Ensino Experimental Das Ciencias Materiais Didaticos
Ensino Experimental Das Ciencias Materiais Didaticos
Ensino Experimental Das Ciencias Materiais Didaticos
ENSINO
EXPERIMENTAL
DAS CIÊNCIAS
MATERIAIS DIDÁCTICOS 1
eec
ensino experimental
das
ciências
Doc 01 16/2/01 3:39 pm Página 1
Doc 01 16/2/01 3:39 pm Página 2
Ficha Técnica
Título:
Materiais Didácticos I
ISBN: 972-8417-43-8
Depósito Legal nº:
Edição:
Ministério da Educação
Departamento do Ensino Secundário
Av. 24 de Julho, 138, 5º 1399-026 Lisboa
des@des.min.edu.pt
www.des.min-edu.pt
Concepção Gráfica:
WM.Produção de Imagem
Impressão:
ENSINO
EXPERIMENTAL
DAS CIÊNCIAS
MATERIAIS DIDÁCTICOS 1
Doc 01 16/2/01 3:39 pm Página 2
As opiniões expressas nos textos apresentados nesta publicação são da responsabilidade dos autores
e não reflectem necessáriamente a opinião do Departamento do Ensino Secundário ou do Ministério
da Educação
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Autores
A. Mateus
Elisa Maia
J. Maia Alves
J. M. Serra
M. Arminda Pedrosa
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Índice
7 Nota de abertura
9 1. Introdução
43 3. Equipamentos e técnicas
153 4.4. Os planos, mapas, cartas e fotografias aéreas como recursos didácticos
A.Mateus
Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa
5
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Nota de Abertura
DOMINGOS FERNANDES
Materiais Didácticos I
A presente colecção, que o Departamento do Ensino Secundário faz chegar a todos os professores,
surge como resultado do projecto Formação no Ensino Experimental das Ciências – Formação de
Acompanhantes Locais das Ciências, promovido por este Departamento em parceria com as
Associações Científicas e Associações de Professores que integram a Comissão de Acompanhamento
do Ensino das Ciências. Esta Comissão integra representantes do Departamento de Educação Básica,
da Unidade Ciência Viva do Ministério da Ciência e da Tecnologia, da Associação Portuguesa de
Geólogos, da Ordem de Biólogos, da Associação Portuguesa de Professores de Biologia e Geologia,
da Sociedade Portuguesa de Química, da Sociedade Portuguesa de Física e da Sociedade Portuguesa
de Ciências da Educação.
A lógica que preside a estas acções promovidas pelo DES na área do Ensino Experimental das
Ciências é a de que nas escolas secundárias deveremos promover uma relação com o conhecimento
e com o saber que seja eminentemente concreta e prática em vez de verbal ou retórica. Por isso, este
é um aspecto central no desenvolvimento profissional dos professores.
Materiais I ilustra uma forma diferente de abordar o currículo. Visa contribuir para o desenvolvimento
de competências científicas e didácticas com vista à concretização de actividades práticas numa
perspectiva investigativa.
Aos autores desta brochura, bem como aos Acompanhantes Locais das Ciências que
empenhadamente se envolveram neste projecto, aqui deixamos, em nome de todos os que dele
poderão vir a beneficiar, o nosso obrigado pela contribuição prestada.
7
Introdução
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1. Introdução
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No campo:
12
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N a E s c o l a S e c u n d á r i a S á d a B a n d e i r a (Santarém), as actividades
desenvolvidas repartiram-se por quatro espaços diferentes, três deles laboratoriais,
havendo a necessidade de gerir a utilização comum de vários equipamentos e de
partilhar algumas das técnicas ou metodologias específicas previamente
desenvolvidas por alguns grupos de trabalho.
13
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14
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16
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17
Planificação de Actividades
Práticas de Ciências
e Estruturação Conceptual
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M. ARMINDA PEDROSA
1. Introdução
21
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22
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Para os professores de Ciências esta integração será tanto mais difícil e complexa
quanto menores forem as suas vivências, bem sucedidas, de integração daquelas
dimensões. A generalidade das suas experiências, enquanto estudantes, terá sido
de exposição a vastos conteúdos científicos e a execuções laboratoriais padrão e,
maioritariamente, descontextualizadas. Tais experiências, desvalorizando, ou não
promovendo, o relacionamento com conhecimento conceptual, terão
proporcionado aprendizagens limitadas acerca da utilidade dos processos
científicos fora da escola, bem como acerca da sua aplicação em situações
observadas, ou observáveis, em quotidianos, ou cenários específicos, exteriores à
escola (Gallager, 1991). Por outro lado, a maioria dos professores não terá tido
oportunidade de se envolver em programas de investigação em Ciências e/ou em
Didáctica das Ciências, exceptuando-se experiências episódicas, eventualmente,
em programas de Mestrado. Igualmente pouco prováveis, em actividades lectivas
correntes, terão sido as oportunidades de orientar actividades práticas, olhando
para objectos exteriores à escola numa perspectiva investigativa.
23
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24
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25
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26
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QUAL
TEORIA A COMPOSIÇÃO CONCLUSÕES:
QUÍMICA de:
- Conceptualização do equilíbrio - "Águas"; ..............................
químico - Materiais sólidos; ..............................
- Como se interpretam os -Lamas ...................
fenómenos observados ?
REGISTO E TRATAMENTO DE
DADOS PARA:
? - Observações e medições in loco;
- ..................................................
- ..................................................
CONCEITOS PROCEDIMENTOS
27
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QUAL
TEORIA A COMPOSIÇÃO CONCLUSÕES:
QUÍMICA de:
- Conceptualização do equilíbrio "Águas" ..............................
químico ..............................
- Como se interpretam os ...................
fenómenos observados ?
?
CONCEITOS REGISTO E TRATAMENTO DE
DADOS
- Ião
- Ácido - Medições "in loco" de
- pH pH e temperatura
- Sal - Resultados dos vários ensaios
- Solubilidade Que tipo de iões existem laboratoriais pH e temperatura
- Oxidação em "águas" ?
- Redução
- espécie oxidada
- espécie reduzida
- espécie oxidante
- espécie redutora
- cor
28
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ÁGUA
Integra
Soluções aquosas
Incluem
Aniões Catiões
Geralmente pressupostos em
Intervêm em
Frequentemente em
Transformações
Que ocorrem em
Reacções de Reacções de
complexação precepitação Reacções redox Reacções de ácido base
(e inversas) (e inversas) (directa e inversa) (directa e inversa)
e
Cor Substâncias iónicas Oxidação Redução Ácido Base
Presença de precipitados
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MATERIAIS
TEORIA SÓLIDOS CONCLUSÕES:
(PRECIPITADOS)
- Equilíbrio químico COMO SE ..............................
- Solubilização de precitados CARACTERIZAM ..............................
...................
-
-
Sal
Ião
? DADOS
- Medições in loco de pH
- pH e de temperatura
- Solubilidade
- Cor
- Complexos PROCEDIMENTOS
- Temperatura
- cor - Observações no local;
Que tipo de precipitados
existem ? - Recolha de amostras de
(Ver mapa de conceitos) materiais sólidos;
Solúveis em água ?
Que iões ?
30
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Contêm materiais
Indica
Iões [H3O+ ] pH Cor
Em
Transformações
Base Ácido Iões complexos
Reacções de
precipitação
Pressupõe a existência de reacção entre de Formam-se também
Originando
Estados de equiblíbrio
Suspensões de sais
pouco solúveis
Solução insaturada Solução sobresaturada
Integra Originando
Define limite
de saturação
Composição da
Solução saturada Mistura Reaccional mistura reaccional
Se P=Ks Se P>Ks
varia com o tempo
Se P<Ks
31
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COMO
TEORIA CARACTERIZAR CONCLUSÕES:
LAMAS/SOLOS
- Equilíbrio Químico ..............................
- Solubilização de precitados ..............................
...................
? REGISTO E TRATAMENTO DE
DADOS PARA:
- Medições in loco de pH e
temperatura
CONCEITOS PROCEDIMENTOS
32
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Rocha-mãe
Transformações (F, Q, B)
Textura
Estrutura
Condiciona
Densidade Regulador de acidez pH
Interdependência
H3O+ absorvido
33
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A FIGUEIRA
TEORIA EXISTENTE NA ZONA CONCLUSÕES:
DA 2ª PARAGEM
- Ligação química e interacções DARÁ ..............................
inter-unidades estruturais; INFORMAÇÃO ..............................
- Velocidade de arrastamento SOBRE A ...................
- Interacção radiação-materiais CONTAMINAÇÃO
- Espectros de absorvância
?
REGISTO E TRATAMENTO DE REGISTO E TRATAMENTO DE
DADOS PARA: DADOS
CONCEITOS PROCEDIMENTOS
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Figueira
-Folhas
-Figos
Constituídos por
Pigmentos Contaminantes Iões
Quando misturados
Interacções entre
as unidades estruturais
Como por ex. Poderão ser
Por ex.
Constituídos por
Moléculas Cu 2+, Fe 2+ ,
Fe 3+ , Pb2+ ...
Podem existir em
Diversos componentes
Luz visível Corpúsculos Ondas
Podem separar-se por ex. por
Cromatografia Designados
Absorção Transmissão Emissão Mecânicas
Electromagnéticas
Soluto(s) Solvente Permitem obter
Espectros
Cujas porções permitem conhecer Subazem a
Consiste na
Parâmetro em/de Caracterizáveis por
Concentração Espectrofotometria
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Nas Figuras 1, 2.1, 2.2, 3.1, 3.2, 4.1, 4.2, 5.1 e 5.2, apresentaram-se os diversos
VG e MC construídos pelas professoras-formandas. Correspondem às versões
efectivamente construídas no decurso do Programa, algumas das quais integraram
o painel do grupo de Química, apresentado na sessão plenária de 99/07/24.
