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RAÇÃO VS.

ALIMENTAÇÃO NATURAL

Dra. Manuela Fischer,


Veterinária PhD em Nutrição Animal
SUMÁRIO
1. Apresentação.......................................................................................................................................... 03
2. Introdução…............................................................................................................................................ 04
3. Rações secas ........................................................................................................................................... 05
4. Rações úmidas........................................................................................................................................ 08
5. E, afinal, as rações são seguras? ........................................................................................................... 11
6. Ração causa câncer?......................................................................................................................................12
7. Alimentação natural ..............................................................................................................................14
8. Alimentação natural crua ..................................................................................................................... 15
9. Alimentação natural cozida .................................................................................................................. 17
10. Como calcular a quantidade de comida para seu Pet ..................................................................... 20
11. Por quê eu escrevi esse e-book?............................................................................................................ 25
12. Redes sociais .......................................................................................................................................... 26
13. Referências Bibliográficas........................................................................................................................27
14. Links de artigos extras .......................................................................................................................... 29
15. Currículo .................................................................................................................................................30
16. Contatos..................................................................................................................................................31
Me interessei pela nutrição de cães e gatos ainda na graduação,
quando comecei a frequentar congressos e eventos relacionados
à área. Em 2008 me formei em Medicina Veterinária pela
Universidade Federal do Rio Grande do Sul e decidi fazer mestrado
em nutrição animal. Realizei parte do mestrado na UFRGS e parte
na UNESP em Jaboticabal com o Prof. Aulus Carciofi.

Ingressei no doutorado e uma das minhas pesquisas, na área de


microbiota intestinal, foi realizada na Universidade da Califórnia,
UCDavis, sob orientação da Profa. Andrea Fascetti, pesquisadora
renomada mundialmente.

Ao longo da pós-graduação trabalhei como responsável técnica


de empresas, tendo adquirido experiência com registro de
estabelecimento e de produto no Ministério da Agricultura, Pecuária
e Abastecimento (MAPA). Atualmente sou responsável técnica e
presto consultoria para empresas, coordeno e sou professora do
curso de Pós-graduação em Nutrição de Cães e Gatos do Qualittas
e atendo em clínicas veterinárias como nutróloga.

Desejo à você uma excelente leitura deste e-book.


Um abraço,
Dra. Manuela Fischer,
Veterinária PhD em Nutrição Animal
03
INTRODUÇÃO

Seguidamente me deparo com a pergunta: você prefere ração ou


alimentação natural? Existem centenas de rações no mercado e
diversos tipos de alimentos ditos naturais, mas o quê exatamente
as pessoas estão comparando?

Vamos entender um pouco do complexo mundo das rações e do


atual e moderno mundo da alimentação natural através das
ponderações a respeito das vantagens, desvantagens e limitações
que cada tipo de dieta oferece.

04
Rações
Podemos dividir as rações em secas e úmidas. São completamente
diferentes e cada uma tem suas particularidades.

SECAS
O volume anual de rações ultrapassa os 2,8 milhões de toneladas (ABINPET, 2019), sendo que as secas
dominam o mercado brasileiro. O alimento seco é prático, tem mais tempo de prateleira, dura mais tanto
no mercado/loja quanto na casa do consumidor. Sua umidade é baixa, o que não favorece o crescimento
fúngico e a deterioração. Além disso, é concentrado em energia (>3.500kcal/kg), o que significa que pequenos
volumes são necessários para atingir o requerimento calórico dos animais. Isto pode ser uma vantagem para
animais exigentes e magros demais, como pode ser uma desvantagem em se tratando de animais gulosos e/
ou obesos.

As principais vantagens do alimento seco são:


- praticidade
- preço
- durabilidade
- alta energia (animais que precisam ganhar peso)

As principais desvantagens são:


- baixa ingestão de água total pelo animal
- alta energia (pode promover o ganho de peso se o tutor não seguir a recomendação do fabricante ou do
veterinário) 05
Em verdade, o principal problema das rações secas é a diferença entre os produtos. Há um abismo entre
um alimento econômico e um superpremium. Para esclarecer, vou fazer uma breve explanação sobre cada
categoria de alimento seco industrializado:

Econômico: são alimentos que atendem minimamente as necessidades nutricionais e seus níveis de garantia
batem nos limites mínimos e máximos. Por exemplo, a necessidade proteica de cães adultos é de 18%, logo
um alimento econômico conterá um mínimo de 18% de proteína bruta, eventualmente 19%. As matérias-
primas são de menor qualidade e digestibilidade, o que faz com que os animais produzam alto volume fecal. A
principal fonte de proteína e, muitas vezes a única, é a farinha de carne e ossos, o que explica o alto cálcio da
maioria dos alimentos dessa categoria. A gordura, ingrediente mais caro, é baixa, contribuindo muito pouco
para a palatabilidade e a energia (caloria) da ração.

