1.madre Nazarena e Aníbal Di Francia
1.madre Nazarena e Aníbal Di Francia
1.madre Nazarena e Aníbal Di Francia
01
Nazarena
Majone
e
Aníbal
Di Francia
O Cardeal Salvatore aceitou escrever sobre o relacionamento entre Aníbal Maria Di Francia e
Nazarena Majone, a quem agradecemos sinceramente por sua preciosa contribuição.
Na história da Igreja não é raro encontrar modelos de santidade masculinos e femininos que
tenham compartilhado, em perfeita sincronia, determinados empenhos carismáticos e apostólicos. A
esse respeito é importante mencionar alguns exemplos: Francisco de Assis e Santa Clara; Santa
Tereza D’Ávila e São João da Cruz; São Francisco de Sales e Francisca de Chantal; São João Bosco
e Madre Mazzarello.
A estes exemplos podemos acrescentar também a perfeita comunhão que havia entre Aníbal
Maria Di Francia e Nazarena Majone. Diferentes nas características pessoais, classe social, cultura e
espiritualidade, concretizaram juntos iniciativas apostólicas e caritativas para as quais Deus os
chamou. Esta simbiose original e incisiva teve êxito feliz e se tornou mais visível, sobretudo na
fundação do instituto religioso das Filhas do Divino Zelo. É isto que o presente livreto se propõe
ressaltar.
Nazarena Majone nasceu em Graniti (Messina - Itália). Aos 20 anos ingressou no recém-
fundado instituto religioso das Filhas do Divino Zelo, destacando-se pela sabedoria e fidelidade à
sua vocação de pessoa consagrada. A confiança e a estima por ela, levou Pe. Aníbal a confiar-lhe a
orientação e a coordenação do instituto religioso feminino durante trinta anos. Essa atividade,
realizada em sintonia e união com o fundador, lhe outorgou o título de “cofundadora”, pela tradição
do Instituto, como se vê no processo informativo, realizado junto ao vicariato de Roma.
A fama de santidade em vida, na morte e após a morte, deu início ao processo de canonização.
No mês de julho de 1998 foi apresentada à Congregação para as Causas dos Santos a positio super
virtutibus - documento que recolhe testemunhos sobre a vida e a obra de Madre Nazarena,
elaborado com o método histórico-crítico, e se espera o exame dos consultores teológicos e dos
cardeais membros do Dicastério competente.
Aníbal Maria Di Francia (Messina, 1851-1926) foi beatificado pelo Papa João Paulo II no dia
07 de outubro de 1990. Não há dúvida, segundo a expressão da Madre Coreina Raffa, uma das
superioras gerais das Filhas do Divino Zelo, que “o reconhecimento oficial de santidade da nossa
primeira Madre confirma e reforça a própria santidade do Padre, a quem ela foi, sempre e em toda
situação, fidelíssima” (Positio, Informatio Relatoris, p. VIII).
Na história da Serva de Deus se integram também as duas famílias religiosas instituídas por
Padre Aníbal: as Filhas do Divino Zelo e os Rogacionistas do Coração de Jesus. O fundador
transmitiu a ambas o carisma do “Rogate” que compreende a oração pelas vocações, a difusão dessa
oração por todo mundo e o empenho caritativo para com os órfãos e necessitados. Os dois
Institutos, espalhados na Itália e Europa, se expandem também nos outros continentes,
particularmente nos países em fase de crescimento.
Naquele bairro, Padre Aníbal havia iniciado um orfanato para crianças. Diversas
congregações de Irmãs foram convidadas para cuidar da educação e formação das meninas, mas
todas responderam negativamente com mil desculpas. Decidiu, então, dar início ele mesmo, a uma
Congregação Religiosa e, em 18 de março de 1887, entregou às quatro primeiras jovens o hábito
religioso com o lema “Rogate Dominum messis”.
