Apostila Amostragem Recomendacao Adubacao Manejo
Apostila Amostragem Recomendacao Adubacao Manejo
Apostila Amostragem Recomendacao Adubacao Manejo
16 a 20 de julho de 2012
CURSO
INSTRUTORAS:
Dra. Eliane De Paula Clemente
Dra. Aline Pacobahyba Oliveira
MÓDULO I - INTRODUÇÃO
Conceito de solo
A ação dos fatores de formação do solo dá origem aos processos de formação de solos,
que consistem em um conjunto de processos físicos, químicos e biológicos que resultam em solos
com características distintas e particulares.
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O horizonte B aparece logo abaixo do horizonte A, e apresenta características como cor,
textura, consistência, etc, uniformes e homogêneas, resultado de transformação, remoção e, ou
translocação intensas.
Os horizontes dos solos apresentam características próprias que são resultado dos seus
processos de formação. São propriedades morfológicas, físicas e químicas, que, em conjunto, vão
caracterizar os diferentes tipos de solos.
O solo é constituído por partículas sólidas e poros (ocupados por água e ar). A proporção
de cada uma destas partes pode variar bastante, sendo que, normalmente, a fase sólida
corresponde a 50% do volume do solo. Esta fase é constituída por partículas minerais e material
orgânico.
As partículas minerais podem ser classificadas tanto quanto a sua origem e composição,
como quanto a seu tamanho. Assim temos os minerais primários e fragmentos de rocha e os
minerais secundários (formados do intemperismo dos minerais das rochas), que podem ser
encontrados nos tamanhos argila, silte e areia, ou maiores (cascalho, calhau e seixo).
A fase líquida do solo ocupa parcial ou totalmente o espaço poroso do solo, tanto macro
como microporos (poros menores que 0,05 mm). A água do solo contém quantidades variáveis de
partículas em suspensão, de sais minerais em solução, e de gases dissolvidos (oxigênio e gás
carbônico, entre outros), formando a solução do solo.
A fase gasosa, ou ar do solo encontra-se nos poros do solo, tanto livre como dissolvida na
fase líquida. O ar do solo caracteriza-se por possuir quantidades de gás carbônico maiores que a
atmosfera, devido à respiração das raízes e dos organismos existentes no solo.
Desde que o oxigênio é essencial para o desenvolvimento da vida, é necessário que o solo
contenha ar. A ausência de ar no solo, como, por exemplo, quando saturado por água, resulta em
uma situação em que ocorrem condições redutoras e acumulação de matéria orgânica. Esta
acumulação, que pode até formar solos orgânicos se deve à menor capacidade de decomposição
dos microorganismos anaeróbicos.
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Os solos podem apresentar cores bastante diferentes que variam de acordo com a sua
composição. Assim, solos podem ser escuros, quando são ricos em matéria orgânica (resultante da
decomposição de plantas e animais); podem ser amarelos quando têm um mineral chamado
goethita; vermelhos quando têm um mineral chamado hematita; escuros ou acinzentados quando
estão em condições com excesso de água, como por exemplo, os solos situados nas partes
encharcadas próximas aos rios e riachos (brejos).
Os solos são compostos por partículas de diferentes tamanhos, desde bem pequenas
(argila) até mais grosseiras (areia). A textura é a proporção relativa das frações de tamanho em
um solo. Em solos onde predominam partículas de tamanho areia, a sensação é de aspereza, e o
material é pouco pegajoso e difícil de modelar. Naqueles solos em que predominam partículas de
tamanho argila, a sensação é de suavidade e o material é pegajoso e fácil de modelar. Quando
predomina o silte a sensação é de sedosidade, parecido com o talco.
O tipo de partículas de argila existentes no solo vão conferir a ele uma maior ou menor
pegajosidade, que pode ser observada na facilidade ou dificuldade com que modelamos a massa
de solo. Por outro lado, a consistência do solo é uma propriedade que se relaciona ao seu
comportamento mecânico (resistência ao rompimento), e está relacionada à sua umidade e
estrutura.
O primeiro forma os Latossolos, solos de grande ocorrência no Brasil. São solos profundos,
muito intemperizados, que sofreram intensa transformação e remoção de materiais.
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O processo de podzolização se caracteriza por intensa translocação de argila entre os
horizontes A e B, e forma principalmente solos conhecidos como Argissolos.
À superfície do solo, se encontra uma camada rica em nutrientes e materiais orgânicos que
permite o crescimento das plantas. A vegetação é um dos fatores que protege o solo da erosão,
tanto pela interceptação da chuva pelas copas das árvores, como pelas raízes que favorecem a
infiltração da água da chuva. Assim, a vegetação tanto protege o solo do impacto direto da chuva,
e também, da insolação direta, como contribui para a maior infiltração de água, diminuindo o
escoamento superficial, potencialmente erosivo.
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MÓDULO II - AMOSTRAGEM DE SOLO
Introdução
Amostra é uma pequena porção de solo (terra) coletada de forma que represente bem
cada talhão da propriedade rural. Cada hectare de terra tem centenas de toneladas de solo, e a
amostra só vai ter cerca de meio quilo. Assim, é muito importante coletar o solo da melhor
maneira para que a amostra indique realmente o que ele pode oferecer para as culturas.
Objetivos
Considerando que as análises são feitas a partir de amostras, estas devem ser mais
representativas possível da área porque nenhum resultado é melhor que o verdadeiro resultado
da amostra, portanto, nada que seja realizado no laboratório melhora a qualidade do resultado
por sobre a qualidade da amostra, ou seja, para que a análise de solo tenha resultados confiáveis,
é necessário que a amostragem seja correta, uma vez que ela representa o terreno que se quer
analisar (SQUIBA, 2002). É importante salientar que a maior fonte de erro na análise de solo está
na amostragem inadequada, o que pode conduzir a resultados incorretos (FRÁGUAS, 1992).
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A variabilidade do solo
A textura, que é de difícil avaliação, deve ser considerada com muito cuidado para não
agrupar unidades de solo de textura diferente. A textura, além de influenciar na variabilidade das
características químicas dentro das unidades de amostragem, será considerada com o um critério
específico na interpretação dos resultados e na recomendação do uso de fertilizantes.
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Figura 1. Exemplos de estratificação da paisagem em unidades (estratos ou glebas) de amostragem.
Em outro nível, as micro variações referem-se às diferenças nas características dentro das
unidades de amostragem ou estratos, verificadas a pequenas distancias (da ordem de a
centímetros).
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Portanto, com a amostragem de solo para avaliação da fertilidade, procura-se estimar a
fertilidade média do estrato. Diante das micro variações, para obter-se esta estimativa várias
amostras, denominadas amostras simples, devem ser tomadas do estrato.
Assim a fertilidade média da unidade de amostragem pode ser estimada de duas maneiras,
conforme esquematizado abaixo. Pelo cálculo da média aritmética para os resultados das análises
das amostras (Esquema A), ou então pela a análise química de um a amostra composta formada
da mistura homogênea das amostras simples (Esquema B). O segundo procedimento é,
seguramente, o mais racional.
X1
X2
X3 X
...
Xn
A B
n
Xi F X
F i 1
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A intensidade da micro variação na unidade de amostragem é acentuada pelos fatores
mencionados anteriormente, mas depende intrinsecamente, da característica avaliada. Em razão
da escala de distância em que as micro variações ocorrem, estas não dependem da extensão da
unidade de amostragem.
A heterogeneidade existente no solo faz com que sejam retiradas de áreas estratificadas
(unidades de amostragem) certo número de amostras simples para formar uma amostra composta.
E forma-se uma amostra composta em cada unidade de amostragem.
Em razão desta heterogeneidade surge a indagação: com que número de amostras simples
tem-se a melhor estimativa dos parâmetros que caracterizam a fertilidade da unidade amostrada.
Sobre o número de amostras simples por estrato, ALVAREZ V. & CARRARO (1976)
verificaram que além de levarem-se em consideração as características em estudo, deve considerar
a variabilidade do solo, em função dos fatores já mencionados. Portanto, é importante ressaltar
que o número de amostras simples deve variar em função da intensidade de variação e não da área
das unidades de amostragem.
A variabilidade vertical do solo deve-se a presença das camadas e/ou horizontes, que
geralmente apresentam transições paralelas à superfície. Estas transições muitas vezes são
abruptas, razão pela qual, diferenças de poucos centímetros em profundidade, leva à amostragem
de diferentes horizontes. Para evitar-se a influência da variabilidade em profundidade as amostras
simples em uma unidade de amostragem devem ser coletadas à uma mesma profundidade do solo.
Resume-se que, para evitar as grandes variações da paisagem (macro variações) procede-se
a sua estratificação (demarcação de unidade de amostragem ou estratos). Para evitar a intensa
variação em superfície e a curta distância dentro da unidade de amostragem, faz a coleta de um
determinado número de amostras simples para constituir uma composta. E para evitar a variação
em profundidade, as amostras simples devem ser coletadas a uma mesma profundidade.
Considerando que a amostra composta está substituindo ‘n’ amostras simples para então
obter a média aritmética para os valores das características analisadas, ressalta-se que as amostras
simples devem apresentar o mesmo volume de solo.
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Amostragem
Deve-se considerar também a distribuição dos pontos de coleta das amostras simples
dentro do estrato. É fundamental que os pontos de coleta estejam distribuídos por toda a área para
que a amostra composta seja representativa do estrato. Recomendas-se que a escolha dos pontos
seja ao acaso, percorrendo em zigue-zague toda a área da unidade de amostragem, conforme
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ilustra a Figura 2. Apesar da localização aleatória dos pontos de amostragem, devem-se evitar
acidentes estranhos na área, tais como formigueiros, cupinzeiros, locais de queimada e deposições
de fezes em pastagens. Além deste aspecto os resíduos vegetais sobre o solo devem ser removidos
no ponto de coleta.
Considerando que a adubação acentua as micro variações, cuidados especiais devem ser
tomados na amostragem de área com cultura estabelecida, ou intensamente cultivada. Para tanto
se sugere distribuir os pontos de coleta das amostras simples entre a área de influência direta do
fertilizante e a área não afetada.
Figura 2. Esquema de distribuição aleatória dos pontos de coleta de amostras simples em uma
unidade de amostragem, segundo caminhamento em zigue-zague.
A amostra deve ser acompanhada por um formulário preparado pelo laboratório onde se
encontram o nome e endereço do remetente, a identificação das amostras e informações
complementares tais como: cultura a ser feita, cultura anterior, adubação anterior, topografia etc.
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Figura 3. Procedimentos e equipamentos utilizados na coleta de amostras de solo.
Concluindo, ressalta-se que a precisão com que uma amostra composta representa a
unidade de amostragem depende da amplitude de variação da característica em estudo, do
número de amostras simples coletadas e da maneira como estas são retiradas.