Premium: os níveis de garantia se afastam um pouco dos limites mínimos e máximos. A proteína bruta e a
gordura são um pouco mais altas, o que melhora a palatabilidade do alimento e, como são matérias-primas
superiores, melhora também a digestibilidade. Esses alimentos costumam conter cenoura, espinafre e corantes,
para atrair o público que procura alimento com vegetais. Além da farinha de carne e ossos, utiliza-se farinha
de vísceras de aves como fonte de proteína animal, além do glúten de milho como fonte de proteína vegetal.
Com isso, consegue-se aumentar um pouco o nível de proteína sem elevar tanto o de matéria mineral. 06
Superpremium: não contém corantes e alguns produtos utilizam antioxidantes (conservantes) naturais. Os níveis
de garantia estão longe dos mínimos e máximos. A formulação não é feita para atingir esses níveis e sim para
alcançar a nutrição ótima. Proteína em maiores quantidades e de alta qualidade. É comum ver dietas com várias
fontes de proteína animal como carne mecanicamente separada de aves, ovo em pó, proteína isolada de suíno,
farinha de vísceras de aves, carne de salmão, etc... Além de matéria mineral baixa, a fibra costuma ser baixa
também, o que contribui para uma elevada digestibilidade e pequeno volume fecal. Além disso, algumas rações
contêm nutracêuticos interessantes para a saúde como mananoligossacarídeos (MOS), fosfoligossacarídeos
(FOS), levedura de cerveja, inulina, hexametafosfato de sódio, condroitina, glucosamina, óleo de peixe (rico em
EPA e DHA), minerais quelatos e por aí vai.

Como é possível perceber, há uma grande diferença


entre as rações do mercado. Definitivamente
não são todas iguais. Um ponto importante que
devemos pensar é que as rações utilizam, em sua
maior parte, ingredientes que não são aproveitados
pelo consumo humano. É uma forma responsável
e sustentável de impedir que alimentos de boa
qualidade (sim, se bem processados eles são!)
sejam desperdiçados e poluam o meio ambiente. Já
imaginou se os quase 80 milhões de cães e gatos do
Brasil competissem com a alimentação humana?

07
Úmidas
O mercado dos alimentos úmidos não é tão expressivo no Brasil, mas vem crescendo bastante nos últimos
anos. Diferente dos secos, não há uma divisão tão marcante em categorias, mas pode-se dizer que existem
os “Premium” e os “Superpremium”. A grande maioria deles é alimento completo, ou seja, o animal pode ser
alimentado exclusivamente com ração em sachê ou lata. Deve-se ter cuidado com isso pois uma minoria
não é alimento completo, e sim, alimento específico para agrado, os conhecidos petiscos. Esses não devem
substituir o alimento completo pois causaria deficiências nutricionais importantes. Basta ler o rótulo para se
certificar de que é alimento completo.

Quem busca um produto mais próximo ao natural pode utilizar apenas alimento úmido pois esse não possui
corantes e nem conservantes, uma vez que são esterilizados em autoclave. Basta ver que sua validade é de 2
dias após aberto. Além disso, contém níveis altos de proteína, gordura, umidade, características semelhantes
ao alimento “natural”.

