Leptospirose e Trabalho

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UNIVERSIDAIDE FEDERAL DE SANTA CATARINA-UFSC

ASSOCIACÃO CATARINENSE DE MEDICINA - ACM


XVI CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM MEDICINA DO TRABALHO

LEPTOSPIROSE E TRABALHO

MANOEL FRANCISCO MARTINS DE ARAUJO


MARIA MARTA DE OLIVEIRA COUTO

Florianópolis – SC
Maio/2000
UNIVERSIDAIDE FEDERAL DE SANTA CATARINA-UFSC
ASSOCIACÃO CATARINENSE DE MEDICINA - ACM
XVI CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM MEDICINA DO TRABALHO

LEPTOSPIROSE E TRABALHO

MANOEL FRANCISCO MARTINS DE ARAUJO


MARIA MARTA DE OLIVEIRA COUTO
especializandos
SEBASTIÃO IVONE VIEIRA
coordenador
Prof. LUIZ ABNER DE HOLANDA BEZERRA
orientador

Florianópolis – SC
Maio/2000

1
UNIVERSIDAIDE FEDERAL DE SANTA CATARINA-UFSC
ASSOCIACÃO CATARINENSE DE MEDICINA - ACM
XVI CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM MEDICINA DO TRABALHO

LEPTOSPIROSE E TRABALHO

Manoel Francisco Martins de Araujo


Maria Marta de Oliveira Couto
Parecer:
_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________

Banca:

_________________________ ______________________________
Prof. Sebastião Ivone Vieira Prof. Luiz Abner de Holanda Bezerra
- coordenador - - orientador -

__________________________
Prof. Octacílio Schüler Sobrinho
- membro titular -

______________________ _______________________
Prof. lvo Medeiros Reis Prof. Jorge da Rocha Gomes
- membro titular - - membro titular -

Florianópolis – SC – Maio/2000

2
ÍNDICE

APRESENTAÇÃO ..................................................................... 07

PRESENTACIÓN ....................................................................... 08

INTRODUÇÃO ........................................................................... 09

I – LEPTOSP1ROSE ...................................................................... 11
1. ASPECTOS EPIDEMIOLÓGICOS ............................................... 12

1.1. Agente Etiológico ................................................................ 12

1.2. Reservatório e Fonte de Infecção ............................................. 13

1.3. Modo de Transmissão ............................ ............................. 14

1.4. Período de Incubação ........................................................... 15

1.5. Período de Transmissibilidade ................................................ 15

1.6. Suscetibilidade e Imunidade ................................................... 15

1.7. Distribuição, Morbidade e Letalidade ....................................... 16

2. ASPECTOS CLÍNICOS .............................................................. 17

2.1. Descrição ............................... .......................................... 17

2.2. Diagnóstico Diferencial ......................................................... 21

2.3. Tratamento ........................................................................ 21

3
3. DIAGNÓSTICO LABORATORIAL .............................................. 22

3.1. Diagnóstico Específico .......................................................... 22

3.1.1. Cultura .................................................................... 23

3.1.2. Exame Microscópico ................................................... 23

3.1.3. Inoculação em Animais de Laboratório ............................ 24

3.1.4. Reações Sorológicas .................................................... 24

4. MEDIDAS DE CONTROLE ......................................................... 27

4.1. Controle de Roedores .................................................. ......... 28

4.1.1. Anti-ratização ...................................................... ...... 28

4.1.2. Desratização ........................................................ ...... 29

4.2. Outras Medidas de Controle .................................................. 32

II – DOENÇA DO TRABALHO ...................................................... 34

1. ACIDENTE DO TRABALHO: DOENÇA DO TRABALHO E

DOENÇA PROFISSIONAL ........................................................ 34

1.1. Acidente do Trajeto ........................................................ .... 39

2. COMUNICAÇÃO DE ACIDENTE DO TRABALHO ....................... 39

3. BENEFÍCIOS PREVIDENCIÁRIOS ............................................ 43

III – LEPTOSPIROSE E TRABALHO ............................................ 58


1. INQUÉRITOS SOROEPIDEMIOLÓGICOS ................................ 58

2. DESCRIÇAO DE CASOS E SURTOS ISOLADOS ......................... 64

3. INVESTIGAÇÃO COMO DOENÇA DO TRABALHO .................... 67

4
IV – LEPTOSPIROSE COMO DOENÇA DO TRABALHO EM
JOINVILLE – SC ..................................................................... 69
1. METODOLOGIA ................................................................... 69

2. CARACTERIZAÇÃO DO MUNICÍPIO ....................................... 70

3. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS ............................... 72

CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................... 77

APÊNDICES ............................................................................... 79

1. TABELA 1 E GRÁFICO 1: CASOS, ÓBITOS, INCIDÊNCIA E LETA-

LIDADE, JOINVILLE-SC, 1993-1999 ............................................ 80

2. TABELA 2 E GRÁFICO 2: CASOS, ÓBITOS, INCIDÊNCIA E LETA-


LIDADE, SANTA CATARINA, 1992-1996 ...................................... 81

3. TABELA 3 E GRÁFICO 3: DISTRIBUIÇÃO MENSAL DE CASOS,

JOINVILLE-SC, 1996-1999 .......................................................... 82

4. TABELA 4: CASOS COMO DOENÇA DO TRABALHO E NÃO OCU-


PACIONAL POR SEXO E FAIXA ETÁRIA, JOINVILLE-SC, 1999 ...... 83
5. TABELA 5: DISTRIBUIÇÃO DOS SOROVARES IDENTIFICADOS

EM 34 CASOS, JOINVILLE-SC, 1999 ......................................... 84

6. TABELA 6: CASOS COMO DOENÇA DO TRABALHO E NÃO OCU-


PACIONAL, SEGUNDO ESCOLARIDADE, JOINVILLE-SC, 1999 ...... 84

7. TABELA 7: CASOS COMO DOENÇA DO TRABALHO E NÃO OCU-


PACIONAL, SEGUNDO PROFISSÃO/OCUPAÇÃO, JOINVILLE-SC,
1999 ............................................................................... ......... 85

8. TABELA 8: CASOS, ÓBITOS E LETALIDADE EM DOENÇA DO

TRABALHO E NÃO OCUPACIONAL, JOINVILLE-SC, 1999 .......... 85

5
9. TABELA 9: CASOS COMO DOENÇA DO TRABALHO E NÃO OCU-
PACIONAL, SEGUNDO SITUAÇÃO DE EXPOSIÇÃO, JOINVILLE-

SC, 1999 .................................................................................. 86

10. TABELA 10: CASOS COMO DOENÇA DO TRABALHO E NÃO OCU-


PACIONAL, SEGUNDO CONDIÇÕES FAVORÁVEIS A OCORRÊN-

CIA DA DOENÇA, JOINVILLE-SC, 1999 ...................................... 86

ANEXOS ...................................................................................... 87

1. LISTA DE SOROGRUPOS, SOROVARES E CEPAS DE REFERÊNCIA


2. LISTA DE SOROVARES E CEPAS RECOMENDADOS PARA USO
COMO ANTÍGENOS ................................................................. 94

3. MEDIDAS DE CONTROLE DE ROEDORES NAS ÁREAS URBANAS

E RURAIS ............................................................................... 95

4. FICHA INDIVIDUAL DE INVESTIGAÇÃO ................................... 101

BIBLIOGRAFIA ........................................................................ 102

6
APRESENTAÇÃO

Este estudo – Leptospirose e Trabalho – foi


desenvolvido como parte integrante do XVI Curso de Especialização em Medicina do
Trabalho, devendo ser apresentado, obrigatoriamente, na sua conclusão para aprovação no
mesmo. Este curso foi realizado em Florianópolis – SC pela Universidade Federal de Santa
Catarina com a colaboração e apoio da Associação Catarinense de Medicina, no período de
março de 1999 à maio de 2000.
Trata-se de um estudo descritivo,
longitudinal, retrospectivo, que a partir de casos notificados e confirmados de leptospirose,
procura, através de visita domiciliar, esclarecer a forma provável de infecção e verificar se
corresponde a doença do trabalho conforme legislação vigente, e ainda apresenta outras
variáveis de interesse.
O estudo foi realizado no município de
Joinville – SC, tendo como base o ano de 1999 e como objeto de trabalho todos os casos de
leptospirose notificados à Secretaria Municipal de Saúde e confirmados segundo os
critérios estabelecidos pelo Centro Nacional de Epidemiologia do Ministério da Saúde, no
período de janeiro a dezembro do referido ano.
A relação entre a leptospirose e o trabalho
encontra-se estabelecida de longa data, sendo inúmeros os relatos e estudos existentes,
inclusive estabelecendo as profissões e as atividades de maior risco. Já o estudo de
leptospirose como doença do trabalho é menos frequente e requer maiores investigações
visando conhecer sua ocorrência e grau de importância; uma vez que este fato tem
desdobramentos legais, trabalhistas e previdenciários, bem como em relação ao controle
desse agravo. Dentro deste contexto insere-se esta investigação realizada em Joinville –
SC.

7
PRESENTACIÓN

Este estudio “Lectospirosis y Trabajo”, fue


desarrollado como parte integrante del XVI Curso de Especialización en Medicina del
Trabajo, debiendo ser presentado, obligatoriamente, en su conclusión para aprobación del
mismo. Este curso fue realizado en Florianópolis, Santa Catarina, por la Universidad
Federal de Santa Catarina con la colaboración y el apoyo de la Asociasión Catarinense de
Medicina, en el período de marzo de 1999 a mayo de 2000.
Se trata de un estudio descriptivo,
longitudinal, retrospectivo, que apartir de casos comunicados de lectospirosis, busca a
través de visita domiciliar, esclarecer la forma probable de infección y verificar si
corresponde a enfermedad del trabajo conforme la legislación vigente, y todavía si
presenta otras variables de interés.
El estudio fue realizado en el Município de
Joinville (Santa Catarina), teniendo como base el año de 1999 y como objeto de trabajo
todos los casos de lectospirosis comunicados a la Secretaria Municipal de Salud y
confirmados según critérios establecidos por el Centro Nacional de Epidemiologia del
Ministerio de Salud, en el período de enero a diciembre del referido año.
La relación entre la lectospirosis y el trabajo
se encuentra establecida de larga fecha, siendo imnúmeros los relatos de estudios
existentes, inclusive estableciendo las profesiones y las actividades de mayor riesgo. Ya el
estudio de lectospirosis como enfermedad del trabajo es menos frecuente y requiere
mayores investigaciones, buscando conocer su ocurrencia y grado de importancia; una vez
que este hecho tiene consecuencias legales, laborales y previdenciarias, bien como en
relación al control de agravo. Dentro de este contexto se insiere esta investigación realizada
en la ciudad de Joinville, Santa Catarina.

8
INTRODUÇÃO

Considerando a abrangência do tema


proposto – leptospirose e trabalho – é necessário, inicialmente, a delimitação do conteúdo e
da forma de abordagem do mesmo, na tentativa de evitar generalizações excessivas.
Quanto ao conteúdo a opção foi restringir-se a leptospirose como doença do trabalho e
quanto a forma de abordagem um estudo descritivo dos casos ocorridos em Joinville no
ano de 1999.
A partir dessa definição tem-se como
objetivo geral o conhecimento da incidência de leptospirose em Joinville, e a proporção em
que esta ocorre como doença do trabalho. Como objetivo específico, a caracterização
desses casos, incluindo a atividade profissional, sexo, faixa etária, escolaridade e as
situações de exposição, na busca de formas mais adequadas e eficazes de prevenção desse
agravo. Para realização dessa avaliação alguns pressupostos teóricos são necessários.
Na primeira parte é apresentado uma revisão
da leptospirose abrangendo seus aspectos epidemiológicos, clínicos, de diagnóstico
laboratorial e, ainda, em especial, as medidas de controle conhecidas e indicadas para essa
patologia.
Na segunda parte é realizado uma revisão
sobre doença do trabalho, entendida aqui em sua conceituação legal, bem como o
procedimento para sua comunicação e os benefícios previdenciários a que fazem jus os
atingidos.
Na terceira parte é feito uma revisão
bibliográfica referente a leptospirose e trabalho, sendo que os estudos apresentados foram

9
agrupados, segundo sua forma de abordagem, em inquéritos soroepidemiológicos, estudos
de casos e surtos isolados e, finalmente, estudos da Leptospirose como doença do trabalho.
Na parte quatro, são apresentados os dados e
resultados obtidos na investigação de leptospirose como doença do trabalho em Joinville
no ano de 1999, incluindo a metodologia empregada e a caracterização do município.
Finalmente, em considerações finais é feito a
avaliação global do tema proposto, com ênfase ao controle desse agravo e como a
Segurança e Medicina do Trabalho, em especial, o médico do trabalho, pode colaborar e
participar nesse processo.

10
I – LEPTOSPIROSE

Teve sua caracterização, como entidade


clínica distinta, feita em 1880, no Cairo, por Larrey, a cujos estudos seguiu-se o de
Landouzy em 1883 e posteriormente foi descrita minuciosamente por Adolf Weil, em
1886, como doença febril, aguda, com comprometimento renal, icterícia e hemorragias, a
partir da observação de quatro casos clínicos. Mais tarde a leptospirose foi designada, por
Goldschmdt, como “Doença de WeiI”.1
A identificação do agente etiológico ocorreu
em 1915, por Inada e Ido no Japão e Uhlenhuth e Fromme na Alemanha, em estudos
independentes;2 tendo sido denominado Spirochaeta icterohaemorrhagiae.3 Fm 1918,
Noguchi reclassificou o agente criando o gênero Leptospira, tendo em vista a bactéria
possuir forma espiralada.
No Brasil, os primeiros trabalhos sobre
leptospirose foram publicados no Rio de Janeiro, em 1917 por Aragão, sobre “A presença
do Spirochaeta icterohaemorrhagiae nos ratos do Rio de Janeiro”, Revista Brasil Médico;
por Bentes, “Da Leptospirose de Inada ou Icterus haemorrhagiae “, tese apresentada na
Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro e, ainda, por Mc Dowell, “Do Icterus
Epidemicus “, publicado no Arquivo Brasileiro de Medicina.4

_____________________________________________
1
MS – FNS I, op. cit., p. 7
2
SALOMÃO et TAJIKI, in Prado, op. cit., p. 15
3
GOMES, et outros, op. cit., p. 19
4
MS – FNS I, op. cit., p. 7

11
1. ASPECTOS EPIDEMIOLÓGICOS

A leptospirose é uma doença infecciosa


aguda, de caráter sistêmico, que acomete o homem e os animais; causada por
microorganismos pertencentes ao gênero Leptospira.
A distribuição geográfica da leptospirose é
cosmopolita, no entanto a sua ocorrência é favorecida pelas condições ambientais vigentes
nas regiões de clima tropical e subtropical, onde a elevada temperatura e os períodos do
ano com altos índices pluviométricos favorecem o aparecimento de surtos epidêmicas de
caráter sazonal.5 A leptospirose pode ocorrer em todas as estações, mas é primariamente
doença que ocorre nas estações quentes e chuvosas (outono e verão).6
É uma zoonose de alta importância devido
aos prejuízos que acarreta, não só para a saúde pública, face à alta incidência de casos
humanas, como também econômicos em virtude do alto custo hospitalar dos pacientes, da
perda de dias de trabalho e de alterações na esfera reprodutiva dos animais infectados.7

1.1. Agente Etiológico

O gênero Leptospira é um dos componentes


da ordem Spirochaetales, família Leptospiraceae,8 onde estão reunidas os
microorganismos com morfologia filamentosa, espiralados, visualizadas apenas pela
microscopia de campo escuro e de contraste de fase, com afinidade tintorial pelos corantes
argênticos. Nesse gênero, de microorganismos aeróbicos obrigatórios, aceita-se
atualmente a existência de duas espécies:
 Leptospira biflexa: germes saprofiticos, de vida livre, encontrados usualmente em água
doce superficiais e no solo úmido;
 Leptospira interrogans: reúne as estirpes patogênicas.
A diferenciação em espécies apoia-se nas
características de crescimento em meios de cultivo enriquecidos; no entanto, do ponto de

_____________________________________________
5
MS – CENEPI II, op. cit., p. 1 (cap. 5.18)
6
SALOMÃO et TAJIKI, in Prado, op. cit., p. 15
7
MS – CENEPI II, op. cit., p. 1 (cap. 5.18)
8
LOMAR et outros, in Veronesi, op. cit., p. 887

12
vista taxonômico as características antigênicas decorrentes de antígenos de parede, com
natureza lipoproteica, possibilitam as diferenciações sorológicas que superam a cifra de
200 exemplares (sorovares) para a espécie L. interrogans, as quais, com base em relações
antigênicas, são reagrupadas em Sorogrupo9 (anexo 1).
Uma terceira espécie tem sido proposta com
base no estudo da composição do DNA, características sorológicas e algumas
características morfológicas, porém sua inclusão taxonômica ainda depende de estudos
adicionais. A Subcomissão de Taxonomia em Leptospirose (1978) classificou esta terceira
espécie provisoriamente como “Leptospira illiní”.10
Dentre os fatores ligados ao agente etiológico
que favorecem a persistência dos focos de leptospirose, especial destaque deve ser dado
ao:11
 Elevado grau de variação antigênica;
 Sobrevivência no meio ambiente em ausência de hospedeiro (registros experimentais
referem até 180 dias desde que haja alto nível de umidade, proteção contra os raios
solares, valores de pH neutro ou levemente alcalino e com temperatura de 22 oC ou
mais);
 Ampla variedade de vertebrados suscetíveis, os quais podem hospedar o
microorganismo.

1.2. Reservatório e Fonte de Infecção

Vários animais domésticos e silvestres


podem servir de reservatórios e fontes de infecção para o homem, destacando-se, entre os
primeiros, os cães, os bovinos, os suínos, os eqüinos, os ovinos e os caprinos.12 Entre os
animais silvestres encontram-se os gambás, os racuns e as raposas.13 As aves,
principalmente as migratórias, os ofídios, os morcegos e artrópodes hematófagos podem,
eventualmente, contribuir para a transmissão da leptospirose,14 assim como também as
__________________________________________
9
MS – CENEPI II, op. cit., p. 1 (cap.5.18)
10
LOMAR et outros, in Veronesi, op. cit., p. 987
11
MS – CENEPI II, op. cit., p. 1 (cap.5.18)
12
MS – CENEPI I, op. cit., p. 213
13
McCLAIN, in Benett, op. cit., p. 1814
14
MS – FNS I, op. cit., p. 18

13
rãs.15 As fontes de infecção são constituídas pelos reservatórios e portadores
(assintomáticos, doentes e convalescentes).
O agente etiológico da leptospirose animal é
o mesmo da leptospirose humana. Cada sorovar tem o(s) seu(s) hospedeiro(s)
preferencial(ais), porém uma espécie animal pode albergar um ou mais sorovares. Assim,
por exemplo, em suínos as variantes sorológicas mais encontradas são pomona e
icterohaemorrhagiae, em bovinos, hebdomadis, hardjo e wolffi; em eqüinos,
icterohaemorrhagiae, pomona e canicola; em cães, canicola e icterohaemorrhagiae e
finalmente em ovinos e caprinos a mais encontrada é a icterohaemorrhagiae.16
Os roedores desempenham o papel de
principais reservatórios da doença, pois são portadores assintomáticos e albergam a
leptospira nos rins, eliminando-as vivas no meio ambiente e, contaminado água, solo e
alimentos. Dentre os roedores domésticos (Rattus norvegicus – ratazana ou rato de esgoto,
Rattus rattus – rato de telhado e Mus musculus – camundongo), grande importância deve
se dispensar ao R. norvegicus, portador clássico da L. icterohaemorrhagiae, a mais
patogênica ao homem,17 sendo o principal reservatório natural e transmissor da doença ao
homem em área urbana, pois devido à alcalinidade de sua urina e ao hábito de urinar por
onde passa, o rato infectado elimina leptospiras vivas por toda a sua vida, contaminado em
muito o meio ambiente.18

1.3. Modo de Transmissão

A infecção humana pela leptospira resulta da


exposição direta ou indireta à urina de animais infectados. Em áreas urbanas, o contato
com águas e lama contaminadas demonstram a importância do elo hídrico na transmissão
da doença ao homem, pois a leptospira dela depende para sobreviver e alcançar o
hospedeiro.
Há outras modalidades menos importantes
de transmissão, como a manipulação de tecidos animais e ingestão de água e alimentos

__________________________________________
15
SOUTO, op. cit., p. 56
16
MS – FNS II, op. cit., p. 28
17
MS – CENEPI II, op. cit., p. 1 (cap.5.18)
18
MS – CENEPI I, op. cit., p. 213

14
contaminados.19 É improvável que o trato gastrointestinal represente uma porta de
entrada importante já que o pH gástrico destrói o microrganismo rapidamente.20
A transmissão de pessoa a pessoa é muito
rara e de pouca importância prática.
A penetração do microorganismo se dá pela
pele lesada ou mucosas da boca, narinas e olhos, podendo ocorrer através da pele íntegra,
quando imersa em água contaminada por longo tempo,21 por exemplo, em enchentes ou
em trabalho em arrozais, ou quando entra em contato com ambiente muito poluído pelos
animais portadores, tal como acontece, em esgotos.