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Referências bibliográficas
ALVAREZ V., V.H.; CARRARO, I.M. 1976. Variabilidade do solo numa unidade de amostragem em
solos de Cascavel e de Ponta Grossa, Paraná. Rev. Ceres, 23:503-510.
BARRETO, A.C.; NOVAIS, R.F.; BRAGA, J.M. 1974. Determinação estatística do número de amostras
simples de solo por área para avaliação de sua fertilidade. Rev . Ceres, 21:142-147.
SQUIBA, L.M., PREVEDELLO, B.M.S., LIMA, M.R. Como coletar amostras de solo para análise química
e física (culturas temporárias). Curitiba: Universidade Federal do Paraná, Projeto Solo Planta,
2002. (Folder).
FRÁGUAS, J.C. Amostragem de solo para análise em vinhedos. Comunicado Técnico EMBRAPA-
Bento Gonçalves, RS, Nº 8, dezembro 1992, p. 1-4.
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MÓDULO III – INTERPRETAÇÃO DE ANÁLISE DE SOLO
Apesar dos conceitos básicos de acidez e capacidade de troca de cátions (CTC) serem
bastante conhecidos, tanto na região temperada como na região tropical, ainda existe muita
confusão gerada pelo uso inadequado destes conceitos na solução de problemas ligados à
fertilidade do solo.
Deve-se salientar que nem os princípios fundamentais da acidez do solo, nem aqueles
ligados a CTC podem ou devem ser considerados em termos isolados, sendo óbvia a necessidade de
se avaliar as inter-relações entre os mesmos.
Neste sentido, cabem algumas definições isoladas destes conceitos, como meta para avaliá-
los em conjunto na diagnose de problemas ligados à fertilidade do solo.
Acidez ativa: é dada pela concentração de H + na solução do solo, sendo expressa em termos de pH,
em escala que, para a maioria dos solos do Brasil, varia de 4,0 a 7,5. Esse tipo de acidez seria muito
fácil de ser neutralizado, se não fossem outras formas de acidez, notadamente a acidez trocável,
que tende a manter, ao final de reações no solo, altos índices de acidez ativa. Estima-se que um
solo com pH 4,0 e 25 % de umidade necessitaria apenas 2,5 kg de carbonato de cálcio puro, por
hectare, para corrigir este tipo de acidez (acidez ativa).
Acidez trocável (cmolc/dm3 ou mmolc/dm3): refere-se ao alumínio (Al3+) e hidrogênio (H+) trocáveis
e adsorvidos nas superfícies dos colóides minerais ou orgânicos por forças eletrostáticas. Este tipo
de acidez é, nas análises de rotina, extraído com KCl 1 mol/L, não tamponado, que também é
utilizado, em alguns laboratórios, para extrair cálcio e magnésio trocáveis. Uma vez que existe
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muito pouco H+ trocável em solos minerais (solos orgânicos já apresentam altos níveis de H+
trocável), acidez trocável e Al trocável são considerados como equivalentes. Nos boletins de
análise, este tipo de acidez é representado por Al trocável e expresso em cmolc/dm3 ou mmolc/dm3.
A acidez trocável, também conhecida por Al trocável ou acidez nociva, apresenta efeito detrimental
ao desenvolvimento normal de um grande número de culturas. Quando se fala que um solo
apresenta toxidez de alumínio, isto significa que este solo apresenta altos índices de acidez trocável
ou acidez nociva. Um dos principais efeitos da calagem é eliminar este tipo de acidez.
Soma de bases trocáveis (S) (cmolc/dm3 ou mmolc/dm3): este atributo, como o próprio nome
indica, reflete a soma de cálcio, magnésio, potássio e, se for o caso, também o sódio, todos na
forma trocável, do complexo de troca de cátions do solo. Enquanto os valores absolutos dos
resultados das análises destes componentes refletem os níveis destes parâmetros de forma
individual, a soma de bases dá uma indicação do número de cargas negativas dos colóides que está
ocupado por bases. A soma de bases, em comparação com a CTC efetiva e Al trocável, permite
calcular a percentagem de saturação de alumínio e a percentagem de saturação de bases desta
CTC. Em comparação com a CTC a pH 7,0, permite avaliar a percentagem de saturação por bases
desta CTC (V %),parâmetro indispensável para o cálculo da calagem, pelo método utilizado em
alguns estados do País.
CTC efetiva (t): (cmolc/dm3 ou mmolc/dm3): reflete a capacidade efetiva de troca de cátions do solo
ou, em outras palavras, a capacidade do solo em reter cátions próximo ao valor do seu pH natural.
Quando se compara a CTC efetiva de um solo virgem sob cerrado (1,0 cmol c/dm3) com a de um
Latossolo Roxo Eutrófico, por exemplo, 15,0 cmolc/dm3, fica óbvio o comportamento diferencial
destes solos em termos de retenção de cátions, perdas por lixiviação, necessidade de parcelamento
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das adubações potássicas, etc. Avaliando-se este parâmetro em conjunto com textura e teor de
matéria orgânica, pode-se inferir uma série de dados adicionais relevantes ao adequado manejo da
fertilidade dos solos
t = S + Al3+,
com os valores expressos em cmolc/dm3 ou mmolc/dm3.
CTCpH 7,0 (T) (cmolc/dm3 ou mmolc/dm3): esta CTC, também conhecida como capacidade de troca
de cátions potencial do solo, é definida como a quantidade de cátions adsorvida a pH 7,0. É um
parâmetro utilizado nos levantamentos de solos no Brasil e, em geral, sub-utilizado em termos de
avaliação de fertilidade. Sob o ponto de vista prático, é o nível da CTC de um solo que seria
atingido, caso a calagem deste solo fosse feita para elevar o pH a 7,0; ou o máximo de cargas
negativas liberadas a pH 7,0 passíveis de serem ocupadas por cátions. A diferença básica entre a
CTC efetiva e a CTC a pH 7,0 é que esta última inclui hidrogênio (H+) que se encontrava em ligação
covalente (muito forte) com o oxigênio nos radicais orgânicos e sesquióxidos de ferro e alumínio,
tão comuns nos solos brasileiros.
Saturação por bases (V %): este parâmetro reflete quantos por cento dos pontos de troca de
cátions potencial do complexo coloidal do solo estão ocupados por bases, ou seja, quantos por
cento das cargas negativas, passíveis de troca a pH 7,0, estão ocupados por Ca, Mg, K e, às vezes,
Na, em comparação com aqueles ocupados por H e Al. É um parâmetro utilizado para separar solos
considerados férteis (V % >50) de solos de menor fertilidade (V % < 50). É indispensável para o
cálculo da calagem pelo método da elevação da saturação por bases, em uso em vários estados.
V % = (100 x S) / T
com os componentes expressos em cmolc/dm3 ou mmolc/dm3.
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Saturação por alumínio (m %): expressa a fração ou quantos por cento da CTC efetiva estão
ocupados pela acidez trocável ou Al trocável. Em termos práticos, reflete a percentagem de cargas
negativas do solo, próximo ao pH natural, que está ocupada por Al trocável. É uma outra forma de
expressar a toxidez de alumínio. Em geral, quanto mais ácido é um solo, maior o teor de Al trocável
em valor absoluto, menores os teores de Ca, Mg e K, menor a soma de bases e maior a
percentagem de saturação por alumínio. O efeito detrimental de altos teores de Al trocável e, ou,
da alta percentagem de saturação por alumínio no desenvolvimento e produção de culturas
sensíveis a este problema é fato amplamente comprovado pela pesquisa.
Ainda na Figura 1, pode-se deduzir que, à medida que se incorpora calcário ao solo,
aumenta-se o nível de Ca e Mg, reduz-se o teor de Al, sendo que a pH 5,6 no solo não deve existir Al
e, conseqüentemente, a percentagem de saturação por Al da CTC efetiva deve ser praticamente
zero ou, em outras palavras, a percentagem de saturação por bases da CTC efetiva deve ser 100 %,
ou a acidez trocável deixa de existir. Para certas culturas, calagem apenas para neutralizar esta
acidez trocável seria mais recomendável.
É importante comentar ainda que grande parte da CTC a pH 7,0 é ocupada por H+, que
precisa ser neutralizado pela ação da calagem, se se deseja liberar cargas negativas que se
encontram não dissociadas. Isto somente irá ocorrer com a elevação do pH acima do valor 5,6,
onde o Al ou acidez trocável já deixa de atuar. Muitas culturas mostram efeitos benéficos da
incorporação de calcário em doses mais elevadas, que irão neutralizar parte deste H +, ou parte
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desta acidez não trocável. Esta é a base do método da recomendação de calcário pelo critério de
elevação de saturação por bases da CTC a pH 7,0, uma vez que elevar a saturação por bases
corresponde a elevar o pH, diminuir a saturação por Al e gerar mais pontos de troca catiônica
dependentes de pH.
A tolerância ou sensibilidade das culturas à acidez ativa, acidez potencial, saturação por
bases, saturação por alumínio e disponibilidade de nutrientes é muito variável. Assim, cada situação
deve ter uma interpretação de acordo com a exigência específica quanto a classe de fertilidade.
Uma das condições para que os resultados da análise de solo e sua interpretação sejam
válidos é que existam correlações entre os valores obtidos por um determinado método de
extração e a resposta de culturas à adubação ou calagem em condições de campo. Por essa razão é
que são desenvolvidos estudos de correlação e calibração de métodos de análise de solo.
Na fase de correlação, por exemplo, são avaliados diferentes extratores, sendo selecionados
os que melhor se aproximam do método padrão, que é a quantidade absorvida e acumulada pelas
plantas de um dado nutriente. Na fase de calibração são, então, definidos os níveis críticos e as
doses dos nutrientes a serem aplicados.
Como os métodos de extração podem variar entre laboratórios de estados diferentes, que,
por sua vez, possuem experimentação agronômica própria, os critérios de interpretação deixam de
ser, assim, únicos.
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As classes de interpretação para os resultados das análises químicas de solos emitidos pelos
laboratórios em Minas Gerais encontram-se nas Tabelas 2, 3, 4, 5 e 6. Embora essas classes sejam
gerais, a utilização delas permite separar glebas com probabilidades diferentes de resposta à
aplicação de nutrientes.
Acidez do solo
Micronutrientes
Embora seja freqüente a deficiência de zinco e, ou, de boro em várias culturas em Minas
Gerais, sendo a de zinco mais comum na cultura do milho, especialmente em solos de cerrado, há
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uma limitação de estudos detalhados no que se refere a trabalhos de calibração para interpretação
de resultados de análise de solo para micronutrientes. Apesar disso, é apresentada uma primeira
aproximação de interpretação, sendo incluídas classes de fertilidade para zinco, manganês, ferro e
cobre, extraídos com o extrator Mehlich-1, e para boro, extraído com água quente (Tabela 5).
Tabela 2. Classes de interpretação de fertilidade do solo para a matéria orgânica e para o complexo
de troca catiônica.
