Cambuí e Sua Negritude: Eriberto Silva

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Cambuí e sua negritude

Do passado ao presente!

Eriberto Silva

Edição: 01
Novembro de 2001
Quem é Beto zulu? 5
O casamento entre escravos 14
Algumas histórias que o povo conta 20
Terno de Congada de Cambuí 26
Personalidades negras que merecem um
lugar na história – Parte 01 30
Finalizando... 42

[2]
Este pequeno e singelo informativo, é uma
pesquisa que eu venho fazendo há muitos
anos para saber sobre minha árvore
genealógica, quero saber sobre a história
da minha família, de onde eu vim, quem
são os meus ancestrais, e através destas
pesquisas, eu sem querer, achei outras
histórias sobre famílias negras em Cambuí
e então á procura da minha raiz, encontrei
outras histórias, que quero compartilhar
com vocês.
Com a ajuda de amigos, e pesquisas na
internet, cheguei nesta primeira edição e
com certeza não vou parar por aqui.
Eriberto Silva
Cambuí e sua negritude, por Eriberto Silva

Quero dedicar este informativo á todas as


famílias negras da cidade de Cambuí, que
teve sua história apagada, renegada ou
mesmo escondida, e que espero com este
informativo eu possa trazer um pouco
destas histórias á tona.
Prometo fazer o máximo com dedicação e
amor.

[4]
Cambuí e sua negritude, por Eriberto Silva

Quem é Beto zulu?

• Eriberto Aparecido dos Santos Silva,


mais conhecido como “BETO
ZULU”, tenho 25 anos de militância
na cultura Hip Hop e do Movimento
Negro;
• Ex dançarino e coreografo de
Dança de rua;
• Cantor de rap;
• Produtor de eventos e festivais de
Hip Hop e da Cultura Negra;
• Poeta e escritor;
[5]
Cambuí e sua negritude, por Eriberto Silva

• Produtor de Curta-Metragem;
• Ator de teatro;
• Membro do Terno de Congada de
São Benedito;
• Microempreendedor;
• Palestrante;
• Carnavalesco;
• Integrante do grupo de caminhada
turística e ecológica “Urso da
Montanha”;
• Fiz parte da ASSOCIAÇÃO DOS
VIOLEIROS DE CAMBUÍ – Suplente;
• Conselheiro da sociedade civil na
pasta de Cultura Popular, no
SISTEMA MUNICIPAL DE CULTURA
de Cambuí – 2017;
• Ajudei a produzir um documentário
sobre a Congada de Cambuí;
• Idealizador do “Concurso Beleza
Negra” na cidade;

[6]
Cambuí e sua negritude, por Eriberto Silva

• Corredor de rua;
• Presidente da ONG – PIVA (Posse
Inteligência Verbo Ativa)
• Presidente da ONG - SOMA
(Sociedade Organizada em
Mutualidade Artística) – 2011
• Associação dos Violeiros de Cambuí
– Tesoureiro – 2017
• Conselheiro no SISTEMA
MUNICIPAL DE CULTURA – 2017
• Radialista na Web Radio de Belo
Horizonte – Mg - 2020
• Influencer Digital
• Membro da ONG Internacional
ZULU NATION BRASIL
• Membro da Academia Cambuiense
de Letras, Artes e Ciência (ACLAC)
• Tenho uma página de entrevista
chamado BETO IN LIVE no
Facebook:

[7]
Cambuí e sua negritude, por Eriberto Silva

• Divulgador do Hip HoP, com o


projeto “OS RAP INDEPENDENTES”,
No Facebook e no Instagram;
• Canal no youtube chamado Beto
Zulu, que divulga eventos,
caminhadas turísticas e entrevistas;
Além de tudo isso, sou um grande curioso,
e eu quero saber sobre minha arvore
genealógica;
Quem são meus ancestrais?
Quem foram, de onde vieram, quais as
histórias deles?
Por isso eu comecei uma pequena
pesquisa sobre as famílias negras na
cidade de Cambuí, e uma das primeiras
perguntas que surgiram foram:
EXISTIU ALGUMA COMUNIDADE
NEGRA EM CAMBUÍ?
Se existiu, quem eram e porque não
É contada nas histórias da cidade?

[8]
Cambuí e sua negritude, por Eriberto Silva

Foto tirada da internet

Na minha procura pela internet, eu achei


um documento chamado: “DOSSIÊ DE
TOMBAMENTO CONJUNTO PAISAGÍSTICO
-PRAÇA: CORONEL JUSTINIANO- 2013”.
Neste documento tem um texto que dizia:
Em alguns registros de nascimento, já se
encontravam referências datadas de 1787
a 1789 aos bairros do Rio do Peixe, São
Domingos, Roseta e Três Irmãos.