1.4. Período de Incubação

Variável de um a vinte dias, sendo, em


22
média, de sete a quatorze dias.

1.5. Período de Transmissibilidade

Dura, teoricamente, enquanto a leptospira


estiver presente na urina (leptospirúria), geralmente da segunda a quinta semana da
doença,23 porém, a infecção inter-humana é rara, sem importância prática.24

1.6. Suscetibilidade e Imunidade

A suscetibilidade no homem é geral, porém


ocorre com maior freqüência em indivíduos do sexo masculino na faixa etária de 20 a 35
anos, em virtude não de uma preferência do agente a estes indivíduos, mas por estarem
mais expostos à situações de risco.

__________________________________________
19
MS – CENEPI 1, op. cit., p. 214
20
SALOMÃO et TAJIKI, in Prado, op. cit., p. 15
21
MS – CENEPI II, op. cit., p. 2 (cap. 5.18)
22
MS – CENEPI 1, op. cit., p. 214
23
MS – FNS I, op. cit., p. 9
24
MS – CENEPI II, op. cit., p. 2 (cap.5.18)

15
A imunidade adquirida é sorotipo específica,
podendo incidir a doença mais de uma vez no mesmo indivíduo, porém, por sorovares
diferentes.25
Tradicionalmente, algumas atividades e
profissões são consideradas de alto risco, como trabalhar em esgotos, ou algumas lavouras
(arroz, cana-de-açúcar) e pecuária (tratadores de animais), magarefes, garis, mineiros,
feirantes, pescadores, militares, veterinários e outros.26,27,28,29 Em muitos países, com mais
freqüência, a leptospirose ocorre associada ao processo de trabalho, sendo considerada
então uma doença profissional.30 No Brasil, há nítida predominância de risco em pessoas
que habitam ou trabalham em locais com más condições de saneamento, sujeitos a
enchentes, em contato com lama e esgotos, expostos a urina de animais, sobretudo a de
ratos, que se instalam e proliferam, contaminando, assim, água, solo e alimentos.31

1.7. Distribuição, Morbidade e Letalidade

A leptospirose é uma doença de caráter


sazonal, intimamente relacionada aos períodos chuvosos, quando há elevação dos índices
pluviométricos e um conseqüente aumento na incidência de casos da doença.
É uma doença endêmica, sendo comum o
surgimento de casos isolados ou de pequenos grupos de casos, tornando-se epidêmica sob
determinadas condições, tais como: umidade e temperaturas elevadas e alta infestação de
roedores contaminados.
A doença ocorre tanto na área rural como na
urbana. Na segunda adquire um caráter mais severo, devido a grande aglomeração
urbana de baixa renda morando à beira de córregos, em locais desprovidos de
saneamento básico, em condições inadequadas de higiene e habitação, coabitando com
roedores, que aí encontram água, abrigo e alimento necessários à sua proliferação. A

_____________________________________________
25
MS – CENEPI II, op. cit p. 2 (cap.5.18)
26
McCLAIN, in Benett, op. cit., p. 1814
27
MS – FNS I, op. cit., p. 10
28
SOUTO, op. cit., p. 57
29
MAILLOUX op. cit., p. 323
30
PONTES et outros, op. cit., 170
31
MS – FNS I, op. cit., p.10

16
presença de água, lixo e roedores contaminados predispõe à ocorrência de casos humanos
de leptospirose.
No Brasil, durante o período de 1985 a
1997, foram notificados 35.403 casos da doença, variando desde 1.594 casos anuais
(mínimo) em 1987, a 5.576 em 1997 (máximo). Nesse período, houveram 3.821 óbitos,
variando desde 215 em 1993 (mínimo) a 404 óbitos em 1988 (máximo).
A letalidade da doença nesse período variou
de 6,5% em 1996, a 20,7% em 1987, numa média de 12,5%, dependendo entre outros
fatores, do sorovar infectante, da gravidade, da forma clínica, da precocidade do
diagnóstico, do tratamento e da faixa etária do paciente.32

2. ASPECTOS CLÍNICOS

2.1. Descrição

A infecção humana varia muito em


gravidade, desde formas subclínicas até as formas graves ou fatais. Qualquer sorovar pode
causar a forma grave ou branda, porém alguns estão mais comumente relacionados a casos
mais graves, como o sorovar icterohaemorrhagiae.33,34
Na leptospirose podem ocorrer 2 fases. A
primeira, também chamada de fase septicêmica, é caracterizada pela presença de
leptospiras no sangue, líquor e em muitos tecidos, e perdura por 4 a 7 dias. Após um
período de defervescência de 1 ou 2 dias, inicia-se a segunda fase ou fase imune, com
duração de 4 a 30 dias, caracterizada pela presença de anticorpos circulantes e
desaparecimento das leptospiras do sangue (ainda encontradas na urina, rins e humor
aquoso) .35
A doença pode manifestar-se de duas formas:
leptospirose anictérica ou ictérica.

____________________________________________
32
MS – CENEPI II, op. cit., pgs. 2-3 (cap.5.18)
33
Idem, op. cit., p. 3 (cap.5.18)
34
MS – FNS I, op. cit., p. 19
35
SALOMÃO et TAJIKI, in Prado, op. cit., p. 15

17
A Forma Anictérica é responsável por 60%
a 70% dos casos. A doença pode ser discreta, de início súbito com febre, cefaléia, dores
musculares, anorexia, prostração, náuseas e vômitos. Dura de um a vários dias, sendo
frequentemente rotulada de “síndrome gripal” ou “virose”.
Uma infecção mais grave pode ocorrer,
apresentando-se classicamente como uma doença febril bifásica. A primeira fase,
septicêmica ou leptospirêmica, inicia-se abruptamente, com febre elevada, calafrios,
cefaléia intensa, prostração, mialgias que envolvem principalmente os músculos das
panturrilhas, coxas, regiões paravertebrais e abdomen, resultando em palpação dolorosa,
podendo às vezes simular um abdomen agudo cirúrgico. Anorexia, náusea, vômito,
obstipação ou diarréia, artralgias, hiperemia ou hemorragia conjuntival, fotofobia e dor
ocular podem ocorrer. Podem surgir hepatomegalia, hemorragia digestiva e mais
raramente esplenomegalia.
Epistaxe, dor torácica, tosse seca ou com
expectoração hemoptóica podem ser observadas. Recentemente, têm sido relatados casos
anictéricos que evoluem para importante sintomatologia respiratória, levando inclusive a
quadros de insuficiência respiratória aguda e óbito,36 de difícil diagnóstico diferencial
com o quadro da Síndrome Pulmonar causada por Hantavírus.37
Distúrbios mentais como confusão, delírio,
alucinações e sinais de irritação meníngea podem estar presentes.
As lesões cutâneas são variadas: exantemas
maculares, máculo-papulares, eritematosos, urticariformes, petequiais ou hemorrágicos.
Em geral, ocorre hiperemia de mucosas.
A fase septicêmica dura de quatro a sete
dias, havendo uma melhora acentuada dos sintomas ao seu término. Em seguida à ela, o
paciente pode restabelecer-se ou evoluir com recrudescimento de febre, sintomas gerais e
instalação de um quadro de meningite, caracterizado por cefaléia intensa, vômitos e sinais
de irritação meníngea, assemelhado clínica e liquoricamente às das meningites virais, e
como estas, raramente é letal.38 O exame de líquor mostra pleocitose geralmente menor
que 500 células/mm3 com predomínio de células linfomonocitárias, glicose normal e
_____________________________________________
36
MS – CENEPI II, op. cit., p. 3 (cap.5.18)
37
MS – FNS I, op. cit., p. 19
38
MS – CENEPI II, op. cit., p. 3 (cap.5.18)

18
proteínas discretamente elevadas e se caracteriza pela ausência de leptospiras e presença
de anticorpos.39
Há manifestações respiratórias, cardíacas e
oculares (uveítes). As manifestações clínicas da segunda fase, também chamada fase
imune, iniciam-se geralmente na segunda semana da doença e desaparecem de uma a três
semanas,40 porém a uveíte pode tomar-se crônica ou recorrente.41
Alguns pacientes apresentam alterações de
volume e do sedimento urinário a partir da segunda semana de doença, porém é rara a
insuficiência renal aguda na leptospirose anictérica.42
Apesar de usualmente apresentarem evolução
benigna, podem também levar ao êxito letal. Na dependência dos sintomas e sinais
predominantes, tem sido sugerida a classificação dessas formas anictéricas em: tipo
influenza, pulmonar (tosse e hemoptise), febril pura, hemorrágica, miálgica, meníngea, etc.
Na Forma Ictérica, também chamada de
síndrome de Weil,43 a fase septicêmica evolui para uma doença ictérica grave, com
disfunção renal, fenômenos hemorrágicos, alterações hemodinâmicas, cardíacas,
pulmonares e de consciência, associadas a taxas de letalidade que variam de 5 a 20% nas
diversas casuísticas.
Na leptospirose ictérica, o curso bifásico é
raro. Os sintomas e sinais que precedem a icterícia são mais intensos e de maior duração
do que os relatados na forma anictérica.
Destaca-se a presença das mialgias,
sobretudo nas panturrilhas, durante as duas semanas iniciais. A icterícia tem seu início
entre o terceiro e o sétimo dia da doença, apresentando uma tonalidade alaranjada
(icterícia rubínica) bastante intensa e característica. Na maioria dos casos, a palidez é
mascarada pela icterícia.
Ao exame do abdomen, com frequência há
dor à palpação e hepatomegalia em 70% dos casos.44 A alteração hepática caracterizada
_____________________________________________
39
SALOMÃO et TAJIKI, in Prado, op. cit., p. 16
40
MS – CENEPI II, op. cit., p. 3 (cap.5.18)
41
SALOMÃO et TAJIKI, in Prado, op. cit., p. 16
42
MS – CENEPI II, op. cit., p. 3 (cap.5.18)
43
MS – FNS I, op. cit., p. 21
44
MS – CENEPI II, op. cit., p. 3-4 (cap.5.18)

19
por icterícia não está associada à necrose hepatocelular, e após a recuperação não existe
disfunção. O óbito raramente está ligado ao comprometimento hepático.45
Insuficiência renal aguda e desidratação
ocorrem na maioria dos pacientes. A oligúria é menos frequente do que a poliúria, mas
está associada a um pior prognóstico. Uma característica importante da insuficiência
renal na leptospirose é sua associação com alterações hemodinâmicas, geralmente
desidratação intensa hipotensão, que podem agravar o quadro e levar à necrose tubular
aguda. Em não havendo óbito a recuperação da função renal também é integral.
Choque circulatório e insuficiência cardíaca
podem ser encontrados, porém são menos frequentes que as alterações
eletrocardiográficas como alterações do ritmo e da repolarização ventricular e bloqueios
diversos. Essas alterações podem ser agravadas pelos distúrbios metabólicos, em especial
hiperpotassemia e uremia.
Os fenômenos hemorrágicos são frequentes e
podem traduzir-se por petéquias, equimoses e sangramento nos locais de venopunção ou
hemorragias gastro-intestinais exteriorizadas por hematêmese, melena ou enterorragias.
O comprometimento pulmonar na
leptospirose ictérica é frequente, manifestado clinicamente por tosse, dispnéia e
hemoptise, associados a alterações radiológicas diversas, que variam desde infiltrado
intersticial focal até intersticial e alveolar difuso. Recentemente, têm sido observados
quadros respiratórios mais graves, que evoluem para insuficiência respiratória aguda,
com hemorragia pulmonar maciça ou síndrome de angústia respiratória do adulto.
Nessa segunda fase, que dura em torno de
duas semanas, o paciente apresenta regressão progressiva dos sintomas, evoluindo para
cura em uma a três semanas.
Atrofia muscular e anemia são manifestações
frequentemente observadas por ocasião da alta do paciente.46

____________________________________________
45
SALOMÃO et TAJIKI, in Prado, op. cit., p. 16
46
MS – CENEPI II, op. cit., p. 4 (cap.5.18)

20
2.2. Diagnóstico Diferencial

As maiores dificuldades diagnósticas são


representadas pelas formas anictéricas, as quais, embora correspondam à maioria dos
casos da doença, em geral passam despercebidas e são rotuladas com outros diagnósticos
do ponto de vista clínico.
Verifica-se, assim, que as possibilidades de
confusão diagnóstica são bem maiores que na forma ictérica da Leptospirose. Nesse
último caso, o número de possíveis diagnósticos diferenciais fica mais reduzido e, o que é
mais importante, a presença de febre, mialgia e icterícia, mais facilmente, traz à mente do
clínico tal suspeita diagnóstica.
Segundo as formas de apresentação, têm sido
considerados os seguintes diagnósticos diferenciais:
 Forma anictérica: “viroses”, dengue, influenza, hantavirose, apendicite aguda,
bacteremias e septicemias, colagenoses, colecistite aguda, febre tifóide, infecção de
vias aéreas superiores e inferiores, malária, pielonefrite aguda, riquetsioses,
toxoplasmose, meningites e outras.

 Forma ictérica: colangite, coledocolitíase, doença de Lábrea, febre amarela, hepatite,


malária, Síndrome de Zieve, síndrome hepatorrenal, esteatose aguda da gravidez,
septicemias e outras.
Nem sempre o médico relaciona o quadro
clínico com a leptospirose, na fase séptica, pois as manifestações são geralmente
inespecíficas, comuns aos processos infecciosos em geral. O diagnóstico definitivo
dependerá do encontro de leptospiras ou da presença de anticorpos específicos no soro,
em amostras pareadas.47

2.3. Tratamento

O tratamento visa, de um lado, combater o


agente causal (antibioticoterapia) e, do outro, debelar as principais complicações, em
_____________________________________________
47
MS – CENEPI II, op. cit., p. 4 (cap.5.18)

21
especial, o desequilíbrio hidro-eletrolítico, as hemorragias, as insuficiências respiratórias
e renal agudas e perturbações cardio-vasculares, incluindo arritmias, insuficiência
cardíaca, hipotensão e choque.
As medidas terapêuticas de suporte
constituem-se nos aspectos de maior relevância e devem ser iniciadas precocemente, na
tentativa de evitar complicações da doença, principalmente as renais.48
O tratamento específico da leptospirose,
através da utilização de antimicrobianos permanece controversa. As leptospiras são
sensíveis a vários antibióticos, entre os quais a penicilina e as tetraciclinas. Contudo, a
eficácia da terapêutica antibiótica depende essencialmente do diagnóstico e tratamento
precoces. Dessa forma só é possível esperar resultado favorável se a indicação do
antibiótico é feita na fase inicial da doença, de preferência durante as primeiras 48 horas,
ou pelo menos, até o quinto dia do início dos sintomas, período que corresponde a fase de
leptospirosemia, quando então pode diminuir a duração da febre e reduzir a incidência de
complicações, renal, hepática, meníngeas e hemorrágicas. Na maioria das vezes, entretanto,
o doente procura tardiamente o socorro médico, ou então o diagnóstico é estabelecido com
atraso. Mesmo assim o antibiótico estaria indicado, pois se não pode influir na evolução da
doença, ao menos pode eliminar as leptospiras.49,50,51

3. DIAGNÓSTICO LABORATORIAL

3.1. Diagnóstico Específico

Conforme encontrado no Tratado de Doenças


52
Infecciosas, o diagnóstico definitivo da leptospirose depende de exames laboratoriais e
vários são os métodos utilizados para a confirmação diagnóstica. A seleção e uso do
método adequado irá depender do conhecimento do período de infecção em que se
encontra o paciente, da disponibilidade de laboratório e de pessoal capacitado.

____________________________________________
48
MS – CENEPI II, op. cit., p. 5 (cap.5.18)
49
SALOMÃO et TAJIKI, in Prado, op. cit., p. 16
50
PETRI, in Benett, op. cit., p. 1898
51
LOMAR et outros, in Veronesi, op. cit., p. 1000
52
Ibid, op. cit., p. 998

22
3.1.1. Cultura

As leptospiras podem ser cultivadas à partir


do sangue ou do líquor, geralmente na primeira e início da segunda semana de doença. Os
meios mais utilizados são o líquido de Stuart, semi-sólido de Fletcher, ambos contendo
soro de coelho, ou, ainda, o meio EMJH (Ellinghausen-McCullough-Jonhson-Harris),
contendo albumina e ácidos graxos. Para se obter resultados positivos, é recomendado
que a coleta seja feita de modo asséptico e que seja colocada em três tubos, contendo 2 a
5ml do meio de cultura, uma, duas e três gotas de sangue em cada tubo, respectivamente,
ou 0,1 a 0,5m1 de líquor.
Na urina, as leptospiras são
preferencialmente isoladas a partir da segunda semana de doença, podendo persistir
positiva por várias semanas após a convalescença, em pacientes não tratados com
antibióticos. Os problemas referentes ao isolamento das leptospiras na urina dizem
respeito à contaminação provocada por outras bactérias e que impedem a identificação
das leptospiras. Para se evitar este problema, a urina deve ser colhida com a máxima
assepsia e diluída na proporção de 1:10 a 1:100 com o meio de cultivo. Para se evitar a
realização desta diluição, pode-se colocar uma a duas gotas da urina diretamente no
meio. Como a urina é ácida, deve-se ajustar o pH alcalinizando-a, favorecendo, deste
modo, o crescimento do microrganismo. A adição de substâncias como o 5-fluorouracil ou
antibióticos como a neomicina, furazolidona, ciclo-hexamida ou sulfatiazol, isoladamente
ou em combinação, pode ser usada para minimizar contaminação da cultura.53
A cultura somente será positiva após algumas
semanas, duas a oito, o que garante sempre diagnóstico retrospectivo.54,55

3.1.2. Exame Microscópico

E muito difícil a visualização das leptospiras


em microscopia de campo escuro de amostras obtidas de sangue, urina ou mesmo líquor.
Apesar de ser frequentemente utilizado no líquor, é um método de baixa sensibilidade.
_____________________________________________
53
LOMAR et outros, in Veronesi, op. cit., p. 998
54
McCLAIN, in Benett, op. cit., p. 1816
55
MS – CENEPI II, op. cit., p. 5 (cap.5.18)

23
Exige pessoal muito bem treinado, uma vez que certos artefatos, tais como fibrina e
produtos celulares, podem ser confundidos com as leptospiras. Não é um método
recomendado rotineiramente.
Métodos de microscopia direta são de valor
quando se examinam espécimes tissulares, urina e sangue, especialmente de animais com
grande quantidade de leptospiras. Técnica de imunofluorescência direta ou indireta e
coloração de tecidos pela prata são úteis quando se examinam materiais obtidos de
necrópsia. Não constituem procedimentos rotineiros e são de maior valor em estudos
experimentais ou quando não se dispuser de técnicas sorológicas.56

3.1.3. Inoculação em Animais de Laboratório

Não oferece vantagens, do ponto de vista


clínico, para o isolamento das leptospiras, quando comparado com os métodos de cultivo
do sangue, líquor ou urina obtidos assepticamente. Algumas vezes tem sido utilizado como
meio de manutenção, em laboratório, de cepas que não se adaptam bem aos meios de
cultura. Os animais mais usados para esta finalidade são as cobaias e os hamsters. O
inóculo de 0,5 a 1,5ml deve ser injetado por via intraperitoneal, e os animais devem ser
sangrados no sexto e décimo dias após a inoculação, podendo ser sacrificados entre o
vigésimo e trigésimo dias para exame dos rins através da cultura ou métodos de
visualização microscópica.57

3.1.4. Reações Sorológicas

Vários são os testes utilizados para detecção


de anticorpos, tanto em soros humanos como animais, com leptospirose, podendo-se ainda
realizar tais provas no líquido cefalorraquidiano, pleural, sinovial e humor aquoso.58 Os
anticorpos já poderão ser encontrados no sangue, em títulos significativos, a partir do
oitavo ao décimo dia da doença, no entanto, o título máximo geralmente só é alcançado
após o trigésimo dia. Embora o teor de anticorpos circulantes comece a decair alguns
_____________________________________________
56
LOMAR et outros, in Veronesi, op. cit., p. 999
57
Ibid, op. cit., p. 999
58
Ibid, op. cit., p. 999

24
meses após, títulos baixos (1:100) poderão ser detectados por vários anos.59 Enumeramos a
seguir os vários testes sorológicos utilizados para o diagnóstico das leptospirose:
 Reação de soroaglutinação microscópica;
 Reação de soroaglutinação macroscópica;
 Reação de fixação do complemento;
 Reação de hemaglutinação;
 Reação de contra-imunoeletroforese;
 Reação de imunofluorescência;
 Ensaio imunoenzimático (ELISA);
 Radioimunoensaio.60
As reações de soroaglutinação macroscópica
e microscópica são as mais utilizadas, com grande valor na prática clínica, sendo a primeira
gênero específica e o última sorovar específica.
A reação de soroaglutinação macroscópica
é mais acessível à pequenos laboratórios, e de rápida execução, utilizando a aglutinação
em placa com antígenos mortos ou formolilizados. Deve ser usada como procedimento
diagnóstico de triagem, devendo posteriormente, quando positiva, submeter o espécime
à reação de soroaglutinação microscópica em laboratório especializado.61 Devido a sua
inespecificidade em nível de sorovar, essa reação poderá mostrar resultados positivos
mais precocemente que a de microaglutinação. Por outro lado, no caso de anticorpos
residuais, a tendência é mostrar-se negativa.62
A reação de soroaglutinação microscópica é
muito sensível e altamente espeífica, constituindo-se no método de referência padrão para
os exames sorológicos. É o método de preferência e o mais recomendado pela
Organização Mundial da Saúde. Este teste utiliza antígenos vivos de leptospira e, por isso,
é potencialmente perigoso para o técnico de laboratório, além de ser demorado e exigir
pessoal bem treinado, tomando-se um teste que deve ser utilizado somente em laboratórios
especializados ou de referência. São utilizadas cepas representativas de cada sorovar. O
número destes sorovares pode variar de laboratório para laboratório e depende da

