Psiedu - Edicao NR 1 8-20
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Estatuto Editorial
A Revista Moçambicana de Psicologia e Educação – PSIEDU – é difundida via electrónica e
impressa pela Editora Educar da Universidade Pedagógica. Tem como objectivo publicar e
divulgar artigos e comunicações de cunho científico, de autoria nacional e estrangeira, nas
áreas de Psicologia e de Educação. Para a publicação dos referidos artigos e comunicações,
incluindo relatórios de investigação, artigos de revisão e apresentação crítica de livros,
passam por um processo de avaliação editorial.
Conselho Científico
Adelina Guisande (Universidade de Santiago de Compostela, Espanha); Adelinda Candeias
(Universidade de Évora, Portugal); Adriano Fanissela Niquice (Universidade Pedagógica,
Moçambique); António Roazzi (Universidade Federal do Pernambuco, Brasil); Alexandra
Araújo (Universidade do Minho, Portugal); Aristides Ferreira (Instituto Superior de
Ciência e Tecnologia, Portugal); Camilo Ibraimo Ussene (Universidade Pedagógica,
Moçambique); Cristina Joly (Universidade de São Francisco, Brasil); Daniel Daniel
Nivagara (Universidade Pedagógica, Moçambique); Delfim de Deus Mombe (Universidade
Pedagógica, Moçambique); Félix Mulhanga (Universidade Pedagógica, Moçambique);
Geraldo Teodoro Mate (Universidade Pedagógica, Moçambique); Hildizina N. Dias
(Universidade Pedagógica, Moçambique); Jaime Alípio (Universidade Pedagógica,
Moçambique); José Carlos Nuñez (Universidade de Oviedo, Espanha); José Morgado
(Universidade do Minho, Portugal); José P. Castiano (Universidade Pedagógica,
Moçambique); Leandro S. Almeida (Universidade do Minho, Portugal); Manuel José de
Morais (Universidade Pedagógica, Moçambique); Manuel Loureiro (Universidade da
Beira-Interior, Portugal); Maria Emília Costa (Universidade do Porto, Portugal); Pedro
Rosário (Universidade do Minho, Portugal); Sérgio Terreiro de Magalhães (Universidade
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(Universidade Pedagógica, Moçambique); Terezinha Rios (Universidade de São Paulo,
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Revista electrónica numa primeira fase
Sede da Redacção
Propriedade e editor
Faculdade de Educação e Psicologia
Universidade Pedagógica de Maputo, Moçambique
Directora
Bendita Donaciano Lopes (Universidade Pedagógica de Maputo)
Directores Adjuntos
Adriano Fanissela Niquice (Universidade Pedagógica, Moçambique), Daniel Daniel
Nivagara (Universidade Pedagógica, Moçambique), Leandro S. Almeida (Universidade do
Minho, Portugal), Manuel J. de Morais (Universidade Pedagógica, Moçambique), Sérgio
Terreiro de Magalhães (Universidade Católica Portuguesa-FACIS/Braga, Portugal)
Conselho Editorial
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(Universidade Pedagógica, Moçambique); Filomena Ponte (Universidade Católica
Portuguesa-FACIS/Braga, Portugal); Jaime da Costa Alípio (Universidade Pedagógica,
Moçambique); José Flores (Universidade Pedagógica, Moçambique); Sónia Cruz
(Universidade Católica Portuguesa-FACIS/Braga, Portugal); Maria Luísa Chicote
(Universidade Pedagogica, Moçambique); Benedito Sapane (Universidade Pedagógica,
Moçambique); Vilza Norberto Cassamo (Universidade Pedagógica, Moçambique);
Dados Biográficos
Apoio:
Índice Pág.
Editorial .................................................................................................................................................. 5
4. EP1 de Uampaco: Exemplos de algumas práticas com vista a promover a aprendizagem escolar
das crianças
Delfim de Deus Mombe ..................................................................................................................... 59
Editorial
No quinto texto, Gildo Nhapuala & Leandro S. Almeida, reconehecem o facto de que
a implementação da educação inclusiva em Moçambique é relativamente recente, tendo em
linha de conta as práticas internacionais e a natureza da pesquisa realizada, por isso
construíram e validaram uma escala com qualidades psicométricas que possibilitam o seu uso
na investigação e prática na área de educação inclusiva e formação de professores a nível
nacional.
Em sexto lugar, Eurico Pereira, Sérgio Tenreiro de Magalhães & Vítor J. Sá, abordam
a partir de um estudo, a relação entre actividades de enriquecimento
curriculares/extracurriculares e o desempenho académico. Com o propósito de melhorar os
resultados escolares dos alunos e prolongar a permanência das crianças nas escolas, os
resultados do estudo em refereência dão indicam uma melhoria no desempenho académico
dos alunos que frequentaram actividades de enriquecimento curricular durante o primeiro
ciclo.
No nono texto, Adelino Inácio Assane & Carmen Lúcia Vidal Perez, discutem em
torna das zonas de influência pedagógica como espaços de colegialidade da prática docente.
O estudo é conduzido no âmbito da tese de Doutoramento em Educação. Aqui, a
Colegialidadeé assumida como processo de articulação de consensos, nas Zonas de
Influência Pedagógica a que osautores se referem, ocorrendo de forma burocrática. Logo,
defendem os autores, uma colegialidade espontânea, onde a identificação, realização,
discussão e acompanhamento dos temas que corporizam a formação contínua ao nível da ZIP,
ocupam-se enquanto elementos que intervenção.
No décimo lugar textual, Benedito Maurício Sapane, partindo da tese que devido a
uma racionalidade do tipo técnico – científico os professores circunscrevem os seus
conhecimentos, criatividade e competência dentro dum arcabouço previamentedefinido. Por
isso, o autor versa sobre Professores reflexivos: Análise dos pressupostos conceptuais,
epistemológicos e pedagógico. Aqui, procura-se à partida problematizar os pressupostos que
levam os professores a participarem ou não na construção do seu conhecimento profissional.
Resumo
Introdução
O trabalho discute em termo da administração do sistema educativo, o papel da
escola pública (secundária e “universitária”) e seus desafios na época neoliberal. À luz dos
principais instrumentos legislativos das políticas educativas (Lei 4/83 e a Lei 6/92 do sistema
educativo), centra a atenção na educação como imperativos constitucionais (1975, 1990,
2004), por estarem em causa valores da civilização, cidadania e democracia secularmente
voltados ao abandono.
Assim, com a independência nacional ocorrida em 1975, o sistema educativo
conheceu um movimento invulgar no acesso de crianças vindas de camadas sociais que nunca
tiveram oportunidades educativas. Em consequência, a chegada em massa de alunos às
escolas e aos vários níveis do sistema educativo, isto é, a procura social da educação e mais
recentemente, pelas universidades, levou à passagem de um ensino destinado a uma elite para
um ensino de massas. Entretanto, desde 1990, as medidas levadas a cabo para o trabalho com
a diversidade e, de certa maneira, a adesão ao neoliberalismo, sobretudo na acção
organizacional pela Lei 6/92, demonstram estar carregadas de contradições que, algumas
1
Doutor em Políticas Públicas e Administração da Educação. Docente da Universidade Pedagógica, Departamento de
Ciências da Educação e Psicologia, Delegação de Quelimane. bivedomingos@yahoo.com.br.
Portanto, este facto fez-se acompanhar de políticas públicas que visavam a expansão
de vagas, no sentido de garantir a presença massiva de todas as crianças na escola, cujos
propósitos priorizavam fomentar a educação de jovens e adultos pela alfabetização e, ainda
mais, de ampliar os acessos aos ensinos médio e superior. Estes níveis de ensino, no antigo
sistema educativo, eram elitizados pelas políticas de exclusão da administração colonial
portuguesa, pois “o sistema colonial em Moçambique desenvolvera um sistema educativo e
uma organização segregacionista, racista e diferenciadora de classes.” (Domingos, 2010:163).
Deste modo, a procura social pela educação, sobretudo nos ensinos secundário e
universitário, alterou as propostas pedagógicas, levando à passagem de um ensino
inicialmente destinado a uma elite minoritária para um ensino de massas.
Este fenómeno de letargia nas políticas educativas tem sido ultrapassado, procurando
incidir a inovação no espaço público e nas políticas públicas. Trata-se da nova gestão pública
(The new public managment), onde se propõem medidas de autonomia e, simultaneamente, a
gestão escolar é considerada uma técnica de produtividade. A nova gestão é igualmente
pautada na descentralização dos serviços e responsabilização pelos resultados, em que as
escolas actuam sob orientações gerais, embora isso não signifique que elas sejam autónomas,
mas sim capazes e que tenham o poder e competências de se pronunciarem sobre as suas
atividades. Isto é, de dizer autonomicamente como querem realizar os seus objectivos e
também de esclarecerem como vão gerir os meios que possuem (espaciais, humanos,
orçamentais e institucionais), livrando-se da pressão burocrática e administrativa,
nomeadamente circulares, telefonemas e despachos dos órgãos hierárquicos, assim como das
hierarquias inspectivas do Ministério da Educação.
reformas nestes períodos, por serem os períodos de grandes mudanças políticas, económicas e
culturais, factos que poderemos também designar por “tecnologias da mudança social”
(Lima, 2002ª:7).
Do mesmo ponto de vista, a educação funciona como “chave” para todas as portas que
se abrem para a sociedade, daí que, seja necessária a existência de reformas não
conservadoras. Daqui decorre justamente o reconhecimento da importância da educação e da
formação dos cidadãos como factor gerador de capital humano (ou capital social) com o qual
uma sociedade sustenta o seu próprio desenvolvimento. Quer dizer, “‘é essencial promover a
excelência no ensino, se se quer melhorar a qualidade da educação’” Monteiro (2008:73).
Além disso, seria preciso uma emenda constitucional para a gestão democrática na Lei
6/92 do Sistema Educativo, provavelmente, ela seria praticada na escola e nos diferentes
niveis administrativos do Estado. Consequentemente, na escola e nas universidade públicas,
na modernidade, que se quer um “Estado presente, democrático e que promova o
protagonismo social” (Costa, 2010:3), cujas reformas devam centrar-se na ideia da formação
integral de jovens e adultos competentes, conscientes e comprometidos com a história e a
transformação social.
Do mesmo modo, sendo a Prática Pedagógica uma prática social, o principal objectivo
da escola é fomentar e promover a educação integral e harmoniosa, através da constelação
das “vertentes democráticas, participativas, descentralizadoras e autonómicas” (Lima,
Além disso, no meio de tantas desigualdades sociais, como Moçambique tem sofrido,
ora provocadas pelas calamidades naturais, ora por várias intempéries sociais (instabilidades
político-armadas), o sistema educativo moçambicano deve responder oportuna e eficazmente
aos novos desafios que se perfilam nos mais diversos campos, desde a integração regional e
global, à entrada na nova sociedade de inteligência ou cognitiva, de criatividade, de
empreendedorismo, de formação permanente e a construção da cultura e desenvolvimento de
relações democráticas, sobretudo na ânsia pela justiça social.
Nota-se igualmente que o capital assumiu controlo privado sobre questões que eram
puramente do Estado, ao mesmo tempo, como constata Wood (2005), este transferiu para o
Estado responsabilidades sociais e políticas, mesmo nas áreas de vida social, fora das esferas
de produção, estão sujeitas aos imperativos do mercado.
Outrossim,
Sendo assim, a educação científica mais geral precisa de ser ampliada e aprimorada
em todos os níveis e propostas curriculares, pedagógico e administrativas, visto que, a
efectiva formação científica e tecnológica requer uma melhoria na qualidade da educação
como um processo e não fim em si mesmo. Desta forma, uma qualidade que não busque
apenas o consenso, mas também as divergências e controvérsias, já que, para se atingir à um
nível de competência, é preciso uma cultura científica de diálogo mais alargado e, justamente,
o projecto educativo será a expressão da dimensão política da escola. Igualmente, a
identidade da escola configurará numa acção democrática na equidade, qualidade,
diversidade e eficiência nas instituições públicas educacionais.
A gestão democrática deve estar impregnada por uma certa atmosfera que se
respira na escola, na circulação das informações, na divisão do trabalho, no
estabelecimento do calendário escolar, na distribuição de aulas (da carga
horária), no processo de elaboração ou de criação de novos cursos ou de
novas disciplinas, na formação de grupos de trabalho, na capacitação de
recursos humanos, assim como no aproveitamentos dos benefícios etc.
(Gadotti & Romão, 2002:33).
Sendo assim, é uma busca por “autonomia colectiva” (Lima, 2002b:71) que perpassa
em todos os níveis escolares e deve ser uma das preocupações centrais na administração das
escolas e universidades públicas. Será possível, através do ensino das ciências sociais,
incentivando “diálogo e negociação” (Scárdua, 2010:21) e também pelo envolvimento em
projectos da comunidade educativa, através de actividades de extensão e educação contínua
de professores primários e secundários.
Entretanto, os professores precisam de estar juntos para discutir os problemas das suas
práticas e isso é contra o reconhecimento exclusivo da avaliação externa e burocrática,
contrariamente à processual. Assim, a avaliação tem de incidir na actividade dos alunos para
a certificação da sua aprendizagem e não em recortes. Por seu turno, os directores de escolas
devem agir em função das avaliações, visando a organização da escola para a melhoria da
aprendizagem dos alunos com dificuldades. Mas, para a materialização desses propósitos, é
necessária a existência de recursos e também um compromisso de professores, onde a
preocupação das escolas não seja apenas com os rankingsescolares.
2
Retirado de: <http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2015/11/1705186-brasil-armou-bomba-para-
contas-publicas-na-educacao-diz-diretora-do-banco-mundial.shtml>.
3
Para Afonso (2002:86 apoiando-se em Santos, 1999:14), o terceiro sector é a “designação residual e
vaga com que se pretende dar conta de um vastíssimo conjunto de organizações sociais que não são
nem estatais nem mercantis, ou seja, organizações sociais que, por um lado, sendo privadas, não
visam fins lucrativos e, por outro, sendo animadas por objectivos sociais, públicos ou colectivos, não
são estatais. Podem mencionar-se cooperativas, associações mutualistas, associações de solidariedade
social, organizações não governamentais, organizações ‘quasi-não’ governamentais, organizações de
voluntariado, organizações voluntárias ou de base”.
Da mesma forma, é importante salientar que não se trata de uma parceria entendida
como uma forma de terceirização hierarquizada, em que as universidades prestam serviços
ao sector produtivo, mas uma parceria em que as partes interessadas conjugam os seus
esforços para a resolução de problemas locais e regionais em conjunto. É contraproducente a
ideia da actuação do gestor escolar como o único moderador do sucesso pelas parcerias.
4
Quer dizer, “[...] os povos e as instituições nos países em desenvolvimento não deixam de ter o
poder de influenciar também a direção e a qualidade inerentes a globalização” (Abdi, 2012:44).
na renda tem como resultado a redução do consumo e, portanto, mais recessão (Diercksens,
2015).
Sobre a “mercadorização educacional (Lima, 2002c:103), haverá contradições
culturais, substituíndo o discurso político-mediático por novas morfologias organizacionais
cujas potencialidades são salvíficas e apanágios da aprendizagem ao longo da vida.
Igualmente, são consideradas como pré-requisitos da empregabilidade, em direcção a uma
mão-de-obra mais competitiva. Isto promove a “McDonaldização da sociedade, e a
consequente, McDonaldização da educação do Estado administrativo, reactualizando
perspectivas de Darwinismo social” (Lima, 2002c:102-103).