Por conta das limitações e dificuldades econômicas da nova Instituição, Padre Aníbal enviava
suas irmãs a pedir esmolas, segundo o costume da época. Duas delas se deslocaram e foram pedir
azeitonas e óleo de oliva em Graniti, um pequeno povoado no centro da região de Messina, pouco
mais de 10 km adiante da cidade de Taormina, localizado sobre uma colina, de onde a vista se
estende até o leste do Mar Jônico, enquanto ao ocidente se visualiza a imensa massa do Etna.
Em Graniti as irmãs de Padre Aníbal encontraram duas jovens, Carmela D’Amore e Maria
Majone; a primeira com 22 anos, a outra com vinte. Elas faziam parte da associação das Filhas de
Maria, fundada por Padre Vicenzo Calabró, pároco local. A formação, profundamente cristã, havia
despertado dentro delas o desejo de consagrar-se ao Senhor num mosteiro.
O encontro com as duas irmãs de Padre Aníbal convenceu Padre Vicenzo, e as duas jovens
resolveram ir à Messina para realizar suas aspirações. O Padre Serafino Santoro, um dos primeiros
sacerdotes rogacionistas, que coletou muitas informações no início da obra, como testemunha viva
do Fundador, relata aquele primeiro encontro de 14 de outubro de 1889.
“As jovens, apresentadas pelas irmãs, foram acolhidas pelo Padre que lhes mostrou a casa.
Nunca haviam saído de seu pequeno lugarejo e conheciam apenas um mosteiro, aquele do qual lhes
falava o orientador espiritual. Haviam imaginado um grande edifício, com corredores, quartos
enfileirados, laboratórios de trabalho, e janela redonda na sala de acolhida. Chegando em Avignone
ficaram surpresas: onde estava o mosteiro? Casebres, pequenos quartinhos, alguns metros adiante
uma Igreja pobre com uma pequena mesa redonda, um coreto e, por toda a parte uma confusão de
pobres. A mais velha, Carmela, observava calada. Mas a mais jovem, não. O Padre lembrava que
ela ria, ria e ria; a outra se controlava. Porém, como se respirava um ar encantador e devocional
junto àquele sacerdote impressionante, que se fez pobre e mendigo pelos pobres, também elas se
deixaram levar por esta atmosfera mística, do fervor da primeira hora, e ficaram contentes.
Decidiram que partilhariam com o Padre Aníbal a pobreza, a tristeza, o sofrimento, as dificuldades,
as lutas e ansiedades até o fim, no desenvolvimento da obra! Tornaram-se, as duas, escolhidas
colunas do Instituto nascente”.1
A história do instituto evidenciará que Maria Majone, a quem o Padre Aníbal deu o nome de
Nazarena, e Carmela D’Amore, serão duas grandes e sólidas colunas do nascente Instituto das
1
SANTORO S.; Início carismático e laborioso do Instituto das Filhas do Divino Zelo, Trani 1974 (texto datilografado).
p. 19.
Filhas do Divino Zelo, as quais ele dará a missão do zelo pelo Rogate de Jesus e da caridade pelos
órfãos e pelos pobres.2
A respeito do amor aos pobres, uma religiosa testemunhou que certo dia manifestou à Madre
Nazarena o motivo pelo qual se tornou religiosa: porque não gostava do mundo. Ao que Majone
replicou: “Bem, eu ao invés, escolhi a família religiosa do Padre Aníbal por causa dos pobres e dos
órfãos. Por esses tenho muita afeição e com muito amor os trago no coração”. 3 Efetivamente esta
dedicação pelos pobres foi um aspecto característico de toda a sua vida, a exemplo de seu pai
espiritual, o Fundador.
2
Todos os outros desenvolvimentos relativos à formação inicial, estão: Positio, Biografia documentada, p. 178s.
3
Positio, Sumário, p. 137.
2. Momentos críticos do Instituto e chegada de Melania Calvat
Padre Aníbal, como aconteceu a todos os fundadores, passou por situações críticas que
envolveram diretamente irmã Nazarena Majone. Mencionamos dois acontecimentos que colocaram
em risco o crescimento do próprio Instituto.