_____________________________________________
59
MS – FNS I, op. cit., p. 30
60
LOMAR et outros, in Veronesi, op. cit., p. 999
61
Ibid, op. cit., p. 999
62
MS – FNS I, op. cit., p. 37

25
prevalência do sorovar específico em determinada região (anexo 2). Culturas jovens de
leptospiras podem ser utilizadas como antígenos e são feitas diluições de 1:50, 1:100,
1:200, 1:400 até diluições de 1:25.600 ou mais. Considera-se uma reação positiva a
determinada diluição quando cerca de 50% ou mais das leptospiras visualizadas através
do microscópio em campo escuro encontrarem-se aglutinadas. Uma reação de
soroaglutinação é positiva nas diluições iguais ou superiores a 1:100.63 O diagnóstico
sorológico é feito através do exame de duas amostras de soro colhidas com intervalo de 10
a 15 dias com aumento de 4 vezes o título da primeira para a segunda amostra.64
A reação de microaglutinação também pode
ser feita com antígeno formolado e oferece somente uma vantagem sobre a que emprega
antígeno vivo: menor o risco de contaminação dos técnicos que a realizam; o tempo gasto e
os equipamentos exigidos são os mesmos. Os títulos de anticorpos mostrados por essa
técnica, geralmente, são menores (1 ou 2 diluições) do que aqueles obtidos pela
microaglutinação com antígeno vivo. O antígeno, após ser formolado, tem uma
estabilidade máxima de 15 dias.65
Algumas divergências podem ser observadas
entre resultados da prova macroscópica e aqueles obtidos na prova padrão de
microaglutinação.
As divergências caracterizadas como “falso-
negativo” acontecem mais frequentemente quando se trata de anticorpos residuais. A
partir do segundo mês após o início da doença, os títulos de anticorpos anti-leptospira,
geralmente, tendem a decrescer. Dependendo do número de coaglutinações e do título
máximo alcançado na fase ativa da doença, a macroaglutinação, ao contrário da micro,
poderá mostrar-se negativa, mesmo ainda no estágio de convalescença.
As divergências caracterizadas como “falso-
positivo” são menos frequentes e, quando acontecem, fazem-no em um estágio bem
precoce da doença. Podem ser explicadas pela menor especificidade, a nível de sorovar,
desta prova em relação à microaglutinação. Em leptospirose, na fase inicial, são muito
frequentes as respostas cruzadas com anticorpos para vários sorovares ao mesmo tempo.
Se um sangue é, coincidentemente, coletado numa fase em que o sistema imunológico do
_____________________________________________
63
LOMAR et outros, in Veronesi, op. cit., p. 999
64
Ibid, op. cit., p. 999
65
MS – FNS I, op. cit., p. 37

26
paciente está iniciando a produção de coaglutininas, o somatório destas poderá positivar
a macroaglutinação, ao contrário da micro que precisaria de maior quantidade de
aglutinina específica contra, pelo menos, um determinado sorovar.66
Outros testes laboratoriais podem ser
utilizados para o diagnóstico da leptospirose, tais como: reações de fixação do
complemento, hemaglutinação, imunofluorescência, contra-imunoeletroforese, teste
ELISA-IgM teste imunoblot-IgM, teste por PCR (reação em cadeia de polimerase e
radioimunoensaio). São gênero específicas porém de execução rápida e de grande
utilidade para o clínico, pois fornecem o diagnóstico mais precocemente que a reação de
soroaglutinação microscópica. Reação de hemaglutinação, teste imunoenzimático ELISA-
IgM e contra-imunoeletroforese têm sido estudados em nosso meio.
Os anticorpos IgM são produzidos no curso
inicial da infecção, e a utilização de métodos como os citados é capaz de detectá-los com
alta sensibilidade e especificidade. O teste ELISA-IgM revelou especificidade de 100% e
sensibilidade de 94,6%, e começa a ser utilizado com mais frequência em nosso meio.
Pode detectar anticorpos, mais precocemente, quatro a cinco dias após o início dos
sintomas. A pesquisa de anticorpos da classe IgM na saliva (ELISA-IgM e DOT ELISA-
IgM) específica para leptospirose tem demonstrado resultados animadores para uso como
diagnóstico rápido ou levantamentos epidemiológicos. Os resultados são rapidamente
obtidos e é de fácil execução.
Técnicas utilizando anticorpos monoclonais
também poderão, no futuro, facilitar o diagnóstico e contribuir para o seu
aprimoramento.67

4. MEDIDAS DE CONTROLE

Vários fatores interagem na ocorrência de


um caso de leptospirose, portanto as medidas de controle deverão ser direcionadas não ao
controle dos roedores (medidas de anti-ratização e desratização), como também à

_____________________________________________
66
MS – FNS I, op. cit., p. 41
67
LOMAR et outros, in Veronesi, op. cit., p. 999

27
melhoria das condições higiênico-sanitárias da população e alterações do meio
ambiente.68

4.1. Controle dos Roedores


As medidas de controle de ratos dividem-se
em permanentes, ações de anti-ratização; e temporárias, ações de desratização.
As primeiras são mais eficientes e baseiam-
se em dois princípios: necessidade do rato alimentar-se e de abrigar-se. Eliminando-se o
acesso ao alimento e ao abrigo, impede-se que ele instale-se em novos lugares. Já as
medidas temporárias se forem convenientemente adotadas, poderão oferecer resultados
relativamente bons, porém, nunca iguais aos das permanentes. Devem, entretanto, ser
aplicadas como medidas supletivas em áreas altamente infestadas.69

4.1.1. Anti-ratização

E o conjunto de medidas que visam a


modificar as características ambientais que favorecem a penetração, instalação e a livre
proliferação de roedores. Basicamente compreende a eliminação dos meios que propiciem
aos roedores o acesso ao alimento, abrigo e água.70 Estas medidas, tanto para as áreas
urbanas, como para as áreas rurais, encontram-se detalhadas no anexo 3.71
Para se viabilizarem as medidas de anti-
ratização, é necessário agilizar os serviços de coleta e destino adequado do lixo. O lixo a
céu aberto é a maior fonte de alimento para o rato urbano, constituindo, portanto, uma
importante fonte de infestação. O lixo deverá ser coletado ao longo do dia, devendo ser
acondicionado, de preferência, em recipientes tampados (tambores, latas ou similares com
tampa) ou sacos plásticos fechados e dispostos longe do solo. A coleta do lixo deve ser
permanente e com destino adequado; em pequena quantidade, pode ser queimado e/ou
enterrado; em quantidade grande, deve ser levado à usinas de tratamento ou depositado em
aterros sanitários.
_____________________________________________
68
MS – CENEPI II, op. cit., p. 10 (cap.5.18)
69
MS – FSESP, op. cit., pgs. 172 e 175
70
MS – FNS I, op. cit., p. 71
71
MS – FNS II, op. cit., pgs. 297-302

28
A construção e manutenção adequada das
redes de abastecimento de água, rede de captação de águas pluviais e rede de esgoto,
principalmente no período anterior às grandes chuvas, também integra as ações de anti-
ratização. Assim sendo, devem ser reparadas as tubulações danificadas, esgotos e canais
efluentes devem ser fechados e canalizados. Canais abertos devem estar com bordos
limpos e retificados.
Compreende também as ações de educação
em saúde, através de informação, orientação e esclarecimento às pessoas ligadas
diretamente ao problema, obtendo o envolvimento e participação da comunidade.72

4.1.2. Desratização

A desratização compreende todas as medidas


empregadas para a eliminação dos roedores infestados, através de métodos mecânico,
biológico e químico. Para maior eficácia, a desratização deve ser realizada como
complementar aos trabalhos de limpeza, saneamento e controle ambiental.
O método mecânico consiste no uso de
armadilhas e ratoeiras. Há vários modelos, porém o que apresenta melhores resultados é o
de mola ou “quebra-costas”, em tamanho adequado à espécie. Utilizam-se como iscas,
alimentos que o animal esteja habituado a ingerir e deverão ser colocadas firmemente no
disparador e as armadilhas distribuídas nas trilhas ou locais onde hajam vestígios de fezes,
papel picado ou outros. Para combater os ratos de telhado, as ratoeiras deverão ser armadas
nos troncos de árvores, galhos, canos, condutores e forros. Diminuir ou eliminar as fontes
de alimentos disponíveis no ambiente, pois senão as ratoeiras terão poucas chances de
sucesso. Há certos modelos que são acionados por plataformas, dispensando o uso de iscas.
É empregado principalmente para
camundongos, pois, devido a sua curiosidade, vão investigar todo e qualquer objeto novo
colocado em seu território. É utilizado também em situações onde não é recomendado o
uso de raticida, quando se deseja capturar roedores vivos, ou quando há poucos a
combater.73

_____________________________________________
72
MS – FNS I, op. cit., pgs. 55,56 e 71
73
Idem, op. cit., p. 71

29
As campanhas por meio de ratoeiras devem
ser curtas e decisivas. Depois de um período de intensa utilização, deverá ser feito um
intervalo de dois ou três meses, recomeçando-se em seguida.74
Como método biológico entende-se o uso de
predadores naturais. Em área rural, os animais predadores, tais como, algumas aves,
carnívoros e ofídios, exercem certa atuação no controle de pequenos roedores. Em área
urbana, os animais domésticos como o cão e o gato quase não influem no combate, sendo
comum encontrar ratos vivendo de restos de alimentos desses animais.
De modo geral, os predadores naturais são
empregados quando há facilidades para seu uso, porém, não representam método eficiente
no controle.75,76
O método químico baseia-se no uso de
raticidas que são compostos químicos especialmente estudados, desenvolvidos e
preparados para causar a morte do roedor. É considerado o mais eficaz entre os métodos de
desratização, porém a maioria dos rodenticidas exigem pessoal treinado para sua aplicação,
pois são perigosos tanto para o homem, quanto para os animais domésticos; seu emprego
deve obedecer a requisitos técnicos baseados nos hábitos dos ratos.77,78
Quanto à rapidez do efeito, os raticidas
podem ser classificados em agudos ou crônicos. Agudos são aqueles que causam a morte
do roedor desde alguns segundos até horas após sua ingestão. Foram proibidos no Brasil,
pois são inespecíficos, alguns deles não possuem antídoto e podiam induzir a tolerância
caso o roedor ingerisse subdose. São eles: estricnina, arsênico, monofluoracetato de sódio,
fluoracetamina, sulfato de tálio, piridinil uréia, cila vermelha, fosfeto de zinco, norbomida,
castrix e antú.
Os raticidas crônicos são os que provocam a
morte do roedor alguns dias após a ingestão. São anticoagulantes, interferindo no processo
de coagulação sanguinea, provocando a morte por hemorragias. São largamente utilizados
no mundo devido à sua grande segurança e a existência de um antídoto altamente

_____________________________________________
74
MS – FSESP, op. cit., p. 175
75
MS – FNS I, op. cit., p. 72
76
MS – FSESP, op. cit., p. 175
77
MS – FNS I, op. cit., p. 72
78
BEZERRA, in Vieira, op. cit., p. 166

30
confiável, a vitamina K1 injetável. Podem ser derivados da cumarina ou da indandiona. Os
derivados cumarínicos são os mais utilizados no Brasil e no mundo.
Os raticidas anticoagulantes podem ser de
dose múltipla ou de dose única e são apresentados sob forma de iscas peletizadas ou
granuladas, pó de contato, bloco sólido impermeável e pó concentrado.
Os de dose múltipla são aqueles com baixa
toxidade, apresentando efeito cumulativo no organismo, isto é, necessitam ser ingeridos
mais de uma vez, para que os sintomas de envenenamento apareçam e por serem de baixa
toxidade, porém eficazes, são ideais para se manter nos postos permanentes de
envenenamento (PPE), durante o ano todo, para controlar ratos invasores em áreas indenes
sob risco ou áreas já tratadas e controladas.
Já os de dose única são os que com a ingestão
de apenas uma dose, causam a morte do roedor entre três e dez dias após a sua ingestão.
Surgiram após o aparecimento dos casos de resistência aos raticidas de dose múltipla. Por
serem mais concentrados são mais tóxicos e menos seguros em casos de ingestão acidental,
devendo ser usado como critério, segurança e técnica.
Embora todos os raticidas brasileiros,
registrados na atualidade, pertençam ao grupo dos anticoagulantes, existem ainda, raticidas
ilegais, geralmente agudos, fabricados clandestinamente. O acidente com estes raticidas é
gravíssimo e requer socorro imediato.
Quando ocorre a ingestão acidental de
raticidas anticoagulantes (derivados da cumarina e indadiona), a terapêutica é muito mais
segura e deve-se levar o paciente prontamente a um médico (ou veterinário, se for um
animal), sempre que possível, levando a embalagem do raticida para melhor orientar a
assistência médica.79,80

_____________________________________________
79
MS – FNS I, op. cit., pgs. 72-74
80
MS – FNS II, op. cit., pgs. 302-304

31
4.2. Outras Medidas de Controle81,82,83,84

 Desassoreamento e limpeza dos córregos, canalização dos cursos d’água e aterro e/ou
drenagem de lagoas e demais coleções de águas paradas, visando prevenir a ocorrência
de enchentes.
 Quando há ocorrência de enchentes alguns cuidados devem ser observados, como
limpeza e desinfecção, com hipoclorito de sódio, de áreas físicas domiciliares e do
local de trabalho que sofreram inundação recente.
 Utilização de água filtrada, fervida ou clorada para ingestão e ainda, descartar
alimentos e medicamentos que entraram em contato com as águas das enchentes.
 Medidas de proteção individual para trabalhadores ou indivíduos expostos, a situações
de risco, mediante uso de calçados e vestimentas apropriadas (luvas e botas de
borracha), evitando o contato da pele e ferimentos em águas possivelmente
contaminadas. Os agricultores devem, ser orientados sobre os cuidados de lavagem e
desinfecção dos ferimentos.
 Controle de sanidade em animais domésticos, através da higiene, remoção e destino
adequado de excretas e desinfecção permanente dos locais de criação e ainda,
assistência médico-veterinária, nos casos de enfermidade animal, com especial atenção
para o uso de procedimentos terapêuticos que sustem a eliminação urinária de
leptospiras. Também é importante a vacinação de animais (cães, bovinos e suínos)
através de vacinas comerciais (bacterianas inativadas com formol) preparadas com as
variantes sorológicas prevalentes na região. A infecção renal pode ocorrer, mesmo em
animais vacinados, e há descrições de casos de homens que adquiriram a doença a
partir da urina de cães adequadamente imunizados. Estes casos são raros na literatura, e
a comprovação de que a vacinação dos animais domésticos reduz significativamente a
incidência da infecção torna, sem dúvida alguma, recomendada a sua utilização.
 A critério médico, poderá ou não ser indicado o uso da antibioticoterapia profilática em
casos de exposição de alto risco. O uso dessa medida profilática deve levar em

_____________________________________________
81
MS – CENEPI I, op. cit., pgs. 221-222
82
MS – CENEPI II, op. cit., p. 10 (5.18)
83
LOMAR et outros, in Veronesi, op. cit., p. 1001
84
MS – FNS I, op. cit., pgs. 55-56

32
consideração as peculiaridades regionais e os grupos de indivíduos susceptíveis em
causa.
 Imunização. Vacinas produzidas para o uso humano com leptospiras vivas, preparadas
com sorovares prevalentes em determinada área, têm sido utilizadas em determinadas
regiões do mundo, em grupos populacionais selecionados. Embora o uso generalizado
dessas vacinas não se justifique devido ao número de casos verificados no Brasil, a sua
utilização, em certos grupos de alto risco, seria recomendada. Ocorre, porém, que não
há produção disponível para aplicação em humanos que leve em consideração os
principais sorovares aqui isolados. Deve-se ressaltar que a imunização natural em
humanos é específica para o sorovar causador da doença do homem. Um segundo
ataque da doença pelo mesmo sorovar não tem sido comprovado, porém tem sido
relatado mais de um episódio de leptospirose causada por sorovares diferentes. Não há
vacina licenciada para o uso em seres humanos nos Estados Unidos e no Brasil.
 Ações permanentes de educação em saúde alertando as formas de transmissão, medidas
de prevenção, manifestações clínicas, tratamento e controle da doença..

33
II – DOENÇA DO TRABALHO

1. ACIDENTE DO TRABALHO: DOENÇA DO TRABALHO E DOENÇA


PROFISSIONAL

Inicialmente, conforme referido em Agentes


de Doenças Profissionais, torna-se relevante estabelecer a diferença conceitual entre
doença profissional e doença do trabalho, embora na prática as duas sejam enquadradas
como acidente de trabalho para fins legais,85 conforme preceitua a Lei no 8.213, de 24 de
julho de 1991, que dispõe sobre os Planos de Benefícios da Previdência Social e dá outras
providências, atualmente regulamentada pelo decreto no 3048, de 06 de maio de 1999, que
Aprova o Regulamento da Previdência Social e dá outras providências. (republicado no
Diário Oficial da União em 18 de junho de 1999, por ter saído com incorreção).
Essa diferenciação conceitual encontra-se em
Doenças Ocupacionais quando explicita Doenças Profissionais, como sendo aquelas
alterações fisiopatológicas provocadas inequivocamente ou inerente a certas atividades
profissionais, existindo sempre uma relação indiscutível entre a causa e o efeito
(existência de nexo causal).
O saturnismo que se manifesta naqueles
operários que trabalham com chumbo, a silicose apresentadas por obreiros que trabalham
com sílica, e a pneumoconiose dos trabalhadores do carvão, são alguns exemplos.

_____________________________________________
85
VIEIRA, in Vieira, op. cit., p. 277

34
A Doença do Trabalho seria aquela afecção
que nem sempre estaria rigorosamente relacionada com o trabalho e provocada por este.
Nestes casos, há necessidade de identificar a relação entre a causa e o efeito. Cita-se
como exemplos o aparecimento de varizes, de hérnias ou afecções da coluna,86 bem como
doenças infecciosas; por exemplo, leptospirose, adquiridas no exercício do trabalho,
devendo-se sempre haver comprovação do nexo causal, sendo este de natureza
eminentemente epidemiológica
O acima exposto encontra-se na Lei
8.213/91,87 em seus artigos a seguir transcritos, quando relevantes ao objeto deste estudo:
...............................................
Art. 19. Acidente do trabalho é o que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço da
empresa ou pelo exercício do trabalho dos segurados referidos no inciso VII do art. 11
desta Lei,* provocando lesão corporal ou perturbação funcional que cause a morte ou a
perda ou redução, permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho.

Art. 20. Consideram-se acidentes do trabalho, nos termos do artigo anterior, as


seguintes entidades mórbidas:
I – doença profissional, assim entendida a produzida ou desencadeada pelo
exercício do trabalho peculiar a determinada atividade e constante da respectiva relação
elaborada pelo Ministério do Trabalho e da Previdência Social;
II – doença do trabalho, assim entendida a adquirida ou desencadeada em função de
condições especiais em que o trabalho é realizado e com se ele se relacione diretamente,
constante da relação mencionada no inciso I.
§1o – Não são consideradas doenças do trabalho:
c) a que não produza incapacidade laborativa;

_____________________________________________
86
MARANO, op. cit., p. 18
87
OLIVEIRA, op. cit., pgs. 62-63
* Art. 11. São segurados obrigatórios da Previdência Social as seguintes pessoas físicas:
VII - como segurado especial: o produtor, o parceiro, o meeiro e o arrendatário rurais, o garimpeiro, o
pescador artesanal e o assemelhado, que exerçam suas atividades, individualmente ou em regime de
economia familiar, ainda que com auxílio eventual de terceiros, bem como seus respectivos cônjuges ou
companheiros e filhos maiores de 14 (quatorze) anos ou a eles equiparados, desde que trabalhem
comprovadamente, com o grupo familiar respectivo. (O garimpeiro está excluído por força da Lei n o 8.398,
de 7-1-92, que alterou a redação do incisivo VII do art. 12 da Lei n o 8. 212, de 24-7-91)

35
d) a doença endêmica adquirida por segurado habitante de região em que ela se
desenvolva, salvo comprovação de que é resultante de exposição ou contato direto
determinado pela natureza do trabalho.

