Livro o Ultimo Convite
Livro o Ultimo Convite
Livro o Ultimo Convite
A
o longo da vida, recebemos muitos convites. Eles CLIFFORD GOLDSTEIN
expressam o anseio de alguém pela nossa presença.
Podem ser um símbolo material de um vínculo fami-
liar, de uma amizade de longa data, da importância e
do valor que atribuímos a uma pessoa. Convites também indi-
cam afinidade e exclusividade. Os melhores convites despertam
sentimentos, aquecem o coração e muitas vezes promovem
encontros inesquecíveis.
Este livro é um convite, um chamado à reflexão. Ele traduz
de maneira simples três preciosas mensagens para você. Foi
escrito com os pés no presente, um olhar no passado e atenção
O ÚLTIMO CONVITE
ao futuro. Aborda questões essenciais da atualidade e comu-
nica uma poderosa mensagem de esperança e superação.
O Último Convite é um lançamento mundial que não pode
O ÚLTIMO
CONVITE
faltar na sua estante. Escrito por um autor experiente, apre-
senta informações indispensáveis para você e seus queridos.
Leia. Estude. Compartilhe!
UMA MENSAGEM DE
ESPERANÇA
O ÚLTIMO
CONVITE
UMA MENSAGEM DE
ESPERANÇA
Tradução
Cecília Eller Nascimento
Goldstein, Clifford
O último convite : uma mensagem de esperança /
Clifford Goldstein ; tradução Cecília Eller
Nascimento. – 1. ed. – Tatuí, SP :
Casa Publicadora Brasileira, 2021.
21-71715 CDD-228.06
Índices para catálogo sistemático:
1. Apocalipse : Profecias : Interpretação : Bíblia
228.06
Os textos bíblicos citados neste livro foram extraídos da versão Nova Almeida Atualizada, salvo outra indicação.
Introdução ◆ 6
1 Poderes e Autoridades ◆ 10
2 O Risco do Amor ◆ 14
3 As Mensagens ◆ 19
4 Anjos sem Asas ◆ 24
5 Desde Sempre ◆ 27
6 Um Chamado Para Todos ◆ 32
7 Esperança de Justiça ◆ 37
8 A Hora do Juízo ◆ 43
9 Palmas Para o Autor ◆ 50
10 À Sombra da Imagem ◆ 55
11 O Fim de Babel ◆ 60
12 O Último Convite ◆ 66
13 Mudanças Repentinas ◆ 72
Conclusão ◆ 76
Introdução
Nova perspectiva
É interessante notar que a Bíblia também retrata o fim deste mundo, porém
de forma bem diferente de Hollywood ou da ciência. Confira alguns textos
bíblicos sobre a perspectiva do nosso mundo em longo prazo: “Pois eis que
Eu crio novos céus e nova terra; e não haverá lembrança das coisas passa-
das, jamais haverá memória delas” (Isaías 65:17). “Nós, porém, segundo a
promessa de Deus, esperamos novos céus e nova terra, nos quais habita
a justiça” (2 Pedro 3:13). “E vi novo céu e nova terra, pois o primeiro céu e a
primeira terra passaram, e o mar já não existe. Vi também a cidade santa,
a nova Jerusalém, que descia do céu, da parte de Deus, preparada como
uma noiva enfeitada para o seu noivo” (Apocalipse 21:1, 2). Ou este, um
dos mais esperançosos: “E lhes enxugará dos olhos toda lágrima. E já não
existirá mais morte, já não haverá luto, nem pranto, nem dor, porque as
primeiras coisas passaram” (v. 4).
Nada parecido com o Grande Congelamento, nem com o Grande
Colapso, certo? Tampouco com o futuro retratado em Zumbilândia.
Sim, a ciência e a revelação bíblica estão de acordo: nosso mundo não
permanecerá nesta condição para sempre. Tudo vai mudar. Mas e quanto
a nós e às pessoas que amamos? O fim do mundo será o fim definitivo de
todos nós também? A Grande Ruptura ou o Grande Congelamento não
oferecem qualquer esperança em longo prazo, não é verdade?
Como pode-se perceber, as previsões da ciência nada nos oferecem
além da perspectiva de que nós e nossos amados desapareceremos no
esquecimento eterno. A conclusão mais óbvia é que, em última instância,
não valemos nada, nossa vida não tem significado algum e não temos rele-
vância maior do que uma nuvem de poeira cósmica. “Devo lhes declarar
mais uma vez a suprema inutilidade da cultura, da ciência, da arte, do
bem, da verdade, da beleza, da justiça”, escreveu o espanhol Miguel de
Unamuno, “se, afinal, em quatro dias ou em quatro milhões de séculos,
não importa qual dos dois, não existir mais consciência humana para se
apropriar desta civilização, desta ciência, desta arte, deste bem, desta ver-
dade, beleza, justiça e de todo o resto?”2
Em contraste, a Bíblia traz a promessa de um futuro radicalmente dife-
rente para o mundo e, o mais importante, para nós: um novo céu e uma
nova terra. Contudo, essa promessa leva a uma pergunta lógica: O que
acontecerá com o antigo céu e a antiga terra? O que acontecerá com eles
8 O Último Convite
e conosco? A resposta é cheia de promessa e esperança. O antigo céu e a
antiga terra serão renovados, transformados em um novo céu e uma nova
terra, os quais serão habitados pelas pessoas por toda a eternidade, em
uma existência sem maldade, sofrimento, doença e morte. Trata-se de um
conceito dif ícil de ser imaginado.
No entanto, a Bíblia afirma que, antes de tudo isso acontecer, uma crise
terrível sobrevirá ao mundo, uma crise que fará alguns desses filmes apoca-
lípticos de Hollywood parecerem brincadeira de criança. O profeta Daniel,
do Antigo Testamento, advertiu: “E haverá tempo de angústia, como nunca
houve, desde que existem nações até aquele tempo” (Daniel 12:1).
Desde o surgimento da covid-19, alguém duvida de que o mundo
inteiro pode, de uma hora para a outra, enfrentar uma crise? Quem não
tem a sensação de que essa pandemia pode ser o princípio das dores, e algo
pior pode estar à nossa espreita?
De acordo com as Escrituras, de fato haverá algo pior. Todavia, a boa
notícia é que Deus “amou o mundo de tal maneira que deu o Seu Filho
unigênito, para que todo o que Nele crê não pereça, mas tenha a vida
eterna” (João 3:16). Esse mesmo Deus não nos deixou sem esperança, sem
advertência, sem um meio de escape do desespero e da destruição que
essas provas finais acarretarão sobre tantos.
Do início ao fim da Bíblia, os profetas, mesmo enfrentando tudo
que este mundo decadente pode nos fazer sofrer, como doença, depres-
são, guerra, desastres naturais, encarceramento, exílio, tortura e morte,
escreveram vez após outra sobre o amor e a bondade de Deus. Isaías, há
2.500 anos, declarou: “‘Embora os montes sejam sacudidos e as colinas
sejam removidas, ainda assim a Minha fidelidade para com você não será
abalada, nem será removida a Minha aliança de paz’, diz o Senhor, que
tem compaixão de você” (Isaías 54:10, NVI). O salmista, há quase 3 mil
anos, foi capaz de cantar: “Deem graças ao Deus dos Céus. O Seu amor
dura para sempre!” (Salmo 136:26, NVI). O apóstolo Paulo, que suportou
prisão, enfermidades f ísicas, pobreza, fome e frio, sofreu o ódio e a vio-
lência da multidão, pôde escrever com grande convicção que “Deus prova
o Seu próprio amor para conosco pelo fato de Cristo ter morrido por nós
quando ainda éramos pecadores” (Romanos 5:8).
Em outras palavras, embora algumas pessoas tentem usar o mal deste
mundo como desculpa para negar a existência de Deus, ou pelo menos a
9
Referências
1
Paul Davies, The Last Three Minutes (Nova York: Basic Books, 1994), p. 49, 50.
2
Miguel de Unamuno, Tragic Sense of Life (Nova York: Dover, 1954), p. 96.
Poderes e Autoridades
Relances do desconhecido
Confira a seguir algumas citações bíblicas sobre a vida existente em outras
partes da criação:
“A intenção dessa graça era que agora, mediante a igreja, a multiforme
sabedoria de Deus se tornasse conhecida dos poderes e autoridades nas
regiões celestiais” (Efésios 3:10, NVI). Poderes e autoridades... de onde?
Das regiões celestiais, ou seja, de outras partes da criação, além da Terra.
É ainda mais fascinante constatar que, de
acordo com esse texto, esses poderes e essas
autoridades são informados por Deus sobre Existem mais estrelas
o que acontece aqui na Terra com Sua igreja. do que grãos de
Outra passagem: “Pois a nossa luta não areia em todas as
é contra pessoas, mas contra os poderes e
praias do mundo.
autoridades, contra os dominadores deste
mundo de trevas, contra as forças espiri- Milhões ou bilhões
tuais do mal nas regiões celestiais” (Efésios de exoplanetas.