Esta prática deve prevalecer, pois “a participação comunitária e o controlo estatal não
são opostos, mas complementares” (Silva, 2003:32). Também, constitui uma negação da
cultura do silêncio, desenvolve profissionais no sentido educativo e não amadores ou
freelancers (turbos)que priorizam vantagens pessoais em detrimento dos objetivos maiores da
educação para todos. Também, rejeita “o profissionalismo como ideologia que conduz a
falsas hierarquias e a novas relações de dominação” (Afonso, 2000:50). Igualmente, rejeita
também a “parentocracia” (Silva, 2003) na educação quando esta significa uma nova forma
de controlo conservador e autoritário sobre às escolas públicas e o desempenho dos
professores.
Considerações finais
Referências Bibliográficas
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ao desenvolvimento social. In GUIMARÃES – LOSIF, R. (Org.). Política e
governança educacional. Contradições e desafios na promoção da cidadania (pp 41-
67). Brasilia: Universa.
AFONSO, A. (1997).O Neoliberalismo Educacional Mitigado numa Década de Governação
Social-Democrata.Um contributo Sociológico para pensar a reforma Educativa em
Portugal (1985-1995). Revista Portuguesa de Educação, 10 (2), 103-137. Braga: I.E.P
– Universidade do Minho.
AFONSO, A. (2000). Profissionalismo Docente e a Participação dos Pais na Escola Pública.
In Intervenção no seminário, O Papel dos Actores Educativos na Construção de uma
Escola Democrática. Guimarães: Centro de Formação Francisco Holanda.
AFONSO, A. (2002). O neoliberalismo educacional mitigado numa década de governação
social-democrata. In L. C. Lima & A. J. Afonso. Reformas da educação pública.
Democratização, Modernização, Neoliberalismo (pp. 33-52). Afrontamento: Porto.
CAMBI, F. (1999). História da pedagogia. Sao Paulo: UNESP.
CLEGG, S. (1998). As Organizações Modernas. Oeiras: Celta.
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA POPULAR DE MOÇAMBIQUE (1975). Maputo: Edição
do Instituto Nacional do Livro e do Disco.
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE(1990). Publicada no Suplemento do
Boletim da República, 1ª Série, nº 44, de 2 de novembro de 1990. Maputo: Imprensa
Nacional.
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE (2004): aprovada em 21 de Janeiro
de 2005. Disponível em: <http://www.
portaldogoverno.gov.mz/Legisla/constituicao_republica/constituicao.pdf>. Acesso em:
12 mar. 2015.
RESUMO
Introdução
5
Licenciada em Psicologia Educacional pela Universidade Pedagógica – Montepuez, Docente na Universidade
Católica de Moçambique (UCM) e Professora de Filosofia na Escola Secundária “15 de Outubro” - Montepuez.
Correspondência: mondlaneguiamba@gmail.com
6
Mestre em Administração e Gestão Educacional pela Universidade Pedagógica – Maputo, Docente e
Investigadora pelo Departamento de Ciências de Educação e Psicologia, UP – Montepuez,
7
Mestrando em Psicologia Educacional pela Universidade Pedagógica - Quelimane, Docente e Investigador pelo
Departamento de Ciências de Educação e Psicologia, UP – Montepuez.
partir do qual seriam constituídas as bases para o plano de acção para a implementação das
escolas inclusivas (cf., MINED, 1998). Volvidos perto de 24 meses “concluiu-se que os
resultados obtidos na então, fase piloto, estavam alinhados aos objectivos e estratégias
previamente estabelecidos para a implantação, gestão e expansão do projecto escolas
inclusivas, no território nacional” (MINED, 2000). Criadas as bases para a formalização da
educação inclusiva na pátria amada, introduziu-se esta abordagem como parte integrante do
Plano Estratégico do Sector da Educação 1997-2001 que, sob o slogan “Combater a
exclusão e Renovar a escola”, assumiu valores como a inclusão e participação de todas as
crianças e jovens no sistema regular de ensino, incluindo pessoa com deficiência (MINED,
1997, Nhapuala, 2014).
desajustada à inclusão e caiu por terra, como abona Nhapuala (2014) ao mencionar que esta,
arcaica lei, defende que através do ensino especial as crianças e jovens com deficiência de
natureza física, sensorial e mental deveriam ser educados em turmas especiais em escolas
regulares e que as crianças com deficiências mais graves deviam ser escolarizadas em
modalidades extra-escolares (República de Moçambique, 1992). Não estamos diante de dois
sistemas de educação (regular e especial)? Não estaríamos a defender a perpetuação de
discriminação e segregação pedagógica? Onde está a inclusão? Moçambique! Recorde-se
de que a estruturação de uma base legal para a educação inclusiva representa a base para (i)
articulação de princípios e direitos; (ii) a reforma de elementos no sistema actual que
constituem as principais barreiras para a inclusão (por ex: políticas que não permitem que
crianças com deficiência ou de grupos étnicos diferentes frequentem as escolas do bairro);
(iii) a obrigatoriedade das práticas inclusivas fundamentais exigindo, por exemplo, que as
escolas eduquem todas as crianças que façam parte de suas comunidades; e (iv) o
estabelecimento de procedimentos e práticas que facilitem a inclusão no sistema educacional,
por exemplo, a formulação de um currículo flexível ou a introdução de liderança
comunitária). (UNESCO, s/d, in: Nhapuala, 2014). E nós? O que estamos a fazer e onde
queremos chegar realmente?
Financiamento e Recursos
O orçamento é o garante da implementação de qualquer obra política e, a educação
inclusiva não seria uma excepção (Matemulane, 2015). Neste debate Nhapuala (2014)
consubstancia ao mencionar que moçambicana reveste-se da escassez de recursos humanos,
materiais e financeiros capazes de assegurar a obra inclusiva. À partida, a gravidade de
implicações desta opção, está associada a questões de natureza normativa, de sensibilização e
de limitações naturais decorrentes de uma abordagem absolutamente nova no contexto
educativo moçambicano para o qual não há experiência nem estudos prévios.
Matemulane (2015) atiça tal pormenor ao reiterar que, a inclusão educativa necessita
de condições favoráveis como recursos materiais e humanos multidisciplinares com
competências profundas sobre os aspectos evolutivos humanos e de inclusão social em NEE.
Nossa experiência por algumas escolas no âmbito das práticas, estágios pedagógicos e
profissionalizantes em algumas escolas moçambicanas (na cidade de Montepuez, até o ano de
2018, por exemplo, evidenciou a existência de alguns dos recursos materiais – extraordinários
face a inclusão educativa (máquina Braille, regletes, por ex:), mas em situação de desuso,
arrumados, empoeirados e vulneráveis a qualquer comportamento alheio, por falta de pessoal
competente para a sua manipulação (c.p, Montepuez, 2018).
(Correia, et al., 1999) e, a formação inicial e contínua (Correia, et al., 1999; Correia, 2003),
constituem-se essenciais. Na realidade moçambicana, a formação a nível do ensino básico,
por exemplo, ocorre na lógica de formação geral.
idosos e outros voluntários, incluindo as pessoas com deficiência dentro e fora da escola. Em
equivalência real, algumas famílias no nosso seio, explicam-se frustradas com relação ao
atendimento dos seus educandos na escola, pois os professores e os gestores dizem estar
limitados e não preparados para trabalhar com os seus filhos em NEE (Sousa, 2015). No
entanto, o papel das famílias e dos pais e/encarregados de educação pode ser evidente se lhes
forem transmitidos os esclarecimentos necessários numa linguagem simples e clara, pelo que
responder às necessidades de informação e da capacitação sobre suas competências
educativas é função relevante e, o apoio e encorajamento no trabalho colectivo são requisitos
importantes. (UNESCO, 1994).
Colaboração Inter-Sectorial
O sistema de ensino regular, o sistema de educação especial, o ensino técnico e
profissional; o ensino e investigação superior, o sector de assistência, a saúde, a justiça, a
polícia, a segurança social, etc., têm a genuína obrigatoriedade colaborativa. As
universidades, por exemplo, podem segundo a UNESCO (1994), desempenhar um importante
papel consultivo no desenvolvimento da educação das necessidades especiais, em particular
identificação dum deficit genérico (por ex:) subjacente aos alunos que necessitam de apoio
adicional, os programas educativos para os alunos com necessidades especiais, seria uma
perda de tempo, pois estes programas deveriam incidir nas adaptações curriculares, capazes
de assegurar o domínio das matérias curriculares (Ainscow, Porter & Wang, 1997). Por assim
assumir-se, o currículo devia (i) ser adaptado às necessidades das crianças (habilidades,
interesses, etc.); (ii) as crianças mereceriam um apoio horizontal no programa vertical; (iii)
Com o objectivo de desenvolver aptidões necessárias, o conteúdo do ensino atenderia às
necessidades e relacionara-se às próprias experiências e interesses concretos dos alunos
podendo despertar a motivação; (iv) A avaliação formativa é uma aposta para esta causa; (v)
O tratamento deve ser igualitário a todos; (vi) Quando necessário, deve-se recorrer a ajudas
técnicas apropriadas e exequíveis, para se obter uma boa assimilação do programa de estudos
e facilitar a comunicação, a mobilidade e a aprendizagem. (UNESCO, 1994).
A terminar, no contexto educativo moçambicano estamos perante uma nova forma, re
ou neo, integração educativa. É o aluno que deve se adaptar ao contexto escolar e não o
contrário, desde logo, o currículo é estável aos olhos de quem o forjou, o que extenua todo
um conjunto de esforços de alguns professores em particular. Não é verdade? Moçambique
possui mais do que 24 milhões de habitantes e parte significativa deste universo são crianças
e jovens em idade escolar. (Agibo, 2016), não havendo por isso razões de um sistema
educativo inclusivo precário e sem Lei. Afinal, qual é a nossa intenção e ganho com esta
realidade?
Considerações Finais
A vitória da inclusão educacional no país está sendo boicotada pela recusa para a
inscrição dum pacote legislativo que regule o sistema. Estudos a escala nacional,
desencadeados por Chambal (2012), Chiziane (2009), Cossing (2010), Nhapuala (2014) e
Dinis (2018) foram chamando atenção sobre a ausência de legislação no sector educativo
moçambicano em alguns aspectos, respectivamente, (i) falta de mecanismos de acesso,
permanência e transição dos alunos com NEE nas escolas regulares, (ii) a qualificação
mínima exigida ao quadro docente não está regulamentada, (iii) não existem orientações
claras sobre a estruturação de modelos, serviços e processos de apoios especializados à escola
inclusiva aos alunos e professores, (iv) indefinição de aspectos organizativos de base que
orientem a actuação da escola (ex: projecto político pedagógico inclusivo, número de alunos
por turma inclusiva, carga horária dos professores), (v) pouca ou nenhuma clareza sobre os
É um fardo de aspectos que devem não só merecer melhor atenção discursiva, mas
acções práticas concretas e reais ao nosso corredor por parte do Governo e de todos
segmentos sociais. Entre razões, não calam questões como: Será a inclusão educacional em
Moçambique uma realidade exclusiva? Uma (re) integração ou (neo) integração? A respeito
disso, cabe-nos exaltar e capitalizar os ganhos adquiridos ao longo da nossa existência desde
a exclusão à tentativas de uma inclusão efectiva. Neste sentido vale criar cenários educativos
que evidenciem a diferença como recurso valioso para todos (Ainscow & César, 2006;
Armstrong, Armstrong, & Barton, 2000;Joel, s. & César 2010) e independentemente de
quaisquer barreiras no sistema, a melhor opção seria, sem exageros, a definição legislativa, as
políticas educativas e financiamentos inclusivos convergentes, flexibilidade ou ajustamentos
curriculares, as condições infra-estruturais e formativas, sistema de apoios e serviços
especializados estabelecidos, sensibilização comunitária e social cada vez mais pragmática, o
envolvimento familiar sempre presente, as estratégias colaborativas entre sectores da área
com mais saliência e a demarcação da liderança, tomada de decisão e responsabilização.
Alinhar uma prática ecológica–sistémica e sócio – histórica concreta para que todos os
intervenientes neste processo experimentem o que Maslow (1954), Nérici (1991), Brunner &
Zeltner (1994), Doron & Parot (2001), Monteiro & Santos (2002), Pestana & Páscoa (2002),
Santos (2004) Mwamwenda (2004) Balancho & Coelho (2006), Piletti (2008), Chiavenato
(2009), Piletti (2009) Roia (2012) e Mondlane, (2014) consideraram por motivação
académica.
Referencias Bibliográficas
Resumo
O presente trabalho intitulado como estudam os alunos universitários: levandamento na
Universidade Pedagógica de Moçambiqueaborda sobre a forma de como os estudantes organizam a
sua aprendizagem e que preparações fazem para serem bem sucedidos no desempenho escolar. Com o
objectivo de auscultar como se processa a organização dos estudos pelos alunos universitários, tanto
nas ciências quanto nas humanidades. Participaram no estudo 48 estudantes do 1º ano e 3º ano (24
homens e 24 mulheres) distribuídos em dois grupos de cursos: Humanidades e Ciências. Para
percebermos o comportamento dos estudantes perante a organização da aprendizagem recorremos a
um questionário de 13 (treze) perguntas abertas previamente elaboradas, das quais obtivemos
respostas que a partir delas, formamos categorias. Das categorias obtidas, elaboramos quatro
dimensões de competências e estratégias de aprendizagem assim caracterizadas: (i) os
comportamentos de organização do estudo, a tomada de apontamentos e recursos necessários, a gestão
do tempo e a frequência das aulas; (ii) a aquisição e compreensão das matérias e assuntos curriculares,
as estratégias deliberadas de processar a informação e de construir o conhecimento; (iii) os aspectos
motivacionais, os interesses no curso e nas unidades curriculares que frequentam; e (iv) os
comportamentos de preparação e realização das situações de avaliação, incluindo a realização de
exames e outras situações de avaliação.
Introdução
8
Universidade Pedagógica, Moçambique. (donacianob@gmail.com)
9
Universidade do Minho, Portugal
escolas, assistência às aulas, promoção de micro-aulas, entre outras, para que o futuro
professor melhor integre a diversificação das metodologias pedagógicas.
Numa sociedade como a nossa (Moçambique) em que o ensino superior está a ganhar
cada vez mais o seu terreno em termos de formação de novos profissionais e com exigências
próprias que a conferem, as competências de estudo e/ou de aprendizagem assumem um
papel preponderante, sendo que os estudantes nesta fase da nova dinâmica precisam de
aprender e readaptar o seu desempenho a um novo contexto de aprendizagem (Almeida &
Vasconcelos, 2008). Assim, a transição do ensino médio para o ensino superior confronta os
seus novos intervenientes (estudantes) com inúmeros desafios. Esse momento de transição,
defendem alguns pesquisadores na área (Almeida, et al., 2004; Astin, 1993; Bastos, 1997;
Pascarella, & Terenzini, 1991; Rosário, 2004), constitui como um dos momentos peculiares,
potenciador de crises desenvolvimentais, o que tem despertado um crescente interesse pelo
estudo de como os estudantes que ingressam no ensino superior se desenvolvem e se adaptam
ao contexto universitário.
aprendizagem, que deve levar a uma relação cognitiva entre o sujeito e os objectos de
conhecimento para assimilá-los.
Para percebermos como estudam os alunos da UP, levantamos várias questões: como
é que eles estudam os textos que se lhes dão?; como passam os seus apontamentos?; como
fazem os resumos?; que motivações têm para estudar? Estas e outras questões surgem a
partir do produto das aprendizagens dos próprios alunos: o seu rendimento académico.