Art. 21. Equiparam-se também ao acidente de trabalho, para efeitos desta Lei:
I – o acidente ligado ao trabalho que, embora não tenha sido a causa única, haja
contribuído diretamente para a morte do segurado, redução ou perda da capacidade para o
trabalho, ou produzido lesão que exija atenção médica para a sua recuperação;
III – a doença do proveniente de contaminação acidental do empregado no exercício
de sua atividade;
IV – o acidente sofrido pelo segurado, ainda que fora do local e horário de trabalho:
a) na execução de ordem ou na realização de serviço sob a autoridade da empresa;
b) na prestação espontânea de qualquer serviço à empresa para lhe evitar prejuízo
ou proporcionar proveito;
d) no percurso da residência para o local de trabalho ou deste para aquela, qualquer
que seja o meio de locomoção, inclusive veículo de propriedade do segurado.
................................................
A relação de doenças referida no artigo 20,
inciso I e II, encontra-se no anexo II do decreto no 3.048/9988 e consta de uma “Relação de
Agentes Patogênicos Causadores de Doenças Profissionais ou do Trabalho” com os
respectivos trabalhos que contêm o risco; uma “lista A” de Agentes ou fatores de risco de
natureza ocupacional relacionados com a etiologia de doenças profissionais e de outras
doenças relacionadas com o trabalho; e finalmente, uma “lista B” de Doenças relacionadas
com o trabalho, por grupo e sub grupo da CID-10, correlacionando com agentes etiológicos
ou fatores de risco de natureza ocupacional.
Como pode ser verificado não se trata de uma
“Relação de Doenças Profissionais” e uma “Relação de Doenças do Trabalho”, mas de
uma relação que engloba tanto doenças profissionais como doenças do trabalho, sendo a
doença conceituada como profissional quando produzida ou desencadeada pelo exercício
do trabalho peculiar a determinada atividade e do trabalho quando adquirida ou
desencadeada em função de condições especiais em que o trabalho é realizado e com ele
_____________________________________________
88
OLIVEIRA, op. cit., pgs. 187-232

36
se relacione diretamente (Lei 8.213/91 art. 20), devendo neste último caso haver
comprovação do nexo causal.
Com referência especificamente a
leptospirose podemos encontrar no anexo II do decreto 3048/99:

 Agentes Patogênicos causadores de doenças profissionais ou do trabalho


Agentes patogênicos biológicos Trabalhos que contêm o risco
XXV – Microorganismos e parasitas
infecciosos vivos e seus produtos tóxicos:
1. Mycobacterium; vírus hospedados por Agricultura; pecuária, sulvicultura; caça
artrópodes; cocciclióides; fungos; (inclusive a caça com armadilhas);
histoplasma; leptospira; ricketsia; veterinária; curtume.
bacilo (carbúnculo, tétano); ancilós-
tomo; tripanossoma; pasteurella liístoplasma; leptospira; ricketsia; veterinária; curtume.
2. Ancilóstomo; histoplasma; cocci- Construção, escavação de terra; esgoto;
clióides; leptospira; bacilo; sepse. canal de irrigação; mineração.
6. Bactérias; mycobactéria; brucella; Veterinária.
fungos; leptospira, vírus; mixovirus;
ricketsia; pasteurella.

 Lista A:
Agentes ou fatores de risco de natureza ocupacional relacionados com a etiologia de
doenças profissionais e de outras doenças relacionadas com o trabalho.
Agentes etiológicos ou fatores de risco de Doenças causalmente relacionadas com os
natureza ocupacional respectivos agentes ou fatores de risco
(denominadas e codificadas segundo a
CID-10)
XXV – Microorganismos e parasitas Le
infecciosos vivos e seus produtos tóxicos
(Exposição ocupacional ao agente e/ou
transmissor da doença, em profissões e/ou 4. Leptospirose (A27.-)
condições de trabalho especificadas)

37
 Lista B:
Doenças infecciosas e parasitárias relacionadas com o trabalho (grupo I da CID- 10)
Agentes etiológicos ou fatores de risco de
Doenças
natureza ocupacional
IV – Leptospirose (A27.-) Exposição ocupacional a Leptospira
icterohaemorrhagiae (e outras espécies),
em trabalhos expondo ao contato direto
com águas sujas, ou efetuado em locais
suscetíveis de serem sujos por dejetos de
animais portadores de germes; trabalhos
efetuados dentro de minas, túneis galerias,
esgotos em locais subterrâneos; trabalhos
em cursos d’água; trabalhos de drenagem;
contato com os roedores; trabalhos com
animais domésticos, e com gado;
preparação de alimentos de origem
animal, de peixes, de laticínios, etc.
(Z57.8) (Quadro 25).

Ainda no decreto no 3.048/9989 devemos ressaltar o artigo 337 que trata da


caracterização do acidente do trabalho:
................................................
Art. 337. O acidente de que trata o artigo anterior será caracterizado tecnicamente
pela perícia médica do Instituto Nacional do Seguro Social, que fará o reconhecimento
técnico do nexo causal entre:
I – o acidente e a lesão;
II – a doença e o trabalho; e
III – a causa mortis e o acidente.
§1o O setor de benefícios do Instituto Nacional do Seguro Social reconhecerá o
direito do segurado à habilitação do benefício acidentário.
§2o Será considerado agravamento do acidente aquele sofrido pelo acidentado
quando estiver sob a responsabilidade da reabilitação profissional.
................................................

_____________________________________________
89
OLIVEIRA, op. cit., p. 180

38
1.1. Acidente do trajeto

O acidente do trajeto é a simples


interpretação da letra d, do inciso IV, do artigo 21 da Lei no 8.213/91 que diz: Equiparam-
se também ao acidente do trabalho, para efeitos desta Lei, o acidente sofrido pelo
segurado ainda que fora do local e horário de trabalho, no percurso da residência para o
local de trabalho ou deste para aquela, qualquer que seja o meio de locomoção inclusive
veículo de propriedade do segurado.
Aqui se caracteriza o trajeto normal do
empregado, da residência para o trabalho e vice-versa.
No entanto conforme referido em Legislação
em Medicina do Trabalho,90 deve-se atentar para os ítens abaixo, nos quais encontram-se a
sistemática adotada pelo INSS, para caracterização do acidente de trajeto:
 Trajeto Normal: é o caminho diariamente percorrido pelo empregado, não precisando
ser, necessariamente, o mais curto. Pode ser ainda, não o normal, mas o obrigatório.
 Tempo de Percurso Normal: atentar para o tempo que o empregado, diariamente, faz o
percurso, ou o tempo do desvio obrigatório.
 Condições para o Trajeto Normal: atentar as condições físicas, tráfego, etc., para que o
empregado possa fazer o trajeto normal.
 Atividade no Momento do Acidente: notar que o empregado, ao sair da sua residência
para a empresa ou vice-versa, tem como objetivo o trabalho ou a residência. Caso o
empregado saia da empresa para a residência, resolver ir até o estádio de futebol, visitar
um colega, etc., está extinto o trajeto normal, e a atividade normal do projeto.

2. COMUNICAÇÃO DE ACIDENTE DO TRABALHO

A comunicação de acidente do trabalho


encontra-se estabelecida na Lei no 8.213/91, regulamentada no decreto no 3.048/99 e, ainda,
normatizada através da Ordem de Serviço no 621/99, do Instituto Nacional do Seguro
Social (INSS). Esta última ainda que não tenha força de lei, uma vez que Ordens de
Serviço são regras jurídicas de comportamento que se destinam a facilitar o cumprimento
_____________________________________________
90
DIGIÁCOMO et VIEIRA, in Vieira, op. cit., p. 366

39
da Lei e Decretos,91 padroniza a forma de comunicação em impresso específico para esse
fim.
Na Lei no 8.213/91 encontramos:92
................................................
Art. 22. A empresa deverá comunicar o acidente do trabalho à Previdência Social
até o 1o (primeiro) dia útil seguinte ao da ocorrência e, em caso de morte, de imediato, sob
pena de multa variável entre o limite mínimo e o limite máximo do salário-de-contribuição,
sucessivamente aumentada nas reincidências, aplicada e cobrada pela Previdência Social.
§12o Da comunicação a que se refere este artigo receberão cópia fiel o acidentado
ou seu dependentes, bem como o sindicato a que corresponda a sua categoria.
§2o Na falta de comunicação por parte da empresa, podem formalizá-la o próprio
acidentado, seus dependentes, a entidade sindical competente, o médico que assistiu ou
qualquer autoridade pública, não prevalecendo nestes casos o prazo previsto neste artigo.
§3o A comunicação a que se refere o §2o não exime a empresa de responsabilidade
pela falta do cumprimento do disposto neste artigo.
§4o Os sindicatos e entidades representativas de classe poderão acompanhar a
cobrança, pela Previdência Social, das multas previstas neste artigo.

Art. 23. Considera-se como dia do acidente, no caso de doença profissional ou do


trabalho, a data do início da incapacidade laborativa para o exercício da atividade habitual,
ou o dia da segregação compulsória, ou o dia em que for realizado o diagnóstico, valendo
para este efeito o que ocorrer primeiro.
................................................
O Decreto no 3.048/99 regulamenta esta
comunicação conforme abaixo:93
................................................
Art. 336. Para fins estatísticos e epidemiológicos, a empresa deverá comunicar a
previdência social o acidente de que tratam os arts. 19, 20, 21 e 23 da Lei n o 8.213, de
1991, ocorrido com o segurado empregado, exceto o doméstico, o trabalhador avulso, o
segurado especial e o médico-residente, até o primeiro dia útil seguinte ao da ocorrência, e,
_____________________________________________
91
REIS, in Vieira et Pereira, op. cit., pgs. 18-19
92
OLIVEIRA, op. cit., pgs. 63-69
93
Ibid, op. cit., p. 180

40
em caso de morte, de imediato, à autoridade competente, sob pena da multa aplicada e
cobrada na forma do art. 286.*
§1o Da comunicação a que se refere este artigo receberão cópia fiel o acidentado ou
seus dependentes, bem como o sindicato que corresponda a sua categoria.
§2o Na falta do cumprimento do disposto no caput, caberá ao setor de benefícios do
Instituto Nacional do Seguro Social comunicar a ocorrência ao setor de fiscalização, para a
aplicação e cobrança da multa devida.
§3o Na falta de comunicação por parte da empresa, podem formalizá-la o próprio
acidentado, seus dependentes, a entidade sindical competente, o médico que assistiu ou
qualquer autoridade pública, não prevalecendo nestes casos o prazo previsto neste artigo.
§4o A comunicação a que se refere o §3o não exime a empresa de responsabilidade
pela falta do cumprimento do disposto neste artigo.
§6o Os sindicatos e entidades representativas de classe poderão acompanhar a
cobrança, pela Previdência Social, das multas previstas neste artigo.
................................................
A Ordem de Serviço no 621/9994 traz o
modelo do formulário a ser utilizado para a comunicação de acidente do trabalho (CAT) e
as instruções para o preenchimento correto do mesmo, ressalvando no ítem 8 das
Recomendações Gerais (II) que o formulário Comunicação de Acidente do Trabalho –
CAT – poderá ser substituído por impresso da própria empresa, desde que esta possua
sistema de informação de pessoal mediante processamento eletrônico, cabendo observar
que o formulário substituído deverá ser emitido por computador e conter todas as
informações exigidas pelo INSS.

No tópico III – Informações Gerais julgamos


importante ressaltar os itens e subitens abaixo:
................................................
1.1.1 – Deverão ser comunicadas ao INSS, mediante o formulário “Comunicação
de Acidente do Trabalho – CAT”, as seguintes ocorrências:

____________________________________________
*
Art. 286- a infração do disposto no art. 336 sujeita o responsável à multa cabível entre os limites mínimo e
máximo do salário-de-contnbuição, por acidente que tenha deixado de comunicar nesse prazo.
94
ANANT, op. cit., pgs. 165-168 e 181

41
Ocorrências: Tipos de CAT:
a) Acidente do trabalho, típico ou de trajeto, ou doença CAT inicial;
profissional ou do trabalho;
b) reinício de tratamento ou afastamento por agravamento CAT reabertura;
de lesão de acidente do trabalho ou doença profissional
ou do trabalho, já comunicado anteriormente ao INSS;
c) falecimento decorrente de acidente ou doença CAT comunicação de óbito.
profissional ou do trabalho, ocorrido após emissão da
CAT inicial.

1.2 – A comunicação será feita ao INSS por intermédio do formulário CAT,


preenchido em seis vias, com a seguinte destinação: 1a via – ao INSS; 2a via – à empresa;
3a via – ao segurado ou dependente; 4a via – ao sindicato de classe do trabalhador; 5a via –
ao Sistema Único de Saúde – SUS; 6a via – à Delegacia Regional do Trabalho.
................................................
1.12 – Todos os casos com diagnóstico firmado de doença profissional ou do
trabalho devem ser objeto de emissão de CAT pelo empregador, acompanhada de relatório
médico preenchido pelo médico do trabalho da empresa, médico assistente (serviço de
saúde pública ou privado) ou médico responsável pelo PCMSO (Programa de Controle
Médico de Saúde Ocupacional – previsto na NR no 7), com descrição de atividade e posto
de trabalho para fundamentar o nexo causal e o técnico.
................................................
1.14 – Quando a doença profissional ou do trabalho se manifestar após a
desvinculação do acidentado da empresa onde foi adquirida, deverá ser emitida CAT por
aquela empresa, e na falta desta poderá ser feita pelo serviço médico de atendimento,
beneficiário ou sindicato da classe ou da autoridade pública.
................................................
Ainda importante observar que no tópico V – Conceitos, definições, caracterização
do acidente do trabalho, prestações e procedimentos; esta Ordem de Serviço traz em seu
item 04 como são caracterizados os acidentes pelo INSS, atribuição esta prevista no artigo
337 do decreto 3.048/99.
................................................
4 – Caracterização
4.1 – Os acidentes são classificados em três tipos:
Cod.1 – acidente típico (o que ocorre a serviço da empresa);

42
Cod.2 – doença profissional ou do trabalho;
Cod.3 – acidente do trajeto. (o que ocorre no percurso residência ou refeição para o
local de trabalho e vice-versa).
4.1.1 – Esta informação constará no campo de responsabilidade do INSS, constante
na CAT, após análise administrativa dos dados sobre o acidentado e das circunstâncias da
ocorrência e o devido enquadramento nas situações previstas na legislação pertinente,
quando o INSS responderá o quesito “É reconhecido o direito do segurado à habilitação ao
benefício acidentário?”.
4.1.2 – O INSS, informará na CAT, a data do recebimento, o código da unidade, o
no do registro, aporá a matrícula e assinatura do servidor responsável pela recepção da
comunicação.
................................................

3. BENEFÍCIOS PREVIDENCIÁRIOS

Os benefícios previdenciários, a que fazem


jus os acidentados do trabalho, encontram-se previstos na Lei no 8.213/91 e
regulamentados pelo Decreto no 3.048/99. Os benefícios pecuniários encontram-se, de
forma didática e resumida, apresentados na Ordem de Serviço no 621/99.
Na Lei no 8.2I3/9195 o acima referido
encontra-se contemplado nos seguintes artigos:
................................................
 Das Prestações em Geral
Art. 18. O Regime Geral de Previdência Social compreende as seguintes prestações,
devidas inclusive em razão de eventos decorrentes de acidente de trabalho, expressas em
benefícios e serviços:
I – quanto ao segurado:
a) aposentadoria por invalidez;
e) auxilio doença;
h) auxílio-acidente;
II – quanto ao dependente:
____________________________________________
95
OLIVEIRA, op. cit., pgs. 62-80

43
a) pensão por morte;
II – quanto ao segurado e dependente:
b) reabilitação profissional.
§1o Somente poderão beneficiar-se do auxílio-acidente os segurados incluídos nos
incisos I, VI e VII do art. 11 desta Lei. (Redação dada pela Lei no 9.032, de 28-4-95).
................................................
Art. 24. Período de carência é o número mínimo de contribuições mensais
indispensáveis para que o beneficiário faça jus ao benefício, consideradas a partir do
transcurso do primeiro dia dos meses de sua competência.
................................................
Art. 26. Independe de carência a concessão das seguintes prestações:
I – pensão por morte, auxílio-reclusão, salário-família e auxílio-acidente; (Redação
dada pela Lei no 9.876, de 26-11-99).
II – auxílio-doença e aposentadoria por invalidez nos casos de acidente de qualquer
natureza ou causa e de doença profissional ou do trabalho, bem como nos casos de
segurado que, após filiar-se ao Regime Geral de Previdência Social, for acometido de
alguma das doenças e afecções especificadas em lista elaborada pelos Ministérios da Saúde
e do Trabalho e da Previdência Social a cada três anos, de acordo com os critérios de
etigma, deformação, mutilação, deficiência, ou outro fator que lhe confira especificidade e
gravidade que mereçam tratamento particularizado;
V – reabilitação profissional;
................................................
 Da Aposentadoria por invalidez

Art. 42. A aposentadoria por invalidez, uma vez cumprida, quando for o caso, a
carência exigida, será devida ao segurado que, estando ou não em gozo de auxílio-doença,
for considerado incapaz e insusceptível de reabilitação para o exercício de atividade que
lhe garanta a subsistência, e ser-lhe-á paga enquanto permanecer nesta condição.
§1o A concessão de aposentadoria por invalidez dependerá da verificação da
condição de incapacidade mediante exame médico-pericial a cargo da Previdência Social,
podendo o segurado, às suas expensas, fazer-se acompanhar de médico de sua confiança.
................................................

44
Art. 44. A aposentadoria por invalidez, inclusive a decorrente de acidente de
trabalho, consistirá numa renda mensal correspondente a 100% (cem por cento) do salário-
de-benefício, observado o disposto na Seção III, especialmente no art. 33* desta Lei.
(Redação dada pela Lei no 9.032, de 28-4-95)
§2o Quando o acidentado do trabalho estiver em gozo de auxílio-doença, o valor da
aposentadoria por invalidez será igual ao do auxílio-doença se este, por força de
reajustamento, for superior ao previsto neste artigo.

Art. 45. O valor da aposentadoria por invalidez do segurado que necessitar da


assistência permanente de outra pessoa será acrescido de 25% (vinte e cinco por cento).

Art. 46. O aposentado por invalidez que retomar voluntariamente à atividade terá
sua aposentadoria automaticamente cancelada, a partir da data do retorno.

Art. 47. Verifica a recuperação da capacidade de trabalho do aposentado por


invalidez, será observado o seguinte procedimento:
I – quando a recuperação ocorrer dentro de 5 (cinco) anos, contados da data do
início da aposentadoria por invalidez ou do auxílio-doença que a antecedeu sem
interrupção, o benefício cessará:
a) de imediato para o segurado empregado que tiver direito a retomar à função que
desempenhava na empresa quando se aposentou, na forma da legislação trabalhista,
valendo como documento, para tal fim, o certificado de capacidade fornecido pela
Previdência Social;
................................................
 Do Auxílio-doença

Art. 59. O auxílio-doença será devido ao segurado que, havendo cumprido, quando
for o caso, o período de carência exigido nesta Lei, ficar incapacitado para o seu trabalho
ou para a sua atividade habitual por mais de 15 (quinze) dias consecutivos.

____________________________________________
*
Art. 33. A renda mensal do benefício de prestação continuada que substituir o salário-de-contribuição ou o
rendimento do trabalho do segurado não terá valor inferior ao do salário mínimo, nem superior ao do limite
máximo do salário-de-contribuição, ressalvando o disposto no art. 45 desta Lei.

45
Parágrafo único. Não será devido auxílio-doença ao segurado que se filiar ao
Regime Geral de Previdência Social já portador da doença ou da lesão invocada como
causa para o benefício, salvo quando a incapacidade sobrevier por motivo de progressão ou
agravamento dessa doença ou lesão.

Art. 60. O auxílio-doença será devido ao segurado empregado a contar do décimo


sexto dia do afastamento da atividade, e, no caso dos demais segurados, a contar da data do
início da incapacidade e enquanto ele permanecer incapaz. (Redação dada pela Lei no
9.876, de 26-11-99).

Art. 61. O auxílio doença, inclusive o decorrente do acidente de trabalho, consistirá


numa renda mensal correspondente a 91% (noventa e um por cento) do salário-de-
benefício observado o disposto na Seção III, especialmente no art. 33 desta Lei. (Redação
dada pela Lei no 9.032, de 28-4 -95)
................................................
 Da Pensão por Morte

Art. 74. A pensão por morte será devida ao conjunto dos dependentes do segurado
que falecer, aposentado ou não, a contar da data: (Redação dada pela Lei no 9.528, de
10-12-97)
I – do óbito, quando requerida até trinta dias depois deste; (Inciso acrescentado
pela Lei no 9.528, de 10-12-97)
II – do requerimento, quando requerida após o prazo previsto no inciso anterior;
(Inciso acrescentado pela Lei no 9.528, de 10-12-97)
III – da decisão judicial, no caso de morte presumida. (Inciso acrescentado pela Lei
no 9.528, de 10-12-97)

Art. 75. O valor mensal da pensão por morte será de cem por cento do valor da
aposentadoria que o segurado recebia ou daquela a que teria direito se estivesse aposentado
por invalidez na data de seu falecimento, observa do o disposto no art. 33 desta Lei.
(Redação dada pela Lei no 9.528, de 10-12-97)
................................................

