Métodos de Interpretação Da Bíblia
Métodos de Interpretação Da Bíblia
Métodos de Interpretação Da Bíblia
1. Introdução
Não existe interpretação textual sem um método que lhe tenha dirigido. Quer tenha
sido usado de forma consciente ou inconsciente, alguma abordagem metodológica
foi utilizada. O objetivo deste artigo é guia-lo em alguns dos diversos métodos utili-
zados pela pesquisa bíblica. Seu trabalho, se já feito, provavelmente estará ligado a
algum desses métodos. Caso ainda não tenha realizado, este artigo servirá como
uma breve orientação sobre as metodologias disponíveis. Obviamente, não se trata
de um manual, mas este texto foi pensado em formato de roteiro para que você sai-
ba distinguir, durante a apresentação do seu trabalho, qual deles foi o escolhido para
a realização de seu esforço interpretativo.
Caso queira, recomendamos que, após identificar-se com algum destes métodos,
procure uma literatura especializada. No fim do deste artigo, indicaremos algumas
obras que contribuirão para um aprofundamento. Entretanto, queremos ressaltar que
a leitura prévia destes textos não se faz obrigatória para a apresentação de sua co-
municação, mas se estuda-los ficará mais bem informado sobre o método que deci-
diu utilizar e isso vai ajuda-lo a escrever textos exegéticos no futuro, para além das
comunicações deste congresso.
2. Sobre usar diferentes métodos num único exercício
Antes, é preciso que se compreenda que um método poderá enriquecer a outro, en-
quanto que usar simultaneamente mais de dois métodos poderá provocar um dis-
tanciamento dos dois primeiros. Não há, portanto, uma metodologia “melhor” ou “pi-
or”.
Portanto, é preciso que todo aquele que se propõe a elaborar sua hermenêutica co-
nheça as diversas opções de métodos exegéticos disponíveis. Para que saiba esco-
lher de forma consciente e elabore melhor seu trabalho usando uma ou mais de uma
dentre as metodologias listadas.
Cabe dizer que os métodos não são mero preciosismo acadêmico. Eles, como o
próprio significado da palavra diz, são meios, caminhos que guiam a pesquisa de
forma a permitir ao intérprete que, na elaboração de seu trabalho, mantenha coesão,
coerência e um nível de exigência que o enriqueça.
3. Os diferentes métodos
A seguir vamos sumarizar alguns desses para os que forem submeter comunicações
para o Grupo Temático de Bíblia e Gênero. Os métodos que explanaremos são os
seguintes:
Este tipo de abordagem não admite contradições no texto bíblico e quando o admite
procura adequar as contradições com hermenêutica que está proposta. Embora seja
a abordagem menos científica de todas, é a mais usada em muitas comunidades de
fé porque não demanda grande esforço exegético para realizar sua interpretação.
A serviço deste tipo de abordagem, encontramos o método histórico-gramatical
que se prende à análise da gramática do texto à luz da narrativa histórica contida no
próprio texto. É o método mais utilizado pelas correntes teológicas evangelicais e
tradicionais, porque não interroga o texto sobre a legitimidade nominal de seus auto-
res e tende a considerar a interpretação literal da escritura e a inerrância do texto
bíblico como ponto de partida.
1. Imanência: a análise considera todo o texto, mas somente o texto; não apela
a dados “externos”, tais como o autor, os destinatários, os acontecimentos
narrados, a história da redação.
2. Estrutura do sentido: só analisa o sentido através da relação e no interior de-
la.
3. Gramática do texto: cada texto respeita uma gramática, isto é, certo número
de regras, estruturas ou discurso.
Sua tônica é realizar cada um dos passos da crítica das formas com a identificação
de estruturas literárias internas típicas de cada gênero. Por exemplo. Na poesia, as
estruturas literárias típicas são os paralelismos.
Os métodos elencados nesta abordagem procuram estudar como a narrativa foi tra-
çada: enredo, situação dos personagens e ponto de vista defendidos pelo autor da
narrativa. Encara-se a bíblia como uma obra literária. E, como tal obra, observa-se o
texto e sua organização como uma obra artística-literária humana, por assim dizer.
As abordagens diacrônicas não esperam que a Bíblia explique a si mesma, antes,
fazem o recorte de um texto bíblico, e abrem, sobre este texto, uma janela analíti-
ca e, só sobre aquele texto, situa o tempo, a geografia, o contexto ideológico, políti-
co econômico e histórico, sem que a análise deste recorte específico tenha que con-
cordar com outra parte qualquer das Escrituras. Além de tudo isso emprega todas as
abordagens acrônicas para agregar sentido ao resultado final da análise literária.
