2005 - TCC - Apssousa A ESOCOLA COMO MEDIDORA DE LEITURA

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ANAPAULA SARAIVA DE SOUSA

A ESCOLA COMO MEDIADORA


DA LEITURA

Monografia apresentada ao curso de


Biblioteconomia da Universidade Federal do
Ceará sob a supervisão da Prof Dra, Ana Maria
Sá de Carvalho, como requisito para a obtenção
do titulo de Bacharel em Biblioteconomia.

UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ

FORTALEZA

2005
A ESCOLA COMO MEDIADORA
DA LEITURA

Por

ANAPAULAS~VADESOUSA

Aprovado em: _

BANCA EXAMINADORA:

Prof Dra. Ana Maria Sá de Carvalho


Orientadora

Prof Dra. Lídia Eugênia Cavalcante

Prof Ms. Maria de Fátima Silva FonteneJe


Este trabalho é dedicado a todos que me
ajudaram nesta longa caminhada, como colegas,
professores, familiares e amigos. Mas em
especial, a minha mãe pela sua dedicação e força,
pois sem ela não estaria aqui, aos meus filhos
David, Leonardo, Caio e o meu esposo Eduardo,
razão do meu viver.
Em primeiro lugar agradeço a Deus pelo dom
da vida e pela força que me trouxe até aqui;
agradeço também: as minhas colegas, pelos vários
momentos inesquecíveis compartilhados nestes
anos; em especial, a Eva, Joana, Leilane e Roseli,
pelo carinho, ajuda e o incentivo prestado na
elaboração deste trabalho; a minha chefe e
companheira de trabalho Raquel, pela paciência e
pela amizade; ao meus esposo Eduardo pelo
incentivo e apoio financeiro para a eJaboração
desta; aos professores do Curso de
Biblioteconomia, responsáveis pelo grande
aprendizado, tanto profissional como pessoal,
principalmente a Professora Ana Maria Sá pela
oportunidade dada novamente e a minha mãe que
sempre esteve ao meu lado nos momento mais
dificeis da vida.
"Talvez não tenhamos conseguido fazer o melhor,
mas lutamos para que o melhor fosse feito... não
somos o que deveríamos ser, não somos o que
iremos ser, mas Graças a Deus, não somos o que
éramos."

(KING, 1986)
RESL-:\fO

Apresenta um estudo realizado em duas escolas do município de Fortaleza que trabalham


diretamente com o público infantil, desenvolvida para averiguar o real comprometimento
da escola com as políticas de leitura e escrita na formação de novos leitores. A escola é
apontada como mediadora da leitura.,pois segundo especialistas em educação, o prazer da
leitura deve ser desenvolvido dentro da mesma em parceria com pais e comunidade durante
as séries iniciais, ainda na infância, pois quanto mais cedo começar o desenvolvimento da
leitura, mais o intelecto desenvolve-se. Mas que tipo de leitor a escola realmente está
formando hoje? Porque a maioria dos jovens hoje não gostam de ler? Será que o gosto pela
leitura depende da forma com que ela é introduzida em nossas vidas? Como a escola
participa desse processo de aquisição e gosto pela leitura? A biblioteca escolar está inserida
dentro deste contesto? Estas foram as principais questões levantadas que incentivaram a
procura nas duas'escolas em questão. A orientação metodológica voltou-se para a escolha
de métodos e técnicas privilegiando a obtenção de dados descritivos de natureza qualitativa
que permitiu uma análise centrada na descrição do observado e na interpretação das
entrevistas concedidas por funcionários, pais e educadores. Os resultados obtidos apontam
o quanto, ainda, precisa ser feito para que realmente a escola possa cumprir seu papel
esperado.

Palavras chaves: Leitura; Escola e leitura; Gosto pela leitura.


ABSTRACT

It presents a study oftwo schools ofthe city ofFortaleza who work directly with the public
child, developed to ascertain the real commitment of the school with the policies of reading
and writing in the formation of new readers. The school is appointed as a mediator of
reading, because according to experts in education, the pleasure of reading must be
developed within the same in partnership with parents and community during the original
series, even in childhood, because the sooner start the development of reading, most
developing the intellect itself But what kind of player the school really is fonning today?
Because most young people today do not like to read? Does the taste for reading depends
on the manner with which it is introduced into our lives? As part of that process the school
to purchase and taste for reading? The library school is embedded within this contest?
These were the main issues raised encouraged that the demaod in the two schools in
questiono The methodological guidance turned to the choice of methods and techniques
favoring the taking of data descriptive of a qualitative nature that allowed ao aoalysis
centered on the description of the observed and in the interpretation of interviews given by
officials, parents and educators. The results indicate how much, still, needs to be done so
that the school can really fulfill its role expected.

Keywords: Reading; School and reading, I like the reading


sUMÁRIo

1 INTRODUÇÃO 09

2 SOBRE A LEITURA 12
2.1 As histórias infantis como forma de conhecer o mundo 14
2.2 As origens da literaturainfantil 16

3 A ESCOLA COMO AGENTE SOCIALIZADOR 18


3.1 A Educação Infantil e os primeiros anos na escola 20
3.2 As competências Informacionais 24

4 A ESCOLA, A BIBLIOTECA E A EDUCAÇÃO INFANTIL 26


4.1 Sobre a biblioteca escolar 27
4.2 A biblioteca e a Educação infantil 29

5 SOBRE A PESQUISA 31
5.1 Sobre os dois colégios 32
5.2 Sobre a coletagem de dados 33

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS 37

7 REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS 39
9

1. INTROD

A leitura e os livros têm hoje um novo significado, Pois não basta alguém
completar a educação escolar. Com o progresso da ciência e das novas tecnologias, que se
processam num ritmo cada vez mais rápido, a instrução que temos hoje é insuficiente para o
amanhã, é preciso sempre estar se atualizando. Diante desta realidade nos deparamos com um
grave problema: a falta de preparo por parte dos jovens. Inúmeras pesquisas divulgadas nas
mídias vêm demonstrando esse problema, são muitos os jovens que não gostam de estudar,
principalmente de ler. Vários levantamentos sobre o tema educação apontam que ainda se lê
muito pouco em nosso país, resultando em inúmeras pessoas despreparadas para o mercado de
trabalho, ou seja, mão de obra desqualificada. Mas por que isso acontece? Por que boa parte
da população brasileira não gosta de ler? Será que o gosto pela leitura depende da forma que
ela é introduzida em nossas vidas? Como despertar o prazer pela leitura? Como a escola
participa desse processo de aquisição e o desenvolvimento da leitura?

A partir destes questionamentos, surgiu o interesse pelo tema e a oportunidade de


averiguar o comprometimento da escola com as políticas de leitura e escrita na formação de
novos leitores. A escola é apontada aqui como um meio socializador capaz de mediar o
desenvolvimento social e cultural da criança, pois segundo alguns teóricos como Vygsotsky
(1987) e Maria José Nóbrega (2004), a escola é um dos primeiro encontro da criança com o
mundo, pois é onde ela vai aprender a se socializar e a desenvolver seu intelecto.

A educação é um diálogo constante em que a criança aprende a construir


conceitualmente o mundo, atribuindo, gradativamente, significado aos fenômenos, com a
intervenção do adulto - quando necessária. "A importância da leitura no processo educativo é
inquestionável. Essa certeza une pais e professores na convicção que ler é bom e, portanto, a
criança deve aprender a gostar de ler". (CARV ALHO, 2002, P.21).

Sendo assim, escolhi duas escolas no município de Fortaleza, ambas trabalham


com a Educação Infantil. Uma é o Colégio Santo Tomás de Aquino, localizado no Bairro de
Fátima e a outra é o Colégio Inácio Costa, localizado no Bairro Presidente Kennedy. Analisei
duas turmas de cada colégio, a Alfabetização e a 18 Série do Ensino Fundamental I.
10

Como estratégia metodológica, optei por métodos e técnicas que me


privilegiassem a obtenção de dados descritivos e de natureza qualitativa. Descritiva porque o
foco essencial do estudo residiu no desejo de conhecer como a leitura é trabalhada e quais os
recursos de que a escola disponibiliza para os alunos da Educação Infantil, através de fatos
colhidos da própria realidade escolar. Qualitativa porque supõe o contato direto e prolongado
do pesquisador com o ambiente e a situação que está sendo investigada. Como base teórica
apoie-me principalmente em Vigotski e Bemadete Campelo.

