Analise de Solos para Fundacoes Unidade I

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ANÁLISE DE SOLOS PARA FUNDAÇÕES

UNIDADE I
INVESTIGAÇÕES DE SOLOS
Elaboração
Mateus Arlindo da Cruz

Produção
Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração
SUMÁRIO

UNIDADE I
INVESTIGAÇÕES DE SOLOS............................................................................................................................................................... 5

CAPÍTULO 1
TIPOS DE SONDAGENS................................................................................................................................................................ 5

CAPÍTULO 2
TIPOS DE AMOSTRAGEM DE SOLOS E ROCHAS............................................................................................................. 11

CAPÍTULO 3
AVALIAÇÃO DE LAUDOS DE SONDAGEM......................................................................................................................... 17

CAPÍTULO 4
PRÁTICAS DE SONDAGEM...................................................................................................................................................... 23

REFERÊNCIAS................................................................................................................................................29
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INVESTIGAÇÕES DE SOLOS UNIDADE I

CAPÍTULO 1
TIPOS DE SONDAGENS

Segundo Guimarães (2018), os solos são formados principalmente por diferentes


partículas sólidas, água (em alguns casos pode ser outro líquido) e alguns espaços
vazios. Esses espaços vazios fazem com que as partículas possam se locomover dentro
da estrutura dos solos.

Devido à grande diversidade dos solos existentes no mundo, simultaneamente à


verticalização das construções, fez-se necessária a elaboração de práticas e exames
para avaliação dos subsolos em que os elementos de fundações estarão assentados.
Esse agrupamento de práticas/exames para investigação do subsolo é chamado de
sondagem.

O objetivo principal da realização de sondagens em solos é o correto conhecimento


desses solos, no que diz respeito a sua origem (mineralogia, processo formador),
estratigrafia, cor, textura, espessura de camadas, posição do nível d’água, entre outros.
Entre os inúmeros tipos de sondagens realizadas nos solos no âmbito da engenharia,
Guimarães (2018) destaca as seguintes:

» Standard Penetration Test – SPT (sondagem mais realizada em solos penetráveis);

» Standard Penetration Test – SPT-T, combinado com dimensões de torque;

» Ensaio de penetração de cone – CPT;

» Ensaio de penetração de cone – CPT-U, combinado com dimensões de torque;

» Ensaio da palheta – Vane Test;

» Pressiomêtros (Ménard e autoperfurantes);

» Dilatômetros (Marchetti);

» Prova de cargas;

» Cross-Hole.

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A escolha do método de sondagem a ser realizada para a investigação do subsolo


depende da magnitude e do porte da obra, além das características perceptíveis do
solo (conforme visita prévia in situ). As sondagens podem ser divididas em dois
grandes grupos: as diretas, que necessitam da perfuração do maciço a ser investigado,
e as indiretas, que não necessitam da perfuração.

As sondagens geofísicas consistem na utilização de métodos sísmicos e elétricos.


A união desses dois métodos gera um “raio-x” do solo investigado, sendo possível
verificar a presença de rochas, suas espessuras, zonas fraturadas, entre outros
aspectos. Nesse tipo de sondagem não se faz necessária a perfuração do maciço a
ser investigado.

As sondagens geofísicas são recomendadas para investigações de passivos


ambientais (delimitar a abrangência da contaminação), em aberturas de
poços artesianos e na identificação de minérios presentes no solo (pesquisas
mineralógicas). A principal vantagem desse método de sondagem é a rápida
resposta de dados e a qualidade dos dados obtidos, porém a sua realização
demanda uma alta perícia do profissional responsável pela análise dos dados,
além de o método ter elevado custo de execução (principalmente pelo valor do
equipamento).

As sondagens mecânicas são usadas para realizar a investigação do subsolo em


pequenas profundidades (até 100 metros). Nesses tipos de sondagens ocorre a
perfuração do maciço rochoso. Das sondagens mecânicas, a mais utilizada no
Brasil é a sondagem de simples reconhecimento.

A NBR 8036:1983 estabelece, com base na área de projeção da planta da


edificação, a quantidade de perfurações necessárias para investigação
do subsolo por meio da sondagem de simples reconhecimento, conforme
demostrado na tabela 1.

Tabela 1. Número de perfurações.

Área (m²) Número de perfurações


Até 200 2
De 200 a 400 3
De 1200 a 2400 1 furo para cada 400 m² excedidos de 1200m²
Acima de 2400 Plano particular de cada construção
Fonte: NBR 8036, 1983.

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Ainda, a NBR 8036:1983 recomenda que, em situações em que não se tem


a planta da edificação, o número de perfurações seja fixado de modo que a
distância dos furos seja de no máximo 100 metros, com um número mínimo de
três perfurações. Para melhor investigação do subsolo, recomenda-se realizar
a sondagem até a profundidade em que o solo não sofra ações significantes
das cargas estruturais, realizando as perfurações nos locais onde houver as
maiores concentrações de cargas, não devendo realizá-las em planos alinhados
e cuidando sempre do nível de referência.

A sondagem à percussão – SPT, consiste na perfuração, por meio de um trado ou


de lavagem, em que se faz o uso de um amostrador para a verificação das medidas
dos índices de resistência à penetração dos solos investigados. Ainda por meio
desse ensaio, é possível obter amostras dos solos, determinar o nível d’água e
medir o valor de torque da ruptura da amostra.

Os objetivos do SPT são a determinação dos tipos de solos conforme as suas


profundidades, a determinação do nível d’água e o índice de resistência à
penetração (N). O “N” é determinado pelo número de golpes necessários
para a cravação de 30cm do amostrador padronizado, após a cravação dos
primeiros 15cm.

As vantagens de se usar o SPT são a capacidade de ultrapassar o nível d’água


na realização do ensaio, a viabilidade da execução do ensaio em locais de difícil
acesso e o baixo custo (em torno de 35 a 80 reais por metro perfurado). Porém
o SPT apresenta algumas desvantagens, como não ultrapassar matacões e blocos
de rochas, além de poder ser detido por pedregulhos ou solos muito compactos e
gerar amostras de solos deformados.