A opção por este tema de pesquisa justifica-se pela necessidade de compreender com
mais pormenor o processo de aprendizagem e com objectivo de melhorar os resultados dessa
aprendizagem nos alunos, sabendo-se, no entanto que a aprendizagem processa-se pela
repetição e aplicação das habilidades adquiridas (Libâneo, 1994). Há aqui um esforço
consciente que o aluno deve garantir para compreender e fixar as matérias aprendidas.
Enquadramento teórico
A integração dos alunos no ensino superior tem sido marcada por experiências tanto
positivas (quando são bem acolhidos pelos professores e colegas) como negativas (quando
não encontram ninguém para lhes explicar o que devem fazer e como devem estudar, por
exemplo). Essas experiências são determinantes para a continuação ou não dos estudos no
ensino superior. Como é que os estudantes podem aprender no novo ambiente e com novos
métodos de ensino e de aprendizagem?
Soares (2007) advoga que para os investigadores que adoptam uma perspectiva
cognitiva (exemplo Bandura, 1986, 1997), a auto-regulação em contextos de aprendizagem
refere-se aos processos que envolvem a activação e a manutenção das cognições, dos
comportamentos e afectos dos estudantes planeados e ciclicamente adaptados para a obtenção
dos seus objectivos escolares.
Sprinthall & Sprinthall (1993), falando das teorias de aprendizagem, defende que
existem duas escolas de pensamento: (i) aprendizagem por associação que preconiza a
aprendizagem como resultado de conexões entre estímulos e respostas e (ii) aprendizagem
cognitiva que preconiza a aprendizagem como uma reorganização de percepções. Esta
reorganização permite que quem aprende perceba novas relações, resolva novos problemas e
ganhe uma compreensão básica da matéria.
percepção verbal entre outros. A inteligência, para os percursores (Galton, Cattell e Binet),
embora contestada em pontos mínimos, é definida como uma capacidade unitária que integra
diferentes capacidades (Almeida, 1988).
Metodologia
Participantes
Para este estudo foram seleccionados 48 estudantes do 1º ano e 3º ano (24 homens e
24 mulheres) distribuídos em dois grupos de cursos, sendo Humanidades (Psicologia Escolar
8 = 4, 1º ano e 4, 3º ano; Ensino Básico 8 = 4, 1º ano e 4, 3º ano; História 8 = 4, 1º e 4, 3º ano
e Geografia 8 = 4, 1º ano e 4, 3º ano) e Ciências (Matemática 8 = 4, 1º ano e 4, 3º ano e
Química 8 = 4, 1º ano e 4, 3º ano). Responderam ao nosso questionário 35 estudantes (16 do
1º ano e 19 do 3º ano dos quais 17 mulheres e 18 homens). Critérios usados nesta amostra
foram: (i) número igual entre homens e mulheres, (ii) nível em que se encontram a estudar, e
o tipo de curso a frequentar.
10O estudante que reprovar mais de duas vezes ao longo do curso, de ano, na mesma disciplina ou actividade curricular
está impedido de continuar os estudos naquele curso por um período de três anos.
Instrumentos
Para avaliar como é que os estudantes da Universidade Pedagógica organizam o seu
estudo, usamos um questionário com treze (13) perguntas abertas previamente elaboradas,
e.g. (1) Como é que você estuda os textos de apoio?; (4) Como faz para entender bem as
matérias leccionadas e discutidas nas aulas?; (6) Como é que sabe diferenciar quando o seu
estudo está bem e quando está mal organizado?; (11) Que qualidades podem diferenciar um
estudante mais eficiente de um estudante menos eficiente numa aula da Universidade?; entre
outras. A opção foi por inquérito escrito versus entrevista dado o interesse de obter um maior
número de respondentes.
Procedimentos
Para se proceder o preenchimento do questionário, os estudantes foram contactados
em tempos lectivos de aulas e/ou em intervalos, num espaço de quinze e vinte minutos.
Seleccionados aleatoriamente, a sua participação apenas avançava se estes expressassem o
seu consentimento informado. Após compilação dos dados por perguntas, organizamos
categorias para cada uma dessas perguntas, através das sínteses de respostas dadas, para
análise de conteúdo que a seguir apresentamos e discutimos.
Resultados
Os dados foram organizados em categorias, pergunta a pergunta, como forma de um
entendimento mais detalhado de como os estudantes organizam e percebem a sua
aprendizagem quotidiana. Na Tabela 1 apresentamos a frequência de respostas, aludindo às
percentagens estimadas dada a sua mais fácil compreensão. Por outro lado, foi nossa intenção
diferenciar categorias que, ainda que próximas, permitem alguma diferenciação dos discursos
escritos dos alunos.
No que concerne ao comportamento que tomam ao estudar, a larga maioria dos (70%)
esforçam-se para níveis elevados de concentração no que estão a ler. Essa atitude leva
naturalmente a uma melhor compreensão das matérias. Outros, 12,5% dos alunos afirmam
que estudam sem esforço; 4 (8,3%) dizem que estudam sublinhando o importante e só 2
(4,2%) estudam fazendo esquemas. Nesta pergunta nota-se a preocupação dos estudantes em
estar atentos para compreenderem a matéria, o que aliás se traduz em comportamentos
activos na realização dos resumos (Tabela 3).
Para fazer resumo de obras recomendadas, 58,3% dos estudantes disseram que anotam
aspectos importantes e fazem ficha de leitura para fazerem o resumo; enquanto 27,1%
reescrevem as ideias-chave com uma linguagem mais apropriada à sua compreensão. Só 5
(10,4) estudantes dizem que, para fazer resumos de obras, sublinham os aspectos importantes.
Esta intencionalidade no estudo dos estudantes encontra-se também presente quando passam
apontamentos nas aulas (Tabela 4).
Categoria Frequência %
Tabela 5 - Como faz para entender as matérias leccionadas e discutidas nas aulas
Categoria Frequência %
Para entender as matérias leccionadas e discutidas nas aulas, 37,5% dos estudantes
preferem fazer resumos e ler repetidamente ao passo que 12 (25%) estudantes entendem
melhor quando discutem com os colegas. Por sua vez, 8 e 7 estudantes afirmam que para
entender melhor a matéria prestam atenção na explicação do professor e leem obras
recomendadas, respectivamente. Interessante que apenas um estudante refere entender melhor
relacionando as matérias leccionadas com a vida prática. Na Tabela 6 indicamos as categorias
de respostas obtidas pelos estudantes à questão sobre as motivações que os fazem estudar.
Para satisfazer os meus pais que exigem tanto que eu estude 1 2,1
Quando quisemos saber que motivações os levam a estudar, 35,4% dos estudantes
consideram como motivação o obterem mais conhecimentos, havendo 16,7% que estudam
para ter uma estabilidade financeira ou uma estabilidade familiar e ajudar a sociedade,
respectivamente. Um outro grupo de 7 sujeitos estuda para poder ter emprego no futuro,
havendo ainda um número mínimo de alunos referindo o estudar para transmitir
conhecimentos aos outros com segurança e domínio, o ter paixão com o curso e o satisfazer o
desejo dos pais. Estas motivações estão presentes, de algum modo, nas respostas dadas às
razões para a frequência do seu curso (Tabela 7).
Ao nos interessarmos por saber quais eram as razões para frequentarem o curso em
que se encontravam inscritos, verificamos uma relativa heterogeneidade de respostas ou
justificações. Assim, 22,9% dos estudantes responderam que estão na universidade e a
frequentar o seu curso apenas para ter um curso superior e 10,4% referem ser o curso dos
seus sonhos. Por sua vez, 16,7% dos estudantes referem que o que os motiva a frequentar o
curso é a necessidade que têm para ajudar os outros e porque gostam da cadeira, e.g.
Química. Outros 15 estudantes, distribuídos em dois grupos de 5 (10,4) para cada resposta
afirmam que frequentam o curso para contribuir na educação da sociedade e do País e por se
relacionar com a carreira docente da qual fazem parte. No final, 6 sujeitos distribuídos em 3
(6,3) estudantes afirmam ser razões da sua frequência no curso em que se encontram: ser
doutor e alguém na sociedade e ser o único curso que tinha um número de vagas,
relativamente maior.
Tabela 8 - Como é que sabe diferenciar quando o seu estudo está bem e quando está mal
organizado?
Categoria Frequência %
Em relação a esta pergunta, 29,2% dos estudantes sentem que o estudo está bem ou
mal organizado através da sua intervenção ou não em sala de aula, enquanto 20,8% sentem-se
bem quando conseguem ultrapassar os vários desafios que a cadeira em estudo oferece; e
18,8% sentem-no através das notas que recebem nos testes. Outros, em número disperso de 5,
4 e 2 estudantes dizem que o estudo está bem organizado através do nível de preparação que
pode ser positivo ou negativo, através do seu desempenho nas discussões da aula e quando
não conseguem conciliar o tempo de estudo de todas as cadeiras. Na linha da auto-regulação
da aprendizagem, na Tabela 9 os alunos descrevem o entendimento que fazem sobre um
aluno bem organizado no seu estudo.
Categoria Frequência %
Descrevendo o estudante bem organizado no seu estudo, 31,3% dos alunos apontam
que tal estudante faz um plano de estudo e o cumpre rigorosamente, ao mesmo tempo que
outros 18,8% sugerem uma organização sequencial da matéria. Por outro lado, 7 estudantes
dizem que o estudante é bem organizado quando tem um bom desempenho na sala de aulas e
no grupo de trabalho, havendo igual número a apontar o aluno que prepara as aulas com
antecipação (aliás outros 8 alunos vão no mesmo sentido dizendo que um estudante bem
organizado faz todos os trabalhos dentro dos prazos). Estes valores invertem, de algum modo,
as respostas constantes da Tabela 10 referente a um aluno desorganizado no seu estudo.
Categoria Frequência %
Tabela 11 - O que acontece no seu estudo quando está perante uma matéria que lhe parece
difícil de compreender?
Categoria Frequência %
Perante uma matéria mais difícil, 43,8% dos estudantes dizem procurar ajuda dos
colegas ou do professor, enquanto 27,1% prefere fazer mais leituras e investigação. A par
destes comportamentos proactivos, importa não descurar 22,9% dos estudantes que dizem
ficar nervosos ou stressados. De referir que 3 alunos sugerem o prestar mais atenção à
explicação do professor. Na Tabela 12, descrevemos o que os alunos pensam sobre a ajuda
dos professores à melhoria do seu estudo.
Tabela 12 – O que podem fazer os professores para ajudar os estudantes a melhorar o seu
estudo?
Categoria Frequência %
As opiniões dos alunos são bastante diversas sobre a ajuda que os professores podem
prestar. As sugestões passam por melhor preparação do professor e indicações concretas de
ajuda aos alunos, explicar com material didáctico, tomar em atenção os alunos mais fracos e
motivá-los. Alguns estudantes, em menor número, aconselham o uso de metodologias
participativas, as explicações fora do período lectivo e o incentivo através de trabalho e
exercícios em grupo e/ou individualmente. Estas considerações repetem-se, de algum modo,
quando se reportam à ajuda dos colegas (Tabela 13).
Tabela 13 - Que actividades podem fazer os colegas para ajudar um estudante a melhorar o seu
estudo?
Categoria Frequência %
Ensinar os métodos de estudo 3 6,3
Convidar para um estudo em grupo 23 47,9
Dar explicação sobre a matéria que necessita 17 35,4
Dar moral ao colega 5 10,4
Quase metade dos alunos (47,9%) propõe o convite para o estudo em grupo,
acrescidos de 35,4% que afirmam que o ideal é a explicação sobre as matérias aos alunos
mais fracos e, ainda, mais 6,3% sugerindo que ensinem aos colegas métodos de estudo. De
acrescentar que 10% dos respondentes sugerem o apoio moral aos colegas com mais
dificuldades. Na Tabela 14 indicamos as respostas dos estudantes à questão sobre o que
diferencia os alunos mais e menos eficientes.
Categoria Frequência %
A eficiência dos alunos passa, para a larga maioria dos alunos, por qualidades como
sentido de responsabilidade, comprometimento, dedicação e dinamismo, a par, também, o
interesse e a organização. De referir que 16,7% dos alunos afirmaram essa diferenciação
através das notas ou do aproveitamento, apontando 2 e 1 alunos a diferença no controlo do
tempo e na frequência às aulas. No quadro 15 indicamos como o aluno mais e menos
eficiente estuda para se preparar para a avaliação (exames).
Tabela 15 - Como é que estuda o aluno mais e menos eficiente para se preparar para os exames
no final do semestre a uma disciplina?
Considerações Finais
Referências bibliográficas
Resumo
Moçambique tem-se debatido com várias adversidades no caminho para a consecução dos três
eixos principais do Plano Estratégico da Educação, nomeadamente, (i) assegurar a inclusão e equidade
no acesso e retenção na escola; (ii) melhorar a aprendizagem dos alunos e (iii) garantir uma boa
governação do sistema. Alinhado com o segundo dos eixos referidos, este trabalho mostra como e que
se enaltecem algumas práticas com forte impacto na melhoria da aprendizagem dos alunos. Os
exemplos são de uma escola que não obstante a carência de recursos com que se debate,
particularmente os de ensino e de aprendizagem, entre professores e alunos, tem conseguido alcançar
notáveis progressos a partir da adopção de estratégias quer para o trabalho didáctico no contexto de
turmas numerosas, quer no sentido de suprir a carência de livros, cadernos, lápis, materiais
imprescindíveis na aprendizagem da leitura e da escrita.
Introdução
O acesso à educação constitui um direito fundamental de todo o ser humano.
Moçambique, como estado-membro da Organização das Nações Unidas, é signatário da
Convenção sobre os direitos da Criança bem como de outros acordos ou tratados
internacionais como de Jomtien e de Dacar que têm em vista criar as condições que permitam
à criança o crescimento saudável e o desenvolvimento da sua personalidade. Não se trata, na
verdade, de apenas assegurar que as crianças tenham acesso à educação, mas também de
assegurar que elas desenvolvam plenamente as suas aptidões e capacidades e a sua
personalidade, o que é igualmente reconhecido pelo Estado ao identificar a melhoria da
aprendizagem dos alunos como um dos três principais objectivos do Plano Estratégico da
Educação, 2012-2016 (Conselho de Ministros, 2012). Entretanto, em muitos países como
11
É docente da Universidade Pedagógica afecto no Departamento de Ciências da Educação, na Faculdade de
Ciências da Educação e Psicologia. (dmombe@up.ac.mz)
Com o presente texto pretendo mostrar que mesmo em situações de pobreza como a
da Comunidade de Uampaco, é possível desenvolver estratégias para assegurar que cada
criança não só tenha acesso como também permaneça e desenvolva as suas potencialidades
na escola. Aliás, compreender o que se passa nas escolas e nas salas de aula é, segundo
Jacques Hallak12, uma condição prévia para a melhoria mais eficaz da qualidade (da
educação). Pretende-se, ainda, enaltecer e divulgar as boas práticas identificadas na Escola de
Uampaco como contribuição para que em outras escolas possam encontrar subsídios e
inspiração para a busca contínua de estratégias para a melhoria da aprendizagem escolar.
A Escola de Uampaco
13UDEBA: Unidade de Desenvolvimento da Educação Básica, é uma Associação de carácter nacional, fundada em 2004,
que agrega educadores e interessados no desenvolvimento de educação básica em Moçambique. Define como sua tarefa
contribuir para o desenvolvimento da educação básica, fazer com que seja relevante e significativa, com base
por crianças que, por vezes, percorrem 2-4 Km à pé de casa para a escola e vice-versa, pois
para a maioria das zonas de origem não há transporte para assegurar a ligação casa-escola ou
ainda porque as famílias não dispõem de condições para o seu pagamento. Ao analisar as
causas do abandono escolar, particularmente nas zonas rurais dos países em
desenvolvimento, como é o caso de Moçambique, Lemmer aponta as longas distâncias entre
a escola e a casa entre as principais variáveis que frequentemente interferem no abandono
escolar (2006, 82).
