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DIG-FIS089 - FISICA EXPERIMENTAL AI

Efeito Hall
João Felippe Nunes Rocha e Melissa Dias Mattos
Instituto de Fı́sica, Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG

6 de junho de 2022

I. Introdução O potencial, medido com o auxı́lio de um voltı́metro,


entre as faces 1 e 2 é dado por
Seja uma corrente I circulando um condutor subme-
tido a um campo magnético B de forma que o campo é UH = Ey a
ortogonal ao fluxo de carga. Nessas condições, surge um
campo elétrico que, por sua vez, também é perpendicular Por meio da polaridade da tensão Hall é possı́vel deter-
à I e à B, onde a tensão elétrica gerada é proporcional minar o tipo de portador de carga que causa a circulação
aos módulos da corrente e do campo. Esse fenômeno, da corrente, se conhecida a direção da corrente e a direção
conhecido como Efeito Hall, é ilustrado na figura 1 do campo magnético.
Seja uma velocidade de deslocamento uniforme na
direção x, conforme o modelo de Drude. A densidade de
corrente nessa direção corresponde a

Jx = q e v x n
tal que n a densidade de portadores por unidade de vo-
lume.
A razão entre o campo Hall e o produto da densidade
de corrente pelo campo magnético e dado por
Figura 1: Ilustração geométrica dos campos e dos contatos na amostra
para a medida do efeito Hall. Ey v x Bz 1
RH = = =
Bz Jx Bz qe v x n qe n

Em suma, a partı́cula de carga q sujeita-se à força de Lo- onde R H é conhecido como coeficiente Hall.
rentz ao movimentar-se com velocidade v em um campo A medida do potencial Hall UH , por sua vez, fornece a
magnético, sendo ortogonal à ambos e com magnitude mobilidade dos portadores, que relaciona-se com a mobi-
⃗F = q⃗v × ⃗B. Pela figura 1, tanto a carga positiva quanto lidade µ dos portadores sob a ação de um campo elétrico
a carga negativa destinam-se ao mesmo anteparo do se- externo. A mobilidade é definida pela razão entre a velo-
micondutor tipo-n (ou buracos tipo-p), devido à força cidade média dos portadores e o campo externo aplicado.
Fy que provoca um encurvamento de seus trajetos. Por Para os elétrons tem-se
conseguinte, é gerado um campo elétrico Ey , também co-
nhecido como campo Hall, oriundo do acúmulo de cargas v x = −µEx
na região e este gera uma força, correspondente à qEy , em
A densidade de corrente relaciona-se com o campo
cada elétron - ou buraco. No momento em que a força
externo seguindo a lei de Ohm, ou seja,
elétrica gerada pelo campo Hall for equivalente à força
magnética Fy , a situação de equilı́brio será alcançada, e é
expressa pela seguinte equação: J = σE
de forma que σ corresponde à condutividade do material
Ey = v x Bz e é dada por

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A constante Hall, definida na equação I pode ser ob-


l tida por meio da dependência linear da tensão Hall em
σ=
R0 A relação à corrente ou da dependência da tensão Hall com
onde l é o comprimento, A é a seção transversal e R0 é a o campo magnético.
resistência do material.
A) Medida da tensão hall versus campo magnético
II. Objetivos
Neste procedimento, mediu-se a tensão Hall em função
• Estudar o efeito Hall em um material semicondutor; do campo magnético à temperatura ambiente, de forma
que a corrente de controle permaneceu constante. Assim,
• Determinar parâmetros como mobilidade e mediu-se a tensão transversal que, por sua vez, está re-
concentração de portadores - em um material semi- lacionada ao campo magnético para as duas direções do
condutor. campo, invertendo o sentido da corrente da bobina. Por
meio das medidas efetuadas, calculou-se a mobilidade e a
III. Materiais concentração de portadores no material.

• Sensor Hall; B) Medida da tensão Hall versus corrente


• Milivoltı́metro;
Nesta etapa, mediu-se a tensão Hall em função da cor-
• Voltı́metro; rente para um campo magnético constante e, da mesma
forma no procedimento anterior, à temperatura ambiente.
• Cabos; Assim, efetuou-se um gráfico da tensão Hall em relação
• Capacitor eletrolı́tico, resistores, potenciômetro; à corrente de controle e, em seguida, calculou-se a mo-
bilidade Hall µ H e a concentração de portadores. Os
• Fontes de tensão; valores da mobilidade Hall foram comparados entre os
dois métodos realizados.
• Eletroimã.

IV. Descrição experimental


Inicialmente realizou-se a montagem do experimento
conforme ilustrado pela figura 2, de forma que o eletroimã
produz o campo magnético, onde duas bobinas são co-
nectadas em série. Assim, a fonte atua como uma fonte V. Resultados e Discussão
de corrente constante e, dessa maneira, as variações de
temperatura causadas pelas variações na resistência não
influenciam a intensidade do campo.
A) Medida da tensão hall versus campo magnético

Tem-se os seguintes dados para o experimento:

Comprimento (l) 0.35mm


Largura (a) 0.35 mm
Espressura (d) 0.30 µm
Resistência (R0 ) 1.0kΩ

Tabela 1: Dados do sensor Hall KSY14.


Figura 2: Esquema da montagem experimental.