Classificação
Característica Unidade1/
Muito baixo Baixo Médio2/ Bom Muito Bom
Carbono orgânico
dag/kg ≤ 0,40 0,41 - 1,16 1,17 - 2,32 2,33 - 4,06 > 4,06
(CO)2/
Matéria orgânica
dag/kg ≤ 0,70 0,71 - 2,00 2,01 - 4,00 4,01 - 7,00 > 7,00
(MO)3/
Cálcio trocável
cmolc/dm3/ ≤ 0,40 0,41 -1,20 1,21 - 2,40 2,41 - 4,00 > 4,00
(Ca2+)4/
Magnésio trocável
cmolc/dm3/ ≤ 0,15 0,16 - 0,45 0,46 - 0,90 0,91 - 1,50 > 1,50
(Mg2+)4/
Acidez trocável
cmolc/dm3/ ≤ 0,20 0,21 - 0,50 0,51 - 1,00 1,01 - 2,0011/ > 2,00 11/
(Al3+)4/
Soma de bases
cmolc/dm3/ ≤ 0,60 0,61 - 1,80 1,81 - 3,60 3,61 - 6,00 > 6,00
(S)5/
Acidez potencial
cmolc/dm3/ ≤ 1,00 1,01 - 2,50 2,51 - 5,00 5,01 - 9,0011/ > 9,00 11/
(H + Al)6/
CTC efetiva
cmolc/dm3/ ≤ 0,80 0,81 - 2,30 2,31 - 4,60 4,61 - 8,00 > 8,00
(t)7/
CTC pH 7
cmolc/dm3/ ≤ 1,60 1,61 - 4,30 4,31 - 8,60 8,61 - 15,00 > 15,00
(T)8/
3+
Saturação por Al
% ≤ 15,0 15,1 - 30,0 30,1 - 50,0 50,1 - 75,011/ > 75,0 11/
(m)9/
Saturação por bases
% ≤ 20,0 20,1 - 40,0 40,1 - 60,0 60,1 - 80,0 > 80,0
(V)10/
Fonte: ALVAREZ V. et al. (1999).
1/
dag/kg = % (m/m); cmolc /dm3. 2/ O limite superior desta classe indica o nível crítico. 3/ Método Walkley &
Black; MO = 1,724 x CO. 4/ Método KCl 1 mol/L. 5/ S = Ca2+ + Mg2+ + K+ + Na+. 6/ H + Al, Método Ca (OAc) 20,5
mol/L, pH 7. 7/ t = S + Al3+. 8/ T = S + (H + Al). 9/ m = 100 Al3+ /t. 10/ V = 100 S/T. 11/ A interpretação dessas
características nessas classes deve ser alta e muito alta em lugar de bom e muito bom.
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Tabela 3. Classes de interpretação da disponibilidade para o fósforo, de acordo com o teor de argila
do solo ou do valor de fósforo remanescente (P-rem) e para o potássio.
Classificação
Característica
Muito baixo Baixo Médio Bom Muito bom
3/ 1/
---------------------------------(mg/dm ) ------------------------------------------
Argila (%) Fósforo disponível (P)2
60 - 100 ≤ 2,7 2,8 - 5,4 5,5 - 8,03/ 8,1 - 12,0 > 12,0
35 - 60 ≤ 4,0 4,1 - 8,0 8,1 - 12,0 12,1 - 18,0 > 18,0
15 - 35 ≤ 6,6 6,7 - 12,0 12,1 - 20,0 20,1 - 30,0 > 30,0
0 - 15 ≤ 10,0 10,1 - 20,0 20,1 - 30,0 30,1 - 45,0 > 45,0
P-rem4/ (mg/L)
0-4 ≤ 3,0 3,1 - 4,3 4,4 - 6,03/ 6,1 - 9,0 > 9,0
4 - 10 ≤ 4,0 4,1 - 6,0 6,1 - 8,3 8,4 - 12,5 > 12,5
10 - 19 ≤ 6,0 6,1 - 8,3 8,4 - 11,4 11,5 - 17,5 > 17,5
19 - 30 ≤ 8,0 8,1 - 11,4 11,5 - 15,8 15,9 - 24,0 > 24,0
30 - 44 ≤11,0 11,1 - 15,8 15,9 - 21,8 21,9 - 33,0 > 33,0
44 - 60 ≤ 15,0 15,1 - 21,8 21,9 - 30,0 30,1 - 45,0 > 45,0
2/
Potássio disponível (K)
≤ 15 16 - 40 41 - 70 71 - 120 > 120
Fonte: ALVAREZ V. et al. (1999).
1/
mg/dm 3 = ppm (m/v).
2/
Método Mehlich-1.
3/
Nesta classe apresentam-se os níveis críticos de acordo com o teor de argila ou com o valor do fósforo
remanescente . O limite superior desta classe indica o nível crítico. P-rem = Fósforo remanescente.
23
No caso do fósforo disponível obtido pela Resina podem ser consideradas as seguintes faixas de
disponibilidade.
Também, como princípio geral de fertilização com fosfatos, a dose básica (recomendação
para a classe baixa) não somente deve ser diferente de acordo com a cultura, mas de acordo com a
capacidade tampão do solo. Considerando que a dose básica, para certa cultura, corresponde
àquela a ser utilizada em solos argilosos (35 – 60 %); para solos muito argilosos (> 60 %) a
recomendação deve ser 1,25 vezes a dose básica; para solos de textura média (15 – 35 %), 0,8 a
adubação básica e, para solos arenosos (< 15 % de argila), 0,6 vezes a dose básica. Analogamente, e
24
de acordo com a concentração do Prem, os fatores para ajustar as recomendações básicas
indicadas por cultura devem ser:
P-rem
0-4 4 - 10 10 - 19 19 - 30 30 - 44 44 - 60
(mg/L)
Deve-se ter em mente, entretanto, que, para certas condições de solo e de culturas, já
existem, no Estado, trabalhos de correlação e de calibração em experimentos de campo, que
permitem alterações das classes de interpretação gerais propostas. Alterações destes critérios de
interpretação e as recomendações, quando cabíveis e com base em trabalhos de campo, são
apresentadas na parte referente a sugestões de adubações para culturas específicas.
Tabela 6. Interpretação das classes de teores de fósforo no solo indicadas para a cultura do milho.
Classes de teor de fósforo no solo
Classe textural do solo1/ Extrator de fósforo
Baixo Médio Alto
--------------------- ppm ------------------
Argilosa (36 a 60 %) Mehlich-1 <5 6 a 10 > 10
Média (15 a 35 %) Mehlich-1 < 10 11 a 20 > 20
Arenosa (< 15 %) Mehlich-1 < 20 21 a 30 > 30
Resina < 15 16 a 40 > 40
Fonte: COELHO & FRANÇA (1995).
1/
Porcentagem de argila.
25
Apresentação dos resultados das análises de solos
Alfredo Scheid Lopes e
Victor Hugo Alvarez V.
As amostras recebidas nos laboratórios são colocadas para secar ao ar, na sombra, e
passadas em peneira com malha de 2 mm de abertura. Feitas as respectivas análises, os resultados
são expressos com base em volume (dm3) ou em massa (kg) de terra (terra fina seca ao ar – TFSA)
de acordo com a forma de medida da subamostra na análise correspondente, conforme listado a
seguir.
FUNDAMENTAIS:
pH em água.
Carbono orgânico – Método Walkley & Black (CO, em dag/kg = % (m/m)).
Cálcio trocável – Método KCl 1 mol/L (Ca2+, em cmolc/dm3 = meq/100 cm3).
Magnésio trocável – Método KCl 1 mol/L (Mg2+, em cmolc/dm3 = meq/100 cm3).
Acidez trocável – Método KCl 1 mol/L (Al3+, em cmolc/dm3 = meq/100 cm3).
Soma de bases (S = Ca2+ + Mg2+ + K+ + Na+, em cmolc/dm3 = meq/100 cm3).
Acidez potencial – Método Ca(OAc)2 0,5 mol/L, pH 7 (H + Al, em cmolc/dm3 = meq/100 cm3).
Capacidade efetiva de troca de cátions (t = S + Al3+, em cmolc/dm3 = meq/100cm3).
Capacidade de troca de cátions a pH 7 (T = S + (H + Al), em cmolc/dm3 = meq/100 cm3).
Saturação por alumínio (m = 100 Al3+/t, em %).
Saturação por bases (V = 100 S/T, em %).
Fósforo disponível – Método Mehlich-1 (P, em mg/dm3 = ppm (m/v)).
Fósforo remanescente – Método do P em solução de equilíbrio (P-rem, em mg/L).
Potássio disponível – Método Mehlich-1 (K, em mg/dm3 = ppm (m/v)).
FACULTATIVAS:
Enxofre disponível – Método Hoeft et al. (S, em mg/dm3 = ppm (m/v)).
Zinco disponível – Método Mehlich-1 (Zn, em mg/dm3 = ppm (m/v)).
Manganês disponível – Método Mehlich-1 (Mn, em mg/dm3 = ppm (m/v)).
Ferro disponível – Método Mehlich-1 (Fe, em mg/dm3 = ppm (m/v)).
Cobre disponível – Método Mehlich-1 (Cu, em mg/dm3 = ppm (m/v)).
Boro disponível – Método água quente (B, em mg/dm3 = ppm (m/v)).
26
Observações:
A extração de Ca2+, Mg2+ e Al3+ é feita com KCl 1 mol/L na relação 10 cm3 TFSA: 100 mL
extrator, 5 min de agitação e decantação durante o pernoite (16 h).
A extração de S disponível é feita com Ca(H2PO4)2, 500 mg/L de P, em HOAc 2 mol/L (Hoeft
et al., 1973). A 10 cm3 TFSA adicionar 0,5 g de carvão ativado e 25 mL de extrator. Agitar 45 min,
decantar 5 min e filtrar em papel de filtração lenta.
HOEFT, R.G.; WALSH, L.M. & KEENEY, D.R. Evaluation of various extractants for available sulfur. Soil
Sci. Soc. Am. Proc., 37:401-404, 1973.
COMISSÃO DE FERTILIDADE DO SOLO – RS/SC. Recomendações de adubação e calagem para os
Estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Passo Fundo, 3. ed. Passo Fundo, SBCS-
Núcleo Regional Sul 1994. 224p.
LOPES, A.S.; SILVA, M. de C. & GUILHERME, L.R.G. Acidez do solo e calagem. ANDA, São Paulo. 1991.
22p. Boletim Técnico No 1.
RIBEIRO, A.C.; GUIMARÃES, P.T.G. & ALVAREZ V., V.H. Recomendações para o uso de corretivos e
fertilizantes em Minas Gerais - 5ª aproximação. Comissão de Fertilidade do Solo do Estado
de Minas Gerais. Viçosa, MG, 1999. 359p.
FASSBENDER, H.W. Química de suelos – com énfasis en suelos de América Latina. San José, Costa
Rica, Editorial IICA, Série: Libros y Materiales Educativos No 24, 1980. 398p.
