Antropologia Politica

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Antropologia Política 64

. A evolução do homem, sua característica singular, é resul- ociais deram ao estudo d


tante do aperfeiçoamento de estruturas, tais como mão, posição ados como olíticos a s
ereta; resultante de desenvolvimento dos músculos relacionados
sões n
=~=.....,...,,~. . .
.....,.~~o.rmente ignorada) de ou ras ime ª
·cas da viaa social. n-
ao bipedalismo ( glúteo, bíceps femural, gastrocnêmico) ; e,
principalmente, do desenvolvimento do cérebro. Este desen-
volvimento não é só em volume, mas em áreas onde as funções B. I. A primeira utilização mais sistemática da express·
0
da vida de relação são mais desenvolvidas e complexas, que
são as áreas temporais, frontais e parietais, estruturas que não
têm paralelo em outras espécies. São essas áreas a base bio-
antropologia política foi feita por um cientista político ª
década àos 50 (EASTON, D. Political anthropology.
Biennial review of anthropology. Stanford, Stanford Univ. Pre:·
r
lógica do comportamento cultural do homem. A anatomia 1959), e se referia explicitamente ao resultado das pesquis s,
comparada da espécie atual com os fósseis que estão na linha que os antropólogos ingleses empreenderam nas décadas dos ;g
e dos 40 sobre os sistemas políticos africanos. 11: que a
evolutiva do homem mostra que há grandes diferenças quali-
tativas. O homem \Ie Neanderthal, tendo um cérebro de volume uma ciência política inteiramente ancorada nas formal
Estado e nas tradições jurídicas do ocidente europeu, os antro~

igual ou maior que o dos homens atuais, é certamente menos
evoluído, visto serem as áreas frontal e parietal menos desen- pólogos sociais haviam trazido algumas demonstrações novas
volvidas. O mesmo critério aplicado · ao Homo erectus não E. E. Evans-Pritchard ( The Nuer. Oxford, Clarendon Press ·
permite sua correlação ao homem atual. Usando-se o mesmo 1940), por exemplo, em suas análises dos Nuer mostrar~
método comparativo, não é possível considerar os Australo- como poderia existir uma sociedade politicamente organizada
pithecus relacionados diretamente aos neanderthalenses e, apoiando-se exclusivamente em uma estrutura de linhagens e
muito menos, à espécie humana. prescindindo da presença .de qualquer poder centralizador.
Tarcisio Torres Messias Com suas pesquisas, Evans-Pritchard apontara a necessidade
Ver também: ANTROPOMETRIA. de dissociar o estudo da política de uma consideração exclusiva
do Estado, uma vez que os Nuer possuíam um sistema político
estruturado, mas nenhuma forma, mesmo embrionária, de
Antropologia Política Estado.
Outro avanço importante foi realizado por 1. Schapera
A.l. A antropologia política tem atualmente sua existência (Government and politics in tribal societies. New York,
reconhecida pelo universo das ciências sociais e da antropologia Schocken Books, 1956), ao refletir sobre as pesquisas reali-
em especial: são inúmeros os livros ou revistas que reúnem zadas com os povos da África meridional: as noções de paren-
artigos e pesquisas recentes e que assim intitulam ou identi- tesco e território, fundamentais para a definição de tipos de
ficam o seu ponto comum de interesse; é uma rubrica muitas comunidades políticas, foram bastante relativizadas e desenvol-
vezes presente no elenco de cursos oferecidos pelas universi- vidas. Contribuição significativa foi dada ainda por M..._Fortes
dades e centros de pós-graduação; é também uma entrada (The political system of the Tallensi of the Gold Coast. ln:
freqüentemente registrada em fichas bibliográficas de biblio- FORTES, M. & EVANS-PRITCHARD, E. E. [orgs.]. African
tecas técnicas. political systems. Oxford, Oxford Univ. Press, 1940) ao apontar
Apesar desse reconhecimento prático, a antropologia política que não · as um Estado-na ão ue teria condi ões e
constitui-se em palco para o confronto de diferentes p<?ntos de exercer controle olítico so re as
vista quanto à sua própria natureza. Várias questões maiores em ermos etnicos, ·n "1sticos
atravessam to~o o seu campo. A dúvida inicial é se a antro- caso a ensi atraves a
pologia política - como parece indicar a Erópria expressão - c-T
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pode ser definida como uma subdisciplina (WINCKLER, E. A. Se esses sao alguns dÔs principais subsídios fornecidos pelos
Political anthropology. ln: Biennial review of anthropology estudos africanistas é preciso concordar com D. Easton ( op.