6:12). Uau! Esse é um vislumbre de que, até Estaríamos sozinhos
agora, a Seti não chegou nem perto de uma no Universo?
descoberta! O texto fala sobre “a nossa luta”.
Contra quem? Contra as forças espirituais
do mal nas regiões celestiais – contra elas mesmo! Os desdobramentos
desse verso, assim como de outros, são estarrecedores. Não só existem
outras formas de vida no Universo, como também algumas delas são más.
E esse mal está trabalhando contra nós na Terra.
Mais um texto bíblico: “Pois Nele foram criadas todas as coisas nos
céus e na terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos ou soberanias,
poderes ou autoridades; todas as coisas foram criadas por Ele e para Ele”
12 O Último Convite
(Colossenses 1:16, NVI). Aqui a Bíblia está falando sobre Jesus como o
Criador de todas as coisas (cf. João 1:1-3), tanto na Terra quanto no Céu,
“as visíveis e as invisíveis”.
Alguns trechos do livro de Apocalipse dão destaque ainda maior a
essa ideia: “Então estourou a guerra no Céu. Miguel e os Seus anjos luta-
ram contra o dragão. Também o dragão e os seus anjos lutaram, mas não
conseguiram sair vitoriosos e não havia mais lugar para eles no Céu. E foi
expulso o grande dragão, a antiga serpente, que se chama diabo e Satanás,
o sedutor de todo o mundo. Ele foi atirado para a Terra, e, com ele, os seus
anjos. [...] Por isso, alegrem-se, ó céus, e vocês que neles habitam. Ai da
terra e do mar, pois o diabo desceu até vocês, cheio de fúria, sabendo que
pouco tempo lhe resta” (Apocalipse 12:7-12).
O que a Bíblia está dizendo? Em primeiro lugar, não estamos sozinhos
no cosmos. Existem outras formas inteligentes de vida. Mais uma vez,
levando em conta o tamanho do Universo e todas as estrelas que ele con-
tém, isso não deveria nos surpreender. Seria espantoso se não houvesse
outras formas de vida. Em segundo lugar, algumas dessas formas de vida
são hostis, são más e trouxeram o mal para a Terra. Se “estourou a guerra
no Céu” e alguns combatentes estão aqui, deveria nos surpreender haver
tanto conflito aqui na Terra também? O que esses versos e outros seme-
lhantes revelam é o que tem sido chamado de conflito cósmico – um con-
fronto entre o bem e o mal que, embora tenha começado em outra parte
da criação, tem se desenrolado aqui na Terra.
Muitas pessoas, religiosas ou não, mesmo sem conhecer os detalhes
ou as origens, conseguem identificar e sentir o confronto entre o bem e o
mal em nosso mundo.
O poeta T. S. Eliot escreveu:
Referências
1
“How Many Exoplanets Are There?”, disponível em https://exoplanets.nasa.gov/faq/6/how-many-exoplanets-are-there/, acesso em 3 de
maio de 2021.
2
T. S. Eliot, The Rock (Nova York: Harcourt, Brace and Company, 1934), p. 9.
3
Frederick Nietzsche, Genealogia da Moral (São Paulo: Companhia das Letras, 2009), p. 16.
4
Michael Brown, Job: The Faith to Challenge God (Peabody, MA: Hendrickson Publishers, 2019), p. 30.
A maioria das pessoas ama cachorros, a menos que tenha passado por
alguma experiência negativa com um. Afinal, eles são amigáveis,
afetuosos, fiéis, leais e amorosos. Aliás, alguns cachorros, chamados
de cães de serviço, são usados para ajudar pessoas com problemas emocio-
nais, tamanho seu efeito calmante e consolador. Quem não gosta de fazer
carinho em seu pelo macio?
É claro que os cachorros também dão trabalho! Eles podem morder,
sujar tapetes, ficar doentes, estragar móveis, soltar pelos, tudo isso além
das despesas para mantê-los alimentados e saudáveis. Quase todos os
donos de cães, até os mais apaixonados, pensaram em algum momento:
“Vale a pena todo esse trabalho?”
No entanto, suponhamos que você pudesse ter um cão que nunca suje
os tapetes da casa, jamais adoeça e não seja preciso gastar um centavo
para mantê-lo saudável. Quem não aproveitaria a oportunidade de ter um
cachorro assim? Na verdade, você pode! Que tal um cão robô, por exem-
plo? De acordo com uma fabricante japonesa, seu cão eletrônico “é um
verdadeiro companheiro com emoções e instintos reais. Com a amorosa
atenção de seu dono, ele se tornará um amigo mais maduro e divertido
com o tempo”.
O cão “tem emoções e instintos verdadeiros programados no cére-
bro”, alegam seus desenvolvedores. “Ele age para satisfazer os desejos cria-
dos por seus instintos. Quando satisfeito, seu nível de alegria aumenta.
Quando não, ele fica triste ou bravo. Como qualquer ser vivo, ele aprende
a conseguir o que quer. Às vezes, mexe as pernas vigorosamente ou
dá sinais de raiva quando não recebe o tipo de atenção que solicitou.
O Risco do Amor 15
não iriam nem poderiam amar. Mas Deus quis um relacionamento funda-
mentado no amor e, caso tivesse nos robotizado, isso não seria possível.
Não poderíamos amá-Lo, da mesma forma que uma geladeira é incapaz
de retribuir amor ao seu dono.
Quem sabe Ele pudesse ter eliminado Lúcifer no instante em que
este começou sua rebelião. Mas essa opção também não funcionaria.
Suponhamos que você seja um líder amável e cuidadoso para com seu grupo.
Então, por algum motivo totalmente injusto, uma pessoa começasse uma
rebelião, acusando-o de ser maldoso, egoísta, arbitrário e ditatorial. Como
reação, mesmo antes de um julgamento, antes de permitir que apresentem
o caso em sua presença e diante dos outros, você enfileira os rebeldes e os
fuzila. Desta forma, você terá acabado com a rebelião. Mas e as acusações
feitas contra você? Seus atos terão provado exatamente as queixas feitas
contra sua pessoa. Você de fato seria maldoso, egoísta, arbitrário e ditatorial.
Se você fosse um líder maldoso que governasse pelo medo e por ameaças,
simplesmente assustaria as pessoas e as levaria a obedecer por medo.
No entanto, as Escrituras ensinam que o Senhor é um Deus de amor.
Ele age pelo amor, não pelo medo. “E nós conhecemos o amor e cremos
neste amor que Deus tem por nós. Deus é amor, e aquele que permanece
no amor permanece em Deus, e Deus permanece nele” (1 João 4:16).
Quando perguntaram a Jesus qual o mandamento mais importante, Ele
respondeu: “Ame o Senhor, seu Deus, de todo o seu coração, de toda a sua
alma, de todo o seu entendimento e com toda a sua força” (Marcos 12:30).
Deus pode nos ordenar a amá-Lo. Só não pode nos forçar. Para amá-Lo,
precisamos ser livres.
Portanto, como um Deus de amor poderia resolver o grande conflito
sem violar o princípio do amor? Imagine um líder acusado por rebeldes
de ser maldoso, egoísta, arbitrário e ditatorial. Suponha que esse líder,
ainda na posição de liderança, descesse ao nível de seu povo, vivesse em
meio a seus súditos, sofresse em meio a eles e até sacrificasse a própria
vida por eles, mostrando que as acusações que lhe foram lançadas eram
o oposto de quem ele realmente era. Aliás, e se aqueles que fizeram as
acusações contra ele fossem os mesmos que o mataram, provando que, na
verdade, eles é que eram culpados daquilo que acusavam seu líder?
Embora seja apenas uma analogia, de maneira bastante geral, isso
foi o que aconteceu com Jesus de Nazaré, o Cristo, na cruz. Ali, o Deus
18 O Último Convite
encarnado respondeu às acusações de Satanás. Cristo assumiu a humani-
dade, e, por meio dessa humanidade, revelou aos anjos e ao mundo quem
Deus realmente é. Conquanto o conflito cósmico ainda esteja em anda-
mento, a ruína de Satanás é certa. “Por isso, alegrem-se, ó Céus, e vocês
que neles habitam. Ai da terra e do mar, pois o diabo desceu até vocês,
cheio de fúria, sabendo que pouco tempo lhe resta” (Apocalipse 12:12).
A revelação do caráter de Deus, o caráter abnegado e de renúncia que
Deus demonstrou na cruz, é a base das três mensagens angélicas – men-
sagens de esperança, promessa e vida eterna, anunciadas a um mundo
que anda rumo à dissolução. A promessa é feita para cada um de nós.
Podemos então escolher tomar posse daquilo que tão graciosamente nos
foi oferecido em Jesus.