KINJO, T. Conceitos de acidez dos solos. In: B. van Raij., (Coord.). Simpósio sobre Acidez e Calagem
no Brasil, Sociedade Brasileira da Ciência do Solo, Campinas, SP, 1982, p. 23-31.
INSTITUTO DA POTASSA E DO FOSFATO. Manual internacional de fertilidade do solo. Tradução e
adaptação de Alfredo Scheid Lopes. 2ª edição revisada e ampliada. Piracicaba, POTAFOS,
1998. 177p.
RAIJ, B. van. Avaliação da fertilidade do solo. Piracicaba, Instituto da Potassa & Fosfato, Instituto
Internacional da Potassa, 1981. 142p.
RAIJ, B. van & QUAGGIO, J. A. Uso eficiente de calcário e gesso na agricultura. In: W. Espinoza e J. A.
Jorge (ed.). Anais do Simpósio sobre Fertilizantes na Agricultura Brasileira, EMBRAPA – DEP,
Documentos 14, Brasília, DF, 1984. p.323-346.
RAIJ, B. Van. ; CANTARELLA, H. ; QUAGGIO, J.A. & FURLANI, A.M.C. (eds.). Recomendações de
adubação e calagem para o Estado de São Paulo. Campinas. Instituto Agronômico &
Fundação IAC, 1996. 285p. Boletim Técnico No 100.
RUSSEL, J. & RUSSEL, E.W. Soil conditions and plant growth. Longmans, Green and Co. London/New
York/Toronto, 1968. 635 p.
SOUSA, D.M.G. de & LOBATO, E. (eds.). Cerrado : correção do solo e adubação. Planaltina, DF :
Embrapa Cerrados, 2002. 416p.
VERDADE, F.C. Representação e conversão dos constituintes do solo, dos adubos e das cinzas das
plantas. Campinas, Instituto Agronômico, 1963. 16 p. Boletim No 71.
WIETHÖLTER, S. Revisão das recomendações de adubação e de calagem para os Estados do Rio
Grande do Sul e Santa Catarina. Apresentado na IV Reunião Sul-Brasileira de Ciência do Solo,
UFRGS, 14-16 de outubro de 2002.
29
MÓDULO IV – CALAGEM E ADUBAÇÃO
CALAGEM
Introdução
A grande maioria dos solos de brasileiros são muito pobres quimicamente, apresentando
elevada acidez, altos teores de Al e Mn trocáveis e deficiência de nutrientes como Ca, Mg e P.
Diante dessas informações, verifica-se que a calagem é essencial para que haja melhorias na
produtividade e na sustentabilidade da produção agrícola.
A necessidade de calagem não está somente relacionada com o pH do solo, mas também
com a sua capacidade tampão e a sua capacidade de troca de cátions. Solos mais argilosos são mais
tamponados e necessitam de mais calcário para aumentar o pH do que os menos argilosos ou
tamponados. A capacidade tampão relaciona-se diretamente com os teores de argila e de matéria
orgânica no solo, bem como com o tipo de argila.
30
Os critérios de recomendação de calagem são variáveis segundo os objetivos e princípios
analíticos envolvidos, e o próprio conceito de necessidade de calagem irá depender do objetivo
dessa prática. Assim, a necessidade de calagem é a quantidade de corretivo necessária para
diminuir a acidez do solo, de uma condição inicial até um nível desejado. Ou é a dose de corretivo
necessária para se atingir a máxima eficiência econômica de definida cultura, o que significa ter
definida quantidade de Ca e de Mg disponíveis no solo e condições adequadas de pH para boa
disponibilidade dos nutrientes em geral.
Por outro lado, a pesquisa tem demonstrado que os maiores benefícios da calagem são
obtidos com aplicação adequada de fertilizantes (N, P, K, S e micronutrientes) e outras práticas
agrícolas.
Em rotação de culturas, pela sensibilidade diferencial à acidez, a calagem deve ser feita,
visando à cultura mais rendosa.
Logo, o primeiro passo que o produtor deve dar é proceder à análise do solo. Esse é o
instrumento valioso e insubstituível para avaliar não somente a necessidade da calagem, mas
também a da adubação mais adequada. Evidenciada a necessidade da calagem, as perguntas mais
freqüentes dos produtores são como e quando aplicar o calcário, quais seriam suas melhores fontes
e qual a quantidade apropriada.
Para estimar a necessidade de calagem (NC), ou seja, a dose de calcário a ser recomendada,
são usados em Minas Gerais dois métodos com base em dois conceitos amplamente aceitos, para
os solos do Estado, por técnicos especialistas em fertilidade do solo: o “Método da neutralização da
31
acidez trocável e da elevação dos teores de Ca e de Mg trocáveis” e o “Método da Saturação por
Bases”.
Cabe lembrar que, quando os teores de Al, de Ca e de Mg trocáveis e a CTC são expressos
em cmolc/dm³, nos métodos indicados, os valores calculados indicam t/ha de calcário, sendo este
equivalente a CaCO3, ou seja, corretivo com PRNT = 100 % e que um hectare representa 2.000.000
dm³ (camada de solo de 20 cm de espessura).
NC = CA + CD
Em que:
CA = correção da acidez até certo valor de m (mt), de acordo com a cultura (Quadro 8.1) e a
capacidade tampão da acidez do solo (Y).
Em que:
OBS.: Sendo o resultado de CA negativo, considerar seu valor igual a zero para continuar os
cálculos.
32
CD = X – (Ca2+ + Mg2+)
Em que:
OBS.: Também sendo o resultado de CD negativo, considerar seu valor igual a zero para
continuar os cálculos.
Y é um valor variável em função da capacidade tampão da acidez do solo (CTH) e que pode
ser definido de acordo com o teor de argila:
Y também pode ser definido de acordo com o valor de fósforo remanescente (P-rem), que é
o teor de P da solução de equilíbrio após agitar durante 1 h a TFSA com solução de CaCl2 10
mmol/L, contendo 60 mg/L de P, na relação 1:10.
P-rem (mg/L) Y
0a4 4,0 a 3,5
4 a 10 3,5 a 2,9
10 a 19 2,9 a 2,0
19 a 30 2,0 a 1,2
30 a 44 1,2 a 0,5
44 a 60 0,5 a 0,0
O uso da determinação do P-rem como estimador da CTH, em lugar do teor de argila, além
das vantagens práticas e operativas que apresenta, deve-se ao fato de a CTH e o valor de P-rem
dependerem não somente do teor de argila, mas também da sua mineralogia e do teor de matéria
orgânica do solo.
33
Tabela 1. Valores máximos de saturação por Al 3+ tolerados pelas culturas (mt) e valores de X para o método
do Al e do Ca + Mg trocáveis adequados para diversas culturas e, valores de saturação por bases (Ve) que se
procura atingir pela calagem.
Culturas mt X Ve Observações (sempre que possível)
3 %
% cmolc/dm
Cereais
Não utilizar mais de 3 t/ha de calcário por
Arroz sequeiro 25 2,0 50
aplicação.
Não utilizar mais de 4 t/ha de calcário por
Arroz irrigado 25 2,0 50
aplicação.
Não utilizar mais de 4 t/ha de calcário por
Milho e sorgo 15 2,0 50
aplicação.
Não utilizar mais de 4 t/ha de calcário por
Trigo (sequeiro ou irrigado) 15 2,0 50
aplicação.
Leguminosas
Feijão, soja e adubos verdes 20 2,0 50
Outras leguminosas 20 2,0 50
Oleaginosas
Amendoim 5 3,0 70
Mamona 10 2,5 60
Plantas Fibrosas
Algodão 10 2,5 60 Utilizar calcário contendo magnésio
Crotalárea-juncea 5 3,0 70
Fórmio 15 2,0 50
Rami 5 3,5 70
Sisal 5 3,0 70 Exigente em magnésio
Plantas Industriais
Café 25 3,5 60
Não utilizar mais de 10 t/ha de calcário por
Cana-de-açúcar 30 3,5 60
aplicação
Chá 25 1,5 40
Raízes e Tubérculos
Batata e batata-doce 15 2,0 60 Exigentes em magnésio
Não utilizar mais de 2 t/ha de calcário por
Mandioca 30 1,0 40
aplicação
Cará e inhame 10 2,5 60 Exigentes em magnésio
Plantas Tropicais
Cacau 15 2,0 50
Não utilizar mais de 2 t/ha de calcário por
Seringueira 15 1,0 50
aplicação. Usar calcário dolomítico.
Pimenta-do-reino 5 3,0 70
Hortaliças
Chuchu e melão 5 3,5 80 Exigentes em magnésio
Abóbora, moranga, pepino,
melancia, alface, almeirão 5 3,0 70 Exigentes em magnésio
e acelga
Chicória e escarola 5 3,0 70
Milho verde 10 2,5 60
Tomate, pimentão, pimenta,
5 3,0 70 Para tomate utilizar relação Ca/Mg = 1.
beringela e jiló
Beterraba, cenoura, mandioquinha,
5 3,0 65 Exigentes em magnésio.
nabo e rabanete
Repolho, couve-flor, brócolos
5 3,0 70 Exigentes em magnésio.
e couve
Alho e cebola 5 3,0 70
Quiabo, ervilha, feijão
5 3,0 70 Exigentes em magnésio.
de vagem e morango
34
Culturas mt X Ve Observações (sempre que possível)
Fruteiras de Clima Tropical
Abacaxizeiro 15 2,0 50
Banana 10 3,0 70 Utilizar calcário dolomítico.
Citros 5 3,0 70
Mamoeiro 5 3,5 80
Abacateiro e mangueira 10 2,5 60
Maracujazeiro e goiabeira 5 3,0 70
Fruteiras de Clima Temperado
Ameixa, nêspera, pêssego,
nectarina, figo, maçã, marmelo, 5 3,0 70
pêra, caqui, macadâmia e pecã
Videira 5 3,5 80
Plantas Aromáticas
e, ou, Medicinais
3
Fumo 15 2,0 50 Teor de magnésio mínimo de 0,5 cmolc/dm .
Gramíneas aromáticas (capim-limão,
25 1,5 40
citronela e palmarosa)
Menta 10 2,5 60
Piretro 10 2,5 60
Vetiver 10 2,5 60
Camomila 5 3,0 70
Eucalipto 30 1,5 40
Funcho 15 2,0 50
Plantas Ornamentais
Herbáceas 10 2,5 60
Arbustivas 10 2,0 60
Arbóreas 10 2,0 50
Não utilizar mais de 2 t/ha de calcário por
Azálea 10 2,0 50
aplicação.
Cravo 5 3,0 70
Gladíolos 5 3,0 70
Roseira 5 3,0 70
Crisântemo 5 3,0 70
Gramados 5 3,0 70
Plantios de Eucalipto 45 1,0 30
Pastagens
Leguminosas:
Para o estabelecimento de pastagens, prever o
Leucena (Leucaena leucocephala);
cálculo da calagem para incorporação na
Soja-perene (Neonotonia wightii);
camada de 0 a 20 cm. Para pastagens já
Alfafa (Medicago sativa) e Siratro 15 2,5 60
formadas, o cálculo de QC1/ deverá ser feito,
(Macroptilium atropurpureum)
prevendo-se a incorporação natural na camada
de 0 a 5 cm.
