Apostila Curvas Caracteristicas

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Curvas Caracterı́sticas L R Gasques, 10/2020

Universidade de São Paulo


Instituto de Fı́sica
4323202 - Fı́sica Experimental B

Curvas Caracterı́sticas

Este texto descreve o procedimento experimental para o estudo de curvas caracterı́sticas de elementos
resistivos. Atenção a influência dos multı́metros nas medidas.

1 Objetivos
O objetivo do experimento é estudar o comportamento de resistores comerciais e de uma lâmpada
incandescente através da análise de suas curvas caracterı́sticas. Para isso, vamos utilizar 2 circuitos elétricos,
que irão permitir investigar a influência dos instrumentos (voltı́metro e amperı́metro) na determinação
experimental das resistências dos resistores. Por fim, usaremos a lâmpada incandescente para testar a
validade da Lei de Stefan-Boltzmann.

2 Introdução
Corrente elétrica é definida como o fluxo de elétrons que circula em uma direção preferencial por um
condutor quando entre suas extremidades houver uma diferença de potencial. De forma quantitativa, cor-
rente elétrica pode ser escrita como a quantidade de carga que atravessa a seção reta de um condutor por
unidade de tempo
dq
i= , (1)
dt
sendo q e t carga e tempo, respectivamente. A unidade de corrente no S.I. é o ampère. De acordo com a
primeira Lei de Ohm, corrente elétrica, diferença de potencial (tensão) e resistência podem ser relacionados
através de
V = Ri, (2)
onde V é a diferença de potencial, i a corrente elétrica e R a resistência elétrica, que está relacionada a
dificuldade do trânsito dos elétrons livres através de um determinado material condutor.
Chamamos um gráfico da corrente elétrica i em função da tensão V de curva caracterı́stica. De maneira
geral, estes gráficos servem para caracterizar o comportamento de um bipolo. De acordo com a Eq. 2,
se o elemento resistivo estudado for ôhmico, a relação existente entre i e V é linear, e R corresponde ao
coeficiente angular da reta que passa pela origem. Por outro lado, para elementos não-ôhmicos, a curva
observada não apresenta um comportamento linear, já que a resistência varia para diferentes pares (i,V ).

3 Procedimento Experimental
O experimento será dividido em duas partes. Na primeira, estudaremos dois resistores com diferentes
valores de resistência. Para tanto, utilizaremos dois circuitos elétricos diferentes. Na segunda parte, estu-
daremos o comportamento de uma lâmpada incandescente. Utilizaremos um resistor de proteção de 47 Ω
para impedir a passagem de altas correntes nos dois circuitos.

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3.1 Resistores
Antes de iniciar a tomada de dados experimentais, é preciso determinar a corrente máxima de trabalho
suportada pelos resistores para não queimá-los. Utilize a expressão
p
imáx = Pres /Rx ), (3)

onde Pres correponde a potência elétrica máxima dissipada por um resistor de resistência Rx . O valor
nominal dos resistores e de suas correpondentes potências elétricas são fornecidos na tabela 1. Considere
a incerteza dos resistores como sendo 5% dos valores nominais e despreze a incerteza da potência. Como
teremos sempre dois resistores montados no circuito, adote imáx como sendo o menor valor calculado entre
eles.

Valor nominal [Ω] Potência [W]


1 2.5
10 5.0
1M 1/16
6.8 M 1/16
47 2.5

Tabela 1: Valores nominais dos resistores utilizados no experimento.

Conforme instruções fornecidas na vı́deoaula “Experimento-Virtual” postada no portal e-Aulas, monte


o circuito ilustrado na figura 1 (Circuito 1 do experimento). Para iniciar as medidas, é preciso conectar
corretamente o voltı́metro e o amperı́metro ao circuito. Para cada resistor Rx fornecido, varie a tensão na
fonte DC, tomando cuidado para que a corrente não ultrapasse imáx .

Figura 1: Circuito 1 utilizado para estudo de resistores e da lâmpada incandescente.

1. Anote os valores de corrente (amperı́metro) e tensão (voltı́metro) fornecidos pelos multı́metros. Ob-
tenha pelo menos 15 valores de tensão e corrente para cada resistor, variando a tensão na fonte entre
1 e 20 V. Registre os valores medidos na planilha fornecida na página da disciplina. Registre também
os valores das incertezas, adotando ±(0.8% + 4D) para a tensão e ±(1.2% + 4D) para a corrente.

2. Usando um software de sua preferência, grafique os pontos medidos e ajuste uma reta. No gráfico,
inclua os resultados do ajuste, nomeie os eixos X e Y e coloque um tı́tulo.

3. Repita o procedimento experimental para o circuito ilustrado na figura 2 (Circuito 2 do experimento).

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Figura 2: Circuito 2 utilizado para estudo de resistores e da lâmpada incandescente.

