmentos em conchas.[75]
Ferramentas características da cultura musteriense, datadas em cerca de 130 mil anos, encontradas nas ilhas gregas
de Naxos e Creta sugerem que neandertais possuíam capacidade técnica, cognitiva e social para construir pequenas
embarcações para fazer a travessia entre as ilhas e a terra firme. A média do nível do mar ao longo do Paleolítico era mais
baixa do que atualmente, criando pontes de terra entre continentes e atuais ilhas pelas quais hominíneos puderam migrar.
Porém, diferente de outras ilhas gregas onde também foram achadas ferramentas musterienses, Creta foi uma ilha longe da
costa durante todo o Paleolítico, os neandertais da região provavelmente já sabiam como construir canoas simples para se
deslocar até a ilha em uma viagem de menos de um dia.[76] Naxos esteve conectada com terra firma por pontes de terra durante
alguns períodos do Paleolítico e a datação dos achados e do nível do mar na época não é precisa suficiente para afirmar que a
ocupação foi feita por navegação, mas devido a evidencias em outras ilhas gregas a possibilidade não é excluída. Serão
necessárias melhorias nas técnicas de datação das ferramentas e do nível dos mares, assim como novas descobertas
arqueológicas para melhor definir o uso da navegação por neandertais.[77]
Linguagem
Como foi mencionado anteriormente, diferentes populações de Homo neanderthalensis já interagiram com AMH (anatomically
modern humans), que são antepassados bastante similares aos seres humanos atuais. Prova disso é que algumas bactérias
(como a Methanobrevibacter oralis) e doenças foram transmitidas de uma espécie a outra.[78] E nesses encontros, as culturas
trazidas por cada uma dessa população também se encontravam, sendo transmitidas pela linguagem.
Atualmente, muitas das línguas possuem regras bem rígidas que nós seguimos a todo momento, como onde e qual artigo ou
verbo usar para expressar aquela mensagem usando, mesmo sem perceber, habilidades como planejamento, memória e
capacidade motora. Por nós termos essas habilidades, nossa cultura também pode se desenvolver, tornar-se complexa e
passar para as demais gerações. Nós já sabemos que os Neandertais também possuíam uma cultura avançada, só sendo
possível devido à comunicação dentro do grupo e com outros grupos e espécies. Por exemplo, eles se adaptavam a diferentes
ecossistemas, enterravam seus mortos, construíram grandes estruturas, exploravam cavernas e utilizavam adornos como
penas.[79]
Os Neandertais possuíam aparato vocal desenvolvido, controle de respiração e sensitividade acústica, todas características
presentes no homem moderno, assim como o volume coclear, a audição e o osso hioide também similares, apesar de
diferenças anatômicas. Entretanto, é difícil comprovar a existência de uma língua pré-histórica.[80][79] Apesar de já sabermos que
os AMH possuíam língua, não podemos inferir que todos os hominíneos primitivos tinham também. Afinal, a evolução de uma
língua requer uma interação complexa entre exaptação, reorganização, plasticidade fenotípica, adaptação e evolução cultural,
podendo levar séculos e milênios.[81] E a fala pode ser ainda mais complexa, pois envolve a movimentação coordenada de
diversos músculos e ossos, além de conexões neurais com a língua, laringe e musculatura.[82][83]
Quando consideramos as habilidades que uma espécie precisa ter para sobreviver em diferentes habitats desde o Ártico até o
Mediterrâneo, vemos que os Neandertais usavam algum tipo de comunicação, ainda que rudimentar, capaz de passar
informações sobre localização de presas, onde é seguro se reunir, fauna e flora, relações sociais e tecnologias. Então, apesar
de que dificilmente poderemos ter contato com a língua neandertal em um futuro próximo, muitos pesquisadores acreditam que
eles possuíam sim, linguagem.[79]
Sociedade