Kudzú (Pueraria phaseoloides);
Calopogônio (Calopogonio
mucunoides); Estilosantes
(Stylosanthes guianensis); Guandu
25 1,0 40
(Cajanus cajan); Centrosema
(Centrosema pubescens); Arachis
ou Amendoin forrageiro (Arachis
pintoi) e, Galáxia (Galactia striata)
35
Culturas mt X Ve Observações (sempre que possível)
Gramíneas:
Neste método, considera-se a relação existente entre o pH e a saturação por bases (V).
Quando se quer, com a calagem, atingir definido valor de saturação por bases, pretende-se corrigir
a acidez do solo até definido pH, considerado adequado a certa cultura.
NC = T(Ve – Va)/100
Em que:
Ve = Saturação por bases desejada ou esperada (Tabela 1), para a cultura a ser implantada e
para a qual é necessária a calagem.
36
Forma mais simples para calcular a NC por este critério é:
NC = (Ve /100) T – SB
Em que:
NC = 0,6 T – SB
Cálculo pelo método da neutralização do Al3+ e da elevação dos teores de Ca2+ + Mg2+,
considerando o teor de argila e os valores da Tabela 1.
Cálculo pelo método da neutralização do Al3+ e da elevação dos teores de Ca2+ + Mg2+,
considerando Y de acordo com o valor de P-rem e os valores do Quadro 8.1.
NC = 2,96 [0,8 – (25 x 1,01/100)] + 3,5 – 0,2 = 1,62 + 3,3 = 4,92 t/ha
37
cm de profundidade. Portanto, indica a dose de calcário teórica. Na realidade, a determinação da
quantidade de calcário a ser usada por hectare deve levar em consideração:
Por exemplo, a quantidade de calcário (PRNT = 90 %) a ser adicionada numa lavoura de café
de cinco anos, se a NC é de 6 t/ha, a área a ser corrigida (faixas das plantas) é de 75 % e,
considerando a profundidade de incorporação (pela esparramação) de 5 cm, será:
A capacidade de neutralizar a acidez que apresenta um calcário também pode ser estimada,
aproximadamente, determinando-se seus teores de Ca e de Mg, teores que se expressam em
dag/kg de CaO e de MgO. A conversão desses óxidos em “CaCO 3 equivalente” é denominado Valor
Neutralizante (VN) e é expresso em %.
38
Como parte desses cátions pode estar combinada com ânions de reação neutra, o VN pode
superestimar o PN do calcário. VN e PN são duas determinações diferentes. Ambas são usadas para
expressar a alcalinidade do calcário, isto é, sua capacidade de neutralizar a acidez do solo.
Como 1 kg de CaCO3 neutraliza 20 molc H+ (20 eq), porque apresenta 20 molc, considera-se
para toda substância alcalina que se 1 kg de material contém 20 molc, esta tem VN = 100 %.
Apresentando menos de 20 molc/kg terá VN < 100 % e, evidentemente, mais de 20 mol c/kg terá VN
> 100 %.
O PN igual a 120 % de um calcário indica que 100 kg deste corretivo tem a mesma
capacidade neutralizante do que 120 kg de CaCO3.
39
Tabela 2. Número de molc em 1 kg de diferentes materiais neutralizantes da acidez e seus
correspondentes valores neutralizantes.
Material neutralizante Fórmula N° molc/kg VN (%)
A reatividade (RE) é igual à média ponderada da eficiência relativa das classes de partículas
(Tabela 3), considerando a granulometria da amostra analisada.
40
Assim:
Assim, pela legislação, ficou estabelecido que um calcário deve-se apresentar para
comercialização os valores mínimos de 67 % para PN, e de 45 %, para PRNT.
41
Pelos teores de Mg, os calcários podem ser classificados em:
Por ser material de baixa solubilidade, de reação lenta, o calcário deve ser aplicado dois a
três meses antes do plantio, para que as reações esperadas se processem. O calcário é
uniformemente distribuído sobre a superfície do solo, manualmente ou por meio de máquinas
próprias, e é, então, incorporado com arado e grade até à profundidade de 15, ou de 20, ou mais
cm (camada arável).
Sem umidade no solo, não há como o calcário reagir. Nesse caso é preferível realizar a
calagem e o plantio numa seqüência única de operações.
A análise do solo três ou quatro anos depois da calagem pode indicar sobre a necessidade
ou não de nova aplicação.
42
Com intuito de diminuir o custo da calagem (principalmente quantidade e modo de
aplicação), alguns agricultores têm usado, no sulco de plantio, doses menores de um calcário de
alto PRNT, prática denominada “Filler”. Para fornecer os nutrientes Ca e Mg em solos deficitários
nestes nutrientes, ainda se poderia usar o “Filler”. Entretanto, como corretivo de acidez, algumas
pesquisas têm demonstrado a ineficiência deste modo de aplicação, corre-se o risco de a planta
desenvolver seu sistema radicular naquele pequeno volume de solo corrigido, favorecendo o
tombamento e aumentando o prejuízo da seca devido ao “confinamento” do sistema radicular.
Para certos tipos de solos (menos oxídicos) e para atividades agropecuárias específicas
(covas para plantio de árvores perenes, pastagens tolerantes à acidez do solo), é importante
prolongar o efeito residual da calagem. Para isto, o uso de calcários mais grossos pode ser
recomendável.
Supercalagem
A quantidade de calcário por aplicar deve ser definida pela análise de solo, para evitar uma
aplicação de quantidade superior à necessária. A calagem em excesso é tão prejudicial quanto à
acidez elevada, com o agravante de que a calagem excessiva é de muito mais difícil correção. Com a
supercalagem há a precipitação de diversos nutrientes do solo, como o P, Zn, Fe, Cu, Mn, além de
induzir maior predisposição a danos nas propriedades físicas dos solos.
43
MÉTODO SIMPLES DE INTERPRETAR ANÁLISES DE SOLO E RECOMENDAR CALCÁRIOS E
FERTILIZANTES PARA CULTURAS ANUAIS, OLERÍCOLAS E PERENES
Hoje, a grande maioria dos estados brasileiros adota suas próprias tabelas de interpretação
da análise de solo e recomendação de fertilizantes.
A consulta às tabelas leva às mesmas recomendações, quando duas pessoas estão de posse
da análise de solo. Isso significa que houve uma evolução agronômica com o advento das tabelas.
Entretanto, quando não estamos de posse dessas tabelas, de imediato, ficamos incapazes
de interpretar os resultados de uma análise de solo e recomendar fertilizantes para as culturas.
Outro problema que se imagina existir é quanto a fidelidade dos números que constituem
essas tabelas, ou seja, se eles se repetem entre tabelas de diferentes estados e se são
aproximações grosseiras do valor real.
A fim de contornar esses problemas, NOVAIS (1999) elaborou, com base nas tabelas
clássicas, um método simples de interpretar análises de solo e recomendar calcários e fertilizantes
para culturas anuais, olerícolas e perenes, de fácil memorização, que pode ser impresso, como um
pequeno cartão, e ser plastificado e levado no bolso.
Essa pequena tabela permite, de forma prática e com razoável acerto a recomendação de
fertilizantes NPK para culturas anuais, hortícolas e perenes, tendo-se apenas a análise de solo em
mãos, conferindo autonomia ao usuário, mesmo não estando de posse das tabelas clássicas.
Segundo TOMÉ JUNIOR & NOVAIS (2000), a lógica envolvida num possível modelo de
recomendação de adubação é conceitualmente simples: as doses de nutrientes dos fertilizantes
seriam a diferença entre as quantidades necessárias para as plantas e o que é fornecido
naturalmente pelo solo, podendo ser considerado que níveis mínimos de nutrientes no solo devem
44
permanecer nele, evitando o esgotamento de sua capacidade de sustentação de futuros cultivos
(sustentabilidade da prática agrícola), além da necessária correção de acordo como o
aproveitamento dos nutrientes aplicados.
FÓSFORO
Teor de argila (%) POTÁSSIO
> 30 15 - 35 < 15 Disponível
Resina (Trocável)
P-rem (mg/L)
< 15 35 - 15 > 35
Faixa de
Mehlich-1 (mg/dm3)
disponibilidade
Baixo 0-5 0 - 10 0 – 20 0 – 20 0 - 30
Médio 6 – 10 11 – 20 21 – 40 21 – 40 31 – 60
Alto > 10 > 20 > 40 > 40 > 60
Recomendação de calcário
Recomendação de NPK aplicado na linha de plantio (N parcelado), para culturas anuais e para
hortícolas.
Culturas anuais Hortícolas
P e K disponíveis (2,3,4) (2) (2) (2,3,4)
N P2O5 ou K2O N P2O5(2) ou K2O(2)
----------------------------------------- kg/ha -----------------------------------------
Baixo 40 – 60 80 – 100 120 – 180 240 – 300
Médio 40 – 60 55 – 70 120 – 180 165 – 210
Alto 40 – 60 30 – 40 120 – 180 90 - 120
(1)
As doses recomendadas para as hortícolas são três vezes maiores do que para as culturas anuais.
(2)
Recomende doses maiores quando produtividades maiores são esperadas. (3)Para solos com muito alto P-
disponível, a dose de N pode ser aumentada em até três vezes; para culturas com efetiva fixação de N2,
fertilização nitrogenada não é recomendada. (4)Parte do fertilizante nitrogenado mineral pode ser suprida
em formas orgânicas (estercos).
45
Recomendação de adubação NPK para aplicação em cova (ou em solo/substrato para produção
de mudas), para plantas perenes.
Implantação
Manutenção (cobertura)
Observações:
Ureia – 45 % de N
Sulfato de Amônio – 20 % de N
superfosfato simples – 20 % de P2O5
superfosfato triplo – 45 % de P2O5
KCl – 60 % de K2O
46
USO DE GESSO AGRÍCOLA
Victor Hugo Alvarez V.1
Luiz Eduardo Dias2
Antonio Carlos Ribeiro3
Ronessa Bartolomeu de Souza4
Introdução
O gesso é um importante insumo para a agricultura, mas, por suas características, tem seu
emprego limitado a situações particulares bem definidas, uma vez que o uso indiscriminado e sem
critérios pode acarretar problemas em vez de benefícios para o agricultor.
De uns anos para cá, algumas indústrias de fertilizantes vêm estimulando o uso de gesso
agrícola. Apesar de vários estudos mostrarem o potencial da utilização do gesso na agricultura,
existem muitas dúvidas no que se refere a como, quando e quanto utilizar deste insumo.