A coleta de dados se processou através da observação e da entrevista formal e


informal com alguns pais, professores e orientadores da Educação Infantil dos colégios
citados acima. Foram entrevistados: oito pais, seis professores; sendo três de cada escola,
uma coordenadora, uma psicóloga e duas assistentes de sala, além da diretora do Colégio
Inácio Costa.

Esta pesquisa não trata de uma proposta de amostragem, o único intuito é o de


investigar os fatos já mencionados. Portanto não se pretende aqui propor um nível de
generalização muito abrangente, mas um estudo dos dados levantados, através do qual
esperamos ter contribuído de alguma forma para a continuidade de estudos relacionados a
essas áreas da educação.

Visando, então, uma organização que facilitasse a compreensão da pesquisa,


estruturei meu trabalho da seguinte forma:

No segundo capítulo, abordo a importância da leitura, que há algum tempo, foi


considerado simplesmente, um meio de receber uma determinada mensagem, mas que hoje é
considerada um processo mental de vários níveis que muito contribui para o desenvolvimento
do intelecto.

No terceiro capítulo, refiro-me a forma da escola trabalhar como agente sócio-


cultural, pois a entrada da criança na escola vai proporcionar uma grande aprendizagem. Além
de ter um espaço e liberdade para brincar, ela vai começar a aprender a conviver com outras
crianças, experimentar o dar e o receber dos relacionamentos sociais, poder explorar bem o
11

ambiente em volta e, a partir da convivência com os adultos, desenvolver o processo de


aquisição da linguagem e da escrita.

No quarto capítulo, faço uma ponte entre a leitura, a escola e a educação infantil,
mostrando a biblioteca como um dos diversos recursos pedagógico que a instituição de ensino
deve disponibilizar a seus alunos, e que segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais
(peN), a escola deve criar oportunidades de práticas constantes e sistemáticas de leitura.

No quinto capítulo, revelo todo o processo da pesquisa, fazendo uma reflexão


sobre as minhas observações e os dados coletados.

Por fim, a bibliografia consultada que está respaldada, principalmente em


-e r_'gotsky, mas não pude deixar de consultar estudioso como Bernadete Campello e Ezequiel
T. da Silva, entre outros, cujas leituras foram de vital importância.
12

2. SOBRE A LEITURA

" 'Ler é melhor do que estudar' - esta frase de Ziraldo já famosa virou botton
e é uma opinião quase unânime e compartilhada pela população letrada e
pertencente às elites intelectuais brasileira, professores do ensino
fundamental, médio e universitário, jornalistas e comunicadores de mídia. No
entanto, a maior parcela da nossa população, embora hoje possa estudar, não
chega a ler. A escolarização, no caso da sociedade brasileira, não leva a
formação de leitores e produtores de textos proficientes e eficazes, ler
continua sendo coisa de elite, no inicio do novo milênio".
(ROJO, 2000, p.13)

É no encontro de diversas formas de leituras que os homens têm a oportunidade


de ampliar, transformar ou enriquecer sua própria experiência de vida. Nesse sentido, a leitura
apresenta-se não só como veículo de manifestação de cultura, mas também de ideologias,
considerando-se, assim, a capacidade de ler essencial à realização humana. Fica cada vez mais
evidente que o progresso social e econômico de um país depende muito do acesso que o povo
tem à informação e aos conhecimentos indispensáveis transmitidos pela palavra impressa.

A leitura e os livros têm hoje um novo significado e já não basta à pessoa


completar sua educação escolar. Com o progresso da ciência e das tecnologias, que se
processa num ritmo cada vez mais rápido, a instrução que temos hoje será insuficiente
amanhã. Com a globalização, o mercado tomou-se mais exigente para a seleção de
profissionais e se, em algum tempo, a leitura foi considerada simplesmente um meio de
receber uma mensagem importante, hoje, porém, ela é considerada um processo mental de
vários níveis que muito contribui para o desenvolvimento do intelecto.

"'A leitura não tem como finalidade à memorização, mas a compreensão e a


critica, única forma do sujeito construir seu próprio texto, ampliar seus
horizontes e dos outros com os quais compartilhará suas descobertas. A
compreensão não é um processo puramente racional, mas depende de um
envolvimento emocional do leitor com o conteúdo transmitido pelo autor. É a
compreensão que propicia as interpretações".
(SILVA, 1982)
13

o autor em questão nos mostra que, a leitura é uma das formas mais eficazes de
desenvolvimento sistemático da linguagem e da personalidade, pois ela favorece a remoção
das barreiras educacionais, concedendo oportunidades mais justas de educação, através do
desenvolvimento da linguagem e do exercício intelectual. No entanto ele nos alerta para o tipo
de leitura que vem sendo praticada, que é a leitura mecânica, onde simplesmente se lê tal qual
õ texto, sem fazer nenhuma interpretação crítica.

"'O ato de ler não é a simples decodificação de sinais questão do


analfabetismo funcional que o país enfrenta na atualidade. Para ler é
necessário apreensão, apropriação e transformação dos significados a partir
do texto."
rsn,VA, 1982)

A compreensão do ato de ler deve ir além do da decodificação de signos, é


necessário que se busque o prazer pela leitura, dessa maneira poderemos ter uma
compreensão mais clara do que realmente esta sendo abordado, para que depois então,
possamos concordar ou discordar. Só assim estaremos desenvolvendo nosso senso crítico.

Os livros desempenham um papel importante nesse processo de educação e pela


primeira vez na história, a leitura deixa de ser privilégio de uma pequena parcela de nossa
sociedade e toma-se indispensável ao desenvolvimento humano.

"Qnem aprende a ler e a escrever e passa a usar a leitura e a escrita, a


envolver-se em práticas de leitura e o da escrita, toma-se uma pessoa
diferente, adquire um outro estado, uma outra condição".
(SOARES, 2001, p.36)

Segundo Soares (2001), a capacidade de observar melhor tudo o que nos cerca é
proporcionada através do ato da leitura A criança que tem em seus pais, desde a mais tenra
idade, o referencial desse prazer em desenvolver a intelectualidade, de abrir a mente, de
conseguir observar o mundo através de uma visão mais alargada, será certamente um outro
adulto, um indivíduo muito melhor, com uma visão da vida de uma forma bastante
diferenciada, proporcionando a ele ver o que os outros não vêem.
14

É impressionante como a leitura tem poder, pois nos transporta através de mundos
e nos resgata da obsolescência, Aquele que lê é diferente dos demais, enxerga o mundo por
um outro prisma, julga ser possível que as coisas mudem através do poder da palavra e da
valorização das atitudes corretas. A leitura no seu sentido geral amplia nossos horizontes e
OOS transporta ao mundo da imaginação, sem contar nos conhecimentos que acabamos
adquirindo quando mergulhamos em universos desconhecidos como a literatura policial, a
literatura infantil ou infanto-juvenil, a literatura fantástica, a literatura clássica, além dos
artigos políticos, econômicos, sociais e culturais encontrados nos jornais e em outros veículos
de informação impressa. ''Portanto, é de suma importância desenvolver em nós uma 'cultura
de leitura', pois só assim seremos aprendizes e formadores de opinião em todo ambiente
social e democrático que estivermos".(MARTINS, 1982, p.31)

2.1 As Histórias Infantis como forma de conhecer o mundo

"Observamos que a criança ínterage com a narrativa desde o nascimento,


inicialmente escutando, e depois constituindo seu próprio discurso narrativo
oral".