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Se, por uma ou outra razão, se pretender ajuizar das condições em que se
construíram os instrumentos heurísticos aqui apresentados, importa tentar imaginar
e reconstruir a dinâmica do Programa e a variedade de actividades que foram
articulando e estruturando. É necessário tentar recriar as circunstâncias concretas
em que o Programa se desenvolveu. Destacam-se as impostas pela calendarização
de actividades com fortes constrangimentos temporais e espaciais, decorrentes,
37
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38
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Referências:
39
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Anexo 1
Percursos Experimentais
A organização da Acção deve, pois, ter em conta estes aspectos, prevendo tempo,
espaços e materiais para a concretização do anteriormente preconizado.
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Anexo 2
“Sobreviver no Buraco...Como?”
QUÍMICA BIOLOGIA
SOBREVIVER NO "BURACO"
...
COMO ?
FÍSICA GEOLOGIA
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Doc 02
42
Anexo 3
Catalogação e informação recolhida nos diversos locais - primeira apreciação. Em cada local de recolha de água recolheram-se também
lamas e, nos casos julgados de interesse potencial para desenvolvimento de percursos experimentais, outros materiais com aparência
distinta.
15/2/01 5:28 pm
J.M.SERRA
Introdução
O contraste entre a alegria das cores e a quase ausência de vida, de solos e águas
poluídas, levou um grupo de formandos a eleger o estudo da cor e da
luminosidade como condicionante da vida em meio aquático. Neste contexto
assume particular relevância o estudo da absorção de luz.
O texto que se segue não pretende de forma alguma substituir os livros de texto
que tratam estes assuntos, mas indicar caminhos passíveis de serem explorados do
ponto de vista experimental em contexto escolar. Não é possível, num espaço tão
exíguo como o deste texto, tocar em todos os aspectos relevantes ou fazer
discussões completas e aprofundadas sobre este assunto sem que nos fique a
sensação de que muitas outras coisas ficarão por dizer. Daí ser extremamente
importante a existência na escola de um espaço de discussão das experiências já
realizadas ou a realizar ou dos resultados obtidos.
Um sistema de medida
45
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de 10-12m, apenas uma apertada janela (de 7x10-7 a 4x10-7) é por nós
directamente percepcionada; é aquilo a que chamamos luz. Os nossos olhos são
aliás uns óptimos detectores de luz e estão adaptados a esta zona do espectro
como se pode ver na Figura 1.
(%)
100
50
Os nossos olhos possuem, com efeito, um sistema duplo para detecção da luz de
diferentes intensidades, mas só um destes sistemas fornece informação sobre a cor
dos objectos. A luz é colectada em células receptoras de dois tipos distintos: os
bastonetes e os cones. Apenas estes últimos são sensíveis à cor e subdividem-se
por sua vez em três subtipos. Cada um destes subtipos apresenta um espectro de
absorção com máximos em 450 nm, 540 nm e 580 nm. Estes máximos
correspondem ao azul, verde e vermelho, ou seja, o que designamos por cores
primárias, a partir das quais podemos formar qualquer outra cor.
É, pois, a esta zona do espectro electromagnético que nos iremos restringir neste
texto.
A primeira questão que se põe quando pensamos em estudar a luz e algumas das
suas propriedades é: como a podemos medir?
46
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O esquema eléctrico de um sistema de medida que pode ser utilizado para medir
intensidades luminosas está indicado na Figura 2. A resposta relativa de um
detector deste tipo pode encontrar-se em 4.2.
Vo = − RL I L (1)
RL
IL
-
IL V0
+
-15V
Os fotões que incidem no fototransistor dão origem a uma corrente IL. Para tensões
colector-emissor constantes (>2 V)
I L = kIlum (2)
Uma vez que não fluem correntes nas entradas do amplificador operacional, essa
corrente passa por RL. Por sua vez a entrada inversora do operacional constitui
nesta configuração uma terra virtual, pelo que a tensão neste ponto é zero. A
queda de tensão em RL é igual a Vo e vem, portanto, dada pela expressão acima.
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A primeira experiência
Como varia com a distância a intensidade luminosa emitida por uma lâmpada?
Tomemos uma lâmpada que radia uma potência P. Esta radiação emitida
propaga-se no espaço com uma distribuição aproximadamente esférica, admitindo
que o filamento é pontual. Mesmo não sendo pontual, a uma distância muito
superior ao seu comprimento, essa aproximação é válida.
À medida que nos afastamos da fonte de luz, a intensidade por unidade de área
vai assim decrescendo, segundo:
P
IL = (3)
4πD2
1
V = RL I L ∝ RL (4)
D2
Se pretendermos obter experimentalmente esta lei num laboratório normal, com luz
natural ambiente, como poderemos distinguir a luz do sol, mesmo que difusa e que
entra pelas janelas, da luz emitida pela nossa lâmpada?
Claro que podemos optar por realizar a experiência no escuro. Mas isso também
não é muito prático.
48
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A segunda experiência
Existem, no entanto, diversos aspectos que têm que ver com o procedimento
experimental e que importa considerar:
49
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Lâmpada
Líquido
Sensor
50
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Temperatura em ºC
água transparente
1.00 "água" da corta
Chá
solução vermelho
0.80 de safarina e negro de eriocromo
0.60
0.40
0.20
0.00
0 5 10 15 20 25
Profundidade (cm)
51
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Transmitância normalizada
0.1
0.01
Valores experimentais
0.001
0 5 10 15
Profundidade (cm)
52
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Podemos apontar duas razões para esses desvios. Uma delas tem que ver com as
condições experimentais e a outra tem que ver com o facto de usarmos um feixe
policromático e não monocromático.
Quanto à primeira, repare-se que foi usado um recipiente cilíndrico, neste caso
com um diâmetro de 8 cm aproximadamente. Uma vez que o feixe de luz não é
um feixe de raios paralelos, existe a possibilidade de reflexões na parede do
recipiente que são "apanhadas" pelo detector.
Conclusão
Referências
53
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J.M.SERRA
Introdução
Assim sendo, serão usados no texto alguns exemplos do trabalho desenvolvido por
esse grupo, embora o texto não se esgote evidentemente neles.
Uma observação que durante a visita à Mina chamou a atenção desse grupo
residiu na imensa variedade de cores e texturas presentes no terreno da Mina.
Puderam então verificar, medindo, que a temperatura à superfície desses materiais
era bastante diferente de uns para os outros. Concluíram que a diversidade de
temperaturas superficiais tinha a sua origem em diferentes propriedades de
absorção da radiação solar.
Com efeito, muitas situações no nosso dia a dia envolvem frases como: isto nunca
mais aquece; o leite já está frio...
55
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Começaremos por uma definição que constitui uma resposta a uma dessas
questões.
dT
F = −k (1)
dx
(
F = h T − Tfluido ) (2)
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F = εσ (T 4 − Tviz4 ) (3)
A medida de temperatura
57
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Óleo
B Mercúrio
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Q = mc∆T (4)
A primeira experiência
Tabela 1
No campo No laboratório
Neste caso foi a placa preta que atingiu a temperatura mais alta.
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Qentrada − Qsaída Q ∆T
Q©= ∆t = ∆t = mc ∆t
(6)
dT
Q© = mc (7)
dt
Admitindo que podemos desprezar as perdas por radiação (o que é verdade para
temperaturas da placa inferiores a 200ºC e com ar a 20ºC), as perdas de calor
das placas são devidas sobretudo às perdas de calor por convecção.
60
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Q© = FA = hA T − Tfluido ( ) (8)
dT
(
hA T − Tfluido = mc ) dt
(9)
(T − T ) = exp− hA t
fluido
(10)
mc
(T − T )
i fluido
dT
( ) (
− hA T − Tfluido + εσA Tfil4 − T 4 = mc ) dt
(11)
Chegamos novamente a uma equação diferencial cuja solução pode ser mais ou
menos trabalhosa. Mas agora é apenas uma questão de matemática. O
importante foi sermos capazes de exprimir matemáticamente um problema físico.
61
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)( )+T
−t
(
T = Tfinal − Tinicial 1 − e τ
inicial (12)
( ) (
− hA T − Tfluido + εσA Tfil4 − T 4 = 0 ) (13)
Admitindo que o valor fornecido pelo fabricante das lâmpadas para a temperatura
do filamento é correcto, apenas desconhecemos duas variáveis – ε e h. Mas vimos
anteriormente que, se tivermos apenas a placa quente a arrefecer ao ar,
poderíamos determinar h (ver eq(10)).
A segunda experiência
Mas voltemos uma vez mais às observações deste grupo, que, cauteloso nas suas
experiências, teve o cuidado de medir a evolução de temperatura nas duas placas
ao longo do tempo, porque pensaram: se as duas placas estão inicialmente à
mesma temperatura e no final estão a temperaturas diferentes, como será que a
sua temperatura varia ao longo da exposição ao "sol"?
dT
εσTfil4 = mc (14)
dt
62
Doc 03 15/2/01 4:52 pm Página 63
Temperatura em ºC
100
95
90
85
80
75
70
65
60
55
50
45
40
35
30
25
20
-60 -30 0 -30 -30 -60 -90 -120 -150 -180 -210 -240 -270 -300 -330 -360 -390 -420 -450 -480 -510 -540 -570 -600 -630 -690
Vemos assim que o declive desta recta, que traduz a subida inicial de temperatura
da placa, nos dá uma indicação sobre a potência absorvida pela placa.