Por causa de diversas situações, um grupo de quatro irmãs pensou em separar-se e ir para
outro lugar. O convite para deixar o instituto de Padre Aníbal e unir-se a elas foi feito também à
irmã Nazarena. A sua resposta foi clara e decisiva: “Jamais serei eu a fazer esta traição”.4
Nesta tomada de posição está toda a vida de Madre Nazarena. Junto aos testemunhos do
processo informativo enfatizo a absoluta fidelidade ao Fundador, que caracterizou toda sua vida.
Um mês após aquela experiência traumática, Padre Aníbal implorou a Deus uma pessoa
idônea para colocar à frente da comunidade. Na súplica de 22 de abril de 1897 pede uma religiosa
“santa, humilde, culta, sábia, e que seja capaz de restaurar e formar esta Pia Obra”. Seus olhos se
voltaram para Madre Nazarena, que há algum tempo desempenhava diretamente o papel de
responsável pelos órfãos. Ele lhe confiou também a comunidade religiosa, pois sabia que ela tinha a
mente livre do orgulho, filha do olhar inocente e todavia de uma índole forte, embora muito jovem.5
Outro acontecimento diz respeito à fuga de uma das meninas do orfanato do Espírito Santo. O
fato teve a intervenção da polícia e depois da Cúria Metropolitana que, com decreto, suprimiu a
nascente Congregação num momento em que o Fundador estava ausente de Messina. Ao retornar
encontrou irmã Nazarena em lágrimas por causa do acontecido.
Pe. Aníbal obteve da Cúria a permissão de colocar ordem na comunidade do Espírito Santo
através de uma pessoa encarregada de dirigir o Instituto. Assim convidou Melania Calvat, de
Galatina, província de Lecce, a vidente de Nossa Senhora da Salete, com a qual mantinha contato.
Ela aceitou por um ano, iniciando no dia 14 de setembro de 1897, em Messina. O temperamento
rígido e austero de Melania, deu oportunidade a irmã Nazarena de amadurecer nas virtudes como a
humildade, a obediência e o sentido de pertença.
Nazarena Majone, aos trinta anos, gozava de plena confiança das irmãs, especialmente do
Fundador que- às duras provas do período em que Melania esteve à frente, tinha melhor
experimentado e compreendido as virtudes e a fidelidade da Madre Nazarena. Daí a vontade do
Padre Aníbal de não se privar mais daquela colaboradora.6
Trinta anos ao lado do fundador, como sinal de fidelidade. Com ela não haverá mais divisões
e, por outro lado, as comunidades religiosas terão nela uma genial e paciente mediadora, experiente
4
Positio, Relatório Informativo, p. XVIII.
5
Ibid.
6
Sumário, p. 271.
e capaz de amenizar os momentos mais críticos. O Padre Teodoro Tusino, referencial histórico das
Obras do Padre Aníbal, tece elogios abertos à serva de Deus por se manter fiel ao Fundador e às
irmãs; também Padre Serafino Santoro ressalta o heroísmo de Madre Nazarena nos anos difíceis,
quando a obra gemia debaixo das tempestades.7
7
Positio. Relatório Informativo, p. XIX. Cf. TUSINO T., Circolare, 11.10.1950.
3. Fidelidade criativa e dinâmica ao Fundador
O Relator do processo de canonização, querendo definir o tipo de fidelidade de Nazarena
Majone ao Padre Aníbal, usa dois termos: “criativa e dinâmica”.
