TCP Caio Maritan
TCP Caio Maritan
TCP Caio Maritan
VARGINHA/MG
2019
Caio César Maritan Cunha
VARGINHA/MG
2019
Agradecimentos
Ao meu falecido avô Antônio, por ser a minha base moral e ética e ter me
ensinado a ver o mundo pela ótica positiva.
Este trabalho faz uma análise do sistema tributário brasileiro, apresentando dados que
permitem classificá-lo como regressivo, e procura relacionar o impacto dessa regressividade
sobre o processo de concentração de renda no país. Especificamente, procura-se analisar as
mudanças implantadas no sistema tributário brasileiro em fins da década de 1980 e início da
década de 1990, que seguiram as concepções e prescrições de política econômica que
prevaleceram neste período e que derivaram de uma evolução metodológica e histórica da
teoria da tributação ótima. De modo geral, verifica-se que a forma pela qual foi implantado o
sistema de tributação direta sobre as pessoas físicas, com poucas faixas de renda e tributação
baixa sobre a faixa de maior renda; e sobre as pessoas jurídicas, com baixa tributação sobre os
lucros e isenção de tributação sobre os dividendos, conferiu ao sistema um caráter regressivo.
Assim como a alta incidência da tributação indireta, especialmente sobre o consumo, que
acaba fazendo com que o impacto do pagamento de impostos sobre a renda da população de
mais baixa renda seja proporcionalmente maior. Contribuindo assim para o aumento da
desigualdade de renda.
This paper analyzes the Brazilian tax system, presenting data that can be classified as
regressive, and seeks to relate the impact of this regressivity on the process of income
concentration in the country. Specifically, it seeks to analyze the changes implanted in the
Brazilian tax system in the late 1980s and early 1990s, which followed the conceptions and
prescriptions of economic policy that prevailed in this period and that derive from a
methodological and historical evolution of the theory of optimal taxation. In general, it is
verified that the way in which the system of direct taxation on individuals was implemented,
with few income and low tax rates on the highest income bracket; and on corporations, with
low taxation on profits and exemption from taxation on dividends, gave the system a
regressive character. As well as the high incidence of indirect taxation, especially on
consumption, which ends up making the impact of paying income taxes on the lowest income
population proportionally higher. Thus contributing to the increase of income inequality.
PF – Pessoa Física
PJ – Pessoa Jurídica
UE – União Europeia
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 8
4 – CONCLUSÃO ......................................................................................................32
Introdução
O sistema tributário brasileiro é caracterizado por apresentar uma das mais altas cargas
tributárias dentre os países em desenvolvimento, aproximadamente 33% do PIB, e pela
regressividade dos seus impostos, que incidem predominantemente sobre a renda e o
consumo. Esta caracterização contribuiu, grosso modo, para a desigualdade de renda
apresentada pelo país.
Esses resultados pouco satisfatórios têm incentivado o debate a favor de uma mudança
no sistema tributário brasileiro em direção a uma maior progressividade, especialmente
através da redução dos impostos sobre o consumo e a produção e do aumento dos impostos
sobre a renda, com maior incidência sobre as camadas mais ricas da população.
Este trabalho tem como objetivo analisar, através de uma revisão bibliográfica e
análise de dados secundários, a regressividade dos impostos brasileiros e seus impactos sobre
a desigualdade de renda. Reforçando, dessa maneira, a tese em defesa da necessidade da
implantação de um sistema tributário progressivo no país.
Para tanto este trabalho conta com três capítulos, além desta introdução e da
conclusão. O primeiro capítulo aborda a necessidade e importância do sistema tributário na
economia de um país, as principais linhas teóricas e formas de implantação desse sistema. No
segundo capítulo são apresentados, ainda que de forma sucinta, os sistemas tributários de um
país desenvolvido: Portugal, e de um país em desenvolvimento: México, como base de
comparação para a análise do sistema tributário brasileiro. Além disso, procura-se analisar os
impactos dos sistemas tributários sobre a distribuição de renda desses países. O terceiro
capítulo faz uma análise do sistema tributário brasileiro e da sua relação com a desigualdade
de renda apresentada pelo país. A conclusão apresenta os principais resultados do trabalho e
9
procura indicar caminhos para a adoção de um sistema mais progressivo e alinhado com a
promoção da redução da desigualdade de renda.
10
Uma das formas da tributação feita para custear estes bens e serviços é o imposto, que
pode ser cobrado de forma direta ou indireta. Impostos diretos são aqueles que incidem
diretamente sobre quem paga o imposto. Os principais impostos desse tipo são os impostos
1
O estado natural humano não admite Estado, melhor tratado em Rousseau (1978).
11
sobre a renda (salários) e os impostos sobre a riqueza (propriedade). Impostos indiretos são
aqueles que incidem sobre o preço dos bens e serviços: imposto sobre circulação de bens,
imposto de produtos industrializados e impostos sobre serviços, em que normalmente o
empresário embute o valor do imposto no preço do bem ou serviço, onerando o consumidor,
com que diminui sua renda disponível final (GREMAUD; VASCONCELLOS; TONETO, 2007,
P. 198).
Como pontuado, os impostos têm capacidade de afetar a renda final, seja dos
consumidores através do imposto indireto ou das pessoas físicas e jurídicas, através da
tributação sobre sua renda e riqueza de forma direta. A forma de cobrança dos impostos
define diversos sistemas tributários, que podem ser classificados como progressivo, regressivo
ou neutro (GREMAUD; VASCONCELLOS; TONETO, 2007, P. 199).