A diferença básica e óbvia dos alimentos úmidos para os alimentos secos está no teor de umidade que chega
a 82% contra 8-12% do alimento seco. A inclusão de carboidrato no alimento úmido é baixa, visto que
seu uso é dispensado já que não há processo de extrusão. Outras diferenças estão nos níveis de proteína e
gordura, mais elevados que no alimento seco, quando comparados na matéria seca. Fibra é mais elevada pois
são utilizadas gomas para dar consistência e “liga” ao produto. Essa fibra é solúvel e produz ácidos graxos
de cadeia curta, que são fonte de energia para enterócitos e colonócitos. Porém, em excesso, pode causar
problemas gastrointestinais, por esse motivo as empresas incluem também a celulose ou a fibra de cana de
açúcar, fibras insolúveis que conferem características desejáveis às fezes, deixando-as mais bem formadas
e sequinhas. Importante fazer uma transição lenta do alimento seco ao úmido para evitar fezes amolecidas,
comum nas trocas abruptas. A microbiota intestinal está adaptada a um tipo de alimento, qualquer troca sem
transição pode acarretar em disbiose e em efeitos indesejados como desconforto abdominal, gases e diarreia. 08
Os alimentos úmidos apresentam vantagens em
relação aos secos, são elas:

- saúde para o trato urinário, auxiliam na diluição


urinária e previnem urolitíases
- mais palatável que o seco
- baixa caloria: em geral menos de 1000kcal/kg,
ideal para animais gulosos e/ou obesos
- maior volume de alimento ingerido (um cão de
10kg consome em média 700g de alimento úmido
contra 150g de alimento seco super premium)

A desvantagem é a questão financeira. O alto custo


do alimento úmido no Brasil limita sua utilização. Já
mudou muito de uns anos para cá e a tendência é
que mude mais nos próximos anos, com a entrada
de novos produtos e a popularização desse tipo de
alimento. Fazer a mistura de alimento seco com
úmido é uma alternativa para minimizar o custo.
As empresas chamam isso de mix fedding e pode
ser feito em qualquer proporção, sendo a mais
recomendada a de 75% de alimento seco e 25% de
alimento úmido.
09
E sobre o sódio, as dietas úmidas não contêm excesso?

Essa é uma afirmação proveniente de quem não entende de nutrição pet. Na verdade os alimentos secos
contêm mais sódio do que os úmidos, justamente para incentivar o consumo de água, uma vez que são baixos
em umidade (8%). O alimento úmido já fornece bastante água, não havendo necessidade de maior inclusão do
sal para estimular o seu consumo. Basta fazer os cálculos a partir da declaração de sódio na embalagem para
vermos que as secas contêm mais. Ah sim, para fazer o cálculo é preciso entender conceito de matéria seca e
fazer a conversão do nível de garantia. Quem propaga essa frase, obviamente, não sabe que cálculo é esse.

Os estudos demonstram que níveis de até 1,5% de sódio na matéria seca são seguros e as rações utilizam
aproximadamente a metade disso ou até menos. Apenas as rações secas específicas para o trato urinário
contêm em torno de 1,1% justamente para aumentar a ingestão de água e a diluição urinária, afim de prevenir
a formação de cálculos urinários.

Então fica a dica: se você tem um cão ou um gato com urolitíase e fornece alimento seco, procure o que contém
mais sódio nos níveis de garantia do rótulo, isso estimulará o consumo de água e poderá evitar recidivas. Vale
também como medida preventiva para animais que bebem pouca água.

10
E, afinal, as rações são seguras?

Utilizamos ração para cães e gatos há mais de 30 anos e até hoje houve
apenas uma grande contaminação com matéria-prima importada da
China, em que vários animais morreram nos Estados Unidos. Só no Brasil
são produzidas mais de 2,8 milhões de toneladas por ano, nos EUA são
mais de 9,6 milhões. Com esse volume todo produzido anualmente, se não
fossem seguras teríamos notícias de problemas nos lotes com frequência,
mas isso não acontece. Quase 80% dos pets que come ração no Brasil
consome alimento econômico, muitas vezes à granel, ou seja, lógico que
está longe da nutrição ótima, mas ao menos não apresentam deficiências
nutricionais graves (que estamos vendo com alimentação natural mal feita).
As pesquisas demonstram que em termos de segurança microbiológica, os
alimentos industrializados são muito seguros e em alguns artigos dos links
lá no final do e-book (não deixe de ler o 8º) é possível comprovar essa
afirmação.