A terceira experiência
63
Doc 03 15/2/01 4:52 pm Página 64
significa, de acordo com a lei de condução de calor de Fourier, que nesta zona
não existe condução de calor na horizontal, mas apenas na vertical. Esta é a
observação fundamental que nos permite imaginar um modelo de laboratório
representativo do que se passa no terreno.
Lâmpada
Isolamento Térmico
Areia
dT
F = −k (15)
dx
64
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T1 T2
dT
Q = − kA
dx
= kA L( ) (T1 − T 2 ) (16)
Esta última equação leva-nos a introduzir um conceito muito útil. Tal como a
corrente eléctrica (transporte de carga) depende de um potencial e de uma
constante de proporcionalidade (R), no caso de um componente puramente
resistivo (a chamada lei de Ohm)
I = R (V 1 − V 2 ) (17)
65
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T1 T2
T3
T4
La La La
Ka Kb Kc
Q T1 T2 T3 T4
La La La
KaA KbA KcA
Uma forma simples é colocar o fundo do vaso em contacto com água corrente,
que extrairá o calor, mantendo a temperatura constante.
66
Doc 03 15/2/01 4:52 pm Página 67
Temperatura em ºC
70
65
60
55
20
1 5 9 13
O exercício que temos vindo a fazer poderia ainda ser estendido à interface disco-
-areia.
Com efeito a condução de calor do disco para a areia faz-se sobretudo pelos pontos
de contacto. No caso da areia, a sua textura granular faz com que a transferência
de calor se faça sempre através dos pontos de contacto entre os grãos.
67
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Lâmpada
Disco
Isolamento Térmico
Areia Lâmpada
68
Doc 03 15/2/01 4:52 pm Página 69
A quarta experiência
Uma das questões que mais interesse suscitou em torno da água retida na corta
da Mina foi a da possível existência de correntes de convecção no seu interior, que
se traduziriam por zonas com temperatura constante em profundidade, devido ao
efeito de mistura das águas associado aos movimentos de convecção. No capítulo
3.3 podem ver-se precisamente alguns resultados obtidos na corta da Mina de
S.Domingos e sua discussão.
Placa quente
69
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No caso que nos interessa não temos uma sala com ar, mas um lago com um
fluido, e portanto dever-se-á aplicar o que acima se disse para o ar da sala.
Procurou-se modelar um "lago" no laboratório usando para isso uma tina com
água, exposta a um projector de halogéneo de 500W.
Temperatura em ºC
65
60
55
50
45
40
35
30
Coluna corada uniformemente
1 5 9 13
70
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Conclusão
Referências
71
Doc 03 15/2/01 4:52 pm Página 73
Motivação
Num lago de uma região mediterrânica como a nossa, durante o verão, ou, de
uma maneira geral, durante todo o ano nos oceanos, as colunas de água
apresentam perfis de temperatura muito característicos e, na sua essência,
análogos ao representado na figura 1.
Temperatura em ºC
24
22
20
18
16
14
12
10
0 5 10 15 20 25
Profundidade / m
73
Doc 03 15/2/01 4:52 pm Página 74
1 De facto, e porque a variação da densidade da água com a temperatura é anómala, é possível que uma
situação como esta seja estável desde que a temperatura da água seja toda ela inferior a 4ºC, já que nessa
região de temperaturas se verifica um aumento da densidade com o aumento de temperatura. Esta situação
designa-se por estratificação de inverno e é encontrada em lagos situados em regiões frias. Acima dos 4ºC
a variação da densidade com a temperatura passa a ter um andamento normal, ou seja, a diminuir com o
aumento da temperatura, razão pela qual se verifica a estratificação de verão.
2 Estas duas situações foram simuladas em laboratório e os resultados obtidos são relatados em outro capítulo
deste volume.
74
Doc 03 15/2/01 4:52 pm Página 75
Para terminar, uma breve referência às razões que suportam o interesse em medir
a transmitância luminosa da água, para além do conjunto de grandezas já
referido. Existem, com efeito, vantagens em efectuar essa medição, especialmente
na eventualidade de se encontrar perfis anómalos, quer de temperatura, quer de
intensidade luminosa ambiente, pois, na posse de dados de transmitância da
água, a interpretação dos perfis será realizada com maior segurança. Os
resultados da transmitância luminosa da água representam de alguma forma o "fiel
da balança", uma vez que, sendo obtidos por uma via independente e sendo
passíveis de correlação com os restantes, concorrem para um banco de dados cuja
coerência interna permitirá ajuizar a razoabilidade da interpretação efectuada. Tal
procedimento (obtenção de resultados independentes mas directamente
relacionáveis com as variáveis que pretendemos estudar), é frequentemente
utilizado em Ciência, porquanto permite aumentar substancialmente a confiança
nos resultados experimentais e respectiva interpretação.
O dispositivo experimental
75
Doc 03 15/2/01 4:52 pm Página 76
Relativamente aos dois primeiros pontos atrás mencionados importa dizer que eles
foram determinantes na forma como se projectou a sonda onde se acoplaram os
elementos sensores. O primeiro implicou que os sensores fossem completamente
encapsulados para evitar a passagem de corrente entre os seus terminais através
da água; o segundo condicionou a selecção dos materiais utilizados no seu
encapsulamento. Saliente-se ainda que a necessidade de utilizar um cabo de
alimentação adequadamente revestido para o fim em vista (à prova de água)
determinou a selecção de um tipo de cabo que se revelou extremamente pesado,
prejudicando a aquisição de dados como adiante descreveremos (além das
consequências inerentes à dificuldade de o transportar para o local onde foi
instalada a base para leitura das medições).
A sonda foi construída a partir de uma chapa de acrílico com 30mm de espessura
(com aproximadamente 200X200mm2), na qual foram abertos os furos para a
passagem do cabo principal de ligação à superfície e para a colocação dos
diferentes sensores. A ligação dos sensores ao cabo principal foi efectuada, ou
através de furos (caso do termistor e do fototransistor vertical) posteriormente
preenchidos com resina epoxídica, ou através de rasgos fresados na espessura da
chapa. Estes rasgos foram também posteriormente colmatados com resina e, além
3 Note-se que, à partida, não se conhecia exactamente a que profundidade se poderia ir já que não
possuíamos qualquer topografia da corta mineira abandonada nem tinha havido tempo para previamente
sondar o local.
76
Doc 03 15/2/01 4:53 pm Página 77
Cabo de Ligação
Termístor
Fototransístores
Leds
disso, protegidos pela colagem de uma tira de chapa acrílica com 6mm de
espessura. Chapas deste tipo foram igualmente coladas em frente dos
fototransistores e díodos emissores de luz por forma a permitir a passagem de luz
em boas condições. Os furos onde foram instalados os fototransistores e os díodos
emissores de luz foram revestidos interiormente com cartolina preta por forma a
melhorar a direccionalidade da sua emissão/recepção, minorando assim a
possibilidade de leituras cruzadas no caso das medidas de transmitância. O
termistor foi totalmente embebido em resina epoxídica, mantendo-o em contacto
térmico tão eficiente quanto possível com a chapa de cobre de 3mm de espessura
utilizada para fazer o fecho do respectivo orifício (também efectuado por colagem).
A opção de realizar todas estas selagens por colagem em vez de se utilizar uma
técnica mais reversível (como seja a vedação com recurso a juntas tóricas de
borracha) deveu-se em grande parte à falta de tempo para a realização das peças
que tal opção implicaria. Acresce que, não se prevendo uma utilização prolongada
do equipamento, se considerou ser pouco provável vir a verificar-se a necessidade
de substituição de algum dos sensores, única situação em que a opção da
colagem se revela claramente desaconselhável.
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Ligação à superfície
Termístor
Temperatura / Cº
30
28
26
24
22
20
18
16
220 240 260 280 300 320 340 360 380 400
Corrente do termístor / µA
78
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4 Claro que não seria absolutamente necessário que tal acontecesse uma vez que apenas estavamos
interessados em dados de transmitância relativa à água potável normal, sendo no entanto aconselhável que
assim fosse para evitar que as medições fossem efectuadas em condições de sensibilidade muito diferentes.
79
Doc 03 15/2/01 4:53 pm Página 80
80
Doc 03 15/2/01 4:53 pm Página 81
Resultados obtidos
Temperatura / Cº
25
24
23
22
21
20
0.0 0.5 1.0 1.5 2.0 2.5 3.0
Profundidade / m
Não tendo sido possível efectuar o conjunto de três medições que tinha sido
previsto, decidiu-se efectuar uma única medida (de baixo para cima). Optou-se,
então, por efectuar esta medida a uma "hora típica" (correspondente a uma
incidência da radiação solar aproximadamente normal à superfície da água).