Por ter esta característica de definir qual tipo de sistema tributário irá usar, o Estado
pode impactar a renda final de seus cidadãos, podendo orientar suas políticas a fim de
diminuir a desigualdade de renda. É importante notar que todas suas decisões impactam as
relações de mercado, podendo alterar os preços relativos, o que de certa forma pode definir a
destinação e distribuição da renda na sociedade. (GREMAUD; VASCONCELLOS;
TONETO, 2007, P. 199). Considerando a relação entre sistema tributário e distribuição de
renda, a seguir são apresentados os principais pontos das escolas neoclássica e keynesiana
sobre o tema, assim como suas derivações mais recentes.
de política econômica que prevaleceram nos anos 1980 e 1990 e que derivaram de uma
evolução metodológica e histórica da teoria da tributação ótima, conforme destacam Gobetti e
Orair (2016)2. De acordo com os autores,
Já a escola keynesiana, interpretada neste trabalho como aquela que se baseia nos
preceitos de Keynes conforme elaborados em sua principal obra: a Teoria Geral do Emprego,
do Juros e da Moeda de 1936, defende uma atuação mais ativa do Estado. Especificamente,
defende que a política tributária pode e deve ser usada para promover a realocação da renda
através da cobrança de impostos sobre a herança e progressivos sobre a renda, além de
recomendar políticas de transferência de renda. Essa abordagem argumenta que tais políticas,
além de proporcionarem uma distribuição mais igualitária da renda, também podem
impulsionar o consumo agregado, visto que a propensão média a consumir dos mais pobres é
maior.
A literatura recente sobre o tema, que tem como uma de suas principais referências a
obra de Piketty (2014), questiona as concepções e prescrições de política econômica que
prevaleceram nos anos 1980 e 1990, e que são adotadas no Brasil atualmente, especialmente
no que diz respeito à política tributária. De modo geral, o autor considera que as políticas
adotadas durante as décadas de 1980 e 1990 foram responsáveis pelo grande aumento na
desigualdade de renda, principalmente pela ótica da tributação, o qual impactou os rumos das
economias desenvolvidas e em desenvolvimento.
2
De acordo com Gobetti e Orair (2016) a teoria da tributação ótima se baseia “... no alegado trade-off entre
equidade e eficiência e em hipóteses muito restritivas sobre o comportamento individual e a dinâmica
econômica, produzia modelos extremos, em que o IR deveria ter uma alíquota linear e as rendas do capital não
deveriam ser tributadas para não distorcer incentivos econômicos.” (Gobetti e Orair, 2016, pág. 7)
13
Piketty (2014) argumenta que com a redistribuição fiscal justa, as oportunidades para
o aumento da eficiência e da produtividade aumentam, conforme propõe o modelo de capital
humano3.Dessa forma, assegura um maior crescimento associado a um maior
desenvolvimento econômico.
Para evidenciar seu ponto, de que uma tributação progressiva e justa é a melhor saída
para a redistribuição de renda, o autor realizou a análise de uma ferramenta de tributação
regressiva nos Estados Unidos sob o nome de EITC: “Earned income tax credit”. O EITC foi
caracterizado pela implantação do imposto regressivo sob o salário, em que assalariados que
ganhavam até 9000 dólares por ano, eram taxados em 40% dessa renda, decrescendo até os
estratos maiores de rendas assalariadas onde essa taxa era de 20%. (PIKETTY, 2014, p. 101).
Piketty (2014) concluiu que a redução da tributação das faixas de renda média e alta,
justamente as que têm maior capacidade de contribuição fiscal, contribuiu para o aumento da
desigualdade de renda. Enquanto a redução das tributações sob os estratos de menor renda
permitiria melhorar a situação dos indivíduos menos favorecidos. Para evidenciar o resultado
da sua análise do EITC e sua conclusão anterior, ele relacionou essa crescente taxação sobre
os mais pobres e a diminuição sobre aqueles que podem contribuir mais, a uma curva “U” de
Kuznets4.
Nesta análise o autor evidenciou que uma maior taxação sob os estratos de renda mais
pobres, levam a uma maior elasticidade da renda em relação ao tributo. Enquanto a
elasticidade da renda da população de maior renda é menor em relação à tributação. Diante
dessa analise o mesmo conclui que uma taxação de acordo com essas elasticidades é
necessária para uma melhor redistribuição da renda.
3
Aqui se insere a visão de Becker com seu livro Human Capital (1964), que deriva o capital humano em algo
similar aos meios de produção, onde o indivíduo investiria em si mesmo através da educação, saúde e
treinamento profissional, tornando sua produtividade maior como retorno desse investimento em si mesmo.
Como também se insere as críticas marxistas feito por Bowles e Gintis no livro The Problem with Human
Capital Theory (1975, p. 74-82) tratando que o capital humano não pode ser um processo do mecanismo
produtivo capitalista e sim um fator que seja contributivo para o trabalhador. Trabalhador este que detém o seu
capital humano e não o sistema produtivo em si.
