PERSONALIDADE
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Karen Horney
A médica psicanalista Karen Horney (1885-1952) enfatizou a preeminência de influências
sociais e culturais sobre o desenvolvimento psicossexual, focalizou sua atenção sobre as
psicologias divergentes de homens e mulheres e explorou as vicissitudes dos relacionamentos
maritais.
Sua visão de que a repressão e a sublimação de impulsos biológicos não são os determinantes
primários do desenvolvimento da personalidade levaram à sua remoção como instrutora no New
York Psychoanalytic Institute e a que ela fundasse, em 1941, o American Psychoanalytic
Institute.
O auto-ódio resulta quando surge a ameaça que as pessoas neuróticas podem ser incapazes
de atingir seus eus idealizados. Se o apoio não fosse necessário para o self idealizado, as
alegações, "os deveres" e o auto-ódio não seriam partes tão importantes do aparelho psíquico.
Cedo na terapia, durante o processo de desilusão, os dois tipos de bloqueio são identificados
e examinados. O primeiro grupo de bloqueios orientados à segurança, os bloqueios protelares,
ajudam a evitar a ansiedade causada pela autopercepção. Os bloqueios protetores incluem
silêncio, atraso, depreciar o analista, o uso de drogas e até mesmo o uso de auto-acusação para
evitar exploração adicional.
Os bloqueios de valor positivo reforçam a satisfação dos pacientes consigo mesmos e
apóiam seus eus idealizados. No processo de desilusão, o analista identifica ambos os tipos de
bloqueio, expondo os bloqueios protetores antes de expor os bloqueios que defendem a imagem
idealizada. Analisar os bloqueios de valor positivo primeiro despertaria medo excessivo.
Processo terapêutico. Homey acreditou que mudanças fundamentais são o melhor meio
para mudar comportamentos autoderrotadores, auto-alienantes. Ela criou um cenário no qual os
pacientes eram capazes de avaliar a si mesmos como pessoas livres para descobrir e escolher
valores pessoais que se encaixam com seus eus reais. Este tipo de reorientação inicia após a fase
de desilusão do tratamento. À medida que os pacientes começam a questionar seus valores
presentes e seu processo idealizador diminui, eles são capacitados a revisar seus valores e
desenvolver valores mais flexíveis consoantes com seus eus interiores. Os sonhos são usados em
todas as fases do tratamento para levar os pacientes em melhor contato com seus eus reais. Como
tentativas inconscientes para resolver conflitos, os sonhos podem mostrar forças construtivas em
funcionamento que não estão ainda discerníveis nos pensamentos conscientes e no
comportamento do paciente.
À medida que os pacientes mobilizam suas forças construtivas, eles experimentam a luta
entre o sistema de orgulho e o eu real, No processo, eles experimentam incerteza, dor psíquica e
auto-ódio. À medida que o conflito central é resolvido exitosamente, os pacientes passam para a
fase final do tratamento, a descoberta e o uso dos seus eus internos reais.
Franz Alexander (1891-1964) foi um da segunda geração de psicanalistas. Ele nasceu em
Budapeste, onde freqüentou sua escola de medicina, formando-se em 1912. Ele conduziu
pesquisas sobre bacteriologia no Instituto para Patologia Experimental até a Primeira Guerra
Mundial, quando ele praticou microbiologia clínica no front italiano, principalmente combatendo
a malária. Após a guerra, ele se juntou ao departamento de psiquiatria na Escola de Medicina da
Universidade de Budapeste como pesquisador do cérebro. Esta pesquisa levou a um encontro
com o trabalho de Freud e em 1919 ele tornou-se o primeiro estudante no Instituto Psicanalítico
de Berlin. Em 1930, tornou-se um professor visitante de psicanálise na Universidade de Chicago
e em 1932 fundou o Chicago Psychoanalytic Institute. Estabeleceu o instituto independente das
sociedades psicanalíticas, levando o instituto de Chicago a ser uma das mais criativas fontes de
pensamento psicanalítico.
Durante a mesma época, despertou seu interesse por doenças psicossomáticas, ajudando a
fundar o jornal Psychossomatic Medicine. Um princípio orientador de seu trabalho foi tornar a
psicanálise uma parte integral da medicina.