Outro processo de investigação direta do solo ocorre por meio de poços e trincheiras,
nos quais são feitas escavações com a finalidade de retirar amostras de solos e realizar
inspeções diretas do terreno, conforme a profundidade. A diferença entre poços e
trincheiras é que os poços têm seções circulares (permitem a passagem de operários)
e possuem profundidade maiores que as trincheiras, já as trincheiras têm seções
retangulares e são comumente chamadas de valas.

O método de investigação supracitado permite que o usuário faça a observação da


estratigrafia do solo em suas mais diversas camadas, além da retirada de amostras
indeformadas do solo para a realização de ensaios laboratoriais posteriores. A
realização deste método de investigação é regido pela NBR 9604:2016 – Abertura

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de poço e trincheira de inspeção em solo, com retirada de amostras deformadas e


indeformadas — Procedimento.

A sondagem por meio de trado é o método de investigação do solo que utiliza um


amostrador de solo com lâminas cortantes, geralmente espiraladas ou convexas,
chamado trado. Esse método tem por finalidade a coleta deformada de solos, com a
determinação do nível d’água e a identificação dos horizontes do terreno.

A sondagem a trado pode ser executada com trados manuais ou mecânicos. É uma
das sondagens mais baratas e rápidas para a execução, não exige equipamentos
sofisticados e mão de obra especializada, porém limita-se à profundidade do nível
d’água e obtêm-se informações somente sobre o tipo de solo que o trado atravessa,
não sendo possível a sua visualização, como no caso das trincheiras. O ensaio é
regido pela NBR 9603:2015 – Sondagem a trado – Procedimento.

A investigação que consiste na utilização de um conjunto de equipamentos


motomecanizados e é destinada à perfuração de maciços rochosos é chamada
sondagem rotativa. Por meio dele é possível a obtenção de amostras do solo
indeformadas, chamadas de testemunhos.

O aparelho para a realização da sondagem rotativa possui em sua ponta uma coroa
diamantada, a qual gira em velocidades variadas. Com a pressão produzida por um
macaco hidráulico, corta a rocha, gerando os testemunhos e medindo o nível de
resistência. Pela complexidade do equipamento a sondagem rotativa tem um
custo elevado, sendo recomendada em solos com presença de matacões e maciços
rochosos.

Em determinadas situações pode-se fazer o uso combinado das técnicas de


sondagem à percussão e rotativa, chamado sondagem mista. Esse método é
destinado a investigações em terrenos que possuem até certa profundidade, solos
menos compactados e de certa profundidade, solos mais compactados.

O ensaio de penetração de cone – CPT é realizado por meio da cravação de uma


haste com ponta cônica a uma velocidade lenta, a qual possui sensores que realizam
leituras de resistência encontrada na ponta e resistência por atrito lateral. Com
o auxílio de ábacos, correlaciona-se a resistência de ponta e de atrito lateral,
determinando o tipo de solo investigado. Essa técnica de investigação do solo possui
um dos custos mais elevados devido à complexidade do equipamento.

O CPT tem como vantagens a alta confiabilidade dos resultados devido a sua
precisão, o baixo tempo de execução e agilidade nos resultados, a cravação da

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haste quase que de forma estática e, ainda, a possibilidade da medição de poros


de pressão. Como desvantagem, essa técnica pode ser empregada somente em
terrenos que tenham condições de acesso, pois o equipamento para a realização do
ensaio geralmente é montado em cima de caminhões, podendo-se citar, também,
a falta de experiência de profissionais para a realização do ensaio.

O ensaio da palheta – Vane Test é empregado para determinar a resistência ao


cisalhamento não drenado (Su) das argilas moles. O ensaio é realizado por meio da
rotação padrão de uma palheta cruciforme em uma profundidade determinada.
Com base no valor de torque versus a rotação da palheta, determina-se a resistência
não drenada do solo.

O ensaio de Vane Test tem como principal vantagem a possibilidade de se repetir o


ensaio inúmeras vezes no mesmo local, sendo possível medir grandezas físicas e
possuir um equipamento considerado simples para a realização do ensaio. Como
desvantagem, pode-se citar a extrema lentidão para a realização do ensaio e,
visto que a resistência não drenada de solos é um tópico complexo, a demanda de
profissionais extremamente habilitados.

Os ensaios dilatométricos (DMT) são destinados à estimativa do módulo de


elasticidade das camadas dos solos investigados. O ensaio é realizado por meio
da cravação de um pontalete metálico, com interrupções a cada 20cm. Após a
interrupção, é introduzido gás nitrogênio, que expande uma membrana localizada
na extremidade do pontalete contra o terreno. Através da expansão da membrana,
com auxílio de manômetros, são realizadas as leituras de quando a membrana
“vence” o esforço de compressão do terreno de quando esta membrana desloca
1,1mm o solo.

Os ensaios pressiométricos (PMT) são destinados à estimativa do módulo de


elasticidade das camadas dos solos investigados. O ensaio é realizado por meio
da inserção em um pré-furo de sonda pressiométrica, no qual é inserido um gás
de nitrogênio na membrana localizada nas extremidades do pontalete, causando
uma deformação radial. As leituras das deformações são enviadas para um painel
de controle que mede as variações de pressão e os volumes ocasionados pela
deformação do solo.

Com base nos principais ensaios de investigação dos solos citados neste capítulo,
pode-se resumir o tipo de ensaio destinado a cada material e as informações que o
ensaio gera. Esses dados estão apresentados na tabela 2.

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Tabela 2. Resumo dos ensaios de investigação do solo.

