TCP Caio Maritan

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 37

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

Universidade Federal de Alfenas / UNIFAL-MG


Instituto de Ciências Sociais Aplicadas – ICSA
Avenida Celina Ferreira Ottoni, 4000. Varginha - MG CEP 37048-395
Fone: (35) 3219-8640

Caio César Maritan Cunha

TRIBUTAÇÃO REGRESSIVA E OS IMPACTOS NA


DESIGUALDADE DE RENDA BRASILEIRA

VARGINHA/MG
2019
Caio César Maritan Cunha

TRIBUTAÇÃO REGRESSIVA E OS IMPACTOS NA DESIGUALDADE DE


RENDA BRASILEIRA

Trabalho de Conclusão do PIEPEX apresentado


como parte dos requisitos para obtenção do Título
de Bacharel interdisciplinar em Ciências e
Economia pelo Instituto de Ciências Sociais
Aplicadas/ICSA da Universidade Federal de
Alfenas/UNIFAL-MG.
Orientando: Caio César Maritan Cunha
Orientadora: Prof. Me. Nildred Stael Fernandes
Martins

VARGINHA/MG
2019
Agradecimentos

Ao meu irmão Thiago, que me ajudou a ser resiliente diante das


dificuldades cotidianas e por estar sempre ao meu lado.

A minha avó Lourdes, que é meu exemplo de caráter e humanidade,


tornando meu dia-a-dia o mais positivo possível.

A minha tia Silvana, por ter me inspirado ao mundo acadêmico e


incondicional apoio que me deu durante essa caminhada.

Ao meu falecido avô Antônio, por ser a minha base moral e ética e ter me
ensinado a ver o mundo pela ótica positiva.

A minha orientadora, Prof. Me. Nildred Stael Fernandes Martins, que se


dedicou brilhantemente ao processo de orientação e o grande apoio que me
forneceu referente ao tema desse trabalho. Por ter sido atenciosa e companheira
durante a elaboração do trabalho, cujo a sabedoria me ajudou imensamente não
apenas na elaboração do trabalho como na minha formação acadêmica ainda em
andamento.

A Euclides, amigo e colega de caminhada universitária, que me ajudou


imensamente no meu aprofundamento cientifico e pelo companheirismo.
RESUMO

Este trabalho faz uma análise do sistema tributário brasileiro, apresentando dados que
permitem classificá-lo como regressivo, e procura relacionar o impacto dessa regressividade
sobre o processo de concentração de renda no país. Especificamente, procura-se analisar as
mudanças implantadas no sistema tributário brasileiro em fins da década de 1980 e início da
década de 1990, que seguiram as concepções e prescrições de política econômica que
prevaleceram neste período e que derivaram de uma evolução metodológica e histórica da
teoria da tributação ótima. De modo geral, verifica-se que a forma pela qual foi implantado o
sistema de tributação direta sobre as pessoas físicas, com poucas faixas de renda e tributação
baixa sobre a faixa de maior renda; e sobre as pessoas jurídicas, com baixa tributação sobre os
lucros e isenção de tributação sobre os dividendos, conferiu ao sistema um caráter regressivo.
Assim como a alta incidência da tributação indireta, especialmente sobre o consumo, que
acaba fazendo com que o impacto do pagamento de impostos sobre a renda da população de
mais baixa renda seja proporcionalmente maior. Contribuindo assim para o aumento da
desigualdade de renda.

PALAVRAS-CHAVE: Tributação regressiva. Desigualdade de renda. Sistema tributário.


Reforma tributária.
ABSTRACT

This paper analyzes the Brazilian tax system, presenting data that can be classified as
regressive, and seeks to relate the impact of this regressivity on the process of income
concentration in the country. Specifically, it seeks to analyze the changes implanted in the
Brazilian tax system in the late 1980s and early 1990s, which followed the conceptions and
prescriptions of economic policy that prevailed in this period and that derive from a
methodological and historical evolution of the theory of optimal taxation. In general, it is
verified that the way in which the system of direct taxation on individuals was implemented,
with few income and low tax rates on the highest income bracket; and on corporations, with
low taxation on profits and exemption from taxation on dividends, gave the system a
regressive character. As well as the high incidence of indirect taxation, especially on
consumption, which ends up making the impact of paying income taxes on the lowest income
population proportionally higher. Thus contributing to the increase of income inequality.

KEYWORDS: Regressive taxation. Rent inequality. Tax system. Tax reform.


LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

DIRPF – Declaração do Imposto sobre a Renda da Pessoa Física

FMI – Fundo Monetário Internacional

IRPF – Imposto de Renda Pessoa Física

IRPJ – Imposto de Renda Pessoa Jurídica

OCDE – Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico

PF – Pessoa Física

PIB – Produto Interno Bruto

PJ – Pessoa Jurídica

TJLP – Taxa de Juros de Longo Prazo

UE – União Europeia
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 8

1 - SISTEMA TRIBUTÁRIO: CONCEITO E PRINCIPAIS ABORDAGENS ..10

1.1 - Estado e tributação ............................................................................................10


1.2 - Impactos da retomada de uma tributação regressiva ....................................14

1.3 - Regressividade e desigualdade de renda no Brasil .........................................16

2 - SISTEMAS TRIBUTÁRIOS: PORTUGAL E MÉXICO .................................19

2.1 - Sistema tributário português ............................................................................19

2.2 - Sistema tributário mexicano .............................................................................21

2.3 - Comparação de índices ......................................................................................23

3 - ANALISE DO BRASIL ........................................................................................25

3.1 - Sistema tributário brasileiro .............................................................................26

3.2 - A regressividade do sistema tributário brasileiro ...........................................27

3.3 - Efeitos na desigualdade de renda no Brasil .....................................................31

4 – CONCLUSÃO ......................................................................................................32

REFERENCIAL BIBLIOGRÁFICO .......................................................................35


8

Introdução

O sistema tributário brasileiro é caracterizado por apresentar uma das mais altas cargas
tributárias dentre os países em desenvolvimento, aproximadamente 33% do PIB, e pela
regressividade dos seus impostos, que incidem predominantemente sobre a renda e o
consumo. Esta caracterização contribuiu, grosso modo, para a desigualdade de renda
apresentada pelo país.

O nascimento do atual sistema tributário brasileiro foi fruto de concepções ideológicas


que começaram a ser discutidas na década de 1970, se popularizando na década de 1990. De
acordo com o mainstream, o sistema regressivo seria o mais adequado para a promoção do
bem-estar e redução da desigualdade de renda entre os agentes econômicos. Todavia, ao
contrário do previsto pela teoria, a implementação desse sistema gerou maior concentração de
renda, piorando o panorama brasileiro que já era de uma situação desigual.

Esses resultados pouco satisfatórios têm incentivado o debate a favor de uma mudança
no sistema tributário brasileiro em direção a uma maior progressividade, especialmente
através da redução dos impostos sobre o consumo e a produção e do aumento dos impostos
sobre a renda, com maior incidência sobre as camadas mais ricas da população.

Este trabalho tem como objetivo analisar, através de uma revisão bibliográfica e
análise de dados secundários, a regressividade dos impostos brasileiros e seus impactos sobre
a desigualdade de renda. Reforçando, dessa maneira, a tese em defesa da necessidade da
implantação de um sistema tributário progressivo no país.

Para tanto este trabalho conta com três capítulos, além desta introdução e da
conclusão. O primeiro capítulo aborda a necessidade e importância do sistema tributário na
economia de um país, as principais linhas teóricas e formas de implantação desse sistema. No
segundo capítulo são apresentados, ainda que de forma sucinta, os sistemas tributários de um
país desenvolvido: Portugal, e de um país em desenvolvimento: México, como base de
comparação para a análise do sistema tributário brasileiro. Além disso, procura-se analisar os
impactos dos sistemas tributários sobre a distribuição de renda desses países. O terceiro
capítulo faz uma análise do sistema tributário brasileiro e da sua relação com a desigualdade
de renda apresentada pelo país. A conclusão apresenta os principais resultados do trabalho e
9

procura indicar caminhos para a adoção de um sistema mais progressivo e alinhado com a
promoção da redução da desigualdade de renda.
10

1 – Sistema tributário: conceito e principais abordagens

1.1 – Estado e tributação

A existência do Estado é dada de forma não natural1 e pela associação de diversas


pessoas que voluntariamente se agrupam a fim de estabelecer um interesse em comum, sejam
eles: resolução de conflitos, garantia da justiça e padronização da moeda, onde se pode
destacar o principal objetivo de continuidade da espécie humana. O Estado visa defender seus
associados de barbáries, como a noção do poder físico como fonte da legitimidade de
governar, arbitrariedades como escravidão e não liberdade humana (tanto no sentido físico,
psicológico e econômico), assim como garantir a premissa da continuidade humana de forma
digna. Portanto, deve garantir a plena liberdade e segurança daqueles que o criaram e o
mantêm, caso contrário, a existência deste é incoerente, como trata Rousseau (1978).
Consequentemente, o Estado é a representação da vontade dos seus associados, dada através
do contrato social onde o próprio Rousseau (1978) analisa em sua magnum opus:

Encontrar uma forma de associação que defenda e proteja a pessoa e os bens


de cada associado com toda a força comum, e pela qual cada um, unindo-se
a todos, só obedece, contudo, a si mesmo, permanecendo assim tão livre
quanto antes. Esse, o problema fundamental cuja solução o contrato social
oferece. (1978, p. 32)
Um Estado não se sustenta de forma autônoma. Como uma instituição criada por
humanos para defender os seus interesses, a existência da tributação é essencial para que o
mesmo funcione e desempenhe suas funções. Algumas dessas funções que justifica o direito
do Estado à tributação é o fornecimento de bens e serviços que não podem ser providos pelo
mercado, como o fornecimento da segurança, o direito a justiça e a construção da
infraestrutura nacional. São exemplos de bens e serviços que o seu acesso não é ditado pelo
mecanismo de mercado, pois o uso destes serviços por uma pessoa não impede a outra de usar
e usufruir deles (GREMAUD; VASCONCELLOS; TONETO, 2007, P. 63), assim como a
justiça não pode ser provida pelo mecanismo do egoísmo individual, por ser contraditória à
definição de justiça e suas bases.