O gesso agrícola é basicamente o sulfato de cálcio diidratado (CaSO 4.2H2O), obtido como
subproduto industrial. Para a produção de ácido fosfórico, as indústrias de fertilizantes utilizam,
como matéria-prima, a rocha fosfática (apatita, especialmente a fluorapatita) que ao ser atacada
por ácido sulfúrico mais água, produz, como subprodutos da reação, o sulfato de cálcio e o ácido
fluorídrico, conforme a reação abaixo:
O gesso agrícola é um sal pouco solúvel em soluções aquosas (2,5 g/L), mas que pode atuar
sobre a força iônica da solução do solo, de maneira que haja contínua liberação do sal para a
solução por longos períodos de tempo.
Essa característica, aliada aos teores de Ca (17 a 20 dag/kg), de S (14 a 17 dag/kg), de P 2O5
(0,6 a 0,75 dag/kg), de F (0,6 a 0,7 dag/kg), de Mg (0,12 dag/kg), à presença de micronutrientes (B,
1
Prof. Titular, Departamento de Solos – UFV. Bolsista CNPq. vhav@mail.ufv.br
2
Prof. Adjunto, Departamento de Solos – UFV. led@mail.ufv.br
3
Professor Titular Aposentado, Departamento de Solos – UFV. Bolsista FAPEMIG/EPAMIG. aribeiro@mail.ufv.br
4
Bolsista Recém-Doutor, FAPEMIG/EPAMIG. rbs@solos.ufv.br
47
Cu, Fe, Mn, Zn, Mo, Ni) e de outros elementos (Co, Na, Al, As, Ti, Sb, Cd), permite que o gesso
agrícola possa ser utilizado na agricultura:
a) Como fonte de Ca e de S
b) Na correção de camadas subsuperficiais com altos teores de Al3+ e, ou, baixos teores de
Ca2+, com o objetivo de melhorar o ambiente radicular das plantas.
A recomendação do uso de gesso agrícola com esta última finalidade pode implicar a
utilização de doses elevadas, devendo ser feita com base no conhecimento das características
físicas e químicas dos solos, não apenas da camada arável, mas também das camadas
subsuperficiais.
Para decidir sobre a recomendação de aplicação de gesso agrícola, deve-se observar que as
camadas subsuperficiais do solo (20 a 40 cm ou 30 a 60 cm) apresentem as seguintes
características: ≤ 0,4 cmolc/dm3 de Ca2+ e, ou, > 0,5 cmolc/dm3 de Al3+ e, ou, > 30 % de saturação
por Al3+
Com relação ao uso de gesso como fonte de Ca para as culturas, devem-se levar em
consideração alguns aspectos importantes: existem diferenças entre as culturas quanto à demanda
de Ca, plantas como café e tomate são muito responsivas ao elemento, ao passo que espécies
florestais como o eucalipto apresentam baixas exigências de Ca. Também as características do solo
que podem permitir maior movimentação de Ca em profundidade no perfil do solo devem ser
consideradas igualmente, uma vez que excesso de movimentação pode arrastar o elemento para
camadas além daquelas onde se encontra o maior volume de raízes; a descida de Ca em
48
profundidade modifica o perfil de distribuição das raízes das plantas, aumentando o volume de solo
a ser explorado em nutrientes e especialmente em água.
Uma vez na solução do solo, o íon Ca2+ pode reagir no complexo de troca do solo,
deslocando cátions como Al3+, K+, Mg2+, (H+) para a solução do solo, que podem, por sua vez, reagir
com o SO42- formando AlSO4+ (que é menos tóxico às plantas) e os pares iônicos neutros: K 2SO4o,
CaSO4o, MgSO4o. Em função da sua neutralidade, os pares iônicos apresentam grande mobilidade
ao longo do perfil, ocasionando uma descida de cátions para as camadas mais profundas do solo.
Entretanto, sais muito solúveis, como os nitratos de sódio, de potássio, cujos íons têm pouca ou
nenhuma interação com a fase sólida do solo, têm alta mobilidade no perfil, sendo arrastados pela
água. Assim, a solubilidade dos sais na solução do solo, considerada a interação de seus íons com a
fase sólida, é que define a mobilidade destes. Por sua vez, os fosfatos são pouco móveis, em razão
da adsorção aniônica.
De maneira geral, pode-se dizer que diferentes fatores condicionam maior ou menor
movimentação dos cátions pelo perfil do solo que recebeu gesso. Entre eles destacam-se:
49
1) Quantidade de gesso aplicado ao solo;
4) Textura do solo e,
Desta forma, para um solo de textura arenosa, com baixa CTC e pequena capacidade de
adsorver sulfato, a movimentação de bases seria, potencialmente, maior que aquela para um solo
de textura argilosa com alta capacidade de adsorção de sulfato e elevada CTC. Portanto, nestes
solos onde o potencial de movimentação de bases é elevado, o cuidado com a quantidade de gesso
aplicada ao solo deve ser maior, a fim de evitar o risco de uma movimentação além das camadas
exploradas pelo sistema radicular da planta cultivada.
No entanto, um aspecto importante que não se pode refutar refere-se ao aumento de Ca2+
no complexo de troca, promovendo a redução da saturação por Al3+ (m), que, para vários autores,
tem papel mais importante no controle da toxidez do Al para as plantas do que o teor de Al 3+ ou a
sua concentração em solução.
50
Apesar de boa parte dos mecanismos que envolvem a dinâmica do gesso no solo ser
conhecida, existem, ainda, dúvidas quanto aos critérios a serem utilizados para sua recomendação
e para se chegar à quantidade do produto a ser recomendada.
Com relação aos critérios de quando e quanto recomendar sua aplicação, visando à correção
de camadas subsuperficiais ou melhoria do ambiente radicular das plantas, vale relembrar que o
gesso deve ser utilizado quando a camada subsuperficial (20 a 40 cm ou 30 a 60 cm) apresentar
teor inferior ou igual a 0,4 cmolc/dm3 de Ca2+ e, ou, mais que 0,5 cmolc/dm3 de Al3+ e, ou, mais que
30 % de saturação por Al3+(m). Para calcular a quantidade a ser aplicada do produto, atualmente
existem algumas fórmulas baseadas nas características químicas e físicas do solo.
O gesso agrícola deve ser recomendado para correção de camadas subsuperficiais. Assim, as
quantidades recomendadas, indicadas a seguir, destinam-se a camadas de 20 cm de espessura
(exemplos: 20 a 40 cm, ou 30 a 50 cm). A camada a considerar não deve ultrapassar a profundidade
até onde se prevê que, predominantemente, o sistema radicular ativo na absorção de nutrientes
deverá se desenvolver. As quantidades recomendadas podem ser adicionadas junto com a calagem,
ou após a calagem.
51
Exemplo: Deseja-se a melhoria do ambiente radicular de uma camada de 20 a 50 cm de
profundidade, com 45 % de argila.
NG = 0,8 + [(45 – 35) (1,2 – 0,8)]/(60 – 35) = 0,8 + 0,16 = 0,96 t/ha
QG= NG (EC/20)
Se a camada subsuperficial (EC) a ser enriquecida com S e com Ca situa-se sob a copa do
cafeeiro, cuja superfície coberta (SC) pelas plantas é de aproximadamente 75 % do terreno
(calagem e gessagem a ser feita embaixo das copas das plantas de café), a quantidade de gesso
(QG) a ser usada neste caso será:
QG = NG (EC/100) (EC/20)
52
Tabela.2. Necessidade de gesso (NG) de acordo com o valor de fósforo remanescente (P-rem)
de uma camada subsuperficial de 20 cm de espessura.
P-rem Ca1/ Gesso2/
30 a 44 85 a 40 0,453 a 0,213
44 a 60 40 a 0 0,213 a 0,000
1/
Valores de NG adaptados e aproximados dos de Souza et al., dados não publicados, citados por
Souza et al. (1992), para que o Ca2+ retido em camada de 20 cm de espessura esteja em equilíbrio com
a concentração de 0,394 mmol/L de Ca na solução do solo. 2/ Gesso agrícola (15 dag/kg de S e 18,75
dag/kg de Ca).
NG = Ca/(10TCa)
NG = 1,013 [(15 - 10) (1,013 - 0,720)]/(19 - 10) = 1,013 - 0,163 = 0,850 t/ha
A quantidade de gesso (QG) para cobrir 75 % da superfície do terreno (SC) e para uma
camada de 35 cm de espessura (EC) será:
53
Recomendação com base na determinação da NC pelo método do Al 3+, e do Ca2+ + Mg2+ ou pelo
método de saturação por bases
NG = 0,25 NC
Assim, na camada arável, seriam incorporadas 6,25 t/ha de calcário PRNT = 80 % mais 2,275
t/ha de gesso agrícola.
54
Enfim, sempre que possível, o gesso deve ser aplicado juntamente com calcário magnesiano
ou dolomítico. Amostragens periódicas das camadas subsuperficiais devem ser realizadas com a
finalidade de acompanhar a movimentação de bases pelo perfil. Esta movimentação pode provocar
drástica remoção de bases do volume de solo explorado pelo sistema radicular das plantas.
Para solos onde existe bom manejo de resíduos orgânicos e sem a presença de camadas
subsuperficiais com elevado teor de Al3+ e, ou, baixo teor de Ca2+, o potencial de resposta ao gesso
será muito pequeno. Situação semelhante poderia ser considerada para plantas de ciclo curto com
sistema radicular pouco profundo, como muitas hortaliças. Por outro lado, para culturas perenes já
implantadas, como por exemplo, café e citrus, ou para pastagens, quando cultivadas em solos
declivosos e ácidos, a mistura gesso mais calcário pode ser utilizada com o objetivo de carrear
cátions para camadas mais profundas, uma vez que a incorporação de calcário nestes sistemas é
problemática.
55
Referências bibliográficas
56
MÓDULO V - MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO
A erosão dos solos é um processo geológico, porém o seu agravamento em solos agrícolas
se deve à quebra do equilíbrio natural entre o solo e o ambiente, geralmente promovida e
acelerada pelo homem. A erosão, principalmente a antrópica, vem preocupando os agrônomos,
técnicos e órgãos governamentais e não governamentais, sendo uma das maiores ameaças à
agricultura e ao meio ambiente, devido à utilização inadequada e intensiva desse recurso natural
não renovável.
57
Para que esses princípios básicos possam ser seguidos, uma série de técnicas agrícolas deve
ser utilizada por todos que lidam com as atividades rurais a fim de se alcançar o perfeito controle
da erosão.
Erosão significa desgaste e é ela a responsável pela formação dos solos, sendo chamada de
erosão geológica ou natural (CURI et al., 1993). No aspecto físico, a erosão é a realização de uma
quantidade de trabalho no desprendimento do material de solo e no seu transporte (BAHIA et al.,
1992). Porém, o problema ocorre quando o processo é acelerado pela ação antrópica e atinge
níveis danosos ao meio ambiente. Com o incremento das atividades agropecuárias, houve o
aumento de pressão pelo uso do solo, que tem sido feito de forma inadequada, gerando o que se
pode chamar de erosão agrícola dos solos, que é o processo de desagregação e arrastamento das
partículas de solo produzido pela ação da água das chuvas ou do vento. Com a erosão dos solos,
além do empobrecimento pela perda de nutrientes e matéria orgânica e do próprio solo, ocorre,
também, a contaminação dos recursos hídricos.