Ensaio Solo Informações


Pode ser realizado em qualquer tipo de solo, sendo mais Índice de resistência à penetração, amostras deformadas
SPT
recomendado em solos arenosos dos solos, posição no nível d’água
Pode ser realizado em qualquer tipo de solo, sendo mais Resistência de ponta e de atrito lateral, tipo de solo
CPT
recomendado em solos arenosos investigado
Vane Test Aplicado em solos argilosos e moles Torque
Pode ser realizado em qualquer tipo de solo, sendo mais
DMT Variação do volume versus pressão aplicada
recomendado em solos arenosos
Pode ser realizado em qualquer tipo de solo, com
PMT Variação do volume versus pressão aplicada
exceção de solos duros
Fonte: Autor, 2019.

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CAPÍTULO 2
TIPOS DE AMOSTRAGEM DE SOLOS E ROCHAS

A amostra de um material é nada mais que uma porção reduzida de um corpo


maior, selecionada com a finalidade de estudar as características do material
como um todo. Logo, o objetivo de amostras de solos e rochas é a representação
da situação geológica real, determinada por uma quantidade finita de amostras
do material.

Para uma amostragem ser considerada satisfatória, é necessário elaborar critérios e


processos que permitam manter os erros controlados, de forma que não interfiram
no resultado. Esse processo deve ser adotado desde a coleta do material até a
interpretação dos dados.

Após a elaboração do plano de amostragem, esta deve ser feita de forma


sistemática, obedecendo aos critérios e métodos definidos e especificados no
plano. Deve-se ressaltar que há erros em todas as etapas da amostragem, porém
cabe ao profissional responsável por ela o controle deles.

As amostras de solos e rochas podem ser classificadas quanto a sua forma de coleta
(pontuais, canais e planares) ou de acordo com o estado em que elas se encontram
(deformadas ou indeformadas). O tipo de amostra a ser colhida está diretamente
ligado ao tipo de prospecção a ser realizada no solo.

As amostras pontuais, de canais e planares são mais utilizadas para estudos


geoquímicos de rochas ígneas e metamórficas. Não é recomendado esse tipo de
amostras para a realização de estudos estruturais.

Na engenharia civil, as principais amostras de solos e rochas utilizadas são as


deformadas e indeformadas. Em uma amostra indeformada - também chamada de
amostra não perturbada de um solo ou rocha -, faz-se o corte do solo, retirando e
acomodando a amostra com a mínima alteração possível de seu estado in situ. Na
figura 1 é apresentada uma amostra de solo indeformada sendo coletada.

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Figura 1. Coleta de amostra de solo indeformada.

Fonte: TORRES ENGENHARIA, 2015.

Para a realização do estudo da viabilidade técnica e econômica para a retirada


da amostra, deve-se verificar a origem do solo a ser amostrado, a profundidade
em que ele se encontra, além da presença do nível d’água. Os fatores elencados
determinam o tipo de prospecção a ser utilizado, bem como os recursos necessários.

Em situações em que o terreno a ser investigado é próximo à superfície, a coleta


de amostras indeformadas é feita sem grandes esforços, utilizando amostradores
onde o avanço ocorre por anéis cilíndricos ou por escavações em formato de
blocos (como demonstra a figura 1).

O aspecto da amostra, em sua grande parte, tem forma cúbica, podendo


representar a estrutura do solo ou da rocha, bem como a umidade na data de sua
coleta, além da composição mineral e da textura. Com as amostras indeformadas
de um solo, pode-se ensaiar em laboratório a fim de determinar os índices
físicos, coeficiente de permeabilidade, parâmetros de compressibilidade e
resistência ao cisalhamento.

Em solos moles, localizados abaixo do nível d’água, a extração de amostras


indeformadas é realizada com o auxílio de amostradores com paredes finas. Já
em solos localizados acima do nível d’água, os quais possuem uma densidade
maior, o método mais comumente utilizado é a abertura de poços até a cota na
qual se deseja retirar o bloco de solo.

Os cuidados na retirada de amostras indeformadas devem ser maiores do que nos


aplicados para amostras deformadas. Para coleta das amostras, deve ser seguida a
NBR 9604:2016, que padroniza a retirada de amostras indeformadas e amostras

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deformadas. As amostras deformadas, por sua vez, são oriundas de prospecções que
retiram o solo por meio da destruição das suas características in situ.

As amostras deformadas também são chamadas por alguns autores de amostras


amolgadas, podendo ser utilizadas para identificação tátil e visual, realização do
ensaio de compactação, granulometria, limites de consistência, massa específica dos
sólidos. O volume de amostras deformadas a ser coletado deve ser suficiente para a
realização dos ensaios laboratoriais, bem como para a viabilidade da realização de
ensaios replicatórios.

Para a realização da coleta de amostras indeformadas até 1 (um) metro abaixo


da superfície do terreno, faz-se o uso de pás, enxadas, picaretas, entre outros. A
necessidade de utilização de equipamentos mais especiais (trados, amostradores
de parede grossa) varia, dependendo da profundidade em que se deseja coletar
a amostra. Quanto maior a profundidade de coleta das amostras, maior será a
necessidade de utilizar equipamentos especiais.

A responsabilidade daquele que executa as amostras não se limita apenas à


coleta, mas estende-se até a chegada das amostras representativas no laboratório,
garantindo a não alteração de suas características. Após a coleta das amostras,
elas devem ser identificadas.

O objetivo da identificação das amostras é assegurar a conexão delas com o local


de origem, fazendo com que os laboratoristas possam saber as condições em que
a amostragem foi colhida. Para fazer a identificação das amostras são usadas
etiquetas e uma ficha de coleta.

Nas etiquetas, o primeiro número representa a identificação de cada amostragem,


sendo seguida de algumas informações básicas (cliente, data da coleta das amostras,
entre outros). Essas informações devem ser repassadas para a ficha de coleta das
amostras, bem como descritas outras informações a respeito da amostragem.

Dentre as informações contidas nas fichas de coleta de amostras, devem estar:


número da amostra, temperatura ambiente, umidade relativa, ocorrência de chuva,
informação se a amostra é simples ou composta, ensaios laboratoriais solicitados,
método que deverá ser utilizado para a preservação das amostras de solos, além de
outras observações que o responsável técnico achar necessário.