Convém, antes de tudo, citar o texto: “É amplamente comprovado que Madre Nazarena
assumiu com fé e sabedoria celeste o carisma do Rogate, unindo oração e apostolado, Rogate e
Caridade, como elementos de uma mesma realidade. Em torno deste núcleo se desenvolve a
personalidade, a espiritualidade, a multiforme irradiação das obras promovidas pela serva de Deus,
sob a orientação de Padre Aníbal, mas com sua participação criativa e dinâmica”.8
“Foi verdadeira cópia do Padre Fundador, forte, repleta de santo entusiasmo, de energia
magnânima, companheira fiel, dedicada em tudo e sempre, até a entrega total” (Lembo Giuseppina,
Testemunhos, vol. 2, p. 7). “Foi fiel intérprete da vontade do nosso Padre Fundador” (irmã Marina
Salvia, Testemunhos, vol.3, p.42) porque ela via nele um santo “e por isso executava as suas ordens,
e os seus simples desejos eram para ela inquestionáveis” (T. Tusino, Circular, 11/10/1950). De fato,
irmã Corradina Morana recorda suas palavras: “Ao Padre se deve sempre obedecer; eu não posso
mudar as suas ordens” (Testemunhos, vol. 1b, p. 240). “O Padre pode fazer o que quer, mas eu
aquilo que quer o Padre” (Irmã Beatrice Spalletta, Testemunhos, vol. 1b. p.358).
“Era muito obediente ao Padre e não fazia por amizade humana, mas por respeito à sua
autoridade de fundador e de sacerdote” (Madre Francesca Anzollitto, Testemunhos, vol. 1a, p. 9).
“A nossa Madre Geral se colocava sempre em comum acordo com ele” (Irmã Rosalia Caltagirone,
Positio, Vol. II, p. 171).
8
Positio Relatório Informativo, p. V.
“Irmã Nazarena foi o braço direito; era iluminada e orientada sabiamente por irmã Anna
Maria Gonzaga, superiora das Filhas de Sant’Ana, em Messina” (Pasqua Tommaso, Positio, vol. II,
p. 394). O Padre Aníbal e a serva de Deus “são duas figuras que se destacam no horizonte das
instituições, chamadas por Deus a realizar um projeto que, acolhido pela Igreja, deu início a obra...”
(C. Raffa, Circular, n. 39, 2/10/1988).
“Irmã Nazarena, dada por Deus Pai como ajudante e cooperadora na fundação da obra
antoniana, teve a mesma firmeza e a mesma coragem, o mesmo potencial de amor que se admirava
no Padre. Firme na confiança em Deus, humilde e suave como ele, cheia de afeto pelas crianças e
pelas irmãs, pronta a cada momento ao sacrifício mais duro, nada menos daquilo que era o Padre;
parecia modelada sobre ele, tão perfeitamente soube assumir seus ideais, o espírito e o coração.
Humilde e dócil, com a paciência unida a uma caridade sem limites: eis as características que
faziam de irmã Nazarena uma figura de mulher magnífica, que sabia, com força superior, suportar
cada sacrifício e não esmorecer diante de qualquer dificuldade. Não é de se admirar que o Padre a
queria como superiora geral da congregação e as irmãs a amassem como uma mãe” (F. Porretta, p.
112). 9
Alongamo-nos em apresentar esta fila de testemunhos, porque parece ser o modo mais eficaz
para fazer compreender o tipo de fidelidade ao fundador, que depois do Concílio se tornou o fio
condutor do magistério pontifício. Basta recordar qualquer intervenção do Papa Paulo VI10 e de João
Paulo II. Estes falam explicitamente de fidelidade criativa e dinâmica e afirmam que “exatamente
em tal fidelidade à inspiração dos fundadores e das fundadoras, dom do Espírito Santo, se
descobrem mais facilmente e se revivem com mais ardor os elementos essenciais da Vida
Consagrada”.11
Afirmando em Madre Nazarena uma fidelidade dinâmica e criativa ao fundador, se quer evitar
entender tal atitude no sentido errôneo e repetitivo, como se fosse uma “cópia” sem os traços da
própria personalidade.
Dizer que a Madre Nazarena foi a sombra de Aníbal Maria Di Francia, como afirmam as
testemunhas do Processo realizado no vicariato de Roma, 12 pode ser um engano. “A definição é
perfeita, mas é também interpretada como um rótulo de conveniência, que acabou prejudicando a
real imagem da serva de Deus, ou melhor, o reconhecimento integral da sua pessoa”.13
Pode ser interpretada no sentido correto quando se aplica à humildade e à obediência, como
diz uma testemunha: “Era a sombra do fundador pela sua obediência fiel e pronta”.14
15
Ibid., relatório Informativo, p. LXXXIII.