4
Piketty utiliza a curva de “U” de Kuznets sob a elasticidade da renda diante de uma tributação, concluindo que
os estratos mais pobres da sociedade são mais afetados por impostos. (2014, p. 97)
14
entanto isso só seria possível num sistema tributário progressivo, diferente da EITC analisada
pelo autor (PIKETTY, 2014).
A lógica é que este tipo de tributação criaria um efeito de gotejamento para as classes
com rendas inferiores, que levaria ao aumento da renda de todos, mesmo que os mais ricos se
beneficiassem mais. Galbraith (2017) observa que esse tipo de política econômica já havia
sido tentada nos Estados Unidos com o nome de “A Teoria do Cavalo e do Pardal”5, e
resultou no Pânico de 1896 que, de acordo com o autor, ajudou a aprofundar a primeira crise
capitalista mundial.
5
Galbraith usa essa expressão para descrever a depressão econômica ocasionada pelo Pânico de 1896, em que se
tinha a noção de que “se você der aveia o suficiente para alimentar o cavalo, um pouco irá cair para que os
pardais na estrada o comam”.
15
Ainda assim, durante o período militar, que permaneceu até 1985, a política tributária
implantou medidas regressivas, diminuindo a alíquota máxima de 65% para 50% sobre o
imposto de renda pessoa física (GOBETTI; ORAIR, 2016, p. 10), e criando impostos
indiretos cumulativos (VARSANO, 1996).
Em 2016 o Brasil tem uma das maiores cargas tributárias dentre os países em
desenvolvimento, representando 33% do PIB (GOBETTI; ORAIR, 2016), valor próximo da
realidade dos países desenvolvidos. No entanto essa tributação é feita majoritariamente
através de impostos indiretos e regressivos, diferindo da realidade dos países desenvolvidos,
onde é feita de forma direta e progressiva. Esses impostos indiretos recaem diretamente sobre
o consumo e afetam principalmente a classe de menor renda e boa parte da classe média
brasileira6, enquanto os mais ricos gozam de maior liberdade fiscal. De modo geral, a
literatura acadêmica na área da tributação tem considerado a regressividade do sistema
tributário brasileiro como uma das causas do aumento da desigualdade de renda no país.
Indicadores como o Índice de Gini, obtiveram uma redução ínfima quando comparado a
países que utilizam uma tributação progressiva (GOBETTI; ORAIR, 2016).
Estima-se que os impostos indiretos representam 51% da carga tributária bruta total
brasileira (FERNANDES; CAMPOLINA; SILVEIRA, 2019), recaindo principalmente sobre
as classes baixa e média, com um característica seletiva, isto é, o consumo das classes mais
ricas não contribuem tanto quanto as demais, pelo fato que maioria da população é
6
Gobetti e Orair (2016) utilizam a noção de estratos para melhor acompanhar os percentis que eles dividiram a
sociedade brasileira, sendo composta em 10 camadas que representam cada uma as faixas de rendas da
população brasileira, sendo que a maioria da população está concentrada entre as 5 primeiras camadas, enquanto
a última camada representa uma parte ínfima da sociedade brasileira, representada por não mais que 1% da
população que detém maior parte da riqueza.
17
pertencente as duas primeiras classes e que a renda final depois do consumo obrigatório nas
classes de renda baixa é menor, tornando o imposto indireto regressivo (ALVES, 2012).
Isto tem efeito direto na hipótese de que a redistribuição é feita pelo lado dos gastos
governamentais, pois tendo uma majoritária participação dos tributos indiretos recaindo sobre
as classes mais pobres, faz com que os gastos públicos sejam financiados pelas classes que
precisam dos serviços e bens ofertados pelos próprios gastos públicos. Portanto os programas
de redistribuição feitos pela ótica dos gastos públicos não surtem efeitos redistributivos.
Serviços como saúde e educação ou programas como bolsa família e similares tendem a ser
financiados por aqueles que mais necessitam deles, contribuindo para a quebra dos
pressupostos de verticalidade tributária e aumento da concentração de renda (ALVES, 2012).
Além do imposto indireto, os lucros e dividendos não são taxados em seu potencial
total. Com aberturas constitucionais para sua isenção, estima-se que de 2007 para 2013 houve
um aumento dos lucros e dividendos declarados de R$ 149 bilhões para R$ 287 bilhões, um
crescimento de 41% a mais do que o PIB. Esses valores afetam 2,1 milhões de pessoas ou
7,9% dos declarantes de impostos, onde essa porcentagem é mais concentrada nos declarantes
com rendimentos superiores à 1,3 milhão, representando 72% dos 7,9% dos declarantes
(GOBETTI; ORAIR, 2016, p. 17). Aliado ao fato de que grande parcela dos rendimentos das
classes com renda mais elevada tem isenções fiscais, isto torna os impostos diretos de fato
regressivos (GOBETTI; ORAIR, 2016, p. 18).