[9]
Cambuí e sua negritude, por Eriberto Silva

E aí, me surgiu uma pergunta, quem


eram essas comunidades, se eram
negras, índios, e porque não se tem
um registro mais detalhado sobre
ela?
Eu encontrei, talvez uma resposta á esta
minha dúvida, foi no documentário:
“CAMBUHY - Estórias e Memórias”,
que foi lançado no dia 24 de Maio de
2021, e é um projeto da Prefeitura de
Cambuí, através da Secretaria de
Governo, Cultura, Esporte e Lazer em
comemoração aos 129 anos da cidade.
Segundo o documentário, Cambuí foi
ocupada inicialmente por índios, que pra
mim faz muito sentido, e depois veio os
Bandeirantes. Existem poucos registros
daquela época infelizmente, no mais são
as histórias contadas e passadas de
geração em geração.

[ 10 ]
Cambuí e sua negritude, por Eriberto Silva

E em outra parte do documento: “DOSSIÊ


DE TOMBAMENTO CONJUNTO
PAISAGÍSTICO -PRAÇA: CORONEL
JUSTINIANO- 2013”, continua:
Cambuy era o nome que aparece, pela
primeira vez em 13 de Dezembro de 1789,
num registro de batizado referente a
moradores desse bairro que levaram uma
criança a batismo na Matriz de
Camanducaia, a que pertencia toda essa
região.
O pesquisador, citou em um registro de
batizado de uma criança, mas não citou o
nome dela, os nomes dos pais, e fico
pensando, mas porque ele não citou
nomes? Se ele já sabia do registro de
batizado e com certeza, sabia o nome da
criança, e ele tinha todos os detalhes,
porque não citou?
Outro detalhe que está no documento é
que no ano de 1813 já havia um cemitério
[ 11 ]
Cambuí e sua negritude, por Eriberto Silva

no bairro da Roseta, mas não especificou


onde exatamente ficava este cemitério,
Jornalista Ulisses Capozzoli, no
documentário “Cambuhy – Estórias e
Memórias”, ele diz que o cemitério era um
ponto que mostrava que ali ao redor,
tinha uma população e que também era
um lugar de passagem de viajantes.
Seria ótimo para nossa história, se
tivesse um registro das pessoas que
estão enterradas ali, e de qual família
pertenciam, talvez acharíamos
muitas coisas que poderiam nos
ajudar á conhecer mais nossa cidade.
E continuando com o texto do documento:
Cambuí foi elevada a freguesia em 1º de
junho de 1850;
Em 27 de junho de 1889, Cambuí foi
elevada a Vila e criado o município.

[ 12 ]
Cambuí e sua negritude, por Eriberto Silva

103 anos depois do primeiro registro, em


24 de Maio de 1892, Cambuí foi elevada a
Cidade.
Eu perguntei para algumas pessoas que
fizeram outras pesquisas, sobre a história
da cidade e região, afirmam que em
Cambuí velho e em torno não tem
vestígios de quilombos, dizem que o mais
próximo era ali na cidade vizinha do
Córrego do Bom Jesus.

[ 13 ]
Cambuí e sua negritude, por Eriberto Silva

O casamento entre escravos

Imagem tirada da Internet

“O casamento dos escravos, para os


fazendeiros na época, era a melhor
maneira de prendê-los às fazendas e uma
forte garantia de sua boa conduta.”

[ 14 ]
Cambuí e sua negritude, por Eriberto Silva

Achei na internet um trabalho de pesquisa


chamado “A família escrava no
extremo Sul de Minas, (1831 a
1888)”, do historiador, João Lucas
Rodrigues, ele é formado em História na
Universidade do Vale do Sapucaí. Possui
Mestrado em História pela Universidade
Federal de São João del Rei (UFSJ), é
Doutorando em História pela Universidade
Federal de Minas Gerais (UFMG), na linha
de pesquisa História Social da Cultura.
Tem experiência na área de História, com
ênfase em História do Brasil Império e
Primeira República, atuando
principalmente nos seguintes temas:
escravidão, pós-abolição, economia e
trabalho. (informações retiradas do site
escavador – 2020).
No trabalho do João Lucas, o que me
chamou mais a atenção foi que ele cita
sobre casamento entre escravos, e cita
[ 15 ]
Cambuí e sua negritude, por Eriberto Silva