4. Um voto singular
Prova sensível de fidelidade ao Fundador foi um acontecimento que despertou grande
admiração dos teólogos examinadores dos escritos da Madre Nazarena. Entendemos que se refere
ao voto de perfeita obediência ao Fundador, assinado por ela no dia 1º de julho de 1904,
praticamente no início do seu ofício de superiora geral. Vale a pena relembrar o texto do voto.
“Eu, abaixo assinada, querendo inteiramente morrer a mim mesma para dar-me toda a Jesus,
Sumo Bem, renuncio à minha vontade pela obediência, e, portanto, faço voto de perfeita obediência
a meu pai e diretor espiritual, Cônego Aníbal Maria Di Francia, submetendo ao seu julgamento e à
sua vontade cada ação minha, para sempre ao Esposo Divino, ao qual me consagrei por inteira”.16
Este escrito - observa Padre Luigi Bogliolo - reflete bem a atitude de total obediência ao
fundador, Padre Aníbal Di Francia. Em todas as circulares da serva de Deus se percebe a presença
daquele que deu início a toda obra Rogacionista: o ramo feminino e o masculino. E, certamente, foi
a plena fidelidade às orientações espirituais e apostólicas que lhe deu a honra de cofundadora.
Muitas cartas são de administração ordinária e parecem ditadas pelo próprio fundador ou de
certa forma transmite, com senso de viva veneração, o seu pensamento.17
Nesta primeira parte se pode perceber a nota fundamental da sua espiritualidade: o abandono
incondicional à vontade de Deus que ela via nas orientações do venerável fundador, para o qual
conserva uma grande consideração, referindo-se a ele em todas as disposições, pronta a dar notícias
sobre sua saúde, convidando as irmãs a rezarem pelo seu restabelecimento. É evidente que o
considerava um santo; nas cartas escritas depois de sua morte, tem confiança na sua intercessão
junto a Deus (Cf. p. 131, 138, etc.).
Madre Nazarena é uma alma simples, mas com profunda vibração espiritual e dotada de uma
fortaleza cristã a toda prova.
Considero que o total e constante abandono à vontade de Deus, presente de vários modos e
em várias formas nos escritos, seja a característica não só dominante, mas totalizante da vida
virtuosa da serva de Deus.18
16
Escritos, p. 192.
17
Positio sobre os escritos, p. 241.
18
Ibid., p. 253.
Os escritos da Madre Nazarena – anota o relator do processo – são um constante apelo à
docilidade voltada ao Padre, e é significativo o fato de que com ela no governo, durante trinta anos,
nunca se verificou incidente de percurso na obra, como no início.
Há, portanto um específico parecer de Padre Tusino: “Nos agrada render homenagem à
virtude da Madre Nazarena, que foi filha fidelíssima do fundador. Consta que os mal-entendidos
entre um fundador e a superiora geral, provocaram, em um instituto, a intervenção da autoridade
eclesiástica, resultando que o fundador foi para sempre afastado da sua obra. Se ao Padre Aníbal foi
poupada esta prova, se deve principalmente a ação da Madre Nazarena”.19
O abandono à vontade de Deus explica a sua serenidade em não querer mais ser reeleita como
superiora geral. Apressa-se e escreve às irmãs: “Ainda vos peço, o que fazíeis comigo fazei com
esta Madre Geral; não podeis perder os méritos de tantos anos”.20 Escrevendo à nova madre geral
assim se exprime: “Reverenda Madre, confesso que não tenho intenção de fazer minha vontade
submetendo-me sempre, mesmo podendo intuir a sua vontade o farei. Tanto porque Vossa
Maternidade possa saber as minhas disposições”.21
19
TUSINO T., Os Rogacionistas e As Filhas do divino Zelo, Circular, Roma, 1950, p. 23.