1969. Stanford, Stanford Univ. Press, 1970. p. 301), um domínio cit. ) quanto ao fato de que tais autores pouco se preocuparam
relativamente autônomo dentro da antropologia. Caso se r~s- em sistematizar os resuftados de suas pesquisas e em formu-
ponda de modo, positivo, cabe buscar ond~ reside sua especi- lar novas teorias sobre o fenômeno político em geral. No
ficidade em face da- antropologia social; se é em termos de prefácio a African political systems, livro de valor programático
um conjunto de conceitos, teorias e posições metodológicos, ou para as investigações que os antropólogos ingleses realizaram
se é pela existência de um objeto empírico distinto. No caso sobre a vida política das sociedades africanas, A. R. Radcliffe-
de uma resposta negativa à primeira pergunta, esboça-se a Brown, teórico máximo do estruturalismo clássico, procura
tendência de identificar a antropologia política com .o próprio definir . o que seja o domínio do político. Em sua reflexão,
domínio da antropologia social, cabendo então indagar em face Radcliffe-Brown (Preface. ln: FORTES, M. & EVANS-PRIT-
de que corpo teórico e em que momento histórico ocorreria CHARD, E. E. [orgs.]. Op cit., p. XIV), de forma extrema-
essa associação. E mais, a qual objeto estaria a antropologia mente sintética, define o que constitui para a perspectiva
política devotada, se apenas ao estudo das sociedades primi- estruturalista ( e possivelmente ainda hoje para muitos etnó-
tivas e arcaicas - como sugere G. Balandier ( Antropologia grafos) o domínio do olítico dentro de uma sociedade indí-
política. São Paulo, Difel, 1969) ou se igualmente das socie- gena: a conis:sttler.n'im-Jr,s-f?!T,~m:!ffiimc~T,;i-;:Tü.T.F!rTii:"'ll:e
dades industriais e modernas. . o u o os con s ormativos e cons 1 c1ona1s em como
, . dos Eª rões e conflito e e igeranCia que caractertzâm""o
A•. 2. . Em. face des~s. q?e.stõ~s, ~eve ficar claro que aqui a e"sl'!t6êíec1m!nf~istmfi1r'po1ftroo:J:rticttt~ àt~ os
pnmeua linha de rac1ocm10 e vJSta como bastante perigosa,\,. lltlfores infliíenfi'lidos 'pefo~ ffilffffltI~ ~ ss1co, portanto, a
uma vez que toma como pressuposto a classificação acadêmica olítica é vista de modo im lícito como uma instância es e-
consagrada das ciências por disciplinas específicas ( economia, cífica e istm a ocie ad sso se expressa, por exemplo,
sociologia'. ciência política, antropologia/ hi_stória etc.), preten- na c assi icação dos sistemas pohticos elaborada. por M. Fortes
dendo _ac~o~ar os mesmos ~ritério~ d_e divisão no interio;. de e E. E. Evans-Pritchard na_ intm,dução a African political
cada d1sc1plma -(antropologia econom1ca, antropologia pohhca, systems (p. 5-7), se concentram rimordialmente em de-
antropologia simbólica, etno-história) . O caminho seguido neste fjs;ijr dais tjpos 1.1m que OJ?era a raves e uma estrutura de
verbete é justamente o contrário: ao se falar em antropolo_gia
---------------·-·-·---:-..
~lítica sempre se estará fazendo referência à contribuiçãÕ der centralizador
_
g~~.l~llfü es e caracterízãaâpela mex1sfonc1a Beüni:Jig-
uer, a ensf).'oufió"pelà• presença Cfe
...........,. _.,...,..,,
65 Antropologia Política

alguma modalidade de Estado acoplada ou não a uma estru- em função da simples descendência u.nil~teral, que não pos-
tura unilinear ( Zulu, Kede, Anlcole), ficando pouco analisado suem aralelamente a mesma permanenc1a n~ ~~mpo que os
um terceiro tipo, que seria composto por situ.ações onde a grupot corporados e que não excluem a ress1b1lidade de um
política estivesse inserida no relacionamento de parentesco. duplo pertencimento por parte de seus a eptos.