A EP1 de Uampaco, tal como na maioria das escolas do Distrito de Bilene, funciona
em regime de dois turnos diários: entre 7.15 e 12.15 e o segundo, entre as 12. 30 e 17.30hrs.
Nesta escola trabalham actualmente seis professores, sendo uma delas a Noémia Chitlango
que exerce igualmente o cargo de Directora. Durante 17 anos de exercício da actividade
docente, a professora Noémia Chitlango, a Directora, não havia ainda frequentado qualquer
curso de formação inicial, senão cursos de capacitação de que já não sabe exactamente o
número. Apenas em 2013 é que concluiu o seu primeiro curso de formação inicial (10ª+2)
através da modalidade de ensino à distância. A experiência profissional que foi adquirindo ao
longo do tempo torna-a hoje uma professora muito admirada e reconhecida, constituindo
ainda uma referência no trabalho pedagógico-didáctico ao nível do distrito de Bilene. O seu
saber prático pode ser comparado à situação descrita por Carbonneau & Hétu para
caracterizar o nascimento do que designam por inteligência profissional. Para estes autores,
Depois de certo tempo de prática, o saber acadêmico torna-se o segundo, enquanto a prática
profissional torna-se o primeiro na conduta empreendida pelo profissional para continuar a construir
sua competência. (...) A transformação da prática educativa e do saber do professor está estreitamente
ligada à transformação da identidade pessoal e profissional (2001, 66).
no envolvimento e participação activa das comunidades bem como a promoção de pesquisa e experimentação
(http://www.udeba.org)
Tal como a maioria das populações das zonas rurais, muitas crianças que frequentam
a EP1 de Uampaco é oriunda do meio social e económico desfavorecido. Algumas crianças
têm de realizar diversas actividades antes de irem à escola – levar o gado à pastagem, ir à
machamba, cuidar dos irmãos mais novos quando os pais se ausentam, etc., o que faz com
que, por vezes, cheguem atrasadas às aulas. Algumas destas crianças vão à escola sem
material suficiente para a aprendizagem incluindo o livro escolar que recebem gratuitamente
do Estado ou que este já se encontre em avançado estado de degradação, conforme se ilustra
na imagem abaixo obtida nesta escola. Comum a muitas crianças deste país, este cenário não
propicia um ambiente favorável ao desabrochar das capacidades da criança e, ao mesmo
tempo, coloca desafios acrescidos aos professores com vista a promover o desenvolvimento
da sua personalidade. Segundo Carron & Châu (2006, 37/41) o acesso limitado à
comunicação escrita fora da escola, como acontece tendencialmente nas zonas rurais,
constitui uma situação preocupante, o que é agravado quer pela diferença entre a língua
falada em casa e a língua de ensino, quer pelo nível de instrução dos pais, torna limitadas as
oportunidades de praticarem a leitura e a escrita e torna difícil o apoio dos pais nas tarefas
escolares dos seus educandos.
assegurar o mínimo de material com vista à sua participação nas actividades de aprendizagem
na escola.
A compreensão de que não basta assegurar que as crianças tenham acesso à Escola,
mas que seja necessário oferecer condições para que elas possam permanecer naquele
ambiente e, ao mesmo tempo, adquirirem os conhecimentos que as permitam melhorar a sua
vida, a vida da sua família, da sua comunidade e do país em geral (MINED, 2003:7), levou a
equipe de professores da Escola a iniciar com um projecto de horta escolar, orientando-se em
dois objectivos principais: (1) ensinar membros da comunidade a produzirem localmente
algumas hortícolas de modo a (a) melhorarem a dieta alimentar; (b) aumentarem as rendas
através da comercialização dos excedentes; (c) reduzirem os custos de transporte e de
aquisição de hortícolas na Vila-Sede; e (2) adquirir materiais escolares para apoiar crianças
necessitadas com base na venda da produção escolar (MINED, 2003).
material básico como o caderno, o livro, o lápis e a borracha a sua participação nas aulas é
bastante limitada. Quando se trata de classes iniciais a situação é ainda mais grave, pois as
crianças devem exercitar a leitura, a escrita e o cálculo tanto na escola como em casa.
Outra forma de tutoria usada pela professora Noémia Chitlango é entre pares – ensino
entre pares, também designada por tutoria entre iguais ou aprendizagem de pares. Esta
estratégia de ensino consiste em escolher alunos-tutores que possam ajudar colegas com
dificuldades na compreensão ou na realização de determinadas tarefas (Lopes & Silva 2010,
233). Após a confirmação do entendimento da matéria ou a correcção dos exercícios pela
professora, os alunos-tutores, são envolvidos na facilitação da aprendizagem dos colegas,
tarefa realizada com muito entusiasmo. Tal como Philip citado por Lopes & Silva (2004, 234)
advoga que a eficiência é maior quando as tutorias ocorrem ainda na fase da aquisição, tal
como a professora Noémia Chitlango o tem feito. O facto de receberem ajuda de alguém que
se identifica mais com as dificuldades que sentem do que o próprio professor constitui
segundo Lopes & Silva, um potencial elemento motivador para o tutorando.
professora Noémia Chitlango, esta prática tem sido bem acolhida por parte dos pais e
encarregados de educação, não obstante exigir muita persistência na sensibilização destes.
A terminar
Num contexto em que as dificuldades são muitas, as boas práticas vão sendo ‘engolidas’
pela concentração nos problemas. Todavia, identificar e divulgar as boas práticas pode
contribuir para a auto-superação dos professores e melhoramento contínuo do seu trabalho.
Com este texto pretendi mostrar e exaltar os esforços que um grupo de professores engajados
está a realizar com vista a tornar a escola um verdadeiro bem comum da Comunidade. Para o
efeito, a Escola Primária de Uampaco procura, em suma:
(...) o desenvolvimento profissional de cada professor se torna mais consistente e facilitado num clima de
cooperação entre os pares, de solidariedade e de inter-ajuda face a dificuldades, na partilha dos sucessos e
de reflexão alargada sobre a fortíssima fonte de conhecimento que a vida quotidiana de uma comunidade
educativa constitui” (op. cit., p50).
Parabéns à professora Noémia Chitlango e a toda a sua equipa pelo trabalho notável de
assegurar que as crianças daquela Comunidade, não obstante as adversidades de natureza
económica, social e material, encontrem na escola um ambiente favorável para o desabrochar
das suas capacidades e potencialidades e para que cresçam felizes e saudáveis e estejam
preparadas para enfrentar os desafios de um mundo em constantes mudanças!
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Carron, G. & Châu, T. N. (20069. A qualidade das escolas primárias em diferentes contextos
de desenvolvimento, 1ª Ed., UDEBA, Maputo;
Coll, C. & Solé, I. (2004): Ensinar e aprender no contexto da sala de aula. In: Coll, C.,
Marchesi, A. & Palancios, J. (20049): Desenvolvimento Psicológico e Educação, 2ª Ed.,
Artmed, Porto Alegre;
Domingos, A. M., Neves, I. P. & Galhardo, L. (1981): Uma forma de estruturar o ensino e a
aprendizagem, Livros Horizonte
RESUMO
Introdução
Uma educação inclusiva com qualidade justifica conhecer o aluno nas suas potencialidades e
fragilidades em termos cognitivos, socioemocionais e de aprendizagem, mas precisa também de
professores preparados para atender a essa avaliação especializada e à programação, implementação e
avaliação das medidas inclusivas adequadas a cada aluno (Forlin, 2010; Rodrigues & Rodrigues,
2011).
(…) a educação inclusiva não se justifica hoje simplesmente porque é eficaz, porque
dispensa os elevadíssimos custos das escolas especiais, porque corresponde ao desejo dos
pais. Embora todas estas sejam vantagens inegáveis, a razão última que a baseia consiste
na defesa do direito à plena dignidade da criança como ser humano, livre e igual em
direitos e dignidade (p. 25).
A este propósito, um dos aspectos que tem merecido espaço privilegiado nas discussões a
nível mundial sobre a construção e implementação de práticas bem-sucedidas em educação inclusiva é
15
Universidade Pedagógica, Moçambique, gildonhapuala@yahoo.com.br
16
Universidade do Minho, Portugal
a formação dos professores, sendo cada vez mais consensual que a adequada formação inicial e
contínua de professores é crucial para o sucesso da implementação da educação inclusiva (Ainscow,
1993; Correia, 2013; Nhapuala, 2014; Rodrigues, 2001; Silva, 2001). Assim, nunca é demais
sublinhar, também a propósito da educação inclusiva, que “melhores professores são condição
necessária para melhor escola” (Grácio, 1995, p. 229).
Neste sentido, e para o caso de Moçambique onde de forma cada vez mais crescente a
investigação em educação inclusiva vai se estabelecendo, julgamos ser relevante a existência de
instrumentos adequadamente construídos e validados para darem suporte à investigação e prática nas
suas mais diversas facetas. Este estudo encerra em si esse compromisso, fundamentalmente com
preocupações centradas na construção e validação de um instrumento que explora concepções,
formação e prática dos professores do ensino básico em relação à educação inclusiva e que possa ser
usado na investigação e prática nesta área. Com efeito, neste artigo apresentamos os resultados do
processo de construção e validação de uma escala que busca responder a essa nossa preocupação.
Método
Amostra
77.2% dos sujeitos da nossa amostra tem mais de 6 anos de experiência profissional como professores
no ensino básico.
Instrumento
O estudo foi feito com recurso a uma escala que explora às concepções, formação e prática de
professores do ensino básico em Moçambique no contexto da educação inclusiva (Nhapuala &
Almeida, 2014). Composta inicialmente por 40 itens em formato likert de 5 pontos o instrumento
apresenta três dimensões nomeadamente: (i) concepções sobre educação inclusiva, (ii) percepção dos
professores em relação a qualidade da formação inicial recebida, e (iii) percepção do professor sobre a
sua preparação para trabalhar em escolas inclusivas. A versão final contempla 29 itens e mantém a
estrutura tridimensional inicial tal como descreveremos mais adiante.
Procedimento
Resultados
primeiro factor, com um valor próprio de 9.98, explica 24.9% da variância total (ou seja, um único
factor explica um quarto da variância possível nos resultados dos 40 itens).
Itens Componentes
I II III
CTEI10 .707
CTEI14 .703
CTEI13 .693
CTEI8 .688
CTEI4 .676
CTEI9 .665
CTEI15 .660
CTEI12 .658
CTEI6 .646
CTEI7 .611
CTEI1 .538
QRFR1 .300
CEI5
QRFR4 .651
QRFR5 .600
QRFR13 .593
QRFR3 .578
QRFR6 .517
QRFR10 .505
QRFR11 .474
QRFR8 .397
CEI6
CEI9 .515
CEI1 .498
CEI8 .487
CEI2 .451
CEI7 .432
CEI4 .410
CEI3 .382
CEI10
Itens Componentes
I II III
CTEI14 .726
CTEI13 ,696
CTEI8 ,694
CTEI10 ,691
CTEI15 ,684
CTEI12 ,674
CTEI9 ,669
CTEI4 ,665
CTEI5 ,658
CTEI6 ,635
CTEI7 ,623
CTEI3 ,588
QRFR4 ,681
QRFR5 ,636
QRFR13 ,607
QRFR3 ,598
QRFR12 ,596
QRFR6 ,517
QRFR11 ,498
QRFR10 ,489
QRFR2 ,476
CEI1 ,597
CEI9 ,577
CEI2 ,546
CEI7 ,512
CEI4 ,494
CEI8 ,471
Feita esta análise, a escala inicialmente composta por 40 itens ficou reduzida a 29 itens
agrupados em três dimensões. A primeira, que face ao conteúdo dos seus itens traduz as concepções
dos professores sobre a educação inclusiva, ficou mais reduzida, passando de 10 itens para seis em
virtude da eliminação de quatro itens (itens 3, 5, 6 e 10). Pelo conteúdo dos seus itens esta dimensão
da escala passa a designar-se “Concepções sobre educação inclusiva”. A dimensão “Qualidade da
formação” reúne 11 itens face aos 15 itens iniciais, tendo sido excluídos os itens 1, 7, 8 e 15. A última
dimensão, designada “Competência para intervir/trabalhar em educação inclusiva”, passou de 15 para
12 itens em face da eliminação dos itens 1, 2 e 11. Todos os itens retidos apresentam carga factorial
igual ou superior a .47 no respectivo factor ou dimensão da escala e são bastante escassos os itens que
saturam simultaneamente em mais que um factor (apenas dois itens nos 29 itens retidos) aceitando-se
esta ocorrência dada a proximidade dos aspectos a avaliar em cada dimensão.
Em síntese, e tendo em vista a utilização desta escala nas análises subsequentes tomaremos
três dimensões: (i) Concepções sobre educação inclusiva (no fundo as cognições, representações e
percepções dos professores sobre o tema); (ii) Qualidade da formação inicial recebida (percepções dos
professores sobre a qualidade da sua formação, as oportunidades formativas teórico-práticas que
tiveram tendo como pano de fundo a educação inclusiva); e (iii) Competência para trabalhar em
educação inclusiva (autoavaliação das competências profissionais detidas para lidar em contexto
escolar e de sala de aula com alunos com NEE no quadro de uma escola inclusiva). Para uma melhor
sistematização das três dimensões, e do seu real significado em termos de validade do constructo,
apresentamos na tabela 3 a saturação dos itens nos três factores, mas descrevendo agora o conteúdo de
cada item para melhor entendermos o significado dado a cada dimensão. Indicamos, ainda, as cargas
factoriais, podendo assim ver os itens mais e menos determinantes para cada dimensão o que também
é relevante na definição do significado de cada dimensão.
Descrição do item F1 F2 F3
Qualidade da QRFR2 A formação inicial que tive preparou-me para ensinar .476
formação conteúdos desta disciplina
CTE3 Sinto que tenho preparação pedagógica para dar aulas .588
em turmas inclusivas
Competência
para trabalhar CTEI4 Sinto-me preparado implementar estratégias .665
em educação diversificadas para atendimento a crianças com NEE
inclusiva em turmas regulares
turmas inclusivas
interna dos itens para cada dimensão tomando as correlações dos resultados em cada item e total da
dimensão de pertença.
elevada em função da escala likert usada (valores entre 3.6 e 4.3), ou seja, os professores têm uma
tendência para apresentar uma concepção muito positiva sobre o tema, o que também pode significar
respostas contaminadas pelo efeito da “desejabilidade social” muito presente neste tipo de escalas e
neste formato de itens.
Esta autoavaliação positiva por parte dos professores parece também observar-se numa menor
dispersão dos resultados (vários itens com desvio-padrão abaixo da unidade), traduzindo que essa
percepção positiva é comum a todos os professores da amostra. Por outro lado, a validade interna ou
correlação do item com o total da subescala apresenta valores muito próximos mas bastante reduzidos,
mais concretamente entre .22 e .34, o que parece explicar o fraco índice de consistência interna dos
itens desta subescala (alpha de Cronbach de .56, um pouco inferior ao índice de .70 exigido neste tipo
de escalas (Almeida & Freire, 2010). Para acrescentar mais dificuldades à precisão dos resultados
desta subescala, importa referir que estamos face à dimensão que acabou por ficar com um menor
número de itens (n=6), o que também não favorece à obtenção de valores mais elevados de
consistência interna (alpha de Cronbach). Face à estes valores, em futuras pesquisas importa
aprofundar o significado desta subescala e acrescentar itens mais interessantes à avaliação desta
dimensão que nos parece relevante na descrição do posicionamento dos professores relativamente à
educação inclusiva (as suas opiniões, percepções e atitudes para com esta nova realidade e filosofia
educativa).