Estes são os métodos aplicados em 90% dos estudos realizados neste congresso.
Já que são os que usam com mais propriedade as diferentes metodologias científi-
cas e também amplo uso das ciências da religião, pois a Bíblia é texto sagrado e
deve ser analisado como fenômeno religioso com o auxílio da sociologia, da antro-
pologia, da psicologia, da fenomenologia, da história e da linguística tudo isso além
da teologia, sendo esta apenas mais uma das ciências que auxiliam o estudo da bí-
blia, mas jamais a única ciência.
O método histórico-crítico, enquadra-se nas abordagens diacrônicas e explora a
história do texto. Até chegar a versão que temos, o texto bíblico passou por diversas
“mãos” e alguns ganharam adições (propositais e/ou não) ou mesmo cortes. O mé-
todo examina toda a história do texto, sua trajetória até esse “produto final”. Para
isso, “lança mão” das diversas versões que temos (nas línguas originais), tentando
reconstituir, com o máximo de precisão possível, o texto original. Nesta etapa, utiliza
amplamente as metodologias das abordagens acrônicas.
1. A crítica da redação: Por meio das análises das cópias que temos, busca-se
chegar ao texto mais próximo possível do original;
2. Análise do texto: Essa análise, inicialmente, se limita a questões linguísticas e
semânticas e usa muita metodologia com abordagens acrônicas;
3. Delimitação do texto: pega-se o texto maior e divide-o em perícopes. Buscan-
do encontrar sentidos e coesão em parcelas “autônomas” do texto. Nesta de-
limitação, estudam-se as fontes, dependências e influências dessas peque-
nas partes.
1 FITZMYER Joseph A., A bíblia na Igreja, São Paulo: Edições Loyola, 1997, p. 57
termo de maneira rigorosa sem uma pesquisa científica que estude
os estreitos relacionamentos dos textos do Novo Testamento com a
vivência social da Igreja primitiva. A utilização dos modelos forneci-
dos pela ciência sociológica assegura às pesquisas dos historiadores
das épocas bíblicas uma notável capacidade de renovação, mas é
preciso, naturalmente, que os modelos sejam modificados em função
da realidade estudada2.
Sendo assim, o método deve muito sua vida às conquistas das ciências sociológicas
e históricas. É com o olhar da situação dos autores e dos destinatários que se tenta
ler o texto. Respeita, portanto, a compreensão de que a Bíblia não foi escrita toda de
uma vez e que seus textos se distanciam e muito um do outro. Bem como compre-
ende que um autor pode, muito bem, desconhecer a existência de outro texto, ape-
sar de tratar, muitas vezes, do mesmo assunto. Contudo, em época e/ou situação
social diferente.
Por todos estes fatores, o método histórico-sociai é o mais utilizado, por exemplo,
por teólogos da libertação e por grande parte dos pesquisadores reunidos neste
congresso. O objetivo do método sociológico é “reconstituir a vida e o pensamento
do antigo Israel, os modelos típicos das relações humanas na sua estrutura e fun-
ção, num dado momento ou fase (sincronia) como nas trajetórias de suas mutações
em determinados períodos de tempo (diacronia)” 3.
2
Pontifícia Comissão Bíblica, A Interpretação Bíblica na Igreja, p.
3
GOTTWALD, Norman. O método sociológico no Estudo do Antigo Israel. Em: Estudos Bíblicos, n. 7: Leitura da
Bíblia a partir das condições reais da vida. Petrópolis: Vozes, 1987, p. 42-56.
REFERÊNCIAS:
GARMUS, Ludovico. A leitura da Bíblia na Igreja Católica: como ler e interpretar a Bí-
blia na Igreja. e BAILÃO, Marcos Paulo Monteiro da Cruz: O lugar da Bíblia na Igreja e
no Mundo: uma visão protestante. Minicurso “O lugar da Bíblia na Igreja e no Mundo”
realizado no V Congresso Brasileiro de Pesquisa Bíblica. Em: MARIANNO, Lília Dias (or-
ganizadora). Bíblia Violência e Direitos Humanos. Contribuições ao V Congresso Brasilei-
ro de Pesquisa Bíblica. Rio de Janeiro: ABIB/Eagle, 2013. 220-260.
SILVA, Cássio Murilo Dias. Metodologia de Exegese Bíblica. São Paulo: Paulinas, 2003.