Alexander e seu grupo começaram estudando intensamente, através de entrevistas clínicas,
pacientes que tiveram uma entre sete doenças que foram identificadas por clínicos gerais como
regularmente apresentando fortes componentes psicológicos. Entre estes estudos clínicos surgiu
a hipótese da especificidade. A hipótese da especificidade propôs que determinadas doenças são
os produtos de interações complexas de predisposições constitucionais específicas, conflitos
inconscientes específicos e tipos específicos de estressores que ativam tais conflitos. Alexander e
seu grupo então testaram estas hipóteses em uma série de estudos clínicos de populações de
pacientes. A variável independente foi geralmente a habilidade de clínicos experientes de prever
a doença do paciente a partir de relatos de casos mascarados. No modelo que Alexander propôs,
permanece a conceituação psicossomática fundamental; uma variedade de situações de doença é
agora estudada controlando influências genéticas enquanto medindo e modificando o conflito
intrapsíquico e estressores externos.
Na área da psicoterapia, Alexander foi um dos muitos que buscou abreviar o processo
analítico. Ele formulou a hipótese de que o insight intelectual não é o fator curativo central na
terapia. Ao contrário, enfatizou o papel da experiência emocional corretiva. Esta ênfase o levou a
experimentar com variações na técnica que podem facilitar tais experiências. Esta posição
controversa rompeu suas relações com o movimento psicanalítico.
O conflito central identificado na úlcera péptica é hiperindependência como uma defesa
contra necessidades de dependência inaceitáveis. O estressor que resulta em um ataque agudo é
qualquer situação que exija que a pessoa afligida reconheça abertamente necessidades de
dependência ou peça que elas sejam satisfeitas. Ordinariamente, tais pacientes utilizam
dominação e controle para intimidar os outros a preencher suas necessidades de dependência.
Alexander foi o primeiro a descrever o executivo de negócios little boy (menininho) propenso a
úlceras pépticas. O fundamento foi lançado para as experiências com macacos executivos de
John J. Brady. Este modelo de doença particular recebeu mais evidências confirmadoras do que
quaisquer dos outros; em um estudo de alistados no exército, perfis psicológicos descritos por
Alexander, em combinação com medições de pepsinogênio no soro, foram extraordinariamente
exitosas em prever o desenvolvimento de úlceras duodenais.
O modelo aqui é claramente a criança raivosa buscando aplacar um progenitor através de
desempenho. O evento precipitador para a reativação da doença é a percepção de que os esforços
de aplacamento serão malsucedidos. Alexander alegou que a percepção resulta em excesso de
atividade parassimpática conduzindo à diarréia. No próprio estudo de Alexander, internistas e
psiquiatras hábeis revisaram descrições de casos nas quais cada paciente apresentava uma das
sete doenças psicossomáticas identificadas e então previu qual doença cada paciente tinha; os
médicos identificaram corretamente mais da metade dos pacientes com colite ulcerativa a partir
apenas de sua dinâmica - um resultado bastante acima do acaso. No entanto, a maioria dos
clínicos agora considera a formulação embasada em relações de objeto de Engel como mais
acurada.
A hipótese de Alexander sobre hipertensão essencial focaliza sobre raiva inibida e
suspeição em uma pessoa exteriormente anuente e cooperativa. Um paciente hipertenso
freqüentemente passa por longos períodos com pressão sanguínea sob controle e então, de forma
aparentemente inexplicável, experimenta elevações dramáticas na pressão sanguínea. Alexander
atribuiu estes episódios a incidentes quando a raiva crônica é exacerbada e defesas intensas
devem ser usadas, causando ativação e luta-fuga simpática crônica. Diversos estudos
psicofisiológicos sugeriram que a idéia tem alguma precisão, pelo menos em termos de
mudanças de curto prazo na pressão sanguínea de um subconjunto de pacientes hipertensos.
Pacientes hipertensos lábeis parecem encaixar-se melhor no modelo.
O conflito específico proposto para a artrite reumatóide postula conflitos sobre rebelião
contra pais protetores. Uma formação de acordo na qual o conflito é descarregado através de
atividade física, especialmente esportes, funciona por algum tempo, mas a raiva é eventualmente
expressada em auto sacrifício destinado a controlar outros. Falhas do padrão resultam em tensão
ambivalente aumentada, diretamente expressa por contrações musculares que conduzem à
degeneração de articulações. Uma notável quantidade de evidências confirmadoras para esta
constelação aparece em uma série de estudos de testagem psicológica; no entanto, pesquisas mais
recentes falharam em reproduzir muitos destes resultados e implicaram em tópicos de estresse
mais gerais, mudanças de vida e mecanismos psiconeuroimunológicos.