Mas ao falar em contribuição de antropólogos ao estudo da Outra ordem de críticas provém de que _grande aarte das
política é necessário especificar a que orientação teórica e
metodoló ica estão vinculadas tais es uisas e, portanto, a ue
análises estruturalistas tomo as sociedades estuda ascomo
se essas es 1ve~ Ji,O a as e ~ ntivessem u . . o-
~-Gc~·
mo i e e · istoricamente re enc1a
No caso dos africanistas as eca as dos 30 e O
cor- e
nõiiüá---n õtttki: ecgnômica, cui!Bf r em rou ne~se sentid~
e
R. Cohen{Põíitical anthropology: t future of a p1onee~. ln.
pr o ma inteiramente a · · a bor- Anthropological quarterly. 38(3): 117-31, 1965) a necess!dade
aagem_.!ios,2istemas sociais. Em primeiro lugar, é vital a · de se estudar os sistemas político~ africanos tendo ~m vista o
-'~ que esses autores Tazem entre o domínio da _201íncã' fato - que já era bastante sens1vel , durante as decadas em
e ~ parentes59:, ~nquanto o último diz rêspeito às rela~ que ocorreram os estudos estruturalistas clássicos - .de que os
\!/ iirtê essoa1S, a ohtica se refere sempre às re ras ue aefinem sistemas nativos estavain sendo inco orados a entidades na-
o .relacionamento entre ~os co~ ora os m agens, c as, c10na1s mais a ran en es, so reviven_ o a en~s
"'1patélho ãdnrtrustrativo", gfüpós rêltg1osos oú rituais etc.) ( The

---
articulados ao enomeno a ru:.esença de uma a
structure of unilineal descent groups. ln: American anthropo- coToniaI.
lcgist. 1951. n. 55). Em segundo lugar, o que esses investi-
gado~es p~curam apreender _são as normas e p~scri~ s~ w e
@ norteiam idealmente o func1ona~ temas oií · os B3 Embora durante a década dos 50 a influência do estru-
tu~aÍismo tenha persistido e .al~un~ autores tenham t~ntado
a ricanos, vo tan o-se muito c aramente para tentar con ecer
realizar uma atua1ização e sofisticaçao da proposta contida e;
e ãnalisãr suas ideologias ( não escritas) de governo, para
detectar os "arranjos constitucionais" nativos (EVANS-Pl:UT- African political systems (ver MIDDLETON, J. & TAIT, ·
CHARD, E. 'Ê. & FORTES, M. [orgs.]. Op. cit., p. 12). Em
Tribes without rulers. London, Routledge & Kegan P~ul'. ~957),
as críticas aqui apresentadas confluíam ~ara a substitu1çao ~o
terceiro lugar, esses autores pressupõem geralmente que as
quadro teórico de orientação estruturalista por uma análise
(:;"\ sociedades que estudam se encontram em uma condição de
nova mais voltada para o estudo do conflito e das mudanças
UI "estal?.ilida(k relativa" (Ibid.), o que justifica a utilização de
modelos d e e.9uilíbrio para sua descrição. sociaís, atentando para a multiplicação de cri~ériosde form~ç_âo
clé grupos políticos e enfatizando uma análise das estrategias
B.2. Nas muitas críticas dirigidas a essa perspectiva, salien- e ações individuais. .
ta-se que em suas análises os estruturalistas clássicos desco- Algumas colocações mais relevantes me_recem ser salient_\\das.
Modificando a atitude de A. R. Radchffe-Brown de que a
* cera?1- =CW!i na :rêalidade;-sõc1eêlade ! l~umã~ v ã em
uilibno; ue o ue 1líes"'dlrva'"fãrãõãr'êriC1a eram os moctefos explicação sincrônica era por si só_ sati~fat~~a e constituía ·a
1 eo ogicos construi os e os na ·vos, os uais recuravam única base adequada para construçoes c1enhfic~, algu~ auto-
a~esentar os fatos a-e sua socie a e como .. armomosos, inte- res dão lugar de destaque em suas etnografias aos fatores
históricos ( EVANS-PRITCHARD, E. E. The Sanusi of Cy_re-
gr~ os e rel?e ·1 1vos .. ·-~··• . R. o 1t1ca systems of
h'íghlând Bunna. 1:ondon, Bell, 1954. p. 4-10).· naica. Oxford, Clarendon Press, 19.49), cneganêlo mesmo a
Outros antropólogos, retomando uma linha _de reflexão ab~rta efetuar p ~!ristó.rjg, biblio~áfjc;a e nosumental s~re as
por B. K. Malinowski ( Crime & custem tn savage society. s~ edades p_oi;_~s_ abo.! ~~ (BARNES, J. !',· Op. ci_t.).