Dada a situação dos impostos diretos, a tributação brasileira atual recai principalmente
sobre a renda assalariada. Observa-se que este fator atinge principalmente as camadas de
renda mais baixas e médias, pois grande parte da renda dessas classes advém do trabalho
assalariado. Diferente da renda das classes de mais alta renda, que tem sua origem nos ganhos
do capital, ou seja, remuneração sob riqueza, lucros e dividendos, e ganhos financeiros. A
Tabela 1 demonstra muito bem as diferenças das fontes tributáveis e os valores isentos.
Tabela 1
Rendimentos das DIRPFs (2008-2014, ano-base 2007-2013) (Em R$ bilhões de 2013)
Rendimentos 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
Tributáveis 968,5 1.034,6 1.071,2 1.125,2 1.197,7 1.271,0 1.293,2
Tributados exclusivamente na fonte 107,6 149,8 139,3 163,6 204,9 192,7 207,4
Rendimentos do trabalho 30,1 50,6 55,1 63,5 70,1 74,6 97,6
Aplicações financeiras 32,3 45,8 42,5 45,6 57,2 52,8 45,2
Outras rendas da propriedade do 45,3 53,3 41,7 54,5 77,6 65,2 64,6
capital
Isentos 293,2 477,6 473,3 530,4 583,0 601,5 632,2
Rendimentos do trabalho 47,2 89,2 92,1 94,8 97,5 105,8 113,5
Lucros e dividendos 149,4 196,9 195,8 229,7 257,0 271,4 287,3
Outras rendas da propriedade do 65,0 128,2 127,3 145,8 167,8 166,5 171,9
capital
Transferências patrimoniais 31,7 63,3 58,2 60,3 60,6 57,9 59,4
Total dos rendimentos declarados 1.369,4 1.661,9 1.683,8 1.819,2 1.985,5 2.065,2 2.132,7
Fonte: SRFB (vários anos).
Elaborado por Gobetti e Orair (2016, p. 19).
Obs.: Valores convertidos pela média aritmética anual do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).
Esta ótica desigual não muda quando analisamos os impostos que recaem na esfera
produtiva. A indústria da transformação paga 45,4% do total dos impostos pagos por todos
setores industriais e é responsável por 16,2% do PIB brasileiro (FIRJAN, 2015). De acordo
com o FIRJAN (2015), o total de encargos tributários que recaem sobre a esfera produtiva é
desigual se comparado aos demais setores, gerando um obstáculo à produção por onerar seus
custos. Além disso, parte significativa dos tributos incidentes sobre esse setor são repassados
de alguma forma ao consumidor final, devido à natureza dos impostos, caindo novamente na
questão do tributo indireto.
Este capítulo tem como objetivo analisar, ainda que de forma sucinta, a evolução do
sistema tributário das economias desenvolvidas e em desenvolvimento e, dessa maneira, obter
um parâmetro para analisar a evolução do sistema tributário brasileiro no contexto mundial.
Para tanto serão analisados os sistemas tributários de Portugal, como ponto de observação do
sistema tributário padrão da União Europeia, e do México como ponto de observação na
América Latina.
A União Europeia é uma união de países que estão situados principalmente na Europa
e atualmente conta com 28 países como membros. Como uma união política e econômica, há
a existência de diversos acordos entre os países, onde na tributação tende a ter características
semelhantes em alguns aspectos, um desses é o sistema de tributação indireta, o VAT: Value-
added Tax.
Tabela 2
Separação simples do sistema tributário português por tributos aplicados (em Euros/EUR)
Tipos de taxas Incidência total
Renda (individual)*
Até 7.091EUR 14,5%
Entre 7.092 EUR a 10.700 EUR 23%
Entre 27.520 EUR a 20.261 EUR 28,5%
Entre 20.262 EUR a 25.000 EUR 35%
Entre 25.001 EUR a 36.856 EUR 37%
Entre 36.857 EUR a 80.640 EUR 45%
Acima de 80.641 EUR 48%
Corporativos
Até 80.000 EUR 21%
Entre 80.001 EUR a 250.000 EUR 2,5% sobre o valor que excede a 80.000 EUR
Acima de 250.000 EUR 5% sobre o valor que excede a 250.000 EUR
Não residentes
Corporativos
Até 80.000 EUR 28%
Entre 80.001 EUR a 250.000 EUR 2,5% sobre o valor que excede a 80.000 EUR
Acima de 250.000 EUR 5% sobre o valor que excede a 250.000 EUR
Salários e Rendas 25%
Ganhos financeiros 25%
Consumo
Artigos de luxo 23%
Mercadorias comuns 13%
Mercadorias de subsistência 6%
Fonte: OCDE (2018), Banco Mundial (2014) e Autoridade Tributária e Aduaneira de Portugal (2017)
Elaborado pelo autor
*Similar a França, a incidência final pode ser modificada dependendo da situação dos declarantes, podendo optar por declaração conjunta e
caso tenha filhos recebe maior oneração fiscal
Analisando a tabela, Portugal adota uma política de tributação mais direta, porém se
assegura para que não residentes não entrem no sistema tributário geral português, tendo
alíquotas específicas para estes casos. A vantagem é que se pode observar muitas faixas de
21
rendas com alíquotas progressivas tornando o sistema tributário mais vertical, com isso
podendo tributar mais de quem pode contribuir mais.