46
Art. 77. A pensão por morte, havendo mais de um pensionista, será rateada entre
todos em partes iguais. (Artigo, parágrafos e incisos com redação dada pela Lei no 9.032,
de 28-4-95)
§1o Reverterá em favor dos demais a parte daquele cujo direito à pensão cessar.
§2o A parte individual da pensão extingue-se:
I – pela morte do pensionista;
II – para o filho, a pessoa a ele equiparada ou o irmão, de ambos os sexos, pela
emancipação ou ao completar 21 (vinte e um) anos de idade, salvo se for inválido;
III – para o pensionista inválido, pela cessação da invalidez.
§3o Com a extinção da parte do último pensionista a pensão extinguir-se-á.
................................................
 Do Auxílio-acidente

Art. 86. O auxílio-acidente será concedido, como indenização, ao segurado quando,


após consolidação das lesões decorrentes de acidente de qualquer natureza, resultarem
seqüelas que impliquem redução da capacidade para o trabalho que habitualmente exercia.
(Redação dada pela Lei no 9.528, de 10-12-97)
§1o O auxílio-acidente mensal corresponderá a cinqüenta por cento do salário-de-
benefício e será devido, observado o disposto no §5o, até a véspera do início de qualquer
aposentadoria ou até a data do óbito do segurado. (Redação dada pela Lei no 9.528, de
10-12-97)
§2o O auxílio-acidente será devido a partir do dia seguinte ao da cessação do
auxílio-doença, independentemente de qualquer remuneração ou rendimento auferido pelo
acidentado, vedada sua acumulação com qualquer aposentadoria. (Redação dada pela Lei
no 9.528, de 10-12-97)
§3o O recebimento de salário ou concessão de outro benefício, exceto de
aposentadoria, observado o disposto no §5o, não prejudicará a continuidade do recebimento
do auxílio-acidente. (Redação dada pela Lei no 9.528, de 10-12-97)
§4o A perda da audição, em qualquer grau, somente proporcionará a concessão do
auxílio-acidente, quando, além do reconhecimento de causalidade entre o trabalho e a
doença, resultar, comprovadamente, na redução ou perda da capacidade para o trabalho que

47
habitualmente exercia. (Parágrafo restabelecido, com nova redação, pela Lei no 9.528, de
10-12-97)
§5o (Vetado pela Lei no 9.528, de 10-12-97)
................................................
 Da Habilitação e da Reabilitação Profissional

Art. 89. A habilitação e a reabilitação profissional e social deverão proporcionar ao


beneficiário incapacitado parcial ou totalmente para o trabalho, e às pessoas portadoras de
deficiência, os meios para a (re)educação e de (re)adaptação profissional e social indicados
para participar do mercado de trabalho e do contexto em que vive.
Parágrafo único. A reabilitação profissional compreende:
a) o fornecimento de aparelho de prótese, órtese e instrumentos de auxílio para
locomoção quando a perda ou redução da capacidade funcional puder ser atenuada por seu
uso e dos equipamentos necessários à habilitação e reabilitação social e profissional;
b) a reparação ou a substituição dos aparelhos mencionados no inciso anterior,
desgastados pelo uso normal ou por ocorrência estranha à vontade do beneficiário;
c) o transporte do acidentado do trabalho, quando necessário.
................................................
Art. 92. Concluído o processo de habilitação ou reabilitação social e profissional, a
Previdência Social emitirá certificado individual, indicando as atividades que poderão ser
exercidas pelo beneficiário, nada impedindo que este exerça outra atividade para a qual se
capacitar.
................................................
 Das disposições diversas relativas às prestações
................................................
Art. 118. O segurado que sofreu acidente do trabalho tem garantida, pelo prazo
mínimo de doze meses, a manutenção do seu contrato de trabalho na empresa, após a
cessação do auxílio-doença acidentário, independentemente de percepção de auxílio-
acidente.
................................................
Art. 121. O pagamento pela Previdência Social, das prestações por acidente do
trabalho não exclui a responsabilidade civil da empresa ou de outrem.

48
No Decreto Lei no 3.048/9996 encontramos
nos artigos abaixo os benefícios, previstos na lei anteriormente apresentada, sob a
denominação de prestações:
................................................
 Das espécies de prestação

Art. 25. O Regime Geral de Previdência Social compreende as seguintes prestações,


expressas em benefícios e serviços:
I – quanto ao segurado:
a) aposentadoria por invalidez;
e) auxilio doença;
h) auxílio-acidente.
II – quanto ao dependente:
a) pensão por morte; e
III – quanto ao segurado e dependente:
a) reabilitação profissional.

Art. 26. Período de carência é o tempo correspondente ao número mínimo de


contribuições mensais indispensáveis para que o beneficiário faça jus ao benefício,
consideradas a partir do transcurso do primeiro dia dos meses de suas competências.
................................................
Art. 30. Independe de carência a concessão das seguintes prestações:
I – pensão por morte, auxílio-reclusão, salário-família e auxílio-acidente de
qualquer natureza;
III – auxílio-doença e aposentadoria por invalidez nos casos de acidente de
qualquer natureza ou causa, bem como nos casos de segurado que, após filiar-se ao Regime
Geral de Previdência Social, for acometido de alguma das doenças ou afecções
especificadas em lista elaborada pelos Ministérios da Saúde e da Previdência e Assistência
Social a cada três anos, de acordo com os critérios de estigma, deformação, mutilação,
deficiência ou outro fator que lhe confira especificidade e gravidade que mereçam
tratamento particularizado;
____________________________________________
96
OL1VEIRA, op. cit., pgs. 97-126

49
V – reabilitação profissional.
Parágrafo único. Entende-se como acidente de qualquer natureza ou causa aquele de
origem traumática e por exposição a agentes exógenos (físicos, químicos e biológicos), que
acarrete lesão corporal ou perturbação funcional que cause a morte, a perda, ou a redução
permanente ou temporária da capacidade laborativa.
................................................
Art. 32. O salário-de-benefício consiste:
II – para as aposentadorias por invalidez e especial, auxílio-doença e auxílio-
acidente na média aritmética simples dos maiores salários-de-contribuição correspondentes
a oitenta por cento de todo o período contribuitivo. (Inciso acrescentado pelo Decreto no
3.265, de 29-11-99)
§2o Nos casos de auxílio-doença e de aposentadoria por invalidez, contando o
segurado com menos de cento e quarenta e quatro contribuições mensais no período
contribuitivo, o salário-de-benefício corresponderá à soma dos salários-de-contribuição
dividido pelo número de contribuições apurado.(Redação dada pelo Decreto no 3.265, de
29-11-99)
§3o O valor do salário-de-benefício não será inferior ao de um salário mínimo, nem
superior ao limite máximo do salário-de-contribuição na data de início do benefício.
................................................
Art. 39. A renda mensal do benefício de prestação continuada será calculada
aplicando-se sobre o salário-de-benefício os seguintes percentuais:
I – auxílio-doença – noventa e um porcento do salário-de-benefício;
II – aposentadoria por invalidez cem por cento do salário-de-benefício;
VI – auxílio-acidente – cinqüenta por cento do salário-de-benefício.
§3o O valor mensal da pensão por morte ou do auxílio-reclusão será de cem por
cento do valor da aposentadoria que o segurado recebia ou daquela a que teria direito se
estivesse aposentado por invalidez na data de seu falecimento, observado o disposto §8o do
art. 32.
................................................

50
 Da Aposentadoria por Invalidez

Art. 43. A aposentadoria por invalidez, uma vez cumprida a carência exigida,
quando for o caso, será devida ao segurado que, estando ou não em gozo de auxílio-
doença, for considerado incapaz para o trabalho e insuscetível de reabilitação para o
exercício de atividade que lhe garanta a subsistência, e ser-lhe-á paga enquanto permanecer
nessa condição.
§1o A concessão de aposentadoria por invalidez dependerá da verificação da
condição de incapacidade, mediante exame médico-pericial a cargo da previdência social,
podendo o segurado, às suas expensas, fazer-se acompanhar de médico de sua confiança.
................................................
Art. 46. O segurado aposentado por invalidez está obrigado, a qualquer tempo, sem
prejuízo do disposto no parágrafo único e independentemente de sua idade e sob pena de
suspensão do benefício, a submeter-se a exame médico a cargo da previdência social,
processo de reabilitação profissional por ela prescrito e custeado e tratamento dispensado
gratuitamente, exceto o cirúrgico e a transfusão de sangue, que são facultativos.
Parágrafo único. Observado o disposto no caput, o aposentado por invalidez fica
obrigado, sob pena de sustação do pagamento do benefício, a submeter-se a exames
médico-periciais, a realizarem-se bienalmente.

Art. 47. O aposentado por invalidez que se julgar apto a retornar à atividade deverá
solicitar a realização de nova avaliação médico-pericial.
Parágrafo único. Se a perícia médica do Instituto Nacional do Seguro Social
concluir pela recuperação da capacidade laborativa, a aposentadoria será cancelada,
observado o disposto no art. 49.

Art. 48. O aposentado por invalidez que retomar voluntariamente à atividade terá
sua aposentadoria automaticamente cessada, a partir da data do retorno.

Art. 49. Verificada a recuperação da capacidade de trabalho do aposentado por


invalidez, excetuando-se a situação prevista no art. 48, serão observadas as normas
seguintes:

51
I – quando a recuperação for total e ocorrer dentro de cinco anos contados da data
do início da aposentadoria por invalidez ou do auxílio-doença que a antecedeu sem
interrupção, o benefício cessará:
a) de imediato, para o segurado empregado que tiver direito a retomar à função que
desempenhava na empresa ao se aposentar, na forma da legislação trabalhista, valendo
como documento, para tal fim, o certificado de capacidade fornecido pela previdência
social;
................................................
 Do Auxílio-doença

Art. 71. O auxílio-doença será devido ao segurado que, após cumprida, quando for
o caso, a carência exigida, ficar incapacitado para o seu trabalho ou para a sua atividade
habitual por mais de quinze dias consecutivos.
§1o Não será devido auxílio-doença ao segurado que se filiar ao Regime Geral de
Previdência Social já portador de doença ou lesão invocada como causa para a concessão
do benefício, salvo quando a incapacidade sobrevier por motivo de progressão ou
agravamento dessa doenças ou lesão.
§2o Será devido auxílio-doença, independentemente de carência, aos segurados
obrigatório e facultativo, quando sofrerem acidente de qualquer natureza.

Art. 72. O auxílio-doença consiste numa renda mensal calculada na forma do inciso
I do caput do art. 39 e será devido:
I – a contar do décimo sexto dia do afastamento da atividade para o segurado
empregado, exceto o doméstico; (Redação dada pelo Decreto no 3.265, de 29-11-99)
III – a contar da data de entrada do requerimento, quando requerido após o
trigésimo dia do afastamento da atividade, para todos os segurados.
................................................
Art. 75. Durante os primeiros quinze dias consecutivos de afastamento da atividade
por motivo de doença, incumbe á empresa pagar ao segurado empregado o seu salário.
(Redação dada pelo Decreto n0 3.265, de 29-11-99)
................................................

52
Art. 78. O auxílio-doença cessa pela recuperação da capacidade para o trabalho,
pela transformação em aposentadoria por invalidez ou auxílio-acidente de qualquer
natureza, neste caso se resultar seqüela que implique redução da capacidade para o trabalho
que habitualmente exercia.

Art. 79. O segurado em gozo de auxílio-doença, insuscetível de recuperação para


sua atividade habitual, deverá submeter-se a processo de reabilitação profissional para
exercício de outra atividade, não cessando o benefício até que seja dado como habilitado
para o desempenho de nova atividade que lhe garanta a subsistência ou, quando
considerado não recuperável, seja aposentado por invalidez.
................................................
 Do auxílio-acidente

Art. 104. O auxílio-acidente será concedido, como indenização, ao segurado


empregado, exceto o doméstico, ao trabalhador avulso, ao segurado especial e ao médico-
residente quando, após a consolidação das lesões decorrentes de acidente de qualquer
natureza, resultar seqüela definitiva que implique:
I – redução da capacidade para o trabalho que habitualmente exerciam e se
enquadre nas situações discriminadas no Anexo III;
II – redução da capacidade para o trabalho que habitualmente exerciam e exija
maior esforço para o desempenho da mesma atividade que exerciam à época do acidente;
ou
III – impossibilidade de desempenho da atividade que exerciam à época do
acidente, porém permita o desempenho de outra, após processo de reabilitação profissional,
nos casos indicados pela perícia médica do Instituto Nacional do Seguro Social.
§1o O auxílio-acidente mensal corresponderá a cinqüenta por cento do salário-de-
benefício que deu origem ao auxílio-doença do segurado, corrigido até o mês anterior ao
do início do auxílio-acidente e será devido até a véspera de início de qualquer
aposentadoria ou até a data do óbito do segurado.
§2o O auxílio-acidente será devido a contar do dia seguinte ao da cessação do
auxílio-doença, independentemente de qualquer remuneração ou rendimento auferido pelo
acidentado, vedada sua acumulação com qualquer aposentadoria.

53
§3o O recebimento de salário ou concessão de outro benefício, exceto de
aposentadoria, não prejudicará a continuidade do recebimento do auxílio-acidente.
§4o Não dará ensejo ao benefício a que se refere este artigo o caso:
I – que apresente danos funcionais ou redução da capacidade funcional sem
repercussão na capacidade laborativa; e
II – de mudança de função, mediante readaptação profissional promovida pela
empresa, como medida preventiva, em decorrência de inadequação do local de trabalho.
§5o A perda da audição, em qualquer grau, somente proporcionará a concessão do
auxílio-acidente, quando, além do reconhecimento do nexo de causa entre o trabalho e a
doença, resultar, comprovadamente, na redução ou perda da capacidade para o trabalho que
o segurado habitualmente exercia.
§6o No caso de reabertura de auxílio-doença por acidente de qualquer natureza que
tenha dado origem a auxílio-acidente, este será suspenso até a cessação do auxílio-doença
reaberto, quando será reativado.
§7o Não cabe a concessão de auxílio-acidente quando o segurado estiver
desempregado, podendo ser concedido o auxílio-doença previdenciário, desde que
atendidas as condições inerentes à espécie.
................................................
 Da Pensão por Morte

Art. 105. A pensão por morte será devida ao conjunto dos dependentes do segurado
que falecer, aposentado ou não, a contar da data:
I – do óbito, quando requerida até trinta dias depois deste;
II – do requerimento, quando requerida após o prazo previsto no inciso I; ou
III – da decisão judicial, no caso de morte presumida.
.
Art. 106. A pensão por morte consiste numa renda mensal calculada na forma do
§3o do art. 39.
................................................
Art. 114. O pagamento da cota individual da pensão por morte cessa:
I – pela morte do pensionista;
II – para o pensionista menor de idade, ao completar vinte e um anos, salvo se for

54
inválido, ou pela emancipação, ainda que inválido, exceto, neste caso, se a emancipação for
decorrente de colação de grau científico em curso de ensino superior; (Redação dada pelo
Decreto no 3.265, de 29-11-99)
III – para o pensionista inválido, pela cessação da invalidez, verificada em exame
médico-pericial a cargo da previdência social.
Parágrafo único. Com a extinção da cota do último pensionista, a pensão por morte
será encerrada.

Art. 115. O dependente menor de idade que se invalidar antes de completar vinte e
um anos deverá ser submetido a exame médico-pericial, não se extinguindo a respectiva
cota se confirmada a invalidez.
................................................
 Da Habilitação e da Reabilitação Profissional

Art. 136. A assistência (re)educativa e de (re)adaptação profissional, instituída sob


a denominação genérica de habilitação e reabilitação profissional, visa proporcionar aos
beneficiários, incapacitados parcial ou totalmente para o trabalho, em caráter obrigatório,
independentemente de carência, e às pessoas portadoras de deficiência, os meios indicados
para proporcionar o reingresso no mercado de trabalho e no contexto em que vivem.
................................................
Art. 140. Concluído o processo de reabilitação profissional, o Instituto Nacional do
Seguro Social emitirá certificado individual indicando a função para o qual o reabilitado
foi capacitado profissionalmente, sem prejuízo do exercício de outra para a qual se julgue
capacitado.
§1o Não constitui obrigação da previdência social a manutenção do segurado no
mesmo emprego ou a sua colocação em outro para o qual foi reabilitado, cessando o
processo de reabilitação profissional com a emissão do certificado a que se refere o caput.
................................................
 Das Disposições Diversas
................................................
Art. 174. O primeiro pagamento da renda mensal do benefício será efetuado em até
quarenta e cinco dias após a data de apresentação, pelo segurado, da documentação
necessária à sua concessão.

55
Finalmente apresentamos as informações
o 97
contidas na Ordem do Serviço n 62l/99, que descreve de forma sintética o exposto
acima:
................................................
3 – Prestação por acidente do trabalho ou doença ocupacional.
3.1 – Serviço: reabilitação profissional.
3.2 – Benefícios pecuniários:
Condições Data da Valor
Benefícios Beneficiários Data de Início
/Concessão Cessação
Auxílio- Acidentado – afastamento – 16o dia de – morte 91% do
doença do trabalho do trabalho afastamento – concessão de salário
(esp.91) por incapaci- consecutivo auxílio-aci- de
dade labora- para o empre- dente ou apo- benefício
tiva temporá- gado sentadoria
ria por aci- – data do afas- – cessação da
dente do tra- tamento, de- incapacidade
balho mais segura- – alta médica
dos – volta ao tra-
balho
Aposentadoria Acidentado – afastamento – no dia em – morte 100%
por invalidez do trabalho do trabalho que o auxílio- – cessação da do
(esp.92) por invalidez doença teria invalidez salário
acidentária início ou – volta ao tra- de
– no dia se- balho benefício
guinte à ces-
sação do au-
xílio-doença
Auxílio Acidentado – redução da – dia seguinte a – concessão de 50% do
acidente do trabalho capacidade cessação do aposentadoria salário
(esp.93) laborativa por auxílio- – óbito de
lesão aciden- doença benefício
tária
Pensão Dependentes – morte por – data do óbito – morte do de- 100%
(esp.93) do aciden- acidente do ou pendente do
tado do tra- trabalho – data da en- – cessação da salário
balho trada do re- qualidade de de
querimento dependente benefício
quando re-
querida após
30 dias do
óbito

___________________________________________
97
ANANT, op. cit., pgs. 179-180

56
Obs.: a) o valor da renda mensal da aposentadoria por invalidez será acrescida de
25% (vinte e cinco) desse valor, quando comprovado, através de avaliação médico pericial,
que o acidentado necessita de acompanhante.

57
III - LEPTOSPIROSE E TRABALHO

Desde sua caracterização nos estudos feitos


por Landouzy em 1883, de acordo com Alston & Broom (1958), a primeira das
leptospiroses humanas descritas, posteriormente conhecido como moléstia de Weil (1886),
foi associada com o trabalho em esgotos afetando, principalmente, os operários que
desempenhavam essa tarefa.98
Desde então, numerosas publicações
deixaram bem nítida a íntima relação entre a natureza da atividade laborativa dos pacientes
e a infecção leptospirótica. Essas publicações são resultado de estudos que poderiam ser
agrupados como inquéritos soroepidemiológicos em atividades específicas, investigação de
casos e surtos isolados e, finalmente, menos frequente, investigação como doença do
trabalho.

1. INQUÉRITOS SOROEPIDEMIOLÓGICOS

Em Investigação sobre a ocorrência de


Leptospirose em trabalhadores de diversas profissões no distrito sede do município de
Sorocaba,99 os autores, em 1968, apresentam inicialmente um resumo de trabalhos já então
realizados e, também, por outros autores:
VERONESI, AMATO e CORRÊA (não
publicado), em 1954 efetuaram um inquérito entre 52 trabalhadores da rede de esgotos de

___________________________________________
98
GOMES et outros, op. cit., p. 19
99
lbid, op. cit., pgs. 19-26

58
São Paulo, alguns há mais 10 anos nessa profissão, encontrando apenas dois
trabalhadores com aglutininas para L. icterohaemorrhagiae, os quais não referiram
episódio ictérico em seu passado.
CORRÊA et alii (1954), efetuaram inquérito
sorológico para diagnóstico de leptospiroses entre 208 lavradores de arrozais do vale do
rio Paraíba, encontrando positividade em apenas três pacientes; sendo dois para L.
canicola (1:200 e 1:400) e um para L. zanoni (1:200).
Em 1962, Magaldi realizou inquérito
sorológico entre 200 trabalhadores da rede de esgotos de São Paulo, encontrando 57
casos positivos ou seja, 28,5% de positividade, sendo 31 casos positivos para L.
icterohaemorrhagiae e o restante distribuído entre as seguintes leptospiras: L. saxkoebing,
L. hyos, L. australis, L. pomona, L. mini, L. bataviae e L. poi, ficando evidenciado o
caráter profissional das leptospiroses e a alta incidência das formas inaparentes ou
anictéricas da doença.
EDELWEISS (1962), efetuou inquérito
sorológico no Rio Grande do Sul em 101 lavradores de arrozais das margens do rio Jacuí,
encontrando dois casos positivos, um para L. icterohaemorrhagiae, outro para L.
canicola. Entre 79 magarefes, o mesmo autor encontrou dois soros com aglutininas para
L. icterohaemorrhagiae e um para L. canicola. Em 86 trabalhadores de esgoto, encontrou
um com aglutininas para L. icterohaemorrhagiae a 1:200 e outro para L. canicola -a
1:100. Entre 60 mineiros de São Jerônimo, apenas um com aglutinação positiva para L.
icterohaemorrhagiae a 1:200.
Em Belo Horizonte, Nohmi (1964) realizou
inquérito sorológico em 203 trabalhadores da rede de Água e Esgotos encontrando três
casos com soroaglutininas para Leptospiras; a saber: um para L. canicola (1:200), um
para L. icterohaemorrhagiae (1:200) e um para L. grippotyphosa. Entre 74 magarefes
encontrou dois casos, um positivo para L. canicola (1:200), o outro para L.
icterohaemorrhagiae (1:400). Finalmente, entre 48 trabalhadores de arrozais,
restaurantes e feiras-livres, encontrou apenas um caso com aglutininas para L. canicola e
L. icterohaemorrhagiae. Nos diferentes grupos ocupacionais encontrou pois,
respectivamente, as incidências de 1,4%, 2,7% e 2,08%.

