Análise A Casa Dos Espíritos

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS


DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA

JOSÉ GUILHERME PANDOLFI

ANÁLISE DO ROMANCE A CASA DOS ESPÍRITOS , DE ISABEL ALLENDE

RECIFE
2021
JOSÉ GUILHERME PANDOLFI

ANÁLISE DO ROMANCE A CASA DOS ESPÍRITOS , DE ISABEL ALLENDE

Trabalho produzido com o intuito de realizar


uma análise de aspectos literários e históricos
do romance A Casa dos Espíritos, de Isabel
Allende, para obtenção de nota da disciplina
de Historiografia.

Docente: Prof. Dra. Regina Beatriz Guimarães


Neto

RECIFE
2021

1
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO……………………………………………………………………. 3
2. A ESTRUTURA………………………………………………………………….... 5
3. AS PERSONAGENS……………………………………………………………… 7
3.1 Rosa del Valle………………………….…………………………………………… 7
3.2 Clara del Valle………………………….…………………………………………... 7
3.3 Esteban Trueba………………………….………………………………………….. 7
3.4 Blanca Trueba………………………….…………………………………………… 8
3.5 Jaime e Nicolás Trueba………………………….………………………………….. 8
3.6 Alba Trueba Satigny………………………….…………………………………….. 9
3.7 Pedro Terceiro García………………………….………………………………….... 9
3.8 Esteban García………………………….…………………………………………. 10
4. A NARRAÇÃO…………………………………………………………………… 10
5. O PAPEL DO ESPAÇO: DUALISMO CAMPO/CIDADE……………………. 11
6. ASPECTOS DA VIOLÊNCIA E DA SEXUALIDADE: ENTRE SEDUÇÃO E
VIOLAÇÃO………………………………………………………………………. 12
7. REALISMO MÁGICO E A HISTÓRIA COMO TÉLOS…………………….. 13
8. SAGA DE UMA FAMÍLIA, SAGA DE UM PAÍS……………………………... 15
8.1 Panorama da evolução histórica do Chile no século XX………………………….. 15
8.2 O governo da Unidade Popular e o golpe de 1973……………………………….... 17
9. CONSIDERAÇÕES FINAIS…………………………………………………….. 21
10. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS…………………………………………... 22

2
1. INTRODUÇÃO
O objetivo deste trabalho é empreender uma análise dos aspectos literários, políticos e
históricos do romance A Casa dos Espíritos, da escritora chilena Isabel Allende. Publicado
pela primeira vez em Buenos Aires, em 1982, foi o primeiro livro escrito por Allende e
garantiu à autora projeção internacional. Aclamado pelo estilo limpo e pela narrativa
envolvente, A Casa dos Espíritos (doravante ACDE) tornou-se um best-seller e recebeu
tradução para diversos idiomas, sendo considerado o magnum opus da autora.
Ao longo de mais de quatrocentas páginas, o romance acompanha a trajetória da
família del Valle-Trueba no decorrer de três gerações. O ponto de partida é o noivado de Rosa
del Valle, filha de uma influente família da oligarquia, e Esteban Trueba, jovem ambicioso de
uma família terratenente outrora rica, mas arruinada pelo alcoolismo do pai. Quando Rosa é
assassinada sob circunstâncias misteriosas, Esteban lida com o luto reconstruindo a fazenda
familiar no Sul do país, transformando-se em um poderoso latifundiário, e mais tarde contrai
matrimônio com a caçula del Valle, Clara, que possui poderes sobrenaturais. Da união entre
Esteban e Clara nascem os gêmeos Jaime e Nicolás e a filha Blanca, a qual mais tarde
conceberia a única neta de seus pais: Alba. Essas personagens conduzem o leitor através de
mais de cinquenta anos da história de um país latinoamericano cujo nome permanece oculto,
mas que se trata claramente do Chile. Esse artifício de elipse empregado pela autora implica
que a história das nações da América Latina é unida por um fio condutor comum, em um
aceno a um sentimento latinoamericanista de união continental. Contudo, fica patente que o
lugar da ação é o Chile devido aos diversos eventos históricos retratados, sobretudo o governo
revolucionário de Salvador Allende (1970-1973) e o golpe militar que o encerrou e deu início
a uma bárbara ditadura. Nesse sentido, acompanhamos os del Valle-Trueba em uma história
que entrelaça amor, traição, fantasia, erotismo e violência, recônditos universais da alma
humana, mas que também é um retrato da evolução do Chile ao longo do século XX, das
transformações sociais e dos conflitos de classe, da luta pela elevação da condição feminina,
do primeiro povo latinoamericano a eleger um socialista presidente — e a vê-lo assassinado
por uma violenta contrarrevolução.
Essa saga familiar, no melhor estilo da tradição iniciada por Thomas Mann em Os
Buddenbrook, guarda semelhanças com a história da família da própria Isabel Allende, a
partir da qual a autora tirou inspiração para a escrita do livro. Nascida em Lima, onde seu pai
cumpria missão diplomática, em 1942, aos dois anos de idade Isabel passa a morar no Chile.
Sua nacionalidade, portanto, é chilena. Seu pai, Tomás Allende — primo de Salvador Allende
—, abandonou a família quando ela era ainda um bebê, e Isabel foi criada pela mãe e pelos
3
avós. Desse modo, a família exerce ampla influência na sua produção literária. O casal Clara e
Esteban foi inspirado nos avós da autora. Seu avô, como Esteban, foi um homem inicialmente
pobre que trabalhou para conseguir subir na vida e acreditava no esforço e na dedicação como
únicos caminhos possíveis para se obter o sucesso. Por sua vez, a avó de Isabel é descrita por
ela mesma como uma mulher mágica e dotada de poderes místicos, como Clara. Além deles, a
mãe serviu como inspiração para Blanca: ambas foram mulheres românticas, frágeis e que
passavam por dificuldades financeiras, a despeito da renda do pai. Os irmãos da mãe foram
retratados como os gêmeos, em especial Jaime, inspirado no tio Pablo, por quem Isabel nutria
um carinho singular — traço reproduzido em ACDE, na relação entre Alba e Jaime. Por
último, o pai de Isabel também tem espaço no romance, como o conde Jean de Satigny, pai
biológico de Alba que, como Tomás Allende, é um genitor ausente o qual não toma parte na
criação de sua filha.
Tendo em vista a representação de sua parentela no livro, vê-se que Isabel Allende
busca identificar-se com a personagem de Alba. Essa conexão torna-se evidente ao observar
as correspondências entre suas vidas. A relação que Alba guarda com mais carinho é a que
mantém com seu avô Esteban; também Isabel teve com o avô uma relação muito sólida,
devido ao fato de ter crescido frequentando a sua casa. Outro ponto em comum é um
momento da trama em que Alba é chamada para reconhecer o corpo de seu pai em um
necrotério, como Isabel também precisou fazer após a morte de seu pai biológico. Além
dessas semelhanças, há a atuação clandestina de Alba no auxílio aos que eram perseguidos
pela ditadura. Isabel, no período imediatamente posterior ao golpe, e de maneira análoga a
Alba, lutava contra o regime militar, utilizando-se de recursos que seu avô lhe dava, pedindo
para que ela não revelasse os usos que encontrava para o dinheiro. Por fim, tanto Alba quanto
Isabel dizem ter tido uma infância feliz, apesar da ausência do pai, e puderam explorar sua
criatividade pueril ao receberem aval para pintar as paredes de seus quartos.
Assim, pode-se perceber que ACDE é um romance indissociavelmente ligado às
experiências pessoais da autora, as quais são pintadas na trama em cores vivas. Publicado em
uma época em que o Chile ainda padecia os horrores da ditadura de Pinochet, o livro pode ser
interpretado como uma rememoração de sua família e de seu país, do qual Allende se
encontrava exilada, na Venezuela, desde 1975. É um trabalho considerado por alguns
estudiosos, aliás, como parcialmente autobiográfico1. Allende mesma reconhece, em artigo