A tabela 3 apresenta uma correlação entre a qualidade das amostras coletadas e as


propriedades dos solos que podem ser obtidas através destas amostras. A classe
1 representa as amostras de maior qualidade, já a classe 5, as amostras de menor

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qualidade, permitindo apenas a identificação visual do solo. Para obter amostras


de solos das classes 1 e 2, deve-se coletar amostras de solos indeformados; já as
classes 3, 4 e 5 são solos oriundos de amostras deformadas.

Tabela 3. Qualidade das amostras de solos.

Propriedade do solo Classe 1 Classe 2 Classe 3 Classe 4 Classe 5


Sequência de camadas X X X X
Limites dos estratos X X X X
Tamanho das amostras X X X X
Limites de consistência X X X X
Teor de umidade X X X
Porosidade X X
Permeabilidade X X
Resistência ao cisalhamento X
Fonte: EC7-2, 2007.

Outro aspecto a ser cuidado para a coleta das amostras de solos e rochas é o tipo do
amostrador utilizado. Existem inúmeros tipos de amostradores, cada um para uma
finalidade diferente. A seguir será explanado sobre cada tipo de amostrador e suas
aplicações.

O amostrador de tubo aberto é um tubo de aço longo com roscas de parafusos em cada
uma de suas extremidades. Esse tipo de amostrador pode ser cravado com auxílio de
um martelo deslizante ou, ainda, com uso de macacos hidráulicos. Recomenda-se,
antes de fazer a amostragem, retirar todo o solo solto no fundo do furo da sondagem.

O diâmetro interno do tubo aberto mais utilizado é o de 10cm, com um


comprimento de 45cm. Esse amostrador é apropriado para solos argilosos.
Quando ele for utilizado em solos arenosos, deve-se acoplar um retentor de
testemunho no tubo a fim de evitar a perda de material. A classe das amostras
obtidas por esse amostrador depende do tipo de solo.

Para solos sensíveis (argilas moles, médias e siltes plásticos), recomenda-se o uso
de amostradores de paredes finas. O diâmetro interno desses amostradores varia de
3,5cm a 10cm. O uso desse tipo de amostrador pode garantir amostras de solos de
classe 1, desde que o solo não seja perturbado durante a execução da sondagem.

Já os amostradores bipartidos são constituídos de um tubo dividido


longitudinalmente, permitindo que, após a retirada da amostra, ela possa ser
removida sem danos na sua estrutura. Esses tubos possuem diâmetros médios

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internos de 3,5cm a 5cm, suas amostras são classificadas na classe 3 e 4, sendo


utilizados para retirada de amostras de areias.

Tubos de paredes finas ligados a um pistão são chamados de amostradores de


pistão estacionário. O pistão impede a entrada de solo solto ou água no tubo, sendo
que o vácuo entre o pistão e a amostra melhora a sua aderência. Esses tipos de
amostradores devem ser abaixados com o auxílio de macacos hidráulicos, sendo que
seu diâmetro varia de 3,5cm a 10cm, chegando em alguns casos a ter diâmetro de
25cm. Os amostradores de pistão são utilizados para coleta de amostras de argilas
macias com classe 1 e comprimento que pode chegar a 1 metro.

Os amostradores contínuos são utilizados para obtenção de amostras


indeformadas de solos, podendo, em alguns casos, gerar amostragens de 25
metros de comprimento, sendo principalmente utilizados em argilas macias.
Por meio das amostras coletadas pelo amostrador supracitado é possível
determinar a textura do solo. Esse tipo de amostrador utiliza chapas ultrafinas
entre ele e a amostra a fim de eliminar a resistência de atrito do solo.

As chapas ultrafinas presentes entre o amostrador e a amostra é desenrolada


conforme o aparelho é introduzido no solo, envolvendo a amostra do solo. A
qualidade das amostras geralmente é da classe 1 e 2.

Para coleta de amostras indeformadas de areia, com qualidade classe 2, situadas


abaixo do lençol freático é utilizado amostrador de ar comprimido. Esse amostrador
é constituído de um tudo de aproximadamente 6cm, sendo que na sua extremidade
superior localiza-se uma válvula de escape.

Presa à cabeça do amostrador, há uma haste de guia oca com


uma cabeça-guia no topo. Um tubo externo (também chamado de
invólucro ou camisa, bell) envolve o tubo amostrador e está unido
a um peso que desliza na haste de guia. As hastes de perfuração são
colocadas com folga em um soquete liso no topo da cabeça-guia,
sendo o peso do invólucro e do amostrador suportado por meio
de uma corrente que se engancha em um pino no trecho inferior
da haste de perfuração; um cabo leve, ligado à superfície, é preso
à corrente. O ar comprimido, produzido por uma bomba de pé, é
fornecido por meio de um tubo que conduz à cabeça-guia, com o
ar passando pela haste de guia oca até o invólucro. O amostrador
desce pelas hastes de perfuração até o fundo do furo de sondagem,
que conterá água abaixo do nível do lençol freático. Quando o
amostrador se apoiar no fundo do furo de sondagem, a corrente
soltará o pino, eliminando a conexão entre o amostrador e as hastes

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UNIDADE i | Investigações de solos

de perfuração. O tubo é introduzido no solo por meio dessas hastes,


com um batente na haste de guia impedindo a cravação excessiva;
as hastes de perfuração são, então, retiradas. Nesse instante,
introduz-se ar comprimido, a fim de expelir a água do invólucro
e fechar a válvula na cabeça do amostrador, pressionando o
diafragma para baixo. O tubo é retido dentro do invólucro por
meio do cabo, e, então, os dois juntos são levantados ao mesmo
tempo para a superfície. A amostra da areia permanece no tubo
em virtude do efeito de arqueamento e da pequena poropressão
negativa no solo. Uma tampa é colocada no fundo do tubo
antes de a sucção ser liberada, e o tubo é retirado da cabeça do
amostrador. (KNAPPET, 2012)

Em solos finos secos é utilizado o amostrador do tipo janela, que tem um


comprimento de aproximadamente 1 metro e diâmetros que variam de 3,6cm a
8cm. Os tubos que possuem o mesmo diâmetro podem ser acoplados entre si.