A análise anterior foi feita para um país europeu com uma economia considerada
desenvolvida. Como o contexto e a realidade econômica dos países em desenvolvimento,
como Brasil, é bastante distinta da apresentada anteriormente, será apresentado a seguir o
sistema tributário mexicano, como ponto de observação na América Latina. O México foi
escolhido por ser um país em desenvolvimento, com características econômicas próximas às
apresentadas pelo Brasil.
alíquota única com isenções fiscais sobre os bens e serviços essenciais e mercadorias culturais
produzidas nacionalmente.
Tabela 3
Separação simples do sistema tributário mexicano por tributos aplicados (em Peso
mexicano/MXN7)
Tipos de taxas Incidência total
Renda
Até 6.942,35 MXN 1.92%
Entre 6.942,36 MXN a 58.922,27 MXN 6.4%
Entre 58.922,28 MXN a 103.550,51 MXN 10.88%
Entre 103.550,52 MXN a 120.372,95 MXN 16%
Entre 120,372,96 MXN a 144.119,39 MXN 17.92%
Entre 144,119,40 MXN a 290.667,84 MXN 21.36%
Entre 290.667,85 MXN a 458.132,39 MXN 23.52%
Entre 458.132,39 MXN a 874.650,11 MXN 30%
Entre 874.650,11 MXN a 1.116.200,07 MXN 32%
Entre 1.116.200,08 MXN a 3.498.600,11 MXN 34%
Acima de 3.498.600,12 MXN 35%
Consumo* 16%
7
A conversão do Peso mexicano para Real brasileiro em 29/06/2019 é de 0,20 MXN = 1 BRL
23
corporativa, o quesito progressivo não é observado, pois é praticado uma alíquota única,
apesar de ter uma incidência alta.
A Tabela 4 apresenta o panorama geral desses sistemas e sua evolução ao longo dos
anos de 1990 a 2017. Nela se inclui tanto impostos diretos como indiretos e sua soma
totalizada, ressaltando que referente ao dado de 2017 do México foi utilizado o ano anterior
por simples comparação analítica e sua falta nos dados divulgados pela OCDE:
Tabela 4
Evolução dos Impostos entre 1990 a 2017 (em %)
Impostos sobre receitas e lucros Impostos sobre Propriedade Impostos sobre Bens e Serviços
Ano Portugal México Portugal México Portugal México
1990 25,7 34 2,7 1,9 44,2 44
1993 27,5 37 2,4 2,5 42,8 37
1996 27,9 33 2,9 2,2 43,6 39,5
1999 28 34,4 3,7 1,7 42 44,3
2002 27,1 34,8 3,6 2,1 41,6 42,9
2005 25 37 3,7 2,5 43,6 38,6
2008 28,1 40,4 3,8 2,3 40,6 38,5
2011 28,1 41,3 3,4 2,2 39,8 36,4
2014 30,8 40,9 3,6 2,3 38,1 36,8
2017 28,2 42,7* 4 1,9* 39,8 38,8*
Fonte: OCDE (2018)
Elaborado pelo autor
*Os dados referentes a 2017 para o México estão ausentes nos relatórios da OCDE, será usado o do ano anterior (2016) para fins
comparativos
É nítido o aumento das taxas sobre lucros e propriedades nos países desenvolvidos e
em desenvolvimento, enquanto o México volta ao patamar de 1990 na análise dos impostos
sobre propriedade, porém com oscilações que tendem a um aumento durante o período
analisado. Por outro lado, os impostos sobre o consumo diminuem demonstrando uma
24
tendência à redução dos impostos indiretos que recaem principalmente sobre os indivíduos de
baixa e média renda.
Quanto aos dados de Portugal, estima-se que os impostos sobre corporações sejam de
29,5% sem deduções efetivas (OCDE, 2018). Portugal, em 2017, apresentou 34,7% do PIB
advindo da carga tributária total, houve um crescimento de 76% em relação ao PIB de 1990
na evolução da carga tributária total até 2017. Deste aumento de 1990 a 2017, a participação
dos impostos sobre lucros no PIB total português foi de 6,8% a 9,8% durante esse período,
enquanto as taxas sobre propriedades foram de 0,7 a 1,4% na participação total do
crescimento do PIB, porém Portugal apresentou maior participação dos impostos sobre
consumo no PIB, saindo de 11,7% a 13,8%. É importante notar que os impostos sobre bens
essenciais diminuíram conforme a tabela 2 demonstra, logo esse aumento não afeta o
consumo essencial das classes de renda mais baixa, mantendo a verticalidade e principalmente
a horizontalidade do sistema tributário português (OCDE, 2018).
Desta análise se confirmam três pressupostos deste trabalho: primeiramente que cada
vez mais a tributação está sendo feita pelo lado direto e progressivo, indo contra as premissas
neoclássicas de que se tem que taxar menos os mais favorecidos. Em segundo que os
impostos indiretos estão sendo desencorajados por terem efeitos regressivos e concentrarem
renda. E por último, que as teses neoliberais quanto a tributação regressiva, tem fatores que
contribuem para a concentração de renda brasileira, um problema bastante conhecido
brasileiro.