59
CASTRO et alii examinaram amostras de
sangue de 372 magarefes e funcionários estaduais encarregados de matadouros,
encontrando positividade para leptospiras em 11 pacientes, sendo 5 para L.
icterohaemorrhagiae (1:100), um para L. pomona (1:100), um para L. hyos (1:200) e um
para L. canicola (1:800) e os outros L. icterohaemorrhagiae (1:200).
CORRÊA et alii (1966) efetuaram inquérito
sorológico para leptospiroses em 403 coletores de lixo de São Paulo, encontrando 12
operários com soroaglutinaçôes positivas para leptospiras sendo 10 para L.
icterohaemorrhagiae (títulos de 1:50 até 1:1.600), um para L. wolffii (1:50) e um para L.
bataviae (1:100,) e L. sejroe (1:100).
SANTA ROSA et alii examinando 1.217 soros
de trabalhadores rurais encontrou 66 positivos para diferentes leptospiras em títulos
iguais ou superiores a 1:200, de acordo com a seguinte distribuição: L. canicola (25), L.
icterohaemorrhagiae (18), L. pomona (11), L. grippotyphosa (9) e L. sejroe (3).
Ainda Santa Rosa e col. (comunicação
pessoal), em 317 amostras de sangue de lixeiros, encontrou positividade para leptospiras
em 31 amostras: L. poi (8), L. icterohaemorrhagiae (5), L. andamana (5), L.
grippotyphosa (4), L. canicola (2), L. pyrogenes (2), L. cynopteri (2), L. saxkoebing (1), L.
australis (1) e L. wolffii (1).
No inquérito realizado por Gomes,
Hyakutake e Corrêa o material utilizado consistiu-se de amostras de sangue retiradas de
funcionários da Prefeitura Municipal de Sorocaba e das Seções de Água, Esgoto, Lixo,
Limpeza Pública, Matadouro e Mercado Municipal. Foram incluídos, ainda, os
comerciantes do Mercado Municipal, trabalhadores em curtumes e granjas.
Ao todo foram examinados 342 indivíduos,
sendo 29 funcionários do serviço de esgotos; 58, do serviço de água; 89, da limpeza
pública; 21, do Matadouro; 82, do Mercado e 4 funcionários da apreensão de cães. Foram
ainda examinados 55 trabalhadores pertencentes a 4 curtumes do Município, assim como 4
empregados de granjas.
A idade da amostra pesquisada variou de 15 a
67 anos. Foram estudados 275 indivíduos da raça branca e 64 não branca, restando três de

60
coloração tegumentar não identificada. Pertenciam ao sexo masculino 320 indivíduos e
apenas 22, ao feminino.
Dentre os 342 soros estudados pertencentes a
trabalhadores das diversas profissões anteriormente enumeradas, foram encontrado apenas
quatro casos positivos, todos para L. icterohaemorrhagiae; somente em um caso houve
coaglutinação com L. sentot.
Dos quatros indivíduos com soroaglutinação
positiva, dois pertenciam ao serviço de esgotos e dois ao serviço de água. Os títulos para L.
icterohaemorrhagiae encontrados foram respectivamente : 1:3.200; 1:200; 1:200 e
1:11.600; no caso n. 4 o título para L. sentot foi de 1:400.
Fator importante, ressalvam os autores, que
deve ser considerado na análise deste material, como tentativa de explicar o número baixo
de casos positivos em trabalhadores onde deveriam ser esperados resultados superiores,
reside no título inicial utilizado na soroaglutinação para leptospirose, que foi neste
inquérito de 1:200. Talvez, se o título inicial fosse de 1:100, o número de casos positivos
para leptospirose seria bem maior do que o encontrado.
No Inquérito Sorológico de Leptospirose
em Canindé, Ceará, Brasil,100 publicado em 1991, os autores decidiram pesquisar, nessa
cidade interiorana, a incidência de leptospirose em funcionários com atividade no Mercado
Municipal, em feirantes e em pessoas residentes nas imediações desses locais de
aglomeração humana.
Com os cuidados pertinentes foram colhidos,
in loco, 5 ml de sangue de cada uma das 430 pessoas, aleatoriamente escolhidas para
colheita do material. Para aglutininas anti-leptospira, foi encontrada positividade no soro
de 31 pessoas, numa das quais havia dois sorovares, respectivamente bataviae e
hebdomadis. Outros sorovares detectados foram: andamana, australis, autumnalis, ballum,
canicola, cynopteri, icterohaemorrhagiae, javanica, pomona e pyrogenes Todos acusaram
titulação 1:200 e sua frequência, de 32, correspondente a percentagem de 7,42 em relação
ao número total de amostras. Entre os sorovares houve preponderância no sorovar
bataviae, 1,86% em relação às 430 amostras e 25% em relação aos 32 resultados positivos.

___________________________________________
100
NORONHA et outros, op. cit., pgs. 21-24

61
Nessa pesquisa, realizada no Mercado
Público e feiras-livres, em Canindé, a preponderância de profissão recaiu sobre
comerciários, em atividades no Mercado Público. E interessante notar que de dois
retalhadores de carne, um apresentou positividade para o sorovar andamana e o outro para
o sorovar pyrogenes. Apenas um dos retalhadores de carne informou ter tido contato com
rato, além de cão e porco. O outro somente referiu contato com gato e cão.
Entre os 430 amostrados foram relacionados
os antecedentes mórbidos (hemorragia e insuficiência renal aguda), e também o contato
com animais domésticos, com ratos, com animais domésticos e ratos e, ainda, com as
informações negativas quanto ao contato com animais domésticos e/ou ratos. É curioso
verificar, a respeito do contato de pessoas com animais, o diminuto número de 11
indivíduos com informação negativa de contato com quaisquer animais domésticos e/ou
ratos, contrapondo-se considerável soma de 419 pessoas relatando seus contatos, com
animais domésticos (61), com ratos (100) e com animais domésticos e ratos (258). Das 31
positividades para os diferentes sorovares, 1 teve hemorragia, 6 apresentaram insuficiência
renal aguda, 3 tiveram hemorragia e insuficiência renal aguda e 21 negaram antecedentes
mórbidos. Fala, este último dado, em favor de manifestações subclínicas e
oligossintomáticas, já assinaladas em outros trabalhos.
No estudo Fatores de risco associados com
a soroprevalência de Leptospirose entre estudantes de Veterinária da Universidade
de Zaragoza,101 Espanha (1999), os autores coletaram amostras no início e final do ano
acadêmico de 1994 para 1995 e realizaram teste ELISA para Leptospira interrogans, com
um “pool” de antígenos dos sorovares bratislava, canicola, grippotyphosa, hardjo,
icterohaemorrhagiae e pomona. No início do estudo a prevalência era de 8,14% e no final
foi de 11,4%. Foi considerado como fator de risco associado a leptospirose: estar
realizando curso de Tecnologia e Inspeção de Alimentos, trabalhando em fazendas, contato
com animais de estimação, particularmente carnívoros, e contato com animais de trabalho.
No Levantamento soroepidemiológico de
Leptospirose em trabalhadores do serviço de saneamento ambiental em localidade
urbana da região sul do Brasil102 (1994), os autores têm como objetivo determinar a

___________________________________________
101
SIMON, op. cit., pgs. 287-291
102
ALMEIDA et outros, op. cit., pgs. 76-81

62
prevalência de infecção leptospírica entre trabalhadores de 5 categorias do serviço de
saneamento ambiental, do município de Pelotas – RS, a saber: águas, bueiros e galerias,
esgotos, coleta de lixo e limpeza pública. Complementarmente, procurou-se caracterizar as
amostras soropositivas quanto à magnitude dos títulos e identificar os tipos de sorovares de
maior prevalência no grupo de profissionais pesquisado.
Em uma revisão inicial, feita pelos autores,
referente a essas atividades, informam que: Na Alemanha, em 1961, entre trabalhadores do
serviço de Coleta de Lixo furam detectados 7,4% de reagentes à pesquisa de aglutininas
anti-Leptospira, e 0,9% entre os funcionários da limpeza pública. Pesquisa realizada, em
1985, com grupo de alto risco, constituído por funcionários do Departamento de Controle
de Roedores da cidade de Detroit, nos EUA, evidenciou frequência de reagentes, contra o
sorovar icterohaemorrhagiae, superior ao do grupo não exposto ao risco ocupacional. Já
na Itália, em 1986, foram encontrados 16,7% de reagentes entre varredores do serviço de
limpeza pública. Informam ainda que: No Brasil, na cidade de Porto Alegre, em 1966,
foram encontrados 19,2% de positivas em trabalhadores de esgotos identificando-se os
sorovares icterohaemorrhagiae, australis e sentot. Em 1967, no Estado de São Paulo
foram encontrados 3,16% de reagentes entre funcionários de limpeza pública, com
predominância do sorovar icterohaemorrhagiae. Em 1970, 9,7% dos trabalhadores da
cidade de São Paulo em limpeza pública e 0,5% dos da rede de esgoto eram reagentes à
sorologia para leptospirose, sendo os sorovares mais frequentes: icterohaemorrhagiae,
canicola, pomona, poi e andamana.
No estudo realizado no município de Pelotas,
Estado do Rio Grande do Sul, em setembro de 1989, foram utilizadas 386 amostras de
soro, colhidas do serviço de saneamento ambiental, assim distribuídas em relação às
categorias de trabalho: 24 do serviços de águas, 35 de bueiros e galerias, 37 de esgotos, 66
da coleta de lixo e 224 da limpeza pública. O total de amostras correspondeu a,
aproximadamente, 71% do efetivo de trabalhadores lotados no citado serviço.
No grupo de profissionais, submetido á
técnica de soroaglutinação microscópica, para a pesquisa de aglutininas anti-Leptospira,
constituído por diferentes categorias do serviço de saneamento do Município de Pelotas,
RS, constatou-se a ocorrência de 40 amostras reagentes (10,4%) a um ou mais sorovares.
Em relação às categorias profissionais, as maiores frequências de positividade foram

63
observadas nos serviços de águas (16,7%) e esgotos (16,2%); em contrapartida, foi no
serviço de limpeza pública que se registrou a menor frequência de positividade (7,6%).
Contudo, essas diferenças não se revelaram estatisticamente significantes.
Das 40 amostras de soros reagentes, 12
(30,0%) aglutinaram com um único sorovar, observando-se 3 casos (25,0%) com castelonis
e outros 3 (25,0%) com australis; 2 casos (16,6%) com djasiman; e um caso de cada
(8,3%) com pomona, pyrogenes, shermani e pomona. Essas diferenças não foram
estatisticamente significantes.
Das 28 amostras de soros que coaglutinaram
com dois ou mais sorovares, 11 (39,3%) apresentaram títulos máximos não coincidentes.
Assim, observaram-se os sorovares copenhageni, sejroe e icterohaemorrhagiae, cada um
deles em duas amostras (18,2%), e pomona, cynopteri, autumnalis, australis e castelonis,
em cada uma das amostras restantes (9,1%). Estatisticamente estas diferenças não foram
significantes.
Considerando os 12 sorovares, identificados
nos 11 soros coaglutinantes, com título máximo não coincidente e os 12 soros em que
houve aglutinação de um único sorovar, e os respectivos títulos aglutinantes, pode-se
constatar que os sorovares castelonis e australis foram os mais frequentes (4 casos cada um
ou 17,4%); os demais sorovares foram identificados nas 15 amostras restantes. A análise
estatística, também, não evidenciou diferenças significantes entre as proporções de cada
um dos sorovares.
Com relação à magnitude dos títulos
aglutinantes, verificou-se que 86,9% das amostras apresentaram títulos compreendidos
entre 100 e 400. As diferenças observadas entre as proporções correspondentes aos títulos
100 e 400 somente foram significantes do ponto de vista estatístico (p < 0,05) quando
comparadas a dos títulos 800, 1.600 e 3.200.

2. DESCRIÇÃO DE CASOS E SURTOS ISOLADOS

Na publicação Leptospirose ocorrida em


um trabalhador da construção do Word Ocean Exposition no Estado de Okinawa, 103
___________________________________________
103
SHIRAKAWA et outros, op. cit., pgs. 366-369

64
Japão , em 1979, os autores relatam o caso de leptospirose em um trabalhador masculino,
de 29 anos, cujo meio de transmissão foi a ingestão de comida e líquidos contaminados,
com urina e excretas de reservatórios animais, em local de trabalho e moradia em
condições insalubres; ocorrido em 1973. Este caso de leptospirose foi considerado como
doença ocupacional.
Os autores de Um caso de Leptospirose em
uma comunidade agrícola,104 relatam a partir de um óbito por leptospirose, em uma
pequena comunidade agrícola, ao sul de Lazio, na Itália, as investigações e medidas
tomadas. Foram feito testes sorológicos em humanos e animais, encontrando positividade
em quatro humanos e oito animais, com igual sorovar. Foi suspeitado como fonte de
infecção a água uma vez que a mesma era proveniente de local não protegido. Não foi
possível a confirmação laboratorial da presença de leptospiras na água. Baseado nessas
evidências foi a comunidade submetida a quimioprofilaxia e não houveram novos casos.
Foram tomadas medidas permanentes de controle da água e recomendado medidas de
segurança aos trabalhadores agrícolas expostos. O objetivo do trabalho foi fornecer
possíveis alternativas operacionais em situações semelhantes.
Em Leptospirose no trabalho e no
105
esporte, 1998, Caplan descreveu a ocorrência da doença em 3 atletas que participaram
do triatlo em Springfield, Illinois, USA, estes atletas haviam nadado em águas suspeitas de
contaminação. Desde então o laboratório do Centers for Diseasc Control (CDC) encontrou
evidência laboratoriais de leptospirose em outros trinta triatletas e em cinco usuários, com
fins recreativos, do lago.
No Surto de Leptospirose entre Técnicos
de Laboratório do Campus da Universidade de São Paulo de Ribeirão Preto – 1988,106
os autores estudaram um surto de Leptospirose ocorrido entre técnicos manipuladores de
animais experimentais no Campus da USP de Ribeirão Preto em 1988.
Nos meses de maio e junho foram notificados
seis casos suspeitos de Leptospirose naqueles profissionais, tendo sido confirmados clínica
e laboratorialmente dois deles. Inicialmente foram notificados três casos e posteriormente
outros três por busca ativa durante a investigação. Foram confirmados dois casos entre os
___________________________________________
104
METE et FICHERA, op. cit., pgs. 219-222
105
CAPLAN, op. cit., pgs. 1151-1152
106
PONTES et outros, op. cit., pgs. 169-178

65
três primeiros notificados, que embora trabalhassem em laboratórios diferentes tinham em
comum o fato de manipularem animais de experimentação, provenientes do Biotério Geral.
Anteriormente, já havia sido registrada, em
1984, a ocorrência de um surto semelhante entre funcionários do Campus, quando
observaram-se dois casos com um óbito. Também um caso isolado ocorrera durante o ano
de 1985 nesta mesma população, como constatado em revisão das Fichas de Investigação
Epidemiológica.
A investigação epidemiológica realizada
constou de um inquérito sorológico em amostra de 347 animais do Biotério Geral do
Campus; um inquérito sorológico entre 66 técnicos de laboratório considerados expostos
ao risco de infecção (e mais 61 outras pessoas não expostas ao risco tomadas como
controle); além da pesquisa de roedores na área do Biotério e da investigação domiciliar
dos casos suspeitos.
O resultado da investigação mostrou
soronegatividade em todos os animais de experimentação reproduzidos em cativeiro
(cobaias, coelhos, camundongos, hamsters, ratos), nos gatos e nos gambás; entretanto
resultaram positivas 17% das amostras sorológicas dos cães, 43% das amostras nos
carneiros, além dos dois cavalos examinados. Nos cães foram encontrados os sorovares
icterohaemorrhagiae (89%) e copenhageni (11%), nos carneiros icterohaemorrhagiae
(84,6%) e pomona (15,4%) e nos dois eqüinos o icterohaemorrhagiae.
O inquérito sorológico entre os técnicos
manipuladores de animais evidenciou duas amostras positivas (3%) no grupo exposto ao
risco, 1 icterohaemorrhagiae e 1 copenhageni, enquanto no grupo tomado para
comparação todas as amostras resultaram negativas.
A procura de sinais indicativos da presença
de roedores domésticos não demonstrou evidências desses animais nas instalações do
Biotério Geral, embora nelas houvesse possibilidade de comunicação com o meio externo.
Na residência dos dois casos confirmados
havia animais domésticos suspeitos. Na residência do caso um, houve relato de morte de
um cão um mês antes, com diagnóstico de cinomose. No domicílio do caso dois, também
foi referida a morte de um cão por causa desconhecida 15 dias antes e encontrou-se reação
sorológica positiva (1:200) contra o sorogrupo canicola em outro cão doméstico. Não

66
houve relatos de sinais ou sintomas sugestivos de leptospirose ou a presença de sorologia
positiva entre os familiares dos casos investigados. No caso um foi identificado o sorovar
andamana e no caso dois o icterohaemorrhagiae.
Analisando conjuntamente todos os dados
apresentados: as evidências de exposição às leptospiras em espécies do Biotério Geral e a
vulnerabilidade de algumas de suas instalações a penetração de roedores do meio externo;
a presença de dois técnicos com reação positiva no inquérito sorológico realizado; os
antecedentes epidemiológicos sobre a ocorrência de leptospirose entre técnicos em anos
anteriores; a ocorrência em curto espaço de tempo de dois casos confirmados clínica e
laboratorialmente em técnicos com atividades correlatas; pode-se concluir que, embora não
tenha sido possível identificar de maneira inequívoca a fonte e o local de infecção nesse
surto, tudo leva a crer que os técnicos de laboratório, manipuladores de animais
experimentais, se constituem uma categoria de risco para essa enfermidade, e que o local
do trabalho deve ser considerado como o mais provável local de infecção, até prova em
contrário.

3. INVESTIGAÇÃO COMO DOENÇA DO TRABALHO

Em Acidentes do trabalho por


Leptospirose – estudo retrospectivo de casos de leptospirose adquirida no exercício da
profissão nos anos de: 1982, 1984. 1985 e 1986,107 os autores com a finalidade de
caracterização de doença relacionada ao trabalho por leptospirose, analisaram 574
prontuários do Hospital Emílio Ribas relativos aos atendimentos realizados durante os
anos de 1982 (166 casos), 1984 (106 casos), 1985 (158 casos) e 1986 (144 casos,). Foi
excluído o ano de 1983 devido a ocorrência nesse período de uma epidemia de
leptospirose na grande São Paulo, em consequência de enchentes. Foram pesquisados:
idade, sexo, procedência, a profissão e o modo de transmissão. Foi considerada, doença
leptospirose, relacionada ao trabalho quando a história epidemiológica claramente estava
ligada ao meio ambiental e/ou métodos do trabalho exercido pelo indivíduo. Dos 574
prontuários analisados foram considerados como prováveis acidentes de trabalho em

___________________________________________
107
KUSCHNAROFF et outros, op. cit., pgs. 126-127

67
1982, 24 casos (14,5%); em 1984, 23 casos (12,7%); em 1985, 36 casos (22,8%) e em
1986, 33 casos (22,9%).
A distribuição segundo profissões exercidas
é que se segue: Construção Civil (pedreiros, mestres de obras, serventes): 1982, cinco;
1984, três; 1985, oito; 1986 três; total dezenove casos. Lavrador: 1982, três; 1984, um;
1985, dois; 1986, três; total nove casos. Coletor de lixo: 1982 um; 1984, um; 1985, um;
1986, zero; total três casos. Encanador: 1982, quatro; 1984, um; 1985, zero; 1986, zero;
total cinco casos. Ajudante Geral: 1982, três; 1984, quatro; 1985, onze; 1986, sete; total
vinte e cinco casos. Outros: 1982, oito; 1984, treze; 1985, quatorze; 1986, vinte; total
cinqüenta e cinco casos, perfazendo um total de cento e dezesseis casos de doença
profissional na casuística do Hospital “Emílio Ribas” o maior hospital de Saúde Pública
da cidade de São Paulo, correspondendo a 20,2% dos casos no período analisado.
O número de casos oriundo da Grande São
Paulo foi: 1982 – 13 (54,2%); 1984 – 15 (62,2%); 1985 – 16 (44,4%) e 1986 – 10 (30,3%).
Conclusão: A leptospirose deve ser também
investigada e considerada como doença profissional no Brasil.