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CampoMagnético (10−3 T ) Tens ão (10−3 V ) também pode ser dado por R H = UH d
BI , realizou-se um
50 31.3 ajuste linear:
65 44.9
87 66.8 IR H
UH = B (1)
105 84 d
em que
125 104.3
151 121.3 Y = UH
169 145.5
191 169.8 x=B
IR H
217 191 A=
238 209.5 d
Assim, o coeficiente de Hall é dado por:
Tabela 2: Tensão transversal em função da intensidade do campo
magnético com sentido positivo.
Ad
RH = (2)
I
Portanto, de acordo com o coeficiente angular do
gráfico da figura 3, sendo a corrente de controle igual
CampoMagnético (10−3 T ) Tens ão (10−3 V ) a 5mA e a espessura do sensor igual a 0.30µm, teve-se:
-2 -19.8
-18 -35.5 R H1 = (5.8 ± 0.1)10−5 m3 /C
-36 -52.6 onde a incerteza foi obtida por meio da incerteza padrão
-60 -75.8 combinada uc , explicitada pela fórmula:
-81 -95.8 v
uN
-105 -118.6 ∂f 2 2
uc (y) = ±t ∑ (
u
-127 -139.8 ) u ( xi ) (3)
i =1
∂x i
-150 -160.3
-174 -190.0 A partir da tabela 3, obteve-se o gráfico abaixo:
-202 -217.0

Tabela 3: Tensão transversal em função da intensidade do campo


magnético com sentido negativo.

A partir da tabela 2, montou-se o seguinte gráfico:

Figura 4: Gráfico da tensão em função da intensidade do campo a par-


tir dos dados da tabela 3.

De maneira análoga aos dados da figura 2, efetuou-se


a mesma relação entre as variáveis e a equação 2, em que
Figura 3: Gráfico da tensão em função da intensidade do campo a par- I = 5mA e d = 30µm. Assim,
tir dos dados da tabela 2.
R H2 = (5.88 ± 0.05)10−5 m3 /C
Assim, de acordo com o coeficiente de Hall, que onde a incerteza foi dada pela equação 3.

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Tendo os valores do coeficiente de Hall para os dois


gráficos é possı́vel calcular a mobilidade e a concentração
de portadores, dados respectivamente por:

l
µ = σR H = RH (4)
R0 A
tal que R0 é a resistência, l é o comprimento e A é a área
da seção reta.

1
n= (5)
qe R H
em que qe = 1.6 · 10−19 é a carga do elétron.
Figura 5: Gráfico da tensão em função da corrente.
A partir das equações mencionadas e da equação 3 de
propagação de incerteza, obteve-se:
A regressão linear foi feita com base na equação
1
µ1 = (1.93 ± 0.04)10−1
T
1 RH B
µ2 = (1.96 ± 0.02)10−1 UH = I
T d
para as mobilidades µ. onde:

n1 = (1.07 ± 0.01)1023 portadores/m3


Y = UH
n2 = (1.06 ± 0.01)1023 portadores/m3
para a concentração n de portadores. x=I

B) Medida da tensão Hall versus corrente RH B


A=
d
Essa parte do experimento consistiu em manter uma
dependência linear da tensão Hall em função da corrente Assim, para determinar o coeficiente de Hall, tem-se a
aplicada, fixando o campo magnético B. Os dados do relação:
experimento foram tabelados a seguir:
Ad
RH = (6)
Corrente(10−3 A) Tens ão (10−3 V ) B
18,1 0,5
Portanto, tendo o campo magnético fixo no valor de
34,8 1 200mT:
54,7 1,5
71,2 2
89 2,5 R H3 = (4.2 · 10−8 ± 0.3)m3 /C
106,4 3
124,1 3,5 Por fim, pelas equações 4 e 5, obtém-se:
143,5 4
160,5 4,5
1
177,2 5 µ3 = (1.4 ± 0.2) · 10−4
T
Tabela 4: Corrente em função da tensão.
n3 = (1.5 ± 0.6) · 1026 portadores/m3

A partir de 4 efetuou-se um gráfico: em que as incertezas foram obtidas pela expressão 3.

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VI. Conclusão Na segunda parte do experimento, fixou-se o campo


magnético B e mediu-se a tensão transversal em função da
Esse experimento foi dividido em duas partes. Na corrente. Novamente, atráves de análises gráficas, obteve-
primeira, mediu-se diretamente a tensão Hall em função se o coeficiente Hall, em que calculou-se a mobilidade e a
do campo magnético, mantendo a corrente fixa, onde concentração de portadores:
obteve-se indiretamente o coeficiente de Hall. Com esse
coeficiente foi possı́vel obter a mobilidade e o número de 1
µ3 = (1.4 ± 0.2) · 10−4
portadores. Encontrou-se o resultado tanto para a direção T
positiva quanto a negativa do campo B. Os valores foram n3 = (1.5 ± 0.6) · 1026 portadores/m3
equivalentes entre si, a saber:
Diante desses valores, observamos que há um grande
µ1 = (1.93 ± 0.04)10 −1 diferença entre os resultados obtidos no primeiro método.
Desse modo, com base nos valores conhecidos na litera-
µ2 = (1.96 ± 0.02)10−1 tura, o método um apresenta resultados mais coerentes.
Referências
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n1 = (1.07 ± 0.01)10
[1] Departamento de Fı́sica UFMG. Apostila fı́sica ex-
n2 = (1.06 ± 0.01)1023 perimental avançada 1.

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