Uma das formas da tributação feita para custear estes bens e serviços é o imposto, que
pode ser cobrado de forma direta ou indireta. Impostos diretos são aqueles que incidem
diretamente sobre quem paga o imposto. Os principais impostos desse tipo são os impostos

1
O estado natural humano não admite Estado, melhor tratado em Rousseau (1978).
11

sobre a renda (salários) e os impostos sobre a riqueza (propriedade). Impostos indiretos são
aqueles que incidem sobre o preço dos bens e serviços: imposto sobre circulação de bens,
imposto de produtos industrializados e impostos sobre serviços, em que normalmente o
empresário embute o valor do imposto no preço do bem ou serviço, onerando o consumidor,
com que diminui sua renda disponível final (GREMAUD; VASCONCELLOS; TONETO, 2007,
P. 198).

Como pontuado, os impostos têm capacidade de afetar a renda final, seja dos
consumidores através do imposto indireto ou das pessoas físicas e jurídicas, através da
tributação sobre sua renda e riqueza de forma direta. A forma de cobrança dos impostos
define diversos sistemas tributários, que podem ser classificados como progressivo, regressivo
ou neutro (GREMAUD; VASCONCELLOS; TONETO, 2007, P. 199).

Um sistema tributário é progressivo quando a participação dos impostos na renda dos


indivíduos aumenta conforme maior for a renda, isto é, aqueles que pagam mais são os que
possuem maior capacidade contributiva para o Estado através dos impostos. Um sistema
regressivo é aquele que taxa mais quem tem menor capacidade contributiva, ou seja,
conforme a renda total disponível diminui, maior é a incidência dos tributos sobre o mesmo.
Os sistemas tributários neutros são aqueles que não geram diferenciação entre capacidade
contributiva, sendo linear para todos os contribuintes. (GREMAUD; VASCONCELLOS;
TONETO, 2007, P. 199)

Por ter esta característica de definir qual tipo de sistema tributário irá usar, o Estado
pode impactar a renda final de seus cidadãos, podendo orientar suas políticas a fim de
diminuir a desigualdade de renda. É importante notar que todas suas decisões impactam as
relações de mercado, podendo alterar os preços relativos, o que de certa forma pode definir a
destinação e distribuição da renda na sociedade. (GREMAUD; VASCONCELLOS;
TONETO, 2007, P. 199). Considerando a relação entre sistema tributário e distribuição de
renda, a seguir são apresentados os principais pontos das escolas neoclássica e keynesiana
sobre o tema, assim como suas derivações mais recentes.

Em linhas gerais, a escola neoclássica se baseia na noção do Estado mínimo, ou seja,


de que o Estado deve interferir o mínimo possível na economia e que o mercado é mais
eficiente na promoção do bem estar para a população. Para esta escola o Estado deve prover
apenas os serviços básicos através de um sistema tributário que cause o mínimo possível de
distorções ao mecanismo do mercado. Tais princípios nortearam as concepções e prescrições
12

de política econômica que prevaleceram nos anos 1980 e 1990 e que derivaram de uma
evolução metodológica e histórica da teoria da tributação ótima, conforme destacam Gobetti e
Orair (2016)2. De acordo com os autores,

“ por influência de leituras restritivas da literatura de tributação ótima, num contexto


em que a revolução novo-clássica dos anos 1970 questionava toda a política fiscal do
keynesianismo, construiu-se uma espécie de consenso no mainstream e entre
policymakers de que a política tributária, para não introduzir distorções no sistema
econômico, deveria se abster dos objetivos distributivos, transferindo-se ao gasto
público essa função clássica da política fiscal”. (GOBETTI; ORAIR, 2016, pag.8)

Já a escola keynesiana, interpretada neste trabalho como aquela que se baseia nos
preceitos de Keynes conforme elaborados em sua principal obra: a Teoria Geral do Emprego,
do Juros e da Moeda de 1936, defende uma atuação mais ativa do Estado. Especificamente,
defende que a política tributária pode e deve ser usada para promover a realocação da renda
através da cobrança de impostos sobre a herança e progressivos sobre a renda, além de
recomendar políticas de transferência de renda. Essa abordagem argumenta que tais políticas,
além de proporcionarem uma distribuição mais igualitária da renda, também podem
impulsionar o consumo agregado, visto que a propensão média a consumir dos mais pobres é
maior.

A literatura recente sobre o tema, que tem como uma de suas principais referências a
obra de Piketty (2014), questiona as concepções e prescrições de política econômica que
prevaleceram nos anos 1980 e 1990, e que são adotadas no Brasil atualmente, especialmente
no que diz respeito à política tributária. De modo geral, o autor considera que as políticas
adotadas durante as décadas de 1980 e 1990 foram responsáveis pelo grande aumento na
desigualdade de renda, principalmente pela ótica da tributação, o qual impactou os rumos das
economias desenvolvidas e em desenvolvimento.

Como forma de redução dessa desigualdade Piketty (2014), em consonância com os


preceitos keynesianos, considera que:

“o instrumento privilegiado da redistribuição pura é a redistribuição fiscal,


que, por meio de tributações e transferências, permite corrigir a desigualdade
das rendas produzida pela desigualdade das dotações iniciais e pelas forças
de mercado, ao mesmo tempo que preserva ao máximo a função alocativa do
sistema de preços. (PIKETTY, 2014, p. 89)

2
De acordo com Gobetti e Orair (2016) a teoria da tributação ótima se baseia “... no alegado trade-off entre
equidade e eficiência e em hipóteses muito restritivas sobre o comportamento individual e a dinâmica
econômica, produzia modelos extremos, em que o IR deveria ter uma alíquota linear e as rendas do capital não
deveriam ser tributadas para não distorcer incentivos econômicos.” (Gobetti e Orair, 2016, pág. 7)
13

Piketty (2014) argumenta que com a redistribuição fiscal justa, as oportunidades para
o aumento da eficiência e da produtividade aumentam, conforme propõe o modelo de capital
humano3.Dessa forma, assegura um maior crescimento associado a um maior
desenvolvimento econômico.

Para evidenciar seu ponto, de que uma tributação progressiva e justa é a melhor saída
para a redistribuição de renda, o autor realizou a análise de uma ferramenta de tributação
regressiva nos Estados Unidos sob o nome de EITC: “Earned income tax credit”. O EITC foi
caracterizado pela implantação do imposto regressivo sob o salário, em que assalariados que
ganhavam até 9000 dólares por ano, eram taxados em 40% dessa renda, decrescendo até os
estratos maiores de rendas assalariadas onde essa taxa era de 20%. (PIKETTY, 2014, p. 101).

Piketty (2014) concluiu que a redução da tributação das faixas de renda média e alta,
justamente as que têm maior capacidade de contribuição fiscal, contribuiu para o aumento da
desigualdade de renda. Enquanto a redução das tributações sob os estratos de menor renda
permitiria melhorar a situação dos indivíduos menos favorecidos. Para evidenciar o resultado
da sua análise do EITC e sua conclusão anterior, ele relacionou essa crescente taxação sobre
os mais pobres e a diminuição sobre aqueles que podem contribuir mais, a uma curva “U” de
Kuznets4.

Nesta análise o autor evidenciou que uma maior taxação sob os estratos de renda mais
pobres, levam a uma maior elasticidade da renda em relação ao tributo. Enquanto a
elasticidade da renda da população de maior renda é menor em relação à tributação. Diante
dessa analise o mesmo conclui que uma taxação de acordo com essas elasticidades é
necessária para uma melhor redistribuição da renda.

Consequentemente isto levaria a uma maior renda disponível para a melhora da


situação dos estratos mais pobres, sendo possível aos mesmos investirem e aumentando os
efeitos dos modelos de capital humano nos estratos mais pobres, assim aumentando a
produtividade e ofertando melhores condições de vida aos indivíduos de menor renda. No

3
Aqui se insere a visão de Becker com seu livro Human Capital (1964), que deriva o capital humano em algo
similar aos meios de produção, onde o indivíduo investiria em si mesmo através da educação, saúde e
treinamento profissional, tornando sua produtividade maior como retorno desse investimento em si mesmo.
Como também se insere as críticas marxistas feito por Bowles e Gintis no livro The Problem with Human
Capital Theory (1975, p. 74-82) tratando que o capital humano não pode ser um processo do mecanismo
produtivo capitalista e sim um fator que seja contributivo para o trabalhador. Trabalhador este que detém o seu
capital humano e não o sistema produtivo em si.
4
Piketty utiliza a curva de “U” de Kuznets sob a elasticidade da renda diante de uma tributação, concluindo que
os estratos mais pobres da sociedade são mais afetados por impostos. (2014, p. 97)
14

entanto isso só seria possível num sistema tributário progressivo, diferente da EITC analisada
pelo autor (PIKETTY, 2014).

