05 CTPT 1 Falso Bordão
05 CTPT 1 Falso Bordão
05 CTPT 1 Falso Bordão
Contraponto 1
Apostila 5
Falso bordão
1. Falso bordão
No curso da evolução da linguagem polifônica durante o período medieval, uma mudança importante
pôde ser notada: a aceitação gradual dos intervalos de 3ª e de 6ª como consonâncias1. Nesse cenário,
emerge o falso bordão (fauxbourdon, em francês, faburden, em inglês), que consistia em uma técnica de
harmonização do cantochão, e que pode ser resumida muito sumariamente como segue:
• as duas vozes extremas (o discanto e o tenor) procedem alternando sequências de intervalos
de 6ª com intervalos de 8ª justa ao final das cadências melódicas;
• a partir da voz superior, constrói-se uma nova melodia – o falso bordão – em intervalos de 4ª
justa abaixo.
O resultado é uma cadeia de acordes de 6ª e 3ª (tríades na 1ª inversão), intercalados com acordes de
8ª e 5ª, esses últimos, como dito acima, situados comumente ao final das cadências melódicas.
Solfeje e analise os acordes resultantes do falso bordão abaixo (Johannes de Lymburgia, Regina
Coeli).
2. “Chord-melody”, “backing-vocals”
Já vimos que o falso bordão foi uma técnica usada com o sentido de enriquecer harmonicamente as
partes de discanto, na passagem da Idade Média para o Renascimento. Na verdade, na época, inexistia a
idéia de harmonia no sentido em que a entendemos hoje, e a noção de acorde tríade era apenas algo ainda
em formação, e que vai, justamente se instituindo a partir do uso continuado desses tipos de formações
sonoras.
Resumindo, podemos dizer que a promoção das 3as e das 6as ao status de consonâncias, resultou no
uso costumeiro de determinadas formações acórdicas – que correspondem, para nós, hoje às tríades –,
dando início a um longo processo que perpassa o Renascimento e vai desembocar, no período barroco, no
sistema harmônico tonal-funcional que conhecemos hoje.
Olhando o fenômeno do falso bordão desde a nossa perspectiva, podemos tentar uma analogia com o
que acontece mais modernamente nas famosas “segundas vozes”, tão comumente associadas à música
sertaneja, mas usada em muitos outros estilos, sempre que se quer enriquecer harmonicamente uma
melodia. Entre as possíveis analogias possíveis, temos que:
• ambas são, originariamente, práticas de canto improvisado sobre uma melodia original (super
librum, na época medieval) e que, se tornam formas padronizadas de se cantar;
• a melodia composta sobre a melodia original não constitui, exatamente, uma nova melodia,
mas guarda uma estreita relação de dependência com ela (diferentemente do que ocorre com
o contraponto, onde o que se busca são melodias independentes);
FLOTZINGER, Rudolf et al. Discant. Grove Music Online. Oxford Music Online.
1
2º passo: construir uma nova melodia em 6as ou 3as paralelas, observando a harmonia
O procedimento é bastante simples e funciona em boa parte dos casos. É imprescindível, porém, uma
escuta muito atenta do resultado e realizar eventuais ajustes para evitar choques indesejáveis entre as notas
da harmonização coral e as notas da harmonia.