3.2 Lâmpada incandescente


Uma lâmpada incandescente é um elemento resistivo cujo valor de sua resistência varia com a tempera-
tura. Para inibir sua evaporação, o filamento metálico de uma lâmpada incandescente é colocado dentro de
um invólucro de vidro preenchido com gás inerte. A pressão no invólucro deve ser suficientemente baixa para
reduzir perdas de calor por condução e convecção. Desta forma, o filamento pode atingir altas temperaturas
sem oxidar, queimar ou sublimar, com perdas de energia sob forma de calor economicamente aceitáveis.
Ao conectar uma lâmpada a um circuito percorrido por uma corrente iL sob uma tensão VL , será
transferida uma potência elétrica PL = iL × VL para o filamento. A potência é parcialmente convertida em
energia luminosa (a maior parte no infravermelho e apenas 10% no visı́vel) e também parcialmente perdida
por condução térmica do gás isolante.
Em 1879, Josef Stefan verificou experimentalmente que um corpo aquecido irradia energia a uma taxa
proporcional à quarta potência de sua temperatura. A relação, teoricamente provada por L. Boltzmann em
1884, resultou na lei de Stefan-Boltzmann para a potência da radiação de corpo negro

Prad = εAσT 4 (4)


onde σ = 5.670367(13) × 10−8 W m−2 K −4 é a constante de Stefan-Boltzmann, A é a área da superfı́cie do
corpo emissor e 0 6 ε 6 1 é um coeficiente que indica a emissividade do corpo aquecido.
Em razão da baixa condutividade térmica do gás na lâmpada e a alta temperatura do filamento (muito
maior que a temperatura ambiente) vamos considerar, em primeira aproximação, que toda a potência elétrica
consumida pela lâmpada seja emitida como radiação (infravermelho + luz visı́vel). Dessa forma, a Lei de
Stefan-Boltzmann pode ser estudada fazendo

Pelétrico = Prad = εAσT 4 , (5)


que pode ser linearizada para uma reta aplicando log em ambos os lados

log(Pelétrico ) = β + α × log(T ). (6)


A constante β = log(εAσ) é difı́cil de ser comprovada experimentalmente, mas a dependência funcional
α ∼ 4 pode ser testada para comprovar em parte a validade da lei.

Para estudar o compartamento de uma lâmpada incandescente vamos levantar sua curva caracterı́stica
utilizando um procedimento experimental análogo ao adotado para o resistor.

1. Utilize o circuito ilustrado na figura 1 (Circuito 1 do experimento) para levantar a curva caracterı́stica
da lâmpada incandescente. Para valores pequenos de V e i (quando a lâmpada ainda não emite luz
no espectro visı́vel) sua curva caracterı́stica é aproximadamente a de um elemento ôhmico.

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2. Meça 15 valores para a tensão (no voltı́metro), em função da corrente (no amperı́metro). Escolha 5
valores entre 0.1 < V < 0.6 volts (utilizados para determinação de R0 ) e 10 entre 1 < V < 15 volts.
Registre os valores medidos na planilha fornecida na página da disciplina. Lembre-se de anotar os
valores das incertezas, adotando ±(0.8% + 4D) para a tensão e ±(1.2% + 4D) para a corrente.
3. Usando um software de sua preferência, construa um gráfico de i x V . Não se esqueça de nomear os
eixos X e Y e atribuir um tı́tulo ao gráfico.
4. Faça um outro gráfico de i x V utilizando apenas os 5 primeiros pontos medidos e determine R0
através do ajuste de uma reta. No gráfico, inclua os resultados do ajuste, nomeie os eixos X e Y e
coloque um tı́tulo.

3.2.1 Temperatura do filamento


É possı́vel determinar a temperatura do filamento de uma lâmpada de tungstênio através de uma relação
empı́rica em função da resistência elétrica (R) descrita pelos pontos experimentais apresentados na figura 3,
sendo R300K = R0 a resistência do filamento à temperatura ambiente, T0 ∼ 300K.

22
Data
20

18

16

14
RT/R300K

12

10

0
0 500 1000 1500 2000 2500 3000 3500 4000
Temperature (Kelvin)

Figura 3: Resistência do tungstênio como função da temperatura

Através de um ajuste dos dados experimentais fornecido pela equação 7, é possı́vel relacionar o valor da
resistência do filamento com sua temperatura. Para tanto, é necessário conhecer o valor de R0 .
! !1,21 ! 1
1.21
R T R
= ⇒ T = T0 × (7)
R0 T0 R0

Uma vez determinado o valor da resistência da lâmpada à temperatura ambiente (R0 ), podemos verificar
experimentalmente a lei de Stefan-Boltzmann.

1. Utilizando os dados de tensão V em função da corrente i, o valor obtido para R0 , e a equação 7,


calcule a temperatura do filamento para cada medida realizada. Registre os resultados na planilha,
acompanhados de suas respectivas incertezas (é necessário usar fórmulas de propagação para calcular
as incertezas).
2. Utilizando os dados de tensão V em função da corrente i, determne o valor da potência dissipada no
filamento usando a relação P = V i.

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3. Faça um gráfico Log(P) em função de Log(T). Ajuste uma reta do tipo Log(P ) = β + α × Log(T ) e
determine o coeficiente angular.

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