Embora o papel dos conflitos na neurodermatite permaneça amplamente acepto por clínicos,
o conflito específico proposto por Alexander, de que privação precoce conduz a desejos de
proximidade que são opostos por um medo disso não é mais aceita. Finalmente, a doença de
Graves não é mais amplamente aceita como uma doença psicossomática. A hipótese de
Alexander foi de que responsabilidade prematura conduz a negação tipo mártir de dependência.
TRATAMENTO. A hipótese da especificidade conduziu Alexander a focalizar seus
esforços psicoterapêuticos de um modo que outros analistas de seu tempo não focalizaram.
Ele raciocinou que se pudesse ajudar os pacientes a resolver seus conflitos centrais sem
necessariamente abordar outras partes da estrutura de personalidade, a doença médica
melhoraria. De fato, ele publicou diversos estudos de caso sugerindo apenas este tipo de sucesso.
Além disso, ele estava entre os primeiros a questionar o valor de insight intelectual como o
agente curativo na psicoterapia. Ele propôs que uma experiência emocional corretiva é o agente
central de mudança. Uma experiência emocional corretiva envolve desconfirmação dentro do
relacionamento de transferência de suposições e projeções prévias.
Alexander sentiu-se justificado em introduzir uma variedade de técnicas que inicialmente
induziriam e intensificariam experiência emocional da transferência e, subseqüentemente,
desafiar as suposições inconscientes subjacentes. Estas técnicas incluíram a manipulação da
frequência e a duração das sessões, fazendo sugestões diretas sobre o estilo de vida do paciente,
alteração autoconsciente do comportamento do terapeuta de acordo com o conflito do paciente e
técnicas de terapia do comportamento. De muitos modos estas técnicas foram os aspectos mais
controvertidos do trabalho de Alexander.
Sérias questões sobre a validade das suas suposições e a ética de sua posição manipulativa
foram levantadas. Ele estava impaciente com o processo lento e metódico de convencer seus
colegas; sua energia intelectual levou-o a embarcar em experimentos sempre novos enquanto
outros analistas estavam ainda lutando para digerir suas sugestões anteriores. Ainda assim, hoje,
poucos discordam do conceito de que a aprendizagem emocional é pelo menos tão importante
quanto o insight intelectual para o sucesso psicoterapêutico. Os esforços de Alexander para
modificar e encurtar o processo analítico estão mais próximos da norma na prática psiquiátrica
do que a análise clássica.
Harry Stack Sullivan (1892-1949) é geralmente reconhecido como o mais original e distinto
teórico americano nato em psiquiatria dinâmica. A maioria dos psiquiatras americanos faz uso
significativo de conceitos e abordagens que ele desenvolveu. Durante muitos anos, a disputa
teórica primária dentro dos círculos de psiquiatria dinâmica foi entre os freudianos clássicos e os
sullivanianos ou psicanalistas interpessoais. Quando os psiquiatras usam o termo "distorção
paratáxica", aplicam o conceito de auto-estima, consideram a importância de grupos de pares
pré-adolescentes no desenvolvimento ou vêem o comportamento de um paciente como uma
manipulação interpessoal, eles estão aplicando conhecimento que as idéias e observações de
Sullivan forneceram.
Sullivan estava preocupado que a linguagem pode ser desencaminhadora. Ele era precavido
em relação a conceituações autoconcretizadoras que levavam a teorias rígidas. Ele tentou
enfatizar os psiquiatras como participantes-observadores na situação clínica. Enfatizando este
aspecto do papel do psiquiatra, ele buscou manter observações tão objetivas quanto possível,
embora reconhecesse a dificuldade que isso apresentava em lidar com experiências emocionais
privadas. O que pode ser observado é a interação social dos pacientes; portanto, Sullivan definiu
personalidade como "o padrão relativamente duradouro de relações interpessoais que
caracterizam uma vida humana." Seu foco no início foi bastante distante da ênfase intrapsíquica
da psicanálise. Abordando a psicopatologia deste modo, ele necessariamente criou uma teoria de
campo ao invés de uma teoria estrutural. Processos temporais e interativos tornaram-se a marca
registrada. Sullivan definiu um dinamismo como "o padrão relativamente duradouro de
transformações de energia" - ou seja, padrões de comportamento interpessoal recorrentes.