i
London, Routledge & Kegan Paul, 19~ ª? observa,r .que a Côiiieça a delinear-se, então, uma ~va noçao de soe1e~~e,
conduta do primitivo não era consequene1a autom~tica de a qual repousa justainente na constataçao de que os propnos
determinações morais ou jurídicas, mas passava pela filtra~em ~pios estruturais básicos de certas sociedaaes são contra-
de seus interesses privados, objetaram que os estruturahstas dit~ raçao existente entre eles é sempre
clássicos haviam descurado inteiramente o estudo do compor- i~ x f ~ ! : _ , a~ açao ~:.,.me_canismos ête reajuste ÍUfÍ•
tamento individual. Na visão de autores como R. Firth ( Social ~ s•ôêiãis, econõm1cosêrifüa1s. Para mvestigar uma sOCle-
organization and social change. ln: Journal of the Royal dàdê aêsse '·ti~-=-õs- N'demõü,"êtâ"" Africa meridional - ·V. V/.
Anthropological Institute. 1954. n. 89, I_>· 1-20) e F. Barth Tumer ( Schism and continuity in an African society. Man-
(Models of social organiziitions. ln: Occasional papers. Londo_n, chester, Manchester Univ. Press, 1957) sugere que a unidade
Royal Anthropological Institute, 1966. n._ 23 ~, a preocupaçao básica da etnografia política seja dada pela consideração dos
unilateral em descrever as nQ11llaS e !)adroe~ eais de ~2.ll2.u!a
das sociedades pgmtlívas fiãviãlevãdo4 !g~~~~ sao
J
dramas soçjw, i.e., pela <;kscrição minucjma das ocasiões em
ocorre uma ru tura das normas aceitas n s ·
o rocesso ue se se ue e o ua a uela infra ão ou é
das esco!has, b~m como o~_gt~~~os.e m~.!!!ff·ª ~ s_ aS,JlQ!!!las reincorpora ã ao funcionamento socia , ou acarreta a separaçao
em fu_!l_ç~Q_~- mferesses e s1tua~oes p!_,r hcp ares'.: . do indivíduo ou grupo em uma nova unidade social autónoma.
Umoutrôcôõjunfü._c:Iêãütores, entre os quais ca_b ena ~es-
t~car especialmente J. A. Barnes ( Class an~ comm1ttees m a J. van Velsen ( The politics of kinshi . Manchester, · Man-
Norwegian island parish. ln: Human relat10~. 1954. v. VII, chester Univ. ress que es ou oura o os ong~)
p. 39-58; - - - . Politics in a changing society. Manch~s~er, da mesma região, a irma a necessidade de uma metodolo~a
Manchester Univ. Press 1954; - - . Networks and pohtical e de té_cnicas de pe_!Suisa novas, ~uestionando r'adicalmeíie
até a construçao ~ etnografia própria aos autores estrutura-
process. ln: SWARTZ, M. J. [org.]. Local-level politic~. ~~icago, listas. Para ele grande parte das generalizações de tais autores
Aldine, 1968), J. C. Mitchell, A. C. May~r _(The s1gruhcance
of quasi-groups in the study of complex soc1eties. ln: BANTON, e a própria descrição dos padrões de condutas e das crenças
M: [org.]. The social anthropology of complex s~cieties. London, se apoiavam em formulações de informantes nativos que não
Tavistock 1966) e J. Boissevain ( Friends of friends: networks, eram adequadamente enquadrados em termos situacionais ( i.e.,
manipulators and coalitions. New York, St. Martin Press, 1974; sem que fosse levado em consideração quem foi o autor de
BOISSEVAIN, J. & MITCHELL,_J. C. [o~gs.]. Network ana- tal discurso; qual a situação em que esse discurso foi pronun-
lysis: itudies in human interact1on. Pans, Mouton, 1973), ciado; quais as relações não explicitadas que existiam entre o
dedicou-se ao estudo .das diferentes modalidades de ~rupos falante, os nativos referidos em seu discurso e o etnógrafo
políticos, cujos critérios de constituição não podem ser fixados que o ouve).