A estrutura social do homem de Neanderthal era semelhante às sociedades modernas de caçadores-coletores de Homo
sapiens. Como em nossa espécie, mostraram-se unidos por laços afetivos e possuíam habilidades como o altruísmo, já que
cuidavam de indivíduos fracos ou doentes que, de outra forma, não teriam sobrevivido. No entanto, acredita-se que, com base
no pequeno tamanho dos grupos e no estilo de vida nômade, os neandertais sentiam pouca predileção por se confraternizarem
com grupos externos, concentrando as interações sociais em torno dos indivíduos do clã. Foram encontrados até restos que
apontam para uma divisão do trabalho baseada no sexo do indivíduo.[84] Pegadas de neandertais encontradas
na Europa mostram 36 neandertais caminhando ao longo de uma praia, com as crianças pulando e brincando na areia.[85]
A ideia tradicional postula que as crianças desta espécie recebiam menos atenção dos adultos em comparação com os
humanos modernos, vendo a infância dos Neandertal como especialmente difícil e perigosa; Vários fósseis de jovens mostram
a existência de ossos com sinais de doenças e feridas não curadas durante meses, até anos. No entanto, um estudo conjunto
de 2014 entre pesquisadores do Centro de Paleoecologia Humana e Origem Evolutiva e do Departamento de Arqueologia da
Universidade de York realizou um estudo no qual eles sugerem que os neandertais jovens tiveram uma maior integração dentro
do grupo, e por estes receberam maior proteção que a proposta anteriormente. Esses indivíduos mostram maior simbolismo do
que entre os adultos, incluindo o maior grau de elaboração de suas sepulturas. Dessa forma, a aparente falta de atenção na
infância realmente mostraria as conseqüências de viver em um ambiente hostil.[86]
Prova de compaixão entre os membros do mesmo grupo é a descoberta na caverna de Shanidar, no Curdistão, de um
indivíduo que teria alcançado a velhice apesar da amputação do antebraço, a presença de vários ferimentos na perna direita,
cegueira de um olho e uma surdez congênita. A sobrevivência desse indivíduo teria sido impossível sem o cuidado de outros
neandertais, já que suas várias feridas o tornaram uma presa fácil para os predadores.[87]
O tamanho e a distribuição dos sítios de Neandertais, juntamente com a evidência genética, sugerem que os neandertais
viviam em grupos muito menores e mais dispersos do que os do Homo sapiens anatomicamente moderno.[88][89] Os ossos de
doze neandertais foram descobertos na caverna El Sidrón, no noroeste da Espanha. Acredita-se que eles tenham sido um
grupo morto e massacrado há cerca de 50 mil anos. A análise do DNA mitocondrial mostrou que os três homens adultos
pertenciam à mesma linhagem materna, enquanto as três mulheres adultas pertenciam a diferentes linhagens maternas. Isto
sugere uma estrutura social patrifocal onde os homens permaneciam no mesmo grupo social e as mulheres saiam do grupo em
que nasciam.[90]
Estrutura dos assentamentos
Estimativas do número médio de indivíduos que formavam um assentamento podem utilizar diferentes métodos:
comparações etnográficas com assentamentos de sociedades caçadoras coletoras de ambientes extremos atuais, análise da
forma de ocupação do espaço, número de fogueiras em áreas de dormir, padrões de consumo de carne e estimativas de área
de exploração do ambiente.[91] O mais comum é encontrar pequenos grupos de 12 a 25 indivíduos, provavelmente relacionados
uns aos outros (podendo chegar à consanguinidade em alguns casos) que frequentemente se movem pelo território. Outros
achados apontam locais ocupados por até 30 indivíduos e pegadas ao longo de uma praia na Espanha apontam para um grupo
de 36 indivíduos, um terço do qual eram jovens e crianças.[85][92] No entanto, também foram encontradas ocupações de apenas
um indivíduo ou grupos de 3, esses achados são geralmente atribuídos a acampamentos temporários de grupos de caça.
