Definição e História Nuzi

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Definição e história

A arqueologia é a ciência que estuda o passado humano e as


civilizações antigas a partir de testemunhos concretos. Para a tradição
judaico-cristã a arqueologia sempre teve um significado especial.
Desde Justino Mártir (séc. II a.C.) já havia um interesse arqueológico
incipiente entre os cristãos. Nos últimos duzentos anos a arqueologia
bíblica tem se desenvolvido muito. Israel, Jordânia, Egito, Síria, Líbano,
Iraque, Turquia, Grécia, Chipre e Itália são os principais países onde é
realizada a pesquisa arqueológica bíblica, que procura relacionar
descobertas arqueológicas com narrativas do texto sagrado.

A pesquisa concreta teve início no século XIX, quando o estudioso


alemão Seetzen explorou a Transjordânia e descobriu Cesaréia de
Filipe, Amã (Rabá – 2Sin 11.15) e Gerasa. Em meados do século XIX,
o francês De Saulcy foi o primeiro a escavar sítios arqueológicos na
Palestina. Já o inglês Charles Warren fez escavações em Jerusalém e
datou as obras de Herodes no grande muro de contenção da antiga
plataforma do templo. O explorador francês Charles Clermont-Ganneau
recuperou, por volta de 1870, a famosa inscrição em pedra de Mesa
(2Rs 3.4) e encontrou a famosa inscrição em pedra que proibia, sob
pena de morte, o acesso de gentios ao pátio do templo.

Somente no final do século XIX surgiu o primeiro grande arqueólogo


das terras bíblicas. Foi o inglês Sir Flinders Petrie, primeiro trabalhando
no Egito e depois na Palestina, que estudou a cerâmica antiga e
desenvolveu um sistema de datação dos períodos e fatos bíblicos
observando as diferenças na forma, textura e pintura da cerâmica.
Petrie estudou as várias camadas de terra dos sítios antigos e descobriu
que os estratos tinham uma ordem cronológica. Outro arqueólogo muito
importante no século XX foi o americano William F Albright. Os
estudiosos evangélicos sempre valorizaram muito a obra de Albright,
não somente por sua perícia e conhecimento, mas também porque seu
pressuposto era que a Bíblia é um documento historicamente confiável.

No século XX, devido ao surgimento da chamada “New Archaelogy”, a


arqueologia das terras bíblicas passou a ser denominada “Arqueologia
Siro-palestina”. A idéia dessa nova perspectiva é que a arqueologia da
região deveria ser percebida da perspectiva científica. A característica
peculiar do Oriente Próximo com seus aluviões e célebres “tells” deveria
delimitar a arqueologia do Oriente Próximo. Além disso, a arqueologia
passou a ter uma abordagem multidisciplinar(valendo-se dos estudos
de arquitetos, antropólogos, geólogos e osteólogos) e não considerar o
texto bíblico como historicamente exato. A arqueóloga britânica
Kathleen Kenyon foi um dos expoentes da nova abordagem. Sua obra
teve grande impacto na estratigrafia.

O progresso científico
A arqueologia atual conta com uma gama de técnicas e análises que
vão muito além da mera “pá e picareta”. Segue uma relação da
complexidade de sua análise:

1. Análise da Numismática: As moedas ajudam a datar as camadas


onde são encontradas. As moedas começaram a ser usadas na Ásia
Menor pelos lídios por volta de 650 a.C.

2. Análise Osteológica: Os restos de esqueletos encontrados são


conservados, identificados e analisados. Ohserva-se idade, sexo,
alimentação e patologias. Esse é o trabalho de um antropólogo.
Algumas escavações também contratam zoólogos para fazer a mesma
análise dos restos de animais.

3. Análise Etnoarqueológica: As características étnicas são


estudadas e se fazem comparações entre os resultados desse estudo
e a informação cultural obtida das antigas camadas do sítio
arqueológico.

4. Análise do Solo: Amostras de terra são analisadas para ajudar a


determinar a concentração de pessoas e animais no sítio e para
identificar o que comiam. Sementes carbonizavas e outras partículas
são separadas, e às vezes tratadas quimicamente, para determinar o
teor alcalino e ácido do solo.

5. Análise da Cerâmica: Todos os utensílios são guardados, bem


como os cacos, bordas, bases e alças. A textura da argila, a decoração
de superfície ou pinturas características diferentes são analisadas. São
úteis na datação do material. As peças são catalogadas, desenhadas e
fotografadas para estudos posteriores.

Os períodos da arqueologia bíblica.


A arqueologia bíblica é dividida em períodos específicos, classificados
com base no nível de desenvolvimento da civilização. Tal classificação
leva em conta a tecnologia dos metais utilizados pelo grupo humano em
vista.

Período Data História

Bronze (ou Cananeu) 3150-1200 História Primeva (Gn.1-11)


a.C.
Primitivo Bronze
3150-2200
a.C.
I

3159-2850 a.C.
II

2850-2650 a.C
III

2650-2350 a.C.
IV

2350-2200 a.C.
Médio do Bronze

2200-1550
I a.C.

IIA 2200-1950 a.C.

IIB 1950-1750 a.C.

Posterior do Bronze 1750-1550 a.C.

I 1550-1200
a.C.
IIA
1550-1400 a.C.
IIB
1400-1300 a.C

1300-1200

História dos Patriarcas (Gn.12-50)

Êxodo e Conquista (Ex-Jz)


Ferro (ou Israelita)

Ferro I (ou Primitivo do Ferro)

IA

IB

Ferro II (ou Médio do Ferro)

IIA

IIB

Ferro III (ou Posterior do Ferro IIC)

1200-586 a.C

1200-1000 a.C

1200-1150 a.C

1150-1000 a.C

1000-800 a.C.