Referência
1
Robotbooks.com, “Sony AIBO Robot Dog”, disponível em <http://www.robotbooks.com/sony_aibo.htm>, acesso em 5 de maio de 2021.
F alamos até aqui sobre três mensagens para o mundo. Quais são elas?
Vamos ao texto:
Perseguição milenar
O Apocalipse foi escrito quando João estava exilado na ilha de Patmos,
localizada na costa da atual Turquia. Ele abrange toda a história cristã. Os
22 capítulos tratam de fatos ocorridos desde os tempos de Jesus até o fim
do nosso mundo e a criação do novo. As três mensagens angélicas apa-
recem no capítulo 14. A fim de entender melhor as mensagens, é preciso
compreender um pouco o contexto no qual elas aparecem. Um rápido
resumo dos dois capítulos anteriores, o 12 e o 13, nos ajudará a assimilar
esse quadro.
As Mensagens 21
O futuro
Apocalipse 13 dá continuidade ao tema do conflito cósmico. Mesmo
sem entender o significado preciso dos símbolos, é possível ver o dragão
(Apocalipse 13:2, 4, 11), Satanás, tentando causar destruição na Terra. Os
primeiros versos, usando imagens extraídas de Daniel 7, contam a história da
perseguição da igreja durante a Idade Média. Mesmo derrotado e destinado
à destruição, o inimigo faz suas últimas investidas contra o povo de Deus.
Assim como a igreja apostólica ao longo dos séculos foi perseguida,
Apocalipse 13 fala sobre outra perseguição, uma perseguição futura em
escala mundial. Se a pandemia da covid-19 nos ensinou algo, foi quão
depressa o mundo inteiro pode desabar – como o mundo pode, de repente,
da forma mais dramática e inesperada, mudar. E essa mudança não foi neces-
sariamente para melhor. Apocalipse 13 retrata de forma ampla o que virá –
a aclamação de um poder global, seguida de uma perseguição mundial:
“E ela [a besta] será adorada por todos os que habitam sobre a terra [...].
As Mensagens 23
Referência
1
Livius.org, “Tacitus on the Christians”, disponível em <https://www.livius.org/sources/content/tacitus/tacitus-on-the-christians/>, acesso
em 5 de maio de 2021.
povo de Deus (cf. Daniel 9:20-23; Lucas 1:11-38), a Bíblia também aplica
esse termo a mensageiros humanos.
É possível que o caso mais óbvio seja o de João Batista. Em Mateus 11:9
e 10, o próprio Jesus, após fazer uma rápida descrição de João e chamá-lo
não somente de profeta, mas de “muito mais do que um profeta”, citou o
Antigo Testamento (Malaquias 3:1), dizendo: “Eis que Eu envio o Meu
mensageiro, que preparará o caminho diante de Mim.”
Jesus aplica esse texto a João, embora a palavra hebraica para “mensa-
geiro” aqui seja a mesma usada em todo o Antigo Testamento para “anjo”,
quando fazendo referência a esses seres sobrenaturais que, na maioria de
suas aparições, trazem mensagens do Céu para a Terra. Em outras pala-
vras, tanto seres humanos como anjos são mensageiros de Deus.
No caso do primeiro anjo, dada a natureza simbólica do livro do
Apocalipse e o contexto que se segue, de pregação ao mundo, o “anjo”
é uma referência clara a mensageiros humanos, mas que possuem uma
mensagem do Céu. Ao longo de toda a Bíblia, podemos ver Deus usando
pessoas para testemunhar ao mundo a Seu respeito. Na grande comis-
são, Jesus disse: “Portanto, vão e façam discípulos de todas as nações,
batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os
a guardar todas as coisas que tenho ordenado a vocês. E eis que estou com
vocês todos os dias até o fim dos tempos” (Mateus 28:19, 20). Ele direcio-
nou essas palavras não a anjos, mas a Seus discípulos, Seus seguidores.
São seres humanos que têm anunciado as boas notícias da salvação. Da
mesma forma, são pessoas que vão anunciar as três mensagens angéli-
cas, as quais consistem em uma espécie de
grande comissão contextualizada para os
últimos dias. A palavra
Além disso, o texto diz que João viu
“anjo” significa
“outro anjo”, subentendendo que vieram
anjos anteriores. O livro de Apocalipse “mensageiro”.
abrange a história da igreja desde a primeira
vinda de Jesus até a segunda. Ao longo
desse tempo, por mais que muitos mensageiros angélicos tenham feito
aparições na história cristã (cf. Atos 12:7), a disseminação do evangelho ao
redor do mundo tem se realizado quase que exclusivamente por agentes
e mensageiros humanos.
26 O Último Convite
O que, então, esses anjos, mensageiros humanos com uma mensagem
do Céu, têm a dizer que é tão importante e que pode nos dar esperança
apesar de vivermos neste mundo cada vez mais catastrófico?
Boas notícias
“Vi outro anjo voando pelo meio do céu, tendo um evangelho eterno para
pregar aos que habitam na terra, e a cada nação, tribo, língua e povo”
(Apocalipse 14:6). Sabemos que evangelho é boa notícia. Mas o que espe-
cificamente a Bíblia quer dizer com esse termo? Um grande exemplo pode
ser encontrado em Mateus 11:5. João Batista, o profeta que ajudou a anun-
ciar a vinda de Jesus, havia sido encarcerado e, ao que tudo indicava, não
sairia de lá vivo (cf. Mateus 14:10). Desanimado no cárcere, começou a se
questionar sobre Jesus, a ter dúvidas a Seu respeito. Quando perguntou
ao Mestre se Ele realmente era “aquele que estava para vir” (Mateus 11:3),
isto é, o Messias, Cristo deu a seguinte resposta: “Voltem e anunciem a
João o que estão ouvindo e vendo: os cegos veem, os coxos andam, os
leprosos são purificados, os surdos ouvem, os mortos são ressuscitados e
aos pobres está sendo pregado o evangelho” (v. 4, 5).
Jesus destaca que “o evangelho” estava sendo pregado aos pobres.
A Bíblia na Nova Versão Internacional diz: “As boas-novas são pregadas
aos pobres.” A notícia boa e cheia de esperança é sobre Jesus Cristo e Sua
vinda à Terra.
O evangelho é a boa notícia do que Jesus Cristo fez por todas as pes-
soas do mundo. Mas, o que Ele fez? Se houve um tempo em que todos
necessitam de uma boa notícia, esse tempo é agora, não é verdade? Então
qual é a boa notícia do evangelho, o “evangelho eterno” da primeira men-
sagem angélica?
Referência
1
Ellen G. White, Fé e Obras (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2013), p. 24.
Alcance global
O anjo também fala com “voz forte”, dando a ideia de ser facilmente
ouvido. Nos tempos bíblicos, muito antes da invenção de qualquer ampli-
ficador eletrônico, mensageiros eram treinados desde a juventude para ter
uma voz forte. Esses homens capacitados viajavam de cidade em cidade
transmitindo o comunicado de seus senhores ao público que se aglome-
rava para ouvi-los.
Em suma, a mensagem desse primeiro anjo será proclamada no mundo
inteiro, por escrito ou audivelmente. Este livro que você está lendo agora
faz parte do cumprimento dessa verdade profética. Ninguém poderá
alegar ignorância. A universalidade dessa
mensagem também se encontra naqueles
para quem é direcionada: “aos que habi-
A universalidade da
tam na terra, e a cada nação, tribo, língua
e povo”. A expressão “os que habitam na mensagem angélica
terra” também é usada no Apocalipse para tem algo a dizer
retratar aqueles que não escolheram seguir sobre a igualdade
e obedecer a Deus (Apocalipse 13:8, 14). essencial da
No entanto, uma vez que a mensagem do
humanidade.
primeiro anjo é um chamado à fidelidade,
nesse contexto, a expressão deve se refe-
rir a um tempo em que as pessoas ainda
têm a oportunidade de escolher a quem irão adorar e obedecer (conforme
cap. 6). Aliás, aquilo que vem logo em seguida, a expressão explicativa
“cada nação, tribo, língua e povo”, revela a universalidade da mensagem.
É para todo ser humano.
Isso faz sentido. A humanidade foi criada, no princípio, a fim de viver
para sempre. Para nos garantir essa vida eterna (caso a aceitemos), Deus
estipulou um “evangelho eterno”, muito antes de qualquer um de nós dar o
primeiro suspiro. “Pois é para esse fim que trabalhamos e nos esforçamos,
porque temos posto a nossa esperança no Deus vivo, Salvador de todos,
especialmente dos que creem” (1 Timóteo 4:10). Milhares de anos atrás, o
Senhor disse a Abrão (posteriormente Abraão) que nele seriam “benditas
todas as famílias da terra” (Gênesis 12:3). O fogo destruidor foi original-
mente preparado somente para o diabo e seus anjos, não para os seres
humanos e sua descendência (Mateus 25:41).