(CARDOSO, 2000, p.19)

Falar, conversar e escutar histórias são alguns dos sistemas simbólicos instituídos
pela sociedade para a comunicação e expressão. Estes acabam sendo aprendidos pelas
crianças, em sua diversidade cultural. Por isso, o contato delas com os livros e as histórias é
essencial, daí a relevância de pais e educadores lerem e contarem histórias para as crianças.

A Literatura Infantil, por iniciar o homem no mundo literário, deve ser utilizada
remo instrumento para a sensibilização da consciência, para a expansão da capacidade e
interesse de analisar o mundo. Sendo fundamental mostrar que a literatura deve ser encarada,
sempre, de modo global e complexo em sua ambigüidade e pluralidade.
15

"Os contos de fadas e histórias em geral são introduzidos desde que as


crianças entram na pré escola e, corno acontece também com as crianças
ouvintes as histórias são contadas várias vezes, até que, valendo-se das
perguntas do adulto, em um primeiro momento, as crianças comecem a
relatá-Ias. Nota-se que depois de algum tempo, as crianças se apropriam do
papel de "leitores", olhando as letras e "lendo" as figuras para os colegas de
classe." (FERRONI, 1993)

Por isso é importante que a escola esteja realmente comprometida com uma
política de leitura séria e que esteja atenta aos interesses desse público tão especial, pois vai
depender justamente dessa introdução o interesse ou não pela leitura, o prazer de ler e de
ouvir histórias.

Até bem pouco tempo, em nosso século, a Literatura Infantil era considerada
como um gênero secundário e vista pelo adulto como algo sem muita importância A criança
era considerada mera consumidora do mundo criado pelo adulto. Neste sentido podemos dizer
que não havia um tipo de literatura voltada para seus interesses. A valorização da Literatura
Infantil como formadora de consciência na vida cultural das sociedades é bem recente. Para
investir na relação entre a interpretação do texto literário e a realidade, não há melhor
sugestão do que obras infantis que abordem questões de nosso tempo e problemas universais,
inerentes ao ser humano.

Os primeiros livros para crianças surgiram somente no final do século xvn


escritos por professores e pedagogos. Estavam diretamente relacionados a uma função
utilitário-pedagógica e, por isso, foram sempre considerados uma forma literária menor. A
odução para a infância surgiu com o objetivo de ensinar valores (caráter didático), ajudar a
enfrentar a realidade social e propiciar a adoção de hábitos. Infelizmente, ainda podemos
encontrar esses objetivos na produção infantil contemporânea

o caminho para a redescoberta da Literatura Infantil, em nosso século, foi aberto


Psicologia Experimental que, revelando a Inteligência como um elemento estruturador do
erso que cada indivíduo constrói dentro de si, chama a atenção para os diferentes estágios
f6

de seu desenvolvimento - da infância à adolescência - e sua importância fundamental para a


evolução e formação da personalidade do futuro adulto. A sucessão das fases evolutivas da
inteligência, ou estruturas mentais, é constante e igual para todos. As idades correspondentes
a cada uma delas podem mudar, dependendo da criança, ou do meio em que ela vive.

A autêntica literatura infantil não deve ser feita essencialmente com intenção
pedagógica, didática ou para incentivar "hábito" da leitura. Este tipo de texto deve ser
produzido pela criança que há em cada um de nós. É preciso ensinar a gostar , a ter prazer só
assim poderemos cativar esse público tão exigente e importante.

2.2 As Origens da Literatura Infantil

"O impulso de contar histórias deve ter nascido no homem no momento


em que ele sentiu necessidade de comunicar aos outros alguma experiência
sua, que poderia ter significação para todos. Não há povo que não se orgulhe
de suas histórias, tradições e lendas, pois são as expressões de sua cultura que
devem ser preservadas". (OLIVEIRA, 2(05)

L~tura Infantil hoje conhecida como "clássica" tem suas origens na Índia.
Descobriu-se que, desde essa época, a palavra impôs-se ao homem como algo mágico, como
um poder misterioso, que tanto poderia proteger, quanto ameaçar, construir ou destruir. São
também de caráter mágico ou fantasioso as narrativas conhecidas hoje como literatura
primordial. Nela foi descoberto o fundo fabuloso das narrativas orientais, que se forjaram
durante séculos a.C. e se difundiram por todo o mundo, através da tradição oral.

Oliveira (2005) conta que, a Literatura Infantil constitui-se como gênero durante o
século XVII, época em que as mudanças na estrutura da sociedade desencadearam
repercussões no âmbito artístico. Seu aparecimento tem características próprias, pois decorre
da ascensão da família burguesa, do novo status concedido à infância na sociedade e da
reorganização da escola. Sua emergência deveu-se, antes de tudo, à sua associação com a
Pedagogia, já que as histórias eram elaboradas para se converterem em instrumento seu. É a
partir do século XVIII que a criança passa a ser considerada um ser diferente do adulto, com
17
necessidades e características próprias, pelo que deveria distanciar-se da vida dos mais velhos
e receber uma educação especial, que a preparasse para a vida adulta.

Carlos Jansen e Alberto Figueiredo Pimentel foram os primeiros brasileiros a se


preocuparem com a Literatura Infantil no Brasil, que foi esporádica até a década de 70,
constituindo-se basicamente de tradução de clássicos e de algumas coleções estrangeiras de
grande apelo comercial. Foi em 1921 que o nosso grande Monteiro Lobato estreou com
Nariztnho Arrebitado, apresentando ao mundo a boneca Emília, a mais moderna, encantadora
e espevitada Entretanto, somente após a década de 70, houve um grande desenvolvimento
dessa literatura, devido à entrada de grandes editoras no mercado.
r8"

3. A ESCOLA COMO .~LIZADOR


,"""U"'- ~

Lev S. Vygotsky (1989) construiu sua teoria tendo por base o desenvolvimento
do indivíduo como resultado de um processo sócio-histórico, enfatizando o papel da
linguagem e da aprendizagem nesse desenvolvimento, sendo essa teoria considerada
histórico-social. Sua questão central é a aquisição de conhecimentos pela interação do sujeito
com o meio. Para ele, o sujeito não é apenas ativo, mas interativo, porque forma
conhecimentos e se constitui a partir de relações interpessoais. A sociabilidade da criança é o
ponto de partida dessas interações sociais com o meio que as rodeias.

No- processo de construção do conhecimento, as crianças se utilizam das mais


diferentes linguagens e exercem a capacidade que possuem de terem idéias e hipóteses
originais sobre aquilo que buscam desvendar. Nessa perspectiva, elas constroem o
conhecimento a partir das interações que estabelecem com as outras pessoas e com o meio em
que vivem. "O conhecimento não se constitui em cópia da realidade, mas sim fruto de um
intenso trabalho de criação, significação e ressignificação" (VYGOTSKY, 1989, p. 112). A
interação social e o instrumento lingüístico acabam sendo decisivos nesse processo.

~m pelo menos dois níveis de desenvolvimento identificado por Vygotsky:


um.real, já adquirido ou formado, que determina que a criança já seja capaz de aprender por si
própria, e um potencial, ou seja, a capacidade de aprender com outras pessoas. Segundo ele, a
aprendizagem se dá em colaboração com outras crianças e os adultos. Em face desse
entendimento, temos que nos perguntar que tipo de ambiente é mais adequado a gerar
aprendizagens e favorecer o desenvolvimento da criança.

É na pré-escola que a criança vai ter contato pela primeira vez com algo, até então
para ela completamente desconhecido. O que, no começo, poderia significar uma ruptura com
O mundo conhecido e se tornar muito assustador tanto para a criança quanto para seus pais,
acabará se tornando a primeira etapa no processo de construção da identidade individual de
cada um. É natural que uma situação nova suscite medo, ansiedade e insegurança, mas vencer
s obstáculos iniciais também já é uma grande experiência Por isso é importante que os
19'

edücadores e responsáveis pela recepção desta estejam preparados para lidar com essas
situações.