Em suma, o aumento da desigualdade da renda resultante dos modelos de tributação de


tradição neoclássica que prevaleceram nas décadas de 1980 e 1990 direcionaram o debate
atual para a retomada dos preceitos keynesianos, especialmente em relação à tributação da
renda e das grandes fortunas, associado às modernas teorias do capital humano, conforme
abordado por Piketty (2014). A relevância deste debate, se encontra na crescente concentração
da renda, tanto em termos mundiais, como no caso específico do Brasil, e na necessidade
urgente de se encontrar caminhos para a reversão desse quadro.

1.2 – Impactos da retomada de uma tributação regressiva

Os princípios que nortearam as concepções e prescrições de política econômica que


prevaleceram nos anos 1980 e 1990 e que derivaram de uma evolução metodológica e
histórica da teoria da tributação ótima, consideravam que que para haver crescimento deveria
existir uma tributação que favorecesse os mais ricos (tributação regressiva). Desde então há
um aumento das políticas neoclássicas de tributação, aprofundada com a popularização da
economia do gotejamento (Trickle-down economics), um conceito usado pelos críticos da
economia clássica e neoclássica.

A lógica é que este tipo de tributação criaria um efeito de gotejamento para as classes
com rendas inferiores, que levaria ao aumento da renda de todos, mesmo que os mais ricos se
beneficiassem mais. Galbraith (2017) observa que esse tipo de política econômica já havia
sido tentada nos Estados Unidos com o nome de “A Teoria do Cavalo e do Pardal”5, e
resultou no Pânico de 1896 que, de acordo com o autor, ajudou a aprofundar a primeira crise
capitalista mundial.

No Brasil, o debate sobre a relação entre sistema tributário e desigualdade de renda se


tornou mais relevante na década de 1970, com a publicação do Censo Demográfico de 1970
pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE. Os resultados do Censo revelaram
que houve uma piora na distribuição de renda desde a instalação do regime militar, apesar das
altas taxas de crescimento da economia brasileira no período.

5
Galbraith usa essa expressão para descrever a depressão econômica ocasionada pelo Pânico de 1896, em que se
tinha a noção de que “se você der aveia o suficiente para alimentar o cavalo, um pouco irá cair para que os
pardais na estrada o comam”.
15

Neste sentido, os críticos da ditadura militar, como Hoffman e Duarte (1972) e


Fishlow (1972), apontaram falhas das políticas governamentais e das instituições como as
principais causas do aumento da desigualdade de renda. Celso Furtado (1981), por sua vez,
relacionou a concentração de renda ao padrão de consumo de uma elite que era minoria da
população e pouco contribuía para o desenvolvimento econômico. Especialmente devido à
baixa participação do consumo na sua renda e, consequente, baixa contribuição na tributação
indireta. Defendia a maior atuação do Estado e o aumento das alíquotas sobre a renda da elite
brasileira.

Ainda assim, durante o período militar, que permaneceu até 1985, a política tributária
implantou medidas regressivas, diminuindo a alíquota máxima de 65% para 50% sobre o
imposto de renda pessoa física (GOBETTI; ORAIR, 2016, p. 10), e criando impostos
indiretos cumulativos (VARSANO, 1996).

Com o fim do regime militar e a retomada democrática, a política tributária seguiu as


prescrições que prevaleciam no momento, ou seja, assumiu a regressividade como a melhor
forma de proporcionar o crescimento e a melhoria da distribuição de renda no país. Conforme
destacam Gobetti e Orair (2016), neste período foram implantadas medidas como a redução
das faixas do imposto de renda pessoa física – IRPF, que passaram de onze para três, e a
redução da alíquota máxima de 50% para 27,5%, implantadas no Governo Sarney. Além
disso, em 1990 foi implementada a isenção dos dividendos, e em 1995 o Estado brasileiro
aprovou duas reformas legislativas com o intuito de atrair investimentos e capital estrangeiro,
reduzindo ainda mais o total tributável, sob a ótica da Pessoa Jurídica, através da Lei n°
9249/1995:

Art. 9º − A pessoa jurídica poderá deduzir, para efeitos da apuração do lucro


real, os juros pagos ou creditados individualizadamente a titular, sócios ou
acionistas, a título de remuneração do capital próprio, calculados sobre as
contas do patrimônio líquido e limitados à variação, pro rata dia, da Taxa de
Juros de Longo Prazo (TJLP).
(...)
Art. 10º − Os lucros ou dividendos calculados com base nos resultados
apurados a partir do mês de janeiro de 1996, pagos ou creditados pelas
pessoas jurídicas tributadas com base no lucro real, presumido ou arbitrado,
não ficarão sujeitos à incidência do imposto de renda na fonte, nem
integrarão a base de cálculo do imposto de renda do beneficiário, pessoa
física ou jurídica, domiciliado no País ou no exterior.
Dessa forma o Estado brasileiro consolidou a regressividade do seu sistema tributário,
a qual prevalece até os dias atuais.
16

1.3 – Regressividade e desigualdade de renda no Brasil

Em 2016 o Brasil tem uma das maiores cargas tributárias dentre os países em
desenvolvimento, representando 33% do PIB (GOBETTI; ORAIR, 2016), valor próximo da
realidade dos países desenvolvidos. No entanto essa tributação é feita majoritariamente
através de impostos indiretos e regressivos, diferindo da realidade dos países desenvolvidos,
onde é feita de forma direta e progressiva. Esses impostos indiretos recaem diretamente sobre
o consumo e afetam principalmente a classe de menor renda e boa parte da classe média
brasileira6, enquanto os mais ricos gozam de maior liberdade fiscal. De modo geral, a
literatura acadêmica na área da tributação tem considerado a regressividade do sistema
tributário brasileiro como uma das causas do aumento da desigualdade de renda no país.
Indicadores como o Índice de Gini, obtiveram uma redução ínfima quando comparado a
países que utilizam uma tributação progressiva (GOBETTI; ORAIR, 2016).

Dados do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicada, mostram que entre 1990 e


2002 a média do coeficiente de Gini foi igual a 0,598. Em 1990 esse valor era de 0,614, já em
2002 esse valor é de 0,589. Nota-se uma pequena alteração desse valor em contrapartida do
período de 2003 a 2014, onde a média é de 0,549, variando entre 0,583 a 0,518 no dado
período. É importante ressaltar que dado esses diferentes períodos analisados houve uma troca
de governos explicando uma melhora no segundo período analisado.

Referente a concentração de renda, Medeiros, Souza e Castro (2015, p. 18) mostram


que os 5% mais ricos do Brasil detêm, em 2006, 41% da renda total brasileira, evoluindo para
47% em 2012. Com uma redução maior no coeficiente de Gini atrelado aos governos de 2002
a 2014, a tributação injusta volta a ser responsável pelo resultado dessa concentração de renda
nas camadas mais ricas e seu pouco avanço no período de 1990 a 2002. Abaixo será analisado
como os diferentes impostos podem afetar esses valores.

Estima-se que os impostos indiretos representam 51% da carga tributária bruta total
brasileira (FERNANDES; CAMPOLINA; SILVEIRA, 2019), recaindo principalmente sobre
as classes baixa e média, com um característica seletiva, isto é, o consumo das classes mais
ricas não contribuem tanto quanto as demais, pelo fato que maioria da população é

6
Gobetti e Orair (2016) utilizam a noção de estratos para melhor acompanhar os percentis que eles dividiram a
sociedade brasileira, sendo composta em 10 camadas que representam cada uma as faixas de rendas da
população brasileira, sendo que a maioria da população está concentrada entre as 5 primeiras camadas, enquanto
a última camada representa uma parte ínfima da sociedade brasileira, representada por não mais que 1% da
população que detém maior parte da riqueza.
17

pertencente as duas primeiras classes e que a renda final depois do consumo obrigatório nas
classes de renda baixa é menor, tornando o imposto indireto regressivo (ALVES, 2012).

Isto tem efeito direto na hipótese de que a redistribuição é feita pelo lado dos gastos
governamentais, pois tendo uma majoritária participação dos tributos indiretos recaindo sobre
as classes mais pobres, faz com que os gastos públicos sejam financiados pelas classes que
precisam dos serviços e bens ofertados pelos próprios gastos públicos. Portanto os programas
de redistribuição feitos pela ótica dos gastos públicos não surtem efeitos redistributivos.
Serviços como saúde e educação ou programas como bolsa família e similares tendem a ser
financiados por aqueles que mais necessitam deles, contribuindo para a quebra dos
pressupostos de verticalidade tributária e aumento da concentração de renda (ALVES, 2012).

Além do imposto indireto, os lucros e dividendos não são taxados em seu potencial
total. Com aberturas constitucionais para sua isenção, estima-se que de 2007 para 2013 houve
um aumento dos lucros e dividendos declarados de R$ 149 bilhões para R$ 287 bilhões, um
crescimento de 41% a mais do que o PIB. Esses valores afetam 2,1 milhões de pessoas ou
7,9% dos declarantes de impostos, onde essa porcentagem é mais concentrada nos declarantes
com rendimentos superiores à 1,3 milhão, representando 72% dos 7,9% dos declarantes
(GOBETTI; ORAIR, 2016, p. 17). Aliado ao fato de que grande parcela dos rendimentos das
classes com renda mais elevada tem isenções fiscais, isto torna os impostos diretos de fato
regressivos (GOBETTI; ORAIR, 2016, p. 18).