34 O Último Convite
O plano da salvação é, em última instância, uma restauração, recriando
o que foi arruinado pelo pecado e pela morte. Logo, não é de se espantar
que a proclamação da primeira mensagem evangélica seja o “evangelho
eterno” para toda a humanidade. Cristo morreu por todas as pessoas, sem
deixar nenhuma de fora. A tragédia dos perdidos é que ninguém deveria
se perder, não depois de já ter sido pago um preço tão alto por sua salvação
– a crucifixão do próprio Criador.
Por fim, em um mundo arrasado por conflitos étnicos, raciais e de
gênero, a universalidade da mensagem angélica tem algo a dizer sobre a
igualdade essencial da humanidade: somos todos miseráveis, necessitados
da graça de Deus. A morte não faz distinção de raça, gênero, classe social
ou riqueza. É uma destruidora que atinge a todos. “Cada nação, tribo,
língua e povo” é, em última instância, igual e impotente diante dela, pois,
mais cedo ou mais tarde, ela levará “cada nação, tribo, língua e povo” de
volta ao pó da terra de onde todos vieram. É por isso que a mensagem do
primeiro anjo se dirige a todos nós.
Temer ou amar?
Por que as primeiras palavras de um anjo que proclama o evangelho eterno
seriam “temam a Deus”? Pense mais uma vez sobre o que o evangelho
eterno fala. O Deus que criou e mantém o Universo, com seus bilhões de
galáxias, cujo poder é tão vasto que nossa imaginação é incapaz de com-
preender, esse Deus Se rebaixou voluntariamente, por amor a nós, a ponto
de Se tornar um de nós. “Tenham entre vocês o mesmo modo de pensar de
Cristo Jesus, que, mesmo existindo na forma de Deus, não considerou o ser
igual a Deus algo que deveria ser retido a qualquer custo. Pelo contrário,
Ele Se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-Se semelhante
aos seres humanos. E, reconhecido em figura humana, Ele Se humilhou,
tornando-Se obediente até a morte, e morte de cruz” (Filipenses 2:5-8).
Já teria sido uma humilhação tremenda apenas descer das glórias do
Céu para vir como ser humano a este planeta caído, repleto de enfermida-
des, guerras e crimes. Afinal, o que é a Terra em contraste com a vastidão
do Universo, com seus estimados 2 trilhões de galáxias, cada uma delas
com bilhões de estrelas e exoplanetas? Na geografia do cosmos, nosso sis-
tema solar inteiro, incluindo o Sol, não teria mais relevância ou importân-
cia que um grão de areia. Esse é o nosso sistema solar. O que dizer então
Um Chamado Para Todos 35
Referência
1
Isto é, viajando à velocidade da luz, a quase 300 mil quilômetros por segundo, uma pessoa gastaria 20 bilhões de anos para alcançar
essa distância.
É comum, nas Escrituras, a ideia de Deus ser glorificado por Seu povo.
Contudo, a expressão “dar glória” a Deus é incomum. Assim, seu uso
na primeira mensagem angélica é tão especial quanto revelador.
Um exemplo poderoso pode ser extraído do início da história israelita,
quando os filhos de Israel, após peregrinarem por 40 anos pelo deserto,
finalmente entraram na Terra Prometida, a qual se encontrava repleta de
povos perigosos e corruptos. Dentre outras coisas, aqueles indivíduos
sacrificavam os filhos a seus deuses. Antes de entrar na terra, os hebreus
foram especificamente advertidos contra essa terrível prática. “Não entre-
gue os seus filhos para serem sacrificados a Moloque. Não profanem o
nome do seu Deus. Eu sou o Senhor” (Levítico 18:21, NVI). Aqueles
cananeus eram povos maus, e, ao que tudo indica, tinham rejeitado havia
muito tempo os esforços divinos de aproximação a eles (Gênesis 15:16).
Observe também a seguinte ideia: ao cometer essa prática ímpia, os israe-
litas estariam profanando o nome de Deus. Trata-se do oposto do conceito
de, ao fazer o bem, obedecer ao Senhor e deixar sua luz brilhar e glorificar
o nome Dele.
Os filhos de Israel também foram advertidos contra guardar os bens
daqueles povos para fins pessoais. “Quanto a vocês, cuidem para não ficar
com nenhuma das coisas condenadas, para não acontecer que, depois de as
terem condenado, vocês as tomem para si. Neste caso, tornariam maldito
o arraial de Israel e trariam confusão a ele” (Josué 6:18, 19). Essas “coisas
condenadas” poderiam contaminar espiritualmente o povo. A segurança
de Israel na terra dependia de sua pureza espiritual. Nada ameaçava
mais essa pureza do que ser contaminado pelas práticas perversas das
38 O Último Convite
nações vizinhas. Boa parte do Antigo Testamento revela o quanto o povo
hebreu se envolveu com as coisas que Deus os advertira a não praticar.
Bem no início, aliás, logo depois da entrada na Terra Prometida, sobre-
veio uma calamidade, e o Senhor explicou o porquê a Josué: “Levante-se!
Por que você está assim prostrado sobre o seu rosto? Israel pecou.
Quebraram a Minha aliança, aquilo que Eu lhes havia ordenado, pois
tomaram das coisas condenadas, furtaram, mentiram e até debaixo da
sua bagagem o puseram” (Josué 7:10, 11). A ideia de misturar coisas proi-
bidas às próprias simbolizava aquilo que levaria à ruína da nação (prática
que, conforme veremos, também assolou o cristianismo). Pouco depois de
entrarem na terra, essa contaminação já estava em andamento.
Por ganância, cobiça e em desobediência flagrante aos mandamentos
de Deus, que não queria ver Seu povo contaminado, alguém de Israel
havia furtado objetos da cidade recém-destruída. Embora tenha recebido
a chance de se apresentar e confessar o erro, somente depois de confron-
tado por Josué (a quem Deus revelou o culpado), Acã admitiu o que fizera,
dizendo: “É verdade, eu pequei contra o Senhor, Deus de Israel, e fiz
assim e assim. Quando vi entre o despojo uma boa capa babilônica, uns
dois quilos e meio de prata e uma barra de ouro pesando mais de meio
quilo, cobicei essas coisas e as peguei para mim; e eis que estão escondidas
na terra, no meio da minha tenda, e a prata, por baixo” (versos 20 e 21).
Quando a situação foi investigada e se descobriu que era verdade,
Josué confrontou Acã pela primeira vez. Ele disse: “Meu filho, dê glória ao
Senhor, Deus de Israel, e renda louvores a Ele. E conte-me, agora, o que
foi que você fez; não me esconda nada” (Josué 7:19). Dê glória a Deus, assim
como na expressão encontrada em Apocalipse 14:7. No contexto do juízo, de
ser chamado a admitir a própria culpa, Acã é instruído a dar glória a Deus.
O que isso significa? Não se trata de dar glória cantando louvores ao Senhor.
Em vez disso, é admitir que Deus era justo não só ao chamar a atenção para
a ganância, egoísmo e rebeldia de Acã, como também na penalidade que se
seguiria. Acã merecia o castigo que estava prestes a sofrer e se esperava que
ele reconhecesse esse fato. Em suma, dar glória a Deus equivale a admitir,
no contexto do juízo, que o julgamento de Deus é completamente justo.
Levando em conta o conflito cósmico e a justiça divina ao lidar com ele,
como é importante não só que os juízos de Deus sejam justos, mas que o
Universo reconheça essa justiça (Efésios 3:10)! Aliás, Apocalipse 19:1 e 2
Esperança de Justiça 39
Pare de se preocupar
Anos atrás, ateus britânicos lançaram uma campanha naqueles famosos
ônibus vermelhos de dois andares que circulam pelas ruas de Londres.
O anúncio dizia (em inglês): “Deus Provavelmente Não Existe. Então Pare
de se Preocupar e Aproveite a Vida.”
Deus provavelmente não existe?
E se Deus existir, por que você deveria se preocupar? Talvez porque
esse Deus tenha um padrão moral, como os Dez Mandamentos, que
as pessoas sejam obrigadas a seguir, em oposição aos padrões pessoais
que, com frequência, não se erguem além dos próprios ímpetos e dese-
jos. O mero pensamento da existência desse Deus subentende um senso
de obrigação moral e prestação de contas, exatamente as preocupações
daqueles que estavam por trás da campanha nos ônibus. Essa preocupação
tem seus motivos, levando-se em conta que a Bíblia retrata a depravação
humana – “para que toda boca se cale, e todo o mundo seja culpável diante
de Deus” (Romanos 3:19) – em termos severos (conferir Romanos 11).
40 O Último Convite
A escolha de palavras nesse anúncio, com seu apelo para que paremos
de nos preocupar, revela o medo de um Deus moral cuja existência seus
criadores tentam negar.