1
TICHÁ, Veronika. El análisis literario y político del libro La casa de los espíritus. Monografia — Faculdade
de Filosofia, Universidade Palacký. Olomouc, p. 23, 2014.
4
publicado no periódico espanhol El País, o impacto de sua vida na literatura que produz: “Al
escribir entiendo y le doy forma a mi propia vida”.2

2. A ESTRUTURA
A forma como Allende estrutura seu livro segue a clássica clivagem em três atos bem
definidos: um introdutório, outro que desenvolve os conflitos e um último de caráter
conclusivo. No total, são catorze capítulos e um epílogo.
O primeiro ato do livro vai do primeiro ao terceiro capítulo. É nessas páginas que as
principais personagens das duas famílias originais (del Valle e Trueba) são apresentadas ao
leitor. São introduzidos Severo e Nívea del Valle, pais de Rosa e Clara e chefes da família.
Severo é um patriarca heterodoxo, ateu e liberal com ambições de se tornar político, enquanto
Nívea é uma católica não praticante engajada no movimento sufragista. Também é exposto
pela primeira vez o contrato de noivado entre Rosa e Esteban Trueba, e o amor que ele nutre
por ela. Após a morte de Rosa, contudo, as coisas mudam. Clara, que havia previsto a morte
da irmã quando já era tarde demais para impedi-la, declara um voto de silêncio que dura nove
anos. A menina só volta a falar para anunciar que vai se casar com Esteban Trueba; havia
visto em sonho. Como no vaticínio de Clara, Esteban bate à porta dos del Valle pouco tempo
depois para pedir a mão da filha mais nova, e os dois oficializam a boda.
A partir do casamento de Clara e Esteban tem início o segundo ato do livro,
demarcado pelo capítulo IV, O Tempo dos Espíritos. O título desse capítulo, a propósito,
resume bem os contornos gerais desse segundo ato. Aqui se dá o desenvolvimento da saga dos
del Valle-Trueba, a maturação dos conflitos que os familiares gestam entre si e com
personagens exógenas e também o paulatino desaparecimento de antigas personagens alheias
à nova família criada com a união de Clara e Esteban, como os pais da primeira e a irmã do
segundo. Toda essa ação transcorre tendo como centro gravitacional a personagem de Clara,
que funciona como uma argamassa a unir todo o corpo familiar, o qual, não obstante discordar
em quase tudo, compartilha do mesmo amor pela matriarca. Clara aperfeiçoa seus dons
paranormais e faz do casarão da esquina, sede da família, palco de um espetáculo de espíritos,
entusiastas do além, adivinhadores e mágicos. Em meio a essa parafernália sobrenatural
progride a história, sob a égide de Clara, que assume as vezes de personagem principal — daí
a designação dessa época como Tempo dos Espíritos.

2
ALLENDE, Isabel. “Soy como el escorpión”. El País, 23 ago. 2007. Disponível em:
<https://elpais.com/diario/2007/08/26/eps/1188108952_850215.html>. Acesso em: 19 jul. 2021.
5
Não é coincidência que o último capítulo do segundo ato leve o nome de A Menina
Alba. Esse nono capítulo introduz na trama a neta Alba, que vai tomar o papel de protagonista
no terceiro ato. Não coincidentemente, também, o capítulo se encerra com a morte de Clara,
assinalando a transição entre as duas personagens.
O arremate do livro acontece no terceiro ato, a partir do capítulo X, A Época da
Decadência. Novamente, o epíteto desse capítulo dá o tom que segue por toda a terceira parte
da narrativa. Ocorre que da morte de Clara em diante, a família del Valle-Trueba, que de
repente se vê alijada de seu eixo central, entra em franco declínio. As relações entre Esteban e
seus filhos, que nunca foram boas, deterioram-se vertiginosamente, e o casarão da esquina
perde os espíritos, as visitas, os cuidados: “converteu-se em uma ruína”3. Nesse contexto, os
temas políticos deixam o papel subjacente que desempenharam anteriormente no livro para
ocupar um lugar central. São narradas a eleição do presidente socialista, as agitações
populares que marcaram seu breve governo e as conspirações golpistas para depô-lo,
culminando na instauração da ditadura militar. A ação, aqui, assume um ritmo frenético, com
diversos eventos se sucedendo em uma quantidade enxuta de páginas. O esteio do drama
familiar fica a cargo da sólida relação entre Alba e Esteban, a neta revolucionária e o avô
conservador, que sustentam a narrativa e fornecem à família um fiapo de coesão.
Essa estruturação em três atos cumpre uma progressão linear de acontecimentos, mas
o livro também apresenta uma série de temas que aparecem repetidamente, em uma espécie de
eterno retorno. Exemplos disso são as tentativas de atravessar as cordilheiras voando, comuns
a Marcos, tio de Clara, e a Nicolás, seu filho; e o interesse atávico das mulheres del
Valle-Trueba pelos contos sobrenaturais e fantásticos. O final do livro, em si, confirma uma
vocação circular da trama: o evento derradeiro da história é o estupro de Alba por Esteban
García, que ecoa uma outra violação, muito mais antiga, que Esteban Trueba perpetrou contra
a avó de García, Pancha. Alba Trueba, no epílogo, comenta esse aspecto:
Desconfio que tudo que aconteceu não seja fortuito, mas que corresponda a um
destino traçado antes de meu nascimento e que Esteban García seja parte desse
desenho. (...) No dia em que meu avô derrubou sua avó, Pancha García, nos
matagais do rio, acrescentou outro degrau a uma cadeia de fatos que deveriam ser
cumpridos. Depois, o neto da mulher violada repete o gesto com a neta do violador
e, dentro de quarenta anos, talvez meu neto derrube a neta dele entre as matas do rio
e, assim, pelos séculos vindouros, numa história infindável de dor, sangue e amor.4

O círculo perfeito da narrativa de ACDE se completa nos momentos finais do livro,


com um recurso estilístico: a frase que o encerra (Barrabás chegou à família por via
marítima…) é exatamente a mesma que o inicia.
3
ALLENDE, Isabel. A Casa dos Espíritos. 50ª ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2020, p. 307.
4
Ibid., pp. 444-445.
6
3. AS PERSONAGENS
3.1. Rosa del Valle
A filha mais velha de Nívea e Severo del Valle é o marco zero do romance. É por
causa dela que ocorre a união com os Trueba e, tendo isso em vista, torna-se óbvio por que o
primeiro capítulo do livro leva o nome de Rosa, a Bela. Na verdade, esse epíteto, “bela”, é o
adjetivo mais usado para caracterizar Rosa. Ela é descrita como uma personagem mágica,
etérea, possuidora de uma beleza monumental que a colocaria entre anjos. Fisicamente, são
destacados seus traços místicos, como o cabelo verde e o aspecto de sereia. Rosa, no entanto,
é alheia à própria formosura e mostra uma personalidade aérea, imune à vaidade, quase
infantil. Passa seu tempo tecendo uma longuíssima toalha enfeitada com cenas de criaturas
sobrenaturais.

