Introdução Ao Estudo Do Direito

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INTRODUÇÃO

O Estado é uma organização destinada a manter, pela aplicação do Direito, as condições


universais e ordem social. É uma entidade com poder soberano para governar um povo
dentro de uma área territorial delimitada. Assim, pode-se dizer que os elementos
constitutivos do Estado são: Poder (executivo, legislativo e judiciário), Povo,
Território.
Existe uma dualidade no que concerne a definição da palavra Estado, onde, por um lado
este entende-se como sendo um conjunto de instituições que exerce o poder político e
controla a sociedade dentro de um determinado território, por outro, também é definido
como sociedade politicamente organizada, ou, ainda, como conjunto de poderes de uma
nação. Assim podemos perceber o Estado quer seja como poder, quer seja como a
própria coletividade.
Há quase 2500 anos, Platão (428/427 a.C.) trouxe uma concepção de cidade ou Estado
Ideal, onde o ser humano possa não só viver de forma digna, mas realizar seu potencial
como humano. Há não mais que 500 anos, os teóricos classificaram a sua visão como
utópica, ou seja, de realização impossível.
Aristóteles (384 a.c) na sua celebre obra zoon politikon entende “o Estado como um
organismo moral superior ao indivíduo. É aonde efetua-se unicamente a satisfação do
indivíduo em todas suas necessidades, pois o homem, sendo naturalmente animal social,
político, não pode realizar a sua perfeição sem a sociedade do Estado”.
Segundo os escritos de Nicolau Maquiavel, filosofo de Florença que viveu no período
renascentista, as formas de governo são sempre o resultado de um conflito interno, de
uma força interna que move o poder político de todo e qualquer Estado. De acordo com
o autor este conflito é o resultado de desejos antagônicos de dois grupos sociais
distintos, os grandes e o povo.
E o Direito é o conjunto de normas jurídicas sancionadas pelo Estado e garantidas pelo
seu poder, ou seja, o Direito entende-se como o conjunto de condições existenciais da
sociedade, que ao estado cumpre assegurar.
Para o estudo do fenômeno estatal, tanto quanto para a iniciação na ciência jurídica,
bem como entender as questões ligadas a Poder estadual, Poder supra - estadual e
Poder infra – estadual que são o nosso objeto de estudo nesta pesquisa o primeiro

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problema a ser enfrentado é o das relações entre Estado e Direito. Representam ambos
uma realidade única? São duas realidades distintas e independentes? São questões do
tipo que nos saltam a vista quando nos debruçamos sobre esta linhagem de pensamento.
No entendimento sobre esta relação é necessário perceber um leque de conceitos e
teorias, que versam sobre esta temática e trazem o pano de fundo para a compreensão
desta discussão.
A relação entre Estado e Direito é um tema que suscita divergências entre os juristas e
politicólogos, pois não é possível estabelecer de modo absoluto como acontece tal
relação. Três teorias distintas despertam debates na doutrina acerca da relação em
estudo, que são a teoria monística, a teoria dualística e a teoria do paralelismo, sendo
esta última a mais coerente, pois não cai no extremismo das outras duas. Do mesmo
modo, na sociedade civil, as pessoas leigas buscam saber de que forma o Estado e o
conjunto de leis emanadas dele se estruturam e se organizam, uma vez que são as leis e
o Estado que dirigem a conduta social dos indivíduos, então, desprezar tal tema é erro
grave, que deixa as pessoas alienadas à realidade normativa e burocrática que os cerca.
Assim, o presente trabalho buscará demonstrar, de modo conciso e claro, levando-se em
conta as limitações da brevidade de um artigo, a forma com que o Estado exerce o seu
imperium sobre o povo, de forma conjunta com o Direito. O povo precisa ter
consciência da importância da compreensão da relação entre os maiores meios de
controle social (Estado e Direito), pois a todo instante, implícita ou explicitamente, eles
estão presentes na vida civil na forma de leis, políticas públicas, medidas
administrativas, etc.
Em que pese todo esse poder de controle social do Estado e do Direito, é preciso
destacar que eles são apenas meios de consecução de fins e não fins em si mesmos
como muitas vezes se pensa, sob pena de demolir o edifício estatal democrático.
Destarte, o povo deve estar atento para isso, para não perder seus direitos no Estado
Democrático, uma vez que é o próprio povo a externalização do poder soberano. Por
conseguinte, a indiferença popular abre espaço para o autoritarismo, a corrupção, o
totalitarismo, a demagogia, a tirania, etc., enfim, todas as formas de males estatais.