11
Ração causa câncer?

Quem afirma que ração dá câncer deixa escancarada a falta de


conhecimento em nutrição pet, não sabe fazer busca por artigos científicos
e com certeza lê textos em sites de alimentação natural que não usam
referências confiáveis. E pior, refere que existem estudos comprovando
essa relação, só não mostra quais são. Muita gente leiga ouve essa fala
vinda de alguém que parece ter credibilidade e acredita.
O câncer é uma doença multifatorial, ou seja, é causada por um somatório
de fatores, tanto genéticos como ambientais. Nunca nenhuma pesquisa
concluiu que alimento industrializado causa qualquer tipo de câncer em
cães e gatos. A questão é que é muito mais fácil culpar a ração do que
simplesmente aceitar a doença. Em alguns casos a culpa pode até ser
nossa, quer exemplos? Não castrar fêmeas, deixar o animal ficar obeso,
comprar filhotes em canil “de fundo de quintal” ou pela internet....

A castração de fêmeas reduz drasticamente a chance de neoplasia mamária, então não castrar e culpar a ração pelo aparecimento
do câncer parece bem injusto. Além disso, estudos têm demonstrado que o sobrepeso ou a obesidade são fatores de risco
para o início precoce de carcinoma mamário em cadelas (Sonnenschein et al., 1991; Alenza et al., 2000; Lim, H.Y, 2015). Um
estudo bem recente (Tesi et al., 2020) concluiu que o sobrepeso parece estar relacionado com maior prevalência de carcinomas
mamários agressivos podendo afetar negativamente o tempo de sobrevivência de cadelas acometidas.

12
Ração causa câncer?
Talvez um grande culpado do câncer seja a reprodução de animais em canis que não fazem adequadamente o controle de
consanguinidade. As pessoas compram cães caros de canis teoricamente renomados mas não fazem ideia se são feitos testes
genéticos das doenças comuns da raça nas suas matrizes e nem se a diversidade genética é praticada. Outras compram por
sites de internet e pagam barato por um filhote de raça que, provavelmente, veio de canil clandestino. Preciso dizer que nesse
tipo de lugar cruzam irmãos, mãe e filho, etc? Mas a culpa dos problemas desses animais no futuro é de quem? Da ração! Não
parece simplista demais?

Dá uma lida nesse texto: www.geneticacanina.com/cancer e entenda qual a relação entre consanguinidade e câncer. Super
recomendo a leitura!

Enfim, sou adepta às rações de excelente qualidade (Superpremium) e também à alimentação natural cozida bem formulada.
Fico doida com afirmações infundadas, levianas e generalistas. Sim, tem muita ração ruim à venda, assim como tem mais de
100 receitas de dietas caseiras mal formuladas e deficientes em diversos nutrientes (leia o artigo do 15º link).