Antropologia Política 66

C .1. Nesta última perspectiva, algumas vezes cara,c~erizada NER, V. W. Ritual aspects of conflict control in African micro-
com rocessualista a unida · anál' e ohhca des- politics. ln : SWARTl, M. J.; TURNER, V. W.; TUDEN, A.
loca-se o aml>1 o e uma sociedade ara o stu situa ões l orgs.] . Op. cit. ), considerando os aspe~os políticos de asso-
) a s,s a socia situa on ,n modem Zu u and. ciações étnicas ( BANTON, M. Adaptation and integration in
Mane ester, Manchester Univ. Press, 1942; Order and rebellion the social system of Temme immigrants in Freetown. ln:
in tribal Africa. London, Cohen & West, 1963). Contr~riamente WALLERSTEIN, I. [org.] . Social change: the colonial Bitua-
à divisão da sociedade em domínios autónomos, firma-se a tion. New York, Wiley, 1966), religiosas (COHEN, A. The
crença de que ~tieo é uw aspeçto l?rese,nte em qualquer politics of misticism in some local communities in newly
atividade humana. Na década dos 60 especial~ente, sur~em independent African States. ln: SWARTl, M. J. Local-leoel
várias sistematizações e conceitos novos. Para evitar as anáfises politics. Chicago, Aldine, 1968), de sociedades secretas ( - - .
holísticas de sistemas sociais, M. J. Swart~ V. W . ~ e The politics ol ritual secrecy. In: Man. 6: 427-48, 1971), de
A. Tuden propõem um novo co~ceilÕ: o _d~ p~ o~ , grupos da elite económica em uma cidade moderna ( FERRIS
ca o ao s uisador erse 1r s cóíiseoüe n~ m P. The city. Harmondsworth, Penguin, 1960) etc. '
con ·t ão s no as ua uer mve ue No correr da década dos 70 a crença de que a antropologia
o rocesso s dese bservam esses autores que limitar a política estaria limitada ao estudo de comunidades primitivas,
inves 1gação a um grupo, comunidade ou sociedade, seria isoladas ou relativamente equilibradas ~rdeu inteiramente sua
confiar em suposições não provadas de que aquele grupo apre- sustentação ( COHEN, A. O homem bídimensional. Rio de Ja-
sente plenas condições pata· o fechamento da análise ( lntro- neiro, Zahar, 1978). Nas várias coletâneas que se referem
duction. ln: Political antlíropology. Chicago, Aldine, 1966. p. 8 ) . precipuamente à antropologia política ( SPRADLEY, J. P. &
Em artigo posterior M. J. Swartz sugere que esses fatores que ~cCURDY, D. W. [orgs.]. Conformity and conflict. Boston,
não se fazem diretamente presentes no campo político consi- L1ttle, Brown, 1972; FOGELSON, R. D. & ADAMS, R. N.
derado, mas que sobre ele atuam e condicionam os processos [orgs.]. The anthropology of pow_er. New York, Academic Press,
ali desenvolviaos, sejam englobados em um novo conceito, o 1977; SCHMIDT, S. W. et alii [orgs.]. Friends, followers and
de arena ( lntroduction. ln: Local-level politics. Chicago, factions. Berkeley, Univ. of California Press, 1977) tem sido
Aldine, 1966. p. 8). . notada a tendência a que os diferentes trabalhos de pesquisa,
Com isso se estabelece uma nova visão da política, como sem se contraporem rawcalmente, enfatizem mais o estudo da
processo que não envolve necessariamente a presença do Es- política, seja segundo as próprias representações e a cultura
tado ou àe autoridades superiores e que pode . ocorrer tanto do grupo social abordado, seja em termos de esquemas de
no interior de pequenos grupos dentro da sociedade quanto decisão e de estratégias de ação elaboradas pelos seus ~gentes
chegar a extravasar suas fronteiras (WINCKLER, E. A. Op. cit., ( COLSON, E. Power at large: meditation on the Sympasium
p. 303). Como definem M. J. Swartz, V. W. Turner e A. Tuden on Power. ln: FOGELSON, R. D. & ADAMS, R. N. Lorgs.].