nossa cidade de Cambuí como sendo a


cidade que mais teve escravos casados
pela redondeza. Ele escreve:
Os resultados aqui mostrados estão em
consonância com os a dados referentes a
localidades vizinhas segundo estimativas
da Mestra em História Social pela
Universidade Federal de Juiz de Fora -
UFJF
Leonara Lacerda.
Segundo a autora, o percentual de negros
casados era:
Pouso Alegre: 44%,
Cambuí: 46,8%
Camanducaia: 38,3%
Bom Jesus das Antas: 33,5%
Não é interessante isto?
Existe dados comprovados que existiu
escravos aqui em nossa cidade, e que eles
se casavam entre si, e ai eu pergunto:

[ 16 ]
Cambuí e sua negritude, por Eriberto Silva

porque nas histórias que eu ouvi, nunca


me disseram isso?
Quem são essas famílias, e onde morou,
qual as histórias delas, pra mim e para a
história da cidade é muito importante que,
tenhamos algum documento, ou histórias
orais, contando sobre estas famílias, é
uma parte de nossa história que esta
perdida, esquecida, e precisa ser
descoberta.
Vi, que tem outros historiadores que já
fizeram uma pesquisa por aqui no Sul de
Minas e tem muito mais informações
sobre Cambuí, que ainda não sabemos.
João Rodrigues ainda fala que para ter
legitimidade ao seu Termo pertencente,
ele se refere aos mapas de população
(1833-1835), que observaram que a
participação mais elevada de uniões
matrimoniais, concentrou-se em Cambuí,

[ 17 ]
Cambuí e sua negritude, por Eriberto Silva

com 46,8% do total de escravos acima de


15 anos.
No trabalho de João Rodrigues, ainda cita
que segundo o mapa de população de
Pouso Alegre (1833-1835), em Cambuí:

• ESCRAVOS PARDOS
• 3 Casados = 23%
• 10 Solteiros = 77%

• ESCRAVOS PRETOS
• 193 Casados = 48%
• 212 Solteiros = 52%

• PRETOS LIVRES
• 8 Casados = 44%
• 10 Solteiros = 56%

Entre escravos pardos, escravos pretos e


pretos livres, só nessa pesquisa contamos
436 pessoas.
[ 18 ]
Cambuí e sua negritude, por Eriberto Silva

Quem eram essas pessoas, e de onde


vieram?
Porque não são mencionadas nas páginas
da história da cidade?
Quero continuar a pesquisar, falar com
algumas pessoas, visitar bairros, para
quem sabe encontrar informações mais
claras sobre estas pessoas.

[ 19 ]
Cambuí e sua negritude, por Eriberto Silva

Algumas histórias que o povo


conta

Aqui eu separei, algumas histórias, que os


populares da cidade contam, nesta parte
eu sei que tem muitas e muitas histórias
de personagens negras, que viveu em
Cambuí, enquanto eu fechava este
primeiro informativo, já recebi várias
outras que irei estar contando nos
próximos informativos, mas neste eu
quero começar com um resumo da
história do avó do ex prefeito da cidade,
Benedito Guimenti.

[ 20 ]
Cambuí e sua negritude, por Eriberto Silva

José Samuel Ghimenti

O José Samuel Ghimenti (avô), além de


padeiro fabricava macarrão e estava com
um grande problema: Sua máquina de
fazer macarrão havia quebrado e somente
em São Paulo é que podia ser consertada.
E em 23 Novembro de 1911, relata-se que
um tal de MIGUEL PRETO, um ex
escravo, ajudou o Samuel Ghimenti e o

[ 21 ]
Cambuí e sua negritude, por Eriberto Silva

Frei Marcelino Dorelli a levar a máquina


para consertar em São Paulo.
Dizia o Samuel, que o Miguel Preto era
uma pessoa que conhecia muito bem as
estradas, e que era um preto muito
inteligente.
Quem era e de onde veio Miguel Preto,
um ex-escravo que conhecia a região
muito bem?
Ele foi escravo em qual fazenda?
Porque não se é contada nada sobre ele??
Qual seria a história da vida de Miguel
Preto, veio de onde, são essas perguntas
que precisamos de respostas para
sabermos um pouco mais sobre nós.