Um jovem agnóstico de vez em quando refletia: “Quem sabe realmente
exista um Deus.” Entretanto, cada vez que o pensamento lhe vinha à mente,
ele o afastava. Por quê? Porque, se houvesse mesmo um Deus, ele estaria
em apuros! Quem colocou aqueles anúncios nos ônibus londrinos podia
ter o mesmo medo, e com um bom motivo para isso também!
Se os ateus estiverem certos quanto à inexistência de Deus, então ima-
gine o que isso significaria em relação ao clamor por justiça que existe
desde o início da história humana. Se “Deus provavelmente não existe”,
então provavelmente não há esperança de justiça, de correção de equívo-
cos ou de que inúmeros males serão reconhecidos e punidos. Cada ato de
maldade que ficou sem castigo permane-
cerá assim para sempre – um pensamento
deprimente e desprovido de qualquer
Se “Deus
esperança.
provavelmente Talvez você já tenha ouvido falar do
não existe”, então carro americano chamado “Pinto”, nome
provavelmente dado em homenagem a uma raça de cava-
não há esperança los. Foi um modelo popular nos Estados
Unidos da década de 1970, uma tentativa
de justiça.
de competir com o Fusca, da Volkswagen.
A empresa, incluindo seu icônico executivo,
sabia que o veículo não era seguro e que,
se sofresse uma colisão traseira, o tanque de combustível explodiria. Ao
fazer uma análise do custo-benef ício, a montadora resolveu manter o
carro assim mesmo, com os perigosos defeitos de fabricação, pois seria
mais barato pagar os processos judiciais por causa das mortes e das lesões
corporais do que consertar o modelo.
“O que chamou a atenção do público foi a revelação de que a empresa
achou mais barato pagar indenizações para as famílias de vítimas dos
incêndios veiculares do que bancar os 137 milhões de dólares necessários
para consertar o modelo de imediato, de acordo com um memorando
interno da empresa, apresentado durante um julgamento civil. Isso signifi-
cava que fazer os reparos não compensava em termos de custo-benef ício.”1
Esperança de Justiça 41
Referências
1
Robert Sherefkin, Automotive News, “Lee Iacocca’s Pinto: A fiery failure”, disponível em <https://www.autonews.com/article/20030616/
SUB/306160770/lee-iacocca-s-pinto-a-fiery-failure>, acesso em 12 de maio de 2021.
2
Czeslaw Milosz, Road-Side Dog (Nova York: Farrar, Strauss, Giroux, 1998), p. 22.
autoridades nas regiões celestiais” (Efésios 3:10), isso não deveria nos
causar espanto.
O mesmo juízo é retratado posteriormente nas seguintes palavras: “Eu
estava olhando nas minhas visões da noite. E eis que vinha com as nuvens
do céu Alguém como um Filho do homem. Ele Se dirigiu ao Ancião de
Dias, e O fizeram chegar até Ele. Foi-Lhe dado o domínio, a glória e o
reino, para que as pessoas de todos os povos, nações e línguas O servissem.
O Seu domínio é domínio eterno, que não passará, e o Seu reino jamais
será destruído” (Daniel 7:13, 14).
O Ancião de Dias, agora com o “Filho do homem” – termo usado várias
vezes no Novo Testamento por Jesus para Se referir a Si mesmo (Mateus
17:22; 20:18; 24:30; Marcos 2:10; 10:33; Lucas 6:22; 11:30; 12:10; 17:22; João
6:53; 12:34; 13:31) – está em algum tipo de evento celestial, outra descrição
do juízo que conduz diretamente ao reino eterno de Deus.
Outra imagem do mesmo juízo, embora fale primeiro de acontecimentos
aqui na Terra, diz: “Até que veio o Ancião de Dias e fez justiça aos santos do
Altíssimo. E veio o tempo em que os santos possuíram o reino” (Daniel 7:22;
conforme v. 26, 27). Note: o juízo faz justiça ao povo de Deus. Nossa tendên-
cia é pensar em juízo como algo ruim, que leva à punição, o que, em muitos
casos, é verdadeiro. Nessa situação, porém, pelo menos para os “santos”
(termo bíblico para o povo de Deus, em nada relacionado ao conceito popu-
lar de santos canonizados), o juízo lhes é favorável, pois faz justiça a eles.
Como, porém, isso pode acontecer? Não fomos todos nós considerados
pecadores? Não estamos cientes do quanto somos maus? A Bíblia afirma:
“Não há quem entenda, não há quem busque a Deus. Todos se desviaram
e juntamente se tornaram inúteis; não há quem faça o bem, não há nem
um sequer. A garganta deles é sepulcro aberto; com a língua enganam,
veneno de víbora está nos seus lábios. A boca, eles a têm cheia de maldi-
ção e amargura; os seus pés são velozes para derramar sangue. Nos seus
caminhos, há destruição e miséria; eles não conhecem o caminho da paz.
Não há temor de Deus diante de seus olhos” (Romanos 3:11-18).
Como, então, qualquer um de nós, inclusive os “santos” no juízo,
com os livros abertos, seria capaz de se apresentar perante um Deus que
conhece cada pensamento mau, cada ato oculto, todas aquelas coisas
que fizemos em segredo e jamais gostaríamos que fossem reveladas (ver
Eclesiastes 12:14)? Por meio do evangelho eterno. Só assim!
46 O Último Convite
Protegidos
Não é coincidência que evangelho e juízo apareçam juntos. Por melhores
que sejam as boas-novas do evangelho, elas ganham mais sentido quando
associadas ao juízo. Por quê? Porque nossa única esperança no juízo é o
evangelho, ou seja, é a justiça de Cristo, aceita pelo Pai como se fosse nossa
no momento em que nos apropriamos dela pela fé. Não precisamos temer
a condenação. “Agora, pois, já não existe nenhuma condenação para os
que estão em Cristo Jesus” (Romanos 8:1). Nenhuma condenação agora e,
com certeza, no juízo.
Seria por que não temos pecado? Não. A razão verdadeira é porque
Jesus não pecou, e a “ficha” Dele é creditada como se fosse nossa. É por
isso que o juízo em Daniel 7 é “a favor dos santos do Altíssimo” (Daniel
7:22, NVI). Assim como o ladrão na cruz, eles foram cobertos pela justiça
de Cristo. Ou, conforme explicou Paulo: “O ser humano é justificado pela
fé, independentemente das obras da lei” (Romanos 3:28).
Justificado independentemente das obras da lei? É claro. A lei, por mais
que seja santa, justa e boa (Romanos 7:12), aponta para o pecado, mas não
é capaz de expiá-lo. A lei é como um espelho: mostra exatamente onde
estão suas manchas. Mas, não importa por quanto tempo ou com que fre-
quência você se olhe no espelho, ele não é capaz de eliminar as manchas.
A lei revela o pecado, mas não oferece poder para vencê-lo nem pode
perdoá-lo. Por isso necessitamos do evangelho.
Uma expressão grandiosa da lei e do juízo de Deus pode ser encon-
trada no santuário do Antigo Testamento, e posteriormente no templo de
Jerusalém, o centro de adoração do antigo Israel. É o mesmo templo no
qual Jesus fez a célebre expulsão daqueles que profanaram esse lugar
sagrado com sua ganância e um comércio exploratório (conforme Mateus
21:12, 13). Foi ali que o povo de Israel aprendeu sobre o plano da salvação,
o “evangelho eterno”. Parte central dos ritos do santuário correspondia
aos sacrif ícios de cordeiros, bois e bodes. Cada um deles era um símbolo,
um tipo, uma miniprofecia da morte de Jesus na cruz, bem como de Sua
obra como nosso Sumo Sacerdote no santuário celestial. É por isso que, ao
apresentar Jesus pela primeira vez, João Batista exclamou: “Eis o Cordeiro
de Deus, que tira o pecado do mundo!” (João 1:29). Em vez de cada peca-
dor morrer pelo próprio pecado, o cordeiro, um símbolo de Jesus, morria
no lugar do pecador. Em vez de nós, em última instância, morrermos por
A Hora do Juízo 47
nossos pecados, Jesus na cruz o fez em nosso lugar. E essa grande verdade
era proclamada, em símbolos, no templo.
O templo também contava com dois compartimentos e, muito embora
todos os dias o sangue expiatório dos animais sacrificados fosse levado
para o primeiro compartimento, uma vez por ano, o sangue dos sacrif ícios
era conduzido ao segundo compartimento, o mais interior, em um ritual
conhecido como Yom Kippur, o Dia da Expiação (ver Levítico 16). Esse era
o dia do juízo, uma boa-nova para os filhos de Israel, pois, mesmo havendo
pecado, seus pecados eram perdoados, expurgados e purificados pelo
sangue derramado. Assim, poderiam comparecer juntos perante Deus
naquele juízo. Essa cerimônia anual acontecia “por causa das impurezas
dos filhos de Israel e por causa das suas transgressões e de todos os seus
pecados” (Levítico 16:16). Ou seja, eles haviam pecado, e aquele era o dia
de prestação de contas.