Dada a situação dos impostos diretos, a tributação brasileira atual recai principalmente
sobre a renda assalariada. Observa-se que este fator atinge principalmente as camadas de
renda mais baixas e médias, pois grande parte da renda dessas classes advém do trabalho
assalariado. Diferente da renda das classes de mais alta renda, que tem sua origem nos ganhos
do capital, ou seja, remuneração sob riqueza, lucros e dividendos, e ganhos financeiros. A
Tabela 1 demonstra muito bem as diferenças das fontes tributáveis e os valores isentos.

Nesta tabela se apresenta os valores tributados, isentos e o total declarado de 2007 a


2013. Os tributados são referentes aos: rendimentos do trabalho (salário), aplicações no
mercado financeiro e outras fontes advindas da propriedade do capital. Na mesma tabela se
apresenta os montantes isentos, onde o mesmo engloba: rendimentos do trabalho, lucros e
dividendos (Pessoa Física) e outras fontes advindas da propriedade do capital. Ao final tem se
a soma de ambos em conjunto com as transferências patrimoniais totalizando os rendimentos
declarados.
18

Tabela 1
Rendimentos das DIRPFs (2008-2014, ano-base 2007-2013) (Em R$ bilhões de 2013)
Rendimentos 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
Tributáveis 968,5 1.034,6 1.071,2 1.125,2 1.197,7 1.271,0 1.293,2
Tributados exclusivamente na fonte 107,6 149,8 139,3 163,6 204,9 192,7 207,4
Rendimentos do trabalho 30,1 50,6 55,1 63,5 70,1 74,6 97,6
Aplicações financeiras 32,3 45,8 42,5 45,6 57,2 52,8 45,2
Outras rendas da propriedade do 45,3 53,3 41,7 54,5 77,6 65,2 64,6
capital
Isentos 293,2 477,6 473,3 530,4 583,0 601,5 632,2
Rendimentos do trabalho 47,2 89,2 92,1 94,8 97,5 105,8 113,5
Lucros e dividendos 149,4 196,9 195,8 229,7 257,0 271,4 287,3
Outras rendas da propriedade do 65,0 128,2 127,3 145,8 167,8 166,5 171,9
capital
Transferências patrimoniais 31,7 63,3 58,2 60,3 60,6 57,9 59,4
Total dos rendimentos declarados 1.369,4 1.661,9 1.683,8 1.819,2 1.985,5 2.065,2 2.132,7
Fonte: SRFB (vários anos).
Elaborado por Gobetti e Orair (2016, p. 19).
Obs.: Valores convertidos pela média aritmética anual do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).

Portanto, como pode se observar, a perda de potencial taxativo que representa a


parcela isenta, fere os princípios de equidade horizontal e vertical. Na perspectiva horizontal
os que ganham sobre dividendos possuem alíquotas menores dos que são tributados sobre os
rendimentos do trabalho, isto faz com que a alíquota efetiva final seja diferente mesmo que
ambos sejam enquadrados na mesma alíquota. Enquanto na perspectiva vertical as alíquotas
decrescem conforme a renda do indivíduo tenha natureza nos lucros e dividendos (GOBETTI;
ORAIR; 2016).

Esta ótica desigual não muda quando analisamos os impostos que recaem na esfera
produtiva. A indústria da transformação paga 45,4% do total dos impostos pagos por todos
setores industriais e é responsável por 16,2% do PIB brasileiro (FIRJAN, 2015). De acordo
com o FIRJAN (2015), o total de encargos tributários que recaem sobre a esfera produtiva é
desigual se comparado aos demais setores, gerando um obstáculo à produção por onerar seus
custos. Além disso, parte significativa dos tributos incidentes sobre esse setor são repassados
de alguma forma ao consumidor final, devido à natureza dos impostos, caindo novamente na
questão do tributo indireto.

Desse modo o sistema tributário brasileiro atual (2019), fruto de concepções


ideológicas populares em 1990, tem grande responsabilidade no panorama atual brasileiro de
desigualdade de renda. Para melhor abranger a discussão acerca desta regressividade e
consequente desigualdade, é importante realizar uma pesquisa geral em outros países.
19

2 – Sistemas Tributários de Portugal e México

Este capítulo tem como objetivo analisar, ainda que de forma sucinta, a evolução do
sistema tributário das economias desenvolvidas e em desenvolvimento e, dessa maneira, obter
um parâmetro para analisar a evolução do sistema tributário brasileiro no contexto mundial.
Para tanto serão analisados os sistemas tributários de Portugal, como ponto de observação do
sistema tributário padrão da União Europeia, e do México como ponto de observação na
América Latina.

De modo geral, estes países também adotaram o sistema tributário regressivo,


seguindo as concepções e prescrições de política econômica que prevaleceram nos anos 1980
e 1990, mais alinhados à escola neoclássica. Entretanto, os impactos adversos sobre a
distribuição da renda levaram esses países a repensarem seus sistemas tributários e, desse
modo, implementarem mudanças que visaram a redução desse caráter regressivo.

2.1 – Sistema tributário português

A União Europeia é uma união de países que estão situados principalmente na Europa
e atualmente conta com 28 países como membros. Como uma união política e econômica, há
a existência de diversos acordos entre os países, onde na tributação tende a ter características
semelhantes em alguns aspectos, um desses é o sistema de tributação indireta, o VAT: Value-
added Tax.

Portugal é um dos países membros da UE localizado no sudoeste da Europa situado na


Península Ibérica e com territórios em arquipélagos situados no Atlântico Norte. Tem uma
economia desenvolvida com um PIB de US$ 252.158 bilhões segundo o FMI (2018), com
uma população de 10.374.822 habitantes e com um PIB per capita de US$ 29.976 (FMI,
2018). Atualmente seu coeficiente de Gini é de 0,337 (INE, 2011). E sua economia é
majoritariamente representada pelo setor de serviços e industrial.

O sistema português como participante da UE, utiliza o VAT e tem a autonomia de


praticar diferentes taxações em relação aos países que participam do bloco. A Tabela 2 mostra
a estrutura (simplificada) portuguesa de impostos. Para simplificar essa primeira análise e não
entrar em detalhes específicos do sistema português, que não é o foco deste trabalho, essa
estrutura simples não leva em consideração as deduções e acréscimos.
20

A Tabela 2, demonstra os diferentes tipos de tributos que estão presentes no sistema


português. A renda representa a tributação direta que é exercida sobre a renda total de cada
indivíduo e suas diferentes alíquotas para cada faixa. Já os tributos diretos sobre a PJ são
representados na tabela como corporativo por se tratar da denominação utilizada em Portugal
e engloba as alíquotas praticadas para os diferentes valores declarados. Portugal utiliza um
regime diferenciado para não residentes, tanto no quesito corporativo como ganhos
financeiros e salários praticando uma alíquota única para essas duas últimas fontes. Já o
consumo é separado em 3 faixas, onde a diferenciação para a incidência das diferentes taxas é
dada pela condição do bem ou serviço taxado, separando-se em artigos considerados de luxo,
mercadorias que não se encaixam no primeiro quesito e mercadorias consideradas essenciais
para a condição humana de sobrevivência.

Tabela 2
Separação simples do sistema tributário português por tributos aplicados (em Euros/EUR)
Tipos de taxas Incidência total

Renda (individual)*
Até 7.091EUR 14,5%
Entre 7.092 EUR a 10.700 EUR 23%
Entre 27.520 EUR a 20.261 EUR 28,5%
Entre 20.262 EUR a 25.000 EUR 35%
Entre 25.001 EUR a 36.856 EUR 37%
Entre 36.857 EUR a 80.640 EUR 45%
Acima de 80.641 EUR 48%

Corporativos
Até 80.000 EUR 21%
Entre 80.001 EUR a 250.000 EUR 2,5% sobre o valor que excede a 80.000 EUR
Acima de 250.000 EUR 5% sobre o valor que excede a 250.000 EUR

Não residentes
Corporativos
Até 80.000 EUR 28%
Entre 80.001 EUR a 250.000 EUR 2,5% sobre o valor que excede a 80.000 EUR
Acima de 250.000 EUR 5% sobre o valor que excede a 250.000 EUR
Salários e Rendas 25%
Ganhos financeiros 25%

Consumo
Artigos de luxo 23%
Mercadorias comuns 13%
Mercadorias de subsistência 6%

Fonte: OCDE (2018), Banco Mundial (2014) e Autoridade Tributária e Aduaneira de Portugal (2017)
Elaborado pelo autor
*Similar a França, a incidência final pode ser modificada dependendo da situação dos declarantes, podendo optar por declaração conjunta e
caso tenha filhos recebe maior oneração fiscal

Analisando a tabela, Portugal adota uma política de tributação mais direta, porém se
assegura para que não residentes não entrem no sistema tributário geral português, tendo
alíquotas específicas para estes casos. A vantagem é que se pode observar muitas faixas de
21

rendas com alíquotas progressivas tornando o sistema tributário mais vertical, com isso
podendo tributar mais de quem pode contribuir mais.

Quanto à tributação indireta, se observa também o respeito da verticalidade, onde bens


e serviços essenciais para a condição humana são pouco tributados, tornando o consumo fixo
(essencial) mais barato. Sob a perspectiva de lucros, há uma maior tributação para não
residentes, mas se observa certa verticalidade conforme os lucros aumentam (até para
residentes). Este fato, aliado à taxação direta ser mais progressiva e sem maiores isenções, faz
com que se tenha uma dupla tributação de Pessoa Jurídica para Pessoa Física. (AT, 2017).

Em 2017 a carga tributária total de Portugal equivaleu a 34,7% do PIB, demonstrando


avanços quanto a tributação indireta, cada vez taxando menos sobre o consumo. Enquanto na
esfera direta apresenta uma progressiva tributação direta, assegurando que os indivíduos mais
ricos paguem mais e que empresas que ganham mais também contribuam mais. Portugal
apresenta um retorno marginal sobre a tributação no quesito reinvestimento de 10,7%
diferente do Brasil que tem um retorno de -6% (OCDE, 2018).