A cravação do amostrador tipo janela no solo se dá por meio de percussão, com


auxílio de instrumentos mecânicos ou manuais, sendo que o processo de extração do
amostrador se dá da mesma forma. Primeiramente, é colocado o tubo de diâmetro
maior, depois inserido o de menor diâmetro, sendo que o processo é repetido até
chegar à profundidade desejada. Ainda nas laterais do tubo existem “janelas”
longitudinais que permitem a extração de amostras de solos na classe 3 e 4.

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CAPÍTULO 3
AVALIAÇÃO DE LAUDOS DE SONDAGEM

Como apresentado no capítulo 1 da presente apostila, existem diferentes tipos de


investigação do solo. Após a realização de determinada investigação, os dados dos
ensaios são compilados e apresentados nos laudos de sondagens.

Os dados do ensaio de SPT são apresentados por meio de um gráfico, chamado


perfil geotécnico do solo investigado, que, geralmente apresenta escala de 1:100.
Normalmente, apresenta-se um gráfico para cada furo da prospecção.

Além do perfil geotécnico, o responsável técnico pela realização da investigação deve


enviar a planta de situação dos furos realizados no terreno. Essa planta auxilia o
profissional a interpretar melhor os dados dos perfis geotécnicos do terreno.

A primeira verificação dos laudos de sondagens à percussão deve ser conferir se


ele apresenta os itens básicos para a correta leitura e análises posteriores. Todo o
laudo de sondagem deve conter:

» planta de situação do terreno, localizando onde os furos da prospecção foram


realizados;

» perfil geotécnico de cada furo realizado, com as devidas cotas onde se realizou a
coleta das amostras;

» ensaio realizado para a classificação das camadas do perfil geotécnico, com a


respectiva classificação;

» nível do terreno e do lençol freático (nível d’água) e as indicações das pressões


encontradas;

» resistência à penetração dos amostrados e as condições em que esses dados foram


coletados.

Um perfil geotécnico elaborado de forma correta apresenta diversas informações.


Essas informações são divididas em colunas, sendo elas correlacionadas com a
profundidade do solo investigado. A primeira informação apresentada no perfil
geotécnico é o índice de resistência à penetração do solo, chamado de NSPT, sempre
relacionado à profundidade da realização do ensaio.

O restante das colunas do perfil geotécnico apresenta os outros resultados


encontrados por meio da realização do ensaio, como nível no qual foi encontrado
o lençol freático, classe geológica do solo investigado, perfil geológico do solo no
qual a prospecção foi realizada, divisão das camadas presentes na amostragem

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UNIDADE i | Investigações de solos

do terreno conforme a profundidade e classificação dos diferentes materiais


presentes nas camadas do terreno.

Contudo, existem empresas que, na confecção do perfil geotécnico, informam apenas


o índice NSPT das camadas do solo, conforme a profundidade, desconsiderando as
demais informações. Se isso ocorrer em algum laudo de sondagem, não é necessário
mandar refazer o ensaio, pois com a informação de NSPT é possível relacionar as
condições no qual o solo se encontra.

A NBR 6484:2001 apresenta uma síntese a respeito da classificação do solo em


virtude do índice de resistência à penetração. A tabela 4 apresenta a correlação entre
o índice de resistência à penetração e a classificação do solo.

Tabela 4. Classificação de solos em função do NSPT.

Solo NSPT Classificação¹

Até 4 Fofa(o)

5a8 Pouco compacta(o)

Areias e siltes arenosos 9 a 18 Medianamente compacta(o)

19 a 40 Compacta(o)

Maior que 40 Muito compacta(o)

Até 2 Muito mole

3a5 Mole

Argilas e siltes argilosos 6 a 10 Média(o)

11 a 19 Rija(o)

Maior que 19 Dura(o)

¹ As expressões empregadas para a classificação da compacidade das areias (fofa, compacta etc.) referem-se à deformabilidade e
resistência destes solos, sob o ponto de vista das fundações, e não devem ser confundidas com as mesmas deformações empregadas
para a classificação da compacidade relativa das areias ou para a situação perante o índice de vazios críticos, definidos na mecânica
dos solos.
Fonte: Adaptado da NBR 6484, 2001.

Para melhor compreensão da análise de laudos de sondagem, realizaremos um


estudo prático da análise de um perfil geotécnico. A figura 2 apresenta o perfil
geotécnico que será analisado nos parágrafos seguintes.

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Investigações de solos | UNIDADE i

Figura 2. Exemplo de um perfil geotécnico.

Gráfico Amostrador:

Avanço
Resistência a

Nível de Agua
Interpretação Geológica
Profundidade

Penetração

Penetração

Perfil Geológico
SPT

Ensaio de

PR CF unidade da
Interno= 34.9 mm Peso:65Kg

camada (m0
30 CM Iniciais -----

SPT
Externo =50.6 mm Altura de queda:75cm
30 cm Finais ______ Revestimento:2.00 mm

Areia Fina Siltosa fofa cor


escura

Areia fina siltosa com


pedregulhos, fofa
medianamente compacta,
cor cinza

Silte arenoso, com


pedregulhos pouco
compacto a compacto, cor
cinza

Areia fina,
medianamente
compacta a muito
compacta, cor branca

Impenetrável ao amostrador
Nota: Furo paralisado conforme desconto no item
6.4.1da norma NBR8484:2001- Sondagem de
Simples Reconhecimento com SPT.

Fonte: GUIA DA ENGENHARIA, 2018.

A partir da figura 2, que traz um típico perfil geotécnico da realização de um furo,


realizam-se as análises a seguir. O nível do lençol freático está situado a uma
profundidade de 3,10 metros.