20
Escritos, p. 1556
21
Ibid., p. 158.
5. Elogios e apreciações do fundador
Até agora abrimos espaço mais para o testemunho de outros de fora, e então podemos
perguntar o que pensava expressamente o fundador. O fato de ter sido sua direta colaboradora e
superiora geral do instituto por três décadas é sinal claro da confiança que ele depositava na Madre
Nazarena. Todavia, Padre Aníbal manifestou várias vezes por escrito e oralmente sua profunda
convicção a respeito da fidelidade da Madre Nazarena. Nas 405 cartas do fundador à Madre,
transparecem com clareza a estima que tinha por ela. Ninguém, mais que o fundador, que foi por
algum tempo seu diretor espiritual, tem maior conhecimento da serva de Deus e pode emitir parecer
verdadeiro sobre ela. Os encontramos expressos, direta e indiretamente, quando ele fala ou escreve
a ela em primeira pessoa, ou quando fala dela aos outros.
Antes de tudo, a carta escrita pelo fundador em 17 de agosto 1902, por ocasião do onomástico
da Madre Nazarena. O texto está publicado na íntegra ao final deste escrito, a fim de que o leitor
faça uma ideia pessoal, além dos comentários referidos. Limitamo-nos a sublinhar alguns.
O fundador se associa aos festejos que as Filhas do Divino Zelo e as órfãs fazem no
onomástico da Madre Nazarena. Lembra o grande dom da vocação, de ter sido escolhida pela divina
bondade para ser esposa de Jesus Cristo, mediante a consagração religiosa e de ser colocada à frente
do instituto como superiora geral, e deseja que ela continue progredindo em todas as virtudes.
Esta carta é de grande importância e vai além dos cumprimentos ocasionais pela
circunstância. O fundador usa suas próprias palavras para descrever uma breve história da alma, e o
perfil espiritual e humano de uma jovem de aldeia, eleita pelo Senhor a tornar-se “como uma pedra
fundamental da mística fábrica e elevada à direção de uma comunidade religiosa de irmãs”.
É fundamental o elogio que o Padre Aníbal Maria faz acerca da colaboração, “como filha
dócil e obediente, companheira fiel nas vicissitudes tristes e alegres do instituto, nos tantos
sacrifícios por aquele santo ideal que nela predomina”.
Ele afirma, na qualidade de seu “pai espiritual”, para melhor assinalar a importância do
conteúdo expresso nos seus cumprimentos de felicitações.
Outro exemplo que me parece oportuno lembrar é uma página de uma testemunha ocular.
Trata-se de Padre Carmelo Drago e se refere à opinião do fundador, no leito de morte, o “último
segredo do mestre ao perfil espiritual da discípula”22, como define o relator do processo.
Certo dia ela me perguntou quantos éramos de Ória, na teologia, e quantos outros religiosos e
aspirantes eram inclinados ao sacerdócio. Apenas escutou o número, exultou de alegria e disse:
“Agora sim, morro contente, depois de ter visto que, graças a Deus, a congregação começa a ter os
seus sacerdotes e tem para o futuro ótimas esperanças. Isto sempre foi o objeto das minhas
preocupações, das minhas orações e dos meus sacrifícios; tenho uma estima pela congregação
masculina não menor que por aquela feminina. Temo que o Padre não veja na terra os frutos das
suas fervorosas orações e dos seus heroicos sacrifícios”. Eu disse a ela: “A última vez que o Padre
Aníbal esteve em Ória, me perguntou que ano estávamos cursando na teologia. Recebida a resposta,
disse: “Sejam infinitamente benditos os divinos superiores. Certamente eu não terei a graça de ver-
vos sacerdotes; mas não importa, vos verei do céu. O importante é que vá adiante a congregação.