A entrada da criança na escola vai proporcionar uma grande aprendizagem. Além


de ter um espaço e liberdade para brincar, ela vai começar a aprender a conviver com outras
crianças, vai experimentar o dar e o receber dos relacionamentos sociais, vai poder explorar
bem o ambiente em volta e, a partir da convivência com os adultos, vai desenvolver o
processo de aquisição da linguagem e da escrita.

Martins (1982) afirma que, "se a escola oferece um programa de incentivo a


leitura acabará transformando boa parte dos alunos em bons leitores". Compartilhando desta
opinião, posso dizer que, é necessário que as escolas ofereçam certas condições, como a
formação docente, que é de vital importância para o correto desenvolvimento das atividades
infantis, principalmente na primeira infância. A interação com os adultos tem que ser muito
estimulante, pois são eles os portadores de todas as mensagens da cultura. O papel dos adultos
enquanto representantes nesse tipo de interação nos leva a descrever um novo tipo de
interação determinante na teoria de Vygotsky. (1987)

Segundo ele, a aprendizagem é produto da ação dos adultos que fazem mediação
no processo de aprendizagem das crianças, portanto, o desenvolvimento dos aspectos
cognitivos superiores é resultado de uma atividade mediada, ou seja, o professor é o mediador
da aprendizagem do aluno, facilitando o domínio e a apropriação dos diferentes instrumentos
culturais. Contudo a ação docente somente terá sentido se for realizada no plano da Zona de
Desenvolvimento Proximal. Isto é, o professor constitui-se na pessoa mais competente que
precisa ajudar o aluno na resolução de problemas que estão fora do seu alcance,
desenvolvendo estratégias para que pouco a pouco possa resolvê-Ios de modo independente.

É preciso que a escola e seus educadores atentem para o fato de que, a escola, não
têm como função ensinar aquilo que o aluno pode aprender por si mesmo, mas sim,
- otencializar o processo de aprendizagem do estudante. Na concepção tradicional de ensino, a
nção inicial da leitura tem por base as habilidades dos alunos para reconhecimento das
palavras.
2&

"PM 'isso, a escola enfatizou especialmente o ensino da decodificação, e


não compreensão, já que o primeiro conduzia automaticamente à segunda, ou
seja, a leítura das palavras asseguraria a compreensão do texto."
(S())Z, 1994,p.51)

Segundo Scoz (1994), uma das conseqüências dessa visão é o mau


aproveitamento da fase da alfabetização em que ocorre a conquista alfabética. "É comum a
criança abandonar a atribuição do significado a decodificar o símbolo escrito"

Podemos concluir, assim, que as possibilidades intelectuais e os modos de pensar


próprios de um indivíduo não são pré-determinados por fatores inatos, mas constituem o
produto das instituições sócio-culturais nas quais o indivíduo se desenvolve. Vygotsky
enfatiza ainda o meio como determinante no aprendizado, ou seja, um conhecimento só tem
sentido se tiver um significado cultural, isto é, as interações entre os alunos e destes com o
educador, colocando a escola e o educador como mediadores, são os que conduzem o
aprendizado.

3.1 A Educação Infantil e os primeiros anos na Escola

~ Sala de Asilo, Jardim da Infância, Pré-Primário, Pré-Escola e Educação


Infantil foram alguns nomes dados, ao longo da história, a instituições de educação para
crianças pequenas. O nome e a concepção norteadora da prática educacional mantêm relação
direta com a concepção de infância vigente na época e com a classe social a qual se destinava
a instituição.

foi entre os séculos XVIII e XIX que apareceram as primeiras instituições


destinadas a cuidar de crianças pequenas, escolas de tricotar fundadas por Padre Oberlin. "A
creche, palavra de origem francesa que significa 'manjedoura', foi criada para educar, guardar
e abrigar crianças pequenas cujas mães necessitavam de assistência. Significava uma ajuda na
escolarização, uma escola de higiene, moral e virtudes sociais".(Abramowicz, 1999). Durante
muito tempo, as creches de todo mundo, incluindo as brasileiras, organizaram seu espaço e
21
sua rotina em função das idéias do que significava educar tais crianças. A assistência, a
custodia e a higiene sempre constituíram o centro do processo educativo.

A Educação Infantil é considerada a primeira etapa da educação básica e sua


expansão ocorreu nas últimas décadas devido a vários fatores, entre eles, a entrada da mulher
no mercado de trabalho. Foi a partir de 1988 que a Constituição, pela primeira vez na história
do Brasil, incorporou a Educação Infantil como um dever do Estado e definiu como direito o
atendimento e assistência às crianças de zero a seis anos, com uma educação voltada aos seus
interesses. Entretanto foram muitas as ampliações, ocorridas durante os anos seguintes, a
respeito das suas funções.

Atualmente, cunhou-se a expressão Educação Infantil, a partir dos dispositivos da


Constituição de 1988 e, mais recentemente, da Lei das Diretrizes e Bases da Educação
Nacional de 1996 (Lei 9.394/96), para designar todas as instituições de atendimento a crianças
de zero a seis anos.

É justamente na Educação Infantil que a criança vai entrar em contato, pela


primeira vez, com um mundo até então para ela completamente desconhecido. E é essa
experiência, segundo Vygotsky, que vai proporcionar um grande aprendizado. Além de ter um
espaço e liberdade para brincar, a criança vai começar a aprender a conviver com outras
crianças, vai experimentar o dar e o receber dos relacionamentos sociais, vai poder explorar
bem o ambiente em volta e, a partir da convivência com os adultos, vai desenvolver o
processo de aquisição da linguagem e da escrita.

o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil é um documento que


foi elaborado pela Secretaria de Educação Fundamental do MEC e que contém orientações e
diretrizes muito importantes para educadores que trabalham com crianças de zero a seis anos.
Incorporando modernas teorias pedagógicas, o documento aponta formas de construção da
identidade e da autonomia das crianças pequenas, de sua aproximação com as diferentes
linguagens e principalmente reconhecendo o "brincar" como uma forma particular de
expressão da criança.
22
Uma das situações que se ap:resentam como importantes para a análise do
processo de constituição <10 ieito é a brincadeira infantil. Rompendo com a visão tradicional
de que a brincadeira é . idade natural e de satisfação de instinto infantil, Vygotsky
(1998) apresenta o brincar Imoatividade socio-construtivista.

Brincar fornece à criança a possibilidade de construir uma identidade autônoma,


cooperativa e criativa. A brincadeira é um espaço educativo fundamental da inf'ancia. Ao
contrário do que se acredita, nenhuma criança nasce sabendo brincar, os bebês aprendem a
brincar com seus semelhantes, adultos ou crianças mais velhas. Os movimentos e as sensações
de movimento são os primeiros divertimentos que os adultos oferecem às crianças.

Ensinar a brincar, segundo Anete Abramowicz (1999) é ensinar o faz de conta, é


ensinar à criança a atribuir diferentes sentidos para suas ações. A criança aprende a brincar
assim como aprende a se comunicar e a expressar seus desejos e vontades. Os adultos e as
crianças mais velhas têm papel importante nessa aprendizagem. A brincadeira é uma atividade
social. Depende de regras de convivência e de regras imaginárias que são discutidas e
negociadas incessantemente entre as crianças que brincam, é uma atividade imaginativa e
interpretativa.

Nas creches e nas séries iniciais, a brincadeira é educação por excelência. No ato
de brincar ocorrem trocas, as crianças convivem com suas diferenças, dá-se o
desenvolvimento da imaginação, da linguagem, do controle dos sentimentos, da iniciativa e da
decisão. A brincadeira fornece ampla estrutura básica para mudanças da necessidade e da
consciência, criando um novo tipo de atitude em relação ao real. Nela aparecem as ações na
esfera imaginativa, numa situação de faz-de-conta, a criação das intenções voluntárias e a
formação dos planos da vida real e das motivações volitavas, constituindo-se, assim, no mais
alto nível de desenvolvimento pré-escolar.