A qualidade do solo, que é definida por valores relativos à sua capacidade de cumprir uma
função específica, é afetada diretamente pelos processos erosivos e pode ser determinada para
diferentes escalas: campo, propriedade agrícola, ecossistema e região.
58
Vale ressaltar que, em ambientes tropicais e subtropicais, a principal causa da degradação
do solo é a erosão hídrica e as atividades que contribuem para o aumento das perdas do solo. De
acordo com estudos do ISRIC/UNEP, em parceria com a Embrapa Solos, 15% das terras do planeta
já foram severamente degradados por atividades humanas. Dentre as formas mais comuns de
degradação, destacam-se a perda da camada superficial (70%), a deformação do terreno (13%), a
perda de nutrientes (6,9%) e a salinização (3,9) (HERNANI et al., 2002).
Água: A erosão hidrica é provocada pela ação da água. Ela faz parte do ecossistema e está
relacionada com o escoamento superficial, que é uma das fases do ciclo hidrológico,
correspondente ao conjunto de águas que, sob a ação da gravidade, movimenta-se na superfície do
solo no sentido da sua pendente. A forma e a intensidade da erosão hídrica, embora estejam
relacionadas com atributos intrínsecos do solo, são mais influenciadas pelas características das
chuvas, da topografia, da cobertura vegetal e do manejo da terra, ocorrendo a interação de todos
esses fatores.
Segundo Bahia et al. (1992), a erosão hídrica é um processo complexo que ocorre em
quatro fases: impacto das gotas de chuva; desagregação de partículas do solo; transporte e
deposição.
Impacto: as gostas de chuva que golpeiam o solo contribuem para a erosão, pois
desprendem as partículas do solo no local do impacto; transportam, por salpicamento, as
partículas desprendidas e imprimem energia em forma de turbulência à água da superfície.
59
Desagregação: a precipitação que atinge a superfície do solo, inicialmente provoca o
umedecimento dos agregados, reduzindo suas forças coesivas. Com a continuidade da chuva e o
impacto das gotas, os agregados são desintegrados em partículas menores e ocorre o processo de
salpicamento. A quantidade de agregados desintegrados em partículas menores e salpicados
cresce com o aumento da energia cinética da precipitação, que é função da intensidade, da
velocidade e do tamanho das gotas da chuva.
Erosão por salpicamento: deve-se ao impacto das gotas de chuva sobre os agregados
instáveis num solo desnudo. Produzem-se pequenos buracos devido ao impacto da gota da chuva
com a liberação de partículas de solo. O processo de salpicamento pode ocasionar o
selamento/encrostamento da superfície do solo, reduzindo ou eliminando a infiltração da água. As
partículas de deslocam, no máximo, 150 cm, sendo mais afetados os solos constituídos de areias
finas. Não há muita perda de material, pois as partículas não atingem grandes distâncias e,
também, porque o processo ocorre em todas as direções. Quando o processo ocorre numa
pendente, produz-se movimento lento e repetitivo, com trajetória no formato de serra (PORTA et
al., 1999).
60
Erosão laminar: consiste na perda de camada superficial de forma uniforme do solo em
terreno com certa declividade. Afeta as partículas liberadas por salpicamento. É um processo pouco
aparente, só se identificando pela faixa do solo em que, depois de uma chuva, os elementos
grossos na superfície aparecem limpos. Esse tipo de erosão pode ser facilmente eliminado com a
utilização de equipamentos agrícolas adequados. Caracteriza-se pela remoção de camadas
delgadas do solo em toda a área. Nesse caso, não há concentração da água.
Erosão por sulcos, ravinas e voçorocas: caracteriza-se pela formação de canais (sulcos) de
diferentes profundidades e comprimentos na superfície do solo. Ocorre a concentração das águas
das chuvas nesses canais, aumentando, assim, o poder erosivo devido ao ganho de energia
cinética pelo volume e velocidade da enxurrada.
Sucessivamente, a erosão passa de laminar para sulcos, ravinas e, logo em seguida, para o
estágio chamado de voçorocas. As suas dimensões e a extensão dos danos que podem causar
estão intimamente relacionadas com o clima, com a topografia do terreno, sua geologia, tipo de
solo e forma de manejo (ALVES, 1978).
As voçorocas são classificadas pela sua profundidade e pela área de contribuição de sua
bacia. Ireland (1934), citado por Bertoni e Lombardi (1985), afirma que as voçorocas são profundas
quando têm mais de cinco metros de profundidade; médias, quando têm de um a cinco metros de
profundidade e pequenas, quando têm menos de um metro de profundidade. Pela área de
contribuição da bacia, as voçorocas são consideradas pequenas quando a área de drenagem é
menor do que dois hectares; médias, quando têm de dois a vinte hectares e grandes, quando têm
mais de vinte hectares.
61
Vento: A erosão também pode ser provocada pela ação dos ventos. No Brasil, não é a forma
mais grave de degradação. Porém, em algumas regiões específicas do país, ocorre processo
acelerado de desertificação, principalmente nas regiões Nordeste e Sul.
A erosão eólica é provocada pela ação do vento e será mais intensa quanto maior a sua
velocidade e a área livre de vegetação ou obstáculos naturais. A erosão eólica está mais relacionada
às grandes planícies sem cobertura vegetal. Nessas regiões, a energia cinética do vento desloca as
partículas do solo. Dependendo da força e da velocidade do vento, são removidas as partículas mais
finas (argila e silte) e, posteriormente, as partículas mais grosseiras (areia). A distância de deposição
está diretamente relacionada à intensidade e à duração do processo.
Os dois fatores que concorrem diretamente para a erosão do solo são a declividade do
terreno e o volume e intensidade da precipitação. Os diversos métodos de conservação do solo
visam reduzir/evitar a ação da água da chuva sobre o terreno.
g) Nivelamento composto.
As curvas de nível podem ser locadas em campo por meio de instrumental rudimentar ou
com aparelhos de precisão. Os processos mais utilizados são: locação com esquadros; locação com
nível de mangueira; locação com nível de precisão; e locação com teodolito.
62
Terraceamento
O terraceamento é indicado para terrenos com declividade entre 6 e 12 %, porém pode ser
usado, com sucesso, em declives maiores, como também pode ser necessária a sua indicação em
encostas menos íngrimes, dependendo da intensidade das chuvas e da suscetibilidade do solo à
erosão (Figuras 1 e 2).
É importante ressaltar que essa prática deve, obrigatoriamente, estar associada a outras
práticas conservacionistas, como plantio em curva de nível, plantio em faixas de retenção, rotação
de culturas, cordões vegetados, alternância de capinas, manutenção da cobertura morta etc.
Maioria dos terraços construídos em nível sem considerar o tipo de solo. Dessa forma, nos
solos menos permeáveis, principalmente aqueles com horizonte B textural ou que sejam rasos
(profundidade menor do que 50 cm), ocorrem fracassos, pois o fundo do canal do terraço pode vir
a se localizar no horizonte B, que se caracteriza por ter baixa taxa de infiltração, ou no próprio
substrato rochoso. Como consequência, a água acumula-se no canal até transbordar, quando
rompe o camalhão do terraço que é construído predominantemente com material mais arenoso do
horizonte A.
64
Nos solos com horizonte B latossólico, principalmente o Latossolo Vermelho-escuro, o uso
intensivo e inadequado de máquinas e implementos pesados tem ocasionado a formação de
camada compactada e pouco permeável, à profundidade de 10 a 20 cm. Essa camada diminui a
infiltração da água da chuva, aumenta o volume da enxurrada e contribui para o rompimento dos
terraces devido ao transbordamento de água sobre os camalhões.
Sistemas de cultivo
O sistema de cultivo tem grande importância nas perdas de solo, pois interfere diretamente
na cobertura vegetal e nas características físicas e biológicas do solo.
O preparo do solo é uma prática agrícola que tem como objetivo oferecer condições ideais
para a semeadura, germinação, emergência das plântulas, desenvolvimento e produtividade das
culturas.
65
Preparo secundário: são todas as operações subsequentes ao preparo primário, como o
nivelamento do terreno, destorroamento, incorporação de herbicidas e fertilizantes, e eliminação
de ervas daninhas no início de seu desenvolvimento, produzindo ambiente favorável ao
desenvolvimento inicial da cultura implantada. Exemplo: gradagem, operação com enxada rotativa
etc.
Cultivo do solo após o plantio: utilização de práticas após a cultura ser implantada visando,
basicamente, eliminar as ervas daninhas, fazer amontoa etc. Exemplo: capina mecânica etc.
O efeito do preparo do solo sobre suas propriedades químicas, físicas e biológicas não
depende apenas do implemento empregado, mas, também, da forma e intensidade de seu uso. Em
muitas ocasiões, o efeito benéfico de determinado implemento pode ser anulado pelo uso
inadequado. Sob o ponto de vista da conservação, o melhor preparo é aquele que envolve menor
número de operações e deixa o máximo de resíduos culturais na superfície, de forma a proteger os
agregados do solo do impacto direto das gotas de chuva. Deve-se considerar, no entanto, que
nenhum implemento de preparo promove melhorias na estrutura do solo. Isso só é conseguido
através de atividade biológica (macro e micro-organismos e sistema radicular).
Baseado no tipo de implemento e na intensidade de seu uso, podem ser identificados três
tipos básicos de preparo do solo:
Plantio direto: pode ser definido como a técnica de colocação da semente ou muda em
sulco ou cova no solo não revolvido, com largura e profundidade suficientes para obter a adequada
cobertura e o adequado contato da semente ou muda com a terra. As entrelinhas permanecem
cobertas pela resteva de culturas anteriores ou de plantas cultivadas especialmente com essa
finalidade. Segundo esses preceitos, o solo permanece com no mínimo 50 % da cobertura e o
revolvimento máximo para a abertura do sulco ou cova é de 25 a 30 % da área total.
66
camada compactada subsuperficial, acompanhada de redução da macroporosidade, da porosidade
total e da infiltração de água no solo.
Nas figuras a seguir, podem ser observados os efeitos do preparo do solo com arado de
disco tracionado por trator morro abaixo (Figura 3) e arado de aiveca com tração animal em nível
(Figura 4). Observa-se, na Figura 4, maior densidade e aprofundamento das raízes. Além disso, os
dados de penetrômetro indicam adensamento do perfil do solo, que pode ser constatado na Figura
3, pelo aspecto maciço e pela linha de pé de arado.
