LIDÓRIO Ronaldo Antropologi

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ANTROPOLOGIA MISSIONÁRIA

A antropologia aplicada ao desenvolvimento de idéias


e comunicação do evangelho em contexto intercultural

Apresentação do Método Antropos

Ronaldo Lidório

2 eBook – Antropologia Missionária – Ronaldo A Lidório


Capítulo 2
Conceituando a Antropologia, a Cultura e o Homem.

O objetivo deste capítulo é introduzirmos antropologia como ciência social, a partir


dos seus próprios conceitos, assim como os da cultura e do homem, constituindo -
estes três (a antropologia, a cultura e o homem) - os focos principais. O que temos
praticamente aqui são três níveis de estudo onde antropologia se vê como um círculo
de conhecimento acadêmico cuja abrangência seria mais vasta e englobaria a
conceituação de cultura e sucessivamente do homem, pois este é a célula menor
dentro da composição de todos os demais segmentos culturais. Acreditamos portanto
que, de maneira bem prática, se conceituarmos Antropologia, Cultura e Homem
teremos uma boa base acadêmica sobre tal assunto como ciência.

Teorias antropológicas

No século XIX surge o evolucionismo unilinear, que aplica a teoria da evolução na


culturalidade e gera o pressuposto que o homem passaria por estágios de evolução
cultural: da selvageria à barbárie, da barbárie à civilização e da civilização ao estado
de perfeição relativa. Tais estudos se basearam na observação de culturas
ultramarinas, a partir do gabinete e não do campo, de forma distante e pouco
aprofundada. São estudos etnocêntricos e comparativos, relegando às etnias
minoritárias diferentes graus de primitivismo tendo a cultura européia como ponto
de referência do processo civilizatório.

É, dessa forma, uma teoria idealista, tendo como ideal o europeu, sua sociedade e
tecnologia. Esta teoria criou a plataforma filosófica para o domínio europeu no novo
mundo e foi desenvolvida dentro do cenário dos escritos e pensamento de Spencer
(princípios da biologia, 1864) e Tylor (A cultura primitiva, 1871) dentre outros.

A publicação de Regras do Método Sociológico, de 1895, propõe que os fatos sociais


eram mais complexos do que se imaginaria a princípio. Com Durkheim12 os
fenômenos sociais começam a ser definidos como objetos de investigação socio-
antropológica. Juntamente com Mauss, Durkheim (no final do século XIX) se
debruça nas representações primitivas, estudo que culminará na obra Algumas
formas primitivas de classificação, publicada em 1901. Com isto se vê inaugurada a
chamada linhagem francesa no estudo da antropologia.

12
Ver Durkheim, Émile. As formas elementares de vida religiosa: O sistema totêmico na Austrália. São Paulo:
Paulinas, 1989.

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Franz Boas13, nos Estados Unidos da América, desenvolve a idéia de que cada cultura
tem uma história particular e, portanto a difusão de traços culturais deveria acontecer
com freqüência e abrangência. Nasce o Relativismo cultural tendo início a
investigação de campo, saindo dos gabinetes e cenários puramente teóricos. Boas
defende que cada cultura deve ser definida pela sua própria história particular,
portanto torna-se necessário estudá-las separadamente com o objetivo de construir
sua história. Surgia o Culturalismo, também conhecido como Particularismo
Histórico.

Deste movimento nasceria posteriormente a escola antropológica da Cultura e


Personalidade. O particularismo histórico questionou o evolucionismo unilinear
propondo que cada cultura possui sua historicidade que demanda respeito. São
atacadas as comparações idealistas culturais. Advoga também o que seria o protótipo
da observação participativa na qual o pesquisador interage com o povo alvo.
Desenvolveu o método indutivo (do particular para o geral) contrapondo a
antropologia clássica da época, generalista.