Uma situação bastante diferente ocorre quando analisamos os resultados nos itens da
dimensão “Qualidade da formação”. Neste caso as médias oscilam numa maior amplitude de valores
(entre 2.5 e 3.8), não havendo ainda valores muito elevados ou próximos do ponto máximo da escala
likert utilizada (não parece haver nesta dimensão o efeito da desejabilidade social nas respostas dos
professores). Por outro lado, todos os valores de desvio-padrão se situam acima da unidade,
significando diversidade de respostas por parte dos professores. Por último, os itens apresentam
índices elevados de correlação com a pontuação total da subescala, oscilando entre .35 e .64, pelo que
nenhum item se eliminado faz subir o valor do coeficiente alpha de Cronbach obtido, aliás já bastante
elevado (.83).
Finalmente, também se obtiveram bons índices estatísticos para os itens da terceira dimensão
da escala, ou seja, para a subescala “Competências para trabalhar em educação inclusiva”. A média
das pontuações nos itens desta subescala oscila entre 3.2 e 3.7, o que traduzindo menor variabilidade,
mesmo assim assegura um desvio-padrão em torno da unidade para a generalidade dos itens. Por
outro lado, são muito bons os coeficientes de correlação entre os resultados nos itens e o total da
subescala, com valores a oscilar entre .54 e .68, o que se traduz em duas implicações importantes: (i)
um excelente nível de consistência interna (alpha de Cronbach de .91), e (ii) nenhum item se
eliminado favorece a precisão, fazendo aumentar o coeficiente alpha obtido.
Afirmada a existência de três dimensões para a escala de avaliação usada junto dos
professores da amostra, seja em termos teóricos seja em termos dos resultados obtidos com a análise
factorial dos itens, importa agora descrever os resultados nas três dimensões em termos de valores
mínimo e máximo, de média e de desvio-padrão, assim como de assimetria e curtose (neste último
caso apreciando se os resultados finais nas três dimensões se distribuem segundo as leis da curva de
Gauss ou curva normal). De referir que, para tornar comparáveis os resultados obtidos nas três
dimensões, optámos por dividir o somatório das pontuações pelo número de itens. Este procedimento
torna-se necessário em virtude das três dimensões não terem um mesmo número de itens. Assim, os
resultados podem oscilar entre 1 e 5, repetindo a escala likert em que a resposta a cada item está
formulada.
Como podemos verificar, observa-se uma boa amplitude de respostas dos professores da
amostra nas dimensões 2 e 3 (respetivamente formação e competência). Como já havíamos afirmado
atrás, na dimensão 1 (concepções) os professores tenderam a dar respostas mais favoráveis,
interpretando isso como maior interferência da “desejabilidade social” nas suas respostas, e daí o
valor mínimo das pontuações dos professores aproxime-se de 2 (mais concretamente 1.7). Esta
situação está igualmente patente na média obtida. Nesta primeira dimensão, a média aproxima-se de
4.0 (quando o limite seria 5), sendo mais apropriadas as médias nas duas outras dimensões, aliás
nestas duas dimensões obtêm-se níveis mais elevados de variabilidade de valores como transparece no
valor do desvio-padrão mais elevado.
Finalmente, os índices de assimetria e de curtose dos resultados nas três dimensões não se
afastam dos limiares exigidos por uma distribuição gaussiana ou respeitando as leis da curva normal.
Assim, em nenhuma das dimensões os índices de assimetria e de curtose se afastam expressivamente
de zero, situando-se sempre abaixo da unidade denotando uma distribuição que se antecipa
respeitando a normalidade.
Considerações finais
Das três dimensões teorizadas e dos 40 itens que compunham a versão inicial da escala
chegámos a uma versão final que integra 29 itens e mantém a estrutura tridimensional do instrumento
tal como inicialmente previsto. Os 29 itens repartem-se pelas três subescalas ou dimensões, com base
nas análises factoriais realizadas (validade interna da escala). Assim, a primeira referente às
concepções dos professores comporta 6 itens, a apreciação da formação inicial recebida tem 11 itens e
a competência percebida para trabalhar em educação inclusiva tem 12 itens. Os resultados da
consistência interna dos itens das três subescalas que compõem o instrumento mostraram-se
adequados para o objetivo de validação do instrumento, superando o limiar exigido de .70 (alpha de
Cronbach) nas dimensões 2 e 3. A outra dimensão apresentou um alpha de .56, podendo isso ocorrer
devido ao facto de ter apenas seis itens, justificando estudos posteriores e podendo merecer a
integração de mais alguns itens para dar maior precisão aos seus resultados.
Pelo exposto, cremos estarem reunidas evidências suficientes de validade e precisão que
legitimam o uso desta escala na investigação e intervenção junto de professores moçambicanos.
Reunindo essas qualidades, pensamos que a própria escala passa a ser um instrumento que pode ser
utilizado em outros estudos e, assim, em diferentes momentos ou em diversas regiões de
Moçambique, e converter-se num contributo decisivo para informar como pensam e actuam os
professores, e como devem ser as práticas existentes para a sua formação inicial e contínua.
Referências bibliográficas
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(Ed.), Is there a desk with my name on it? The politics of integration (pp. 201-218). London:
Palmer Press.
Chambal, L. J. (2012). A formação inicial de professores para inclusão escolar de alunos com
deficiência em Moçambique. Tese de doutoramento não publicada. São Paulo: Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo.
Costa, A. M. B. (1999). Uma Educação Inclusiva a partir da Escola que temos. In Uma Educação
Inclusiva a partir da Escola que temos (pp. 25-36). Lisboa: Conselho Nacional de Educação.
Forlin, C. (2010). Reforming teacher education for inclusion. In C. Forlin (Ed.), Teacher education
for inclusion: Changing paradigms and innovative approaches. Oxon: Routledge Tailor and
Francis.
Hargreaves, A. (1994). Changing Teachers, Changing Times. Teachers' Work and Culture in the
Postmodern Age. London: Cassell.
Rodrigues, D. (2001). Educação e diferença: Valores e práticas para uma educação inclusiva.
Porto: Porto Editora.
Rodrigues, D., & Rodrigues, L. L. (2011). Formação de Professores e Inclusão: Como se reformam
os reformadores? In D. Rodrigues (Org.), Educação inclusiva dos conceitos às práticas de
formação (pp. 89-108). Lisboa: Instituto Piaget.
Resumo
O programa “Escola à Tempo Inteiro” (ETI) do Ministério da Educação (ME) iniciado nas
escolas públicas em 2006 veio generalizar o acesso à prática, de forma gratuita, de um conjunto de
aprendizagens enriquecedoras do currículo a todos os alunos do 1º Ciclo, com o objectivo de melhorar
os resultados escolares dos alunos, ao mesmo tempo que responde às necessidades sociais das famílias
em prolongar a permanência das crianças nas escolas (Relatório da CAP 2007-2008). Importa agora
verificar se os objectivos propostos foram alcançados e em que medida. O presente trabalho apresenta
os resultados de um estudo realizado numa amostra de 597 alunos que concluíram o 6º ano e o 9º ano
no ano lectivo de 2011/21012. Os resultados do referido estudo dão conta de uma clara melhoria no
desempenho académico dos alunos que frequentaram actividades de enriquecimento curricular
durante o primeiro ciclo.
INTRODUÇÃO
17
Faculdade de Ciências Sociais/ Universidade Católica Portuguesa. Braga,
Portugal.euriconavegadores@gmail.com
Este programa teve uma aceitação generalizada por parte das famílias, cada vez mais
ocupadas com os seus compromissos profissionais, remetendo para as escolas a
responsabilidade de organizar o tempo livre das crianças (Azeredo, 2006). A gratuitidade do
programa é referida como uma vantagem que permite o acesso universal ao conjunto de
actividades propostas.
Fernandes (2009) estudou as alterações que as AEC vieram provocar nos tempos de
vida das crianças: verificou que de uma forma geral a implementação das AEC veio diminuir
os tempos de brincadeira e de estar com a família e para o estudo individualizado em casa.
Estribio (2010) defende que “o contributo que pode ser dado com a introdução e
implementação destas actividades de enriquecimento curricular deve poder ultrapassar a
melhoria do desempenho escolar e do aumento das competências ao pretender afirmar-se no
combate ao insucesso escolar e ao abandono escolar”.
OBJECTIVOS
Método
Formulação de hipóteses.
A escolha das diversas AEC implementadas nas escolas foi baseada em linhas
orientadoras da tutela, tendo em conta as necessidades comportamentais e académicas dos
alunos (Relatório da CAP 2007-2008). O estudo desenvolvido por Campos (2009) apresenta
um relatório técnico onde refere alguns casos de inovação e boas práticas de implementação
das AEC nas escolas. Ao nível das competências desenvolvidas, evidencia-se a capacidade de
saber trabalhar em grupo, a aquisição da noção de regras através do jogo. Assiste-se a um
Para além destas hipóteses formuladas, pretende-se também verificar se existe alguma
diferença no desempenho académico de alunos que frequentaram actividades de
enriquecimento curricular dentro da escola (AEC) e alunos que frequentaram actividade
extracurriculares fora da escola (AE). Dado o carácter exploratório desta questão, não foi
formulada nenhuma hipótese.
Descrição da amostra
Existe ainda outro facto diferenciador destes dois grupos: os alunos do 7º ano tiveram
acesso generalizado às AEC na escola, uma vez que o programa nacional “Escola à Tempo
Inteiro” se iniciou em 2006. Estes alunos estavam na altura no primeiro ano do primeiro
ciclo, e tiveram por isso a possibilidade de frequentar AEC na escola durante os quatro anos
do primeiro ciclo.
A recolha de dados foi realizada em quatro escolas do concelho de Braga, sendo duas
escolas da cidade e duas escolas da periferia num total de 40 turmas, sendo 19 turmas do 7º
ano, 15 turmas do 10º ano e 6 turmas de cursos profissionais. Destas turmas, 23 eram de
escolas da cidade e 17 eram de escolas da periferia. A tabela 1 descreve as características da
população inquirida.
Obtiveram-se em média 15 inquéritos por cada turma, num total de 597 inquéritos.
Participaram neste estudo alunos de ambos sexos com idades compreendidas entre os 12 e os
17 anos, a frequentar o 7º e o 10 º ano de escolaridade. A distribuição da população em
estudo encontra-se descrita na figura 1.
Questionário
Figura 3 - Média geral das notas dos alunos do 6º e 9 º anos com e sem frequência, no
primeiro ciclo, de actividades de enriquecimento curricular ou actividades extracurricular
(AEC ou AE).
Da análise dos resultados apresentados, verifica-se que as notas obtidas pelos alunos
que frequentaram AEC ou AE durante o primeiro ciclo foram superiores às dos alunos que
não as frequentaram. Verifica-se entre estes dois grupos uma diferença de 0,31 pontos na
média geral de todas as disciplinas, o que evidencia uma clara melhoria no desempenho
académico dos alunos que frequentaram actividades. Fica assim confirmada a hipótese H1
relativa à relação entre o desempenho académico e a frequência de AEC ou AE durante o
primeiro ciclo.
Análise dos resultados das classificações de cada disciplina obtidas pelos alunos de 6º e
9º anos de escolaridade
Dos 430 alunos que frequentaram AEC ou AE no primeiro ciclo, 300 alunos
frequentaram a actividade de Inglês, 90 frequentaram Música (apenas no 6º ano), 311 alunos
frequentaram Actividade Física e Desportiva e 23 alunos, a actividade de TIC (apenas no 9º
ano).
Na tabela 2 e na figura 4 estão representados os resultados obtidos.
Figura 4 - Média por disciplina das notas dos alunos do 6º e 9 º ano com e sem frequência,
no primeiro ciclo, de actividades de enriquecimento curricular ou actividades extracurricular
correspondente (AEC ou AE).
Análise dos resultados das classificações gerais de todas as disciplinas obtidas pelos
alunos de 9º ano de escolaridade, relativamente à frequência de TIC, no primeiro ciclo como
actividade de enriquecimento curricular (AEC) ou extracurricular (AE).
Foi calculada a média geral de todas as disciplinas obtida pelos 285 alunos de 10º ano
inquiridos. Destes, apenas 23 alunos frequentaram AEC ou AE de TIC.
Na figura 5 estão apresentados os resultados obtidos.
Figura 5 - Média geral das notas do 9 º ano com e sem frequência, no primeiro ciclo, da
actividade de enriquecimento curricular (AEC) ou extracurricular (AE) de TIC.
Figura 6 - Média geral das notas do 6 e 9 º anos de alunos que frequentaram actividades de
enriquecimento curricular (AEC) dentro da escola e dos que frequentaram actividades
extracurriculares (AE) fora da escola.
Verificou-se que os alunos que frequentaram AEC têm uma média muito semelhante à
dos alunos que frequentaram AE fora da escola com uma diferença de apenas 0,01 pontos.
CONCLUSÕES
Este estudo teve por objectivo verificar se a frequência das actividades de
enriquecimento curricular têm influência no rendimento académico do aluno. Estudaram-se
quatro aspectos: o rendimento global a todas as disciplinas relativo à participação em
actividades em geral, o rendimento de determinadas disciplinas relativamente à frequência da
actividade correspondente, o rendimento geral de todas as disciplinas relativamente à
frequência de TIC, e a diferença no desempenho académico das AEC frequentadas dentro da
escola e as AE frequentadas fora de escola
De uma forma geral, pode-se concluir o efeito claramente positivo da frequência das
actividades AEC e AE no desempenho académico dos alunos.
DGCI o que atrasou a recepção dos inquéritos. Por outro lado, foi preciso muita persistência
no contacto com as escolas, sendo necessário agendar reuniões com os directores das escolas,
relembrar e insistir com telefonemas e mensagens electrónicas.
BIBLIOGRAFIA
Lima, J. A; Catita, L.; Serôdio, R.G. (2011). Indicadores do impacto da implementação das
actividades de enriquecimento curricular: a satisfação dos alunos. Librio de Actas
do XI Congresso Internacional Galego-Português. A Coruña. Universidade da
Coruña. ISSN 1138-1663; p.1923-1931.
ANEXO A – TABELAS
Sexo
Feminino Masculino Total
Escolaridade
5 - Quanto
1 - Quanto à 2 - Quanto
3 - Quanto 4 - Quanto ao tempo
percepção há facilidade
ao tema ao nº de necessário
das de
abordado? perguntas? para
perguntas? responder?
responder?
1 – Fraco 0 0 0 0 0
2-Não
0 0 0 0 0
Satisfaz
3-Satisfaz 0 0 1 1 1
4-Bom 5 3 1 4 3
5-Muito Bom 10 12 13 10 11
Com Actividade
3,83 0,64 167
TIC
Sem Actividade TIC 3,52 0,58 430
Geral 3,74 0,64 597
Tabela A3 - Média geral das notas dos alunos do 6º e 9 º ano com e sem frequência, no primeiro
ciclo, de actividades de enriquecimento curricular ou actividades extracurricular (AEC ou AE).
Tabela A4: Média por disciplina das notas dos alunos do 6º e 9 º ano com e sem frequência, no
primeiro ciclo, de actividades de enriquecimento curricular ou actividades extracurricular
correspondente (AEC ou AE).
Com Actividade
3,88 0,6 23
TIC
Sem Actividade TIC 3,67 0,57 262
Geral 3,69 0,57 285
Tabela A5 - Média geral das notas do 9 º ano com e sem frequência, no primeiro ciclo, da actividade
de enriquecimento curricular (AEC) ou extracurricular (AE) de TIC.