81
Doc 03 15/2/01 4:53 pm Página 82
1.0
0.8
0.6
0.4
0.2
0.0
0.0 0.5 1.0 1.5 v 2.5 3.0
Profundidade / m
Transmissividade relativa
1.2
1.0
0.8
0.6
0.4
0.0 0.5 1.0 1.5 2.0 2.5 3.0 3.5
Profundidade / m
82
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5 Esta medição foi efectuada subtraindo a leitura correspondente à radiação ambiente da que se obtinha
ligando os díodos emissores de luz. Tal como a figura documenta, não foram detectados comportamentos
diferentes para as diferentes bandas de comprimentos de onda utilizadas, o que se compatibiliza bem com os
espectros traçados em laboratório para a água da corta. Note-se, no entanto, que os únicos dados que
consideramos realmente fiáveis são os que correspondem à banda do vermelho, o que se deve ao facto de
existirem dúvidas relativamente aos dados obtidos próximo da superfície para as outras bandas (que são de
alguma forma incompatíveis com as determinações posteriores feitas em água potável).
83
Doc 03 15/2/01 4:53 pm Página 84
É manifesta a importância que o conjunto das três medidas que tinham sido
programadas teriam para validar ou não a interpretação apresentada. É
importante salientar que as diferenças de temperatura encontradas entre a
superfície e o patamar são inferiores a 1ºC e que, além disso, foi efectuada uma
única medida no sentido ascendente. Não é pois de excluir a possibilidade (que
consideramos no entanto remota) de a placa de cobre utilizada para cobrir o
sensor estar a ser aquecida directamente pela radiação solar quando nos
aproximamos da superfície, não se encontrando em equilíbrio térmico com a água
com que se encontra em contacto; nessas circunstâncias obteríamos medidas de
temperatura que (erradamente) levariam a concluir da existência do nível
superficial estratificado.
Somos assim levados a afirmar que nos parece provável que ocorra na corta da
Mina de São Domingos o mecanismo proposto da convecção nocturna (nos dias
em que se verifique um arrefecimento nocturno que faça com que a temperatura
do ar seja inferior à temperatura de patamar do final do dia) mas que, claramente,
esse facto deverá ser alvo de futura investigação.
Nota final
Referências
Berner E.K., Berner R.A. (1996), Global environment: water, air, and geochemical cycles,
Prentice-Hall Inc., New Jersey, U.S.A.
Fonseca J.P., Pinto L. (1999), Absorção de energia e balanços térmicos na corta da Mina
de São Domingos, Relatório da Acção de Formação em Ensino Experimental das Ciências
promovida pelo Departamento do Ensino Secundário do Ministério da Educação
Pires A.C.C.F., Ferreira D.M.S.R., Relatório da Acção de Formação em Ensino Experimental
das Ciências promovida pelo Departamento do Ensino Secundário do Ministério da
Educação
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Um dos locais possíveis para iniciar uma reflexão séria sobre propriedades
mecânicas dos materiais é a mesa de um restaurante. Certamente que no decorrer
de uma qualquer refeição muita gente já observou sinais claros de deformação de
materiais, por exemplo, ao manusear um garfo. Terá pensado sobre elas o
suficiente? O que acontece a um garfo quando o utilizamos para segurar um bife
enquanto o cortamos com uma faca? Decerto muita gente já reparou que ele se
deforma. Normalmente quando se deixa de exercer força sobre ele a sua forma
inicial é recuperada. Outras vezes (sobretudo se se tratar de uma cantina
universitária) o garfo adquirirá um novo design, porventura passível de rebuscadas
análises estéticas, mas certamente de utilidade duvidosa. Porquê esta diferença de
comportamentos? E quanto à colher de sopa? Com certeza não foi produzida por
abrasão a partir de um bloco maciço de aço inoxidável, por exemplo, porquanto
os custos de um processo de fabrico como este seriam enormes. Uma das
possibilidades é que tenha sido feita a partir de uma chapa por deformação
(prensagem) contra um molde. Neste caso, o facto de a deformação se manter no
tempo muito para além da duração da força aplicada tem a sua utilidade, já que
seria complicado comer a sopa com uma espátula! Ainda no mesmo restaurante,
um olhar à volta permitirá encontrar seguramente novas evidências de materiais
que foram sujeitos a processos de deformação controlada para atingirem a forma
que os adequa às aplicações pretendidas: os caixilhos de alumínio (fabricados por
extrusão), as chapas de aço utilizadas em qualquer balcão (fabricadas por
laminagem) ou os fios eléctricos (produzidos numa trefilaria). Já para não falar
dos automóveis, cujas portas ou tejadilho, por exemplo, foram também obtidos por
prensagem de chapas metálicas. Mas o mais espantoso é que quem, depois da
sua refeição, resolver dar uma caminhada pelo campo encontrará provavelmente
outras evidências de materiais que foram igualmente deformados (se bem que em
condições mais difíceis de precisar). Este facto tornar-se-á muito claro se o
itinerário escolhido percorrer uma região onde, à semelhança do que se passa no
Pomarão, afloram formações rochosas que evidenciam dobramentos à escala
meso- e macroscópica. As perguntas surgem então inevitáveis: Serão os mesmos
mecanismos que estão aqui em jogo? Que forças deram origem a estas estruturas
85
Doc 03 15/2/01 4:53 pm Página 86
86
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Tensão aplicada
Regime plástico
Regime elástico
Deformação
Uma vez definido o que entendemos por deformação, importa prosseguir numa
linha de sistematização das observações experimentais. Assim, dizemos que uma
dada deformação ocorre em regime elástico quando, uma vez retirada a carga
responsável pela deformação, o objecto em estudo recupera a sua forma inicial.
Quando tal não se verifica, à semelhança do que acontece com o tal garfo da
cantina universitária, dizemos que a deformação se processa em regime plástico. A
distinção entre estas duas situações nem sempre é tão clara como seria desejável,
o que significa que há necessidade de ser um pouco mais objectivo relativamente
à distinção entre estes dois regimes de deformação. Somos assim conduzidos à
necessidade de analisar o comportamento mecânico dos materiais à luz das curvas
de tensão-deformação (definindo tensão como força aplicada por unidade de
área). Uma destas curvas típicas, que se pode obter facilmente nas escolas
secundárias para diferentes materiais, incluindo ligas metálicas (Pinheiro et al.,
1999), encontra-se representada na figura 1; a sua análise revela claramente a
existência de dois regimes de deformação essencialmente distintos: enquanto na
região das baixas tensões aplicadas é notória a existência de uma relação linear
entre as tensões e as deformações (lei de Hooke), o mesmo não sucede acima de
uma determinada tensão aplicada (que designaremos por tensão de cedência).
1 Entende-se por deformação relativa o quociente ∆L/L0 , única quantidade que, para uma dada tensão aplicada,
corresponde à medida da extensão da deformação do material.
87
Doc 03 15/2/01 4:53 pm Página 88
São muitas as perguntas que alguém minimamente atento fará perante uma curva
como a que se representa na figura 1. Como sempre acontece em Ciência, cada
uma dessas perguntas, desde que bem feita, será uma ferramenta de valor
inestimável para voltar a partir em exploração da realidade. E a primeira questão
que, por norma, se levanta é extremamente simples: O que acontece se a tensão
aplicada ao material continuar a aumentar? Surgirão novos regimes? A resposta a
esta questão pode e deve ser obtida experimentalmente nas nossas escolas
(Pinheiro et al., 1999). Se mais uma vez prosseguirmos na linha da sistematização
dos resultados experimentais, verificaremos a existência de dois tipos de materiais:
os que apresentam comportamento dúctil, ou seja, os que conseguem acomodar
grandes deformações plásticas antes da fractura (como é o caso do cobre ou do
ferro puro), e, por outro lado, os que, não conseguindo fazê-lo, fracturam
fragilmente depois de uma pequena deformação plástica (como é o caso de um
conjunto muito diferenciado de aços catalogados como materiais que apresentam
fractura frágil). Esta diferença de comportamentos pode ser apreciada de forma
absolutamente espectacular realizando ensaios de tracção em fios de aço e de
cobre (Pinheiro et al ., 1999), sendo inclusivamente possível observar o
aparecimento, no caso do cobre, de um regime de fluência no qual o material
deforma continuamente no tempo sob acção de uma tensão constante aplicada.
2 A constante elástica envolvida no exemplo anteriormente referido denomina-se por módulo de elasticidade ou
módulo de Young. Existem outras constantes elásticas que se utilizam correntemente como sejam o módulo de
compressibilidade, que nos dá conta da deformação em volume que o material sofre quando sujeito a uma tensão
como a que ocorre no interior de um fluido (apenas com componentes perpendiculares às suas paredes), ou o
módulo tangencial que dá conta do ângulo de deformação de um sólido sujeito a forças paralelas às suas
paredes. De modo geral, ou seja, no caso de materiais cujas estruturas apresentam baixa simetria (como acontece
com os cristais triclínicos), o número de constantes elásticas diferentes que caracterizam o material pode ser
elevado, uma vez que existem muitas maneiras não equivalentes de deformar a estrutura. Não são esses, no
entanto, os casos que aqui nos interessam já que estaremos sempre a trabalhar com materiais policristalinos que
se comportam como isótropos, apresentando apenas duas constantes elásticas independentes.
88
Doc 03 15/2/01 4:53 pm Página 89
89
Doc 03 15/2/01 4:53 pm Página 90
3 Por estado sólido entende-se toda a porção de matéria com ordem a longa distância nas três direcções do
espaço.