3.2. Clara del Valle


A principal característica da personagem de Clara é a presença de talentos
paranormais. Entre as habilidades da mulher estão a adivinhação, a telecinese e a
clarividência. Esses elementos são incorporados ao romance de forma muito natural, como
parte da construção de mundo de ACDE, e não causam incômodo entre as personagens.
Precisamente por essa inclinação mágica, Clara é considerada uma criatura pertencente a
outro mundo, o que explica seu desinteresse pelas tarefas mundanas. Em geral, é desatenta e
avessa às responsabilidades de cuidado da casa, terceirizando-as para figuras como Férula e a
Nana. Em que pese isso, Clara é muito amada pelos filhos, adorada pelo marido e querida por
muitos dos visitantes ocasionais do casarão da esquina, entre os quais figuram personalidades
do quilate do Poeta — cognome que Allende emprega para retratar Pablo Neruda. Ademais,
as concepções políticas liberais e populares da personagem têm destaque em variados
momentos da trama, como quando promove palestras sobre temas de libertação da mulher
para as camponesas de Las Tres Marías, fazenda da família, enfurecendo seu marido.

3.3. Esteban Trueba


Egresso de uma família de sangue antigo, embora falida, Esteban é um homem
ambicioso, irascível e de convicção férrea em seus ideais. Para tentar provar aos del Valle que
é um pretendente à altura de Rosa, passa anos explorando uma mina de salitre no Norte.
Quando a noiva morre, dedica-se a reconstruir Las Tres Marías, propriedade abandonada de
sua família. Esteban logra transformar a fazenda em uma das mais produtivas da região e se
torna um senhor de terras influente. Mais tarde, lança-se à política e se elege para o Senado
7
pelo Partido Conservador, onde ganha notoriedade por sua inflamada cruzada anticomunista e
por seus arroubos de ira. Trueba canaliza, no romance, um projeto político de direita,
reacionário e golpista, sendo um contraponto a familiares como o socialista Jaime e a
reformista Clara, e chegando a participar ativamente da conspiração que levou ao golpe
militar. Além disso, é através da figura dessa personagem que a violência é viabilizada na
maior parte do livro, o que pode ser notado em episódios como a agressão física contra Clara
em uma passagem e na constante violência psicológica que Esteban dirige à filha Blanca.
Assim, pode-se afirmar que Esteban Trueba encarna o arquétipo do patriarca latinoamericano:
o proprietário de terras que exerce o poder político, social e econômico através da coerção e
da violência. Para Demarchi et al.: “as práticas e costumes conservadores da personagem (...)
precisam ser lidas enquanto figuras que caracterizam o sistema do patriarcado”5.

3.4. Blanca Trueba


A primogênita de Clara e Esteban é uma mulher romântica, tímida e prática, ao
contrário da mãe. Teve uma infância feliz, marcada pelas viagens anuais da família a Las Tres
Marías, onde conheceu Pedro Terceiro García, filho do administrador. Da amizade entre os
dois surge um amor que os acompanha por toda a vida. Pedro Terceiro, porém, é odiado por
Esteban Trueba por difundir ideias socialistas entre os camponeses. Assim, o romance entre
os dois é proibido. A relação de Blanca com seu pai é turbulenta, mas com a mãe estabeleceu
um laço profundo e que dura até o falecimento de Clara — e depois, em espírito. Blanca,
diferente de sua mãe, é atilada, e muitas das obrigações domésticas ficam a seu encargo.

3.5. Jaime e Nicolás Trueba


Os gêmeos Jaime e Nicolás compartilharam apenas o mesmo ventre: de resto,
divergiam em tudo. Desde a infância no colégio interno que frequentaram já se via como suas
personalidades eram radicalmente distintas. Nicolás é um aventureiro inconsequente, dado a
empreendimentos arriscados. Esguio e galante, tinha como costume cortejar garotas, e não
havia camponesa em Las Tres Marías que escapasse ao seu charme. Ele também é a única
personagem masculina a se interessar pelo oculto, um elemento associado na trama ao
universo das mulheres. Apesar de seus esforços para aprender as artes místicas da mãe,

5
DEMARCHI, F.; LOPES, E.; SOUZA, M. Discurso, construção dos papéis sociais de gênero e sua expressão
em violência: uma análise de Esteban Trueba, da obra A Casa dos Espíritos. Jangada, Colatina, n. 8, jul-dez
2016, p. 88. Disponível em: <https://doi.org/10.35921/jangada.v0i8.121>. Acesso em: 24 jun. 2021.
8
Nicolás nunca obteve sucesso. Em vez disso, torna-se faquir6 e congrega um séquito de
devotos em torno de seu templo, o Instituto de União com o Nada, para desgosto de seu pai.
Em contrapartida, Jaime é um homem robusto, abnegado, austero e introvertido.
Costumava fazer atos de sacrifício em benefício dos mais necessitados. Tornou-se médico
para assistir os pobres, e pelo mesmo motivo se engaja na militância socialista, chegando a ser
companheiro do Presidente (o epíteto que Allende usa para representar Salvador Allende). Por
esse motivo, sua relação com Esteban Trueba é conturbada, mas Jaime mantém uma boa
ligação com as mulheres da família.
A relação entre os irmãos, que jamais havia sido íntima, é severamente afetada por
Amanda. Essa personagem, introduzida como namorada de Nicolás, encanta Jaime, que a tem
como uma paixão platônica. Quando Amanda engravida, Nicolás implora ao gêmeo que faça
um aborto clandestino. Contrariado, o então estudante de medicina realiza o procedimento,
mas fica furioso com o irmão, de modo que se afastam ainda mais.