Tabela 5
Evolução do Índice de Gini de 2003 a 2015
Ano Portugal México*
2003 0,387 0,49
2006 0,385 0,477
2009 0,349 0,446
2012 0,36 0,454
2015 0,35 0,434
Fonte: Banco Mundial (vários anos)
Elaborado pelo autor
*Os valores de 2015 e 2009 para o México não foram obtidos, utilizando o ano-referência anterior para fins de comparação
3 – Analise do Brasil
Como destacam Gremaud et. al. (2016), os principais impostos do Brasil são:
“... Imposto de Renda (IR), que incide tanto sobre pessoas físicas como
sobre pessoas jurídicas, o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) e o
Imposto sobre Circulação de mercadorias e Serviços (ICMS). Além destes,
existe uma série de outros impostos: Imposto Sobre Serviços (ISS), Imposto
Sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA), Imposto Territorial e
Predial Urbano (IPTU), Imposto Territorial Rural (ITR), Imposto de
Importação (II), Imposto de Exportação (IE), ... Além destes, conta-se com
uma série de contribuições socais sobre a folha de pagamentos e sobre o
faturamento das empresas: Cofins, PIS, Contribuição previdenciária etc.”
(Gremaud et al., 2016, pag. 181)
O IPI e o ICMS são impostos do tipo valor adicionado e incidem sobre a circulação de
mercadorias. O IPI restringe-se à produção industrial, é de competência da União e possui
alíquotas diferenciadas de acordo com o critério de “essencialidade” do bem e com objetivos
de arrecadação e política industrial. O ICMS, engloba também a produção agrícola e é de
competência dos Estados, mas estes não podem decidir sobre níveis de alíquotas e isenções.
Ambos são bastante sensíveis às flutuações do produto e têm sido utilizados como forma de
incentivo a determinados setores econômicos. Em relação aos impostos municipais, o ISS e o
IPTU são os principais. (Gremaud et. al., 2016)
No que diz respeito ao Imposto de Renda, este se divide em IR sobre pessoas físicas,
incidente sobre a renda dos indivíduos e IR sobre pessoas jurídicas, incidente sobre os lucros
das empresas. O IR pessoa física é cobrado de acordo com cinco faixas de renda, com 4
alíquotas incidentes sobre a renda e uma faixa sendo totalmente isenta, como pode-se
8
Esta análise simplificada pode não representar as alíquotas finais, pois para simplificação serão considerados
apenas as deduções e acréscimos praticados de forma geral.
27
observar na Tabela 6. Já o IR pessoa jurídica trabalha com duas alíquotas de acordo com o
faturamento da empresa. Para empresas com faturamento até R$ 240.000 a alíquota é de 15%
sobre o lucro real e acima de R$ 240.000 é de 10%, evidenciando o caráter progressivo deste
imposto (Tabela 6).
Tabela 6
Separação simples do sistema tributário brasileiro por tributos aplicados (em Reais)
Tipos de taxas Incidência total
Renda (individual/mês) *
Até 1.903,98 0%
Entre 1.903,99 a 2.826,65 7,5%
Entre 2.826,66 a 3.751,05 15%
Entre 3.751,06 a 4.664,68 22,5%
Acima de 4.664,68 27,5%
Consumo
IPI Entre 0% a 30% (variando sobre o tipo de mercadoria)
ICMS Entre 17% a 18% (variando entre os governos estaduais)
Fonte: Secretaria da Receita Federal do Brasil
Elaborado pelo autor
*Podendo sofrer uma dedução de 189,59 por dependente no resultado final, sem inserir as deduções isentas que afunila ainda mais a renda
final
impostos diretos sobre a renda das pessoas físicas e das pessoas jurídicas e também dos
impostos indiretos que incidem sobre o consumo.
De modo geral, considera-se que o país tem poucas faixas de renda e que seu sistema
privilegia as faixas de maior renda. Enquanto Portugal apresenta, por exemplo, alíquotas
maiores para faixas sobre rendas mais elevadas (taxando mais aqueles que podem contribuir
mais), no Brasil a alíquota máxima incide de tal forma que as classes média, média-alta e alta
renda são taxadas de forma semelhante.
Estima-se que indivíduos que pagam a alíquota máxima e que seus rendimentos têm
origem no capital pagam 6,7% a menos em comparação a indivíduos cuja a renda tem origem
assalariada, tornando a alíquota máxima efetiva equivalente a 20,8% (GOBETTI; ORAIR,
2016, p. 19). Na pratica indivíduos que deveriam pagar a mesma porcentagem sobre a renda,
acabam sendo tributados de forma diferente, onde a horizontalidade do sistema tributário
brasileiro é quebrada, agravando o problema da concentração de renda.
Cabe ressaltar que este é um sistema bastante diferente daquele que já prevaleceu no
Brasil anteriormente. No Governo João Goulart, por exemplo, foram implantadas 12 faixas de
renda com alíquotas que chegaram a 65% para a faixa de renda mais alta (GOBETTI;
ORAIR, 2016). Neste sentido, é nítido como as convenções econômicas neoliberais que
predominaram a partir da década de 1970 guiaram as reformas e configuraram o atual sistema
tributário brasileiro.