13
ALIMENTAÇÃO NATURAL
Em 2007 os Estados Unidos passaram por um recall de pet food proveniente
da China devido à contaminação fraudulenta por melamina. Esse foi
o ponto de partida para o interesse em novas alternativas alimentares
para cães e gatos. De lá para cá surgiram milhares de adeptos e dezenas
de empresas investindo na “alimentação natural”. Vale ressaltar que
o termo natural não é o mais adequado, visto que os animais não são
selvagens, não estão na natureza e, pelo contrário, são domiciliados e
tratados como seres humanos. Natural seria se recebessem a presa viva,
para que expressassem todo o seu comportamento natural desde a caça
até o consumo de todas as partes do animal. O que há de natural na
domesticação? Todo o processo é contra a natureza. Tiramos os animais
do seu habitat, os enclausuramos em espaços pequenos, reprimimos
seus comportamentos (latidos, arranhaduras, mordeduras) e ainda os
castramos (repressão dos comportamentos sexuais). Por quê, então, faria
sentido a alimentação natural? Por uma questão de saúde? Eis que surgem
diversas opiniões a respeito. De fato, pouco se sabe sobre as dietas ditas
naturais, difícil dizer se são mais saudáveis ou não diante da falta de estudo e de tantas fórmulas e receitas equivocadas.
Pedrinelli et al. (2017) avaliaram em software de nutrição animal 106 receitas de dietas provenientes da internet e relataram o
seguinte: nenhuma das dietas analisadas estava completa, apresentando um ou mais nutrientes abaixo do nível recomendado.
A metade não tinha determinação precisa dos ingredientes e suas quantidades. De todas as dietas, 53,7% não continham
qualquer suplemento vitamínico-mineral, nem uma única inclusão mineral ou vitamínica.
Esse estudo evidencia a importância de se buscar um profissional habilitado para formular dietas. A formulação de dietas
completas e balanceadas envolve tempo de estudo em nutrição animal e tempo de estudo em formulação em softwares
específicos, idôneos.
Assim como fizemos com as rações, dividindo-as em secas e úmidas, dividiremos a alimentação natural em cruas e cozidas.
14
CRUAS
Os adeptos da alimentação crua afirmam que essa é a
dieta mais próxima à da natureza, assumindo que a dieta
da natureza seja a ideal para cães e gatos domiciliados,
castrados e de baixa atividade física. Um dos argumentos
está relacionado ao carboidrato, que muitos acreditam
não ser digerido pelos cães. Um estudo da revista científica
Nature, de 2013, demonstrou que há diferença entre cães
e lobos em dez genes com papéis importantes na digestão
do amido e que os cães estão adaptados a dietas ricas em
carboidratos, diferentemente dos lobos. Estudos comprovam
que a digestibilidade do amido quando bem processado passa
de 98% em cães e de 93% em gatos (Murray at al., 2001;
Carciofi et al., 2008; De Oliveira et al., 2008).
Não há estudos que comprovem os benefícios das dietas
cruas em relação às dietas convencionais. O que a literatura
relata é que existem riscos associados a essa prática. Veja bem,
não significa que não existam benefícios, a questão é que não
existem estudos contundentes para suportar essa afirmação
até os dias de hoje. Os estudos apontam para o risco de
desbalanceamento nutricional e de contaminação bacteriana
e parasitária, além do risco de obstrução e perfuração quando
a dieta contém ossos. Diversas entidades e associações como
Food and Drug Administration (FDA), American Veterinarian
Medical Association (AVMA), Centers for Disease Control
and Prevention (CDC), American Animal Hospital Association 15
(AAHA) e o American College of Veterinary Nutrition Strohmeyer et al, 2006; van Bree et al., 2018; Davies et
(ACVN) se posicionam nos seus websites contra a prática al., 2019).
de alimentação com carnes cruas para pets. Referem Por esses motivos acima expostos, a comunidade
que os benefícios alegados são restritos a depoimentos científica concorda que, se for para dar dieta natural aos
e não existem estudos publicados que suportem as animais, que ela seja cozida e não crua.
reivindicações feitas por defensores da dieta crua.
O ACVN conclui que, neste momento, a grande maioria SE VOCÊ FORNECE AN CRUA COM OSSOS PARA SEUS
dos supostos benefícios da alimentação crua permanece ANIMAIS, RECOMENDO FORTEMENTE A LEITURA DOS
não comprovada, enquanto os riscos e consequências ARTIGOS CITADOS NOS LINKS AO FINAL DO E-BOOK.
já foram documentados. O FDA divulga no seu website
diversas empresas que fazem recall dos seus produtos O quê você leu até hoje não é científico, entenda isso!
congelados por provável contaminação por Salmonella e/ Pesquisadores brasileiros de Universidades como USP
ou Listeria monocytogenes. É sabido que o congelamento e UNESP também apóiam o uso de dietas cozidas e
não mata diversas espécies de bactérias causadoras de contraindicam alimentação crua. Será que estão todos
doenças em humanos e animais. Também é sabido que errados? Nem vou comentar o que os veterinários
cães dificilmente manifestam sinais clínicos, o problema especialistas em odontologia e gastroenterologia acham
é que se tornam uma fonte oculta de contaminação para sobre o consumo de ossos, esse assunto dá outro e-book
o lar, muitas vezes habitado por crianças, idosos ou por com muitas fotos de fratura de dentes, obstrução e
pessoas imunocomprometidas. perfuração gastrointestinal.
A literatura que relata os benefícios é baseada em livros
de um único autor, que coloca sua experiência pessoal
mas não embasa cientificamente as declarações.
Diversos artigos científicos publicados em journals
indexados alertam para os riscos e não citam benefícios
da dieta crua (Lucas et al., 1999; Lejeune, 2001; Joffe &
Schlesinger, 2002; Stiver et al., 2003; Finley et al., 2006, 16
COZIDAS
Assim como os alimentos úmidos, AN cozida não contém
conservantes e nem corantes e apresenta diversos
benefícios:

- aumenta a ingestão hídrica e a diluição urinária,


prevenindo urolitíases;
- extremamente palatável;
- flexibilidade na formulação: pode-se formular
dietas com menos de 1000kcal/kg para animais gulosos
e/ou obesos. Já para animais exigentes e inapetentes,
dietas com mais de 1.500kcal/kg são ideais;
- escolha dos ingredientes de acordo com a preferência
do animal e do tutor;
- útil em diagnóstico de hipersensibilidade alimentar;
- atende doenças concomitantes, em que não há
alimento industrializado.
- mais segura em termos de contaminação, desde
que as boas práticas de fabricação sejam seguidas.

As dietas cozidas são altamente palatáveis, digestíveis


e muito mais seguras que as cruas em termos de
contaminação, perfuração e obstrução. Entretanto,
17
também podem ficar desbalanceadas. É comum vermos tutores que trocam ingredientes da fórmula,
substituem a suplementação mineral e vitamínica ou até mesmo não suplementam conforme orientação.
Embora seja uma excelente alternativa em diversos casos clínicos, nem sempre o tutor tem o perfil para
cozinhar e alimentar seu pet com AN cozida. Nesses casos é indicado comprar de empresas do ramo,
desde que tenham o registro no Ministério da Agricultura e que o formulador da dieta seja veterinário
ou zootecnista com pós-graduação em nutrição de cães e gatos.
Infelizmente muitas pessoas têm se aventurado a “formular” dietas para empresas ou para clientes e o
resultado disso, que são as deficiências nutricionais, acaba chegando aos consultórios cedo ou tarde.
Muitos conceitos da nutrição humana não se aplicam à nutrição animal e esse é um erro frequentemente
observado. Um exemplo é o uso do azeite de oliva como única fonte de gordura. Por ser um óleo
saudável para nós humanos, utiliza-se para cães e gatos como se para eles fosse também, sendo que
azeite de oliva é rico em ômega 9 e pobre em ômega 6, essencial aos cães e gatos. Isso somado ao uso
de carnes extremamente magras resulta em deficiência de ácidos graxos essenciais.

Mas é possível utilizar o azeite de oliva junto com outro óleo rico em ômega 6? Sim, é, mas não há
necessidade! Consulte um profissional habilitado para que ele faça essa mistura da forma correta, sem
que falte o óleo que é essencial e sem que a dieta fique muito elevada em gordura e caloria.

Óleo de coco é outro erro, já foi contraindicado pela Sociedade Brasileira de Endocrinologia e
Metabologia e você pode acessar seu posicionamento aqui: https://www.endocrino.org.br/media/
uploads/posicionamento_oficial_óleo_de_coco_sbem_e_abeso.pdf

18
Infelizmente há muitas pessoas desinformadas que, além de desconhecerem as necessidades de
ácidos graxos essenciais de cães e gatos, insistem em utilizar o óleo de coco, ingrediente com alto
teor de gorduras saturadas e pró-inflamatórias.

Ante o exposto, pode-se concluir que não há dieta que seja a melhor para todos os animais, visto
que cada uma tem suas vantagens e limitações. O importante é conversar com o veterinário de
confiança para que a escolha da dieta seja individual, baseado nas necessidades do animal e nas
possibilidades do tutor. Sendo dieta seca Superpremium, alimento úmido ou alimentação natural
cozida bem elaborada, qualquer uma atenderá as necessidades dos animais e poderá promover
qualidade de vida e longevidade.

19
COMO CALCULAR A QUANTIDADE
DE COMIDA PARA MEU PET?
Nos guias de requerimentos nutricionais de cães e gatos, como NRC e
FEDIAF, é possível encontrar as equações que estimam as exigências
calóricas dessas espécies. ATENÇÃO! Lá você não vai encontrar
recomendação de consumo de alimento baseado em percentual do
peso. Sabe aquele cálculo que determina que um cão deve consumir
o equivalente ao percentual de 3% até 10% do seu peso? Ou seja, um
animal com 10kg consumiria de 300g a 1000g de alimento natural.
Pois é, está errado! E sabe porquê? Primeiro porque esse cálculo não
consta nos guias nutricionais (NRC, AAFCO, FEDIAF) e segundo
porque o quanto o animal deve consumir não depende somente da
sua exigência calórica, mas também das calorias da dieta. Eu tenho
formulações com 1kcal/g e outras com 1,3kcal/g e até 1,8kcal/g. É
evidente que esse cão de 10Kg irá consumir quantidades diferentes
de cada dieta.