Entretanto, aquele dia era Yom Kippur, o Dia da Expiação. Expiação
diz respeito a perdoar pecadores, não a condená-los. Esse perdão só pode
se originar do sangue – não da lei. Embora dentro do segundo comparti-
mento do santuário, na arca da aliança (ver Números 10:33; Deuteronômio
10:3; 31:26), estivessem as tábuas dos Dez Mandamentos, que mostravam
a Israel sua sagrada obrigação de cumprir a lei, a expiação não acontecia
por causa da lei. Na verdade, a lei, que as pessoas haviam transgredido, as
condenaria, não fosse o sangue. “Ele [o sumo sacerdote] pegará um pouco
do sangue do novilho e, com o dedo, o aspergirá sobre a frente do propi-
ciatório; e, diante do propiciatório, aspergirá sete vezes do sangue, com o
dedo. Depois, matará o bode da oferta pelo pecado, que será para o povo.
Trará o sangue do bode para dentro do véu e fará com esse sangue como
fez com o sangue do novilho; ele o aspergirá no propiciatório e também
diante dele” (Levítico 16:14, 15, itálicos acrescentados). O propiciatório era
a tampa de ouro que cobria a arca da aliança. Esta, por sua vez, continha os
Dez Mandamentos. O sangue aspergido ali no propiciatório simbolizava o
sangue de Jesus, que expiava a transgressão dos Dez Mandamentos.
“Isso lhes será por estatuto perpétuo: no sétimo mês, aos dez dias do
mês, vocês se humilharão e não farão nenhum trabalho, nem o natural da
terra nem o estrangeiro que peregrina entre vocês. Porque, naquele dia,
se fará expiação por vocês, para purificá-los; e vocês serão purificados de
todos os seus pecados, diante do Senhor” (v. 29, 30). Era um dia solene,
48 O Último Convite
o dia do juízo, e o povo deveria “se humilhar” ou afligir a própria alma (ver
verso 31). Ou seja, era um dia de arrependimento, de analisar o próprio
interior, de reconhecer suas falhas. Os israelitas dependiam do sangue
não só para que seus pecados fossem perdoados, mas também para serem
purificados da transgressão.
Desde a morte do animal até o sacerdote aspergindo o sangue no san-
tuário, tudo prefigurava o “evangelho eterno” (Apocalipse 14:6), no qual
Jesus é primeiro o sacrif ício e depois o sumo sacerdote. Um livro inteiro
do Novo Testamento, Hebreus, explica que o santuário terreno era um
símbolo do santuário celestial, no qual Jesus, após derramar o sangue na
cruz (ato simbolizado pelos sacrif ícios de animais), agora ministra como
nosso Sumo Sacerdote.
“Ora, o essencial das coisas que estamos dizendo é que temos tal Sumo
Sacerdote, que Se assentou à direita do trono da Majestade nos céus, como
Ministro do santuário e do verdadeiro tabernáculo que o Senhor erigiu, e
não o homem” (Hebreus 8:1, 2).
Assim como o primeiro sacerdote
intercedia pelos pecadores, levando san-
gue para dentro do santuário, Jesus, nosso
Desde a morte Sumo Sacerdote no santuário celestial,
do animal até o intercede por nós também. “Quem os
condenará? É Cristo Jesus quem morreu,
sacerdote aspergindo
ou melhor, quem ressuscitou, o qual está
o sangue no à direita de Deus e também intercede por
santuário, tudo nós” (Romanos 8:34). “Por isso, também
prefigurava o pode salvar totalmente os que por Ele se
“evangelho eterno”. aproximam de Deus, vivendo sempre para
interceder por eles” (Hebreus 7:25). “Meus
filhinhos, escrevo-lhes estas coisas para que
vocês não pequem. Mas, se alguém pecar,
temos Advogado junto ao Pai, Jesus Cristo, o Justo” (1 João 2:1). “Porque
Cristo não entrou em santuário feito por mãos humanas, figura do verda-
deiro Santuário, porém no próprio Céu, para comparecer, agora, por nós,
diante de Deus” (Hebreus 9:24).
Observe o tema aqui: Cristo está no Céu, no santuário celestial, interce-
dendo por nós. Ele está na presença de Deus por nós. É um advogado por nós.
A Hora do Juízo 49
É por isso que agora, no tempo desse julgamento, nós temos a certeza
da salvação por causa daquilo que Cristo fez por nós na cruz, como nosso
sacrif ício, e por aquilo que faz por nós agora, no santuário celestial, na
função de Sumo Sacerdote. Mais uma vez: “Quem os condenará? É Cristo
Jesus quem morreu, ou melhor, quem ressuscitou, o qual está à direita
de Deus e também intercede por nós” (Romanos 8:34). Por causa dessa
intercessão, “não existe nenhuma condenação para os que estão em Cristo
Jesus” (v. 1) – nenhuma condenação agora nem no juízo.
Aliás, a mensagem do primeiro anjo sobre o juízo acontece no con-
texto do Dia da Expiação. Embora o livro do Apocalipse esteja repleto de
imagens do santuário terrestre (Apocalipse 1:23; 5:5; 8:3-8; 11:19; 15:5-8;
21:1-8), não muito antes dos acontecimentos retratados nas três mensa-
gens angélicas se desenrolarem, Apocalipse 11:19 declara: “Abriu-se, então,
o santuário de Deus, que se acha no Céu, e foi vista a arca da Sua aliança
no Seu santuário.” A única ocasião na qual o sumo sacerdote entrava no
segundo compartimento, onde se via a arca da aliança, era durante o Dia
da Expiação, o dia do juízo.
Logo, a mensagem do primeiro anjo nos diz que “é chegada a hora em
que Ele vai julgar”. Por isso, embora Seu povo tenha o dever de temer a
Deus e dar glória a Ele, os remidos o fazem com a segurança da vida eterna
em Jesus prometida a eles pelo “evangelho eterno” – a promessa que lhes
pertence pela fé.
Haveria outra possibilidade?
L eia a primeira frase da Bíblia. Ela não começa com afirmações sobre
o amor e a salvação de Deus. Em vez disso, inicia com as seguintes
palavras: “No princípio, Deus criou os céus e a terra” (Gênesis 1:1).
Isso acontece porque todos os outros ensinos – a morte de Jesus, o conflito
cósmico, a condição pecadora do ser humano, a queda da humanidade, o
juízo – só fazem sentido porque Deus criou nosso mundo.
Caso contrário, como seria? Em um Universo sem Deus, a morte de
Jesus na cruz seria apenas o fim de mais um judeu condenado pelos roma-
nos. Em um Universo sem Deus, o que a ideia do juízo final significa? Quem
faria o julgamento? Qual seria a recompensa e o castigo? Em um Universo
sem Deus, qual seria a “boa-nova”, além da realidade de que vivemos, luta-
mos, sofremos, morremos e então vamos embora para sempre, assim como
todas as lembranças da nossa existência? Que “boa-nova”, não é mesmo?
É por isso que a Bíblia começa com a verdade que fundamenta todas as
outras verdades bíblicas, a saber, o “evangelho eterno”, o juízo, o conflito
cósmico, a queda e tudo que as Escrituras ensinam. Essa verdade é a que
apresenta Deus como nosso Criador. Contrariando a ideia moderna de
que a vida aqui na Terra surgiu por acaso, sem qualquer propósito, a Bíblia
começa com o que deveria ser uma verdade óbvia: de que a vida em toda
a sua beleza e complexidade foi criada por Deus.
Viagem no tempo
Embora as mensagens dos três anjos sejam destinadas especificamente para
os últimos dias (o tempo em que vivemos), elas apontam de volta aos seis
primeiros dias, à criação da vida na Terra. O vocabulário usado por João
Palmas Para o Autor 51
Referência
1
David Foster Wallace, “Transcription of the 2005 Kenyon Commencement Address - May 21, 2005”, disponível em <https://web.ics.pur-
due.edu/~drkelly/DFWKenyonAddress2005.pdf>, acesso em 12 de maio de 2021.
A primeira Babel
Embora o dia exato desse acontecimento seja desconhecido, sabemos que o
dilúvio de Gênesis, a inundação mundial, já havia acontecido. Noé também
tinha morrido (Gênesis 9:29). Seus filhos, netos e bisnetos se multiplica-
ram e se dispersaram (Gênesis 10). Alguns habitavam em “uma planície
na terra de Sinar” (Gênesis 11:2), a parte meridional da Mesopotâmia, que
O Fim de Babel 61
A última Babel
A primeira mensagem angélica consiste em uma proclamação acerca de
Deus, sobre Seu “evangelho eterno”, Seu juízo e Sua atuação como Criador,
“Aquele que fez o céu, a terra, o mar e as fontes das águas” (Apocalipse
14:7). Também diz respeito a qual deve ser nossa reação a essas grandes
verdades: temê-Lo, dar-Lhe glória e adorá-Lo.