Vos recomendo de lembrar-vos de mim na Santa Missa e de fazer sufrágio por mim em vossas
orações”. Neste momento, Madre Nazarena, começou a chorar e se afastou. Contei ao Padre do
contentamento da Madre Nazarena ao receber as boas notícias do progresso das vocações e do
estudo daqueles da casa de Ória. E o Padre me disse: “Madre Nazarena é verdadeiramente uma
alma bela. Simples como uma pomba. Não conhece o que seja fingimento, duplicidade, política. O
seu falar é evangélico: “Sim, sim; não, não”. É fidelíssima, ligada cem por cento à congregação,
observante e formada segundo o espírito dos institutos masculino e feminino”.23
Padre Vicenzo Caudo, outra testemunha ocular, afirma: “O Cônego Di Francia, com o qual eu
tinha muito contato me disse um dia: ‘A vossa conterrânea, irmã Nazarena Majone, foi para o meu
instituto uma verdadeira providência. Era tão conceituada que coloquei em suas mãos a
administração de todo o Instituto’. Lembro que o Padre Aníbal Maria Di Francia organizou um
sarau de poesias em sua homenagem, por ocasião do seu onomástico. O sarau foi concluído com um
discurso do Padre em que fez o mais alto elogio à festejada”.24
Gostaria de concluir estas anotações com uma apreciação do relator do processo. Ele escreve:
“Percebo nos documentos examinados por mim o relacionamento entre esta digna filha e o seu pai,
o fundador. É preciso ir com cautela, seja quando se compara a serva de Deus com Padre Aníbal ou
quando se quer mencionar as virtudes e sua bagagem espiritual. Na busca de semelhanças estão
aqueles que a chamam de “filha fidelíssima do fundador, de religiosa formada inteiramente no
espírito do Padre, de incondicional executora da vontade e dos desejos do Padre Fundador; por isso,
para concluir, aquilo que se diz do Padre, se pode dizer dela”, sendo dele a cópia perfeita. Essas
virtudes são todas atribuídas à serva de Deus, e confirmam o seu mérito, todavia se deve equilibrar
com outro material de qualidade expresso por ela. A graça a plasmou como peculiar, o seu perfil
espiritual não se enquadra perfeitamente ao do Fundador, presente na própria inconfundível
personalidade e feminilidade. Percebe-se, entre outros aspectos, a sua maternidade oblativa, pela
qual se doa totalmente, durante toda a sua vida. E o resultado dessa harmonia, diante de uma Madre
Nazarena sombra de um grande santo, marcada pelo sopro original do Espírito, que ficou impresso
em sua personalidade como uma “surpreendente manifestação da ação da graça de Deus”.25
Documento
23
DRAGO C., O Padre, fragmentos da vida quotidiana, Ed. Rogate, Roma , 1995, n. 211. A conclusão do texto é nossa.
24
Informações sobre as virtudes, p. 6.
25
Relatório Informativo, p. XLII-XLII.
Carta autografada do beato Aníbal Maria Di Francia à Serva de Deus, Nazarena Majone.
(Messina, 17 de agosto de 1902)26
É este dia, em que as Filhas do Divino Zelo e as órfãs festejam o vosso onomástico.
E para que a vossa alegria possa crescer, vos faço também eu as minhas felicitações e
parabenizo.
Alegro-me convosco, porque escolhida pela divina bondade do meio do mundo, fostes
escolhida para ser esposa de Deus eterno e imortal, do dileto Coração de Jesus, Senhor Nosso.
Congratulo-me convosco, porque elevada pela onipotente mão de Deus além da vossa
humilde condição, fostes colocada para ser como uma pedra fundamental da mística fábrica, e
elevada à direção de uma comunidade religiosa de irmãs, que são como geradas pelo zelo
ardentíssimo do Divino Coração de Jesus: destinada a cooperar junto ao ministro de Deus em uma
instituição que, ainda menina, atrai sobre si as bênçãos dos mais excelsos representantes de Deus
sobre a terra, pela santa missão à qual se dedicou: a oração cotidiana para obter os bons e
evangélicos operários à santa Igreja, e a salvação das órfãs abandonadas.