Na profundidade de 3 metros, o solo tem índice de resistência N SPT de 2, sendo


que foi necessário apenas 1 golpe para o avanço de 15cm do amostrador nos
últimos 30cm da prospecção. Também é possível notar que, até a cota de -3
metros, o solo apresenta uma camada de areia fina pouco siltosa, conforme
a tabela 4. Ela é considerada fofa e, por meio das amostras recolhidas pelo
amostrador, constatou-se que ela apresenta cor escura.

O índice de resistência à penetração do amostrador (N SPT) é determinado pela


soma dos números de golpes necessários para o amostrador descer os últimos

19
UNIDADE i | Investigações de solos

dois níveis (30cm e 45cm). A última coluna, denominada de avanço, indica o


tipo de equipamento utilizado para o avanço da prospecção.

As iniciais TC no laudo da sondagem indicam que, no primeiro metro, foi


utilizado um trado de concha para o avanço do amostrador e, a partir do primeiro
metro até o encontro do nível d’água, foi utilizado um trado com hélice (TH).
Após o encontro do nível d’água até o final da realização do ensaio, utilizou-se
o trépano com circulação de água (CA).

A partir da profundidade de 3 metros até a profundidade de 4,90 metros, a


camada do solo é formada por uma areia fina siltosa, com pedregulhos, de
consistência fofa a medianamente compacta, de cor cinza. O solo apresenta
N SPT de 5 na cota de -4 metros; e de 17 na cota de -5 metros.

Nas profundidades de 4,90 a 7,80 metros, a camada do solo é formada por um


silte arenoso, com pedregulhos, pouco compacto a compacto e de tonalidade
cinza. Percebe-se que na cota de -6 metros o N SPT é de 21, na cota de -7 metros o
N SPT é de 8 e na cota de -8 metros o N SPT é de 10.

Os profissionais responsáveis pelo dimensionamento de fundações devem tomar


cuidado na interpretação dos laudos de sondagem. O N SPT de 21 na cota de -6
metros pode ser resultado do encontro entre o amostrador e um pedregulho,
isto fica evidente visto que nas cotas de -7 e -8 metros o índice cai para 8 e 10,
respectivamente.

Caso essa interpretação não fosse realizada pelo responsável pelo


dimensionamento das fundações e elas fossem assentadas na cota de -6 metros
e dimensionadas pelo índice de N SPT de 21, a edificação sofreria com recalques,
comprometendo a estabilidade da edificação. Os recalques e os métodos para
prevê-los serão abordados na Unidade IV da presente apostila.

Nas profundidades de 7,80 a 13,30, a camada do solo é formada por uma areia
fina, medianamente compactada a muito compactada e de cor branca, sendo
que o índice de N SPT varia de 26 a 70 nas cotas de -9 a -12 metros, sendo o
impenetrável encontrado na cota de -13 metros. Logo, para uma edificação na
qual as cargas são elevadas, a cota de assentamento para o perfil analisado
seria encontrado entre as cotas -9 a 13 metros.

No perfil geotécnico ainda são identificadas as amostras coletadas durante o


período de investigação, sendo denominadas com a numeração 00 até a 11.

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Investigações de solos | UNIDADE i

Os resultados devem ser apresentados pela empresa executora da sondagem


no prazo máximo de 30 dias corridos a contar da data da execução da última
sondagem do terreno.

Independentemente da finalidade ou porte da construção, as sondagens


de simples reconhecimento ou outros métodos de investigação do solo são
instrumentos valiosos para a área de geotecnia.

Elas ajudam na tomada de decisões, como nos estudos laboratoriais necessários


para complementar a análise, no dimensionamento e escolha do tipo de fundação
adequada, na avaliação da necessidade de obras de contenção para realizar a
construção, entre outros aspectos.

A partir do conhecimento adequado do terreno com base na investigação do


solo, torna-se mais fácil a análise da viabilidade técnica das edificações. Ainda,
o N SPT é utilizado para determinar a pressão admissível do solo por meio de
correlações.

No boletim de sondagem analisado é possível ainda verificar as informações a


respeito das condições de ensaios, situados no cabeçalho do perfil geotécnico.
Nela é possível observar o tipo de amostrador utilizado no ensaio (amostrador
com diâmetro interno de 3,49 cm e diâmetro externo de 5,08 cm).

Com os dados do tipo de amostrador utilizado e os diâmetros interno e externo, é


possível determinar a qualidade das amostras coletadas na investigação do solo,
com base no exposto no capítulo 2, da Unidade I da presente apostila. Ainda,
abaixo das informações do tipo de amostrador utilizado no ensaio, encontra-se o
dado de que, para a realização do ensaio, foi utilizado um revestimento do furo de
aproximadamente 2 metros.

No cabeçalho do boletim, está localizada também a informação do peso utilizado


no soquete para a cravação do amostrador no solo (65kg). Abaixo da informação
supracitada encontra-se a altura de queda do peso (75cm). Esses dados são
normatizados pela NBR 6484:2001 - Sondagens de simples reconhecimentos
com SPT - Método de ensaio.

O uso de martelos com pesos diferentes de 65kg para cravação do amostrador no


solo, bem como uma altura de queda diferente de 75cm, inviabiliza o uso desses
laudos de sondagem para qualquer análise a respeito do índice de resistência à
penetração.

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UNIDADE i | Investigações de solos

No gráfico são apresentadas duas linhas de tendência do comportamento do


solo, uma para os índices de N SPT iniciais e outra para os índices de N SPT finais.
Como já exposto no presente capítulo, a título de análise, usa-se apenas o
gráfico gerado pelo N SPT final.

Percebe-se que o laudo de sondagem analisado, apresenta a maioria das


informações que os laudos devem conter. Contudo, no laudo referido não
é apresentada a data da realização do ensaio, sendo este um parâmetro
fundamental para entender o processo do nível d’água.

Em épocas mais secas, o nível d’água costuma ser inferior, porém em épocas
mais úmidas, ou ainda em dias de chuva, o nível d’água costuma se elevar. Por
isso, é de fundamental importância que os laudos de sondagem contenham a
data de realização da amostragem.