Também não é excluída a possibilidade dos grupos de 12 a 25 indivíduos se associarem com outros em comunidades maiores
em momentos específicos, como tempos de maior abundância de alimentos ou durante grandes migrações de animais. Se
encontrados maiores indícios desses grandes agrupamentos ocasionais, isto seria um indicador de desenvolvimento da
linguagem para maior organização social.[93]
Tamanhos menores de grupos e falta do domínio completo do fogo foram conclusões muito comuns de estudos mais iniciais
dos primeiros achados neandertais, quando cientistas se baseavam na teoria de que essa espécie, por ser diferente dos
humanos atuais e estar extinta, seria mais primitiva, pouco inteligente e incapaz de realizar tarefas ou formar estruturas sociais
mais complexas. Porém com um aumento nos achados arqueológicos da espécie e avanço das pesquisas, já é maior
consenso na comunidade científica que os neandertais possuíam domínio do fogo[94][95] e organizações sociais e espaciais mais
complexas do que antes acreditado.[96][91]
Assentamentos neandertais são quase sempre encontrados ao abrigo da entrada de cavernas e mostram uma estrutura básica
com alguns locais bem delimitados, muito similar a atuais grupos aborígenes do deserto australiano.[97][98] Uma área comum
centrada em volta da fogueira principal, utilizada para aquecimento e preparo de alimentos ao longo do dia e áreas para dormir
acompanhando as paredes da caverna, com pequenas fogueiras para se aquecer colocadas perto da cabeça a cada um ou
dois indivíduos. Estimativas dessas organizações nos sítios de Abric Romaní,[99] Tor Faraj e em Molodova I[91] apontam para
grupos de 13, 16 e 13-16 indivíduos respectivamente, mas se considerada a possibilidade da fogueira central também servir de
aquecimento durante o sono as estimativas apontam para totais de 20 pessoas em cada uma das localidades. Um estudo
anterior em Tor Faraj utilizando diferentes estatísticas apontou para um grupo de 12 a 15.[100]
Essas formações de assentamento demonstram alto conhecimento de manuseio do fogo, em muitas cavernas foram achados
minerais que facilitam a criação de fogo ou queima da madeira. As fogueiras posicionadas rente à parede das cavernas fazem
com que a fumaça suba por ela e se disperse no alto criando uma melhor ventilação do acampamento. O entendimento dessa
dinâmica foi importante para todas as espécies de hominínio que habitaram entradas de cavernas e utilizavam fogo, já que não
se atentar para o fluxo de fumaça pode deixar o ar da caverna não respirável por muitos minutos.[101]
Há duas importantes escavações de assentamentos que são exceção ao padrão de habitação em entradas de cavernas. O
sítio arqueológico Molodova I na Ucrânia apresenta, além de ferramentas de pedra, traços de pigmentos e indícios de fogueira,
diversos acúmulos de ossos de mamute. Uma destas acumulações é um arranjo circular de presas e outros ossos alongados,
com algumas ferramentas e diversas fogueiras no centro, que foi arranjada intencionalmente.[102] Esse local foi habitado
sucessivamente por diversas gerações mais de 44 mil anos atrás, fazendo desse assentamento o mais antigo feito utilizando
ossos de mamute. As diversas fogueiras e o acúmulo de ossos de ao menos 15 mamutes diferentes mostra que o local serviu
de assentamento permanente mesmo que ao ar livre.[103] No sítio de 'Ein qashish em Israel há diversos indícios de habitação
por diversas vezes, embora que sempre por períodos curtos. O acampamento mostra indícios das mais diversas atividades:
preparo de ferramentas de pedra, processamento de caça, preparo de alimentos. Até recentemente não era possível atribuir o
local como habitação de neandertais ou Homo sapiens, já que ambas espécies coexistiram na região do Oriente Médio durante
o período de ocupação do sítio. Porém recentemente foram descobertos ossos de ao menos dois indivíduos Homo
neandertalensis no local, constituindo o primeiro resto anatômico de neandertal a ser encontrado em um acampamento a céu
aberto.[104] Análises do assentamento mostram ocupação persistente por grande período de tempo, embora não de forma
contínua, isso é atribuído a um uso sistemático do local em conjunto com outros assentamentos em cavernas já descobertos
pela região, compondo um mosaico de locais de habitação geral utilizado dependendo das condições ambientais do momento.