Tabela A6- Média geral das notas do 6 e 9 º ano de alunos que frequentaram actividades de
enriquecimento curricular (AEC) dentro da escola e dos que frequentaram actividades
extracurriculares (AE) fora da escola.
Introdução
18
Doutor em Psicologia Cognitiva pela Universidade Federal de Pernambuco - Brasil, docente da Universidade
Pedagógica – Delegação de Nampula, Moçambique.abacarmussa@yahoo.com.br
19
Mestre em Psicologia Social e Institucional, Doutorando do Programa de Pós-graduação em Psicologia Social
e Institucional do Instituto de Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul-Brasil
20
Licenciado em Psicologia Educacional com Habilitações em Educação e Assistência Social pela Universidade
Pedagógica, Moçambique. Docente da EPC de Nchancha, Distrito de Muecate em Nampula
professorna China, que têm sido encontradas por pesquisadores da área em diferentes países:
1)Factores do aluno: a) indisciplina dos alunos, b) falta de motivação para os estudos e c)
pressãoem entrar no nívelseguinte de educação; 2) Factores de trabalho: a)
saláriosexcessivamente baixos, b) falta de autoridade e status social e, c) classes numerosas;
3) Factores organizacionais da escola: a) tensasrelações interpessoais, b) sobrecargade
trabalho edemaisresponsabilidadesnão educativas, c) falta de apoioe de reconhecimentoda
liderançae dos colegas, d) pressão de tempo, e) ineficácia das reformas educacionais,
confusão e conflito de papéis, f)mau clima escolar e de classe, g) pressão dos supervisorese
inspectores e, h) más condições de trabalho;4)Factores pessoais: a) altas
expectativaspessoais, b) incapacidade e c) exigências de trabalho; 5) Factoresextra-
escolares: a) pressão da sociedadee dos pais e b) redução de pessoal.
professores e os órgãos de gestão não têm consciência das manifestações da doença, suas
causas e seus efeitos (Abacar, 2015), bem como das estratégias de prevenção e intervenção.
literatura realizada, não foi identificado qualquer estudo sobre o fenómeno de burnoutem
professores moçambicanos do ensino secundário geral.
idade, sexo, estado civil, tempo de serviço, níveis de escolar e profissional, número de alunos,
classe que lecciona e carga horária semanal.
Método e materiais
Tipo de pesquisa
3 (algumas vezes por mês), 4 (uma vez por semana), 5 (algumas vezes por semana) e 6 (todos
os dias). Na versão adaptada para professores moçambicanos, todas dimensões do MBI-ES
apresentaram boa consistência interna. A dimensão Exaustão Emocional apresentou o alpha
de Cronbach 0,817, a de Despersonalização 0,801 e Realização Profissional de 0,756
(Abacar, Tarcísio, & Aliante, 2017).Os participantes foram convidados a avaliar o que
sentiam acerca do seu trabalho, assinalando a alternativa que melhor correspondia ao seu
caso.
Perfil da amostra
A amostra foi constituída por 250 professores moçambicanos de duas escolas do
ensino secundário geral localizadas na cidade de Nampula, sendo 136(54,4%) do sexo
masculino, 114 (45,6%) do sexo feminino.Com relação ao estado civil, 126 (50,4%) em
solteiros, 51 (20,4%) casados ou em união de facto, 44 (17,6%) separados e 29 (11,6%)
viúvos.
Quanto ao nível de formação 121 (48,4%) professores possuíam o nível de
licenciatura, 83 (33,2%) nível médio, 36 (14,4%) mestrado e apenas 10 (4,0%) o nível básico.
A maior parte dos professores, 173 (69,2%), leccionava o 1º ciclo (8ª a 10ª classe) e 77
(30,8%) leccionava no 2º ciclo (11ªa 12ª classe). A idade média dos professores era de,
aproximadamente, 39 anos (D.P. = 9,19 anos), numa variância de 25 a 67 anos. O número
médio de filhos é de 4 (D.P. = 2,61). A média de anos de experiência profissional de
docênciaé de 10 anos (D.P. = 7,12 anos), num intervalo de 1 a 35 anos.
Resultados e Discussão
Subescalas Itens M DP
Os resultados deste estudo são similares aos de Almeida et al. (2011) e Souza et al.
(2016) com amostras de professores. Almeida et al. (2011) revelaram os seguintes resultados:
a média do factorExaustão Emocional foi de 2,80 (DP = 0,87); para Realização Profissional a
média foi de 3,65 (DP = 0,59); finalmente, amédia do factorDespersonalização foi 1,98 (DP =
0,72). JáSouza et al. (2016), apontaram que a média da dimensão de Exaustão Emocional foi
de 2,05; na Despersonalização foi igual a 1,49 e na Realização Profissional foi 1,57.
Dimensões de burnout
Variáveis EE DE RP
r 0.154, p 0.05 .
Ou seja, os professores com filhos tendem a manifestarmaiorExaustão Emocional e
Despersonalização e, por conseguinte,menorRealização Profissional. Estasituação pode estar
associada ao sistema de gratificações que são mediante o nível académico e categoria do
professor. Assim, os professores com filhos, pouco escolarizados, podem se sentir menos
realizados profissionalmente, pois estes necessitam de mais recursos financeiros para fazer
face as despesas básicas de casa e da família (e.g., luz, água, produtos alimentícios, renda de
casa), bem como, despesas de saúde, educação e de transporte.
Quanto à variável “idade”, resultados deste estudo mostram que esta variável foi
estatisticamente significativa e positiva com duas dimensões de burnout(Exaustão Emocional
e Despersonalização), isto é, quanto maior for a idade maior é a tendência dos professores
experienciarem a exaustão emocional e adespersonalização e menor realização no trabalho.
Carlotto (2011) também constatou que quanto maior for aidade dos professores, maior é o
sentimento de distanciamentoemenoré ode realização notrabalho.
Variável categórica
Dimensõesdo
Masculino Feminino
Burnout
M DP M DP t d
EE 2,69 1,24 2,70 1,20 -0,04 -0,01
DE 2,44 1,40 2,60 1,18 -0,92 -0,12
RP* 3,42 1,31 3,08 1,16 2,11 0,27
Estado civil
Solteiros Casados Separados Viúvos
M DP M DP M DP M DP F η2
EE*2,26 0,95 2,80 1,36 3,30 1,203,40 1,25 9,84 0,11
DE* 2,14 1,14 2,56 1,45 3,30 1,242,84 0,94 10,70 0,12
RP* 3,56 1,27 3,14 1,37 3,111,03 2,45 0,85 7,160,08
Habilitações literárias
Básico Médio Licenciatura Mestrado
M DP M DP M DP M DP F η2
EE* 3,701,50 2,96 1,11 2,26 1,06 3,28 1,30 17,70 0,14
DE* 3,84 1,99
2,87 1,24 0,18
0,82 1,17 1,17 3,06 13,22
RP* 2,96 0,62 3,18 1,22 3,43 1,35 3,02 1,12 1,42 0,02
Classe lecionada
8ª classe 9ª classe 10ª eE
classe 11ª classe 12ª classe
M DP M DP M DP M DP M DP F η2
EE2,64 1,22 2,72 1,11 2,66 2,68 1,35 2,82 0,147 0,002
1,25 1,23
2,43 2,49
2,63 1,17 2,90 1,38 1,47
DE 2,30 1,26 1,21 1,29 0,01
3,26 1,21 3,23
3,27 1,29 3,35 1,26 0,064 0,002
RP3,26 1,30 1,28
Vê-se, na tabela 3, que o teste de correlação entre avariável “sexo” com as três
dimensões de burnoutapenas revelou diferença significativa na dimensão Realização
Profissional (t 248 2.11, p 0.036). A média dos professores é relativamente maior (M =
3,42; DP = 1,31) que a das professoras (M = 3,08; DP = 1,16), embora o tamanho de efeito
dessa diferença esteja entre pequeno e moderado (d = 0,27). Portanto, as mulheres tendem a
revelar menor realização profissional do que os homens.Abacar, Tarcisio e Aliante (2017)
revelaram maior tendência de incidência de burnout em professoras moçambicanas que
actuam no ensino superior.
Farber (1999) argumentou que embora sejam mais abertas para lidar com as várias
pressões presentes na profissão de ensino, professores do sexo feminino são mais vulneráveis
ao burnout, pois revelam menor flexibilidade que seus pares do sexo masculino. Também
McMurray et al. (2000), demonstraram que os profissionais do sexo feminino relatavam
menor controle do trabalho, maior pressão de tempo e tiveram 1,6 vezes mais chances de
relatar esgotamento profissional do que seus colegas do sexo masculino.
Tal como este estudo, pesquisas revelam que trabalhadores solteiros apresentam
maiores níveis de burnout, comparativamente aosseus colegas casados (Abacar,
Tarcísio,&Aliante 2017; Abacar, 2015; Aydemir & Icelli, 2013).Umapossível explicação do
porquê oser casado torna as pessoas menos vulneráveis ao burnouté o facto de, estas
tenderem a ser mais velhas, mais estáveis e psicologicamente maduras (ter uma compreensão
sólida e precisa da realidade social e ser mais construtiva e adaptável na natureza) e o
envolvimento com o cônjuge e filhos torna-lhes mais experientes em lidar com problemas
interpessoais e conflitos emocionaisdo dia-a-dia(Aydemir & Icelli, 2013).
Isso deve-se, provavelmente, pelo facto de que a divisão da carga horária é mediante o
nível de ensino que o professor lecciona. Para os professores que leccionam no 1º ciclo do
ensino secundário geral (8ª, 9ª e 10ª classe) cumprem 24 aulas semanais e os do 2º ciclo (11ª
e 12ª classe) têm a carga horária equivalente a 20 aulas semanais, independentemente da
disciplina leccionada. Além do mais, professores habilitados com o nível de licenciatura
recebem maior saláriorelativamenteaos seus colegas com nível básico ou médio de
escolaridade. Isso coincide com a ideia segundo a qual, a educação pode influenciar a
realização pessoal, o que significa maior nível educacional poder ser interpretado como um
factor de protecção contra o burnout, assim como, o aumento da idade (Milićević-Kalašić,
2013).
Quanto à associação entre as três dimensões (Exaustão Emocional, Despersonalização
e Realização Profissional)e a variável classe leccionada, o teste de análise de variância não
revelouqualquer diferença estatisticamente significativa entre os grupos que leccionam
distintas classes.Ademais, a magnitude de efeito em todas as subescalas é quase nula.
Considerações finais
De forma geral, pode-se mencionar que alguns participantes deste estudo encontram-
se em fase de desenvolvimento de burnout.Isso remete à implementação de medidas de
prevenção primária e secundária por forma a reduzir, ou de preferência, a eliminar
precocemente a doença.Também é desejável a existência de serviços de aconselhamento
psicológico no contexto de trabalho dos professores, com vista a ajudá-losa lidar com
situações stressantes.
Este estudo apresenta algumas limitações que merecem ser apontadas. A pesquisanão
envolveu amostra probabilística de professores do ensino secundário em Moçambique, o que
não permite a generalizaçãodos resultados para toda a população docente do ensino
secundário. Outrossim, os resultados encontrados não fornecem qualquer prova de
causalidade. Investigações futuras baseadas em amostras probabilísticas e correlacionais com
factores organizacionais e situacionaissão necessárias para estudar o fenómeno de burnoute
sugerir formas de prevenção e intervenção. A realização dessas investigações poderá ser útil
na identificação de factores de trabalho adversos à saúde mental dos professores, bem como
no delineamento de estratégias de copingmais eficazes.
Referências Bibliográficas
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Introdução
21
Mestre em Administração e Gestão Escolar, Contabilista do Centro de Recurso de Educacao Inclusiva Josina
Machel de Anchilo – Nampula..
22
Doutor em Psicologia Cognitiva pela Universidade Federal de Pernambuco-Brasil, docente da Universidade
Pedagógica – Nampula.
Actualmente a satisfação académica tem sido vista por alguns autores como a
percepção que os estudantes têm da sua experiência educacional, e também que esta
percepção pode interferir no nível de envolvimento do estudante com a instituição, além de
ter implicações para o âmbito da permanência (Pike, 1991). Uma outra visão é apresentada
por Kotler e Fox (1994), os quais aludem que a satisfação envolve a actividade de
estabelecer as metas de qualidade e desenvolver os serviços e processos essenciais à
realização dessas metas. Isso é necessário para numerosos produtos, não apenas para os
bens e serviços vendidos aos clientes, mas também para muitos produtos internos. Daí, a
pertinência da planificação da qualidade para numerosos processos, muitos dos quais são
internos da organização, sendo importante que as organizações planifiquem a qualidade dos
processos em geral, mas em particular os internos da mesma.
geral do corpo discente está atrelado ao nível de qualidade do serviço prestado pelas
Instituições de Ensino Superior, visto que estas precisam transmitir boa imagem ao mercado e
serem competitivas ao mesmo. É neste sentido que os estudantes do ensino superior se
sentem satisfeitos, quando olham para a qualidade de serviços prestados pela instituição, e
sua imagem, visto que estes factores contribuem para o sucesso na competitividade do
mercado de trabalho. O autor fundamenta que o grau de satisfação que os discentes têm em
relação ao curso influencia na forma de como eles interagem e absorvem o conteúdo
repassado, referindo-se à existência de três tópicos para se avaliar o nível de satisfação dos
discentes em relação ao seu curso, sendo eles: i) Permitir que os estudantes tenham
oportunidade de opinar sobre os seus cursos de forma a trazer melhorias para os mesmos; ii)
Encorajá-los a fazer uma reflexão sobre o modo de como o aprendizado está sendo repassado;
iii) Permitir que as instituições criem uma marca que, por meio desta, construam indicadores
que colaborem com a melhoria da reputação da instituição junto ao mercado.
Diversos estudos têm sido realizados visando compreender a satisfação académica dos
estudantes do ensino superior. Monteiro, Vasconcelos e Almeida (2005), por exemplo,
realizaram um estudo para analisar as experiências de um grupo de alunos com deficiência
física no ensino superior em uma Universidade britânica, tendo identificado quatro áreas de
maior preocupação, que são: a divulgação das informações, o acesso às instalações, os
currículos, os equipamentos e outros recursos, a garantia da qualidade e a base moral da
política da instituição sobre a deficiência.
Silva (2011) alerta que os gestores educacionais devem conhecer de forma científica a
satisfação daqueles que convivem nesse contexto. Assim, considerando que as pessoas e os
ambientes se influenciam mutuamente, os estudos dos ambientes educativos podem conduzir
a conclusões do domínio do desempenho dos estudantes, suas opiniões e sentimentos, bem
como, trazer contribuições para modificar a própria instituição (Sisto, 2008).Então,
independentemente dos esforços substanciais no estudo da satisfação académica, tanto quanto
é do conhecimento e a partir da revisão da literatura, não foram encontrados estudos sobre o
fenómeno no contexto das instituições de ensino superior moçambicanas.
Este estudo teve por objectivo avaliar o perfil de satisfação académica de estudantes
de ensino superior relativamente à qualidade de formação oferecida pela Universidade
Pedagógica - Delegação de Nampula. Em função do objectivo da pesquisa foram formulados
seguintes hipóteses: H1) A existência de áreas educativas com níveis de satisfação crítica
pode influenciar na satisfação académica e, H2) Os dados sócio-demográficos (idade, sexo,
Método
Tipo de Pesquisa
Procedimento
A presente pesquisa foi desenvolvida na Universidade Pedagógica – Delegação de
Nampula. A recolha de dados foi realizada no mês de Julho de 2016, na Instituição de Ensino
Superior em referência. Em primeiro lugar foi efectuado um contacto com a chefe do
Departamento, de Ciências Educação e Psicologia, (onde é tutelado o curso em estudo),
mediante a apresentação de uma credencial passada pela Direcção de Pós-graduação,
Pesquisa e Extensão da mesma instituição. Após a autorização o primeiro pesquisador foi
encaminhado às turmas do curso de Licenciatura em Ensino Básico, onde após uma
interacção com os estudantes esclareceu os objectivos do estudo e, finalmente, aplicou o
questionário de pesquisa.
