Fe Politica
Fe Politica
Fe Politica
A fé cristã, historicamente, adotou uma conotação intimista e espiritual, diminuindo sua dimensão
mobilizadora e transformadora. O modelo de relação Fé e Política tenta resgatar a genuinidade cristã da fé.
Objetivo:
integrar dinamicamente a “Fé” e a “Política”, duas dimensões importantes da existência humana, ou
propiciar uma educação política mediada por princípios da fé cristã, tendo um referencial bíblico, espiritual e
teológico, ou
adotar uma abordagem teológica da formação política
A teologia do engajamento sociopolítico versa sobre o engajamento feito a partir da fé, e é realizada
baseando-se em alguns elementos do Ensino Social da Igreja e da Teologia latinoamericana.
O engajamento sociopolítico:
Não é uma análise para as relações Fé e Política;
É eminentemente prático;
É um salto qualitativo de uma categoria prática (simples engajamento sociopolítico) para uma outra,
analítica (engajamento sociopolítico a partir da fé).
É a valorização da atividade cristã transformadora no meio do mundo;
É a opção preferencial pelos pobres como critério pastoral;
É o empenho pela justiça como sendo inerente à fé cristã.
Paradigma Grego
Malgrado a exclusão de estrangeiros, escravos e mulheres, a atividade política desenvolvia-se como gestão da
coisa pública, em que buscar o bem da pólis, ao invés do individual, era considerado uma virtude cívica. A
autoridade do soberano passava por leis definidas pela assembleia dos cidadãos, espaço onde se desenvolveriam
as discussões em torno das coisas públicas. Assim, a participação efetiva era a mediação para o exercício da
gestão pública.
Paradigma Romano
A gestão da coisa pública transfere-se para a instituição em que ela se realiza, em uma esfera autônoma da
sociedade, que é o Estado. Com isso, a política institucionaliza-se e se torna prerrogativa de um pequeno grupo
dirigente, despolitizando o cotidiano, isto é, excluindo o cidadão da administração da rés pública.
Outra ênfase teológica, profundamente ligada à teologia do engajamento social, refere-se à questão das
relações entre “Fé” e “Política”, e tem por objetivo demonstrar que essas duas instâncias são conciliáveis.
A questão das relações entre Fé e Política é recente. Ela está profundamente relacionada com a
postulação de uma autonomia das esferas que compõem o quadro do humano, entendida na perspectiva da
modernidade como separação e até mesmo oposição. O racionalismo que se instaurou a partir de Descartes,
juntamente com o positivismo de Augusto Comte e o modelo de ciência que daí nasceu, foram os fautores de um
dualismo entre “Fé” e “Razão”, que se desdobrou na prática em uma série de outras contraposições, entre elas a
“Fé” e a “Política”.
A reflexão que ajuda a fazer essa articulação entre Fé e Política nas Escolas é a Teologia latino-
americana da libertação, tendo como eixo epistemológico o pobre, buscando um modelo de sociedade que o
favoreça em todas as suas dimensões: humana, cultural, econômica, política.
A Teologia latino-americana tem a característica de utilizar a mediação sócio-analítica para o
conhecimento da realidade, sendo esse exatamente o primeiro momento de sua produção teológica. Com o auxílio
das ciências sociais, busca-se detectar as causas da situação em que se encontra o pobre e entender esta realidade.
A reflexão teológica latino-americana emerge da articulação entre a positividade da fé e a negatividade da
realidade histórica dos pobres, sendo que nesse processo a fé tem a primazia determinante.
Essa metodologia
relaciona a prática da teologia com a libertação dos oprimidos;
articula a fé e a práxis;
incide na práxis de transformação social;
O militante cristão mergulha na realidade, mas com um diferencial: “à luz do evangelho”. Ele não o faz sozinho,
mas em comunhão com outros que crêem no mesmo projeto, o que propicia o alento para continuar sua
caminhada.
A sociedade desejada se aproxima do modelo socialista, com rejeição do estilo capitalista neoliberal, considerado
irreformável e excludente
Em segundo lugar, outra contribuição da reflexão teológica latino-americana está na linha de alguns
modelos de relação Fé e Política. Destacam-se três modelos, o primeiro de Clodovis Boff, que teve grande influência
nas reflexões da Teologia da Libertação, em seu aspecto metodológico; o segundo, de João Batista Libanio, útil para
equalizar as contribuições da Fé à Política e vice-versa, e o terceiro, de Paulo Fernando Carneiro de Andrade,
elaborado nos marcos da Campanha da Fraternidade de 1996 sobre “Fraternidade e Política”.
Além da metodologia e de alguns modelos, a Teologia latinoamericana também contribui para uma
reflexão situada sobre Jesus e seu projeto para o mundo, bem como para uma espiritualidade militante, na qual a Fé
é motivação para a ação política.
A referência ao Jesus histórico, situado no contexto da Palestina de seu tempo e profundamente presente no
meio do povo, suas atitudes com relação aos excluídos e sua posição diante da Lei, do Templo e das instituições
judaicas é relevante para a se estabelecer um nexo entre Fé e Política. Os evangelhos sinóticos servem de
referência a essa perspectiva.
O texto de Marcos 6, 30-44 é utilizado para explicar a atitude de Jesus diante da fome do povo, e, como desafia
seus discípulos a responderem a essa problemática, utilizando seus poucos recursos e a organização do povo.
Outro texto é o evangelho de Mateus 5, 1-12, no qual se destacam as exigências para os discípulos e as
consequências da prática da justiça.
Dentro ainda dessa perspectiva, adquire relevo a pregação de Jesus sobre o Reino de Deus, mas em chave
escatológica. Esse não é entendido como algo que somente se realizará na vida eterna, mas como algo presente
desde já na negatividade da história, atuante nela pela pessoa de Jesus, o que deve ser continuado pelos seus.
Dentro da lógica de Jesus, o poder é serviço e doação da vida, sem espaço para os interesses particulares. Isso
implica diversidade de funções, mas igualdade de dignidade, sendo recriminada todo tipo de competição sobre
“quem é o maior” (Lc 22,24-27).
A partir do Reino, tecem-se teias novas de relacionamento social, baseadas na liberdade e no respeito mútuo,
simetricamente opostas ao que a sociedade oferece. Por isso, o Reino comporta uma exigência forte de
“conversão” às suas exigências, para que ele seja mediado na história pelo agir cristão.
A morte de Jesus adquire outra perspectiva. Ela não é vista como fatalidade, erro estratégico ou inexorabilidade,
mas sim como consequência de uma vida que foi doada a todos e foi fiel até o fim. Nesse sentido, destaca-se sua
dimensão políticorreligiosa, tendo como causa histórica a supremacia da ordem estabelecida e, como finalidade
teológica, a doação até fim.
ALVES, Antonio Aparecido. Tese: ESCOLAS DE FORMAÇÃO FÉ E POLÍTICA: UM ESTUDO TEOLÓGICO A PARTIR DO
ENSINO SOCIAL DA IGREJA E DA TEOLOGIA LATINO-AMERICANA. Pontifícia Universidade Católica do Rio De Janeiro -
PUC-RIO. 19/05/2010.
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