68
IV – LEPTOSPIROSE COMO DOENÇA DO TRABALHO EM
JOINVILLE - SC

1. METODOLOGIA

A lei no 6259, de 30 de outubro de 1975,


estabelece a obrigatoriedade da notificação, aos Órgãos Públicos de Saúde, de alguns
agravos à saúde visando o seu controle. Entre estes está a leptospirose, conforme
reafirmado na última revisão feita pelo Ministério da Saúde através da portaria no 1461 de
22 de dezembro de 1999. Assim sendo, todo caso suspeito de leptospirose deve ser
notificado a Secretaria Municipal de Saúde, pelo profissional de saúde que fez a suspeita,
independente do paciente ter sido atendido na rede pública ou privada.
A Secretaria Municipal de Saúde, através do
Serviço de Vigilância Epidemiológica, procede a investigação de todo caso notificado
através de formulário específico, ficha individual de investigação (anexo 4), e a realização
de exames sorológicos, visando a confirmação e sorotipagem do caso.
Após a investigação, o diagnóstico inicial
pode ser descartado ou confirmado. A confirmação ou não, do caso, pode ser por critérios:
clínico, laboratorial, clínico-laboratorial, clínico-epidemiológico e clínico-laboratorial-
epidemiológico, conforme estabelecido pelo Ministério da Saúde.
O estudo de leptospirose como doença do
trabalho foi realizado a partir dos casos confirmados do agravo, informados pelo Serviço
de Vigilância Epidemiológica. A todo caso foi realizado visita domiciliar com revisão dos

69
dados constantes na ficha de investigação, com especial atenção a “situações de exposição
ocorridas nos vinte dias que antecederam os principais sintomas”. Foi considerada
leptospirose como doença do trabalho quando esta situação de exposição estava claramente
ligada ao meio ambiente e/ou métodos do trabalho exercido pelo indivíduo e não havia
outra situação de exposição concomitante não relacionada ao trabalho presente.
A revisão dos dados da ficha individual de
investigação e a atualização da história ocupacional, foram realizadas através de visita
domiciliar e entrevistas com o próprio paciente, ou em caso de óbito deste, com seus
familiares. Em alguns casos foi também visitado e avaliado o local de trabalho, quando se
julgou pertinente para um melhor esclarecimento.

2. CARACTERIZAÇÃO DO MUNICÍPIO108

Localizado no litoral norte do Estado de


Santa Catarina, o município de Joinville ocupa uma área de 1.120 km2. Deste montante,
cerca de 225 km2 constitui a área urbana, que abriga, aproximadamente, 94% dos
habitantes do município, cuja população é estimada em 412.601 pessoas (1999). Os
municípios limítrofes são: ao norte os municípios de Garuva e Campo Alegre; ao sul os
municípios de Araquari, Guaramirim e Schroeder; a oeste o município de Jaraguá do Sul; e
a leste o município de São Francisco do Sul.
O relevo desenvolveu-se sobre terrenos
cristalinos da Serra do Mar e uma área de sedimentação costeira. A parte oeste do território
municipal situa-se no planalto ocidental, com altitude média de 800 metros, e estende-se
até os contrafortes da Serra do Mar. Destacam-se as Serras do Quirirí e Serra Queimada,
atingindo nesta última 1.335 metros de altitude. Na parte leste ocorre a região de planícies,
onde encontram-se os manguezais. E nesta unidade (planícies) que desenvolveu-se a
ocupação humana, áreas urbanas e agrícolas, em altitudes que variam de 0 a 100 metros.
No que se refere aos manguezais, algumas áreas próximas á zona urbana de Joinville foram
suprimidas pelos processos de urbanização.
O clima predominante na região, segundo a
classificação de Köppen é do tipo “mesotérmico, úmido, sem estação seca”. Segundo
___________________________________________
108
PMJ, op. cit., pgs. 13-21

70
dados da Estação Meteorológica da Escola Técnica Tupy, a temperatura média anual da
região de Joinville é de 22oC, o índice médio de precipitação anual e de 1.909 mm e a
umidade relativa média anual do ar é de 76,4%.
A região de Joinville apresenta um grande
potencial em recursos hídricos, proporcionado pela combinação das chuvas intensas com a
densa cobertura florestal remanescente. A hidrografia local é fortemente influenciada por
aspectos estruturais e geomorfológicos. A rede de drenagem natural da região apresenta
formato dendrítico, com leitos encachoeirados e encaixados em vales profundos, com
vertentes curtas nos cursos superior e médio. Nas planícies de inundação, apresentam baixa
declividade e grande sinuosidade natural. Os rios do planalto e das encostas da serra
apresentam água com aspecto normalmente cristalino, de boa qualidade. Nas planícies,
onde as atividades econômicas estão presentes de forma mais intensa, os rios apresentam
aspecto turvo, com água de menor qualidade, devido à presença de partículas de solo em
suspensão e, em muitos casos, de agentes poluentes.
O setor hegemônico da economia do
município é o secundário que, além de se constituir na maior fonte de arrecadação
municipal, absorve mais de 40% da população economicamente ativa. O parque industrial
é bastante diversificado e está alicerçado em médias e grandes indústrias, onde despontam
os seguintes ramos: metal-mecânico, plásticos, têxtil, metalurgia, eletro-comunicações,
celulose, transportes, cristais e biotecnologia.
A base do setor primário do município de
Joinville é a pequena propriedade familiar. A estrutura fundiária está baseada
predominantemente em pequenas propriedades, sendo que dos 1.715 estabelecimentos
rurais, 761 estabelecimentos (44,4%) possuem área menor que 10 ha, 863 estabelecimentos
(50,3%) possuem área de 10 a 50 ha. A zona rural de Joinville possui área de 87.511 ha,
dos quais 5.520 ha são lavouras, 3.692 ha são reflorestamentos, 13.333 ha são pastagens e
64.437 ha são florestas. Na agricultura destaca-se o cultivo do arroz irrigado, da banana e
de hortaliças.
Joinville goza a fama de ser um município
rico, mas, na realidade, está distante deste pretenso conceito econômico-social. Cerca de
47% da população tem rendimentos que variam de 0 a 3 salários mínimos. Em
contrapartida, apenas 1,2% apresenta renda superior a 15 salários mínimos.

71
O processo acelerado de urbanização,
provocado pela industrialização, não foi e não está sendo acompanhado pelo poder público
na oferta de serviços de infra-estrutura urbana, criando um fosso acentuado entre a
demanda e a oferta de bens e serviços públicos. O município vem perdendo, dia-a-dia, sua
condição favorável de qualidade de vida, comprometendo a imagem de bela e invejável
“Cidade Jardim”.
A infra-estrurura de abastecimento de água e
coleta de esgotos é fornecida pela Companhia Catarinense de Águas e Saneamento –
CASAN, sendo que cerca de 90% da população é abastecida por água tratada e,
aproximadamente, 10% por coleta de esgotos. O sistema de tratamento de esgoto é
centralizado no bairro de Jarivatuba, em lagoas de estabilização. Estima-se que 73% dos
domicílios, em Joinville, utilizam fossa séptica.
Em Joinville, a limpeza pública, a coleta e
destinação dos resíduos domiciliares são geridas pela Prefeitura Municipal, através da
Secretaria da Infra-estrurura Urbana. O trabalho é realizado por uma empresa contratada e
abrange mais de 95% da população da cidade, inclusive atendendo o comércio, hotéis e
restaurantes. É realizado em paralelo à coleta de lixo, a coleta seletiva de resíduos
hospitalares e similares, junto a hospitais, clínicas, farmácias e laboratórios.
O município conta com um aterro sanitário
para resíduos domiciliares, situado no Distrito industrial, em Pirabeiraba, operado pela
mesma empresa que realiza a coleta, o qual recebe uma média de 300 toneladas por dia de
resíduos da coleta regular domiciliar, além de entulhos, resíduos inertes e não tóxicos
provenientes de indústrias, comércio e serviços, além dos resíduos hospitalares e similares.

3. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS

Joinville está entre as regiões, no estado de


Santa Catarina, consideradas de alta endemicidade, que são as localizadas próximas ao
litoral (Joinville, Itajaí, Jaraguá do Sul, Blumenau e Florianópolis), sendo estas também as
mais atingidas por inundações.109

___________________________________________
109
DIAS, op. cit., p. 12

72
No período de 1993 à 1999 foram
confirmados em Joinville, 287 casos de leptospirose, variando desde 17 casos anuais em
1997 (mínimo) a 70 casos em 1995 (máximo); corresponde a uma taxa de incidência por
100.000 habitantes de 4,32 em 1997 e 17,49 em 1995. Em igual período houveram 42
óbitos, sendo o menor número em 1996 com 3 óbitos e o maior em 1999 com 9 mortes.
Porém quando se analisa a letalidade observa-se que foi maior em 1993 (30,0%) e em 1997
(29,4%) e menor em 1995 (5,7%) e em 1998 (11,9%), havendo uma relação inversa com a
incidência, podendo-se supor que nos anos de menor incidência houve na verdade
subnotificação de casos. (vide tab. 1 e gráf. 1 p. 80).
No estado de Santa Catarina, no período de
1992 a 1996, foram confirmados 748 casos de leptospirose, variando de 86 casos em 1993
a 218 casos em 1996, correspondendo a uma taxa de incidência por 100.000 habitantes de
1,82 e 4,43 respectivamente,110 índices estes muito inferiores aos observados em Joinville.
Nesse período em Santa Catarina houveram 83 óbitos, variando de 12 em 1996 à 20 em
1995, sendo que a taxa de letalidade oscilou de 5,5 em 1996 à 18,3 em 1992, estando em
conformidade com os valores referidos na literatura, entre 5 e 20%.111 (vide tab. 2 e gráf. 2,
p. 81).
Com referência a distribuição sazonal da
doença, observa-se que sua ocorrência foi nitidamente maior no período de janeiro a abril,
quando ocorreram em Joinville 76,0% dos casos em 1996; 47,1% em 1997; 62,7% em
1998 e 65,5% em 1999 (vide tab. 3 e gráf. 3, p. 82); coincidindo com os meses de maior
precipitação pluviométrica. Este comportamento se observa no estado como um todo,
sendo estes percentuais, no período janeiro a abril, 43,7 em 1992; 60,5 em 1993; 58,4 em
1994; 71,7 em 1995 e 74,4 em 1996.112
No ano de 1999 foram notificados, em
Joinville, ao Serviço de Vigilância Epidemiológica, da Secretaria Municipal de Saúde, 172
casos suspeitos de leptospirose, sendo que destes, 55 foram confirmados, correspondendo a
32,0% dos casos notificados. Com este percentual de confirmação pode-se supor que esteja
havendo um bom nível de suspeita diagnóstica. Por outro lado, verificou-se que em 60,2
dos casos notificados e em 89,1% dos casos confirmados (49/55) houveram internação
___________________________________________
110
DIAS, op. cit., p. 4
111
Ibid, op. cit., p. 2-5
112
ibid, op. cit., p. 2

73
hospitalar inferindo-se que esteja havendo um bom nível de suspeita diagnóstica, e/ou
notificação, entre os casos mais graves de leptospirose, sendo que as formas
oligossintomáticas não estão sendo diagnosticadas ou não notificadas.
A base do diagnóstico, nos 55 casos
confirmados, está assim distribuída: com evidências clínica, laboratorial e epidemiológica,
31 casos (56,4%); evidências clínica e laboratorial, 17 casos (30,9%); evidências clínica e
epidemiológica, 06 casos ( 10,9%); e somente com critério clínico, 01 caso (1,8%).
Quanto a distribuição por sexo, desses 55
casos, observa-se que 90,1% ocorreram no sexo masculino (50 casos) e quanto a faixa
etária , nessa população, 58,0% concentram-se entre 15 e 39 anos de idade, confirmando a
predominância já referida na literatura revisada. (vide tab. 4, p. 83). Todos esses casos são
residentes na zona urbana, o que já seria esperado, considerando como se distribui a
população no município.
Dos casos confirmados, onde foi possível a
sorotipagem, em Joinville no ano de 1999, o sorovar mais freqüente foi o
icterohaemorrhagiae (67,6%) seguido do djasiman (26,5%) e do canicola (23,5%). Houve
concomitância de mais de um sorovar em um mesmo caso (vide tab. 5, p. 84). Já no estado
de Santa Catarina, no período de 1992 a 1996, o sorovar de maior prevalência foi o
icterohaemorrhagiae (88,3%) seguido do copenhageni (4,2%), djasiman (3,9%) e
113
canicola (3,4%), distribuição semelhante por ordem de freqüência. Nesse estudo não foi
considerado a concomitância de sorovares.
A leptospirose como doença do trabalho,
conforme a legislação em vigência, e a metodologia utilizada, ocorreu em 13 dentre os 55
casos confirmados, correspondendo a 23,6% do total. No entanto se for considerada em
relação aos casos ocorridos no sexo masculino, e na faixa etária de 15 anos e acima, este
percentual sobe para 34,2% (13/38) (vide tab. 4, p. 83) demonstrando a importância da
leptospirose como doença do trabalho. Ressalve-se que este percentual pode estar
subestimado considerando a forma restritiva para a inclusão como doença do trabalho na
metodologia utilizada, somente assim considerada quando a situação exposicional foi
exclusivamente relacionada ao trabalho; ou seja, não houve outra situação de exposição
concomitante.
___________________________________________
113
DIAS, op. cit., p. 2

74
Os casos ocorridos na população masculina
de 15 anos e acima, foram agrupados como doença do trabalho e não ocupacional e
distribuídos segundo as seguintes variáveis: escolaridade, profissão ou atividade
ocupacional, situação de exposição, condições favoráveis a ocorrência da doença e
letalidade.
No ítem escolaridade observa-se que entre os
casos classificados como doença do trabalho 84,6% tem até o 1o grau, enquanto entre os
casos não ocupacionais este número é de 80,0% (vide tab. 6, p. 84), não havendo diferença
estatisticamente significativa entre os dois grupos (p = 0,09). Seria considerada
significativa se p  0,05.
Quanto do ítem profissão/ocupação entre os
casos de leptospirose como doença do trabalho houve nítida concentração nos
trabalhadores da construção civil com 61,5% (8/13) dos casos, sendo que os demais se
distribuíam igualmente com um caso cada (7,7%) em reciclador de materiais, operador de
máquinas e comerciário; exceto na categoria braçal em que houveram 02 casos (15,4%).
No grupo leptospirose não ocupacional os trabalhadores da construção civil continuram
sendo os mais atingidos com 24% dos casos (06/25), seguido dos braçais com 16% (04/25)
e operador de máquinas com 12% (03/25); outras categorias e atividades que comparecem,
com 01 caso cada (4%), foram: reciclador de materiais, vigia, comerciário, frentista,
auxiliar de contabilidade, comerciante, oficial administrativo, estudante, jardineiro,
borracheiro, auxiliar de produção e militar aposentado (vide tab. 7, p. 85). Quando feito a
análise de variância estas diferenças não se mostraram estatisticamente significativas (p =
0,89), no grupo ocupacional e não ocupacional.
Com referência à situação de exposição
houve predomínio de água/lama de enchentes nos dois grupos, presente em 92,3% dos
casos de doença do trabalho e 56,0% dos casos não ocupacional (vide tab. 9, p. 86), não
havendo, porém, diferença significativa, estatisticamente, nos dois grupos (p = 0,37).
Como condições favoráveis à ocorrência de
doença temos a presença de roedores em 100% dos casos do grupo doença do trabalho,
seguido de 92% (12/13) de local sujeito a enchentes. No grupo não ocupacional foi referido
a presença de roedores em 100% dos casos, seguido, também, de locais sujeitos a

75
enchentes com 64% (16/25) (vide tab. 10, p. 86), não havendo diferença estatisticamente
significante nos dois grupos (p = 0,80).
Finalmente observando-se a letalidade
verificou-se que a mesma foi de 30,8% no grupo ocupacional e 20,0% no grupo não
ocupacional (vide tab. 8, p. 85). Esta diferença também não se mostrou estatisticamente
significante (p = 0,43).
Conforme o já exposto anteriormente
constata-se que a leptospirose, em nosso meio, deve ser investigada como doença do
trabalho, especialmente na população masculina de 15 anos e acima. O fato de não haver
diferença, estatisticamente significante, nas variáveis estudadas, entre o grupo ocupacional
e não ocupacional, sugere que a ocorrência como doença do trabalho seja maior que a
encontrada neste estudo ou que haja outras variáveis intervenientes.

76
CONSIDERAÇÕES FINAIS

A leptospirose é uma doença já descrita de


longa data e exaustivamente estudada em seus diferentes aspectos clínicos,
epidemiológicos, laboratoriais e também de controle. Ainda assim continua sendo uma
importante causa de morbidade e com alta letalidade em nosso meio, dentre as doenças
evitáveis. O conhecimento das atividades e ocupações de maior risco e a investigação
como possível doença do trabalho, por parte dos profissionais de medicina do trabalho,
abre perspectivas para um melhor conhecimento dessa patologia nesse aspecto, bem como
assegurar os direitos previdenciários a que fazem jus os acidentados do trabalho e talvez, o
mais importante, a implementação de medidas de controle e prevenção mais eficazes, tanto
a nível individual como coletivo, nos processos produtivos envolvidos.
Por outro lado o profissional de saúde
ocupacional não deve esquecer que os atingidos pela leptospirose, seja ocupacional ou não,
apresentam características sócio-econômicas relativamente homogêneas, revelando-se um
segmento social sujeito antes de tudo à precárias condições de vida, incluindo as condições
de trabalho. Isto talvez torne mais claro a complexidade, e as dificuldades, envolvidas no
controle deste agravo.
O Estado enquanto regulador das interações
que se processam no âmbito da sociedade civil, quer econômicas, quer políticas, quer
sociais, deve prover os territórios geográficos (horizontais) de infra estrutura compatível
com as necessidades básicas e a visão de mundo do homem que nestes constrói a sua
história.

77
Consequentemente, quando se adota uma
postura de prover os territórios de equipamentos urbanos infra estruturais, como por
exemplo: serviço de abastecimento de água; sistemas de esgotos sanitários; sistemas de
resíduos sólidos e sistemas de drenagem (macro e micro), os resultados esperados
evidentemente, serão uma redução de agravos à saúde, traduzindo-se em uma melhor
qualidade de vida da população e porque não dizer, também, uma melhor produtividade.
O saneamento ambiental e muito
particularmente, a variável ambiental, entendida como pressuposto básico da arte de
sanear, emerge no contexto globalizante em que vivemos como uma “conditio sine qua
non”, para a sobrevivência da humanidade.
Os recursos naturais, enquanto patrimônio da
humanidade, devem ser usadas como usufruto, ou seja, como delegação da natureza a
anthropos, este com seu protocolo genético caracterizando e consolidando o primeiro
axioma do processo de globalização.

78
APÊNDICES

 TABELA 1 E GRÁFICO 1: CASOS, ÓBITOS, INCIDÊNCIA* E


LETALIDADE DE LEPTOSPIROSE, JOINVILLE–SC, 1993 – 1999.

79
Ano Casos Óbitos Incidência Letalidade
93 20 6 5,58 30,0
94 33 7 8,45 21,2
95 70 4 17,49 5,7
96 25 3 5,86 12,0
97 17 5 4,32 29,4
98 67 8 16,64 11,9
99 55 9 13,33 16,4

Fonte: Secretaria Municipal de Saúde


*
por 100.000 habitantes

Incid ência letalid ad e

30 2 9 ,4

2 1 ,2
1 7 ,4 9 1 6 ,6 4 1 6 ,4
1 3 ,3 3
12 1 1 ,9
8 ,4 5
5 ,5 8 5 ,7 5 ,8 6
4 ,3 2

93 94 95 96 97 98 99

Fonte: Secretaria Municipal de Saúde

 TABELA 2 E GRÁFICO 2: CASOS, ÓBITOS, INCIDÊNCIA* E


LETALIDADE DE LEPTOSPIROSE, SANTA CATARINA, 1992 –

80
1996.

Ano Casos Óbitos Incidência Letalidade


92 104 19 2,24 18,3
93 86 14 1,82 16,3
94 149 18 3,09 12,1
95 191 20 3,88 10,5
96 218 12 4,43 5,5

Fonte: Secretaria Municipal de Saúde


*
por 100.000 habitantes

Incidência Letalidade

18,3
16,3

12,1
10,5

5,5
3,88 4,43
3,09
2,24 1,82

92 93 94 95 96

Fonte: Secretaria Municipal de Saúde

 TABELA 3 E GRÁFICO 3: DISTRIBUIÇÃO MENSAL DE CASOS


DE LEPTOSPIROSE, JOINVILLE–SC, 1996 – 1999.

81
Ano Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
96 5 3 8 3 1 1 0 1 0 1 1 1
97 1 2 3 2 0 1 0 0 2 1 3 2
98 10 7 22 3 5 1 1 6 2 4 4 2
99 7 8 16 5 6 5 2 2 2 0 0 2

Fonte: Secretaria Municipal de Saúde

Fonte: Secretaria Municipal de Saúde

82
 TABELA 4: CASOS DE LEPTOSPIROSE, COMO DOENÇA DO TRABALHO E NÃO OCUPACIONAL,
DISTRIBUÍDOS POR SEXO E FAIXA ETÁRIA, JOINVILLE–SC, 1999.