2.2 – Sistema tributário mexicano

A análise anterior foi feita para um país europeu com uma economia considerada
desenvolvida. Como o contexto e a realidade econômica dos países em desenvolvimento,
como Brasil, é bastante distinta da apresentada anteriormente, será apresentado a seguir o
sistema tributário mexicano, como ponto de observação na América Latina. O México foi
escolhido por ser um país em desenvolvimento, com características econômicas próximas às
apresentadas pelo Brasil.

O México é um pais latino-americano, localizado na América Central, atualmente tem


uma população de 123.675.325 de habitantes (INEGI, 2017), com um PIB total de US$ 1.250
trilhão e com uma renda per capita de US$ 10.021 (FMI, 2018). Em 2010 segundo o Banco
Mundial (2010) obteve um coeficiente de Gini de 0,434. Sua economia é composta
principalmente pela exportação de petróleo, agricultura, indústria e turismo.

A estrutura tributária mexicana é apresentada na Tabela 3. Similar a tabela portuguesa,


a renda individual é dividida entre as faixas e as alíquotas incidentes nessas faixas. Já na
questão da PJ o México tributa empresas nacionais e estrangeiras no mesmo regime com
deduções para o setor agrícola. Referente a tributação do consumo, o México utiliza uma
22

alíquota única com isenções fiscais sobre os bens e serviços essenciais e mercadorias culturais
produzidas nacionalmente.

Tabela 3
Separação simples do sistema tributário mexicano por tributos aplicados (em Peso
mexicano/MXN7)
Tipos de taxas Incidência total

Renda
Até 6.942,35 MXN 1.92%
Entre 6.942,36 MXN a 58.922,27 MXN 6.4%
Entre 58.922,28 MXN a 103.550,51 MXN 10.88%
Entre 103.550,52 MXN a 120.372,95 MXN 16%
Entre 120,372,96 MXN a 144.119,39 MXN 17.92%
Entre 144,119,40 MXN a 290.667,84 MXN 21.36%
Entre 290.667,85 MXN a 458.132,39 MXN 23.52%
Entre 458.132,39 MXN a 874.650,11 MXN 30%
Entre 874.650,11 MXN a 1.116.200,07 MXN 32%
Entre 1.116.200,08 MXN a 3.498.600,11 MXN 34%
Acima de 3.498.600,12 MXN 35%

Corporativas (nacionais e internacionais) 30%


Setor agrícola Até -30% sobre a alíquota corporativa única

Consumo* 16%

Fonte: Secretaria da Fazenda do México, OCDE (2018) e Banco Mundial (2014)


Elaborado pelo autor
*Há isenção fiscal para produtos alimentícios, livros, artigos, jornais e etc. produzidos nacionalmente, medicamentos e serviços agrícolas

O México também utiliza o “Impuesto al Valor Agregado” – IVA para tributar o


consumo e, assim como Portugal, apresenta muitas faixas de renda para impostos diretos
tentando abranger uma maior verticalidade do sistema tributário. No que tange as taxas
corporativas, ele adota um sistema unificado tanto para empresas nacionais como estrangeiras,
dando uma redução de alíquota para aquelas que operam no setor agrícola com alíquotas altas
considerando as alíquotas praticadas no Brasil sobre o setor corporativo. Seus baixos impostos
sobre consumo enfatizam um comprometimento com as classes de renda mais baixa, pois é
dado uma isenção total para bens e serviços dados como essenciais e também culturais,
auxiliando a renda final dessa classe. O México apresenta um retorno marginal de
reinvestimento sobre as taxações de 7,7%, superior ao apresentado pelo Brasil que foi de -6%.
(OCDE, 2018)

Como visto, o México apresenta características progressivas em relação ao imposto


direto. Outro ponto importante é como o consumo não é sobretaxado, principalmente para
mercadorias consideradas essenciais, assim como Portugal. É observado que na parte

7
A conversão do Peso mexicano para Real brasileiro em 29/06/2019 é de 0,20 MXN = 1 BRL
23

corporativa, o quesito progressivo não é observado, pois é praticado uma alíquota única,
apesar de ter uma incidência alta.

2.3 – Comparação de índices

Dados da própria OCDE foram coletados comparando a progressão das taxas


analisadas afim de relacionar politicas tributarias adotadas pelos países amostrados e a recente
descrença nos modelos neoclássicos propostos. Desses dados, se extrai informações quanto a
progressão das taxas e como elas se comportam no período 1990 a 2017 (esses valores já
embutem as deduções e acréscimos comuns, diferente das duas primeiras tabelas).

A Tabela 4 apresenta o panorama geral desses sistemas e sua evolução ao longo dos
anos de 1990 a 2017. Nela se inclui tanto impostos diretos como indiretos e sua soma
totalizada, ressaltando que referente ao dado de 2017 do México foi utilizado o ano anterior
por simples comparação analítica e sua falta nos dados divulgados pela OCDE:

Tabela 4
Evolução dos Impostos entre 1990 a 2017 (em %)
Impostos sobre receitas e lucros Impostos sobre Propriedade Impostos sobre Bens e Serviços
Ano Portugal México Portugal México Portugal México
1990 25,7 34 2,7 1,9 44,2 44
1993 27,5 37 2,4 2,5 42,8 37
1996 27,9 33 2,9 2,2 43,6 39,5
1999 28 34,4 3,7 1,7 42 44,3
2002 27,1 34,8 3,6 2,1 41,6 42,9
2005 25 37 3,7 2,5 43,6 38,6
2008 28,1 40,4 3,8 2,3 40,6 38,5
2011 28,1 41,3 3,4 2,2 39,8 36,4
2014 30,8 40,9 3,6 2,3 38,1 36,8
2017 28,2 42,7* 4 1,9* 39,8 38,8*
Fonte: OCDE (2018)
Elaborado pelo autor
*Os dados referentes a 2017 para o México estão ausentes nos relatórios da OCDE, será usado o do ano anterior (2016) para fins
comparativos

É nítido o aumento das taxas sobre lucros e propriedades nos países desenvolvidos e
em desenvolvimento, enquanto o México volta ao patamar de 1990 na análise dos impostos
sobre propriedade, porém com oscilações que tendem a um aumento durante o período
analisado. Por outro lado, os impostos sobre o consumo diminuem demonstrando uma
24

tendência à redução dos impostos indiretos que recaem principalmente sobre os indivíduos de
baixa e média renda.

Quanto aos dados de Portugal, estima-se que os impostos sobre corporações sejam de
29,5% sem deduções efetivas (OCDE, 2018). Portugal, em 2017, apresentou 34,7% do PIB
advindo da carga tributária total, houve um crescimento de 76% em relação ao PIB de 1990
na evolução da carga tributária total até 2017. Deste aumento de 1990 a 2017, a participação
dos impostos sobre lucros no PIB total português foi de 6,8% a 9,8% durante esse período,
enquanto as taxas sobre propriedades foram de 0,7 a 1,4% na participação total do
crescimento do PIB, porém Portugal apresentou maior participação dos impostos sobre
consumo no PIB, saindo de 11,7% a 13,8%. É importante notar que os impostos sobre bens
essenciais diminuíram conforme a tabela 2 demonstra, logo esse aumento não afeta o
consumo essencial das classes de renda mais baixa, mantendo a verticalidade e principalmente
a horizontalidade do sistema tributário português (OCDE, 2018).

Enquanto o México de 1990 a 2017, aumentou a participação dos tributos no PIB de


12,1% para 16,2%. Com um aumento na participação dos tributos sobre lucro e renda no PIB
de 4,1% para 7,2%. Também houve um aumento na participação dos tributos sobre consumo e
propriedade de 5,3% para 6,4% e 0,3% para 0,4% respectivamente. Observando que o
consumo dos bens e serviços essenciais recebem isenção tributária (favorecendo a
horizontalidade e a verticalidade tributária). Enquanto a tributação sobre a propriedade, que
permaneceu em 1,9%, é compensada pelo aumento nas progressivas taxas sobre a renda e
suas alíquotas mais altas para detentores de maior riqueza com maior número de faixas
(OCDE, 2018).

Desta análise se confirmam três pressupostos deste trabalho: primeiramente que cada
vez mais a tributação está sendo feita pelo lado direto e progressivo, indo contra as premissas
neoclássicas de que se tem que taxar menos os mais favorecidos. Em segundo que os
impostos indiretos estão sendo desencorajados por terem efeitos regressivos e concentrarem
renda. E por último, que as teses neoliberais quanto a tributação regressiva, tem fatores que
contribuem para a concentração de renda brasileira, um problema bastante conhecido
brasileiro.

Em relação ao Índice de Gini, a Tabela 5 demonstra em um intervalo de 3 anos, os


valores respectivos desses dois países analisados:
25

Tabela 5
Evolução do Índice de Gini de 2003 a 2015
Ano Portugal México*
2003 0,387 0,49
2006 0,385 0,477
2009 0,349 0,446
2012 0,36 0,454
2015 0,35 0,434
Fonte: Banco Mundial (vários anos)
Elaborado pelo autor
*Os valores de 2015 e 2009 para o México não foram obtidos, utilizando o ano-referência anterior para fins de comparação

Diante desses dados, a redução obtida no medidor de desigualdade de renda é


facilmente notada, sugerindo a eficácia das reformas tributarias feitas por estes países. Quanto
a redução de Portugal não ser significativa, é notado que o país já apresenta alta redistribuição
de renda, reforçando que a tributação progressiva surte efeitos em economias desenvolvidas
com altos índices de redistribuição de renda.