Essas reformas foram mais profundas em 1989, especialmente no que diz respeito à
incidência do imposto de renda sobre pessoa jurídica. Naquele ano, o governo do presidente
Sarney instituiu a figura do JSCP (juros sobre o capital próprio), um mecanismo que permitiu
às empresas deduzirem o pagamento de seus impostos, utilizando a TJLP para fazer essa
redução. Essa mudança permitiu que a alíquota total incidente sobre o IRPJ e sobre a
Contribuição Social sobe o lucro líquido – CSLL, reduzisse de 34% para 15%. Além disso,
como citado no Capítulo 1, o Governo Sarney fez com que dividendos que antes eram
tributados a 15% passassem a receber isenção fiscal total. As principais alterações foram
instituídas através da Lei nº 9.249 e podem ser vistas na Tabela 7. (GOBETTI; ORAIR, 2016)
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Tabela 7
Lucro e tributação no Brasil (em %)
Lucro e impostos Antes da Lei n°9.249 Depois da Lei n°9.249 Diferença
Lucro bruto 100,0 100,0 0,0
Lucro tributável 100,0 70,0 -30,0
IRPJ=25% 25,0 17,5 -7,5
CSLL=9% 9,0 6,3 -2,7
JSCP 0,0 30,0 30,0
IRRF*-Capital (15%) 0,0 4,5 4,5
Dividendos 66,0 46,2 -19,8
IRRF*-Capital (15%- 9,9 0,0 -9,9
0%)
Total de imposto 43,9 28,3 -15,6
Lucro líquido acionista 56,1 71,7 15,6
Fonte: Secretaria da Receita Federal do Brasil (vários anos)
Elaborado por Gobetti e Orair (2016, p. 13).
* Imposto de Renda Retido na Fonte (IRRF).
Observa-se que ocorre uma redução no imposto final e maior repasse aos acionistas.
Cabe destacar que a implementação desta lei coincide com o período em que as teses
econômicas neoclássicas ganharam maior força, fomentando o discurso de uma tributação
regressiva. O que de fato aconteceu através do caráter regressivo das alterações relativas ao
imposto sobre lucros e dividendos. Em empresas menores essa tributação foi ainda mais
baixa, decaindo para 10,88% devido ao montante de deduções incidentes. Este cenário se
agravou através do fenômeno da “pejotização” por parte das empresas prestadoras de
serviços, com vistas a ganharem maiores deduções nas alíquotas incidentes sobre as pessoas
jurídicas (GOBETTI; ORAIR, 2016, p. 13).
Gobetti e Orair (2016), destacam que essas reformas, além de tornarem o sistema
regressivo, pouco contribuíram para a retomada dos investimentos, que voltaram a crescer
apenas 10 anos depois da implantação dessas medidas. Dessa forma, não obtiveram efeitos
sobre a geração de renda e ainda contribuíram para a promoção da concentração da renda.
Feita essa análise da tributação direta brasileira, é notável sua caracterização como
regressiva e injusta (mesmo que as alíquotas apresentem pouca progressividade). Contudo
grande parte das taxações vêm dos impostos indiretos, os quais representam 51% da carga
tributária total brasileira, que gira em torno dos 33% do PIB. Comparando com a participação
dos tributos indiretos (consumo) dos países analisados anteriormente, observa-se que,
enquanto o consumo é tributado cada vez menos nos países da OCDE, no Brasil tal tributação
prevalece.
incidindo sobre a população de mais baixa renda. Isso acontece porque a população de menor
renda consome proporcionalmente mais em relação à renda recebida, pagando assim mais
impostos (proporcionalmente à renda) que a população de renda mais alta:
Tabela 8
Evolução da carga tributária de 1996 a 2004 (em %)
Tributação Direta Tributação Indireta Carga tributária total
Salários mínimos 1996 2004 1996 2004 1996 2004
Até 2 1,7 3,1 26,5 45,8 28,2 48,8
2a3 2,6 3,5 20 34,5 22,6 38
3a5 3,1 3,7 16,3 30,2 19,4 33,9
5a6 4 4,1 14 27,9 18 32
6a8 4,2 5,2 13,8 26,5 18 31,7
8 a 10 4,1 5,9 12 25,7 16,1 31,7
10 a 15 4,6 6,8 10,5 23,7 15,1 30,5
15 a 20 5,5 6,9 9,4 21,6 14,9 28,4
20 a 30 5,7 8,6 9,1 20,1 14,8 28,7
Mais de 30 10,6 9,9 7,3 16,4 17,9 26,3
Fonte: Zockun (2005, p. 11) apud Alves (2012)
Elaborado pelo autor
Alves (2012) mostrou que o valor da carga tributária total para as faixas de renda de
até dois salários mínimos aumentou para 53,9% em 2008, enquanto as classes mais altas
foram taxadas em 29% do total da sua renda.
31
Coeficiente de Gini
0,62 0,605 0,601 0,599
0,6 0,59
0,581
0,58 0,563
0,56
0,54
0,529 0,533
0,54
0,515
0,52
0,5
0,48
0,46
1990 1993 1996 1999 2002 2005 2008 2011 2014 2017
Coeficiente de Gini Média Móvel (Coeficiente de Gini)
9
O período de crescimento da economia brasileira compreendido entre 2004 e 2014 pode ser considerado uma
exceção, quando as taxas de investimento voltaram a apresentar maior crescimento, promovendo maior
crescimento econômico, com maior emprego e redução relativa da desigualdade de renda. Com contribuição
ativa das políticas sociais de transferência de renda e aumento real do salário mínimo para a obtenção de tais
resultados, observados no índice de Gini desse período (Banco Mundial, vários anos).