90
Doc 03 15/2/01 4:53 pm Página 91
91
Doc 03 15/2/01 4:53 pm Página 92
92
Doc 03 15/2/01 4:53 pm Página 93
93
Doc 03 15/2/01 4:53 pm Página 94
B
FN
FN
FN
C FS
FS
FN
94
Doc 03 15/2/01 4:53 pm Página 95
O primeiro dispositivo consiste numa simples "caixa de rotura" composta por dois
caixilhos de madeira polida exactamente iguais e que se sobrepõem, tendo o
cuidado de verificar se estes deslizam facilmente um sobre o outro (fig.2A); o
volume interior é subsequentemente preenchido por uma porção de areia (cuja
granulometria e índice de humidade são conhecidos), uniformemente distribuída e
posteriormente compactada; o topo da coluna de areia é então coberto na
totalidade por uma placa rígida (de acrílico, por exemplo) sobre a qual se
colocarão diferentes pesos4 (fig.2B); fazendo uso de um grampo previamente
colocado em um dos lados do caixilho superior, aplica-se uma força tangencial (FS
- quantificada com um dinamómetro) por forma a determinar o ponto de rotura da
coluna de areia (denunciado pelo deslocamento relativo entre os dois caixilhos -
fig.2C). Sucessivos ensaios sobre o mesmo material sujeito a diferentes forças
normais (FN) permite encontrar a relação linear entre FN e FS que, expressa
graficamente, possibilita a determinação do ângulo de atrito interno (φ) da areia
(no diagrama FN versus FS, a recta conterá a origem do referencial apenas se o
atrito entre os caixilhos for nulo - fig.2D). Claro está que, alterando as
4 Tal assegura a distribuição da força (FN) por toda a área interna dos caixilhos (A), permitindo adicionalmente
calcular a tensão normal aplicada (σ).
95
Doc 03 15/2/01 4:53 pm Página 96
H'
H
P
R' R
Rg
96
Doc 03 15/2/01 4:53 pm Página 97
caixa, é possível fixar nas suas extremidades uma barra B na qual se prendem dois
fios de aço que, passando pelas roldanas (R e R') colocadas na extremidade oposta
da caixa, permitem suspender pesos e, assim, conhecer a força compressiva
exercida perpendicularmente à placa amovível. Os deslocamentos desta última
são medidos com uma régua graduada (Rg) previamente colocada na placa base
da caixa, adjacentemente a uma das paredes laterais. Uma vez montada a caixa
de deformação, o espaço compreendido entre a placa P e a parede oposta da
caixa é preenchido com as areias anteriormente testadas.
F
σ=
A
e=
(l1 − l0 )
l0
e
ε« =
t
uma vez que se conhece o tempo (t) durante o qual se processou a acomodação
da deformação. Pretendendo, contudo, caracterizar as descontinuidades geradas
por aplicação da força F ao fim de um determinado tempo, teremos de submeter
a igual deformação longitudinal uma sequência de estratos artificialmente corados
da mesma areia (fig.4A). A presença de marcadores internos permite, então,
verificar que as descontinuidades apresentam movimento associado, sendo o
5 Entende-se por deformação relativa o quociente DL/L0 , única quantidade que, para uma dada tensão aplicada,
corresponde à medida da extensão da deformação do material.
97
Doc 03 15/2/01 4:53 pm Página 98
A P
B H
ds
Rv
Rh
98
Doc 03 15/2/01 4:53 pm Página 99
Rv e Rv
senα = tgα =
ds Rh
Mas a exploração deste tipo de experiências não deve ficar por aqui
(especialmente se, antes da execução das mesmas, houve o cuidado de introduzir
os conceitos teóricos necessários à previsão e análise dos resultados).
Efectivamente, com algum esforço adicional e, sobretudo, querendo ir mais longe,
outros ensaios podem (e devem) ser realizados com o mesmo equipamento,
fazendo variar, por exemplo: i) as características granulométricas do sedimento
sujeito a deformação; ii) a quantidade de água intersticial; e iii) as tensões
aplicadas. Daqui resultarão dados inestimáveis à compreensão das razões que
levam ao aparecimento de sistemas conjugados de falhas (fig.5A), à percepção do
papel desempenhado pelos fluidos aquosos na deformação natural das rochas
(reduzindo a resistência oferecida pela rocha à fracturação), ao entendimento dos
critérios macroscópicos de rotura (como, e.g., o de Navier Coulomb), entre outros
aspectos. Neste contexto, a discussão em torno dos valores calculados para a taxa
de deformação (ε) carece de particular cuidado, pois a sua interpretação correcta
afigura-se essencial à compreensão de algumas das dificuldades em extrapolar os
resultados experimentais para a realidade geológica - trata-se necessariamente de
6 Como aliás se tinha previsto após a observação, análise e discussão de estruturas similares durante as actividades
de campo desenvolvidas na região de S. Domingos.
99
Doc 03 15/2/01 4:53 pm Página 100
σ3
σ1
σ2
σ1
σ3
σ2
σ2
σ3
σ1
100
Doc 03 15/2/01 4:53 pm Página 101
A adaptação mais simples que se pode fazer com base na caixa acrílica acima
descrita decorre da alteração do posicionamento das roldanas R-R', bem como da
fixação da barra B às hastes H-H', permitindo a aplicação de forças distensivas
perpendicularmente à placa movível P. Nestas circunstâncias é possível observar a
formação de um outro tipo de descontinuidades (falhas normais, mercê da descida
relativa do "bloco suspenso"), perpendiculares à direcção de extensão e
apresentando uma inclinação equivalente ao ângulo complementar de φ (fig.5B).
O cálculo de σ, e (desta feita positivo) ε e dos deslocamentos ocorridos pode ser
realizado com base nas expressões atrás referidas, e, uma vez asseguradas as
devidas adaptações, a exploração dos resultados segue exactamente o mesmo
percurso (apesar de as implicações mecânicas e respectivo significado geológico
serem, neste caso, completamente diferentes).
7 Vejamos um exemplo muito simples (possível ponto de partida para diversas discussões, cálculos e ensaios
experimentais), considerando a deformação de uma série de estratos constituídos por areia de comportamento
mecânico já conhecido e comprimento, l0, igual a 20 cm. Se, ao fim de 30 minutos de ensaio, a deformação
acomodada pela série detrítica denota um encurtamento de 15% (l1=17 cm), então ε = 8.33×10-5 s-1, valor este
muito acima das taxas que traduzem os processos naturais de deformação das rochas. Admitindo para ε um valor
médio de 10-12 s-1 e não alterando as condições experimentais, necessitaríamos de 1.5×1011 segundos (cerca
de 4756 anos) para produzir igual encurtamento. Nestas circunstâncias, talvez seja bom recordar que as tensões
responsáveis pela deformação natural se acumulam lenta mas persistentemente, apesar de excepcionalmente tal
poder acontecer de forma quase instantânea (como no caso das variações de tensão induzidas pela queda de
meteoritos de grande dimensão), o que, como já se referiu, implicará uma resposta diferente por parte dos
materiais.
101
Doc 03 15/2/01 4:53 pm Página 102
B
20 cm
15cm
102
Doc 03 15/2/01 4:53 pm Página 103
A B
C D
8 A movimentação relativa entre as duas caixas poderá ser executada manualmente ou através da aplicação de
pesos, depois de introduzidas as devidas adaptações no dispositivo experimental.
103
Doc 03 15/2/01 4:53 pm Página 104
9 Por escoamento plástico entende-se todos os mecanismos de deformação que concorrem efectivamente para a
plasticidade intracristalina dos minerais constituintes das rochas.
104
Doc 03 15/2/01 4:53 pm Página 105
A B
II
III
φ
dl θ
I I+II I+III
105
Doc 03 15/2/01 4:53 pm Página 106
5 6
1
3
4
2
7 8
106
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10 Recomenda-se vivamente que se comece por estudar independentemente os efeitos resultantes da alteração de
uma das variáveis, mantendo fixas as restantes. Por exemplo, para iguais condições de tensão: 1) qual a geometria
do dobramento apresentado por um estrato de argila e um estrato de plasticina com espessura equivalente ao fim
do mesmo encurtamento?; 2) qual a geometria do dobramento apresentado por um estrato de argila e um estrato
de plasticina com espessuras díspares ao fim do mesmo encurtamento ?; e 3) quais as modificações registadas
pelos dobramentos previamente caracterizados em argila se o índice de humidade for alterado?.
107
Doc 03 15/2/01 4:53 pm Página 108
A linha de B
charneira
Eixo
2a
C D
paralela similar
concêntrica "chevron"
a)
b)
108
Doc 03 15/2/01 4:53 pm Página 109
A
a) b) c)
a) b)
B
c) d)
µ1
µ2
log Ε
µ3
µ4
log λ
µ5
109
Doc 03 15/2/01 4:53 pm Página 110
a) b) a) c)
S1
S0
plano axial
de dobra maior
110
Doc 03 15/2/01 4:53 pm Página 111
111
Doc 03 15/2/01 4:53 pm Página 112
1cm
1cm
112
Doc 03 15/2/01 4:53 pm Página 113
2cm
1cm
113
Doc 03 15/2/01 4:53 pm Página 114
Referências
Christman J.R. (1988). Fundamentals of Solid State Physics. John Wiley & Sons, Inc, New
York: 518pp.
Davis G.H., Reynolds S.J. (1996). Structural Geology of Rocks and Regions. John Wiley &
Sons, Inc, New York: 776 pp.
Kittel C. (1976). Introduction to Solid State Physics. John Wiley & Sons, Inc, New
York:608pp
Park R.G. (1983). Foundations of Structural Geology. Blackie-Chapman & Hall, London:
135 pp.
Pinheiro E., Vasconcelos F., Amaro H., Oliveira H., Esteves P. (1999). Relatório do Percurso
Investigativo sobre a Deformação das Rochas e Minérios. Acção de Formação - Ensino
Experimental das Ciências, DES - FOCO, 53pp.