3.6. Alba Trueba Satigny


Alba nasceu no momento exato para que os astros lhe indicassem um futuro
auspicioso. É o que pressagia sua avó, Clara, no momento de seu nascimento. A menina Alba
cresce feliz, amada por todos da família. Na juventude, ingressa na faculdade de filosofia,
apesar dos apelos contrários de seu avô Esteban. Lá, se envolve com o dirigente estudantil
marxista Miguel e por sua influência engaja-se no movimento estudantil. Alba é descrita
como uma mulher devota ao amor, disposta a se sacrificar pelo seu companheiro, que integra
as fileiras da guerrilha após o golpe. É herdeira de características de outras grandes mulheres
da família, como o cabelo verde de Rosa e a capacidade de unir os familiares como antes
Clara fazia. Pela sua luta contra a ditadura, Alba é presa e torturada, momento que constitui o
clímax do terceiro ato. No fim da história, é o único membro restante do clã, e decide se
dedicar à tarefa de reconstruir o percurso da família com base nos cadernos da avó.

3.7. Pedro Terceiro García


Pedro Terceiro é filho de uma linhagem de camponeses pobres que trabalharam em
Las Tres Marias. Seu avô, Pedro García, é um ancião respeitado pelos seus conhecimentos
tradicionais e seu pai, Pedro Segundo, é o administrador da propriedade na ausência do
patrão. Pedro Terceiro passa uma infância tranquila brincando com Blanca, mas quando, no
começo da juventude, um padre marxista da região o mune com literatura subversiva, ele se
6
Espécie de asceta hindu.
9
torna um militante socialista. Apaixonado por música, compõe hinos que convocam a classe
trabalhadora a se unir contra o patronato, o que o levou a ser expulso da terra por Esteban
Trueba. Muda-se então para a capital, onde faz sucesso nas rádios cantando música popular e
acenando à revolução, na tradição da Nueva Canción chilena, que nas décadas de 1960 e 1970
teve expoentes como Víctor Jara e Quilapayún7.

3.8. Esteban García


Quando Esteban Trueba ainda era um jovem patrão em Las Tres Marías, estuprou uma
jovem camponesa chamada Pancha — irmã de Pedro Segundo — e a transformou em uma
espécie de concubina. Dessas violações nasceu um bastardo de Trueba que mais tarde
conceberia Esteban García. O pequeno Esteban García foi ensinado desde tenra idade por sua
avó Pancha a odiar o patrão e sua família. Esse jovem mais tarde se tornaria carabineiro
durante a ditadura militar e perpetraria contra Alba as mesmas violências que um dia Esteban
Trueba perpetrou contra a sua avó. Na trama, Esteban García assume o papel de antítese da
família principal e de carrasco de Alba, que é vitimada por ele em diversas ocasiões, mesmo
antes do cárcere.

4. A NARRAÇÃO
A narração do romance é duplamente articulada. Para contar sua história, Allende
elege dois narradores: Esteban Trueba e Alba. Aquele narra em primeira pessoa e o leitor é
apresentado a sua voz desde os primeiros capítulos do livro. Os excertos narrados por Esteban
geralmente aparecem nos momentos de maior fragilidade da personagem, como após a morte
de Clara e durante o período em que Alba esteve presa pela ditadura. Nessas passagens,
aprofundamo-nos na psique do patriarca, tendo acesso às suas opiniões sobre os membros
restantes da família e também às justificativas que mobiliza para justificar comportamentos
violentos e irracionais.
Diferentemente de Esteban, o segundo narrador só é revelado no epílogo do livro.
Trata-se de Alba, a quem o avô confia a missão de perscrutar os cadernos de Clara e escrever
a história da família. Contudo, durante o livro Alba não conta em primeira pessoa, mas em
terceira, como um narrador onisciente. A escolha de Alba para ser narradora cumpre duas
funções em ACDE: primeiro, ao utilizar o recurso dos cadernos de Clara e outros documentos

7
ROLLE, Claudio. La “Nueva Canción Chilena”, el proyecto cultural popular y la campaña presidencial y
gobierno de Salvador Allende. Actas del III Congreso Latinoamericano de la Asociación Internacional para el
Estudio de la Música Popular, Bogotá, 23-27 ago. 2000, p. 5. Disponível em:
<https://www.oocities.org/portaldemusicalatinoamericana/Rolle.pdf>. Acesso em: 25 jun. 2021.
10
familiares, como cartas, é uma maneira de fazer as personagens falarem por si próprias,
através de fontes que elas mesmas produziram. Em segundo lugar, reforça a circularidade do
livro, ao atribuir ao último membro da família o compromisso de rememorar seus
antepassados.

5. O PAPEL DO ESPAÇO: DUALISMO CAMPO/CIDADE


A maior parte da história de ACDE se passa apenas em dois espaços: o casarão da
esquina, mansão que sedia a família na capital, e Las Tres Marías, a fazenda que Esteban se
gaba de ter reconstruído. Esses dois lugares conformam um bipolo antitético, contrapondo-se
um ao outro.
O cenário da cidade, o casarão da esquina, foi construído por Esteban Trueba para
abrigar sua recém-formada família após o casório com Clara. É um palacete moderno e
opulento, com um belo jardim francês, inicialmente muito ordenado. Com o passar do tempo,
o casarão vai sendo reformado reiteradamente para abrigar o sem-número de visitas que Clara
recebia e se transforma em um emaranhado de cômodos confusos e corredores que não dão a
lugar algum. Esse espaço representa o universo da magia, do fantástico, associado no romance
à feminilidade. Sentada à mesa de pé-de-galo, a matriarca realizava suas sessões espíritas,
adivinhações e toda sorte de ritual mágico, rodeada por figuras excêntricas interessadas no
além. Outro traço que reforça a correlação entre o casarão e o mundo feminino é o fato de que
foram mulheres a comandá-lo, inicialmente Clara (com a ajuda de Férula e da Nana), em
seguida Blanca e por fim Alba. Além disso, a presença dos jardins e dos animais que nele
vivem confere à habitação um caráter de conexão com a natureza, o que amplifica o
esoterismo. Por fim, pode-se observar que o casarão é organicamente conectado à família e,
particularmente, a Clara. Ela é a alma do lugar, o agente responsável por fazer desfilar nos
corredores visitantes e hóspedes de toda categoria e supervisionar a manutenção dos jardins.
Quando Clara morre, e com a consequente erosão das relações familiares, o casarão, de modo
afim, entra em decadência.
Do outro lado do binômio espacial está Las Tres Marías, propriedade rural dos Trueba.
Em um contraponto ao casarão da esquina, a fazenda representa o real, desprovido de magia,
que se liga ao universo masculino. Até a personagem mais etérea do romance, Clara, assume
tarefas mundanas quando está em Las Tres Marías, como quando capitaneou a criação da
escola local ou liderou a reconstrução do complexo após um terrível terremoto. Há momentos
de grande tensão entre o patrão e os inquilinos, tal qual a tentativa de assassinato de Pedro
Terceiro por Esteban Trueba, e isso se deve ao fato de que é nesse meio rural que o romance
11
expõe mais claramente o conflito social chileno. Reflexo disso é a evolução do pensamento
campesino que podemos acompanhar através das três gerações da família García. Pedro
García, o velho, é resignado e aceita a ordem social excludente como um dado natural,
enquanto seu filho, Pedro Segundo, cumpre suas funções de administrador, mas já apresenta
um traço de ódio de classe contra o patrão. Para completar esse quadro, Pedro Terceiro, o
neto, é abertamente revolucionário e busca alimentar a consciência de classe de seus
companheiros camponeses ao incitá-los contra a classe dominante.

