Registo Civil: I Capítulo Introdução Aos Registos e Notariado

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REGISTO CIVIL

I CAPÍTULO

Introdução aos Registos e Notariado

Apresentação geral da disciplina

O lugar dos Registos e do Notariado no Centro das ciências judicias e na pratica

privada.

O Direito dos Registos e do Notariado enquadra-se nas cadeiras processuais

sendo instrumental a muitos institutos do direito Civil.

Os Ramos de direito e os Registos e Notariado

 No cerne do Direito registral deparamos a concretização ou realização

prática do Direito de Família: através da publicidade da situação jurídica

de pessoas singulares desde o início da personalidade jurídica (com o

nascimento) até ao seu término com a morte. A publicidade registral civil

abrange ainda todas as alterações inerentes à pessoa singular (filiação,

casamento, divórcio, etc.).

 No que concerne ao Direito Comercial: o registo faz a publicidade do

comerciante individual ou colectivo (sociedades comerciais) e esta matéria

torna-se mais relevante com o novo regime do direito comercial aonde a

personalidade jurídica se afere com o registo.

 Quanto aos Direitos Reais: a publicidade refere-se à situação dos bens

imóveis e tem como finalidade garantir a sua segura circulação no


comércio jurídico criando títulos fiáveis da prova de existência de

direitos ou ónus sobre os mesmos (Registo Predial).

 No capítulo do Direito de Sucessões: a essência da cadeira ilustra-se

através do Notariado que atribui formas legais da sucessão testamenteira

e cria títulos de habilitação de herdeiros e partilhas extrajudiciais.

 Nas Obrigações: a intervenção notarial em negócios jurídicos típicos ou

aos que as partes intervenientes queiram dar autenticidade probatória é

relevante para a estabilidade do direito privado atendendo que no capítulo

de acções executivas pode ser de extrema importância a existência de

instrumentos notariais para facilitar a resolução de litígios.

É com base nos elementos supra-referidos que se pode afirmar que o Direito dos

Registos e do Notariado ocupa um lugar central na realização prática do direito

privado pois é uma das fontes privilegiadas na criação de títulos fiáveis de

direitos e obrigações num contexto extrajudicial.

Aos estudantes que exercerão profissões JURÍDICAS: Advogados,

Conservadores, Notários e mesmo aos Magistrados, o conhecimento desta

disciplina se revela de extrema importância prática.


Breve historial do surgimento dos registos e notariado

O Registo Civil é o termo jurídico que designa o assentamento dos factos da vida

de um indivíduo, tais como o nascimento, casamento, divórcio ou morte (óbito) e

vários outros factos que afectam directamente a relação jurídica entre

diferentes cidadãos.

O registo de cidadãos remonta desde a antiguidade, no entanto, aplicava-se

apenas a alguns poucos que na época possuíam o título de cidadãos (homens

livres). No que respeita ao registo civil de pessoas, não há ocorrências antes do

séc. XIV, é aí que se fala de registos paroquiais de baptismos que mais tarde

generalizaram-se em casamentos e, quanto aos óbitos surgiu a necessidade lá

para o séc. XVII. Depois da queda do império Romano, a Igreja Católica tornou-

se a responsável pelo registo dos indivíduos e dos seus títulos, continuando a

tradição clássica de registar factos que envolviam somente pessoas com posses,

sejam de ordem eclesiástica, dinástica ou nobiliárquica.

Sendo assim, a primeira vez que se instituiu o registo universal dos baptismos e

das mortes foi em 1539 na França e só em 1563 e que o registo se tornou

obrigatório em todo o mundo católico.

No século XIX o registo civil como é conhecido hoje ou seja universal e laico foi

criado com o advento do Código Napoleónico de 1804.

Em Portugal o registo Civil foi oficialmente instituído pelo Código de Registo Civil

de 18 de Fevereiro de 1911 e devido a entrada em vigor da nova constituição de

20 de Abril de 1911 que separava a igreja e o Estado e determinou que todos os

registos paroquiais anteriores a 1911 fossem transferidos das respectivas

paróquias para as recém constituídas Conservatórias.

Em Moçambique com a recepção do Direito Português aderiu ao Código Civil

Português.
Portanto, Desde a antiguidade, foi patente nos homens a vontade de querer

registar factos e actos que iam ocorrendo ao longo de suas vidas. Por esse

propósito, como forma de guardarem esses acontecimentos, iniciaram com os

registos, pois, na falta de uma memória fidedigna e pública as pessoas teriam de

defrontar, muitas vezes, com inúmeras situações inexistentes ou demoradas

para adquirir determinada certeza.

Foi assim que resultou a necessidade de se guardar factos susceptíveis de

produzir efeitos de direito ou seja, factos jurídicos para fazer fé a sua

existência e servir de prova cabal em casos de litígio bem como lhe conferir

autenticidade e dar publicidade. Razão pelo qual surgiram os Registos e

Notariado com papel fundamental na salvaguarda de uma das mais importantes

funções do Estado, que é o de assegurar a verdade e a validade da contratação e

da publicitação e eficácia dos actos, nas suas diversas vertentes, bem como a

vários outros aspectos da vida quotidiana.


II CAPÍTILO

Disposições Gerais

Definição de Registo

De uma forma comum, diz-se Registo ao acto de registar, que é escrever ou

lançar um determinado facto num suporte próprio.