E da vossa colaboração eu me glorio no Senhor, sendo vós filha dócil e obediente, e dizer
quase companheira fiel nos momentos tristes ou alegres deste Instituto, e nos tantos sacrifícios
entre os quais caminhamos, por aquele santo ideal que se almeja, confortados pela grande
esperança e pelo crescimento dos bons desejos.
Por isso, vos desejo em primeiro lugar o aumento do divino amor e na santa humildade,
coragem, perseverança, fortaleza e confiança, luz, paciência e sabedoria na árdua missão de
conduzir a barquinha entre as ondas e tempestades: mas elevai sempre o olhar e invocai sempre a
estrela dos mares.
Desejo-lhe outra coisa que será compensadora: isto é, até que o Senhor vos queira neste
lugar, todas as vossas súditas vos consolem na prontidão da obediência, com docilidade em deixar-
se modelar com exatidão na disciplina e nos trabalhos, e muito mais com o crescimento nas
virtudes; e vos desejo que possais ver crescer o número de vocações humildes e santas.
Termino implorando dos corações de Jesus e de Maria as mais eleitas bênçãos, enquanto que
da minha parte não cesso de abençoar-vos, por meio de Jesus, Sumo Bem.
21 de março de 1880 Fica órfã de pai; Bruno Majone morre aos 73 anos.
Outubro de 1889 Maria se encontra com as irmãs Rosalia Arezzo e Maria Giuffrida do
instituto recém fundado por Aníbal Maria Di Francia. As religiosas
foram a Graniti pedir esmolas.
14 de outubro de 1889 Entra como aspirante no Instituto do Padre Aníbal Maria Di Francia,
no Bairro Avignone.
07 de junho de 1895 Nazarena vai morar com 12 órfãs no ex-mosteiro do Espírito Santo
(atual Casa Mãe das Filhas do Divino Zelo.
14 de setembro de 1897 Nazarena vai a Régio Calábria com Madre Carmela D’Amore para
buscar Melania Calvat que assume a direção do instituto.
02 de outubro de 1898 Melania Calvat deixa o Instituto. Madre Nazarena permanece como
superiora até 18 de março 1928.
28 de dezembro de 1908 O terremoto de Messina faz treze vítimas entre as Filhas do Divino
Zelo.
23 de março de 1909 Padre Aníbal, Madre Nazarena, Madre D’Amore e Padre Palma são
recebidos em audiência privada pelo Papa Pio X.
10 de fevereiro de 1917 Circular do Padre Fundador pelos 25º anos de vida consagrada de
Madre Nazarena e Madre Carmela D’Amore.
25 de fevereiro de 1921 Madre Nazarena envia uma circular às comunidades FDZ exortando
as irmãs a rezarem pela recuperação da saúde do Padre Fundador.
12 de novembro de 1924 Fundação da casa de Roma. Estava presente Madre Nazarena, que
foi de Messina no dia 24/10/1924.
09 de maio de 1927 Madre Nazarena vai com Padre Fundador à Guardia, pois a saúde
frágil do Padre requer troca de clima.
01 de junho de 1927 Morre Padre Aníbal. Madre Nazarena sente muito o vazio desta
partida.
06 de março de 1928 Madre Nazarena confirma através de carta que o Capítulo Geral será
nos dias 18 e 19 de março 1928.
21 de março de 1928 Madre Nazarena retorna a Messina, onde permanece até 08 de abril.
28 de abril de 1928 Madre Cristina, em uma circular, elogia Madre Nazarena, “nossa
primeira madre e cofundadora”.
07 de outubro de 1932 Madre Nazarena integra o novo Conselho, nomeada vigária geral e
superiora da casa de Messina.
13 de junho de 1934 É colocada a 1ª pedra na nova igreja e orfanato. Está presente Dom
Pasetto.
14 de junho de 1938 Inauguração da capela da Casa Geral.
01 de outubro de 1998 Foi entregue à Sagrada Congregação para a causa dos santos a
Positio super virtutibus.
Índice
Apresentação
1. Um encontro providencial
4. Um voto singular
Documento