6. ASPECTOS DA VIOLÊNCIA E DA SEXUALIDADE: ENTRE SEDUÇÃO E


VIOLAÇÃO
Alguns dos temas mais recorrentes do romance são a violência e o horror, em suas
mais variadas matizes. Traços de horror e ligados ao macabro são empregados repetidas vezes
na trama (a cabeça decepada de Nívea del Valle, os rituais sinistros de Jean de Satigny e o
interesse das mulheres del Valle-Trueba por histórias de horror e morte são alguns exemplos)
e tratados com uma naturalidade que, segundo Huerta8, opera como um recurso narrativo para
captar a atenção do leitor. A violência, também imbricada nesses recortes de horror, é
retratada de variadas formas. Durante todo o livro são apresentadas micro-agressões,
normalmente com viés de gênero e perpetradas por Esteban Trueba, mas não somente. Os
momentos em que a violência de gênero é mais destacada têm como vilão o patriarca, tal qual
o soco contra a face de Clara, que lhe arranca os dentes. Contudo, outras personagens também
dão vazão à misoginia de outras formas — o professor esquerdista Sebastián Gómez, ao
diminuir a participação das mulheres em uma greve estudantil, ou Esteban García, entre
outros.
Outros tipos de violência estrutural marcam presença em ACDE. É o caso da violência
social, continuamente indicada nos relatos de Clara sobre o completo desamparo dos pobres
frente a uma epidemia de tifo e nos de Alba acerca da pauperização da sociedade chilena após
o golpe. Essa modalidade está estreitamente vinculada à violência política, pincelada em raras
passagens do livro nos dois primeiros atos e constrita ao meio rural (a fraude eleitoral e a
perseguição de socialistas, ambas comandadas por Esteban Trueba e outros latifundiários),
mas amplificada e generalizada no terceiro ato. A partir do estabelecimento dos militares no
poder, o terror torna-se política de Estado e é amplamente utilizado para vitimar a sociedade
civil chilena: “o golpe deu-lhes a oportunidade de pôr em prática o que tinham aprendido nos

8
HUERTA, Teresa. La ambivalencia de la violencia y el horror en “La casa de los espíritus” de Isabel Allende.
Chasqui, Quito, vol. 19, n. 1, mai. 1990, passim.
12
quartéis, a obediência cega, o manejo das armas e outras artes que os soldados podem
dominar quando aplacam os escrúpulos do coração”9. São descritas as prisões políticas e as
torturas levadas a cabo nos porões dos quartéis, numa representação verossímil da carnificina
em que se transformou o Chile no pós-golpe, a qual contou com caravanas da morte,
execuções públicas de artistas e massacres10.
Um tipo adicional de violência que aparece no livro em repetidas passagens é a
violação sexual. Em episódios como o estupro de Pancha García ou o de Alba Trueba, o sexo
é instrumentalizado, nos marcos de um sistema patriarcal, para balizar relações desiguais de
poder e, mais especificamente, a submissão da mulher ao homem. Embora no primeiro caso
seja um típico poder senhorial que se impõe e no segundo a violação assuma contornos mais
claros de violência política e vendeta pessoal, ambos os estupros compartilham a marca
virulenta do patriarcado.
Contudo, o sexo não é expresso no romance apenas como uma faceta da violência.
Pelo contrário, assume uma gama de funções e simbolismos que variam de acordo com cada
personagem. Curioso é o fato de que em apenas dois momentos o sexo é relacionado ao amor,
notadamente nas relações entre Blanca e Pedro Terceiro e entre Alba e Miguel. As outras
representações de sexualidade na obra são multifacetadas: para a prostituta Tránsito Soto, o
sexo é um recurso que a permitiu a ascensão social e o acúmulo de capital político, ao mesmo
tempo em que para Clara é uma obrigação conjugal. Ademais, formas marginais de
sexualidade também ocupam largo espaço na narração — é o caso da homoafetividade
feminina (o ardente desejo de Férula por Clara), do sexo grupal (os bacanais de Jean de
Satigny), da necrofilia (a violação do cadáver de Rosa por um assistente de médico, e
novamente por Esteban Trueba após exumar seu corpo), da pedofilia (os repetidos encontros
entre Esteban García e a menina Alba) e até mesmo insinuações de desejos incestuosos (por
parte de Jaime, em relação a Alba).

7. REALISMO MÁGICO E A HISTÓRIA COMO TÉLOS


A presença do fantástico é uma constante na história da literatura em todos os cantos
do planeta. Maia parafraseia Jorge Luis Borges ao afirmar que “o fantástico era a linguagem
preferida dos escritores do mundo inteiro, em todos os tempos, e o realismo não passava de

9
ALLENDE, 2020, p. 397.
10
WINN, Peter. A Revolução Chilena. 1ª ed. São Paulo: Unesp, 2009, pp. 183-185.
13
'uma excentricidade recente'”11. No entanto, a partir do meado do século XX, aflorou na
América Latina um tipo particular de literatura fantástica, o qual convencionou-se chamar
realismo mágico ou maravilhoso. Esse gênero se inscreve no contexto do boom da literatura
latinoamericana, que teve expoentes como Julio Cortázar, Gabriel García Márquez e o próprio
Borges. Dentro do realismo mágico, a realidade é atravessada por elementos maravilhosos,
que não podem ser explicados pela lógica do mundo sensível, mas que seguem leis próprias
do universo criado pelo autor. Esses traços fantásticos, porém, desempenham uma função
acessória dentro da narrativa, de modo que não influenciam decisivamente os rumos do
enredo — o que diferencia esse gênero da literatura fantástica mais ampla. Assim, o realismo
mágico busca dissecar aspectos da realidade a partir da ilustração de componentes fantásticos.
Essa literatura foi usada amiúde em contextos de cerceamento da liberdade de expressão,
como forma de burlar a censura e codificar mensagens de crítica social e política por meio do
maravilhoso.
O romance aqui analisado se insere nesse contexto de contestação, considerando que
foi publicado enquanto o Chile ainda estava sob o regime ditatorial de Pinochet. Os traços que
levaram ACDE a ser classificado como um exemplar do realismo mágico são abundantes.
Aspectos maravilhosos aparecem com frequência nas páginas, concentrados sobretudo em
duas personagens: Rosa e Clara. Rosa é envolta por uma aura de beleza mística e angelical,
tida por todos como extraterrena, e sua dimensão mágica é comprovada mesmo após a morte,
quando, após Esteban Trueba abrir seu ataúde, encontra seu corpo intacto, imune à
deterioração do tempo, e as árvores são sacudidas por súbita uma rajada de vento. Por sua vez,
Clara é, visivelmente, a personagem mais mágica da história, devido a seus dotes psíquicos
que enchiam o casarão da esquina de espíritos — daí o título do livro. Além do mais, as
facetas fantásticas do enredo são aceitas com naturalidade pelas personagens, o que comprova
que fazem parte da lógica subjacente ao universo montado por Allende em ACDE. Dessa
maneira, é possível classificar o romance como um clássico modelo de realismo mágico.
Por fim, cabe fazer algumas considerações sobre a maneira como a presença de
elementos sobrenaturais impacta a percepção que a autora propõe da História. Nesse sentido,
as premonições que têm lugar recorrente na narrativa, como quando Clara prevê resultados de
diversas eleições (acalma a ansiedade de Esteban anunciando sua vitória para o cargo de
senador e avisa ao filho, otimista com o desempenho dos socialistas, que “vão ganhar os de