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CAPÍTULO 4
PRÁTICAS DE SONDAGEM

Neste capítulo será apresentado o passo a passo para a realização de diferentes


tipos de sondagens, visando capacitar o estudante para realizar a investigação do
solo. A sondagem de simples reconhecimento divide-se em uma série de operações:
perfuração do solo, ensaio de penetração, amostragem do solo, verificação do nível
do lençol freático, classificação das amostras e boletim da sondagem.

O primeiro passo para a execução da sondagem é a limpeza do terreno em que


será realizada a prospecção, proporcionando a execução de todos os processos de
sondagem sem a ocorrência de obstáculos. Recomenda-se ainda a abertura de uma
vala, circundando a sonda. Esta vala tem a função de, em caso de chuva, desviar a
água e não prejudicar a prospecção.

O responsável pela execução do ensaio deve conhecer todos os equipamentos,


processos operacionais, além das formas de manutenção dos equipamentos.
Scarabel (2012) descreve que a falta de manutenção nos aparelhos de sondagem
acaba interferindo no resultado do ensaio.

Antes de começar a realizar a sondagem, o responsável pela execução deverá


verificar e analisar os seguintes equipamentos:

» Tripé – O responsável deverá verificar se as emendas das hastes do tripé estão


inseridas da forma correta, bem como a condição da escada;

» Roldana – Verificar se se encontra livre de obstáculos e rodando livremente;

» Hastes – Verificar se as hastes estão retilíneas;

» Amostrador – Verificar se não se encontra empenado ou, ainda, se a sua válvula


não está obstruída;

» Ponta do amostrador – Após a realização de cada ensaio, verificar se a ponta do


amostrador não está amassada ou quebrada; se caso uma das situações forem
constatadas, ele deverá ser substituído;

» Martelo – Analisar se a haste guia não se encontra empenada, bem como o estado
em que se encontra o coxim de madeira;

» Cruzeta de lavagem – Observar se durante a realização do ensaio não há


ocorrência de vazamentos;

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UNIDADE i | Investigações de solos

» Motobomba – Observar se não houve perda de rendimento durante a execução


do ensaio e verificar o nível de combustível e óleo todos os dias;

» Cordas – Avaliar se não estão gastas (no final da sua vida útil);

» Trados – Verificar se as conchas dos trados não estão trincadas ou amassadas;

» Trado espiral – Verificar se tem o diâmetro mínimo de 4,8cm;

» Faca de lavagem – Verificar se o diâmetro de corte está entre os valores de 5,6cm


a 6,2cm, conforme especificado em norma.

A utilização do método de percussão com circulação de água (lavagem) é permitida


a partir do momento em que se encontra o nível d’água. Ainda, é permitida a
utilização do método supracitado quando a perfuração do solo, utilizando o trado
espiral, for inferior a 5cm, operando à perfuração continua por 10 minutos, ou
ainda nos casos em que o solo se adere ao trado.

Ressalta-se que para a utilização do método de percussão com circulação de água


é obrigatória a cravação do revestimento. Nos casos em que, durante a execução
do ensaio, a parede do furo da prospecção se mostrar instável para a realização
das amostragens, é obrigatória a descida do tubo de revestimento até a cota onde
se realizará a prospecção, alternada com o processo de perfuração, garantindo
que a base inferior do revestimento não fique a uma distância máxima de 1 metro
do fundo do furo.

Na realização do avanço da prospecção por lavagem, o sistema de circulação


d’água deve ser erguido a uma altura de aproximadamente 30cm, sendo
que durante o processo de descida na coluna de hastes, deve-se imprimir
manualmente um movimento de rotação. O processo de erguida do sistema de
circulação d’água pode ser simplificado pela elevação do trépano.

Em casos de sondagem de solos sem coesão, ou ainda na remoção de fragmentos


pesados, deve-se utilizar barriletes com válvulas de discos situadas na parte
inferior (comumente chamados de válvula de pé) no lugar da utilização da
lavagem com trépano. Se durante a sondagem forem encontrados artesianismos
não surgentes, deve-se anotar o nível estático deles.

Nas situações em que são encontrados artesianismos surgentes, além do nível


estático, deverão ser calculados a vazão e o nível dinâmico. O nível do lençol
freático ou ainda outras características de artesianismo deverão ser observados
todos os dias, antes do início da prospecção e na manhã seguinte à conclusão da
sondagem.

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Investigações de solos | UNIDADE i

A água utilizada na circulação do ensaio deverá ser incolor e sem a presença de


contaminantes, não sendo recomendada a sua reutilização, exceto nos casos em
que algum órgão fiscalizador autorize. Nessas situações, deverão ser utilizados dois
tambores de capacidade mínima de 200 litros cada, ligados entre si e com uma
abertura longitudinal.

O profissional responsável pela fiscalização da execução do ensaio tem


autoridade para solicitar que a água de circulação seja substituída. Ele ainda
poderá solicitar a interrupção do ensaio para limpeza dos tambores, caso achar
necessário.

O SPT pode se dar por encerrado nas seguintes condições:

» No caso de atingir a profundidade especificada;

» No caso de avanços inferiores a 5cm por três períodos consecutivos de 10


minutos, utilizando o método de lavagem (nesses casos, considera-se que foi
encontrado o impenetrável do solo ao SPT);

» Nos casos de penetração inferior a 5cm, utilizando 10 golpes seguidos, sendo


desconsiderados os primeiros 5 golpes testes;

» Nos casos em que está prevista a continuação da sondagem pelo processo


rotativo;

» Nos casos em que o valor de NSPT for maior que 50, sendo considerado que o
terreno é impenetrável perante o SPT e anotando o número de golpes;

» Nos casos em que, após 3 metros sucessivos, se obtêm 30 golpes para penetração
dos 15 cm iniciais do amostrador-padrão;

» Nos casos em que, após 4 metros sucessivos, se obtiver 50 golpes para penetração
dos 30 cm iniciais do amostrador-padrão;

» Nos casos em que, após 5 metros sucessivos, se obtiver 50 golpes para penetração
dos 45 cm do amostrador-padrão.