Price N.J., Cosgrove J.W. (1990). Analysis of Geological Structures. Cambridge University
Press, Cambridge, UK: 502 pp.
Ramsay J.G., Huber M.I. (1983). The Techniques of Modern Structural Geology, v.1: Strain
Analysis. Academic Press, London: 307 pp.
Ramsay J.G., Huber M.I. (1987). The Techniques of Modern Structural Geology, v.2: Folds
and Fractures. Academic Press, London: 381 pp.
Smith, W.F. (1998). Princípios de Ciência e Engenharia dos Materiais. Mc Graw Hill:888pp
114
Doc 03 15/2/01 4:53 pm Página 115
1 Estamos apenas a referir-nos ao rigor da medição efectuada em cada uma das amostras no sentido mais físico
do termo; é claro que nos deve preocupar também um outro tipo de rigor que decorre da representatividade
geológica das amostras relativamente ao local em estudo e que, naturalmente, tem a ver com o tipo de
amostragem efectuado.
115
Doc 03 15/2/01 4:53 pm Página 116
Define-se densidade de uma substância como sendo a sua massa por unidade de
volume. Esta grandeza tem, portanto, unidades SI de kgm-3 (embora seja de facto
muito mais utilizada a unidade CGS – gcm-3). A medição da densidade de um
objecto envolve assim duas medidas: por um lado, a sua massa, e, por outro lado,
o volume que ocupa. Na prática, as medidas efectuadas são de volume e peso,
dado constituirem medições bem mais expeditas2. Ao proceder desta forma
estamos imediatamente a introduzir um erro na medição da densidade, já que se
considera desprezável a impulsão a que o objecto (cuja densidade estamos a
medir) se encontra sujeito pelo facto de estar imerso em ar. No entanto, como esta
força é, de acordo com o princípio de Arquimedes, igual e de sinal contrário ao
peso do fluido deslocado, será sempre possível estimá-la se, além do volume do
objecto (que temos sempre de conhecer), soubermos também a temperatura,
pressão e humidade ambiente, uma vez que a densidade do ar se encontra
devidamente tabelada em função de todos estes parâmetros. Se trabalharmos a
valores normais de pressão, humidade e temperatura, a ordem de grandeza do
erro introduzido na medição por esta via é de -1.2X10-3gcm-3 (cerca de 4X10-5 do
valor médio da densidade das rochas constituintes dos horizontes litosféricos
superficiais). Vemos, assim, que este erro é normalmente muito inferior ao que
decorre da incerteza na determinação do volume da amostra, razão pela qual em
alguns manuais escolares se define (erradamente) densidade de uma substância
como sendo o peso no ar de uma unidade de volume dessa mesma substância.
2 Mesmo quando estamos a utilizar uma balança que nos fornece a indicação da massa estamos de facto a fazer
r
uma medida de força, e a usar o facto do peso ( P ) e massa ( m ) de um objecto estarem relacionados entre si
v v v
pela relação P = m × g onde g representa a aceleração da gravidade cujo valor é de aproximadamente 9,8ms-2.
116
Doc 03 15/2/01 4:53 pm Página 117
Vg ρd
1 − × 100 ou, alternativamente, 1 − × 100 ,
Vb ρg
117
Doc 03 15/2/01 4:53 pm Página 118
W1 × ρ L .
ρ=
(W1 − W2 )
Saliente-se que, à semelhança do que se verificava no caso da gravidade
específica, também a densidade medida por este método é independente da
3 Esta afirmação apenas é em rigor verdadeira quando não se verifique a penetração do líquido utilizado na
medição para o interior do objecto do qual se pretende medir o volume, ou seja, quando esse objecto não for
poroso. Descreveremos adiante a técnica a utilizar se não for esse o caso.
118
Doc 03 15/2/01 4:53 pm Página 119
gravidade local, uma vez que é obtida através de um quociente de dois pesos.
Nos procedimentos expeditos vulgarmente usados, o líquido utilizado é
a água destilada ( ρ L ≈ 1 gcm-3). Note-se, porém, que devido à elevada tensão
superficial da água, os resultados obtidos enfermam de imprecisão acrescida,
pelo que, havendo necessidade de proceder a determinações mais rigorosas, se
devem utilizar líquidos orgânicos. Importa ainda salientar que a comparação
directa entre os valores de densidade determinados para uma amostra seca e
depois de a amostra ser impregnada com um líquido de densidade conhecida,
representa uma medida da sua porosidade.
Mercê da natureza textural dos tipos de rochas estudadas no âmbito desta acção
de formação, os diferentes provetes foram, depois de pesados, sujeitos a
parafinação antes da sua imersão em água destilada, visando a sua
impermeabilização. Antes, porém, procedeu-se à caracterização mineralógica e
textural dos provetes e à determinação da densidade da parafina, pesando-se uma
porção desta no ar e medindo-se a variação de volume experimentada por uma
coluna de álcool após imersão da porção de parafina em causa; o procedimento
foi repetido três vezes, resultando o valor médio de 0,85 gcm-3. Seguidamente
fixou-se no prato da balança uma haste em vidro com um fio de nylon na ponta
(no qual seriam suspensos os diferentes provetes), conforme se representa na figura
1, e procedeu-se à taragem da balança. A sequência de operações e de medições
efectuada para cada amostra foi então a seguinte:
Figura 1
119
Doc 03 15/2/01 4:53 pm Página 120
[
Fx = k (πR2 ) V fluido − Vx ] (1)
120
Doc 03 15/2/01 4:53 pm Página 121
(vertical) do movimento, uma vez que isso não é relevante para a discussão que
pretendemos fazer. Podemos até supor que a força total segundo essa direcção é
nula, ou seja, que as esferas se encontram em suspensão no interior do fluido,
embora tal não possa suceder simultaneamente a ambas, porquanto estas
apresentam o mesmo raio e densidades diferentes.
V
A
Figura 2
A aceleração a que cada uma das esferas está sujeita segundo OX é dada por
Fx /m e será, portanto, diferente para cada uma das esferas, já que ambas estão
sujeitas à mesma força de arrastamento, mas possuem massas diferentes.
Explicitando a dependência desta aceleração na densidade virá
3k
ax =
4 Rρ
(
V fluido − Vx ) (2)
t
− 4 Rρ
Vx = V fluido 1 − e τ , onde τ = (3)
. 3k
121
Doc 03 15/2/01 4:53 pm Página 122
provocará uma variação mais rápida da velocidade do corpo com menor massa.
A integração da equação (3) conduz imediatamente à expressão que transcreve o
espaço percorrido em função do tempo
−t
x = V fluido t + τ e τ − 1 (4)
Do exposto se depreende que existirá uma granulometria ideal para realizar uma
separação deste tipo. Essa granulometria será, portanto, a maior possível, desde
que permita uma diferenciação efectiva das densidades, ou seja, desde que
promova a desagregação eficiente do minério em partículas maioritariamente
constituídas por grãos minerais de uma determinada espécie.
4 É claro que poderemos aumentar esta separação se, em vez de lançar as esferas com velocidade nula segundo
OX, o fizermos com velocidade negativa, ou seja, em contra-corrente. Se o módulo dessa velocidade for, por
exemplo, igual à velocidade do fluido será de esperar um efeito duplo.
122
Doc 03 15/2/01 4:53 pm Página 123
35
30
25
20
15
1/τ= 0.5
1/τ= 0.2
10
1/τ= 0.1
1/τ= 0.05
1/τ= 0.025 5
0
0 10 20 30 40
Tempo / unid.arb
Bomba
Figura 4
123
Doc 03 15/2/01 4:53 pm Página 124
A dedução das equações do movimento das esferas é, neste caso, um pouco mais
complicada, sobretudo porque a velocidade da água varia de ponto para ponto.
Apesar disso e do facto de estarmos a trabalhar com objectos cuja diferença de
densidades é enorme, julgamos que esta "mesa de separação" pode permitir o
mais importante: discutir seriamente os princípios subjacentes às técnicas de
separação gravítica e, adicionalmente, mostrar que a mecânica pode ser
engraçada e não é apenas um assunto com fortes propriedades sedativas.
Antes de encerrar este conjunto de notas, julgamos pertinente tecer algumas con-
siderações gerais sobre a separação de minerais com base na sua densidade,
porquanto os dispositivos técnicos vulgarmente utilizados, sendo bastante simples,
podem ser montados e utilizados na maioria dos laboratórios escolares.
Vejamos, ainda que de modo muito sumário, alguns dos principais requisitos e
cuidados a ter nas principais etapas envolvidas na separação gravítica por líquidos
pesados (a qual permite, normalmente, obter fracções minerais de grande pureza).
A escolha do(s) procedimento(s) a adoptar na separação gravítica por líquidos
pesados deverá envolver a avaliação preliminar da dimensão dos grãos a atingir
através da trituração da rocha (isto para evitar a produção de um número
excessivo de grãos mistos, algo que introduz enormes problemas na separação,
qualquer que seja o método adoptado). A dimensão a seleccionar depende funda-
mentalmente da granularidade da rocha e das relações que os minerais estabelecem
entre si, muito embora valores compreendidos entre 0.08 e 0.12 mm sejam
recomendáveis, pois, em geral, possibilitam um bom rendimento na maioria dos
métodos de separação, incluindo a separação manual sob observação à lupa binocular.
124
Doc 03 15/2/01 4:53 pm Página 125
5 Os peneiros são constituídos por uma rede metálica circular, montada numa tira também de metal, com a forma
de um cilindro de pequena altura; têm normalmente cerca de vinte centímetros de diâmetro e cinco de altura.