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Assim, dividem-se as opiniões em três grupos doutrinários, aos quais nos baseados para
entender e explicar a temática:

1. TEORIA MONÍSTA

Esta teoria, que tem em Kelsen seu autor mais expoente, é uma das correntes
doutrinárias presentes na polarização doutrinária, defendendo ela que o direito é
unitário, sendo as normas internas e internacionais partes integrantes de um mesmo
ordenamento de acordo com Medeiros (2018, p. 3).

O próprio dicionário revela que a palavra monismo representa uma “realidade


constituída por um princípio único”. Logo, quando falamos da teoria monista,
estamos falando que as normas jurídicas internas e internacionais não estão
divididas, mas sim unidas tornando-se apenas um conjunto.

Conforme nos ilustra Mazzuoli (2018, p.34) o monismo tem como ponto de partida a
unidade das normas jurídicas, sendo o Direito Interno e o Direito Internacional dois
ramos de um único sistema jurídico. A unidade formada não pode ser afastada em
detrimento dos compromissos do Estado em âmbito internacional, é preciso manter
um único universo jurídico, coordenado, regendo o conjunto de atividades sociais
dos Estados. O monismo é a concepção da convergência dos dois Direitos em um
mesmo todo harmônico, não há interceptação entre o Internacional e Interno, mas
sim uma superposição em que o Direito Interno integra o Direito Internacional
(MAZZUOLI, 2018). Como elucidado por Piovesan (2012), a incorporação dos
tratados na teoria monista é feita de forma automática, o ato de ratificação do tratado
por si só, traz efeitos jurídicos no plano internacional e interno de maneira
concomitante.

Para os defensores da teoria monista, o direito é unitário, quer se apresente nas


relações de um estado, quer nas relações internacionais, sendo assim, as normas
internacionais e internas são partes integrantes de um mesmo ordenamento. Porém,
dentro do monismo, mesmo existindo consenso na ideia fundamental de que o direito
é um só, existe uma divisão entre aqueles que entendem que em caso de conflitos
entre normas de direito internacional e de direito interno deve prevalecer o direito
interno, tese defendida dentre outros por Hegel, e outros que defendem que nos casos
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de conflitos entre essas normas deve prevalecer o direito internacional, posição
defendida por Kelsen. 3 Malcolm N. Shaw. Direito Internacional. São Paulo: Martins
Fontes, 2010, p. 135. Apesar desse dissenso a jurisprudência internacional reconhece
invariavelmente a primazia do direito internacional sobre o direito interno quando
ocorrer conflito entres ambos. Esse caráter de preeminência do direito internacional
foi declarado em parecer pela Corte Permanente de Justiça Internacional, em 1930,
nos seguintes termos “É princípio geralmente reconhecido, do direito internacional,
que, nas relações entre potências contratantes de tratado, as disposições de lei interna
não podem prevalecer sobre o tratado”. Mais tarde esse princípio foi reafirmado na
Convenção de Viena sobre o direito dos tratados, que destaca, no seu artigo 27 que
“Uma parte não pode invocar as disposições de seu direito interno para justificar o
inadimplemento de um tratado”.