No Youtube tem um canal chamado


“Retratos de um passado presente”, e
nele tem alguns vídeos bem antigos de
Cambuí, até é muito bom para matar as
saudades de por exemplo da festa do
[ 22 ]
Cambuí e sua negritude, por Eriberto Silva

peão, dos desfiles que aconteciam no


clube, mas o que me chamou a atenção
foi o documentário: “Cambuí Frente e
verso” , de 1992, neste documentário,
tem umas testemunhas que nos dão umas
dicas de como eram tratados os negros, a
primeira fala foi a do Senhor Paco, em
entrevista ele disse:

Senhor Paco

“Dr Carlos Cavalcanti foi uma pessoa


muito ruim, uma vez tinha um preto com

[ 23 ]
Cambuí e sua negritude, por Eriberto Silva

o nome de Marinho, que roubava batatas


de um batatal perto da cidade, e trazia
para vender na cidade, um certo dia o Dr
Cavalcanti encontrou com o Marinho no
meio do caminho com um monte de
batatas roubadas e fez o Marinho voltar
com as batatas de onde tinha roubado e
devolver ao dono.”

Outra fala que me chamou a atenção foi


do Senhor Alacrino Eiras, que falou:

Alecrino Eiras

[ 24 ]
Cambuí e sua negritude, por Eriberto Silva

“No início da década de 20,em 1918 a


gripe espanhola assola o Brasil e chega a
Cambuí, tinha enterro toda hora, quando
não era na cidade era na roça, e foi uma
limpeza na cidade, a gripe espanhola
deixou, quase todo mundo caído de cama,
mas só um preto que não caiu de cama o
Crábio.”

[ 25 ]
Terno de Congada de Cambuí

Imagem retirada da internet

Tipo de dança dramática que representa a


coroação de um rei (e às vezes tb. de uma
rainha) do Congo, constituída de um
Cambuí e sua negritude, por Eriberto Silva

cortejo com passos e cantos, onde a


música acompanha a expressão dramática
dos textos, e que se caracteriza
pela embaixada, por evoluções
processionais e lutas simbólicas de espada
[É de criação de escravos no Brasil,
registrando-se desde 1674 em
Pernambuco, mas na sua origem podem
estar antigas disputas entre povos rivais
do Congo e de Angola.

[ 27 ]
Cambuí e sua negritude, por Eriberto Silva

Terno de Congada de São Benedito

Imagem retirada da página “Lembranças de Cambuí”

Segundo as histórias da cidade, o terno de


congado de São Benedito, quem trouxe
para a cidade foi o senhor Geraldo Rosa,
que assistiu o folguedo em outra cidade e
achou tão bonito que quis montar uma em
Cambuí também.
Pesquisas mostram que a congada surgiu
em 1967, não é uma data precisa.

[ 28 ]
Cambuí e sua negritude, por Eriberto Silva

Uma das pesquisadoras das histórias da


cidade, relatou que existe um forte indicio
de que no Cambuí velho já havia um terno
de Congada.
Eu costumo falar que o nosso Terno de
Congado de São Benedito, está na UTI,
porque o Terno esta parado, mas não
acabou, ainda tem alguns congadeiros
antigos que estão vivos, e na minha
opinião, precisamos conversar com eles,
conhecer um pouco mais da Congada e
fazer disto um documento histórico, para
deixar para as próximas gerações, e tem
mais, eles sonham em voltar a dançar,
que é muito bom, o que falta pra isto
acontecer é na verdade dinheiro e
incentivo.

[ 29 ]
Personalidades negras que
merecem um lugar na história –
Parte 01

Aqui, vou citar os nomes de algumas


personalidades negras que com toda
certeza merecem um lugar na história de
nossa cidade, mas não só na história, mas
merecem, nomes de rua, nomes de
Bairros, lugares onde podemos eternizar o
seu nome e o seu legado e contribuição
pra nossa cidade.
Cito neste primeiro momento o nome de
alguns, sei que existem outras dezenas de
personalidades, que com os próximos
informativos, quero trazer pra vocês.
Então vamos aos primeiros nomes das
personalidades:
Cambuí e sua negritude, por Eriberto Silva

Foto do Casamento de Olímpia da Silva de Oliveira (13)


e Higino Pereira da Cunha(14)

[ 31 ]
Cambuí e sua negritude, por Eriberto Silva

Dona Ana (02)

Segundo o J. Fausto Pereira, a mulher


negra da foto chamava-se Ana, e tinha os
filhos Ciro, Terezinha, Benedito e Afonso.
A família morava entre os bairros do
Roseta e Meia Légua.