(op. cit., p. 7) é político "tudo que é ao mesmo tempo público, \ Op. cit., p. 378-84).
orientado para certos fins e 9.ue envolve uma diferença de
poder [no sentido de controle] entre os indivíduos do grupo D. Atualmente alguns autores têm r.rocurado encaminhar uma
/ em questão". _ proposta nova para o estudo da política, apoiando-se para isso
Segundo tais autores um componente básico dos processos em uma consiaeração explícita da teoria marxista. '.e dessa
políticos é que neles se desenvolve uma competição em torno forma que deve ser entendido o esforço crítico de H. Alavi
aa obtenção de certos fins aceitos _ou -definidos por grupos (Peasant classes and primordial loyalties. ln: The fournal of
( e não apenas por . indivíduos isolados); _isto é que torna a peasant studies. 1 ( 1) :23-62, 1973) ao avaliar as diferentes
atividade política um P.rocesso úblico, oi · uestões vertentes da antropologia política, por ele caracterizadas como
afetam o interesse e ru os e _nao apenas de a umas estruturalismo e indiviaualismo metodológico. Procurando for-
essoas em r. en ro e ta grupo n cessano necer um substrato social mais denso ao estudo das diferentes
supor a enstencia de qualquer hierarquia permanente de poder, formas de coalizões ( ver NICHOLAS, R. W. Factions: a
nem tampouco imaginar que os meios empregados para atingir comparative analysis. In: BANTON, M. [org.]. Political systems
tais fins sejam apenas os recursos institucionais e legítimos. and the distribution of power. London, Tavistock, 1965;
Além do mais, não há qual'luer razão para supor que a política BOISSEVAIN, J. Op. cit.), Alavi aponta a importância de um
diga respeito tão-somente as atividades que visam, de forma estudo da formação de classes sociais apoiar-se em uma análise
direta ou não, a promover o bem-estar ou a continui,d ade da p~ocessualista, passando por outro lado a incorporar o perten-
existência do grupo, podendo abranger do mesmo modo as c1ment~ ~e class~ à próJ>ri~ definição de certos tipos cruciais
atividades que visam ao desenraizamento das estruturas de coahzoes. Assim ele ( lbid., p. 53) constrói alguns conceitos
(SWARTZ, M. J.; TURNER, V. W.; TUDEN, A. Op. cit., p. 6). novos e de bastante eficácia operativa, como ocorre com a
Concluindo, afirmam esses autores que a política é o "estudo definição de alinhamentos horizontais ( intraclasse) e alinha-
dos processos envolvidos na determinação e implementação de mentos verticais ( interclasses ) , por meio dos quais podem ser
objetivos públicos e na obtenção e uso de poder diferencial pensados os fenómenos relativos ao conflito de classes e aos
pelos membros do grupo relacionado com aqueles objetivos" ~ários mecanismos de dependência ( patronagens, cliente-
(Ibid., p. 7). lismo etc. ) .