Especificam-se em mesh, isto é, em "número de fios metálicos por polegada linear", característica esta que nos
indica o diâmetro dos grãos que por ela podem passar. As séries de peneiros mais vulgares são vulgarmente
designadas pelas siglas "B.S." ou "A.S.T.M.". A granularidade (φ) de cada fracção é normalmente indicada por dois
números mesh precedidos, respectivamente, pelos sinais – e + (ex: -170, +230 mesh, o que denota a presença
de grãos que passaram no peneiro 170 mesh e ficaram retidos no 230 mesh).
125
Doc 03 15/2/01 4:53 pm Página 126
126
Doc 03 15/2/01 4:53 pm Página 127
Figura 5 Figura 6
Figura 7
127
Doc 03 15/2/01 4:53 pm Página 128
Referências
Barriga F.J.A.S. (1973). Técnicas de Análise em Mineralogia e sua aplicação aos minerais
das rochas granulares da Ilha da Madeira. Relatório de Estágio Científico, Faculdade de
Ciências da Universidade de Lisboa: 61 pp.
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calculations using the isocon method. Economic Geology, 90: 1261-1270.
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I.S.E. Charmichael & H.P. Eugster eds., Mineralogical Society of America: 235-319.
Brimhall G.H., Dietrich W.E. (1987). Constitutive mass balance relations between chemical
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Grant J.A. (1986). The isocondiagram – a simple solution to Gresen’s equation for
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176.
Hutchinson C.S. (1974). Laboratory Handbook of Petrographic Techniques. John Wiley &
Sons, New York: 527 pp.
Muller L.D. (1967). Laboratory methods of mineral separation. In: Physical Methods in
Determinative Mineralogy, J. Zussman ed., Academic press, London.
128
Recomendações para uma
correcta utilização de
equipamentos e técnicas
padrão
Doc 04 15/2/01 4:44 pm Página 131
ELISA MAIA
131
Doc 04 15/2/01 4:44 pm Página 132
Note-se que o termo quantidade é aqui usado com alguma frequência, mas
sempre com o seu significado comum na linguagem corrente e por ser difícil
encontrar um substituto adequado. Dado o tipo de testes que se podem realizar
com estes kits, não tem sentido falar em quantidade química (em moles). De
acordo com os manuais de utilização dos kits, as unidades em que vêm expressos
os resultados são "libras por acre" ou, nalguns casos, ppm. O factor de conversão
baseia-se na consideração de que "um acre de terreno, admitindo uma
profundidade de 6-7 polegadas, que é a correspondente à profundidade média
de semeadura, pesa 2 000 000 libras", e assim tem-se "ppm x 2 = lb/acre". Não
é necessário salientar que, sendo o equipamento de origem americana, as
unidades não são unidades SI.
Num dos manuais referidos, depois de uma introdução sobre o que é o solo, sua
composição e efeitos do cultivo excessivo, trata-se pormenorizadamente dos
nutrientes de diferentes tipos (macronutrientes, micronutrientes e nutrientes
vestigiais) e da importância da sua existência em quantidades disponíveis
adequadas a diversas culturas. A presença de determinado nutriente no solo só
tem real significado em termos agronómicos se esse nutriente estiver disponível
para assimilação pelas plantas. A sua existência em formas não assimiláveis, ou
só muito lentamente disponíveis, não interessa directamente ao agricultor. Sendo
assim, estes kits estão desenhados para dar informação útil, não indicando,
portanto, a quantidade total do nutriente no solo, mas apenas, e de forma
semiquantitativa, as quantidades disponíveis nas condições do terreno. Não estão
também preparados para determinações de contaminação por poluentes de
diferentes tipos, não sendo adequados como equipamentos padrão para análises
de poluição de solos.
132
Doc 04 15/2/01 4:44 pm Página 133
A utilização dos kits de La Motte pode ainda ser feita nas disciplinas de Técnicas
Laboratoriais de Química, nomeadamente em TLQ III, em que existe uma
componente de análise de solos, ou em trabalhos de projecto em que esta vertente
possa ser importante. Enquanto que no caso da formação de técnicos se privilegia
a aplicação do equipamento, dando maior ênfase ao correcto procedimento,
seguindo a par e passo uma rotina puramente técnica, tal não deverá ser o caso
quando a exploração deste equipamento se faça integrada em cursos com mais
forte componente química, em que os aspectos científicos não devem ser postos de
lado. Podem ser estudadas, por exemplo, as reacções químicas em que os testes
se baseiam e discutidos problemas de solubilidade de compostos variados.
Questões sobre equilíbrio químico (ou não), sobre acidez e alcalinidade,
tamponização de meios, trocas iónicas, e tantas outras que se entrecruzam podem
ser trazidas a uma discussão mais ou menos aprofundada.
133
Doc 04 15/2/01 4:44 pm Página 134
Assim a ideia, a princípio tentadora, de usar os kits foi posta de parte em prol de
recorrer a métodos tradicionais de análise. Mas aí começaram a surgir
dificuldades. A química dos solos é uma química difícil, complexa, em que as
interacções entre os diferentes componentes são múltiplas. Mesmo as "simples"
determinações de pH, de uma acidez ou alcalinidade, que aparentemente seriam
lineares, não o são. O que é o pH do solo? Como determiná-lo, em que
condições, e qual o significado do valor obtido por cada método? A presença ou
ausência de determinados componentes propicia a existência, em maior ou menor
extensão, de propriedades tampão com consequências muito relevantes sobre o
valor determinado. A simples modificação da temperatura altera o pH e a
solubilidade das diversas substâncias, daí o interesse da sua leitura no local; o
134
Doc 04 15/2/01 4:44 pm Página 135
Por outro lado, a bibliografia disponível de Química Analítica não dava respostas
suficientes, e quando as dava, por vezes os reagentes necessários não existiam na
escola de Santarém e a consulta de literatura muito especializada implicaria um
estudo demorado. A pressão de tempo, o ritmo alucinante de trabalho, a
necessidade de dar uma resposta rápida às questões postas e de apresentar
trabalho no final da semana não se compadeciam com pesquisas aturadas,
encomendas de reagentes, protocolos complicados e por vezes lentos.
Também pode ser tentada a produção, com os alunos se possível, de kits deste
género, com adaptação a outros tipos de análise, nomeadamente, explorando
aspectos de ecotoxicologia. Mesmo no caso de replicação, é necessário experimentar
e adaptar, porque as indicações dos fabricantes não são claras, no que se refere
a concentrações, por exemplo. Pode ser necessário procurar outros indicadores e
eventualmente pesquisar e testar outras reacções de identificação, com reagentes
alternativos mais fáceis de obter, podendo próprios alunos fazer as necessárias
tabelas de cores. A padronização poderia ser feita por comparação com
resultados obtidos com métodos tradicionais. Os materiais – frascos e pipetas –
são baratos e os reagentes são usados em quantidades muito pequenas,
originando muito poucos resíduos, o que é ainda uma mais valia do ponto de vista
ambiental, a que muitos alunos são já (ou deveriam vir a ser) sensíveis.
Por todas estas razões os Kits de La Motte (ou outros) deveriam ser utilizados com
mais frequência e não ficar fechados em armários de escolas.
135
Doc 04 15/2/01 4:44 pm Página 137
4.2 O Espectrofotómetro
J.M.SERRA
Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa
A instrumentação
Princípio de funcionamento
137
Doc 04 15/2/01 4:44 pm Página 138
B
C D
Os componentes do espectrofotómetro
A fonte luminosa
Todas a substâncias são susceptíveis de emitir e absorver radiação
electromagnética. Nas fontes dos espectrofotómetros são normalmente usados
elementos de SiC aquecidos, filamentos de tungsténio ou lâmpadas de arco,
consoante se pretende trabalhar na zona do infravermelho, visível ou ultravioleta.
A título de exemplo apresenta-se na figura 2 um espectro de emissão de uma
lâmpada de tungsténio.
O monocromador
O monocromador destes instrumentos é constituído por uma rede de difracção e
um conjunto de espelhos. O comprimento de onda é seleccionado pela rotação
da rede de difração.(ver figura 3)
O detector
Os espectrofotómetros que funcionam na região visível do espectro
electromagnético usam detectores de silício. Estes detectores têm uma resposta
que varia com o comprimento de onda (cdo), como se pode observar na Figura 4.
A este detector está acoplado um amplificador que fornece um sinal cuja medida
é afixada no mostrador do aparelho.
138
Doc 04 15/2/01 4:44 pm Página 139
(%)
100
50
139
Doc 04 15/2/01 4:44 pm Página 140
(%)
100
50
140
Doc 04 15/2/01 4:44 pm Página 141
T(%)= I/Io
E a absorção?
Vamos agora repetir a experiência anterior usando como amostra uma fina lamela
de vidro.
Uma vez que sabemos existir uma reflexão do feixe sempre que este muda de meio,
podemos construir o esquema indicado na Figura 5.
Ou seja, a radiação que atinge o detector não resulta apenas de uma passagem
pela amostra (raio 1), mas também do raio 2 e de outros que se obtêm se
prolongarmos o desenho das múltiplas reflexões.
141
Doc 04 15/2/01 4:44 pm Página 142
Raio 1
Raio 2
0.24
0.22
0.20
0.18
0.16
0.14
0.12
0.10
0.08
0.06
nº de onda (cm ) -1
142
Doc 04 15/2/01 4:44 pm Página 143
nonda =m/(2dn)
A condição para uma interferência destrutiva dos feixes diz-nos que devem ter uma
diferença de caminho que seja um múltiplo de λ/2, ou seja 2d’=mλ/2.