[ 32 ]
Cambuí e sua negritude, por Eriberto Silva

Ele acredita que o caçula Afonso possa


estar vivo e morando em São Paulo.

Ciro Moreira da Silva

Ciro, segundo José Higino Cunha e J.


Fausto Pereira, era filho da Dona Ana, e
ele morava no Bairro da Meia Légua, e ele
era famoso pelas suas espontâneas
gargalhadas, não tinha quem não notasse
a sua presença, quando vinha para
Cambuí.

[ 33 ]
Seu Onofrinho

Onofre Sebastião do Santos, nascido em


07 de Março de 1921, na cidade de
Cambuí, Sul de Minas Gerais.
Era filho de José Sebastião dos Santos e
Ana Maria Salustiano, era uma família de
6 irmãos, 4 homens (incluindo ele), e 2
mulheres.
Casou-se com Antônia Maria de Jesus,
nascida na cidade de Cambuí em 19 de
Dezembro de 1928, e é filha de Maria
Cambuí e sua negritude, por Eriberto Silva

Benedita de Jesus e não tem registro do


nome do pai, tiveram 2 filhas, Ana Rúbia
dos Santos e Maria das Graças dos Santos
Silva.
Seu Onofrinho (como era chamado), era
uma figura querida na cidade, todos que o
conhecia sempre falou muito bem dele.
Onofre trabalhou desde criança em varias
funções, não tinha medo e nem preguiça,
uma das profissões foi de lavrador, e aos
26 anos de idade conseguiu seu primeiro
emprego registrado, e em 01 de
Dezembro de 1947 começa a trabalhar na
Prefeitura Municipal de Cambuí como
operário. Trabalhou na prefeitura durante
mais ou menos 33 anos, em várias
funções designada pra ele, como por
exemplo, cuidar da Praça do X, que fica
na vila do colégio, ou então na área de
obras calçando as ruas, e também na
caixa d’água da cidade que ficava na vila
[ 35 ]
Cambuí e sua negritude, por Eriberto Silva

do Cemitério, e se aposentou no dia 31 de


Janeiro de 1980.
Quem não o conhecia, olhava aquele
negro de estrutura baixa arrastando os
pés pela rua (consequência de olhos de
peixe que tinha na sola dos pés), achava
que ele não aguentava fazer nada, mas
ele provava ao contrario e mesmo depois
de aposentado ele conseguiu emprestar
uns terrenos para planta verduras, milhos
e outras hortaliças para depois que colher
vender pelas ruas da cidade para tirar um
dinheiro a mais em casa.
Seu Onofrinho foi um homem muito
religioso (devoto de São Benedito), ele
estava sempre frequentando as missas
aos domingos principalmente, e fez parte
do coral da igreja de Nossa Senhora do
Carmo. Sempre participou das atividades
da igreja, uma pequena curiosidade foi
que uma ve4z ele e seu neto mais velho
[ 36 ]
Cambuí e sua negritude, por Eriberto Silva

(Eriberto – Beto Zulu), participaram de


uma peça de teatro da igreja onde eles
representaram um papel de trabalhador
rural, em outro vez os dois participaram
também da encenação do “Lava pés”.
Sua maior paixão era o Terno de Congada
de São Benedito, ao qual ele ficou á frente
por vários anos, e dentro do Terno ele
cantava (inclusive compôs algumas
musica), dançava, tocava violão, marcava
ensaios, e também era o que marcava os
shows que o Terno ia dançar.
Era uma pessoa, rígida com o Terno,
porque ele não gostava que os integrantes
chegassem atrasados, ou então que
ingerisse bebidas alcóolicas, nem antes e
nem depois das apresentações.
O Terno de Congado sempre foi muito
respeitado na cidade e requisitado a
participar de comemorações e festividades
de cidades vizinhas. Formado pela maioria
[ 37 ]
Cambuí e sua negritude, por Eriberto Silva

de integrante da zona rural, viajou para


várias cidades como: Extrema, Monsenhor
Paulo, Camanducaia, entre outras.
Na cidade de Cambuí, já se apresentou
em todas as festividades no centro e
também na zona rural.
Seu Onofrinho fazia de tudo para que esta
dança não acabasse e seu sonho era que
fosse passado de geração em geração.
Com o passar dos anos o Seu Onofrinho
foi ficando mais velho e doente, mesmo
assim ainda tentou fazer o que mais
gostava que era cantar no coral,
frequentar as missas e dançar o Congado.
Mas a doença (uma delas era o Mal de
Parkinson), estava sendo muito cruel com
ele, lhe tirando suas forças e corroendo
sua saúde.
Seu Onofrinho ficou muito doente, já não
saia mais de casa, andou de muleta um
certo tempo, depois de cadeira de rodas e
[ 38 ]
Cambuí e sua negritude, por Eriberto Silva