A Antropologia Estrutural nasce na década de 1940. Lévi-Strauss é o seu grande


teórico e defende que existem regras estruturantes das culturas na mente humana.
Desta forma estas regras constroem pares de oposição para organizar o sentindo. Ele
recorre a duas fontes principais: a corrente psicológica criada por Wundt e o trabalho
realizado no campo da lingüística, por Saussure, denominado Estruturalismo. Foi
também influenciado por Durkheim, Jakobson com a teoria lingüística, Kant com o
idealismo e Mauss.

O Estruturalismo dá um grande impulso a lingüística de forma geral ao defender que


é necessário compreender o padrão mental, de pensamento e comunicação de um
povo, a fim de compreender a sua cultura. Nesta época métodos fonológicos passam a
ser aplicados para estudos culturais. A finalidade maior é encontrar o que foi
chamado de pensamento coletivo pois este aglutinaria impressões e valores de um
povo. Valoriza-se o registro (e interpretação) de lendas e mitos.

O Funcionalismo vem se contrapor às teorias da época e propõe a compreensão (e


estudo) da cultura a partir de um ciclo de valores que estão interligados. Ou seja,
todos os aspectos que definem uma sociedade (língua, atividades de subsistência etc)
fazem parte de um todo que pode ser entendido como cultura. Desta forma vemos o
nascimento da distinção entre etnografia e etnologia, pressupondo a necessidade de
não apenas dissertar as atividades humanas em determinado segmento social mas

13
Ver Boas, Franz. Antropologia Cultural. Rio de Janeiro: Jorge Zahar. 2004

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também compreender a identidade do grupo. Radcliffe-Brown14 e Evans-Pritchard
desenvolveram esta teoria propondo uma nova ramificação que é o Funcionalismo
estrutural. Defenderam que a estrutura social é o ponto central em uma sociedade e
todas as atividades e fatos sociais (valores, religião, organização familiar etc) são
desenvolvidos com a finalidade de manter a estrutura social estável. O desequilíbrio
desta estrutura social faz com que a sociedade desenvolva outros mecanismos,
valores ou atividades que venham a reequilibrá-lo.

O Neo-evolucionismo define que a evolução cultural se dará, basicamente, através da


luta do homem contra a natureza, e o domínio deste sobre aquele em relação à
subsistência, segurança e bem estar. Steward defendia, porém, que as mudanças
ambientais foram as principais causadoras das mudanças culturais e prevê que as
grandes possíveis mudanças ambientais puderam resultar em mudanças gerais na
humanidade. Assim defende ser necessário, ao homem, permanecer com seu instinto
de adaptação ao ambiente, o que proverá segurança e sobrevivência.

Na segunda metade do século 20 Clifford Geertz, após Lévi-Strauss, provavelmente


foi o antropólogo cujas idéias mais causaram impacto na sociedade. É considerado o
fundador de uma das vertentes da antropologia contemporânea, a chamada
Antropologia hermenêutica ou interpretativa. As teorias simbólicas e hermenêuticas
apresentam duas classes antropológicas. A primeira, simbólica, defende a
identificação do significado cultural a partir da observação e analise de ritos, mitos,
cosmogonias e assim por diante. A segunda, hermenêutica, defende a interpretação
destes fatos sociais. A pergunta, para estes, é sempre ‘qual a idéia por trás do fato
social’?

Conceituando Antropologia

Nosso primeiro passo rumo ao triplo enfoque citado é conceituarmos, mesmo que de
forma breve, a antropologia. Esta ciência foi formada a partir de diversas origens,
estudos e fundamentos, documentados numa história de evoluções de idéias que
levaram aos aspectos conclusivos de hoje. Laraia nos fala sobre a diversidade de
pensadores que proveram os elementos necessários à ciência antropológica como
Confúcio ao afirmar que “a natureza dos homens é a mesma, são seus hábitos que os
mantém separados”15. A partir desta idéia fundamental da antropologia muitos
levantaram uma pergunta iniciadora no assunto: porque homens semelhantes em
contextos semelhantes geram culturas tão distintas?

14
Ver Radcliffe-Brown, A. R. Estrutura e função nas sociedades primitivas. Lisboa: Edições 70, 1989
15
Laraia, Roque de Barros. Cultura: Um conceito antropológico. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1997

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