[105]
Uma construção neandertal de aproximadamente 175 mil anos de idade mostra um arranjo espacial similar de fogueiras, porém
diferente em outros aspectos. Localizada em parte mais profunda na caverna de Bruniquel na França, dois círculos formados
por estalagmites quebradas definem a área de aproximadamente 6 e 2 metros de comprimento, além de quatro pilhas de
estalagmites. Vários pontos de fogueira foram encontrados, mas é incerto se também representam locais para dormir já que
nenhum outro assentamento neandertal escavado ficam em locais caverna adentro, se limitando as áreas de entrada.[106][107]
Alimentação
Evidências apontam que os Neandertais mantinham uma dieta baseada em carne,[25] sendo considerados
como superpredadores.[108] A maior parte da quantidade de proteína adquirida pelas populações vinha de presas caçadas
como veado vermelho (Cervus elaphus), cavalos (Equus sp.), bisontes (Bison priscus), rinocerontes-lanudos (Coelodonta
antiquitatis), e diversas outras espécies de médio e grande porte como mamutes e grandes bovídeos.[25][109] Aparentemente, a
caça era focada em presas adultas, diferente de outros predadores cursoriais, os quais focam em presas jovens ou mais
velhas.[25]
As quantidades de nitrogênio e carbono encontradas no colágeno de ossos fossilizados apontam que a ecologia trófica desses
hominídeos se manteve bastante estável ao longo do tempo, constituindo-se principalmente pelo consumo de carne de
grandes herbívoros, habitantes de ambientes abertos.[108]
Além disso, há evidências de que os Neandertais teriam incorporado animais menores em sua dieta, tais
como tartarugas, crustáceos, lebres, coelhose pássaros — hábito que se intensificou durante a transição climática observada
no período entre Paleolítico Médio e Superior.[25] Também existem evidências, reveladas pela análise isotópica de seus dentes
e estudo de seus coprólitos (fezes fossilizadas)[110] de que eles utilizavam recursos vegetais para sua alimentação,
como legumes e tâmaras — conforme apontam resquícios encontrados nos cálculos dentais de Neandertais do Iraque e
da Bélgica; e também sementes carbonizadas, nozes, pistache e até mesmo grama — segundo resquícios encontrados em
cavernas de Israel.[25]
Reprodução
A reprodução entre membros da mesma família foi um dos fatores que levou à extinção. Num estudo publicado em Fevereiro
de 2019 na revista Scientific Reports, paleontólogos, geneticistas e arqueólogos usaram os restos fósseis encontrados na gruta
de El Sidrón, nas Astúrias, para estudar 13 indivíduos que viveram há 49 mil anos. Estes antepassados humanos
desapareceram devido a "uma combinação de fatores ecológicos e demográficos, que incluiu a interação com seres humanos
modernos". Viviam em grupos pequenos e praticamente isolados uns dos outros, o que levou à endogamia entre estes grupos
e, finalmente, a uma grande diminuição da variabilidade biológica. Nos cerca de 2 500 vestígios fósseis que estudaram, os
cientistas concentraram-se em várias partes do corpo e detetaram dezassete anomalias congénitas nos treze indivíduos. Pelo
menos quatro tinham a mesma anomalia nas vértebras cervicais e vários apresentavam anomalias no osso do pulso.[111]
Uma abordagem foi feita com base na modelagem demográfica. Os resultados sugerem que uma redução muito pequena na
fertilidade pode explicar o desaparecimento da população de Neandertal. De acordo com esta pesquisa, esta diminuição não
diz respeito a todos os neandertais femininos, mas apenas aos mais jovens (menos de 20 anos).
Cultura popular
Os neandertais foram retratados na cultura popular, incluindo aparições na literatura, mídia visual e comédia. O arquétipo do
"homem das cavernas" zomba dos neandertais e os descreve como personagens primitivos, corcundas, arrastadores de juntas,
empunhando tacos, grunhindo e antissociais, dirigidos apenas pelo instinto animal. "Neandertal" também pode ser usado como
um insulto.