32
colaborando para a hipótese deste trabalho que o coeficiente de Gini obteve reduções ínfimas.
Já o período de 2002 a 2014 tem uma acentuada queda devido a transição de governos e as
políticas adotadas pelo governo de 2002 a 2014, fortalecendo o diálogo entre uma reforma
progressiva e programas sociais inclusivos (que não sejam financiados através dos tributos
indiretos pela população de renda baixa). Já entre 2014 a 2017 se observa um aumento na
desigualdade de renda, devido à crise econômica e política enfrentada pelo Brasil desde esse
período e outros fatores que não são o objetivo deste trabalho, no entanto não descartando a
influência de um sistema tributário regressivo nesse resultado.
Esta concentração de renda é piorada quando analisada pela ótica dos gastos públicos.
Como Alves (2012) analisa, os gastos públicos pela visão neoclássica têm fator redistributivo
para as famílias mais pobres, no entanto como a carga indireta recai principalmente sobre os
mesmos, tem-se que programas assistências e serviços base (saúde, educação e segurança)
acabam sendo financiados majoritariamente pela própria população que necessita desses
serviços e assistências. Dessa forma, tanto a regressividade tributaria como o financiamento
dos gastos públicos no Brasil apresentam caráter que contribuem para desigualdade de renda.
4 - Conclusão
Diante de todas essas análises feitas, é notável que o Brasil ao longo do tempo adotou
uma postura regressiva com sua política tributária. Essa regressividade foi um dos diversos
fatores que impactou diretamente na distribuição de renda do Brasil, obtendo valores não
muito satisfatórios na redução do coeficiente de Gini.
O resultado disso foi o crescimento da concentração de renda nos estratos mais ricos
da sociedade, de 2006 a 2012 os 5% mais ricos que antes dispunham de 41% da renda total
brasileira elevaram seus patrimônios para 47% em 2012. Isto afeta diretamente a maioria da
população brasileira, já que estes não pertencem as camadas beneficiadas pela tributação
regressiva e detentora dos 47% da renda total.
de Gini entre esse período foi de 0,024, comparado aos países citados acima esse valor é
muito pequeno na luta contra a desigualdade de renda e mostra o caráter concentrador de uma
tributação regressiva, sendo implementada efetivamente em 1990 no Brasil.
Em uma análise detalhada da evolução tributaria direta, aqueles que recebem até 2
salários mínimos, de 1996 a 2004 sofreram um reajuste na alíquota efetiva sobre a renda
individual de 1,7% para 3,1%. Enquanto aqueles que recebem mais que 30 salários mínimos
receberam uma diminuição sobre a alíquota efetiva na renda individual de 10,6% para 9,9%.
Isto afeta o IRPF, pois o indivíduo que tem renda originada nos lucros e dividendos,
recebem uma redução efetiva da alíquota máxima de 27,5% no caso da última faixa do IRPF.
Esta redução é melhor visto com os valores isentos, onde os mesmos mostram que os lucros e
dividendos tem maior isenção que os rendimentos do trabalho. Para 2013 R$ 287 bilhões
foram isentos sobre a fonte lucros e dividendos comparados aos R$ 113,5 bilhões isentos
sobre a fonte dos rendimentos dos salários.
Esta redução efetiva é que a alíquota paga por aqueles que tem fonte nos rendimentos
assalariados, pagam o total incidente. Enquanto aqueles que possuem isenções na esfera
jurídica, não são tributados a 27,5%, já que a fonte de seus rendimentos tem origem no capital
e esse tem isenções implementadas pela constituição brasileira. Logo o pagamento dos
tributos diretos no âmbito da pessoa física é violado horizontalmente para aqueles
pertencentes a mesma faixa, ajudando na concentração de renda daqueles que possuem
remuneração corporativa.
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Quanto a tributação regressiva, esta é atrelada a tributação feita nos setores industriais
que repassam o imposto ao consumidor final de forma indireta. É notado um aumento de
26,5% para 45,8% da carga tributária indireta que recai para aqueles que recebem até 2
salários mínimos no período entre 1996 a 2004. Diferente dos países analisados, o Brasil
novamente vai contra a tendência desses países aumentando os impostos indiretos. Estes
impostos colaboram bastante para a situação atual brasileira, onde aqueles que dependem da
assistência social acabam financiando em grande parte as próprias ajudas de renda
complementares que recebem.
Somando ambas cargas, pessoas que recebem até 2 salários mínimos tiveram um
aumento da carga total de 28,2% para 48,8% no período 1996 a 2004. Enquanto aqueles que
possuem renda de mais de 30 salários mínimos obtiveram um aumento de 17,9% para 26,3%
durante esse período. Há uma diferença considerável onde aqueles que ganham até 2 SM
tiveram um aumento de 20,6% nesse período enquanto aqueles que ganham mais que 30 SM
tiveram um aumento de 8,4%.
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