Trazendo todas essas análises a realidade brasileira, foram identificados dois


problemas. O primeiro relativo à tributação regressiva direta brasileira que não taxa lucros e
dividendos devidamente, além de ter poucas faixas para diferentes rendas e as alíquotas serem
baixas. O segundo relativo aos impostos indiretos, que parecem contribuir mais para a
concentração de renda, do que para a saúde fiscal brasileira. O próximo capítulo procura
caracterizar o sistema tributário brasileiro, mostrando a sua regressividade e o seu impacto
sobre a concentração de renda no país.

3 – Analise do Brasil

A estrutura fiscal brasileira e, especificamente, seu sistema tributário, se difere das


apresentadas anteriormente. Uma das principais diferenças está na não utilização do imposto
sobre valor agregado como norteador de sua tributação sobre o consumo, utilizando para isso
o Imposto sobre Produtos Industrializados - IPI e o Imposto sobre Circulação de Mercadorias
e Serviços – ICMS. Além disso, como se viu anteriormente, os países analisados, seguindo
tendência mundial, apresentaram tributação crescente sobre os lucros, enquanto no Brasil está
tributação foi reduzida. Além disso, o Brasil, desde 1995, concede isenção sobre os
dividendos distribuídos aos acionistas das empresas, o que coloca o Brasil entre um dos
poucos países do mundo a conceder este benefício.
26

Este capítulo tem como objetivo apresentar, de forma simplificada8, a estrutura do


sistema tributário brasileiro e o seu caráter regressivo. Para tanto serão utilizados os dados
disponibilizados pelas autoridades fiscais brasileiras, pela OCDE e pelo Banco Mundial, além
da consulta à literatura recente sobre o tema.

3.1 – Sistema tributário brasileiro

O sistema tributário brasileiro é constituído por um amplo número de impostos, que


incidem sobre os mais diversos fatos geradores, assim como apresenta uma estrutura bastante
diversificada, caracterizada por diversas isenções, alíquotas diferenciadas e diferentes
atribuições e destinação entre as esferas do governo. Estas características configuram um
sistema tributário bastante complexo. (Gremaud et. al., 2016)

Como destacam Gremaud et. al. (2016), os principais impostos do Brasil são:

“... Imposto de Renda (IR), que incide tanto sobre pessoas físicas como
sobre pessoas jurídicas, o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) e o
Imposto sobre Circulação de mercadorias e Serviços (ICMS). Além destes,
existe uma série de outros impostos: Imposto Sobre Serviços (ISS), Imposto
Sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA), Imposto Territorial e
Predial Urbano (IPTU), Imposto Territorial Rural (ITR), Imposto de
Importação (II), Imposto de Exportação (IE), ... Além destes, conta-se com
uma série de contribuições socais sobre a folha de pagamentos e sobre o
faturamento das empresas: Cofins, PIS, Contribuição previdenciária etc.”
(Gremaud et al., 2016, pag. 181)
O IPI e o ICMS são impostos do tipo valor adicionado e incidem sobre a circulação de
mercadorias. O IPI restringe-se à produção industrial, é de competência da União e possui
alíquotas diferenciadas de acordo com o critério de “essencialidade” do bem e com objetivos
de arrecadação e política industrial. O ICMS, engloba também a produção agrícola e é de
competência dos Estados, mas estes não podem decidir sobre níveis de alíquotas e isenções.
Ambos são bastante sensíveis às flutuações do produto e têm sido utilizados como forma de
incentivo a determinados setores econômicos. Em relação aos impostos municipais, o ISS e o
IPTU são os principais. (Gremaud et. al., 2016)

No que diz respeito ao Imposto de Renda, este se divide em IR sobre pessoas físicas,
incidente sobre a renda dos indivíduos e IR sobre pessoas jurídicas, incidente sobre os lucros
das empresas. O IR pessoa física é cobrado de acordo com cinco faixas de renda, com 4
alíquotas incidentes sobre a renda e uma faixa sendo totalmente isenta, como pode-se

8
Esta análise simplificada pode não representar as alíquotas finais, pois para simplificação serão considerados
apenas as deduções e acréscimos praticados de forma geral.
27

observar na Tabela 6. Já o IR pessoa jurídica trabalha com duas alíquotas de acordo com o
faturamento da empresa. Para empresas com faturamento até R$ 240.000 a alíquota é de 15%
sobre o lucro real e acima de R$ 240.000 é de 10%, evidenciando o caráter progressivo deste
imposto (Tabela 6).

Tabela 6
Separação simples do sistema tributário brasileiro por tributos aplicados (em Reais)
Tipos de taxas Incidência total

Renda (individual/mês) *
Até 1.903,98 0%
Entre 1.903,99 a 2.826,65 7,5%
Entre 2.826,66 a 3.751,05 15%
Entre 3.751,06 a 4.664,68 22,5%
Acima de 4.664,68 27,5%

Pessoa Jurídica (ano)


Até 240.000 15% sobre o lucro real
Acima de 240.000 10% sobre o que excede 240.000

Organizações sem fins lucrativos 0%

Consumo
IPI Entre 0% a 30% (variando sobre o tipo de mercadoria)
ICMS Entre 17% a 18% (variando entre os governos estaduais)
Fonte: Secretaria da Receita Federal do Brasil
Elaborado pelo autor
*Podendo sofrer uma dedução de 189,59 por dependente no resultado final, sem inserir as deduções isentas que afunila ainda mais a renda
final

Comparando os dados apresentados na Tabela 6 aos apresentados para os países


analisados anteriormente, nota-se: menores quantidades de faixas de rendas (5 no total);
menores alíquotas sobre a renda; faixas de rendas que abrangem mais as classes baixa, média-
baixa e média; impostos sobre o consumo elevados dependendo da mercadoria (podendo
chegar até a 58%); caráter regressivo da taxação sobre Pessoas Jurídicas, colocando empresas
de pequeno e médio porte, no mesmo regime que grandes corporações (quebrando os
pressupostos de verticalidade e horizontalidade de um sistema tributário).

Esta primeira análise, ainda que superficial, já apresenta indícios da regressividade do


sistema tributário brasileiro. E dessa forma sinaliza para a necessidade de mudanças no
sistema de alíquotas e faixas de renda de forma a torna-lo mais progressivo e menos desigual.

3.2 A regressividade do sistema tributário brasileiro

Como visto, um sistema tributário regressivo é aquele que tende a tributar


proporcionalmente mais, os agentes econômicos com menor renda. Para identificar o caráter
regressivo do sistema tributário brasileiro será feita uma análise da forma de incidência dos
28

impostos diretos sobre a renda das pessoas físicas e das pessoas jurídicas e também dos
impostos indiretos que incidem sobre o consumo.

De modo geral, considera-se que o país tem poucas faixas de renda e que seu sistema
privilegia as faixas de maior renda. Enquanto Portugal apresenta, por exemplo, alíquotas
maiores para faixas sobre rendas mais elevadas (taxando mais aqueles que podem contribuir
mais), no Brasil a alíquota máxima incide de tal forma que as classes média, média-alta e alta
renda são taxadas de forma semelhante.

Estima-se que indivíduos que pagam a alíquota máxima e que seus rendimentos têm
origem no capital pagam 6,7% a menos em comparação a indivíduos cuja a renda tem origem
assalariada, tornando a alíquota máxima efetiva equivalente a 20,8% (GOBETTI; ORAIR,
2016, p. 19). Na pratica indivíduos que deveriam pagar a mesma porcentagem sobre a renda,
acabam sendo tributados de forma diferente, onde a horizontalidade do sistema tributário
brasileiro é quebrada, agravando o problema da concentração de renda.

Cabe ressaltar que este é um sistema bastante diferente daquele que já prevaleceu no
Brasil anteriormente. No Governo João Goulart, por exemplo, foram implantadas 12 faixas de
renda com alíquotas que chegaram a 65% para a faixa de renda mais alta (GOBETTI;
ORAIR, 2016). Neste sentido, é nítido como as convenções econômicas neoliberais que
predominaram a partir da década de 1970 guiaram as reformas e configuraram o atual sistema
tributário brasileiro.

Essas reformas foram mais profundas em 1989, especialmente no que diz respeito à
incidência do imposto de renda sobre pessoa jurídica. Naquele ano, o governo do presidente
Sarney instituiu a figura do JSCP (juros sobre o capital próprio), um mecanismo que permitiu
às empresas deduzirem o pagamento de seus impostos, utilizando a TJLP para fazer essa
redução. Essa mudança permitiu que a alíquota total incidente sobre o IRPJ e sobre a
Contribuição Social sobe o lucro líquido – CSLL, reduzisse de 34% para 15%. Além disso,
como citado no Capítulo 1, o Governo Sarney fez com que dividendos que antes eram
tributados a 15% passassem a receber isenção fiscal total. As principais alterações foram
instituídas através da Lei nº 9.249 e podem ser vistas na Tabela 7. (GOBETTI; ORAIR, 2016)
29

Tabela 7
Lucro e tributação no Brasil (em %)
Lucro e impostos Antes da Lei n°9.249 Depois da Lei n°9.249 Diferença
Lucro bruto 100,0 100,0 0,0
Lucro tributável 100,0 70,0 -30,0
IRPJ=25% 25,0 17,5 -7,5
CSLL=9% 9,0 6,3 -2,7
JSCP 0,0 30,0 30,0
IRRF*-Capital (15%) 0,0 4,5 4,5
Dividendos 66,0 46,2 -19,8
IRRF*-Capital (15%- 9,9 0,0 -9,9
0%)
Total de imposto 43,9 28,3 -15,6
Lucro líquido acionista 56,1 71,7 15,6
Fonte: Secretaria da Receita Federal do Brasil (vários anos)
Elaborado por Gobetti e Orair (2016, p. 13).
* Imposto de Renda Retido na Fonte (IRRF).