As crianças possuem uma natureza singular, que as caracteriza como seres que
sentem e pensam o mundo de um jeito muito próprio. Nas interações que estabelecem desde
cedo com as pessoas que lhes são próximas e com o meio que as circunda, as crianças
revelam seu esforço para compreender o mundo em que vivem, as relações contraditórias que
23
presenciam e, por JDelO das brincadeiras explicitam as condições de vida a que estão
submetidas e seus anseios e desejos. No processo de construção do conhecimento, as crianças
se utilizam das mais diferentes linguagens e exercem a capacidade que possuem de terem
idéias e hipóteses originais sobre aquilo que buscam desvendar. Nessa perspectiva, as crianças
constroem o conhecimento a partir das interações que estabelecem com as outras pessoas e
com o meio em que vivem. "O conhecimento não se constitui em cópia da realidade, mas sim
fruto de um intenso trabalho de criação, significação e ressignificação" (VYGOTSKY, 1989,
p. 112).

Outro princípio citado pelo Referencial é a necessidade da criação de


oportunidades para o acesso das crianças aos bens culturais, ampliando o desenvolvimento de
suas capacidades estéticas de pensamento, de expressão, de comunicação e interpretação
social.

Segundo Maria Eugenia Albino Andrade (2002), a aprendizagem das


competências lingüísticas básicas - falar, escutar, ler e escrever - é feita com base no texto. É
fundamental que sejam dadas à criança oportunidades de ter contatos com a diversidade
textual, com gêneros, devendo os textos ser apresentados nos seus portadores originais, os
livros. Isso permitirá que, desde o início da sua escolarização, a criança perceba a utilização
que se faz da escrita em diferentes circunstâncias. Os textos literários terão, desta forma, um
lugar especial nas atividades com linguagem.

A leitura e a contação de histórias, permeiam todo o processo de escolarização


des.de os primeiros anos, mesmo antes das crianças dominarem o código lingüístico, quando
se busca construir uma atitude curiosa pelo livro e de prazer pela leitura. Isso se consegue
com a utilização de textos bem selecionados, criativos e com ilustração de qualidade. A
aprendizagem tem inicio a partir do momento em que as crianças entram em contato com o
mundo letrado, que começa ainda no Maternal, na Pré-Escola e continua nas séries que se
seguirão, sempre num processo dinâmico e contínuo.

PtIT isso, as instituições que recebem crianças exclusivamente nessa faixa etária
devem planejar programas específicos voltados aos interesses desse público. O contato
24
precoce com esses recursos de aprendizagem vai certamente constituir vantagens para o aluno
que deles se beneficiem,

2.2 As Competências Informacionais

As correntes construtivistas, segundo as quais os alunos aprendem a partir de suas


propnas experiências e construindo eles próprios seu conhecimento, privilegiam a
aprendizagem baseada no questionamento e utilizam estratégias didáticas adequadas à
preparação para a vida na chamada sociedade da informação.

Com o progresso da ciência e das tecnologias, que está se processando num ritmo
cada vez mais rápido, a instrução que temos hoje será insuficiente para o amanhã. A
sociedade vai exigir que o indivíduo desenvolva habilidades específicas para lidar com a
informação. Esse conjunto de habilidades está sendo chamado de "Competência
Informacional" .

Essa Competência Informacional exige um ensino no qual o professor não é o


transmissor de conhecimento, e sim o orientador que capta os interesses dos alunos, estimula
seus questionamentos e guia na busca de soluções, criando oportunidades para os alunos
lidarem com as várias novas teenologias, tais como CD-ROMs, recursos audiovisuais e
eletrônicos, bem como a Internet.

b.fBitos educadores já estão comprometidos com a implantação de programas


destinados a desenvolver nos alunos, desde as séries iniciais, essas competências
informacionais e, segundo Bemadete Campello (2002), a classe bibliotecária, em especial,
tem procurado mostrar seu papel da biblioteca escolar neste contexto, a escola não pode mais
contentar-se em ser apenas transmissora do conhecimento que, provavelmente, estará
defasado antes mesmo de que o aluno termine sua educação formal. "A escola tem que
promover oportunidades de aprendizagem que dêem ao estudante condições de aprender a
aprender, permitindo-se educar durante toda vida". (CAMPELLO, 2002: p. 11).
25

Ea ainda nos diz que a educação é uma tarefa bastante complexa que exige que
todos os recursos e conhecimentos sejam mobilizados. Conhecimentos estes que
proporcionarão aos alunos o desenvolvimento de suas habilidades informacionais. E é
justamente por esse motivo que a biblioteca tem que assumir seu papel pedagógico de forma
ativa e criativa. O que quer dizer que a biblioteca tem que ser um instrumento "vivo" dentro
da escola.

-A escola que pretenda investir na leitura como ato verdadeiramente cultural


me pode ignorar a importância de uma biblioteca aberta, interativa, mn
espaço livre para expressão genuína da criança e do jovem".
(CARVALHO, 2002, p.23).

Uma biblioteca que conta com um programa de atividades bem planejadas e


integradas aos demais projetos curriculares da instituição se tomará um lugar agradável e
muito utilizado, não só pelos alunos, mas também por professores e funcionários. A biblioteca
escolar é, sem duvida, o espaço por excelência para promover experiências criativas de uso de
informação. Ao se reproduzir o ambiente informacional da sociedade contemporânea, a
biblioteca acaba aproximando o aluno de urna realidade que ele vai vivenciar no seu dia-a-dia.
26

4. B ,lOTECA E A EDUCAÇÃO INFANTIL

"Níngném aprende a gostar de leitura apenas ouvindo falar de livros ou


vendo de longe. É necessário que a criança e o professor pegue e manipule o
ingrediente (livro), leia o que está escrito dentro dele para sentir o gosto pela
leitura e verificar se esta atitude tem ou poderá ter uma aplicação prática em
seu contexto de vida".
(SILVA,1982)

Há tempos, considera-se a capacidade de ler essencial à realização humana. Já se


foi a época em que a leitura era considerada simplesmente um meio de receber uma
determinada mensagem. Nos tempos atuais, fica cada vez mais evidente que o progresso
social e econômico de um país depende muito do acesso que o povo tem aos conhecimentos
indispensáveis transmitidos pela palavra impressa.

É ~ escola que a maioria das pessoas tem contato pela primeira vez com o mundo
da escrita e da leitura, geralmente ainda na infância, É justamente lá que as crianças começam
a aprender valores sociais, culturais, entre eles o gosto pela leitura, e passam a depender
profundamente desta para desenvolvê-los, pois, antes de se tomar um leitor, o estudante é
aluno da instituição de ensino. A falta de uma política de leitura, por parte da instituição, faz
com que os alunos não só percam o interesse pela leitura, mas também apresentem
dificuldades de raciocínio e de interpretação de texto.

A leitura deve começar dentro de casa e ser desenvolvida dentro da escola Todas
as pessoas envolvidas nesse processo têm que estarem convencidos da importância da leitura
e dos livros para o desenvolvimento social e psicológico dessas crianças. A educação proposta
nos Parâmetros Curriculares Nacionais (pCN) exige que a escola crie oportunidades para que
. crianças e jovens desenvolvam sua aprendizagem com base na diversidade textual que
circula na sociedade. Os PCN reconhecem que é fundamental o desenvolvimento de um
programa de leitura eficiente, que forme leitores competentes e não leitores que leiam apenas
eventualmente. Reconhecem ainda a Biblioteca como um lugar de aprendizagem permanente,
um "estoque de informações", que deve ser utilizado como um espaço coletivo e de influência
1'1

M- gosto da leitura devendo sua coleção ser formada em função dos interesses de todos os

akmos,. inclusive os da Educação Infantil.

t-:
4.1 Sobre a Biblioteca escolar

Segundo Bernadete Campello (2002), a educação é uma tarefa bastante complexa


que exige que todos os recursos e conhecimentos sejam mobilizados. A biblioteca tem que
assumir seu papel pedagógico de forma ativa e criativa se tomando um "instrumento vivo"
dentro da escola.