Em contrapartida, a segunda mensagem angélica não fala sobre Deus,
pelo menos não de maneira direta. Em vez disso, aborda uma inimiga de
Deus (lembre-se do conflito cósmico). A mensagem diz: “Seguiu-se outro
anjo, o segundo, dizendo: Caiu! Caiu a grande Babilônia que fez com que
todas as nações bebessem o vinho do furor da sua prostituição” (v. 14:8).
E, como entramos nesse assunto, o Apocalipse fala mais sobre Babilônia:
“Caiu! Caiu a grande Babilônia! Ela se tornou morada de demônios,
refúgio de toda espécie de espírito imundo e esconderijo de todo tipo de
ave imunda e detestável, pois todas as nações beberam do vinho do furor
da sua prostituição. Com ela se prostituíram os reis da terra. Também os
mercadores da terra se enriqueceram à custa da sua luxúria. Ouvi outra
voz do céu, dizendo: ‘Saiam dela, povo Meu, para que vocês não sejam
cúmplices em seus pecados e para que os seus flagelos não caiam sobre
vocês. Porque os pecados dela se acumularam até o céu, e Deus se lembrou
das injustiças que ela praticou’” (Apocalipse 18:2-5).
Antes mesmo de voltar ao Antigo Testamento para entender o que
significam algumas dessas imagens, as próprias imagens em si – isto é,
“morada de demônios”, “vinho do furor da sua prostituição”, “esconderijo
O Fim de Babel 63
Cidade luxuosa
4 “Luxo” (Apocalipse 18:7, NVI)
(Isaías 13:19; Jeremias 51:13)
pura, às vezes uma noiva, como símbolo do antigo Israel quando era fiel
a Deus (Jeremias 6:2). No entanto, quando era infiel, quando caía em
apostasia, outra imagem era utilizada: a da prostituição. Ezequiel acusou
Jerusalém de se prostituir “com os filhos
do Egito”, “com os filhos da Assíria”, “até a
Caldeia” (confira Ezequiel 16:26-29). “Você
O brado de que
viu o que fez a rebelde Israel? Foi a todos
os montes altos e ficou debaixo de todas as
Babilônia caiu
árvores frondosas para entregar-se à pros- é outra forma
tituição” (Jeremias 3:6). Logo, a imagem de anunciar às
de fornicação expressa a mesma ideia: fal- pessoas que os
sas doutrinas, assim como a infidelidade a sistemas corruptos
Deus e à Sua verdade.
deste mundo
O brado de que Babilônia caiu é outra
forma de anunciar às pessoas que os siste- não vencerão.
mas corruptos deste mundo não vencerão,
a despeito de como as coisas parecerem
agora. No passado, a antiga Babilônia, com seus falsos ensinos, erros e
perseguições, parecia invencível. É possível que a Babilônia moderna tam-
bém pareça assim. Entretanto, graças a Jesus e à Sua vitória na cruz, o
pecado, o mal, Satanás, o conflito cósmico, Babilônia do tempo do fim,
bem como suas falsas doutrinas e seus falsos ensinos, serão erradicados
para sempre, e o seguinte brado se ouvirá através do Universo: “Então ouvi
o que parecia ser a voz de uma grande multidão, uma voz como de muitas
águas e como de fortes trovões, dizendo: ‘Aleluia! Pois reina o Senhor,
nosso Deus, o Todo-Poderoso. Alegremo-nos, exultemos e demos-Lhe a
glória, porque chegou a hora das bodas do Cordeiro, e a noiva Dele já se
preparou’” (Apocalipse 19:6, 7).
Um dia em questão
Tanto na Babilônia antiga como na moderna, a grande questão é a adora-
ção. A mensagem do primeiro anjo conclama o mundo a adorar o Criador,
“que fez o céu, a terra, o mar e as fontes das águas” (Apocalipse 14:7).
O Último Convite 67
por parte dos apóstolos.”5 Lembre-se: estas palavras foram ditas por um
homem dedicado à guarda do domingo!
No livro The Lord’s Day [O Dia do Senhor], dedicado à observância
do domingo, Samuel Cartledge escreveu: “Precisamos admitir que não
podemos apontar para nenhuma ordem direta que nos instrua a deixar de
guardar o sétimo dia e começar a adorar no primeiro dia”.6 Eles não con-
seguem encontrar uma ordem sequer, pois não existe na Bíblia tal ordem,
direta ou indireta, que altere o sábado instituído no sétimo dia da criação
para o domingo – dia esse que a Bíblia jamais tratou como santo.
Estariam os evangélicos dizendo, sem ir direto ao ponto, que aceitaram a
mudança do sábado efetuada por Roma? Reconhecem a alteração desse sím-
bolo fundamental que remonta ao próprio Éden e a Deus, o nosso Criador?
Parece que sim.
Alterações ilegais
Cerca de 600 anos antes de Cristo, no contexto da Babilônia antiga,
Daniel 2 (profecia paralela a Daniel 7) apresentou uma predição extraor-
dinária que abrange a história do mundo desde a Babilônia antiga, pas-
sando por nossos dias, até Deus fundar o Seu reino eterno. Na profecia em
si, após a divisão de Roma pagã nas nações que conhecemos atualmente
como a Europa moderna, o texto diz: “Mas, nos dias desses reis [ou gover-
nantes], o Deus do Céu levantará um reino que jamais será destruído e
que não passará a outro povo. Esse reino despedaçará e consumirá todos
esses outros reinos, mas ele mesmo subsistirá para sempre” (Daniel 2:44).
Em algum momento, nos dias da Europa moderna, Deus estabele-
cerá Seu reino. Esse reino, que dará fim a todos os outros, existirá para
sempre. A grande promessa do “evangelho eterno” é que, pela fé em
Jesus, todos temos um lugar nele. “Na casa de Meu Pai há muitas mora-
das. Se não fosse assim, Eu já lhes teria dito. Pois vou preparar um lugar
para vocês. E, quando Eu for e preparar um lugar, voltarei e os receberei
para Mim mesmo, para que, onde Eu estou, vocês estejam também” (João
14:2, 3). Apenas o que pode nos deixar de fora dessa promessa são nossas
más escolhas.
A profecia de Daniel 2, em suma, apresenta a seguinte sequência:
Babilônia, Média-Pérsia, Grécia, Roma e reino eterno de Deus (onde Jesus
preparou um “lugar” para nós). Conforme demonstramos, em Daniel 7 a
70 O Último Convite
mesma sequência de impérios é profetizada: Babilônia, Media-Pérsia, Grécia,
Roma e Reino eterno de Deus (onde Jesus preparou um “lugar” para nós).
Nas duas profecias, o reino humano final, aquele que surge após a
Grécia antiga e permanece até Deus fundar Seu “reino que jamais será
destruído” (Daniel 2:44) é Roma. Embora Roma pagã tenha desaparecido
há 1.500 anos, Roma papal permanece e continuará até o triunfo completo
do reino de Deus ao fim deste mundo.
Daniel 7, usando diferentes imagens, nos deu mais detalhes acerca
desses reinos do que Daniel 2, sobretudo em relação ao último, Roma, e,
em especial, acerca da sua fase papal, que
incluiu uma parte infeliz da história – “des-
Tentar mudar os truirá os santos do Altíssimo” (Daniel 7:25,
Dez Mandamentos é ARC). Levando em conta que Roma afirma
ter instituído a guarda do domingo, um
o mesmo que tentar
dia que tanto evangélicos como católicos
“derrubar” a lei admitem não ter apoio bíblico, esse verso
da gravidade. é significativo.
Note: o texto diz que ele “cuidará em
mudar os tempos e a lei”. A lei de Deus,
inclusive o quarto mandamento, foi escrita em pedra pelo dedo do próprio
Deus: “O Senhor me deu as duas tábuas de pedra, escritas com o dedo
de Deus. Nelas estavam todas as palavras que o Senhor havia falado com
vocês no monte, do meio do fogo, quando todo o povo estava reunido”
(Deuteronômio 9:10; confira Êxodo 31:18). Nenhum poder humano é
capaz de mudar isso! A Nova Versão Internacional diz que Roma “tentará
mudar os tempos e as leis”. Tentar não é o mesmo que conseguir!
A morte de Jesus na cruz, por causa do pecado, que é definido como
“a transgressão da lei” (1 João 3:4), prova a imutabilidade da lei de Deus.
Não teria sido mais fácil mudar a lei, alterando as regras no meio do jogo,
a fim de resolver o problema do pecado sem que Jesus precisasse morrer
por eles (confira 1 Coríntios 15:3)? Claro que sim! Afirmar que a guarda do
sábado não é mais necessária seria o mesmo que tentar “derrubar” lei da
gravidade. As coisas cairiam na mesma aceleração, a despeito de qualquer
tentativa de mudança.