Com a aplicação da doutrina monista, porém, surge um conflito de natureza


hierárquica, caso ocorra conflito de normas, qual ordem jurídica deve prevalecer, a
interna ou a internacional? Cria-se assim um conflito entre normas. É na resolução
dessa questão que a teoria monista diverge, se divide em duas teorias diferentes, a
Teoria monista nacionalista, defensora da prevalência do direito interno e a
Monista internacionalista em que prevalecem os tratados internacionais
(MAZZUOLI, 2018). Como mostrado por Medeiros (2018, p.4) há grandes
pensadores dos lados de cada uma dessas vertentes monistas, Hegel defendia a
prevalência do Direito Interno, 88 pela soberania dos Estados, enquanto Kelsen era
defensor da primazia do Direito Internacional.

2. TEORIA DUALISTA

Para a doutrina dualista, que teve suas origens em Dionísio Anzilotti e Heinrich
Triepel, há duas ordens jurídicas distintas que não se relacionam nem se
interpenetram. Os sistemas normativos nacional e internacional teriam fundamentos
e fontes de produção diferentes, por isso seriam independentes. Assim, a validade de
uma norma internacional não dependeria de sua harmonia com a ordem interna e
vice-versa. Para que uma norma internacional pudesse viger na ordem interna,
deveria haver alguma espécie de “incorporação” desta norma no quadro jurídico
interno.

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Defendem que o direito internacional e o direito interno são ordens jurídicas distintas
e independentes entre si, e que para ter validade internamente o direito internacional
precisa passar por um processo de incorporação ao direito interno de cada País.
Consequentemente, o direito internacional não criaria obrigações para o indivíduo,
salvo se suas normas fossem transformadas em direito interno, conforme as regras
adotadas por cada País para essa transformação. Também entre os dualistas existe
uma divisão, segundo a forma como as normas de direito internacional devem ser
incorporadas ao ordenamento jurídico interno. Assim, o dualismo se divide em
radical ou extremado e moderado ou mitigado. O dualismo radical prega que a
internalização dos tratados internacionais deve ocorrer por meio de lei; já o dualismo
moderado considera que a internalização de uma norma internacional pode ocorrer
por meio de acto infra legal, como um decreto presidencial.

Para os dualistas, o direito interno e o direito internacional são sistemas totalmente


distintos, ou seja, não há uma relação entre um direito e outro, pois cada um é
independente de modo que não há interferência.
Isso quer dizer que, quando o representante do Estado, no nosso caso o Presidente
da República, assume um compromisso em âmbito internacional, participando de
um tratado ou convenção por exemplo, esse compromisso firmado no exterior, fica
no Exterior, não interferindo na esfera do direito interno.
Porém isso não quer dizer necessariamente que aquela norma nunca será aplicada
em nosso ordenamento pátrio. Para que ela comece a valer dentro do direito pátrio,
ela precisa ser “aceita” ou “adotada” pelo direito interno.
Para os dualistas, o direito internacional está a serviço do Estado e não o contrário,
esse entendimento acaba por definir uma hierarquia entre os dois ordenamentos
jurídicos, destacando o direito interno como superior ao direito internacional. Por
esse motivo, caberia ao Direito nacional, autorizar a incorporação da norma
estrangeira ao seu ordenamento.

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A teoria dualista ainda se subdivide em dualista radical e dualista moderada:

2.1. TEORIA DUALISTA RADICAL


Para esta vertente extrema do dualismo, a independência entre os sistemas seria
tamanha que, a fim de obter eficácia no ordenamento jurídico interno, haveria a
necessidade de edição de uma lei nacional para incorporar a norma internacional
ao sistema jurídico interno.

2.2. TEORIA DUALISTA MODERADA

Já para o dualismo moderado, a recepção da norma internacional pelo ordenamento


jurídico interno dispensa a edição de lei nacional, embora seja necessário um
procedimento interno específico, com participação dos poderes legislativo e
executivo. Essa é a teoria que se coaduna com o sistema angolano, já que este não
permite a validação direta dos tratados internacionais, sendo necessário o
procedimento formal de “internalização” por via de tratados e outros meios legais.

3. TEORIA DO PARALELISMO

Segundo o qual o Estado e o Direito são realidades distintas, porém necessariamente


interdependentes.