11
MAIA, Gretha Leite. Alumbrar-se: realismo mágico e resistência às ditaduras na América Latina.
Anamorphosis, v. 2, n. 2, jul.-dez. 2016, p. 373. Disponível em:
<http://rdl.org.br/seer/index.php/anamps/article/view/92/pdf>. Acesso em: 23 jul. 2021.
14
sempre”12, por exemplo) e Luisa Mora alerta Alba sobre os suplícios que a menina sofreria
após o golpe, indicam uma concepção determinista da História. Esse aceno ao determinismo
faz com ACDE assuma contornos do clássico positivismo oitocentista ao encarar a História
como mito, isto é, “relato cerrado y predeterminado”13, com um télos próprio.

8. SAGA DE UMA FAMÍLIA, SAGA DE UM PAÍS


A partir da literatura, é possível depreender uma série de aspectos relativos à época
histórica retratada. Assim, os romances, contos e outros tipos de ficção narrativa constituem
instrumentos valiosos para a prática historiográfica. O livro aqui abordado se insere nesse
contexto e fornece um rico manancial de informações sobre o Chile no século XX: Allende,
ao narrar a trajetória dos del Valle-Trueba, narra simultaneamente a trajetória de seu país.

8.1. Panorama da evolução histórica do Chile no século XX


Na virada do século XX, o Chile apresentava um tradicional regime
oligárquico-liberal baseado em uma economia primário-exportadora. Os dois carros-chefes
desse modelo, o cobre e o salitre, ocupavam a maior parte da pauta de exportações chilena e
geravam as divisas que sustentavam um arranjo social excludente, pautado em um poder cujo
polo irradiador estava na propriedade da terra. Esse quadro era típico dos países
latinoamericanos no começo do século passado, mas o Chile contava com uma
excepcionalidade: a estabilidade política e a solidez institucional, que estavam muito à frente
do resto do continente, comparáveis apenas, talvez, às do Uruguai.
Progressivamente, e devido especialmente ao avanço de uma incipiente
industrialização e correlata emersão de novos atores sociais, como o operariado urbano e a
classe média, o regime oligárquico foi dando sinais de esgotamento. Em 1920, a eleição de
um presidenciável liberal apoiado por democratas e radicais, Arturo Alessandri, ensaiou um
reformismo que buscava dar início a uma democratização14, ao mesmo tempo em que
demarcou a força dos novos agentes políticos, estranhos à clássica bipartição da oligarquia
entre liberais e conservadores. O governo de Alessandri, porém, erodiu devido a uma crise
econômica e chegou ao fim com um golpe militar em 1924, que instaurou uma breve ditadura,
a qual objetivava, além de recuperar a economia, frear a crescente politização do operariado.

12
ALLENDE, 2020, p. 226.
13
AVELAR, Idelber. “La casa de los espíritus”: La Historia del Mito y el Mito de la Historia. Revista Chilena de
Literatura, Santiago, n. 43, nov. 1993, p. 73. Disponível em:
<http://www.bibliotecanacionaldigital.gob.cl/bnd/628/w3-article-201122.html>. Acesso em: 23 jul. 2021.
14
DEL POZO, José. História da América Latina e do Caribe. 1ª ed. Petrópolis: Vozes, 2009, p. 143.
15
Convulsionando ao longo de toda a década de 1920, a política oligárquica chilena
desmorona em definitivo na década de 1930. Evento fulcral para entendimento dessa
bancarrota é a crise de 1929, que “atingiu com golpe fatal o modelo primário-exportador e
criou as condições para abandoná-lo”15. Essa recessão teve impactos sociais calamitosos no
Chile, traduzidos, entre outros, em uma epidemia de febre tifóide, retratada em ACDE:
“Começou como mais uma calamidade que atingiu os pobres e logo adquiriu características
de castigo divino”16. Após uma década de turbulências políticas, o Chile retoma sua tradição
de estabilidade em 1938, com a eleição de uma coalizão entre comunistas, socialistas e
radicais para o governo: a Frente Popular. Esse momento é sintomático de uma nova lógica
que organizava a vida política chilena após o fim do regime oligárquico, baseada no
pluralismo e tributária dos avanços na industrialização, na urbanização e na escolarização,
bem como da ampliação do corpo eleitoral por meio do voto feminino. Aliada a esse
movimento de democratização, a política econômica chilena, a contar do pós-guerra, seguiu
as orientações pioneiras da CEPAL (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe),
órgão da ONU que criticava o imperialismo econômico e receitava às nações periféricas um
pacote de incentivo estatal à industrialização.
Vê-se, assim, que se conformou uma sociedade de massa comprometida com o
pluralismo político, mesmo que limitado por intervalos em que o Partido Comunista Chileno
era comprimido à ilegalidade. Durante as décadas de 1950 e 1960, a democratização do país
seguia avançando em ritmo acelerado. Consequentemente, o conflito social se acirrava pari
passu, o que levou à expansão da esquerda na política institucional e a crescentes politização
e polarização da sociedade. Essa dinâmica é transposta ao romance de Allende na medida em
que é a partir do terceiro ato, o qual se inicia por volta do fim da década de 1950, que a
política se torna tema central da trama e se observa o envolvimento de todos os personagens
com a temática do poder, passiva ou ativamente: Alba se engaja no movimento estudantil,
Jaime atua no Partido Socialista e Esteban Trueba promove um anticomunismo agressivo.
Frente ao célere avanço das pautas de esquerda, a classe dominante chilena apostou
em uma política de contenção ao apoiar o Partido Democrata-Cristão, expressão das classes
médias reformistas que representavam um meio-termo entre a tradicional direita reacionária e
a coalizão radical de socialistas e comunistas. Encarnada no governo de Eduardo Frei
(1964-1970), essa experiência também se insere em um contexto de respaldo dos Estados
Unidos a iniciativas reformistas no nosso continente, por meio da Aliança para o Progresso,

15
ZANATTA, Loris. Uma breve história da América Latina. 1ª ed. São Paulo: Cultrix, 2017, p. 121.
16
ALLENDE, 2020, p. 142.
16
como forma de aplacar a luta de classes e evitar o surgimento de uma “nova Cuba”. Todavia,
a promessa da DC de realizar uma “revolução em liberdade” malogrou devido às suas
contradições17. Se, de um lado, os tímidos avanços sociais (como uma lei de reforma agrária
que expropriou poucas propriedades) não satisfizeram a esquerda, do outro, o aceno a uma
remodelação do sistema sobressaltou a direita, imbuída de um anticomunismo do qual
Esteban Trueba é uma caricatura fiel.