A biblioteca, mais do que um espaço cheio de livros e periódicos é sem dúvida o


local mais adequado para desenvolver práticas de leitura Contudo, tanto as escolas quanto os
programas do Governo de incentivo a leitura não têm conseguido transformar as crianças em
bons leitores. Muitas são as instituições de ensino que ainda resistem à idéia de ter urna
biblioteca organizada e atualizada, por significar isto um "gasto desnecessário". Sem falar
que, ainda hoje, ela é muito utilizada como local de "punição". O aluno, que, por algum
motivo, cometeu uma indisciplina, é levado à biblioteca a fim de cumprir seu "castigo".

Maria da Conceição Carvalho (2002), conta que um número significativo de


pesquisas tem revelado o equívoco das políticas e das atividades de promoção de leitura Ela
conta que não há, por parte dos envolvidos, a preocupação do que se lê, o importante é criar o
"hábito" da leitura a qualquer custo, seja por meio de fichas de leitura ou "técnicas de
animação". Estas práticas, entretanto, não proporcionam a criação de um vínculo das crianças
com a leitura, a qual futuramente não terá significado algum em suas vidas. E é realmente isso
que pode ser observado em inúmeras pesquisas realizadas sobre a educação em todo país. São
muitos os alunos que, além de não gostarem de ler, sentem muitas dificuldades de raciocínio e
de interpretação de texto.

~Wia José Nóbrega (2004), que participou, durante a 60 Bienal Internacional do


Livro do Ceará, do lançamento do Relatório sobre Letramento da UNESCO - trata-se de um
programa internacional de avaliação de estudantes, que avalia os estudantes em idades até 15
28

DOS'; que estão terminando a escola básica, para medir seus conhecimentos de leitura e
aprendizagem. O Brasil ficou em último lugar. - em uma entrevista concedida ao jornal
Diário do Nordeste, fala da importância da leitura e do papel que a escola tem em relação ao
desenvolvimento do leitor e comenta o desempenho do Brasil nesse programa.

Ela nos conta que os alunos acabam insistindo naquelas estratégias de copiar igual
ao texto, o que acaba distanciando-os do desenvolvimento de um senso crítico, pois, ao invés
de estabelecer relações com o texto e deduzir por raciocínio, isto é, compreender aquilo que
não está escrito, mas sugerido, os aluno se acostuma a copiar somente o que está explícito.
Ainda segundo ela, é na escola que se aprende a ter o primeiro contato com o mundo da
leitura e se começa a formar os leitores críticos. Porém, para isso, é necessário que se ofereça
toda uma estrutura, bons programas de incentivo à leitura, boas ferramentas e pessoas
qualificadas. Isso inclui uma boa biblioteca, ou pelo menos, uma que disponha de um acervo
atual e que seja de fácil acesso. A biblioteca escolar pode sim ser o local onde se forma o
leitor crítico, que vá até lá, não só porque o professor pediu que fosse feita uma "pesquisa",
mas por vontade própria, para buscar novas leituras, investigar um assunto que lhe tenha
chamado atenção etc,

"'Pesquisa é mna palavra que nos veio do espanhol. Este, por sua vez,
herdou-a do latim Havia em latim o verbo perquiro, que significava
procurar, buscar com cuidado, aprofundar na busca. ° particípio passado
desse verbo era perquisitum. Por alguma lei da que conhecemos fonética
histórica, o primeiro R se transformou em S na passagem do latim para o
espanhol, resultando no verbo pesquisar hoje. Perceba que os significados

desse verbo em latim insistem na idéia de mna busca feita com cuidado e
profundidade, portanto, nada a ver com os trabalhos superficiais, feitos só
para dar nota". (BAGNO, 2000, p, 17)

Bagno (2000), mostra-se indignado com a orientação que é dada às pesquisas nas
escolas de Ensino Fundamental e Médio. Não há, na opinião dele, uma orientação séria a
respeito disso. O professor pede que os alunos façam uma pesquisa na biblioteca sobre
determinado assunto e marca uma data para receber. O que se vê é um "batalhão" de alunos
que vão até a biblioteca, copiam o que encontram e depois entregam para o professor dar nota,
ou seja, a "pesquisa" termina virando uma cópia
29

~ lli-bliatecáriosobservam que os alunos se mostram confusos quando chegam à


biblioteca, ficando evidente que eles não estão satisfeitos.

Milanesi (1983), também aponta a forma com que a pesquisa escolar é trabalhada
como sendo um "grande vilão" para a educação. "A escola Brasileira, com algumas variações,
funcionou e ainda funciona dentro de um esquema que leva o aluno à reprodução do discurso.
Ao professor cabe preparar a aula. Ele lê. O quanto lê depende do professor e das
circunstãncias".(MILANESI, 1983, p.39).

rIíctras de estantes cheias de livros, revistas em mostruários, mesas e


cadeiras espalhadas e repletas de pessoas lendo e estudando, crianças
debrnçadas sobre volumes de enciclopédias, fazendo suas pesquisas. Esta
ainda é e continuara sendo por um bom tempo a face visível de uma
biblioteca".
(CALDEIRAS, 2002, p.47)

Como Caldeira afirma acima, esta é a realidade de muitas bibliotecas escolares, as


obras realmente consultadas são as enciclopédias, pois é justamente onde a resposta está mais
explícita, A maioria só faz copiar sem realmente "entender" determinado assunto.

Outro fator também relacionado com a pesquisa escolar é que, com o


aparecimento dos recursos tecnológicos, principalmente a Internet, os alunos continuam
copiando trechos dos textos que encontram na rede. Alguns copiam páginas inteiras sem
sequer as ler. Pensando assim, Maria da Conceição Carvalho, conta que é preciso reconhecer
que a pesquisa escolar é um processo complexo que exige do aluno habilidades que precisam
estar bem desenvolvidas, o que quer dizer que o aluno deve estar bem familiarizado com a
biblioteca, com a localização do material ali disponível. É fundamental que o aluno, o
professor e o bibliotecário compreendam que a concretização da pesquisa escolar ocorre por
etapas e com a ajuda e a supervisão de um orientador e, dependendo da orientação dada ao
estudante, não só o aluno irá alcançar resultados positivos, como a escola vai estar realmente
investindo no aprendizado deste.

4.2 ABiblioteca e a Educação Infantil

Q~ Curricular Nacional para a Educação Infantil é um documento que


foi elaborado pela Secretaria de Educação Fundamental do MEC e contem orientações e
diretrizes muito importantes para educadores que trabalham com crianças de zero a seis anos.
Incorporando modernas teorias pedagógicas, o documento aponta formas de construção da
identidade e da autonomia das crianças pequenas, de sua aproximação das diferentes
linguagens, reconhecendo principalmente o "brincar" como uma forma particular de
expressão da criança

Nessa perspectiva, o brincar consiste em atividade de crucial importância para o


desenvolvimento humano, na medida em que a criança pode transformar e produzir novos
significados. Mesmo em crianças muito pequenas é possível observar essa subordinação do
objeto em si ao novo significado que lhe é atribuído, o que expressa o caráter ativo da criança
no curso do seu próprio desenvolvimento.

Outro princípio citado pelo Referencial é a necessidade da criação de


oportunidades para o acesso das crianças aos bens culturais. Podemos entender isso como o
acesso das crianças aos diversos meios de se aceder à cultura, incluindo-se entre eles a leitura
e a escrita. O que significa dizer que a Biblioteca é o lugar ideal para desempenhar esse papel,
:u

5..SOBRE A PESQUISA

"Fazer mnda é- fascinante porque trabalha-se com a pureza que é a


verdade. Com ela, pode-se descobrir coisas maravilhosas, cujo beneficiário é

o próprio homem."
(OLIVEIRA, 2002)

o objetivo principal deste trabalho foi o de analisar como as escolas trabalham


como mediadoras da leitura na Educação Infantil, quais as ferramentas mais utilizadas nesse
processo e se a biblioteca escolar está inserida neste contexto. Além disso, gostaria de saber se
as crianças da Educação Infantil interagem com esses métodos.. Pois, segundo Oliveira (1994),
baseada nas concepções de Vigotsky, a criança desenvolve seus conhecimentos através da sua
interação com o meio, até mesmo no fato de compreender e aceitar as regras de um jogo ou de
uma determinada atividade.