Fica bem claro porém que os autores marxistas não desem-
•2. · Ainda que tais fo~ulações dos antropólogos processua- bocam ~m uma antiantropologia política, tomando como ponto
hstas tenham representado um grande avanço em face do de partida de suas reflexões mais freqüentemente os autores
~truturali_smo clássico, é necessário admitir que esses autores p~~c~ssualistas. A crítica que lh~ fazem é bem ·abrangente,
nao co~titu~rllfi! um corpo teórico homogêneo para o estudo amg_mdo-se ao ce~tro do pensamento político ocidentaf. Em
d~ _pohtica, ªJ?Olando-se freqüentemente em conceitos e defi- um 1m~ortante a~go onde discute a monografia de F. Barth
ruçoe,s encaminhados por diferentes tradições teóricas ( M. ( op. cit. ) sobre liderança entre os Swat Pathans, T. Asad
Weber, T. Parsons, D. ~a~on, D. Apter, R. A. Dahl, G. A. ( Market model, class structure and consent: a reconsideration
Aln;i~nd). Apesar df:Ssa limitada contribuição a uma teoria do of Swat E?li?cal organi~tion. ln: Man. 7(1):74-94, 1972)
pohtico, a perspectiva processualista abriu aos antropólogos

l\
aponta os bm1!es da anáhse processualista. Enquanto F. Barth
novos campos de estudo ~a conduta política, investigando por t~ma como, guia para sua análise a questão de como um indi-
exemplo os aspectos políticos de um ritual não-poHtiçg (TUR- Vlduo ( 0 líder) pode formar em tomo de si um conjunto de
'
Antropologia Social

seguidores, T. Asad (op. cit., p. 90) pondera que esse problema passo que a etnologia "com seu método estritamente hist6rico
só s~ co!oca porque o autor omite os processos concretos de só nos - pode revelar se certos fatos aconteceram ou se têm
donunaçao de classe e de acesso aos meios básicos de ro- probabilidade ou possibilidade de terem acontecido" (Ihi?·•
dução Se os líderes são justamente os indivíduos que controYam p. 29-30). Seguindo a tradição de Durkheim e da Année 80CI<!·
o uso da terra, q~e constitui problema social significativo logique ele também distinguiu psicologia de antropologia
par~ a grande mruo~a da população é_ como tei acesso à terra, social, ;ustentando que: ". . . primeir~ ~ta do comporta-
denva~ao .ª formaçao ~e _grupos políticos e f a ~ desse pro- mento individual em sua relaçao com o indivíduo; a segunda
cesso meV1tável de verticais, de alianças e confrontos trata do comportamento de grupos ou corpos coletivos de
com outros grupos socialmente dominantes. indivíduos em sua relação ·com o gnipo (Ibiâ., p. 17). Para
P~a T. Asad, apesar de _suas inovações, os processualistas uma análise posterior sobre a ampli~de desse campo ~e estudo,
partilham com os estruturalistas uma mesma questão aquela segundo a tradição de A. R. Radchffe-Brown, cabe atar E. E.
que está na base da concepção ocidental da política deriva Evans-Pritchard (Social anthropology. London, Cohen & West,
da velha questão formulada por T. Hobbes: dado um conjunto 1951).
de indivíduo,s dotados de interesses e valores contrastantes
como é possivel que entre eles, ao invés de se estabelecer C. Alguns antropólogos norte,americano~ ?>~ideram antro-
c~os! surja uma ordem políti~a que l~es permita uma exis- pologia social e antropologia cultural iden_!icas ou quase
tene1a _comum suportável? Urudo à tradição marxista, r. Asad idênticas no que diz respeito à esfera de açao, encarando.ª
( op. ~t._. p. 92-3) observa que a busca de uma ordem folítica etnologia como o aspecto teórico e g~n~r~te, a etno~a
constitui _falso problema, uma preocupação secundaria ou como o aspecto descritivo de tal d_!saplin_'.1, Assim, M: ~iti~v
mesmo artificial para os agentes envolvidos, um guia profunda- em seu compêndio geral diz que: . . . nao se f~ distinçao
men~e e!1ganoso p~ra as ?~crições do etnógrafo e para as entre o etnólogo e o antropólogo cultural ou social. Alguns
explicaçoes do ~~sta poh~co. Toda sociedade já possui uma matizes diferenciais podem surgir com o uso dos termos sepa-
certa ordem po!1tica, que e a ordem imposta ou defendida radamente, mas eles se confundem bastante para 4ue se possa
pel~. class: ~ommante. A ques~ão significativa para a análise mantê-los separados" (The science of man. New York, Henry
política nao e, po_rtanto, a geraçao da ordem política, mas como Holt, 1954. p. 329, nota) . A. L. Kroeber (Anthropology. New
uma classe dommante pode reproduzir as condições de sua
própria dorrúnação. .
li York, Harcourt, Brace, 1948) ou fala conjun~a~ente de a~tro-
pologia social e cultural ou as funde numa um~ expressao . -
,. João Pacheco de Oliveira Filho antropologia sócio-cultural. Os autores que consideram a dlS-
Ver também: ANT;llOPOLOGIA; ANTROPOLOGIA SO- tinção desnecessária tendem a argumentar que todo comporta-
CIAL; crnNCIA'J>OLlTICA. mento social humano é influenciado por padrões e definições
culturais, e, ao contrário, que a cultura é essencialmente social
em sua transmissão e distribuição entre os membros de uma
Antropologia Social (S_~cia\ Anthropology) ' sociedade.