Faixa Etária < 15 15 – 19 20 – 29 30 – 39 40 – 49 50 – 59 60 – 64 Total


Total
Sexo M F M F M F M F M F M F M F M F

Doença do Trabalho - - 02 - 05 - 05 - - - 01 - - - 13 - 13

Não ocupacional 12 03 04 - 05 - 08 - 01 - 06 02 01 - 37 05 42

Total 12 03 06 - 10 - 13 - 01 - 07 02 01 - 50 05 55

Fonte: Secretaria Municipal da Saúde

83
 TABELA 5: DISTRIBUIÇÃO EM NÚMERO E PERCENTUAL DOS
SOROVARES IDENTIFICADOS EM 34 CASOS* SOROTIPADOS
DE LEPTOSPIROSE, JOINVILLE–SC, 1999.

Sorovar Número %
1) Icterohaemorrhagiae 23 67,6
2) Djasiman 9 26,5
3) Canicola 8 23,5
4) Sentot 3 8,8
5) Copenhageni 2 5,9
6) Castellonis 1 2,9
7) Cynopteri 1 2,9
8) Hardjo 1 2,9

Fonte: Secretaria Municipal de Saúde


*
22 casos com 1 sorovar cada
10 casos com 2 sorovares cada
02 casos com 3 sorovares cada

 TABELA 6: CASOS DE LEPTOSPIROSE, DISTRIBUÍDOS COMO


DOENÇA DO TRABALHO E NÃO OCUPACIONAL SEGUNDO
ESCOLARIDADE, JOINVILLE–SC, 1999.*

Escolaridade Doença do trabalho Não ocupacional Total


Número % Número % Número %
Analfabeto - - 03 12,0 03 7,9
1o grau 11 84,6 17 68,0 28 73,7
2o grau 02 15,4 05 20,0 07 18,4
Total 13 100,0 25 100,0 38 100,0

Fonte: Secretaria Municipal de Saúde


*
Casos no sexo masculino e faixa etária de 15 e mais anos

84
 TABELA 7: CASOS DE LEPTOSPIROSE, DISTRIBUÍDOS COMO
DOENÇA DO TRABALHO E NÃO OCUPACIONAL SEGUNDO
PROFISSÃO/OCUPAÇÃO, JOINVILLE–SC, 1999.*

Doença do trabalho Não ocupacionais Total


Profissão/Ocupação
Número % Número % Número %
Construção civil 8 61,5 6 24,0 14 36,8
Braçal 2 15,4 4 16,0 6 15,8
Operador de máquinas 1 7,7 3 12,0 4 10,6
Reciclador de materiais 1 7,7 1 4,0 2 5,3
Comerciário 1 7,7 1 4,0 2 5,3
Vigia - - 1 4,0 1 2,6
Frentista - - 1 4,0 1 2,6
Aux. de contabilidade - - 1 4,0 1 2,6
Comerciante - - 1 4,0 1 2,6
Oficial administrativo - - 1 4,0 1 2,6
Estudante - - 1 4,0 1 2,6
Jardineiro - - 1 4,0 1 2,6
Borracheiro - - 1 4,0 1 2,6
Aux. de produção - - 1 4,0 1 2,6
Aposentado (militar) - - 1 4,0 1 2,6
Total 13 100,0 25 100,0 38 100,0

Fonte: Secretaria Municipal de Saúde


*
Casos no sexo masculino e faixa etária de 15 e mais anos

 TABELA 8: CASOS, ÓBITOS E LETALIDADE DE


LEPTOSPIROSE, DISTRIBUÍDOS COMO DOENÇA DO
TRABALHO E NÃO OCUPACIONAL, JOINVILLE–SC, 1999.*

Casos Óbitos Letalidade


Doença do trabalho 13 04 30,8 %
Não Ocupacional 25 05 20,0 %
Total 38 09 23,7 %

Fonte: Secretaria Municipal de Saúde


*
Casos no sexo masculino e faixa etária de 15 e mais ano s

85
 TABELA 9: CASOS DE LEPTOSPIROSE, DISTRIBUÍDOS COMO
DOENÇA DO TRABALHO E NÃO OCUPACIONAL, SEGUNDO
SITUAÇÃO DE EXPOSIÇÃO,* JOINVILLE–SC, 1999.**

Doença do trabalho Não ocupacionais Total


Situação
Número % Número % Número %
Água/lama de enchente 12 92,3 14 56,0 26 68,4
Limpeza de vala 5 38,5 5 20,0 10 26,3
Água de rios, córregos 3 23,1 6 24,0 9 23,7
Criação de animais 1 7,7 8 32,0 9 23,7
Lixo 2 15,4 3 12,0 5 13,1
Fossas, esgotos - - 2 8,0 2 5,3
Carcaças animais - - 1 4,0 1 2,6
Limpeza caixa d’água - - 1 4,0 1 2,6
Total de Casos 13 - 25 - 38 -

Fonte: Secretaria Municipal de Saúde


*
Há concomitância de situação de exposição nos casos
**
Casos no sexo masculino e faixa etária de 15 e mais anos

 TABELA 10: CASOS DE LEPTOSPIROSE, DISTRIBUÍDOS COMO


DOENÇA DO TRABALHO E NÃO OCUPACIONAL, SEGUNDO
CONDIÇÕES FAVORÁVEIS A OCORRÊNCIA DA DOENÇA,*
JOINVILLE–SC, 1999.**

Doença do trabalho Não ocupacionais Total


Condições
Número % Número % Número %
Roedores 13 100,0 25 100,0 38 100,0
Água de enchente 12 92,3 16 64,0 28 73,7
Terreno baldio 5 38,5 10 40,0 15 39,5
Esgotos 6 46,1 8 32,0 14 36,8
Rios, córregos 3 23,1 11 44,0 14 36,8
Entulhos 4 30,8 9 36,0 13 34,2
Total de casos 13 - 25 - 38 -

Fonte: Secretaria Municipal de Saúde


*
Há concomitância de condições favoráveis a ocorrência da doença nos casos
**
Casos no sexo masculino e faixa etária de 15 e mais anos

86
ANEXOS

ANEXO 1

87
Lista Revisada de Sorogrupos, Sorovares e Cepas de Referência, em ordem alfabética, de
Leptospira interrogans.

SOROGRUPO SOROVAR CEPA DE REFERENCIA

AUSTRALIS australis Ballico


bajan Toad 60
bratislava Jez-bratislava
fugis Fudge
hawain LT 62-68
jalna Jalná
lora Lora
muenchen München C 90
nicaragua 1011
peruviana V 42
pina LT 932
ramisi Musa
rushan 507
soteropolitana R 93

AUTUMNALI S alice Alice


autumnalis Akiyami A
bangkinang Bangkinang 1
bim 1051
bulgarica Nicolaevo
butembo Butembo
carlos C3
erinaceiauriti Erinaceus auritus 670
fortbragg Fort Bragg
lambwe Lambwe
mooris Moores
mujunkumi Yezsh 237
nanla A6
rachmati Rachmat
srebarna 1409/69
weerasinghe Weerasinghe

BALLUM arborea Arborea


ballum Mus 127
ballum 3 1853
castellonis Castellón 3
peru MW 10
kenya Njenga

BATAVIAE argentiniensis Peludo


balboa 735 U

88
bataviae Swart
brasiliensis Na 776
claytoni 1348 U
djatzi HS 26
kobbe CZ 320
losbanos LT 101-69
paidjan Paidjan
rioja MR 12
santarosa LT 21-74

CANICOLA bafani Bafani


benjamini Benjamin
bindjei Bindjei
broomi Patane
canicola Hond Utrecht IV
galtoni LT 1014
jonsis Jones
kamituga Kamituga
kuwait 136/2/2
malaya H6
portlandvere MY 1039
schueffneri Vleermuis 90 C
sumneri Sumner

CELLEDONI anhoa LT 90-68


celledoni Celledoni
hainan-whitcombi 6712
javanica 4 M 6906
whitcombi Whitcombi

CYNOPTERI cynopteri 3522 C


tingomaria M13

DJASIMAN agogo Agogo


djasiman Djasiman
gurungi Gurung
huallaga M7
sentot Sentot

GRIPPOTYPHOSA canalzonae CZ 188


grippotyphosa Moskva V
huanuco M4
muelleri RM 2
ratnapura Wumalasena
valbuzzi Valbuzzi
vanderhoedeni Kipod 179
HEBDOMADIS boricana HS 622
goiano Bovino 131

89
hebdomadis Hebdomadis
jules Jules
\ kabura Kabura
kambale Kambale
kremastos Kremastos
maru CZ 285
manzhuang A 23
nona Nona
sanmartini CT 63
worsfoldi Worsfold

ICTEROHAEMORRHAGIAE birkini Birkin


bogvere LT 60-69
copenhageni M 20
dakota Grand River
gem Simon
icterohaemorrhagiae RGA
icterohaemorrhagiae Ictero No 1
hongchon 18 R
lai Lai
mankarso Mankarso
mwogolo Mwogolo
naam Naam
ndahambukuje Ndahambukuje
ndambari Ndambari
smithi Smith
tonkini LT 96-68
yeonchon FIM 3

JAVANICA A85 A 85
ceylonica Piyasena
coxi Cox
dehong De 10
fluminense Aa 3
javanica Veldrat Batavia 46
mengma S 590
menoni Kerala
menrun A 102
poi Poi
sofia Sofia 874
sorexjalna Sorex Jalná
vargonicas 24
yaan 80-27
zhenkang L 82
LOUISIANA lanka R 740
louisiana LSU 1945

90
orleans LSU 2580

MANHAO lincang L 14
manhao 2 L 105
manhao 4 Li 130

MINI beye 1537 U


georgia LT 117
hekou H 27
mini Sari
perameles Bandicoot 343
ruparupae M3
szwajizak Szwajizak
tabaquite TRVL 3214
yunnan A 10

PANAM cristobali 1996 K


mangus TVRL/CAREC 137774
panama CZ 214

PAMONA kunming K5
mozdok 5621
pomona Pomona
proechimys 1161 U
tropica Cz 299
tsaratsovo B 81/17

PYROGENES abramis Abnaham


alexi HS 616
biggis Biggs
camlo LT 64-67
guaratuba An 7705
hamptoni Hampton
kwale Julu
manilae LT 398
menglian S 621
myocastoris LSU 1551
nigeria Vom
princestown TRVL 112499
pyrogenes Salinem
robinsoni Robinson
vareta 1019
zanoni Zanoni

RANARUM evansi 267-1348

91
pingchang 80-412
nanarum ICF
cuica RP-88

SARMIN machiguenga MMD 3


rio Rr 5
sarmin Sarmin
waskunin LT 63-68
weaveri CZ 390

SEJROE balcanica 1627 Burgas


caribe TRVL 61866
dikkeni Mannuthi
geyaweera Geyaweera
gongas 1413 U
guanicura Bov. G.
haemolytica Marsh
hardjo Hardjoprajitno
istrica Brastislava
medanensis Hond HC
nyanza Kibos
polonica 493 Portland
recreo 380
ricardi Richardson
roumanica LM 294
saxkoebing Mus 24
sejroe M 84
trinidad TRVL 34056
wolffi 3705

SHERMANI aguaruna MW 4
Babudiere CI 40
carimagua 9160
luis M6
sherman 1342 K

TARASSOVI atchafataya LSU 1013


atlantae LT 81
bakeri LT 79
banna A 31
bravo Bravo
chagres 1913 K
darien 637 K
gatuni 1473 K

92
gengma M 48
guidae RP 29
kanana Kanana
kaup LT 64-68
kisuba Kisuba
langati M 39090
mengpeng A 82
mogdeni Compton 746
navet TRVL 109873
rama 316
sulzerae LT 82
tarassovi Perepelitsin
tunis P 2/65
vughia LT 89-68
yunxian L 100

Fonte: Manual de Leptospirose

93
ANEXO 2

Lista de sorovares e cepas recomendados para uso como antígenos na prova de aglutinação
microscópica, utilizada no laboratório de Leptospirose da FIOCRUZ/RJ

SOROVAR CEPAS

australis Ballico
autumnalis Akiyami A
bataviae van Tienen
canicola Hond Utrecht IV
castellonis Castellón 3
celledori Celledoni
cynopten 3522 C
djasiman Djasiman
grippotyphosa Moskva V
hebdomadis Hebdomadis
icterohaemorrhagiae RGA
3294
copenhageni M 20
javanica Veldrat Bataviae 46
panama CZ 214K
pomona Pomona
pyrogenes Salinem
sejroe Mus 24
wolffi 3705
shermani LT 821
tarassovi Mitis Johson

Cepas de L. bif1exa que poderão ser acrescentadas à bateria de antígenos:

andamana CH 11
patoc Patoc 1

Fonte: Manual de Leptospirose

94
ANEXO 3

Medidas de controle de roedores, nas áreas urbanas


No de
Referência Condições encontradas Ações Necessárias
Ordem
1 Construção
1.1 Sub-solo e sótão Porões e áreas (utilizadas Vedar aberturas que
para depósito e outras propiciem entrada de raros.
finalidades) favoráveis a Eliminar os esconderijos.
esconderijos.
1.2 Pisos e paredes Não compactado; com Reconstruir com material
material escavado; com maciço.
vãos, rachaduras, buracos,
paredes duplas, remendos,
etc.
1.3 Teto Sem forro, com aberturas. Reformar. Proteger contra a
Com forro em material não entrada de roedores. Telar as
maciço, com vãos ou aberturas de ventilação
buracos
1.4 Portas Com vãos, aberturas e Colocar chapa metálica para
outras danificações. eliminar o vão entre a porta
e a soleira. Vedar outras
aberturas existentes.
1.5 Janelas Com vãos, aberturas e Corrigir os defeitos
outras danificações. existentes e telar as janelas,
principalmente as dos
depósitos de gêneros
alimentícios.
2 Terrenos
2.1 Topografia Acidentes geográficos que Inspecionar e corrigir,
favorecem a formação de quando possível.
abrigos para ratos.
2.2 Área Verde Mato, jardins mal cuidados, Capinar, aparar os gramados
plantas que servem de e as plantas, podar os galhos
abrigos a ratos, arborização junto às construções e limpar
junto à construção. a área peri-dmiciliar.
Recolher os frutos caidos no
solo.Evitar uso abundante de
plantas espinhosas em
projetos de paisagismo.
2.3 Depósito de Materiais jogados ou Removê-los afastados do
materiais diversos acumulados no solo ou chão, de paredes e de outros
junto a paredes, servindo de objetos.
abrigos para ratos.
2.4 Terreno baldio Exposição de entulho e lixo. Removê-los e não vasá-los.
Cercar o terreno.

95
2.5 Lixão Despejo de lixo bruto, a céu Depositar o lixo em aterros
aberto. sanitários.
3 Instalação de:
3.1 Esgotos Rede pública: coletores, Inspecionar e reparar a rede.
tubulações, caixas, ralos e Fixar telas metálicas de
vasos danificados malha de 06 mm de ralos de
acesso a rede.

Rede particular, fossas e Inspecionar, esgotar, reparar


sumidouros abertos ou ou substituir
estourados.
3.2 Lixo Lixeiras de prédios, com Reparar e/ou lacrar as
portas danificadas ou lixeiras existentes.
abertas, e não ajustadas;
com pisos e paredes não
compactados e imper-
meabilizados, sem limpeza;
com ralos sem tampa.

Acondicionamento e Acondicionar em sacos


disposições impróprios plásticos ou recipientes
metálicos com tampa e
suspensos. Dispor o lixo
para coleta nos horários e
locais previstos pelo
Serviço de limpeza Urbana.
Recolher as sobras da coleta
pública, reacondicionado-as
conforme explicação.
3.3 Água Hidrômetro danificado; Reparar
instalações com vazamento;
caixas abertas.
3.4 Eletricidade e rede Caixas, equipamentos e Inspecionar e reparar. Vedar
telefônica tubulações abertas ou as entradas das fiações com
danificadas. Fiação telas de 06 mm e removível
desprotegida. se possível.
4 Manutenção
4.1 Conservação do Materiais e instalações Periodicamente efetuar
prédio e das sujas, mofadas, em revisão das instalações,
instalações decomposição, defeituosas, remoção de objetos
quebradas ou desativadas. deteriorados, limpeza reparo
e pintura.

96
5 Gêneros
Alimentícios
5.1 Armazenamento Caixas de mercadorias com Inspecioanar as mercadorias
local de exposição ninhos de raros. antes de armazená-las, e
e local de triagem. Ausência de inspeção vistoriá-las quinzenalmente.
permanente das mercado- nos depósitos.
rias. Empilhar as mercadorias
Mercadorias empilhadas no sobre estrados afastados da
chão. parede.
Vazamentos de embalagens Manter as pilhas separadas
de alimentos. umas das outras.
Disposição das mercadorias Proteger os pés dos estrados
nas prateleiras facilitando o com rateiras metálicas.
acesso dos ratos. Remover os alimentos
Presença de resíduos de espalhados.
alimentos no piso e nas Dar destino adequado aos
instalações. resíduos.
Permanência prolongada de Planejar o armazenamento e
mercadorias perecíveis nas a exposição das mercadorias.
prateleiras, estrados, depó- Acondicionar os alimentos
sitos e instalações de frios. em recipientes resistentes.
Alimento de consumo sem Agilizar a remoção das
cocção, mal ou não mercadorias danificadas.
protegidos.
5.2 Áreas de mani- Presença de restos de Remover totalmente os
pulação e consumo alimentos nas áreas de resíduos sólidos e evitar que
(copa, cozinha, manipulação e consumo. penetrem nas tubulações.
refeitório). Efetuar limpeza diária
(varredura, lavagem e
desinfecção).
Utilizar lixeiras adequadas,
com tampas.
5.3 Feiras livres e Restos de alimentos, Limpeza geral e permanente
mercados resíduos diversos, lixo. das áreas de instalações.
municipais Utilizar recipientes para lixo
individuais (em cada banca,
barraca, box) e coletivos
(container).
5.4 Ambulantes Restos de alimentos e Conduzir recipientes para
embalagens usadas. lixo, neles recolhendo restos
ou depositando-os nos
recipientes coletivos

97
6 Animais
6.1 Criação de animais Ração; sobra de alimentos; Remoção das sobras de
ou aves. fezes; palhas e outros ração e alimentos, fezes e
objetos acumulados. objetos acumulados.
Proteger as gaiolas, para
evitar trasbordamento de
ração. Armazenar as rações
em tambores com tampas ou
caixa s afastadas do chão.
7 Coleções de Água
7.1 Córregos, riachos Restos de alimentos, Desmatamento e limpeza
e canais. resíduos diversos, lixo e dos leitos e taludes;
mato. canalização dos cursos
d’água, se possível.
Desinfecção das águas de
inundação.
7.2 Lagoas, mangues e Resto de alimento, resíduos Desmatamento, limpeza,
outras coleções de diversos, lixo e mato. aterro ou drenagem
água parada.

Fonte: Manual de Saneamento, 1999

98
Medidas de controle de roedores, nas áreas rurais

No de
Referência Condições encontradas Ações Necessárias
Ordem
1 Armazenamento Depósito aberto de fácil Proteger o depósito contra
acesso a ratos. Alimentos entrada de ratos, usando
expostos. rateiras, telamento, vedação
de fretas.
Se necessário, montar
projeto específico para a
reconstrução do depósito.
Inspecionar regularmente as
estruturas do telhado e
outros esconderijos para
localizar roedores.
2 Peridomicílio e Mato alto; material acumu- Proceder limpeza geral e
outras áreas lado; resíduos alimentares; capinar.
externas restos de ração animal; Remover os materiais
abrigo de animais. desnecessários, resíduos e
outros objetos.
3 Estábulos Presença de sobras de ração Limpeza geral. Remover os
nos cochos e no chão. Fezes materiais. Cimentar o piso.
e urina no piso. Se possível, não deixar
alimentos no cocho durante
a noite.
Inspecionar regularmente as
estruturas do telhado e
outros esconderijos para
localizar roedores.
4 Pocilgas Presença de resíduos Cimentar o piso. Limpar e
alimentares e fezes no chão. lavar as instalações
diariamente.
5 Aviários e Presença de ração e esterco. Limpar as instalações e
galinheiros proteger o aviário contra a
entrada de ratos, através de
rateiras e telas de 06 mm.
O piso da construção deve,
de preferência, ficar afastado
do solo.
6 Lavouras e Mato alto e alimento Remover resíduos encon-
hortaliças disponíveis; presença de trados. Capinar. Inspecionar
resíduos alimentares; a área para detectar sinais de
acúmulo de produtos da roedores. Preservar os
colheita. animais predadores.

99
7 Lixo e esterco (de Lixo e esterco espalhados Construir e utilizar
aves, suínos, no solo, dentro e fora de esterqueiras apropriadas.
eqüinos e outros) pocilgas, estábulos, aviários Queimar ou enterrar o lixo,
e galinheiros. quando não usado nas
esterqueiras.
8 Fontes de água Cisternas e reservatórios Proteger com telas ou
abertos ou sem proteção tampas apropriadas, reser-
externa. Fontes naturais de vatórios, cisternas e outras
água de abastecimento sem fontes de abastecimento de
proteção contra ratos e água.
outros animais
9 Destino de final Fossas ausentes ou abertas Tampar as aberturas de
dos dejetos ou, ainda, sem proteção acesso, as fossas e rede de
humanos contra entrada de ratos. esgotos, de modo a impedir
a entrada de ratos.

Fonte: Manual de Saneamento, 1999

100
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