Para a recolha de dados foi utilizado questionário constituído por duas partes,
nomeadamente dados sócio-demográficos e a Escala de Satisfação com a Experiência
Académica (ESEA) de Ramos et al. 2015, previamente validada em pesquisas anteriores com
estudantes do ensino superior (e.g., Ramos et al. 2015; Schleich et al. 2006). A escala é
composta por 35 itens, compreendendo três dimensões: satisfação com o curso com 13 itens,
oportunidade de desenvolvimento com 10 itens e satisfação com a instituição com 12 itens. A
escala compreende cinco pontos, designadamente 1) “nada satisfeito”, dois 2) “pouco
satisfeito”, três 3) “satisfeito”, quatro 4) “bem satisfeito “e cinco 5) “completamente
satisfeito”. O primeiro bloco do questionário aplicado abordava aspectos sócio-demográficos
nomeadamente: idade, sexo, estado civil, ano de frequência, número de vezes de reprovação e
Perfil da amostra
A maior parte dos estudantes investigados são do primeiro ano, com uma percentagem
equivalente a 46,9%, seguidos de 27,3% que são do terceiro ano e, por último, 25,9% do
segundo. Muitos participantes (83,2%) nunca reprovaram de ano ou cadeira; 12.5% repetiram
uma vez e 4,3% repetiram mais que uma vez. Do número total da amostra, 82.5% não têm
cadeiras em dívida, 11.8% têm pelo menos uma cadeira em dívida e 85.7% têm mais de uma
cadeira em dívida.
Resultados e Discussão
No seguimento das análises, foi verificada a frequência das respostas dos estudantes
relativamente à satisfação académica por dimensão, cujos resultados constam na tabela 2.
satisfeito
Total 143 100.0 143 100.0 143 100.0
Tabela 3: Correlação das variáveis sócio-demográficas (sexo, idade e estado civil) com as
dimensões da satisfação académica
Divorc
iado
N 143 143
143
Coeficiente Número de Coeficiente de -.137 -.223 -.147
de vezes que Correlação
Spearman reprovou Significância .104 .008 .079
(bicaudal)
N 143 143 143
Número de Coeficiente de -.214 -.140 -.169
cadeiras Correlação
em dívida Significância .010 .095 .043
(bicaudal)
N 143 143 143
A tabela acima mostra correlações entre dados do perfil académico (ano de frequência,
número de vezes de reprovação e número de cadeiras em dívida) com as três dimensões da
satisfação académica, nomeadamente: satisfação com o curso, oportunidades de
desenvolvimento e satisfação com a instituição.
consequentemente com o curso permite com que este venha a ter um desempenho excelente
na sua futura vida profissional.
Com vista a identificar as áreas com níveis de satisfação crítica, na parte final do questionário
de satisfação académica, foram feitas quatro perguntas abertas. Todos os inquiridos foram
solicitados a descreverem as áreas ou os aspectos que acham que devem ser melhoradas com
vista ao bom funcionamento do curso de Ensino Básico. As respostas foram analisadas
através da técnica de análise de conteúdo. Após à análise de conteúdo, as informações foram
digitadas em planilhas do Software de estatística SPSS. Em cada variável verbalizada
(subcategoria analisada) pelo sujeito foi atribuída a pontuação 1 (um) e aquelas em que não
fez qualquer menção foi valorada 0 (zero). Finalmente, os dados foram submetidos às
análises estatísticas apropriadas, tendo sido extraídas as frequências de respostas por cada
área e suas respectivas percentagens, como ilustra a tabela 5.
Frequência Percentagem
Sem comentário 8 5.6
Validade Infra-estrutura 35 24.5
Professores 54 37.8
Currículo 27 18.9
Direcção 19 13.3
Total 143 100.0
De acordo com os resultados da tabela 5, dos 143 respondentes, 8 (5.6%) não teceram
qualquer comentário a respeito das áreas que merecem ser melhoradas na Universidade. 35
(24.5%) dos respondentes afirmaram que a área de infra-estruturas necessitam de melhoria,
principalmente no que se refere à situação higiénica das salas de aulas e casas-de-banho,
aumento de número de salas, montagem de equipamento áudio-visual e ventiladores em todas
as salas de aula. A outra situação que os estudantes se referiram nesta questão, é a dos
departamentos académicos que se encontram dispersos. De acordo com os estudantes, estes
tinham que estar num único bloco de modo a facilitar a localização por parte dos estudantes e
outros que procuram os serviços destes.
Considerações finais
O objectivo geral desta pesquisa foi o de avaliar o perfil da satisfação académica dos
estudantes de graduação em Ensino Básico relativamente à qualidade de formação oferecida
pela UP – Delegação de Nampula. Neste estudo ficou evidente que a pesquisa sobre a
satisfação académica mostra-se importante no entendimento da forma como os estudantes
avaliam o funcionamento do próprio curso.
Duas limitações metodológicas podem ser apontadas neste estudo. A primeira refere-
se ao facto de apenas envolver amostra de estudantes do Curso de Ensino Básico. É possível
que, se o escopo for ampliado envolvendo diferentes cursos oferecidos na Universidade, os
resultados sofram alguma alteração. A segunda diz respeito à colecta de dados de ter sido feita
de maneira transversal e numa única instituição de ensino superior. Em estudos futuros seria
desejável aprofundar os resultados encontrados bem como ampliar para diferentes instituições
de ensino superior moçambicanas.
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Resumo
Nota Introdutória
Como escreve Brandão (2014) ao caracterizar o professor Paulo Freire, é preciso que
um professor esteja atento a ouvir os seus educandos, a dialogar com eles, a ensinar
aprendendo e a aprender ensinando. O processo de ensinar-aprender25constitui um dos
23
Doutorando da Universidade Federal Fluminense – RJ; membro do Grupo de Estudos e Pesquisas Escola,
Memória e Cotidiano; Bolsista do CNPq/MCT- Moçambique. Docente do Departamento de Ciências de
Educação e Psicologia da Universidade Pedagógica-Delegação de Nampula. Coordenador do Grupo de Estudos
e Pesquisas em Educação Comunitária e Cotidiano Escolar (GEPECE). adiassane@yahoo.com.br
24
Professora da Faculdade de Educação da UFF. Professora do Programa de Pós-Graduação em Educação da
UFF. Coordenadora do GEPEMC - Grupo de Estudos e Pesquisas Escola, Memória e Cotidiano.
clvperez@gmail.com
25
Forma de escrita adoptada pelo grupo do Cotidiano Escolar como necessidade epistemológica para referenciar
um moviemento, uma relação indissociável entre os termos. Ao longo do textos existirão palavras juntas com
essa lógica de escrita
dilemas pelos quais os professores de ontem e de hoje se têm deparado no seu quotidiano.
Saber ouvir, escutar, e tomar centralidade à opinião do outro é um importante movimento que
deve ser cultivado no seio dos professores não apenas no seio dos seus alunos, mas
sobretudo, nos encontros que tomaram lugar nas ZIPs. Esse movimento só será possível se as
autoridades educativas dessem oportunidade aos professores para se pronunciarem do que
acham necessario para os seminários de capacitação ou formação contínua.
Neste texto, a intenção é apresentar a nossa visão sobre as ZIPs e discutir como os
saberes dos professores são vistos nesses espaços. Acreditamos que as práticas ordinárias –
experiências dos professores devem ser consideradas como práticas de formação profissional,
o que designamos por prática-formação. Concebemos as práticas dos professores como
sendo um conjunto de incertezas incobertas que precisam ser trazidas à luz do dia e
ressignificadas, isto é, considerar o acaso, o não significante como tendo significado.
Entendemos que é preciso dar centralidade das discussões relativas à formação contínua dos
professores, à sua prática, ao seu quotidiano de actividades. Tomando como exemplo, a maior
parte de nós professores nos tornamos profissionais a partir da nossa actividade quotidiana.
A história das Zonas de Influência Pedagógica tem a sua origem no período colonial.
Como refere Chirrime (2005, p.11),
No seu artigo primeiro do referido diploma ministerial, define-as como “um órgão
de apoio pedagógico que agrega um conjunto de escolas do Ensino Básico e/ou do Ensino
Secundário, visando a superação pedagógica dos respectivos Professores e Professoras” e tem
como objectivos:
Como podemos notar, esses espaços desempenham um papel muito importante, uma
vez que funcionam como um estimulante profissional, se tomarmos em consideração as
diversas dificuldades da profissão docente, e que, o professor moçambicano passa, desde
baixos salários, turmas numerosas, fraca formação, estatuto profissional baixo, falta de meios
e material didático, entre outros. Esses espaços constituem lugares importantes para encontro
e discussão dos problemas, práticas e experiências vivenciados nas escolas que a compõem.
aquela autora, “os encontros possiblitam a inclusão de outros-novos elementos num contexto
para as quais não existe, ainda, um repertório organizado e estabelecido de sentido” (p.92). É
nesses encontros ao nível das ZIPs onde há estranhamento das práticas e experiências dos
professores possibilitando dessa forma o aperfeiçoamento assim como a sistematização dos
saberes profissionais dos professores, transformando-as em espaços de formação.
Goméz (2001) observa que esta forma de colegialidade supõe uma imposição e não
tem em vista a modificação de práticas e pode-se converter num instrumento de dominação e
controlo das minorias divergentes e contestatórias impondo como correcto um pensamento
homogéneo que impede a descrepância de contestação e a originalidade. Dessa forma a
colegialidade burocrática, homologa as ZIPs, conduz a uma colaboração forçada e fictícia,
meramente de obrigações, de saturação do trabalho e do fastio profissional e retarda os
processos.
Os saberes dos professores são uma realidade social que é materializada por um
conjunto de elementos e de saberes próprios. É nessa perspectiva de entender o processo de
formação dos professores, que devemos considerar as escolas como espaços (Certeau, 2013)
de trabalho dos professores e como lugares de encontro e discussão dos diversos saberes que
26
Designamos por forma(ta)ção as acções levadas a cabo para dar receitas aos professores de como podem lidar
com os seus alunos na sala de aulas
trazem as marcas do seu trabalho. Desta forma, as ZIPs desempenham um papel importante
para análise e discussão descompromissada da prática docente.
Ferraço (2008) defende que a formação contínua deveria assumir o quotidiano vivido
enquanto espaço-tempo de compreensão da complexidade da educação, e não propostas
prescritas de conteúdos e metodologias, traduzidas em reciclagens, capacitações, cursos e
palestras. Para ele, a formação contínua teria sentido se fosse um espaço de discussão onde os
sujeitos ressignificassem as suas marcas que carregam ao longo de anos de experiência. Ao
propormos esta discussão nestes rabiscos, arriscamo-nos em dizer que olhamos as
experiências dos professores como potencial que ajuda na melhoria da sua função de
professor e de educador.
A propósito, Ferraço (2008, p.21), defende que, “a formação contínua poderia ser
pensada como estando relacionada ao movimento de tessituras e ampliação das redes de
saberes-fazeres dos educadores e, por consequência, dos alunos, tendo como ponto de partida
e de chegada o cotidiano vivido por esses sujeitos encarnados e complexos”. O autor assegura
ainda que a formação contínua deve ser “um processo que aconteça em meio às redes
quotidianas, evocando questões específicas, mas que não se reduzem ao local, e assumindo o
quotidiano vivido enquanto espaço-tempo de análise da complexidade da educação” (Ferraço
2008, p.21). A vida e o convívio em rede significa considerar as ideias e experiências do
outro, não se compadecendo com a definição de receitas para que os que não sabem tomem
como de medicamento se tratasse.
O esquema acima tenta ilustrar como uma Zona de Influência Pedagógica pode
constituir um espaço de formação contínua de Professores e Professoras. As quatro categorias
que mencionámos no esquema devem constituir o centro de atenção da ZIP se ela quiser ser
um espaço de formação e de produção de um conhecimento solidário (Pérez, 2015).
O modelo de plano que vamos seguir a partir de hoje é este, todos os Professores e
Professoras da ZIP devem usar este modelo porque são instruções superiores, quem for
apanhado (com a supervisão) a usar outro modelo, o problema é dele - Moderador.
Esta fala revela-nos aquilo que Freire designa por aderência ao tecnicismo, nota-se
que embora demorássemos mais de 3 horas naquele seminário não discutíamos práticas, mas
se davam receitas. Essa forma de estabelecer parâmetros, o que se deve usar, faz com que os
Professores e Professoras vejam no técnico (do INDE, Distrital ou Provincial) o seu
testemunho de professor.
O facto do modelo de plano escolhido ser justificado por simples razão de existirem
instruções para o seu uso, revela a tendência prescritiva. Entendemos que uma formação
contínua de Professores e Professoras tem que ser feita a partir das suas necessidades e não de
necessidades feitas por técnicos distantes da escola. Reali (2009) recorda-nos que a formação
contínua deve estar adaptada às escolas específicas e à estrutura, e o conteúdo destes
programas deve ser determinado pelos Professores e Professoras.
No grupo dos Professores e Professoras das escolas, existem alguns que querem ser,
mas temem, estão entre seguir as prescrições ou ter opções próprias. É nesse momento em
que os professores tentam alguma margem de fuga, embora se encontrem constantemente
“enjaulados” e num processo de extremo controlo quer dentro da escola ou por equipas de
inspecção/supervisão escolar que são exteriores à escola.
Ferraço, na sua análise sobre a função social da escola afirma que ela tem que
ampliar as possibilidades de conhecimentos, isto é, ampliar as redes de saberes existentes. E é
nessa perspectiva que deve ser pensada a problemática de formação continuada de
Professores e Professoras como um movimento de tessitura e ampliação das redes de saberes-
fazeres dos educadores tendo como ponto de partida e de chegada, o quotidiano vivido pelos
sujeitos que corporizam o dia-a-dia da escola.
A atitude de dependência que foi criada no seio dos Professores e das Professoras
através de prescrições curriculares leva àquilo que chamaria por necroprofissionalização. O
processo de prescreverreceitas nas sessões de formação contínua tem por objectivos manter
ordem no sistema, maior controlo da actividade dos professores e professoras, assim como de
regular as condições e critérios de obtenção dos resultados.
(In)conclusões
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Resumo: Este artigo procura problematizar os pressupostos que levam os professores a participarem
ou não na construção do seu conhecimento profissional. O pano de fundo suporta que a prática
profissional dos professores subordina-se às investigações levadas a cabo pelos especialistas e
políticos da educação, removendo de certo modo a autonomia profissional dos professores e afligindo
a sua reflexibilidade. Este foi metodologicamente construído recorrendo à combinações
hermenêuticas e, durante este cruzamento, a razão levou-nos à tese de que devido a uma racionalidade
do tipo técnico – científico os professores circunscrevem os seus conhecimentos, criatividade e
competência dentro dum arcabouço definido previamente, culminando com uma dicotomia que
procura saber se a reflexibilidade é uma questão técnica ou ética.
Introdução
Assim, em primeira instância, importa salientar que o presente artigo pretende discutir
as condições de afirmação dos professores como profissionais reflexivos, a partir de uma
reflexão sobre os pressupostos conceptuais, epistemológicos e pedagógicos que a sustentam.