A. São bastante variados os usos ' da expressão antropologia D. Outros autores norte-americanos distinguem a antropologia
social, e se confundem muito com antropologia cultural, etno- cultural da social, e geralmente em termos semelhantes aos de
logia e etnografia para permitir a formulação de uma única E. A. Hoebel, que afirma que a antropologia social estuda
definição. ". . . o comportamento social per se e só muito incidentalmente
. . . os aspectos técnicos da cultura material" ( Man in the
B. A expressão é mais usada na Grã-Bretanha e na Comu- primitive world. New York, McGraw-Hill, 194tl. p. 5). As obras
nidade Britânica do que nos EUA ( ver por exemplo, RADIN, de G. P. Murdock, Social structure (New York, Macmillan,
P. Social anthropology. New York, McGraw-Hill, 1932) . Um 1949), e de R. H. Lowie, Social organization (New York,
dos primeiros britânicos a analisar o assunto foi J. G. Frazer Rinehart, 1948), são exemplos dessa disciplina. Freqüentemente,
(The scope of social anthropology. London, Macmillan, 1908). como acontece com Hoebel, esses autores consideram a antro-
Frazer reservou a expressão par! "uma seção especial" ( Ibi~., poloipa social como parte da antropologia cultural. Entretanto,
p. 4) do estudo da sociedaáe: ..., a esfera da antropologia não e sempre assim. Os antropólogos britânicos contemporâneos
social, a meu ver, ou ao menos como me proponho encará-1a, tendem a admitir que antropologia social designa uni campo
está limitada aos primórdios, ao desenvolvimento rudimentar bem mais amplo do que o que pensam muitos norte-americanos,
da sociedade humana" (Ibid., p. 6). "Sua esfera de ação", tornando a expressão sinônima de antropologia cultural, no
argumenta ele, "pode ser dividida, grosso modo, em duas sentido geral empregado na América, ou de antropologia sócio-
seções, uma das quais inclui os costumes e as crenças de cultural. Assim, de acordo com R. Firth, diz-se geralmente
selvagens, enquanto a outra inclui as relíquias destes costumes· que os antropólogos sociais "estudam uma sociedade, uma
e crenças que sobreviveram no pensamento e nas instituições comunidade, uma cultura .. . " ( Elements of social organization.
dos povos de mais cultura" (Ibid., p. 11). Uma análise pos- London, Watts, 1951. p. 22). S. F. Nadei, ao analisar a esfera
terior, e que foi influenciada pelas obras de ll:. Durkheim e de ação da antropologia social, diz: ".. . nem antropologia
seus sucessores na França, é a de A. R. Radcliffe-Brown, The social nem cultura[ definem nossa matéria satisfatoriamente ...
met_hods . of ethnology and social anthropology ( in: . So~th essencialmente bidimensional, ela é sempre cultural e social"
Afncan 7ournal of science. 1923. v. 20, p. 124-47, transcnto m: ( The foundations of social anthropology. Glencoe, III., Free
RADCLIFFE-BROWN, A. R. Method insocial anthropology. Press, 1951). Contudo, a antropologia social britânica está em
Chicago, Univ. of Chicago Press, 1958. p. 3-38). Ele distingue boa parte voltada para organização e estrutura social, especial-
antropologia social de etnologia - tanto da etnologia autêntica mente a estrutura de parentesco. Além disso, a maioria dos
como das formas de história conjetural pelas quais os etnólogos antropólogos britânicos exclui completamente da antropologia
do séc. XIX estavam obcecados. Ele acreditava ( Ibid., P· 8) social um ramo da antropologia sócio-cultural, i.e., o estudo
que a expressão antropologia social devia aplicar-se ao "estudo puramente histórico das ligações genéticas de culturas e a
due procura formular as leis gerais subjacentes aos fenômenos aifusão de traços culturais através do tempo (EVANS-
. a c~tw;~"· Tal estudo permitiria chegar a "generalizaç_ões PRITCH~~. E. ~- (!P· cit.). Isso se deve à grande ênfase
mdutivas que "podem nos dizer como e ~r que as coisas que os bntarucos dao a compreensão dos relacionamentos fun-
acont1:cem, i.e., de acordo com que leis" (Ibid., P· 30); ao cionais de traços culturais dentro de todo o contexto, o que

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