A medida da absorvância
143
Doc 04 15/2/01 4:44 pm Página 144
Estar vazia significa na realidade que contém ar; se estamos a analisar uma
solução aquosa, então, pelo que acima se discutiu, será mais rigoroso usá-la já
com uma solução o mais próxima possível da solução que se pretende estudar,
pois só assim estaremos em condições de transmissão semelhantes. Aliás este é o
princípio usado nos espectrofotómetros de duplo feixe, em que um dos porta-
-amostras tem a amostra de referência e o outro a amostra a analisar.
Conclusão
144
Doc 04 15/2/01 4:44 pm Página 145
A.MATEUS
Várias foram as Escolas Secundárias que, nos últimos anos, receberam caixas
TECTODIDAC MT 15472, concebidas pela PIERRON Entreprise para apoio a aulas
experimentais de Geologia no desenvolvimento de modelos analógicos
qualitativos sobre a deformação de rochas, erosão e deposição de sedimentos
detríticos. Por diversas razões, porém, este equipamento didáctico não tem sido
utilizado e/ou convenientemente explorado, comprometendo os propósitos
implícitos na sua distribuição. Não vamos aqui discutir as razões eventualmente
subjacentes à não utilização desta caixa de deformação qualitativa, mas sim
enumerar as principais vantagens pedagógicas e didácticas inerentes ao seu uso,
sem esquecer a apresentação dos cuidados a ter na concepção e análise dos
resultados adquiridos em cada experiência.
145
Doc 04 15/2/01 4:44 pm Página 146
3) lavar a caixa e seus acessórios com água corrente após cada ensaio, depois de
limpeza prévia com o auxílio de um pincel limpo e seco.
B
C D
146
Doc 04 15/2/01 4:44 pm Página 147
1) após verter uma determinada porção de areia ou silte para a caixa se deve
proceder à sua distribuição uniforme e subsequente compacção com o auxílio de
uma espátula e de uma mesa em T ou cilindro manual, respectivamente, por forma
a gerar um estrato coeso, homogéneo e de espessura regular (evitando, tanto
quanto possível, a criação de anisotropias particulares que possam constituir
domínios preferenciais de nucleação das estruturas);
147
Doc 04 15/2/01 4:44 pm Página 148
(%)
100
50
Qualquer que seja o tipo de ensaio a efectuar, afigura-se conveniente realizar não
apenas uma experiência que documente a génese e desenvolvimento de uma
148
Doc 04 15/2/01 4:44 pm Página 149
149
Doc 04 15/2/01 4:44 pm Página 150
150
Doc 04 15/2/01 4:44 pm Página 151
Acresce, por último, referir que os dispositivos geométricos obtidos com o auxílio
da caixa qualitativa de deformação se revelam excelentes para efeitos de
comparação com vários registos gráficos resultantes da análise e interpretação de
cartas geológicas, como sejam os perfis geológicos e os blocos diagrama (em
cujas secções se inscrevem os elementos pertinentes à compreensão da
arquitectura do substrato geológico da área representada).
151
Doc 04 15/2/01 4:44 pm Página 153
A.MATEUS
153
Doc 04 15/2/01 4:44 pm Página 154
quantas foram as vezes em que o pivot de um telejornal nos encaminhou para uma
representação cartográfica, dando conta de um determinado acontecimento
(geopolítico, militar, económico, social, climático, etc.) e sua subsequente
evolução? A incerteza na resposta a estas questões (ou a muitas outras similares)
é certamente elevada, porquanto dificilmente poderemos contabilizar com rigor o
número de vezes em que, por força das circunstâncias, consciente ou
inconscientemente, fomos levados a manusear ou a interpretar um registo gráfico
inscrito num um plano, mapa ou carta. Mas será que as informações ministradas
no âmbito dos conteúdos programáticos oficiais se transformam efectivamente em
conhecimento? Ou seja, será que a ênfase colocada nas questões práticas
(visando a operacionalidade e, até certo ponto, a utilização de rotina) não impede
a verdadeira percepção das questões-base que orientam o método cartográfico e
das vantagens e limitações inerentes à escolha desta ou daquela representação da
superfície terrestre ou da distribuição espacial de uma determinada variável? Não
seria preferível abordar toda esta problemática num quadro mais vasto em que a
orientação geográfica e a utilização dos planos, cartas e mapas se revestisse de
especial significado, surgindo como uma necessidade real? E, nesta perspectiva,
não poderiam os docentes tirar maior partido educativo das noções ministradas e
devidamente experimentadas?
154
Doc 04 15/2/01 4:44 pm Página 155
155
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156
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Figura 1
157
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Figura 2
Figura 3
158
Doc 04 15/2/01 4:44 pm Página 159
De forma muito simples, podemos dizer que uma bússola consiste numa caixa com
limbo graduado (dividido em 360 partes iguais) em cujo interior existe uma agulha
magnética montada sobre um eixo vertical, em torno do qual roda, indicando a
direcção Norte-Sul magnética. A amplitude do desvio entre esta última direcção
e um rumo desconhecido pode então ser medida recorrendo ao limbo graduado
da caixa, tendo o cuidado de colocar a bússola na horizontal (por forma a que a
agulha rode livremente em torno do eixo - para garantir tal requisito é sempre
possível recorrer a um nível-bolha previamente colocado na caixa). Mas que
relação existe entre o Norte-Sul magnético e o Norte-Sul geográfico? E, neste
contexto, qual é o verdadeiro significado da declinação magnética patente em
todas as cartas topográficas e para que serve? Tais questões, frequentemente
colocadas por quem pela primeira vez utiliza racionalmente a bússola e tenta
descodificar as cartas topográficas, permitem introduzir e/ou relembrar toda uma
série de noções relacionadas com o campo magnético da Terra. E a oportunidade
não pode ser negligenciada, porquanto, mesmo sem entrar em grandes
formalismos matemáticos, é possível compreender que o globo terrestre se
comporta como um íman bipolar fraco (graças às suas grandes dimensões) cujo
campo magnético (de natureza vectorial) resulta da adição de três parcelas
fundamentais denominadas campos regular, irregular e variável. A primeira diz
respeito à magnetização uniforme do globo e corresponde a cerca de 92% do
campo total; a segunda, perfazendo cerca de 2% do campo magnético total, tem
também origem interna e depende das anomalias locais e regionais determinadas
pela presença de corpos geológicos subsuperficiais fortemente magnéticos; a
terceira parcela, cerca de 6% do campo total, representa a contribuição das
variações periódicas (diária, anual, secular) e esporádicas (perturbações e
tempestades magnéticas) de origem externa ao planeta. Uma vez estabelecidas as
principais origens do campo magnético terrestre, acresce referir que, em qualquer
ponto da superfície terrestre, o mesmo fica definido com base nas componentes
horizontal (H) e vertical (Z), sendo ainda possível determinar os valores da
inclinação magnética (I) e declinação magnética (D). A componente horizontal do
campo magnético num dado local representa a projecção do campo nesse ponto
sobre um plano horizontal, pelo que H se exprime através das medidas
rectangulares Norte (X - dirigida segundo o meridiano geográfico) e Este (Y -
segundo direcção perpendicular à anterior), resultando, a partir da figura 4,
X = H × cos D , Y = H × senD ,
Z Y
tagI = e tagD = ,
X2 + Y2 X
159
Doc 04 15/2/01 4:44 pm Página 160
Norte
Meridiano Magnético
X D
Y
Este
I
Vertical do lugar
160
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1 A breve alusão que aqui se faz ao problema da escala exclui todos os documentos cartográficos que abrangem
porções do globo com extensão angular considerável admitindo, portanto, variação significativa de escala de
ponto para ponto.
161
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Não é difícil perceber que as fotografias aéreas retratam de forma fidedigna a área
por si abrangida, permitindo identificar com relativa simplicidade e bastante
precisão os diferentes elementos geomorfológicos (facilitando, portanto, a
orientação e localização), desde que estas tenham sido obtidas
perpendicularmente à superfície terrestre, por forma a não introduzir distorções,
algo que exige câmaras especiais e a garantia de se realizar um voo a altitude
constante. Nestas circunstâncias e efectuando trajectos aéreos paralelos, é
possível proceder à cobertura de uma região com fotografia sequencial
automaticamente disparada, assegurando que cada fotografia cubra 30% de uma
nova área e 60% da área previamente fotografada. Tal possibilita a reconstituição
da imagem tridimensional do terreno fotografado com o auxílio de um
estereoscópio (e.g. Serralheiro, 1984).
162
Doc 04 15/2/01 4:44 pm Página 163
A realização de medições com base em fotografas aéreas não pode ser realizada
de forma directa, uma vez que a projecção cónica cartográfica utilizada no
documento fotográfico introduz distorções muito significativas, a mais importante
das quais consiste na variação monotónica da escala a taxa crescente do centro
para a periferia da fotografia. Importa, por isso, proceder previamente à
triangulação aérea e à análise altimétrica, recorrendo aos meios técnicos
adequados para o efeito, transformando as fotografias aéreas em ortofotomapas.
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York,133 pp.
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Serralheiro A. (1984). O relevo em estereoscopia. Geonovas, 7: 3-8.
163
Doc 04 15/2/01 4:44 pm Página 165
Doc 04 15/2/01 4:44 pm Página 166