67
Wünsche e Denardin (1980) compararam dois manejos da palhada com
preparoconvencional nas culturas de soja e trigo em Passo Fundo-RS, observando que a perda de
solo quando houve a incorporação da palhada foi de somente 30 % em relação à perda verificada
quando foi feito o manejo com queima dos restos culturais (Tabela 1).
Tabela 1. Perda média de solo por erosão em dois anos agrícolas, sob chuva natural, nas
culturas de trigo e soja em Latossolo Vermelho-Escuro.
Preparo convencional
3,7
(1 aração + 2 gradagens) com incorporação da palhada
A queima dos restos vegetais deve ser feita apenas por medidas fitossanitárias, quando,
então, os restos deverão ser amontoados e enleirados para a queima.
As alterações que ocorrem no solo por ocasião do prepare são determinadas, em grande
parte, pelo tipo de implemento utilizado, mas o conteúdo de umidade no momento da realização
da prática também é importante.
68
As forças de atração entre as partículas são a coesão, quando na ausência de umidade, e a
adesão, na presença de água.
Deve-se efetuar o preparo do solo num ponto de umidade onde ele apresenta a menor
atração entre as partículas, dada pelo somatório das forças de coesão e de adesão. Isso ocorre
quando o solo se encontra úmido, ou seja, com teor de umidade que possibilite fácil esboroamento
dos agregados, que é a condição de friabilidade (Figura 5).
Plasticidade
Friabilidade
Fluidez
Grau de Consistencia
Se o solo estiver muito úmido no momento do preparo, haverá maior consumo de energia e
ocorrerá compactação, já que o solo se molda com facilidade (caráter denominado de plasticidade).
Se estiver muito seco, também haverá maior consumo de energia, devido à maior necessidade de
potência do maquinário utilizado, bem como a formação de torrões sem, no entanto, ocorrerem
significativos prejuízos à estrutura.
Planejamento conservacionista
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É necessário ter em mente que a propriedade não é constituída somente por um tipo de
solo e este não ocorre em apenas um tipo de relevo. Via de regra, a propriedade rural é dotada de
terras planas, inclinadas, grotas, brejos etc. Por isso, a distribuição dos cultivos na propriedade é o
ponto chave no planejamento conservacionista. Em consonância com a adequada distribuição dos
cultivos, devem-se associar outras técnicas vegetativas e mecânicas, pois o planejamento
conservacionista não é composto de técnicas isoladas, mas sim integradas.
70
As principais características dos solos que devem ser levantadas são: profundidade efetiva,
textura, permeabilidade, reação do solo (alcalinidade ou acidez), teor de matéria orgânica,
inclinação, grau de erosão e uso atual.
O fator isolado mais importante que influi sobre a erosão ou perdas de solo por enxurrada é
a cobertura do solo, seja ela com plantas em crescimento (cobertura viva) ou com a palhada dessas
plantas (Figura.7).
A cobertura do solo pode ser alcançada com um rápido crescimento da cultura, que
permitirá a proteção contra as gotas da chuva. O rápido crescimento das culturas é proporcionado
por adequadas características físicas, químicas e biológicas do solo. Ao contrário, é prejudicada pela
baixa fertilidade, compactação (pé de grade), drenagem imperfeita etc.
Em solos desnudos ou sem cobertura, por exemplo, a temperatura pode facilmente atingir
60 a 65 ⁰C durante o dia. Nessas condições, as bactérias que fixam nitrogênio no sistema radicular
das leguminosas, como o feijoeiro e a soja, têm sua sobrevivência comprometida. A palhada ainda
reduz a incidência de ervas daninhas, diminuindo a necessidade da capinas e, consequentemente, a
exposição do solo à ação dos agentes erosivos (SATURNINO; LANDERS, 1997).
Outras formas de se manter o solo coberto e protegido durante o ciclo da lavoura e após a
colheita é adotar o sistema de plantio direto, cultivo mínimo ou, simplesmente, roçar o mato, em
vez de capinar.
Existe uma forma de erosão, muitas vezes pouco perceptível ou valorizada, que é a erosão
eólica (ação dos ventos). Além da erosão, os ventos fortes são extremamente prejudiciais às
culturas, desidratando, queimando e acamando as plantas.
Uma das principais técnicas utilizadas para minimizar os efeitos nocivos dos ventos sobre os
solos e culturas é o uso de cortinas vegetais. Elas podem ser plantadas sobre a crista dos camalhões
ou mesmo em linhas, demarcando os talhões que estarão protegidos.
Os vegetais mais usados para esse fim são o capim “camerun” (capim elefante), capim
cidreira, feijão guandu, eucalipto, grevilea, cedrinho, acácia negra e outros.
72
Cordão vegetal
É uma prática simples, recomendada para a pequena e média propriedade, em áreas que
não possibilitam a construção de terraços devido à declividade, ou nas quais a mecanização é
realizada por tração animal.
Para se formar o cordão vegetal abre-se dois ou três sulcos com arado de tração animal,
numa faixa de até um metro, plantando-se as mudas das espécies recomendadas.
Algumas espécies usadas são a cana-de-açúcar, capim “camerun anão” (elefante anão),
capim cidreira e capim vetiver, entre outras, que podem ser plantadas em nível ou desnível,
dependendo das características do solo. O espaçamento entre um cordão e outro não deve ser
menor que 10 metros.
O cordão vegetal funciona como barreira física, evitando que a água da chuva que não se
infiltrar ganhe velocidade e provoque erosão. Portanto, é considerada uma prática conservacionista
complementar. Além disso, é bom salientar, que algumas espécies utilizadas para formar o cordão
vegetal podem ser usadas na alimentação animal, humana ou na industrialização caseira,
aumentando a renda familiar.
Cordão de pedra
A adição de matéria orgânica ao solo tem por objetivo melhorar suas condições físicas,
químicas e biológicas, permitindo o adequado crescimento das culturas. Esse aporte de matéria
orgânica pode ser feito de várias maneiras, através da adubação verde, adubação com esterco de
73
animais (boi, suínos etc), restos de culturas, composto orgânico e húmus de minhocas, entre
outras. Entretanto, o agricultor nem sempre tem a chance de encontrar com facilidade o esterco de
animais (seja pela disponibilidade do produto, seja pelo custo) ou de fazer a adubação verde. Uma
forma de conseguir adubo orgânico de boa qualidade é através do composto.
Adubação verde
A adubação verde pode ser conceituada como o manejo de plantas visando à melhoria ou à
manutenção da capacidade produtiva do solo. Esse conceito abrange a tradicional prática de
incorporação de leguminosas, como também a utilização de outras espécies vegetais, em rotação
ou não, para cobertura do solo ou incorporação. Quando a rotação é feita utilizando-se
leguminosas como cultura principal ou na forma de adubo verde, consegue-se, ainda, incorporar
nitrogênio ao sistema de plantio, reduzindo os custos com fertilizantes nitrogenados. As
gramíneas, com seu sistema radicular abundante, contribuem para estruturar o solo ao mesmo
tempo em que aumenta o aporte de matéria orgânica abaixo da superfície (SANTA CATARINA,
1994).
74
Atenua a amplitude térmica e diminui a evaporação, aumentando a disponibilidade
de água para as culturas comerciais;
O sistema radicular rompe camadas adensadas e promove a aeração e a
estruturação das partículas, induzindo ao “preparo biológico do solo”;
Promove a reciclagem de nutrientes. O sistema radicular bem desenvolvido de
muitos adubos verdes tem a capacidade de translocar os nutrientes que se
encontram em camadas profundas para as camadas superficiais, tornando-os
novamente disponíveis para as culturas de sucessão;
Diminui a lixiviação de nutrientes. A adubação verde, por reter os nutrientes na
fitomassa e liberá-los de forma gradual durante a decomposição do tecido vegetal,
atenua esse problema.
Promove a adição de nitrogênio ao solo através da fixação biológica por parte das
leguminosas, podendo representar importante economia desse nutriente na
adubação das culturas comerciais, além de melhorar o balanço de nitrogênio no solo.
Reduz a população de ervas daninhas através do efeito supressor e,ou alelopático,
devido ao rápido crescimento inicial e exuberante desenvolvimento da massa
vegetal;
O crescimento vegetal dos adubos verdes e sua decomposição ativam o ciclo de
muitas espécies de macro-organismos e, principalmente, micro-organismos do solo,
cuja atividade melhora a dinâmica física e química do solo;
Apresenta múltiplos usos na propriedade. Alguns adubos verdes possuem elevada
qualidade nutritiva, podendo ser utilizados na alimentação animal (aveia, ervilhaca,
guandu e lab-lab), na alimentação humana (tremoço e guandu) ou como fonte de
madeira e lenha (leucena e sabiá);
Adubação verde intercalar com culturas: o adubo verde é semeado na entrelinha da cultura
comercial. É especialmente adaptada a situações em que o solo deve ser utilizado da forma mais
intensiva possível (Figura 8).
Numa avaliação de leguminosas anuais no período de cinco anos, foi observado que a
mucuna intercalada ao milho promoveu aumento de 21 % na produção de grãos em relação à
testemunha (4.440 kg/ha), seguindo-se o feijão- de-porco (14 %) e a ervilhaca (10 %).
Compostagem
A concentração final de nitrogênio do composto fica em torno de 2,5 a 3,0 %, sendo que,
desse total, 50 a 70 % se apresentam em forma prontamente assimilável pelas plantas.
Teor de umidade
78
Aeração do composto
Temperatura e pH
O preparo do composto requer local próprio e próximo do local de sua utilização e de fonte
de água. O local deve ser plano ou ter pequeno caimento.
A pilha deve ter 3 a 4 m de largura por 1,5 a 1,8 m de altura para facilitar o manuseio. Seu
comprimento pode variar de acordo com a quantidade de material disponível e com o espaço para
revolvimento. O local das pilhas deve ser protegido das enxurradas, contornado com valas de
escoamento da água de chuva. A compostagem deve obedecer à proporção de três partes de
resíduos vegetais para uma parte de dejetos animais (Figura 9).
80
Utilização do composto
Quanto mais rápida a utilização composto, melhor. Entretanto, quando não for possível, o
composto deve ser armazenado em local protegido do sol e da chuva, de preferência coberto com
lona de polietileno ou sacos velhos de fibra.
Rotação de culturas
Médias e grandes propriedades rurais, nas quais, pela disponibilidade de área, é possível
adotar um sistema de rotação para culturas econômicas.
81
Pequenas propriedades rurais, que não dispõem de área suficiente para um programa de
rotação das culturas econômicas, necessitando, muitas vezes, de toda a área disponível para
determinada cultura, cuja produção será utilizada na própria propriedade (exemplo: milho x suíno).
Um dos principais fatores causadores de erosão nas áreas agrícolas são as estradas vicinais,
tão importantes no escoamento da produção.
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A má locação dessas estradas é responsável, muitas vezes, pelos mais graves problemas de
erosão, pois faz com que a água da enxurrada acumule em determinados pontos e em grande
volume, ganhando velocidade, o que aumenta o seu potencial erosivo.
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