Após a realização da última leitura do nível d’água ou o término da sondagem


nos casos de furos secos, estes devem ser preenchidos com solo ou areia. Essa
recomendação não deve ser seguida somente no caso de determinação pelo
responsável pela fiscalização da sondagem.

Concluída a prospecção, no local em que foi realizada a perfuração do solo deverá


ser confeccionado um marco com comprimento de no mínimo 50cm, extravasando

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UNIDADE i | Investigações de solos

10cm sob o nível do terreno. O marco deverá conter a denominação, profundidade


e cota de arrasamento ou cota da boca do furo.

Segundo o Manual do sondador (CONCIANI, 2013), os passos para a realização da


sondagem SPT são os seguintes:

» Fazer a marcação do local em que será feita a sondagem (prospecção);

» Montar o tripé, centralizando-o com auxílio do martelo como fio de prumo;

» Utilizar um trado, fazer a abertura do furo até a cota de -1 metro, ou a profundidade


em que o solo mude. Recomenda-se o uso de um trado do tipo concha (TC) até a
chegada no primeiro metro;

» Fazer a coleta das amostras de solos, sempre nas situações em que suas
características mudem;

» Ao chegar à cota de -1 metro, colocar o amostrador no fundo do furo aberto;

» Fazer o alinhamento do martelo com a haste guia;

» Utilizar martelo de peso 65kg;

» Erguer o martelo até a altura de 75cm;

» Soltar o martelo da altura supracitada sem a ocorrência de obstáculos, gerando o


golpe;

» Repetir o processo até a cravação do amostrador nos primeiros 15cm do trecho


analisado;

» Anotar a quantidade de golpes necessários para a cravação do amostrador no


solo investigado;

» Repetir o processo para a cravação de 15cm nos outros dois trechos, totalizando
30cm;

» Anotar a quantidade de golpes necessários para a cravação do amostrador no


solo investigado para cada trecho;

» Fazer a retirada do amostrador;

» Coletar a amostra de dentro do amostrador;

» Fazer a identificação da amostra, bem como o correto armazenamento;

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Investigações de solos | UNIDADE i

» Deixar as amostras à sombra, em local ventilado, até o final da sondagem; em


seguida, elas devem ser transportadas ao local indicado pelo responsável da
sondagem;

» Fazer o avanço da prospecção até a cota de -2 metros com a utilização do trado;

» Repetir o processo de cravação do amostrador, bem como a coleta das amostras


de solos;

» A partir do momento do avanço com o trado, ou ainda quando for localizado


o nível d’água, deve-se revestir o furo e instalar a motobomba;

» O revestimento do furo deverá sempre ficar acima do fundo do furo, sendo que ele
não deve balançar ou girar, ficando 75cm acima do nível do terreno;

» O avanço da prospecção após o uso de revestimento deve ser feito por lavagem;

» No processo de lavagem deve-se retirar o amostrador e fazer o uso do trépano,


ligando a mangueira da motobomba no topo das hastes do trépano, introduzindo-o
no furo e ligando a motobomba.

» Após a realização do avanço da sondagem com o uso da lavagem, retirar a


composição e fazer a descida das amostras.

As etapas supracitadas, obtidas do Manual do sondador (CONCIANI, 2013),


devem ser repetidas até chegar na profundidade desejada ou até obter um dos
critérios de paradas do ensaio, conforme citado no presente capítulo.

No caso da ocorrência de interferência no furo a profundidade igual ou inferior


a 8 metros, ele deve ser deslocado. Esse deslocamento deve ser retratado pelo
profissional responsável por meio de um croqui do local.

A empresa responsável pela execução do ensaio de SPT deverá fornecer


equipamentos e ferramentas para realização de prospecções até a cota de -40
metros. As peças componentes para o avanço da sondagem devem permitir a
abertura de furos com diâmetro mínimo de 5,6cm.

A forma e distribuição das saídas d’água do trépano, bem como as


características das hastes dos ensaios penetrométricos e de lavagem
por tempo, deverão ser idênticas para todos os equipamentos,
durante todo o serviço de sondagem de uma Empreiteira numa
mesma obra. Para os ensaios penetrométricos as hastes deverão
ser do tipo Schedule 80, retilíneas, com 1” de diâmetro interno e
dotadas de roscas em bom estado, que permitam firme conexão
com as luvas, e peso de aproximadamente 3,0 kg por metro linear.

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UNIDADE i | Investigações de solos

Quando acopladas, as hastes deverão formar um conjunto retilíneo.


(MARANGON, 2018)

Existem, ainda, alguns casos que devem ser anotados no boletim de sondagem.
A seguir estão listadas algumas dessas condições:

» 1/47, 1/50 – Nos casos em que, para o primeiro golpe do martelo, a penetração
for superior a 45cm;

» 0/23, 0/51 – Nos casos em que, quando se apoiar o martelo, houver penetração
(zero golpes);

» 15/7 – Nos casos em que ocorre penetração incompleta;

» 0/65, 2/40 – Nos casos em que forem excedidos significativamente os 45cm ou


quando não for possível distinguir claramente os três intervalos de 15cm;

» 0/65, 1/33, 1/20 – Nos casos em que a penetração com poucos golpes ultrapassou
os 45cm.

Como exposto no presente capítulo, a execução da sondagem de simples


reconhecimento à precursão é de fácil execução, porém demanda. aos
profissionais que irão executar o ensaio, o domínio de conceitos e interpretação
por meio do número de golpes necessários para o avanço do amostrador.
Ressalta-se que a execução errônea do ensaio pode provocar sérios danos à
edificação.

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REFERÊNCIAS

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Method for Direct Shear Test of Soils Under Consolidated Drained Conditions., American Society for
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ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT NBR 6489: Solo - Prova de carga
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1983.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT NBR 9603: Sondagem a trado -


Procedimento. Rio de Janeiro: ABNT, 2015.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT NBR 9604: Abertura de poço e


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Rio de Janeiro: ABNT, 2016.

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