Esta terceira corrente, procurando solucionar a antítese monismo – Dualismo, adotou


a concepção racional da graduação da positividade jurídica, defendida com raro
brilhantismo pelo eminente mestre de Filosofia do Direito na Italia, Girgio Del
Vecchio.

Reconhece a teoria do dualismo, a existência do Direito não estatal, sustentando que


vários centros de determinação jurídica surgem e se desenvolvem fora do Estado,
obedecendo a uma graduação de positividade. Sobre todos estes centos particulares
do ordenamento jurídico, prepondera o Estado como centro de irradiação da
positividade. O ordenamento jurídico do Estado, afirma Del Vecchio, representa
aquele que, dentro de todos os ordenamentos jurídicos possíveis, se afirma como o

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“Verdadeiramente positivo”, em razão da sua conformidade com a vontade social
predominante.

4. PODER INFRA ESTADUAL

O Estado segundo os nossos actuais conceitos, não tem apenas um corpus, não é
apenas um determinado conjunto geo-humano dotado de uma certa organização. Não
se resume à mistura aditiva de um elemento territorial, de um elemento societário e
do poder político. Para que haja um Estado, exige-se não só a exclusividade desse
poder político sobre o conjunto geo-humano que o mesmo organiza, impedindo que
outros poderes políticos possam ter supremo poder sobre tal conjunto, como também
a racionalidade, isto é, a existência de elementos teleológicos, daquilo que
normalmente se designa como os fins do Estado.

Para além de uma sociedade , de uma terra e de um governo, impõe-se um elemento


espiritual capaz de dar legitimidade ao monopólio da força pública, de dar unidade
ou ordenamento. Exige-se a tal exclusividade que, desde Jean Bodin , vai conseguir-
se pelo recurso à magia do nome soberania .

5. PODER ESTADUAL

O Poder Estadual é definido como a soma de todos os recursos disponíveis para


uma nação em busca de objetivos nacionais.

Este poder é composto de vários elementos, também referidos


como instrumentos ou atributos, estes podem ser agrupados em duas categorias com
base em sua aplicabilidade e origem: "nacional" ou "social".

 Nacional:
o Geografia
o Recursos
o População
 Social:
o Economia

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o Política
o Militar
o Psicologia
o Informação

Assim, entende-se que, Facetas importantes da geografia, tais


como localização, clima, topografia e o tamanho do papel desempenhado pela nação
para adquirir um poder nacional. O local tem uma influência importante sobre
a política externa de um país. A relação entre política externa e de localização
geográfica deu origem à Geopolítica.

6. PODER SUPRA ESTADUAL

É o poder que cria uma Constituição, na qual cada Estado cede uma parcela de sua
soberania para que uma Constituição comunitária seja criada. O titular
deste Poder não é o povo, mas o cidadão universal. Visa estabelecer uma
Constituição supranacional legítima, a partir de um conjunto de Estados que se inter-
relacionam em um processo de integração econômica e política. É a discussão que
envolve, por exemplo, a União Europeia e, em menor escala, o Mercosul.
Aqui se entende a perspectiva de que, se na esfera micro o indivíduo tem
necessariamente que relacionar-se com os seus semelhantes, numa esfera macro são
os Estados que possuem essa necessidade, ditando assim o cenário das relações
internacionais.

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CONCLUSÃO

O texto esmiúça a delicada relação existente entre o Estado e o Direito, bem como as
nuances que ajudam na compreensão desta temática.

Em desfecho, podemos perceber efetivamente que, Estado e Direito são duas


realidades distintas que se completam na interdependência, sendo que um depende
necessariamente do outro para a prossecução do seu fim. Como salientou Giorgio
Balladore Pallieri (n. 1905), "só a ciência do direito está em postura de dizer o que é
o Estado", salientando que "todos os conceitos que dizem respeito ao Estado são
conceitos jurídicos: cidadãos do Estado são aqueles que o Direito declara tais, órgãos
do Estado são aqueles que o são, segundo o Direito, poderes do Estado são aqueles
que o Direito lhe atribui; o Estado define-se e qualifica-se, inteiramente, em termos
de legalidade".

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