Contudo, essa tentativa de mudar a lei de Deus assumirá importância
tremenda quando o mundo inteiro se envolver e fizer “morrer todos os
O Último Convite 71
Referências
1
Peter Geiermann, The Convert’s Catechism of the Catholic Doctrine (Rockford, IL: Tan Books and Publishers, 1977), p. 50.
2
Rev. Henry Tuberville, An Abridgment of the Christian Doctrine (Nova York: Edward Dunigan and Brothers, 1833), p. 58.
3
Richard Challoner, The Catholic Christian Instructed in the Sacraments, Sacrifices, Ceremonies, and Observances of the Church by Way of
Question and Answer (Baltimore, MD: G. Dobbin & Murphy, 1809), p. 204.
4
James Cardinal Gibbons, The Faith of Our Fathers (Baltimore, MD: Aeterna Press, 2015), p. 58.
5
“Are We Compromising Ourselves?”, Sunday, abril-junho de 1976, p. 5.
6
James P. Westberry, ed., The Lord’s Day (Nashville, TN: Broadman, 1986), p. 100.
A lei e a tradição
Em João 9, Jesus curou um cego de nascença no sábado, talvez seu maior
milagre até então. “Desde que o mundo existe, jamais se ouviu que alguém
tenha aberto os olhos a um cego de nascença” (João 9:32). Como as autori-
dades religiosas reagiram? Acusaram Jesus de transgredir o sábado, dizendo:
“Esse homem não é de Deus, porque não guarda o sábado” (v. 16). Estava
começando um conflito entre a tradição humana (nada na Bíblia proíbe de
curar no sábado, assim como nada na Bíblia institui o domingo como dia
santo) e a lei de Deus. “Tendo Jesus saído dali, entrou na sinagoga deles.
Achava-se ali um homem que tinha uma das mãos ressequida. Então, a
fim de o acusar, perguntaram a Jesus: É lícito curar no sábado? Ao que lhes
respondeu: Quem de vocês será o homem que, tendo uma ovelha, e, num
sábado, esta cair numa cova, não fará todo o esforço para tirá-la dali? Ora,
quanto mais vale um homem do que uma ovelha! Logo, é lícito nos sábados
fazer o bem. Então Jesus disse ao homem: – Estenda a mão. O homem esten-
deu a mão, e ela foi restaurada e ficou sã como a outra” (Mateus 12:9-13).
Como os líderes religiosos reagiram a essa expressão extraordinária
de poder divino? “Mas os fariseus, saindo dali, conspiravam contra Ele,
74 O Último Convite
procurando ver como O matariam” (v. 14). Matar Jesus? Morte por causa
do sétimo dia? Em João 5:1 a 16, após outra cura milagrosa no sábado, os
líderes religiosos “perseguiram Jesus e procuravam matá-Lo, porque fazia
essas coisas no sábado” (v. 16, ARC).
Procurar matar por causa do sábado? Morte por causa de uma tradição
humana versus o sétimo dia? Exatamente! Embora a questão específica
não seja a mesma que o mundo enfrentará nos dias finais, é uma situação
próxima o suficiente: a lei humana versus
a lei de Deus e, nos dois casos, a parte da
Após a covid-19, lei divina em questão é o mandamento do
sábado, o único que mostra a base da razão
precisamos estar
para adorar somente ao Deus Criador – e
cientes de que nada nem ninguém mais.
qualquer coisa, Logo, na vida de Jesus, podemos encon-
até mesmo as trar pistas do que enfrentarão aqueles “que
mais inesperadas, guardam os mandamentos de Deus e a fé
em Jesus” (Apocalipse 14:12): a tradição
pode acontecer.
humana em conflito com a lei de Deus.
De que modo essa ideia – da marca da
besta centrada na contrafação do sábado
bíblico, o sétimo dia da semana, pelo estabelecimento da tradição humana,
o primeiro dia – se harmoniza com a advertência acerca do poder no
tempo do fim que “a todos, os pequenos e os grandes, os ricos e os pobres,
os livres e os escravos, faz com que lhes seja dada certa marca na mão
direita ou na testa, para que ninguém possa comprar ou vender, senão
aquele que tem a marca, o nome da besta ou o número do seu nome”
(Apocalipse 13:16, 17)?
Ao longo dos séculos, muita especulação surgiu acerca do que significa
a “marca na mão direita ou na testa”. Seguindo, porém, o princípio de que
o Antigo Testamento detém a chave para a interpretação de Apocalipse,
podemos encontrar alguns indícios do que o Apocalipse quer dizer aqui.
Antes de os filhos de Israel entrarem na terra prometida, Moisés os
advertiu diversas vezes contra a falsa adoração e os relembrou dos man-
damentos de Deus, ou seja, da Sua lei. Então declarou: “Ponham estas
Minhas palavras no seu coração e na sua alma. Amarrem-nas como sinal
na mão, para que sejam por frontal entre os olhos” (Deuteronômio 11:18).
Mudanças Repentinas 75
Imagine
E “os mandamentos de Deus”? Que mandamentos são esses? Segundo a
última contagem, eram dez. O livro do Apocalipse faz outras referências
Conclusão 77
a eles, além da passagem em 14:12. Antes da visão que inclui as três men-
sagens angélicas, Apocalipse 11:19 diz: “Abriu-se, então, o santuário de
Deus, que se acha no Céu, e foi vista a arca da Sua aliança no Seu san-
tuário, e sobrevieram relâmpagos.” A “arca da aliança” é o lugar em que
ficavam guardados os Dez Mandamentos no santuário terrestre.
Mandamentos específicos também aparecem no Apocalipse. A primeira
mensagem angélica ordena a adoração a Deus (Apocalipse 14:7), uma refe-
rência direta ao primeiro mandamento (Êxodo 20:1, 2) e, conforme vimos,
essa mesma mensagem usa uma linguagem extraída diretamente do quarto
mandamento. O terceiro anjo adverte contra a adoração de uma imagem
(a imagem da besta), apontando para o segundo mandamento, contrário à
idolatria (Êxodo 20:4-6). Enquanto isso, homicídio, roubo e adultério são
mencionados juntos em Apocalipse 9:20 e 21. Apocalipse 12:17, o penúl-
timo verso antes de Apocalipse 13, que introduz a marca da besta, descreve
o povo de Deus: “O dragão ficou irado com a mulher e foi travar guerra
com o restante da descendência dela, ou seja, os que guardam os manda-
mentos de Deus e têm o testemunho de Jesus.” Assim, no contexto dos
últimos dias, por duas vezes (Apocalipse 12:17; 14:12), o povo fiel a Deus é
retratado guardando Seus mandamentos. E por que não?
Um homem compareceu ao encontro de 30 anos de formatura da sua
turma do ensino médio. Ao ir embora, refletindo sobre quão problemática
era a vida de tantos dos antigos colegas, um pensamento lhe veio à mente:
“Ah, se as pessoas guardassem os Dez Mandamentos! Como a vida delas
teria sido melhor!” Imagine se todas as pessoas guardassem pelo menos
alguns! Se ninguém transgredisse o sexto mandamento (matar), o sétimo
(adulterar), o oitavo (roubar) e o nono (mentir), a nossa existência seria
um paraíso em comparação com o que vivenciamos agora.
Pense um pouco: Em qual país você preferiria viver e criar a sua famí-
lia? Em um país onde todos obedecessem aos Dez Mandamentos ou em
um no qual ninguém os obedece? A resposta a essa simples pergunta
revela como os “mandamentos de Deus” são benéficos para nós.
E as boas-novas do “evangelho eterno” são que a fé em Jesus, que se
apropria da justiça de Cristo, a que cobre os nossos pecados, é a mesma fé
que toma posse da justiça de Cristo para limpar os nossos pecados e nos
transformar. “E, assim, se alguém está em Cristo, é nova criatura; as coisas
antigas já passaram; eis que se fizeram novas” (2 Coríntios 5:17).
78 O Último Convite
Recebemos de Deus a promessa de poder para obedecer aos manda-
mentos e vencer as tentações. Veja alguns versos nesse sentido:
“Não sobreveio a vocês nenhuma tentação que não fosse humana; mas
Deus é fiel e não permitirá que vocês sejam tentados além do que podem
suportar; pelo contrário, juntamente com a tentação proverá livramento,
para que vocês a possam suportar” (1 Coríntios 10:13).
“Porque todo o que é nascido de Deus vence o mundo. E esta é a vitória
que vence o mundo: a nossa fé” (1 João 5:4).
“Tudo posso Naquele que me fortalece” (Filipenses 4:13).
“Sabendo isto: que a nossa velha natureza foi crucificada com Ele, para
que o corpo do pecado seja destruído, e não sejamos mais escravos do
pecado” (Romanos 6:6).
“E ao Deus que é poderoso para evitar que vocês tropecem e que pode
apresentá-los irrepreensíveis diante da Sua glória, com grande alegria”
(Judas 24).