Você pode estar se perguntando: mas eu li em livros de autores americanos essas indicações. E eu rebato a
pergunta: Desde quando livro tem validade científica? Qualquer pessoa escreve um livro com suas experiências,
opiniões e “achismos” sobre determinado assunto. Mesmo que esses autores sejam veterinários. Será que esse
autor é diplomado pelo Colégio Americano de Nutrição Animal? Tenho certeza de que não é, mas você pode
entrar no site e buscar pelo nome você mesmo: www.acvn.org. Lá você vai encontrar grandes nomes, de alta
relevância e contribuição ao conhecimento de nutrição de cães e gatos. Pesquisadores renomados que publicam,
além de livros, ARTIGOS CIENTÍFICOS em renomadas revistas internacionais. 20
COMO CALCULAR A QUANTIDADE
DE COMIDA PARA MEU PET?
Então vamos lá! Esqueçamos as informações nada científicas e vamos ao que a literatura recomenda:
Cão com 10kg, escore de condição corporal 5 (ideal – nem magro e nem gordo), passeia durante 15 minutos 2
vezes ao dia e é inteiro. Se fosse castrado usaríamos 80 Kcal no lugar de 95. Mas a definição da fórmula deve ser
baseada em uma boa anamnese nutricional.
A equação mais adequada para a maioria dos cães domiciliados é a seguinte:
Necessidade Energética de Manutenção (NEM): (P)0,75 x 95 kcal
Onde: P é o peso em Kg do animal

No caso do animal do exemplo o total de calorias necessárias diariamente é de 534kcal.


Depois é preciso definir qual dieta ele irá consumir e ela pode ser mais ou menos calórica. Escolhendo uma dieta
de caloria intermediária, ou seja, energia metabolizável (EM) de 1,3kcal/g, o consumo é calculado dividindo-se
a NEM pela EM.
Quantidade de alimento diário: NEM = 534kcal/dia = 410g
EM 1,3kcal/g

Bom, e como fazer para montar a dieta? Esse gráfico de proporções está correto?

21
COMO CALCULAR A QUANTIDADE
DE COMIDA PARA MEU PET?
Para exemplificar, fiz duas dietas em que a única diferença entre elas foi a carne, na da esquerda utilizei carne
bovina (acém) e na da direita peito de frango. Vale lembrar que os cortes das carnes do mesmo animal também
diferem em termos de calorias, percentual de gordura, água, vitaminas e minerais, então se trocar acém por filé
mignon alguns nutrientes irão mudar na formulação final.
Nessa dieta de baixa caloria perceba que a troca do acém por peito de frango implicou aumento do fígado e
inclusão do óleo de girassol, devido ao fato do peito de frango ser uma carne muito magra. O suplemento mineral
e vitamínico também foi mais exigido nessa formulação com frango.

22
COMO CALCULAR A QUANTIDADE
DE COMIDA PARA MEU PET?
As carnes variam muito entre elas, em termos de nutrientes, assim como carboidratos, vegetais, etc.. se utilizamos
um ingrediente com mais minerais na formulação e trocamos por um com menos minerais, fica por isso mesmo?
NÃO, é preciso um programa para ajustar o que falta e o que sobra de nutrientes cada vez que selecionamos os
alimentos da dieta.
Isso quer dizer que variar os ingredientes de qualquer jeito não mantém o balanceamento da fórmula. Se já
é difícil chegar ao balanceamento com dietas cozidas, imagina a crua com ossos em que cada peça tem um
percentual diferente de proteína, gordura, vitaminas, minerais (ossos!). Por esse motivo a literatura cita que o
desbalanceamento nutricional é um dos problemas das dietas cruas.