quando a doença avançou, não podia mais


se levantar da cama. Fez vários exames,
tomou remédios, fez muitas cirurgias, mas
não adiantava, a doença era mais forte.
Como não podia mais cantar no coral (a
doença tirou sua voz), e dançar no
congado, Seu Onofrinho foi ficando muito
triste e abatido, mas o seu olhar nunca
perdeu a esperança e o entusiasmo de
que as gerações futuras não iriam deixar o
congado acabar.
No dia 11 de Maio de 2003, aos 82 anos,
Seu Onofrinho veio a falecer. E para
realizar seu ultimo desejo foi enterrado
com a roupa do congado (que ele já
estava guardando á anos em seu guarda
roupas).
Seu Onofrinho foi um exemplo de homem
não só para sua família, mas também para
todos que o conhecia, era trabalhador,

[ 39 ]
Cambuí e sua negritude, por Eriberto Silva

religioso, honesto e dedicado naquilo que


fazia.

Além deste que eu contei á cima, nas


próximas edições quero contar as histórias
destas personalidades:

Baianinho
Bernadete
Dona Conceição “preta”
Seu Quita
Floriza, ou "Deusa das Flores"
Dr. Aleixo

Se você conhece a história de uma destas


pessoas, ou de outras me ajude a contar,
[ 40 ]
Cambuí e sua negritude, por Eriberto Silva

mandando o seu depoimento para meu e-


mail: betozulucambui2014@gmail.com, ou
para meu whats app: (35)98855-2049.

[ 41 ]
Cambuí e sua negritude, por Eriberto Silva

Finalizando...

Aqui chegamos ao final deste informativo,


mas não ao final da minha pesquisa, ainda
estou no começo de tudo e tenho muito
ainda para descobrir e para contar pra
vocês.
Mas por enquanto temos que balancear
alguns pontos positivos, que conquistamos
até agora.
Depois de muitos anos batalhando aqui na
cidade, nós conseguimos que o dia 20 de
Novembro fosse feriado na cidade, é uma
grande conquista, que teve muito suor,
muita dedicação de toda população negra
e dos amigos e simpatizante pela causa.
E dentro das festividades do Dia da
Consciência Negra, temos o Concurso da
Beleza Negra, que é um concurso para

[ 42 ]
Cambuí e sua negritude, por Eriberto Silva

elevar a auto estima dos negros e negras


da cidade.
A capoeira, é um dos instrumentos mais
importante da cidade para a inclusão de
jovens e crianças nas escolas e na
sociedade.

Mas ainda temos muitos pontos que ainda


temos que estar combatendo como o
Racismo e o Preconceito que são muito
fortes ainda na nossa cidade, muitos de
nossos irmãos e irmãs todos os dias estão
sofrendo este tipo de situação que
devemos com todas as forças combater.
Precisamos falar mais, pesquisar mais e
também estar divulgando sobre a nossa
história, sobre a história de nossas
famílias para que seja passada para os
que vem e para que não fique perdida no
tempo, ainda continuo batendo na tecla
de que precisamos saber de nosso
[ 43 ]
Cambuí e sua negritude, por Eriberto Silva

passado para que possamos compreender


o nosso futuro e o futuro dos nossos.
Sabemos que em nossa cidade, temos
muitas pessoas que não querem que
conte algumas coisas, ainda prevalece o
coronealismo, mas não podemos se
intimidar com isto, não podemos ter
medo, nossos ancestrais não tiveram
medo de lutar, então temos a obrigação
de contar sobre eles e preservar a sua
memória.
A comunidade negra e índia, precisa ter o
seu lugar no museu da cidade para que
também tenha as suas histórias contadas
para as futuras gerações.

Eu vou continuar pesquisando, procurando


e divulgando as nossas histórias e este é
só primeiro de muitos outros informativos
que vou fazer.

[ 44 ]
Cambuí e sua negritude, por Eriberto Silva

Se você conhece outras histórias da


comunidade negra e queira que eu
divulgue, entre em contato pelo e-mail:
betozulucambui2014@gmail.com ou pelo
whats app: (35)98855-2049.

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Eriberto Silva

[ 45 ]
Cambuí e sua negritude, por Eriberto Silva

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