8.2. O governo da Unidade Popular e o golpe de 1973


Foi nesse contexto de fragmentação da direita entre a DC e partidos conservadores
tradicionais que o candidato socialista, Salvador Allende, venceu as eleições presidenciais de
1970 pela Unidade Popular, uma coalizão que unia radicais, comunistas e socialistas, ecoando
a mesma aliança que garantiu a vitória da Frente Popular em 1938. Foi uma eleição apertada,
que Allende ganhou por uma margem estreita. Em ACDE, é relatada a maneira como o povo
tomou as ruas comemorando o triunfo do candidato que prometia conduzir o Chile por uma
“via democrática ao socialismo”, enquanto a burguesia do bairro alto se escondia em suas
casas, evento que realmente ocorreu e que Winn compara a um carnaval, tal era a euforia.18
Eleito e empossado, Salvador Allende ainda tinha um longo caminho a percorrer se
quisesse cumprir seu compromisso de realizar a transição para o socialismo respeitando a
legalidade institucional. Para tal, lançou mão de uma série de dispositivos legais preexistentes
para levar a cabo as mudanças estruturais que considerava fundamentais: a reforma agrária, a
nacionalização das minas de cobre e do sistema financeiro e a socialização das maiores
indústrias chilenas. O presidente foi bem sucedido em todos esses empreendimentos. Já em
1971, nacionalizou o cobre, reivindicação antiga no Chile e que contava com o apoio até
mesmo da direita, por meio de uma lei aprovada com folga no Congresso. Para realizar as
outras transformações, porém, Allende não contava com maioria parlamentar, o que o levou a
mobilizar outros meios, como a lei de reforma agrária democrata-cristã, que foi posta em
prática em patamares nunca antes vistos: em dezoito meses, foi concluída a expropriação de
mais seis milhões de hectares, processo mais rápido da história19. Por sua vez, a
nacionalização do sistema financeiro se deu pela atuação do Estado como comprador de
pacotes majoritários de ações dos principais bancos privados, monopolizados por um punhado
de famílias tradicionais. Além disso, a socialização das empresas de maior produção nacional

17
DOS SANTOS, Fabio Luis Barbosa. Uma história da onda progressista sul-americana (1998-2016). 1ª ed.
São Paulo: Elefante, 2018, p. 330.
18
WINN, 2009, p. 69.
19
Ibid., p. 100.
17
foi viabilizada pela Área de Propriedade Social e Mista (APS), instituída por intermédio do
uso renovado de decretos-lei da década de 1930, durante a Grande Depressão, que
autorizavam a intervenção estatal em fábricas cuja produção era estratégica20. Por fim, fiel a
sua vocação de pediatra, Allende institui uma distribuição diária de meio litro de leite por
criança chilena, relatada em ACDE quando Alba rememora a deterioração social causada pela
suspensão dessa medida por parte do governo militar21.
Toda essa movimentação institucional foi acompanhada por uma efervescência social
e cultural que contaminou toda a sociedade chilena. Por todo o país, os chilenos viviam a
revolução, seja construindo-a, seja opondo-se a ela. Encorajados pela atuação da presidência,
diversos agentes excluídos do funcionamento do capitalismo chileno aproveitaram o apoio de
Salvador Allende aos movimentos sociais e se dedicaram a tomar direitos sociais até então
negados. É o caso das numerosas tomas, ocupações de propriedades que tiveram palco tanto
no meio urbano quanto no meio rural, por parte dos sem-teto e dos camponeses; e das
ocupações fabris, por parte dos trabalhadores industriais. A ampla adesão da classe
trabalhadora à revolução pode ser observada em ACDE no momento em que Las Tres Marías
é expropriada pela reforma agrária. Quando Esteban Trueba se inteira, dirige-se furioso à
propriedade, armado, mas é neutralizado pelos trabalhadores, que já haviam tomado posse da
fazenda e começavam a se dedicar à gestão. Isabel Allende também exprime o caráter geral da
revolução ao postular que “depois da eleição, todos viram sua vida mudar”22.
Concomitantemente a esse sucesso inicial da Unidade Popular, que aumentou os
salários reais, controlou a inflação e melhorou a qualidade de vida da classe trabalhadora
numa escala sem precedentes, engendrava-se no Chile uma conspiração com o fito de solapar
o projeto socialista. Desde o anúncio do resultado das eleições, os Estados Unidos estavam
determinados a não permitir que Allende tomasse posse e chegaram mesmo a propor um
golpe entre os setores conservadores e os militares. Quando essa tentativa fracassou, a
potência estrangeira apostou em um plano de sabotagem econômica, que assumiria a forma de
um “embargo invisível”: o Chile não mais conseguiria acesso a crédito ou à importação de
insumos precípuos à sua produção industrial. Essa ingerência externa estava estreitamente
alinhada com a postura da burguesia chilena, que procurava implodir a economia nacional
para que se abrisse caminho para a queda de Allende. Em ACDE, o mais devotado partícipe
dessa conspiração burguesa é Esteban Trueba, que organiza uma reunião no dia seguinte à