Sullivan definiu segurança como a ausência de ansiedade. Necessidades por segurança
incluem a necessidade de evitar, prevenir ou reduzir ansiedade. Já que nenhuma mãe é perfeita, a
ansiedade é inevitável e torna-se o motor primário no desenvolvimento da personalidade. O auto-
sistema ou autodinamismo foi definido por Sullivan como o dinamismo que é responsável por
evitar ou reduzir ansiedade. Sullivan igualou o self-identidade-ego com os padrões
desenvolvidos da pessoa para evitar os desconfortos que surgem a partir da falha dos outros de
satisfazer as necessidades fundamentais da pessoa. O auto-sistema existe, como tudo mais
puramente dentro de uma estrutura interpessoal. O auto-sistema desenvolve um conjunto de
mecanismos, denominado operações de segurança que reduz a ansiedade.
TEORIAS DESENVOLVIMENTAIS
A fase da infância, que começa com o início de linguagem utilizável e continua até o início
da escola, caracteriza-se pelo foco da criança sobre os pais como o outro de quem louvor e
aceitação são buscados. O modo primário de experiência muda para o paratáxico e a zona de
interação mais comum é a anal. A criança precisa de um público adulto aprovador. Esta
necessidade conduz a uma variedade de áreas de aprendizagem - linguagem, comportamento e
autocontrole. Ela pode também ser observada em uma variedade de esforços, tentativa e erro,
pela criança para encontrar o que agrada. A gratificação, conduz a um auto-sistema expansivo
com muitas facetas da vida associadas ao bom eu e a auto-estima positiva. Ansiedade moderada
conduz à ansiedade crônica, incerteza e insegurança. Ansiedade extrema resulta em desistir de
comportamento exitoso conhecido em favor de padrões autodestrutivos que preencherão o que
veio a ser esperado pelos outros.
A era juvenil cobre as idades de 5 a 8 anos. O desvio do modo cognitivo sintático inicia e o
foco interpessoal espalha-se para grupos de pares e para figuras de autoridade externas. Existe a
oportunidade para pares e os professores aprovarem e aceitarem comportamentos previamente
inibidos dentro da famíla - por exemplo, falar "sujo" com os amigos. Cooperação interpessoal,
competição, brinquedo e acordos tornam-se experiências gratificantes. Os jovens aprendem a
negociar suas próprias necessidades com um interesse social legítimo sem sacrificar a auto-
estima no processo. Os riscos de ansiedade excessiva são uma necessidade demasiado grande
para controlar e dominar as situações sociais ou internalização de atitudes sociais prejudiciais e
restritivas.
Sullivan pensou que diversos fatores afetam a forma que os distúrbios assumem. O nível de
ansiedade em um estágio desenvolvimental particular pode lançar a fundação para uma parte do
desenvolvimento. A capacidade cognitiva básica pode desempenhar um papel na escola de
operações de segurança confiadas ou retidas. O grau de sucesso obtido interpessoalmente,
combinado com quaisquer capacidades usadas, afetam o sucesso posterior. A ocorrência casual
de estresses encontrados durante a vida é também um fator. Sullivan pensou que, pelo menos em
teoria, qualquer um pode tornar-se esquizofrênico, mesmo pessoas com histórias do
desenvolvimento relativamente exitosas, caso as defesas escolhidas falhem dramaticamente e
seus estressores de vida acumulem em extremo. No entanto, os pacientes esquizofrênicos tendem
a ser altamente vulneráveis ao longo de todas as quatro dimensões: nível desenvolvimental,
capacidade cognitiva, realização interpessoal e exposição a estresse; outros, com maiores pontos
fortes desenvolvimentais, podem tornar-se obsessivos, histriônicos, esquizóides ou paranóides.
Sullivan viu a terapia como elucidando os padrões interpessoais do paciente, explorando sua
utilidade a serviço das necessidades do paciente e considerando as possibilidades alternativas e
mais favoráveis.