Livro - Eu e Meu Amigo Curumim (Livreto)
Livro - Eu e Meu Amigo Curumim (Livreto)
Livro - Eu e Meu Amigo Curumim (Livreto)
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SUINARA
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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Vagner Rodolfo CRB-8/9410
ISBN: 978-85-65380-38-6
Diretor
Lucas Cardoso Cardim
Gerente ed itorial
Cnst1ane Miguel
Ilustrações
Sarni Ribeiro
Revisão
Alcides Goulart
3· Reimpressão
2019
Todos os direitos reservados à
•
Editora Suinara
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SUINARA
Abyatá acorda com o sol e o som dos pássaros cantarolando.
Gosta de pescar ainda pela manhã e leva seu enorme cesto nas cos-
tas para carregar os peixes fresquinhos.
Se banha nas águas cristalinas do rio e ele, o rio, lhe oferece uma in-
finidade de espécies para alimentar toda a aldeia.
Sempre viveu ali, plantando e colhendo o que a terra tinha de me-
lhor para oferecer.
Adorava correr entre as bananeiras, chupar jabuticaba colhida di-
reto do tronco forrado de bolinhas pretas, subir no pé de goiaba e se
lambuzar da polpa amarelinha da manga madura, sua preferida.
Era um excelente corredor de toras, preparadasquasesemprecom
madeiras de buriti, além de um bom atirador de arco e flecha.
Ági 1, destemido, enfrentava os mistérios da natureza com destreza.
Adentrava na mata para caçar e nela se perdia olhando o céu
com suas nuvens de formas divertidas. Era tão bonita aquela ima-
gem que se esquecia do tempo e lá ficava até o anoitecer para apre-
ciar sua imensidão envolta por uma lua redondinha.
O próprio luar iluminava seu caminho de volta para a aldeia, como
se a guiá-lo com as estrelas em forma de seta.
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O cacique o aguardava. E, vendo a tristeza nos olhos do pequeno,
calou-se, deixando que ele mesmo desvendasse os mistérios da vida.
Os dias se passaram e, durante o intervalo das aulas, cada vez mais
o indiozinho se isolava.
As crianças faziam piadas, riam de suas roupas e até do lanche que
com ia, o deixavam fora das atividades e nunca chamavam Abyatá para
as brincadeiras.
Ninguém se importava com seus sentimentos.
Numa destas tardes, foi até o cacique Juruni para se aconselhar.
Queria mudar de roupa, trocar de nome, cortar os cabelos, ser
igual às outras crianças pois, quem sabe assim, seria aceito. Finalmen-
te, faria amigos!
Juruni olhou para o pequeno curumim e disse:
- Vê aquelas aves? Vê aquelas árvores? Vê as cores das flores? Vê
frutos nos pés? Vê ao seu redor? Nada é igual. Cada curumim tem sua
própria identidade. Se Abyatá perder isso, não será grande guerreiro.
Perderá a batalha. Se Abyatá mostrar quem é, vence batalha e ganha
verdadeirosamigosqueamarãoAbyatápeloqueéenãopeloquetem.
Abyatá pode escolher quem quer ser!
Com osolhosavermelhados,o indiozinhoenxugouas lágrimasefoi
se recolher.
Deitou-se calado, pensativo e, olhando as estrelas pela abertura
de sua oca, adormeceu com o balançar da rede que o envolvia.
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Na manhã seguinte, acordou bem cedo, como de costume.
Enfeitou-se como de costume e, com o peito cheio de co-
ragem, foi para a aula mais uma vez.
Lá chegando, empacou no portão. O coração disparou,
pensou em recuar, quando de repente sentiu o calor de uma
mão encostando em seu ombro e pedindo ajuda para entrar.
Era a coragem que lhe faltava.
E esta coragem se chamava Gael, um aluno novo que che-
gava para seu primeiro dia de aula. E, assim como ele, também
precisava de amigos.
Abyatá não quis fazer perguntas, mas gostou muito de aju-
dar e de se sentir útil.
Gael tinha muitas perguntas, assim como Abyatá, que que-
ria saber sobre tudo e sobre todos. E esta aproximação con-
tentou seu coração.
Tornaram-se inseparáveis. Onde estava um, via-se o outro.
Abyatá sempre amparando o amigo, e o amigo amparando
Abyatá.
Riam de coisas engraçadas, dividiam o lanche, cantavam
canções, trocavam histórias e objetos pessoais.
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Gael ador~.Va usar o cocar de penas maóas> pois nelas sentia uma
sensação de. aconchego, de conforto -e, assim, emprestava seu boné
para Abyatá, que se s~ntia en_graçado, nias honrado pefa troca.
Esperavam um ao outro todososclias para entrarem juntos na escola.
Aos poucos, as outras crtanças foram observando que não mais
eram percebidas e que suas provocações não mais incomodavam os
dois amigos.
Por mais que desenhassem coisas feias nas paredes ou os deixassem
fora das atividades, os dois estavam sempre sorrindo e se drvertindo.
Abyatáeraosolhosdoamigo,contava-lhecomoeramasformasdo
' '
- - - .....
Os dois seguiram apoiando um ao outro, como de costume,
mas rodeados de novos amigos.
A partir daquele dia, nada mais foi como antes.
Brincaram juntos e riram das histórias uns dos outros.
Compartilharam experiências, trabalharam em
equipe.
Abyatá realizou seu grande sonho: aprender e ensinar.
Numfinaldeaula,enquantoesperavaospaisdeGaelno
portão de saída, abraçou o amigo e despediu-se.
Continuariaseusestudos naaldeia,sua missão já havia
sido cumprida.
Sabia que poderia voltar quando quisesse, que seria
bem recebido e que estaria sempre por perto.
Gael agradeceu o amigo por seu companheirismo;
sentia como se tivesse recebido um presente.
Mas, na verdade, quem ganhou o presente foi Abyatá,
queconseguiuenxergarmuitomaisdoqueseusolhospo-
deriam ver.
Colocou seu cocar na cabeça do novo amigo curumim
e saiu de boné com o cesto de palha trançado nas costas.
As crianças nunca maisesq ueceram aquela experiência.
E, com a chegada dos dois novos amigos, descobriram
que "sempre podemos escolher quem queremos ser"!
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I (\J
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Elisabete da Cruz
Sarni Ribeiro
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Vê áquelas aves? Vê aquelas árvores?
Vê as cores das Aores?
Vê os frutos nos pés?
Vê ao seu redor? Nada é igual.
Mas, se nada é igual, por que nos incomodamos
com as diferenças?
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