Observa-se que ocorre uma redução no imposto final e maior repasse aos acionistas.
Cabe destacar que a implementação desta lei coincide com o período em que as teses
econômicas neoclássicas ganharam maior força, fomentando o discurso de uma tributação
regressiva. O que de fato aconteceu através do caráter regressivo das alterações relativas ao
imposto sobre lucros e dividendos. Em empresas menores essa tributação foi ainda mais
baixa, decaindo para 10,88% devido ao montante de deduções incidentes. Este cenário se
agravou através do fenômeno da “pejotização” por parte das empresas prestadoras de
serviços, com vistas a ganharem maiores deduções nas alíquotas incidentes sobre as pessoas
jurídicas (GOBETTI; ORAIR, 2016, p. 13).

Gobetti e Orair (2016), destacam que essas reformas, além de tornarem o sistema
regressivo, pouco contribuíram para a retomada dos investimentos, que voltaram a crescer
apenas 10 anos depois da implantação dessas medidas. Dessa forma, não obtiveram efeitos
sobre a geração de renda e ainda contribuíram para a promoção da concentração da renda.

Feita essa análise da tributação direta brasileira, é notável sua caracterização como
regressiva e injusta (mesmo que as alíquotas apresentem pouca progressividade). Contudo
grande parte das taxações vêm dos impostos indiretos, os quais representam 51% da carga
tributária total brasileira, que gira em torno dos 33% do PIB. Comparando com a participação
dos tributos indiretos (consumo) dos países analisados anteriormente, observa-se que,
enquanto o consumo é tributado cada vez menos nos países da OCDE, no Brasil tal tributação
prevalece.

Como se pode observar na Tabela 8, a incidência dos impostos indiretos sobre o


consumo possui um caráter altamente regressivo, com a maior proporção dos impostos
30

incidindo sobre a população de mais baixa renda. Isso acontece porque a população de menor
renda consome proporcionalmente mais em relação à renda recebida, pagando assim mais
impostos (proporcionalmente à renda) que a população de renda mais alta:

Tabela 8
Evolução da carga tributária de 1996 a 2004 (em %)
Tributação Direta Tributação Indireta Carga tributária total
Salários mínimos 1996 2004 1996 2004 1996 2004
Até 2 1,7 3,1 26,5 45,8 28,2 48,8
2a3 2,6 3,5 20 34,5 22,6 38
3a5 3,1 3,7 16,3 30,2 19,4 33,9
5a6 4 4,1 14 27,9 18 32
6a8 4,2 5,2 13,8 26,5 18 31,7
8 a 10 4,1 5,9 12 25,7 16,1 31,7
10 a 15 4,6 6,8 10,5 23,7 15,1 30,5
15 a 20 5,5 6,9 9,4 21,6 14,9 28,4
20 a 30 5,7 8,6 9,1 20,1 14,8 28,7
Mais de 30 10,6 9,9 7,3 16,4 17,9 26,3
Fonte: Zockun (2005, p. 11) apud Alves (2012)
Elaborado pelo autor

Observa-se, portanto, a regressividade dos impostos indiretos brasileiros, em que


indivíduos e famílias que detém maior poder de compra tendem a contribuir menos, enquanto
indivíduos e famílias que ganham menos, pagam o equivalente a 45,8% da sua renda em
impostos sobre o consumo. quanto nos países analisados a incidência total de impostos sobre
o consumo vem diminuindo, o Brasil vem aumentando sua carga sobre os impostos indiretos,
fruto das mudanças de caráter liberal aplicadas no Brasil desde fins da década de 1980.
De modo geral, os dados da Tabela 8 demonstram que as mudanças no sistema
tributário brasileiro o tornaram mais regressivo. Em relação à tributação direta, destaca-se o
fato da redução dos impostos para as taxas de renda mais alta que passaram de 10,6% para
9,9%, enquanto para as classes de renda mais baixa essa tributação passou de 1,7% em 1996
para 3,1% em 2004. Quando somado as cargas direta e indireta esse panorama regressivo é
claro com uma tributação totalizando 48,8% da renda das classes mais baixas contra 26,3%
das classes mais altas em 2004.

Alves (2012) mostrou que o valor da carga tributária total para as faixas de renda de
até dois salários mínimos aumentou para 53,9% em 2008, enquanto as classes mais altas
foram taxadas em 29% do total da sua renda.
31

Todo esse panorama mostra a regressividade total da carga tributária brasileira,


amplamente apoiada em uma carga regressiva indireta que recai sobre os menos favorecidos
economicamente. Nesse cenário a acumulação da renda pelas camadas mais ricas continua
sendo favorecida, contribuindo para o aumento da concentração da renda no Brasil. Todavia,
pela ótica neoclássica, isso deveria ser compensando pelo crescimento econômico e seu efeito
gotejamento para as classes de renda mais baixa. Entretanto, como a tributação direta no
Brasil não surtiu os efeitos esperados sobre os investimentos e sobre o crescimento, o efeito
gotejamento não aconteceu e a renda se concentrou ainda mais9.

3.3 – Efeitos na desigualdade de renda no Brasil

O efeito da desigualdade de renda é melhor visto no Gráfico 1, onde é mostrado a


evolução do Índice de Gini no Brasil durante os anos de 1990 a 2017, com períodos de 3 em 3
anos:

Gráfico 1: Evolução do Coeficiente de Gini 1990 a 2017

Coeficiente de Gini
0,62 0,605 0,601 0,599
0,6 0,59
0,581
0,58 0,563
0,56
0,54
0,529 0,533
0,54
0,515
0,52
0,5
0,48
0,46
1990 1993 1996 1999 2002 2005 2008 2011 2014 2017
Coeficiente de Gini Média Móvel (Coeficiente de Gini)

Fonte: Banco Mundial (vários anos)


Elaborado pelo autor

Neste gráfico é observado que a redução do coeficiente de Gini é relativamente baixa


no período 1990 a 2002, anos pós-reformas regressivas do sistema tributário brasileiro,

9
O período de crescimento da economia brasileira compreendido entre 2004 e 2014 pode ser considerado uma
exceção, quando as taxas de investimento voltaram a apresentar maior crescimento, promovendo maior
crescimento econômico, com maior emprego e redução relativa da desigualdade de renda. Com contribuição
ativa das políticas sociais de transferência de renda e aumento real do salário mínimo para a obtenção de tais
resultados, observados no índice de Gini desse período (Banco Mundial, vários anos).
32

colaborando para a hipótese deste trabalho que o coeficiente de Gini obteve reduções ínfimas.
Já o período de 2002 a 2014 tem uma acentuada queda devido a transição de governos e as
políticas adotadas pelo governo de 2002 a 2014, fortalecendo o diálogo entre uma reforma
progressiva e programas sociais inclusivos (que não sejam financiados através dos tributos
indiretos pela população de renda baixa). Já entre 2014 a 2017 se observa um aumento na
desigualdade de renda, devido à crise econômica e política enfrentada pelo Brasil desde esse
período e outros fatores que não são o objetivo deste trabalho, no entanto não descartando a
influência de um sistema tributário regressivo nesse resultado.

Esta concentração de renda é piorada quando analisada pela ótica dos gastos públicos.
Como Alves (2012) analisa, os gastos públicos pela visão neoclássica têm fator redistributivo
para as famílias mais pobres, no entanto como a carga indireta recai principalmente sobre os
mesmos, tem-se que programas assistências e serviços base (saúde, educação e segurança)
acabam sendo financiados majoritariamente pela própria população que necessita desses
serviços e assistências. Dessa forma, tanto a regressividade tributaria como o financiamento
dos gastos públicos no Brasil apresentam caráter que contribuem para desigualdade de renda.

4 - Conclusão

Diante de todas essas análises feitas, é notável que o Brasil ao longo do tempo adotou
uma postura regressiva com sua política tributária. Essa regressividade foi um dos diversos
fatores que impactou diretamente na distribuição de renda do Brasil, obtendo valores não
muito satisfatórios na redução do coeficiente de Gini.

O resultado disso foi o crescimento da concentração de renda nos estratos mais ricos
da sociedade, de 2006 a 2012 os 5% mais ricos que antes dispunham de 41% da renda total
brasileira elevaram seus patrimônios para 47% em 2012. Isto afeta diretamente a maioria da
população brasileira, já que estes não pertencem as camadas beneficiadas pela tributação
regressiva e detentora dos 47% da renda total.

Na questão da diminuição do índice de Gini, México e Portugal obtiveram reduções


satisfatórias, notando que esses fizeram reformas progressivas em seus sistemas tributários.
No Brasil precisou-se de governos que aumentassem as benesses aos indivíduos de renda mais
baixa, pois antes disso entre o período 1990 a 2002 a redução do índice de Gini foi baixa
comparada a países que adotavam sistemas tributários progressivos. A redução do coeficiente
33

de Gini entre esse período foi de 0,024, comparado aos países citados acima esse valor é
muito pequeno na luta contra a desigualdade de renda e mostra o caráter concentrador de uma
tributação regressiva, sendo implementada efetivamente em 1990 no Brasil.