Pat:a a realização desta pesquisa, foram escolhidas duas escolas no município de


Fortaleza, que trabalham com a Educação Infantil, o Colégio Santo Tomás de Aquino,
localizado no Bairro de Fátima, e o Colégio Inácio Costa, localizado no Bairro Presidente
Kennedy.

A orientação metodológica voltou-se para a escolha de métodos e técnicas que


privilegiassem a obtenção de dados descritivos e de natureza qualitativa. Descritiva porque o
foco essencial do estudo residiu no desejo de conhecer como a leitura é trabalhada e quais os
recursos que a escola disponibiliza para os alunos da Educação Infantil e de analisar fatos
colhidos da própria realidade escolar. Qualitativa porque supõe o contato direto e prolongado
do pesquisador com o ambiente e a situação que está sendo investigada.

A coleta de dados se processou através de entrevistas e formais e informais com


alguns pais, professores e orientadores da Educação Infantil dos colégios citados acima e da
observação do dia-a-dia dessas instituições. Foram entrevistados: oito pais, seis professores -
sendo três de cada escola - uma coordenadora, uma psicóloga e duas assistentes de salas,
além da diretora do Colégio Inácio Costa.
»

pesquisa não se trata de uma proposta de amostragem O seu único intuito é


investigar os fatos já mencionados. Portanto, não se pretende aqui propor um nível de
generalização muito ahrangente, mas, principalmente, estudar os dados levantados e poder
contribuir de alguma forma, para a continuidade de estudos relacionados a essa área da
Educação.

4.1 Sobre os dois colégios.

o Colégio Santo Tomás de Aquino está situado no Bairro de Fátima, ao lado da


Igreja de Fátima, na Avenida Treze de Maio. As séries vão desde o Pré-Jardim, da Educação
Infantil, até o Terceiro Ano, do Ensino Médio. A Educação Infantil fica separada das demais
séries - o prédio onde se localiza foi dividido em dois. O colégio funciona os dois turnos. A
leitura, segundo a Direção, é prioridade desde os primeiros anos. O colégio dispõe de uma
biblioteca grande, mas que é voltada principalmente para os interesses dos alunos do
Fundamental I e li e do Ensino Médio. O que não significa dizer que a Educação Infantil está
fora da política de leitura da escola. Primeiramente pensou-se em criar um espaço dentro da
própria biblioteca para os alunos da Educação Infantil, mas.,como o espaço que fica situado
no primeiro andar do primeiro prédio não comportaria e haveria a necessidade de se alterar
toda a estrutura da escola, decidiu-se criar um outro espaço voltado exclusivamente a esse
público.

Existe uma sala pequena, mais aconchegante, com mesinhas e cadeirinhas


coloridas, estantes pequenas e coloridas, com livros de contos, um baú com fantoches e
bonecos e alguns brinquedos, que, segundo as professoras, as crianças adoram, e que é
chamada por eles de: "a sala do faz de conta", ou mesmo "biblioteca mirim". Dentre as
atividades relacionadas a leituras desenvolvidas pela Educação Infantil, está a contação de
histórias, a criação de fantoches e bonecos, a apresentação de teatro no auditório da escola e o
clube do livro que, em determinados dias da semana, faz com que cada aluno escolha um livro
e o leve para casa para que, no dia seguinte, durante a aula de leitura, ele conte sua história e
diga de que gostou e se valeu a pena lê-Ia
I .-.J"'
L_ç_~ •• ' ,.;:'O~ .",. J
_ '!'!
JJ

o C-Olégio-Inácio Costa, muito conhecido como o antigo."Branca de Neve" está


~ no Conjunto Presidente Kennedy, e atende desde o Maternal até a Oitava Série do
Ensino Fundamental A escola também é dividida em dois prédios, um só para Educação
Infantil, que vai do Ma:reroal até Alfabetização o outro para o Ensino Fundamental I e Il

o colégio não tem uma biblioteca, o que existe, na verdade, é um espaço no


primeiro andar, com sete prateleiras, vários livros didáticos, duas enciclopédias do ano de
1985, além de alguns poucos livros paradidáticos. É este espaço que fica destinado para que
os alunos façam pesquisas. A "biblioteca", por não ter nenhum bibliotecário, nem um
estagiário de biblioteconomia, permanece fechada na maior parte do tempo, sendo. aberta
somente quando um professor leva seus alunos ate lá. A Diretora da Escola, Dona Mirtez,
quando questionada sobre a situação, alegou falta de recursos financeiros e apontou a
inadimplência e o aparecimento de dois novos colégios nas redondezas como principais
responsáveis pela crise financeira pela qual a escola vem passando, a maior já enfrentada,
segundo ela.

Mesmo sem recursos pedagógicos suficientes, a diretora diz que a leitura vem
sendo trabalhada em parcerias com as demais disciplinas, o que, segundo ela, melhorou
bastante o interesse pela leitura e conseqüentemente pelas outras disciplinas. A Educação.
Infantil trabalha a leitura dentro das próprias salas de aula, onde existem prateleiras coloridas
com diversos livros de contos, e em um auditório onde é feita a apresentação de teatro e aonde
os alunos vão para assistir vídeos.

5.2 As Primeiras observações e a coletagem de dados.

Desde o início, procurei prestar bastante atenção ao ambiente e as situações em


volta Passei três manhãs em cada colégio. O que mais procurei observar foi como as
professoras fazem as contações de histerias e como os alunos reagem e como a escola
incentivar a metodologia das educadoras, Para ajudar nas minhas conclusões entrevistei
alguns pais e alguns profissionais da educação infantil. Utilizei-me da entrevista formal e
informal. Inicialmente procurei a Direção e a Coordenação para fazer algumas perguntas,
sempre deixando bem claro que se tratava de um estudo puramente relacionado a uma
34
~ Tanto a Coordenação quanto professores e a psicóloga se mostraram bastantes
~"S e participativos. Não encontrei nenhuma resistência Alguns pais que apareceram
enquanto estava conversando informalmente com os professores também responderam
espontaneamente às minhas perguntas.

o próximo passo foi o de entrevistar as professoras do Ensino Infantil, uma da


alfabetização e duas da 1a série. Percebi que as três avaliam seus alunos como ótimas crianças.
A professora da Alfabetização do colégio Santo Tomás de Aquino diz que, como as crianças
são ainda muito pequenas, têm um pouco de dificuldades para seguir ordens, como
permanecer em sala na hora das atividades, mas, mesmo assim, são muito afetuosas e
tranqüilas. Ela trabalha a leitura através da contação de histórias e de atividades com outros
recursos, como o vídeo e o som e se mostra satisfeita com os resultados. As duas professoras
da primeira série contam que em relação à leitura, a maioria das crianças tem um desempenho
positivo, principalmente àquelas que têm acompanhamento em casa por parte dos pais. Como
ferramentas de trabalho com a leitura, elas fazem dinâmicas de grupo e teatro. As crianças
questionadas sobre o ambiente escolar e sobre a leitura demonstram satisfação e dizem que
adoram ler.

Sobre a utilização da biblioteca, todas as professoras deram a mesma resposta,


que a biblioteca está voltada apenas para o interesse dos alunos do Fundamental I e 11e dos
unos do Ensino Médio, mas também disseram que, em conseqüência disto, foi criada uma
sahnha de leitura, exclusiva para elas. Com mesinhas coloridas, diversos livros infantis, um
baú cheio de fantoches que são manipulados pelos próprios alunos e pelas professoras na hora
da contação de histórias. Ambas também acham seus alunos bastante motivados e, segundo
elas, eles adoram a "salinha de leitura", mais conhecida pelos pequenos alunos como "salinha
dos faz de conta".