Trata-se de uma problemática em torno do campo educativo, onde com muita intensidade
discutimos a questão de racionalidade técnico-científica como um princípio determinador da
27
Docen te da Universidade Pedagógica, afecto no Departamento de Ciências da Educação, Faculdade de
Ciências da Educação e Psicologia (bmsapane@yahoo.com.br)
Deste modo, optámos por organizar o presente trabalho em três secções. Numa
primeira fazemos uma breve explicação sobre os ideais de Cosme (2009) ao que concerne a
afirmação dos professores como profissionais reflexivos, dando a conhecer os pressupostos
conceptuais, epistemológicos e pedagógicos por ela defendidos, que mais adiante irão ser
analisadas. Em seguida, numa segunda parte, uma abordagem em torno dos aspectos técnicos
e éticos que determinam os professores como reflexivos, aliando, porém os diferentes ideais
aos pressupostos da autora ora citado dando a conhecer outras vertentes de pensar o mesmo
assunto e numa terceira parte fazemos uma reflexão final onde levantaremos algumas das
ideias consideradas relevantes na discussão sobre a racionalidade técnica e a afirmação dos
professores como profissionais reflexivos com as nossas perspectivas sobre esta temática
como um empreendimento ético e/ou técnico.
decisores políticos e também pela “opinião pública” como um investimento que tem de ser
gerido eficazmente (Flores & Simão: 2009).
Salientes estes pressupostos que constituem uma realidade educativa é de questionar
mais uma vez a autonomia dos professores! Dadas às circunstâncias, em que momento e
espaço os professores terão uma liberdade ou autonomia completa para se afirmarem como
profissionais reflexivos? Logicamente que a sua afirmação como profissionais reflexivos
estará limitada dentro destes pressupostos com vista a justificar o investimento em causa, pois
actualmente o assunto qualidade está intimamente ligado aos resultados escolares, dado que
os professores são avaliados e legitimados como reflexivos quando apresentam bons
resultados, sem, contudo investigar o processo de aquisição de tais resultados – é o que
convenientiemente e tendo em conta o mundo capital podemos apelidar de “Educação
aplicada”.
Para Nóvoa (1995, p.72) “o posto de trabalho dos professores está muito marcado por
tendências que afectam todo o sistema, tais como o progresso da especialização, uma maior
pormenorização das destrezas de ensino, uma maior fragmentação da educação, o
desenvolvimento de mecanismos de supervisão e avaliação, etc. A caracterização técnica dos
currículos, a sua elaboração prévia por especialistas e uma maior regulamentação da
actividade pedagógica, constituem factores de desprofissionalização do professor”. Esta ideia
vem nos confirmar que de facto a racionalidade técnico-científica coloca em causa a
afirmação dos professores como reflexivos, o que quer dizer que as condições para se
afirmarem como tais, estão cercadas por um manancial técnico definido sem o seu
consentimento, colocando em causa a sua autonomia. É deste raciocínio que corroborando
com Arfwedson (Apud Nóvoa: 1995) consideramos que a autonomia dos professores
exprime-se dentro de regras bastante definidas, que obrigam as acções profissionais a uma
acomodação às situações reais. A liberdade do professor exerce-se, sobretudo, através da
capacidade para se movimentar dentro de um quadro que só pode mudar parcialmente.
Nesta discussão somos chamados a questionar a relação que os professores
desenvolvem com a racionalidade técnico-científica e o grão de sua autonomia ao
relacionarem-se com pressupostos pedagógicos pré-estabelecidos. A resposta à questão
encontra-se no limite que os professores têm de se afirmarem como profissionais reflexivos,
circunscrevendo seus conhecimentos, criatividade e competência dentro da racionalidade
técnico-científica ora em causa. Este aparato relacional sustentado por pressupostos
ética com a questão técnica, pois só é considerável bom aquilo que constitui o resultado pré-
estabelecido pelos especialistas e investigadores por meio de uma racionalidade técnico-
científica, isto é, aquilo que eles esperam do trabalho do professor, e não estando a par da tal
racionalidade, há que perguntar: o que será ou é a condição e afirmação dos professores
dentro desta limitação e/ou ausência de autonomia profissional?
Considerações Finais
Dada a Reflexão em torno das condições de afirmação dos professores como
profissionais reflexivos, chegamos à ideia de que estamos perante um problema que nos leva
a reflectir em duas perspectivas tendo em conta a problemática que nos propusemos a pensar
nela. Neste seguimento nos encontramos entre a perspectiva técnica e ética como condições
basilares de afirmação dos professores como profissionais reflexivos:
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RESUMO
Propomo-nos, com este corpo de revisão, discutir a associação do senso entre a auto-eficácia e
a motivação académica, sob prisma sócio cognitivo de aprendizagem de Albert Bandura que, no
contexto da psicologia da educação, este modelo apresenta uma abordagem com enfoque para as
crenças e expectativas intrapessoais próprias dos alunos. Enfatizamos aqui, questões de auto-eficácia
e motivação académica ressaltando o papel do aluno e do professor no contexto ecológico - sistémico
de aprendizagem. Nesta lógica, a auto-eficácia é assumida como conjunto de percepções ou crenças
que pesam sobre o sujeito em relação às suas singulares capacidades, habilidades e competências de
organização e execução das actividades para determinados resultados académicos. E, a motivação
neste caso, representa uma energia intrínseca ou extrínseca, que estimula o organismo à acção. Em
meio a esta discussão, a auto-eficácia e motivação representam-se como dois construtos
interdependentes e indissociáveis, elegíveis, para o desempenho, desenvolvimento e rendimento
académico do aluno. O professor encarregado de competências interpessoais, lhe é nobre e exclusivo
o acto pedagógico para suscitar, promover e assegurar o desenvolvimento destas capacidades de
acordo com as particularidades, experiências de êxito e fracasso do aluno, a realidade sistémica e os
objectivos de realização educativa.
Introdução
A auto-eficácia académica é um construto alvo de debates, discussões e pesquisas no
domínio da psicologia da educação desde os anos 50 do séc. XX (Bandura, 1986, 1997).
Contrariamente à motivação académica que emerge 20 anos antes do igual período. (Crestani,
2015).Desde então, diversas teorias desenvolveram-se permitindo uma sistematização de
estudos sobre a motivação escolar. Em oposição com os modelos anteriores, as teorias mais
recentes têm em comum a característica de serem sociais e cognitivas, ou seja, privilegiam
cognições e percepções pessoais. Neste contexto mais abrangente, a motivação surge
operacionalizada através de metas ou motivos, atribuições de causalidade, crenças e
expectativas (Bzuneck, et al., 2014).
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Licenciada em Psicologia Educacional pela Universidade Pedagógica – Montepuez, Docente na Universidade
Católica de Moçambique (UCM) e Professora de Filosofia na Escola Secundária “15 de Outubro” - Montepuez.
Correspondência: mondlaneguiamba@gmail.com
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Mestrando em Psicologia Educacional pela Universidade Pedagógica - Quelimane, Docente e Investigador
pelo Departamento de Ciências de Educação e Psicologia, UP – Montepuez.
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Doutora em Ciências da Educação, na Especialidade em Psicologia Educacional, pela Universidade do Minho
Portugal, docente afecta na Faculdade de Ciências da Educação, Universidade Pedagógica, Maputo, lecciona
nos cursos de Licenciatura, Mestrado e Doutoramento, nas Universidades Publicas e Privadas, é actualmente
Presidente da Escola Doutoral de Psicologia na mesma Faculdade em Maputo.
A motivação por seu turno, respeita o que desperta e direcciona a conduta, representa
um factor interno ou externo que inicia, dirige e integra o comportamento do sujeito. Dito
doutro modo, os motivos despertam o organismo, dirigem-no para um determinado alvo e o
mantém em acção (Maslow, 1954; Nérici, 1991; Brunner & Zeltner, 1994; Doron & Parot,
2001; Monteiro & Santos, 2002; Pestana & Páscoa, 2002; Santos, 2004; Mwamwenda, 2004;
Balancho & Coelho, 2006; Piletti, 2008; Chiavenato, 2009; Piletti, 2009; Roia, 2012;
Mondlane, 2014). É um processo cognoscitivo, uma força que impele o organismo à acção
(Garrido, 1990). É fundamentalmente aquilo que move o sujeito, que o coloca em acção, leva
a uma escolha, instiga, garante persistência naquilo que objectiva alcançar (Boruchovitch &
Bzuneck, 2009). Neste entendimento, a motivação indica acções que condicionam o
comportamento humano, por isso, é benéfico dizer que tal comportamento depende de cada
indivíduo e que este se manifesta por meio de diferentes traços de personalidade. Ao que
enunciam, Mucchielli (1949); Boruchovitch & Bzuneck (2009) este construto está
estreitamente associado às ciências psicossociais não existindo deste modo uma teoria geral
das motivações.
(2003) que propõe cinco famílias básicas de construtos sócio cognitivos sobre o que faz o
aluno estudar, respectivamente, (i) a auto eficácia adaptativa e percepções de competência,
(ii) atribuições adaptativas e crenças de controlo, (iii) altos níveis de interesse e de motivação
intrínseca, (iv) altos níveis de valorização, e, finalmente (v) as metas ou motivos almejados
pelos alunos (Bzuneck, et al., 2014,). Não obstante a importância e o reconhecimento
sociopedagógico atribuído aos cinco conceitos em epígrafe, o nosso interesse prende-se
fundamentalmente em reflectir sucintamente em torno da auto-eficácia enquanto distinta e
determinante variável no âmbito da motivação, cognição e aprendizagem do aluno.
Nas entrelinhas dos modelos teóricos mais destacados actualmente e com foco em
crenças e expectativas, elegemos a teoria sócio cognitiva de auto-eficácia introduzida por
Bandura (1986, 1997). E, vale-nos apontar Schunk que desenvolveu dezenas de estudos
específicos, e individualmente, mais contribuiu para a aplicação desse conceito na realidade
escolar, focalizando suas influências na motivação e na aprendizagem do aluno (Pintrich e
Schunk, 1996).
Auto-eficácia Académica
Numa avaliação por exemplo, o suor, taquicardia ou dor lombar podem ser
interpretados pelo aluno como sinais de que não conseguirá executar bem o teste, ou seja, terá
surgido uma condição debilitante da auto-eficácia. Por outro lado, sentir-se menos perturbado
por tais sintomas facilitará a manutenção dos sentimentos de auto-eficácia. (Patrício, 2012;
Bzuneck, et al., 2014). Assim, as crenças de auto-eficácia constituem-se em poderoso factor
motivacional, mas não são suficientes, considerando o facto de, Schunk & Pajares, et al.,
(2004), entre outros, alertarem para duas limitações. A primeira consiste em que não é
suficiente um aluno acreditar ser capaz, pois terá que efectivamente possuir as competências
exigidas para cada caso. A falta de real capacidade impede experiências de êxito, o que, por
sua vez enfraquecerá a própria auto-eficácia. Na mesma linha, Schunk e Meece (2005)
ressaltam que, alunos sem crenças positivas a respeito de suas capacidades mostram menor
persistência em actividades escolares quando comparados com aqueles que possuem um bom
senso de auto-eficácia.
E, para Silva, et al., (2014) crianças com pior desempenho escolar apresentaram
senso de auto-eficácia também inferior. (p.426). Por seu turno, Costa & Boruchovitch (2006)
consubstanciam tal facto ao revelarem que, as crianças com baixo senso de auto-eficácia em
um dado domínio tendem a escapar de tarefas complexas ou difíceis, percebendo-as como
uma ameaça da self. Medeiros (2000) não refuta tal hipótese ao mencionar que, sujeitos com
esta conduta no ambiente escolar apresentam baixas aspirações e pouco envolvimento com
metas, tendo preocupações principalmente com o autodiagnóstico, e não em ter um melhor
desempenho. Por outras palavras, para a motivação académica, além de sólidas crenças de
auto-eficácia, os alunos precisam possuir igualmente expectativas positivas de resultados.
Neste ângulo, a auto-eficácia correlaciona-se positivamente também com estratégias de auto-
regulação e negativamente com a ansiedade e o stress. (Joo, Bong, & Choi, 2000).
Emsegundolugar, como próprio Bandura (1986; 1994; 1997) reconheceu, o sentido de
controlo duma pessoa sobre o ambiente será pleno somente quando, além da crença de que
pode executar as acções, a pessoa considere que essas acções conduzirão aos resultados
desejados. Esta influência ocorre tanto por acção directa como por seu impacto nos processos
motivacionais, auto-regulação e auto-percepção, nas expectativas de resultados, nas escolhas
e interesses, os quais, por sua vez, afectam o nível e o tipo de comportamento (Bandura,
1993; 1994; 1997; Schunk, & Pajares, 2001; Schunk, 1984).
Motivação Académica
Na linha da motivação humana, vários estudos emergem, como mencionamos nas
considerações iniciais, desde a década de 30, com o intuito de descobrir a influência dos
sujeitos uns sobre os outros, e sobretudo, compreender o aparecimento de comportamentos
sociais imprevisíveis e agressivos. (Crestani, 2015). Quando o aluno se dedica em uma
actividade preocupado somente em lograr uma nota alta, em ganhar um presente especial que
o pai prometera ou para ser reconhecido como o mais inteligente do grupo ou sala, podemos
dizer que tal motivação é extrínseca, ou seja, o comportamento é motivado primordialmente
pelos efeitos do contexto. Já quando a conduta é movida pelo interesse, pela curiosidade em
estudar o assunto sem almejar necessariamente alguma recompensa externa, tal motivação é
eleita intrínseca (Silva & Sá, 1997). Teóricos da abordagem sócio cognitiva da aprendizagem
têm identificado certas crenças como os principais mediadores cognitivos que intervêm na
motivação (Woolfolk, 2000).
Por isso, a fraca motivação, desinteresse pela aprendizagem, dos alunos no processo
de ensino e aprendizagem implica o baixo grau de desempenho dos alunos durante as
actividades escolares e tal fenómeno pode estar associado às estratégias de ensino e
aprendizagem do professor (Maslow, 1954; Nérici, 1991; Mwamwenda, 2004; Balancho &
Coelho, 2006; Piletti, 2008; Piletti, 2009; Roia, 2012; Mondlane, 2014). Por isso o professor
Souza & Barrera (2007) adicionam ser importante que (a) durante o dia ou semana
seja feita autoavaliações optimistas com o próprio aluno sobre a própria capacidade para
determinada tarefa, de modo a que estas autoavaliações não se distanciem da realidade, e que
não sejam ilusórias sobremaneira. Se as autoavaliações não forem demasiado fantasiosas, as
crenças optimistas vão ajudar a encorajar o esforço e a perseverança que são necessários para
a obtenção de resultados pessoais e sociais positivos, bem como de algum modo a cultivar
também o pensamento crítico. Se tal acontecer, podemos estar perante uma estratégia
pedagógica interessante e vantajosa para os alunos com baixas crenças de auto-eficácia; (b)
alunos inseridos em contexto de sala de aula devem ser valorizados (reforço positivo) pelo
seu desempenho, e esta valorização do desempenho dos alunos poderá ser uma fonte de
motivação para os alunos conseguirem acreditar nas suas capacidades, e por conseguinte
começarem a procurar resultados positivos nas suas tarefas académicas.
Considerações Finais
senso de auto-eficácia (Silva, et al., 2014). Desta forma, os professores devem promover
empowerment motivacional à turma, garantindo experiências agradáveis e desafiadoras, de
modo que os alunos possam superar os obstáculos que lhes são colocados (Bzuneck, 2001;
Molina, & Del Prette, 2007) e atinjam com maior êxito e satisfação os resultados das suas
realizações escolares.
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