20
Ibid., p. 83.
21
ALLENDE, 2020, p. 393.
22
Ibid., p. 356.
18
eleição para esboçar os contornos do plano de sabotagem e se torna o primeiro dos
conspiradores a clamar por um golpe militar.
Após o estrondoso primeiro ano da experiência revolucionária chilena, o governo
começa a ser acossado pelos esforços contrarrevolucionários. O vertiginoso aumento da
demanda, causado pelo aumento de 30% dos salários reais, combinado à estratégia de
sabotagem dos empresários e do imperialismo, deu início a uma crise de abastecimento. Esse
momento delicado é ilustrado detalhadamente em ACDE, com a descrição das filas, da
ascensão do mercado negro e do estocamento de comida feito por Blanca. Inflamando ainda
mais a situação, o patronato, junto aos Estados Unidos, patrocina uma greve de caminhoneiros
(novamente retratada por Isabel Allende em seu romance). O desabastecimento catalisa a
defecção da classe média do projeto revolucionário e sua adesão à contrarrevolução, o que dá
aos militares chilenos a confiança necessária para dar o fatídico golpe de 11 de setembro de
1973.
O dia do golpe abre o capítulo XIII de ACDE, O Terror. Esse outro 11 de setembro é
retratado vivamente no romance, em que há, inclusive, uma reprodução fiel do último
discurso que Allende pronunciou à população, antes que os militares bombardeassem o
Palácio de la Moneda e assassinassem o presidente eleito, sinalizando o trágico fim de uma
experiência democrática sui generis na história da América Latina. No romance, é narrada a
desilusão de Esteban Trueba, maior entusiasta da intervenção, ao perceber que os militares
não pretendiam devolver o poder aos civis; pelo contrário, instalaram uma ditadura que
duraria dezessete longos anos sob o comando férreo do general Augusto Pinochet, principal
articulador do golpe.
Pinochet desfez todos os avanços sociais conquistados durante a era Allende e
condenou a classe trabalhadora à miséria. A atuação da força-tarefa da ditadura para a
economia, os Chicago Boys — jovens tecnocratas educados na Universidade de Chicago com
as teorias antipovo de Milton Friedman —, fez com que o Chile se tornasse um laboratório
experimental do neoliberalismo, modelo que ganharia o mundo nas décadas seguintes. A
maioria das empresas estatais foram privatizadas, a reforma agrária foi revertida (ponto que
marca presença em ACDE, quando Esteban Trueba reavê Las Tres Marías), os salários foram
sufocados, o congelamento de preços foi suspenso, e a justiça trabalhista, desmontada, em um
movimento que Naomi Klein chamou de “massiva transferência de riqueza do público para o
privado, seguida de uma massiva transferência de dívidas privadas para mãos públicas”23.
Essas medidas garantiram o controle da inflação e o crescimento da economia, às custas do
23
KLEIN, Naomi. The Shock Doctrine. 1ª ed. Nova Iorque: Picador, 2007, p. 106, tradução minha.
19
povo chileno. Os índices de desemprego e pobreza dispararam e a fome voltou a grassar
enquanto a burguesia chilena tinha acesso, pela primeira vez e cada vez mais, a bens de luxo
importados. Essa desigualdade marca profundamente o Chile, que foi vendido como caso de
sucesso do neoliberalismo devido à recuperação econômica e à elevação do consumo das
classes altas. Contudo, essa narrativa elude a presença massiva daqueles que Eduardo
Galeano24 chamou de subchilenos: o imenso contingente de cidadãos que não foram
contemplados pelas maravilhas do modelo de Chicago.
Essa erosão social é contada por Alba em ACDE. É a indignação frente ao cenário
ditatorial que a motiva a integrar a luta contra os militares, colaborando com padres
esquerdistas e levando os perseguidos políticos para embaixadas em que pudessem pedir asilo
e deixar o país, ao volante do antigo carro de seu tio Jaime. Tal resistência se articula em
contraposição ao terrorismo de Estado praticado pelo novo regime. No imediato pós-golpe, o
Chile foi palco de uma série de massacres perpetrados pelos militares, ou com o aval deles,
contra trabalhadores, líderes sindicais, dirigentes estudantis, artistas e qualquer outro
indivíduo que defendesse uma ideologia de esquerda. Com a progressiva institucionalização
do regime, o terror também se institucionalizou, gerando um aparato repressivo centrado na
Direção de Inteligência Nacional (DINA). Essa polícia política foi responsável por prender,
torturar e assassinar milhares de chilenos considerados “subversivos”. Além das prisões
sumárias e torturas variadas, a ditadura chilena, como suas congêneres sul-americanas,
promoveu o desaparecimento de milhares, estratégia que visava à disseminação do medo
entre os opositores, que poderiam “desaparecer no ar” a qualquer momento. Essa violência
política tinha um duplo objetivo: de um lado, esfarelar as redes de militância e luta social
criadas antes do golpe; de outro, impedir o surgimento de uma oposição organizada à nova
política econômica.
Cada vez mais envolvida com a resistência, tendo inclusive dado abrigo a seu
namorado Miguel, que entrara para as fileiras da guerrilha, Alba Trueba se vê surpreendida, à
noite, em sua casa, por soldados que a levam para um quartel. Lá, Alba é iniciada nos rituais
de tortura a que as presas políticas eram submetidas, que iam desde o choque elétrico até o
estupro. Nessas páginas, Isabel Allende desnuda todo o horror que regia a ditadura militar
chilena, ao fornecer detalhes gráficos da violência que Alba e outras mulheres sofriam:
“[Esteban García] enfiou sua cabeça num balde cheio de excremento até ela desmaiar de
nojo”25. Aqui, há de se reconhecer a importância que reside no fato de um livro publicado em

24
GALEANO, Eduardo. O livro dos abraços. 14ª ed. Porto Alegre: L&PM, 2019, p. 33.
25
ALLENDE, 2017, p. 424.
20
1982, ou seja, ainda durante o regime de Pinochet, denunciar os crimes contra a humanidade
que foram cometidos pela ditadura. O romance de Allende é, para além disso, uma ode à
capacidade gregária das mulheres, as quais, mesmo em um campo de concentração como o
que Allende retrata, são capazes de apoiar umas às outras e resistir ao sadismo dos militares.

9. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Tendo em vista tudo que foi discutido, pode-se tecer algumas considerações, à guisa
de conclusão. Antes de tudo, cabe destacar que o livro aqui analisado, A Casa dos Espíritos, é
uma obra ficcional de excepcional qualidade literária, tanto pelos temas que aborda quanto
pela forma com que a narrativa se articula para abordá-los. A primazia da escrita de Isabel
Allende, já notória neste que foi seu primeiro romance, garantiu-lhe o Prêmio Nacional de
Literatura em 2010, maior galardão literário do Chile — marco importante na brilhante
carreira de uma escritora que elevou a prosa latinoamericana e deixou sua assinatura nos anais
da nossa literatura.
Além disso, e focalizando o ponto que constituiu o objetivo central deste trabalho, A
Casa dos Espíritos deve ser encarado como uma poderosa ferramenta a ser utilizada para
compreender as vicissitudes da sociedade chilena ao longo do século XX, numa perspectiva
mais ampla, e ao longo dos governos radicalmente opostos de Salvador Allende e Augusto
Pinochet, numa lente de análise mais aproximada. Seguindo uma longa tradição de diálogo
entre História e literatura, entendemos que as obras do campo literário podem oferecer uma
posição privilegiada para dissecar aspectos sociais, culturais, econômicos e políticos de toda
sorte de momento histórico, os quais as fontes mais convencionais, talvez, não fossem
capazes de vislumbrar. Essa tradição é confirmada com louvores a partir da aplicação de A
Casa dos Espíritos na pesquisa historiográfica da história chilena, fundamentada no retrato
vívido e pulsante que Isabel Allende desenha de seu país.
Portanto, é possível concluir que A Casa dos Espíritos é um romance de grande
calibre literário, capaz de instigar, emocionar e indignar seu leitor. Mas não só isso: também é
um valioso instrumento para a compreensão da realidade material de uma sociedade que viveu
uma das trajetórias mais emblemáticas de nosso continente ao longo do século XX — uma
epopeia de grandes sonhadores que lutaram pela justiça social, cujo réquiem foi cantado por
vozes militares.

21
10. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALLENDE, Isabel. A Casa dos Espíritos. 50ª ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2020.

_______________. “Soy como el escorpión”. El País, 23 ago. 2007. Disponível em:


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22
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23

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