Mas e como fazer então? Pode parecer mais fácil e barato consultar a internet ou fazer curso de marmitaria, mas
quem vai pagar a conta lá na frente é você e o seu pet. Procure um profissional que tenha especialização na
área e faça formulação em Software de nutrição animal e ele poderá te dar vários cardápios de receitas FIXAS,
cada uma delas bem balanceada e com suplementação mineral e vitamínica, obrigatória em qualquer opção de
alimentação natural.

Muito cuidado com os especialistas de final de semana, aqueles que fizeram apenas cursos rápidos ou assistiram
algumas palestras e se intitulam nutrólogos de cães e gatos. A nutrição é uma especialidade da medicina
veterinária e deve ser tratada como tal. Você iria em um médico oftalmologista que fez apenas cursos de final de
semana? Não, né? Então não submeta seu animal ou o seu paciente a esse risco! Procure um médico veterinário
nutrólogo ou um zootecnista. Exija pós-graduação de 2 anos ou mestrado, no mínimo, especificamente na área
da nutrição de cães e gatos.
23
COMO CALCULAR A QUANTIDADE
DE COMIDA PARA MEU PET?
E não compre dieta de empresa SEM REGISTRO no Ministério da Agricultura (MAPA). Está chovendo gente
vendendo comida pelo Instagram e Facebook. Sabe como essas pessoas estão “formulando” a comida do seu
pet? Dessa forma que mostrei, totalmente desbalanceada! Por esse motivo há uma legião de veterinários
contra AN, afinal são muitos cães e gatos chegando aos consultórios com deficiências nutricionais que há
décadas não se via.

24
Por que eu escrevi esse e-book?
Porque estou cansada de ver cursos ministrados por pessoas que não têm
conhecimento, currículo, não fizeram pós-graduação específica na área,
mestrado, nada.. e só querem ganhar dinheiro! A maioria fez curso online ou
cursos presenciais rápidos e nutrição não se aprende com poucas horas de
estudo. Também estou muito preocupada com a quantidade de animais com
dietas desbalanceadas que vêm consultar comigo e com colegas veterinários.
E o mais triste, uma enxurrada de tutores que acreditam com todas as forças
que estão fazendo o melhor pelo seu pet.

Espero, com esse e-book, alertar tutores e veterinários e passar a mensagem


de que nutrição de cães e gatos é assunto sério. Procure conhecer o currículo
do profissional que prescreve a dieta para o seu pet, mesmo se você compra
de empresa, afinal, a empresa precisa contratar alguém para formular suas
dietas. Nos sites das empresas procure clicar em “Quem somos” e veja se o
responsável pelas formulações está ali, com seu currículo. Se for alguém da
área certamente a empresa fará questão de deixar bem visível, mas se não
fala nada sobre o responsável técnico ou o nutricionista, é bem estranho...

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Referências
Bibliográficas
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Links para acesso rápido aos
conteúdos sobre dietas cruas:

1. https://www.fda.gov/animal-veterinary/animal-health-literacy/get-facts-raw-pet-food-diets-can-be-dangerous-
you-and-your-pet
2. https://acvn.org/frequently-asked-questions/#canned
3. https://www.avma.org/resources-tools/avma-policies/raw-or-undercooked-animal-source-protein-cat-and-dog-
diets
4. https://www.aaha.org/about-aaha/aaha-position-statements/raw-protein-diet/
5. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3003575/
6. https://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/jsap.13000
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15. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC5672303/
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Currículo
Formação acadêmica
Médica Veterinária (UFRGS)
Mestre em Nutrição Animal (UFRGS/UNESP)
Doutora em Nutrição Animal (UFRGS)
Pesquisadora na Universidade da Califórnia (UCDavis)

Currículo e Atuação profissional


1º Lugar na América Latina do Programa Jovem Cientista da Alltech
Palestrante em mais de 50 eventos de Medicina Veterinária
Responsável técnica de empresa fabricante de alimentação natural
cozida – Petpapá
Responsável técnica de empresa fabricante de frutas liofilizadas -
Orthonutri
Consultora de empresa fabricante de alimento industrializado – MARS
Petcare
Consultora e representante da INOVET
Nutróloga em clínicas veterinárias
Coordenadora e professora do Curso de Pós-graduação em Nutrição de
Cães e Gatos da Faculdade Qualittas

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MANUELAVETNUTRI
VETERINARIANUTRICIONISTA
Contato: manuela@vetnutri.com.br

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