Dentre as características assinaladas, por influenciar no resultado não satisfatório da


redução da desigualdade de renda, tem-se que os países analisados aumentaram sua tributação
direta como solução para concentração de renda, enquanto o Brasil vai contrário a maré
diminuindo os impostos diretos, como por exemplo, a redução de 50% para 27,5% sua
alíquota máxima sobre o IRPF.

Em uma análise detalhada da evolução tributaria direta, aqueles que recebem até 2
salários mínimos, de 1996 a 2004 sofreram um reajuste na alíquota efetiva sobre a renda
individual de 1,7% para 3,1%. Enquanto aqueles que recebem mais que 30 salários mínimos
receberam uma diminuição sobre a alíquota efetiva na renda individual de 10,6% para 9,9%.

A diminuição das alíquotas sobre lucros e dividendos causaram grande impacto na


horizontalidade da última alíquota da faixa de renda do imposto sobre a renda das PF. Houve
uma diminuição no total tributável dos lucros e dividendos, com uma diminuição no total
tributável de 43,9% para 28,3%. Isto gerou um aumento do lucro do acionista de 56,1% a
71,7% do total declarado no período pré e pós lei n° 9249/1995, se concretizando em 1995
porém com emendas já propostas desde 1990.

Isto afeta o IRPF, pois o indivíduo que tem renda originada nos lucros e dividendos,
recebem uma redução efetiva da alíquota máxima de 27,5% no caso da última faixa do IRPF.
Esta redução é melhor visto com os valores isentos, onde os mesmos mostram que os lucros e
dividendos tem maior isenção que os rendimentos do trabalho. Para 2013 R$ 287 bilhões
foram isentos sobre a fonte lucros e dividendos comparados aos R$ 113,5 bilhões isentos
sobre a fonte dos rendimentos dos salários.

Esta redução efetiva é que a alíquota paga por aqueles que tem fonte nos rendimentos
assalariados, pagam o total incidente. Enquanto aqueles que possuem isenções na esfera
jurídica, não são tributados a 27,5%, já que a fonte de seus rendimentos tem origem no capital
e esse tem isenções implementadas pela constituição brasileira. Logo o pagamento dos
tributos diretos no âmbito da pessoa física é violado horizontalmente para aqueles
pertencentes a mesma faixa, ajudando na concentração de renda daqueles que possuem
remuneração corporativa.
34

Quanto a tributação regressiva, esta é atrelada a tributação feita nos setores industriais
que repassam o imposto ao consumidor final de forma indireta. É notado um aumento de
26,5% para 45,8% da carga tributária indireta que recai para aqueles que recebem até 2
salários mínimos no período entre 1996 a 2004. Diferente dos países analisados, o Brasil
novamente vai contra a tendência desses países aumentando os impostos indiretos. Estes
impostos colaboram bastante para a situação atual brasileira, onde aqueles que dependem da
assistência social acabam financiando em grande parte as próprias ajudas de renda
complementares que recebem.

Somando ambas cargas, pessoas que recebem até 2 salários mínimos tiveram um
aumento da carga total de 28,2% para 48,8% no período 1996 a 2004. Enquanto aqueles que
possuem renda de mais de 30 salários mínimos obtiveram um aumento de 17,9% para 26,3%
durante esse período. Há uma diferença considerável onde aqueles que ganham até 2 SM
tiveram um aumento de 20,6% nesse período enquanto aqueles que ganham mais que 30 SM
tiveram um aumento de 8,4%.

Estes valores e análises evidenciam a proposta deste trabalho e reforçam o caráter


regressivo que o Brasil tem diante de seu sistema tributário. Esse caráter tem raízes
ideológicas popularizadas na década de 70 que nada ajudam as tentativas de sanar o problema
da desigualdade de renda, conforme evidencias quantitativas e empíricas mostram neste
trabalho.

Diante disso é feito algumas sugestões para o sistema tributário brasileiro:

i) Melhorar a tributação direta do IRPF e IRPJ, especialmente sobre lucros e


dividendos, melhorando a saúde fiscal brasileira.
ii) Diminuir a carga tributária indireta sobre o consumo, especialmente sobre
aqueles que ganham menos, melhorando o capital humano destes.
iii) Desviar a excessiva tributação sobre a indústria, sendo compensado pelo
aumento gerado pela primeira sugestão, melhorando os índices de emprego,
produtividade e competitividade.
35

REFERENCIAL BIBLIOGRÁFICO

ALVES, H.N. Tributação e injustiça social no Brasil. [S.I]: Revista Espaço Acadêmico 12,
n. 133, p. 69-78, 2012.

AUTORIDADE TRIBUTÁRIA E ADUANEIRA DE PORTUGAL. Estatísticas de 2017.


[S.I], 2017. Disponível em:
http://info.portaldasfinancas.gov.pt/pt/dgci/divulgacao/estatisticas/Pages/default.aspx. Acesso
em: 29 de jun. 2019.

BANCO MUNDIAL. Relatório Anual de 2010. [S.I], 2010. Disponível em:


http://www.bancomundial.org.br. Acesso em: 29 jun. 2019.

______. Relatório Anual de 2014. [S.I], 2014. Disponível em:


http://www.bancomundial.org.br. Acesso em: 29 jun. 2019.

BECKER, G.S. Human Capital: A Theoretical and Empirical Analysis, with Special
Reference to Education. Chicago: University of Chicago Press, 1964.

BOWLES, S.; GINTIS, H. The Problem with Human Capital Theory: A Marxian Critique.
Nashville: American Economic Review, V. 65, N. 2, p. 74-82, mai., 1975.

FERNANDES, R.C.; CAMPOLINA, B.; SILVEIRA, F.G. Imposto de renda e distribuição


de renda no Brasil. Brasília: IPEA, fev., 2019.

FIRJAN. A carga tributária para indústria da transformação. [S.I], n. 1, jan., 2015.

FISHLOW, A. Brazilian size distribution of income. [S.I]: The American Economic Review
62, n. ½, p. 391-402, 1972.

FMI, World Economic Outlook Database. [S.I], 2018. Disponível em: https://www.imf.org.
Acesso em: 29 jun. 2019.

FURTADO, C. O Brasil pós-“milagre”. Rio de Janeiro: Paz e Terra, v. 54, 1981.

GALBRAITH, J.K. Money: Whence It Came, Where It Went. New Jersey: Princeton
University Press, 2017.

GREMAUD, A.P.; VASCONCELLOS, M.A.S.; TONETO, R. Economia Brasileira


Contemporânea. 6. ed. São Paulo: Atlas S.A., 2007.
36

GREMAUD, A.P. et al. Economia Brasileira Contemporânea. 8. ed. São Paulo: Atlas S.A.,
2016.

GOBETTI, S.W.; ORAIR, R.O. Progressividade Tributária: a agenda negligenciada. Rio de


Janeiro: IPEA, abr., 2016.

HOFFMANN, R; DUARTE, J.C. A distribuição da renda no Brasil. Rio de Janeiro: Revista


de Administração de Empresas, v.12. n.2, abr./jun., 1972.

INE. Indicadores de ordenamento do território. [S.I], 2018. Disponível em:


https://www.ine.pt. Acesso em: 7 jul. 2019.

INEGI. Indicadores de ocupación y empleo al tecer trimestre de 2017. Disponível em:


https://www.inegi.org.mx. Acesso em: 7 jul. 2019.

IPEA. Coeficiente de Gini 1976 até 2014. [S.I], 2016. Disponível em:
http://www.ipeadata.gov.br/Default.aspx. Acesso em: 7 jul. 2019.

Lei n° 9249/1995 de 26 de dezembro de 1995. Disponível em:


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9249.htm. Acesso em 7 jun. 2019.

MEDEIROS, M.; SOUZA, P; CASTRO, F.Á.D. O Topo Da Distribuição de Renda no


Brasil: Primeira Estimativas Com Dados Tributários E Comparação Com Pesquisas
Domiciliares 2006-2012. Rio de Janeiro: DADOS - Revista de ciências sociais, n. 1, 2015.

OCDE. Relatórios econômicos de 2018. [S.I], 2018. Disponível em: http://www.oecd.org.


Acesso em: 22 jun. 2019.

______. Revenue Statistics. [S.I], 2018. Disponível em: https://www.oecd-


ilibrary.org/taxation/revenue-statistics_2522770x. Acesso em: 20 jun. 2019.

PIKETTY, T. Capital no século 21. Tradução de Mônica Baumgarten de Bolle. Rio de


Janeiro: Intrínseca Ltda., 2013.

______. Economia da desigualdade. Tradução de André Telles. Rio de Janeiro: Intrínseca


Ltda., 2014.

ROUSSEAU, J.J. Do contrato social. Tradução de Lourdes Santos Machado. 2. ed. São
Paulo: Abril Cultural, 1978.
37

SECRETARIA DA FAZENDA DO MÉXICO. Recaudación de ingresos tributarios del


Gobierno Federal. [S.I], 2017. Disponível em:
https://datos.gob.mx/busca/dataset/recaudacion-de-ingresos-tributarios-del-gobierno-federal.
Acesso em: 29 jun. 2019

SECRETARIA DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL. Relatórios do Resultado de


Arrecadação 1994 a 2018. [S.I], 2018. Disponível em: http://receita.economia.gov.br/dados.
Acesso em: 29 jun. 2019.

VARSANO, R. Evolução do Sistema Tributário Brasileiro ao Longo do Século:


Anotações e Reflexões para Futuras Reformas. Rio de Janeiro: IPEA, jan, 1996.

Você também pode gostar