Juridicamente, Registo é a menção feita em suportes próprios, existentes em

repartições legalmente reconhecidas e competentes, de factos susceptíveis de

produzir efeitos jurídicos com força probatória e, cuja existência se prende em

regra dar publicidade para que qualquer pessoa possa conhecer a situação

jurídica decorrente desse facto.

Registo, é designação dada, também, à repartição em que os mesmos são

depositados, onde o controle é feito por um oficial público a quem o Estado

confere Fé Pública, relativamente aos actos por si exarados e que tais actos, são

oponíveis à terceiros.

Princípios do Registo Civil

O Registo Civil obedece a um certo número de princípios designados por

princípios orientadores do registo civil, que passamos a destacar:

Princípio da Instância

Significa que o processo de registo só se efectua a pedido dos interessados.

Pois, são estes que têm de solicitar o registo e oferecer os documentos

respectivos.
Princípio da Prioridade

Significa que o direito que primeiramente for registado prevalece sobre os que

posteriormente o vierem a ser relativamente ao mesmo facto. É uma aplicação da

conhecida máxima latina “prior in tempore, potior in iuri” (o primeiro no tempo é

o melhor no direito).

Este princípio não se refere à antiguidade do título que serve de base ao registo,

mas sim à data do próprio registo.

Princípio da Legalidade

Este princípio significa que quando os títulos são apresentados a registo, o

Conservador (jurista qualificado) deve qualificá-los, examiná-los, verificando a

sua conformidade com a lei quer quanto à forma externa, quer quanto ao fundo.

Princípio da Especialidade

Com este princípio o sistema procura em concreto dar resposta à necessidade de

certeza do registo. Têm vários aspectos e respeita ao carácter único, particular,

específico, de cada facto, objecto ou sujeito. As pessoas objecto de registo, são

claramente especificadas e individualizadas. Não pode haver confusão na

identificação ou indicação do sujeito em causa.

Princípio da Publicidade

Este princípio publicita a existência legal de direitos fazendo presumir a sua

exactidão. Vai mais longe, indica que se presume que o publicado corresponde a

verdade e que qualquer pessoa pode ter conhecimento do conteúdo do registo.

Princípio da Tipicidade ou “Numerus clausus”

Este princípio diz que só podem ser levados a registo os factos que a lei permite

ou determina que o sejam.


Princípio da Presunção da Verdade registral

Neste, a situação jurídica resultante do registo reside nos precisos termos neles

constantes. Portanto, presume-se que tudo o que estiver inscrito no registo tem

presunção de veracidade, até prova em contrário. Através deste princípio é que

encontra-se a segurança jurídica.

Obrigatoriedade, objecto, efeitos e valor do registo

Nos termos do nº 1 do art.º 1 do CRC, o Registo civil é obrigatório e tem como

objecto todos os factos arrolados nas alíneas a) a l). Todavia, esta enumeração

não é exaustiva por se constatar uma omissão.

Vejamos, são também objecto do registo civil:

 A Nacionalidade artº 23 e seg. CRM

 A perfilhação artº 31 CRM

 A perda de nacionalidade artº 31 CRM

 Reaquisição art 32 CRM

O registo Civil guarda a constância dos factos que constituem o estado civil das

pessoas singulares.

Efeitos do Registo

Os factos objecto de registo, não podem ser invocados, quer pelas pessoas a

quem respeitem ou seus herdeiros, quer por terceiro, enquanto não for lavrado o

respectivo registo e os seus efeitos retroagem à data em que ocorreram. (Vide

art.º 2)

Valor do Registo

O registo efectuado segundo o estabelecido no código tem valor pleno e

constitui prova cabal da existência dos factos objecto do registo e só podem ser
ilididos por sentença transitada em julgado, proferida em acções de estado ou

de registo.

Acção de estado é aquela que pretende alterar o estado civil tal como consta do

registo ou seja o que se ataca é o próprio facto registado.

Acção de registo é aquela que tem por objecto o registo em si ou seja vai

evocar-se a sua omissão ou inexistência, irregularidade ou deficiência ou seja o

facto ocorreu só que o registo enferma de algum vicio.

O art.º 4 do Código de Registo Civil fala do valor probatório do registo, isto é,

goza de presunção legal de veracidade e autenticidade da situação jurídica que

decorre dos factos inscritos.

O nº 2 do presente art.º, diz que quem tem o registo ao seu favor não precisa

provar a sua titularidade. Isso só pode ser impugnado mediante prova em

contrário e pode ser excluído oficiosamente pelos tribunais quando se manifesta

pelos sinais exteriores de documentos com falta de autenticidade.

O registo pode ter o valor Declarativo ou Constitutivo.

Diz-se:

Declarativo: quando enuncia um facto jurídico constituindo essa enunciação

presunção de que existe a situação jurídica nos precisos termos em que

decorrem tais factos.

Diz-se meramente declarativos quando os direitos nascem, vivem e extinguem-se

independentemente da inscrição no registo dos factos de que resultem.


O registo limita-se assim em declarar a ocorrência de um facto de que resulta a

situação em que se encontra o direito em determinado momento.

Constitutivo: quando ele próprio cria uma situação jurídica nova que

consequentemente não existiria sem a realização do registo. O nascimento do

direito resulta assim da inscrição no registo do facto que lhe dá origem.

Os factos podem existir, mas o que não produzem são efeitos jurídicos

decorrentes de situação jurídica que poderia ser criada pelo registo desses

factos.

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