Sobre os que os pais acham, elas responderam que, até o momento, nunca tiveram
nenhum tipo de reclamação ou perceberam alguma insatisfação. Durante os três dias em que
estive no colégio, pude conversar com alguns deles, a grande maioria só apareceu mesmo na
hora de pegar os filhos, Marquei uma entrevista com dois casais e outras duas mães que
aceitaram responder minhas perguntas, mas, somente um casal e uma mãe compareceram ao
encontro. Para ambos fiz as seguintes perguntas: como eles avaliam a escola, o que eles
35
.acham da leitura e de que formam eles incentivam a leitura por parte dos filhos. A mãe
~ que adora a escola e a metodologia de ensino, acha extremamente importante a
leitura; a maneira que ela encontra de incentivar a filha, da alfabetização a gostar de ler é,
além de estar acompanhando de perto as atividades escolares, sempre que possível, leva a
mesma a eventos culturais; já o casal avalia a escola como boa, admite que mesmo sabendo da
importância da leitura não anda participando muito da formação cultural dos filhos, um de
seis anos e um de oito, e que devido ao tempo e ao trabalho não podem acompanhar as tarefas
escolares dos mesmos, mas eles contam com a ajuda de uma professora de reforço que é com
quem as atividades são feitas todos os dias.

A psicóloga da escola afirma que a grande maioria dos pais, mesmos aqueles que
trabalham os dois expedientes, estão mais atentos aos filhos. Está havendo uma maior
conscientização, ainda esta longe do ideal, mas os resultados dessa parceria está sendo
considerada satisfatória; a prova disso é que cada vez mais. os pais vêm procurando a escola
para saber sobre seus filhos, o que antes não acontecia, os pais simplesmente ignoravam os
recados na agenda sobre as reuniões e só tinham conhecimento do desempenho do filho, na
época de entrega dos boletins. Parte deste comportamento e conseqüência de campanhas
desenvolvidas pela escola

No Colégio Inácio Costa, conversei também com três professoras, uma do Jardim
IIL uma da alfabetização e outra da primeira série. Perguntei sobre os meios que elas
utilizavam para trabalhar a leitura e como os alunos reagiam a estas práticas. A falta de
recursos por parte da própria escola foi apontada como um grande obstáculo, pois. sem os
vários recursos pedagógicos muito utilizados hoje em dia pelas escolas, as aulas ficam
praticamente limitadas ao auditório, onde são feitas apresentações de teatro pelos próprios
alunos e aonde eventualmente vão assistir a vídeos ou ouvir historinhas. No entanto, elas
evidenciaram o fato de que os alunos tinham muita vontade e se mostravam bastante
atenciosos principalmente na hora das contações de histórias que são realizadas todos os dias
depois da recreação.

Durante minha visita, tive a oportunidade de conversar e entrevistar alguns pais


que estavam presentes durante esses dias, foram três mães e dois pais. Sem nenhum
constrangimento ou dificuldades, todos os entrevistados responderam com satisfsção as
36
minhas perguntas. Perguntei se gostavam da escola e se estavam satisfeitos com o
desenvolvimento de seus filhos. Todos responderam que sim, pois crêem que seus filhos estão
se desenvolvendo bem, entretanto quando perguntei sobre a falta de recursos por parte da
instituição, eles responderam que realmente a escola deixava muito a desejar, mas que por
motivos financeiros, não tinham como procurar outra escola para seus filhos, pois a
mensalidade desta é considerada acessível.

Em seguida perguntei a todos o que eles achavam da leitura e de que forma eles
incentivavam a leitura em casa. Todos os entrevistados responderam achar a leitura nos dias
de hoje muito importante, mas dos cinco entrevistados, apenas uma mãe respondeu que, além
de acompanhar as tarefas da escola da filha, costuma a ler historinhas para ela na hora de
dormir; também costuma a ler na presença da menina e recortar os quadrinhos que vem no
jornal para filha se divertir. Todo o restante alegou falta de tempo, tanto em acompanhar os
filhos nas atividades escolares, quanto praticar leitura.
37

6.CO ''''~'L-ÕES FINAIS.

o colégio Santo Tomás de Aquino está localizado em um bairro nobre de Fortaleza, o


Bairro de Fátima Mesmo sendo um colégio com uma educação tradicional., consegue atender
bem os interesses da educação e seu ensino é considerado bom pelos pais e a comunidade em
geral Mesmo funcionando em um mesmo prédio, a educação infantil fica separada do Ensino
Fundamental e do Ensino Médio o que significa dizer que a educação infantil tem seu próprio
espaço e políticas voltadas exclusivamente para seus interesses.

Já o Colégio Inácio Costa, situado no Bairro Presidente Kennedy, também com a


educação tradicional., enfrenta sérios problemas, tanto estruturais como financeiro, mesmo
assim seu ensino é considerado, pela sua comunidade, como satisfatório. Além da inexistência
de uma biblioteca, o único espaço voltado para as necessidades de brincar das crianças é o
pátio da escola. Toda a estrutura da escola é muito precária. As professoras e educadoras, com
muito esforço, tentam driblar as dificuldades existentes, mas fica evidente a precariedade em
que estas crianças vão se desenvolvendo.

Com base nos teóricos cuja leitura foi indispensável na elaboração deste trabalho,
juntamente com minhas observações, percebo que o grande diferencial na vida das crianças
como futuro leitores, é justamente, os estímulos que eles recebem, tanto da escola quanto dos
pais. Não adianta os pais colocarem seus filhos na escola achando que, cabe exclusivamente a
ela o papel de sócio educador, e que sozinha ela conseguira educar e estimular seus alunos,
mas infelizmente, através da realização deste trabalho, pude constatar que esse ainda é o
pensamento de muitos pais.

Imciativas que tentam combater este tipo de pensamento, ainda são muito tímidas, e
são poucas as Instituições de ensino que realmente se empenham nesta missão. A escola,
ainda está longe do ideal. Muita coisa tem que ser vista e analisada, pois uma escola sem
política séria de leitura e sem um mínimo de recursos pedagógicos não interessa a ninguém.
De acordo com Vygotsk:y (1987), o meio é essencial para o desenvolvimento social humano.
A criança quando bem estimulada, além de se transformar em um ser humano com capacidade
de análise crítica do meio em que se encontra, ajuda a construir um mundo melhor.
38

a E-ducação Infantil, as crianças demostram grande interesse pela leitura e


gostam de estudar, o problema vem nas séries seguintes, onde há uma queda nesse interesses e
consequentemente, no rendimento escolar. As atividades vão ficando mais complexas e é
justamente ai que os acompanhamentos e tem que serem intensificados, No entanto não é o
que acontece, pois chega a ser.

~... dramático constatar qne o número de aJnnos com reais problemas de


aprendizagem é bem maior do que se poderia esperar. Justamente por não
terem suas necessidades reais atendidas, desenvolveram vínculos negativos
com o objeto do conhecimento e passaram a ter problemas para aprender."
(SCOZ, 1994, p. 152)

escola como mediadora da leitura, não está conseguindo atingir seus


objetivos, pois além de não estar preparada para lidar com os problemas de falta de estimulo,
também não conta com a parceria dos pais, além disso, as políticas de leitura adotadas são
insuficientes para tornar o ato de ler uma atividade prazerosa e constante na vida de seus
alunos.

Posso concluir que, o gosto e o prazer pela leitura não só depende da maneira
como ele é introduzido em nossas vidas, mas também de como ele é estimulado durante toda a
vida escolar. O problema não está somente nas séries iniciais, mas agrava-s.enas séries que se
seguirão. É necessário pais e escola reverem suas posições nesse contexto, para que
futuramente, as novas gerações, não tenham problemas de leitura com na atualidade.
39
"
7. REFERENCIAS

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40

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