1000-900 a.C

900-800 a.C.

800-586 a.C

Monarquia (1Sm-2Rs, Profetas pré-exílicos)

Reinado de Davi
Divisão de Judá

Queda de Israel e Judá

Persa (ou Babilônico/ Persa ou Posterior do Ferro)

586-332 a.C.

Cativeiro Babilônico (586-539 a.C)

(Ezequiel, Profetas pós-exílicos)

Helenista

II (ou Asmoneu/ Macabeu)

332-37 a.C

332-152 a.C

152-37 a.C.

Período Interbíblico

Romano

I (ou Romano Antigo, ou Herodiano)

II (ou Romano Médio)

III (ou Romano Posterior)

37 a.C.

37 a.C-70 d.C.
70-180 d.C

180– 324 d.C

Jesus Cristo

Novo Testamento Completo

As grandes descobertas
arqueológicas
O resultado prático de toda a pesquisa arqueológica realizada nas
terras bíblicas pode ser medido por um grande número de descobertas
e pela relevância de tais achados. Na verdade são centenas de
referências importantes que poderiam ser relacionadas aqui. Dezenas
de cidades e centenas de objetos arqueológicos foram desenterrados e
estudados. Aqui apresentaremos as principais descobertas dos últimos
duzentos anos bem como sua importância para o estudo das Escrituras.

1. As Cartas de Amarna. São 380 cartas em acadiano entre cananeus


e egípcios. Falam sobre a Palestina do século XIV a.C.

2. Os Manuscritos do Mar Morto. São as cópias mais antigas do


Antigo Testamento, mil anos mais antigas do que os disponíveis até
então. São centenas de folhas de manuscritos, mas todos eles estão
bem preservados em relação ao Texto Massorético. São datados entre
200 a.C. a 100 d.C. e foram encontrados em 1947-48, em onze
cavernas da re gião de Cunrã, no deserto da Judéia. Os manuscritos
continham: 1) Cópias integrais ou parciais de todos os livros canônicos
do Antigo Testamento (exceto Ester); 2) Comentários das Escrituras; 3)
Material dos livros apócrifos e pseudepígrafes do período intertebíblico;
4) Manuscritos das regras e doutrinas da seita (a espera de dois
messias, um secular e um religioso, e a esperança do juízo divino
iminente sobre os ímpios; 5) Textos sobre outros assuntos, como o Rolo
do Templo e o tesouro oculto descrito no Rolo de Cobre.

3. Outros Manuscritos do Antigo Testamento. Destacam-se o


Códice Cairense (Geneza), descoberto em 1890, contendo muitos
manuscritos de grande parte da Bíblia Hebraica, e o Papiro Nash,
descoberto em 1902, contendo poucos verses de Êxodo e de
Deuteronômio.
4. As Tábuas de Ebla. São 17000 tábuas em eblita que trazem luz
sobre a vida patriarcal. São datadas de 2600-2300 a.C. e foram
encontradas na Síria por arqueólogos italianos em 1976.

5. As cartas de Mári. São 20000 tábuas em acadiano, do séc. XVIII


a.C. Descrevem costumes, informações detalhadas e nomes da época
patriarcal. Foram encontradas em 1933 por Parrot.

6. O código de Hamurábi. Código de leis babilônicas que apresenta


paralelos com a lei mosaico. É do séc. XVIII a.C.

7. A Pedra da Roseta. Encontrada por Champolion no Egito, foi a chave


para decifrar o egípcio antigo.

8. Cultura e língua de Ugarite e as tábuas de Ras Shamra. São cerca


de 1400 tábuas ugarítico (língua próxima ao hebraico bíblico). Traz
muita luz sobre a religião e a literatura cananita e a poesia hebraica.

9. O Rochedo de Behistun. Achado fundamental para decifrar a língua


babilônica

Cidades, cultura e língua acadianas. De grande valor histórico e


lingüístico. Revela a antiga cultura semita ocidental da Mesopotâmia. O
acadiano é parente do hebraico.

10.0 calendário de Gezer. Calendário agrícola que traz o mais antigo


registro do hebraico bíblico; as poucas linhas aparecem na escrita
paleo-hebraica.

11. A Epopéia de Gilgamés. Texto acadiano que descreve um paralelo


muito próximo do dilúvio bíblico.

12. Enuina Elish. Sete tábuas em acadiano que falam da Ascensão do


deus Marduque. Texto paralelo aos relatos da Criação de Gênesis.

13. O Prisma de Senaqueribe. Descreve o cerco assírio de


Senaqueribe a Jerusalém em 701 a.C. É datado de 686 a.C. e confirma
a história da resistência do rei Ezequias narrada na Bíblia.
14. As Tábuas de Nuzi. São cerca de 10000 tábuas, e pertenciam ao
antigo império hitita. Descrevem a história hitita e trazem exemplos de
alianças internacionais do séc. XVII a.C.

15. A Inscrição de Mesa. Encontrada por Klein em 1868, fala das


conquistas de Mesa, rei de Moabe. Conhecida como Pedra Moabita,
menciona Onri, rei de Israel, pai de Acabe, e contemporânea do rei
moabita.

16.A Inscrição de Siloé. Comemora a conclusão do túnel de Ezequias;


é um exemplo importante do hebraico da época.

17. Estela de Merneptá. Encontrada no Egito, em Tebas, é a mais


antiga menção a Israel. Data do séc. XIII a.C.

18. A Cidade de Laquis e as suas cartas. A atual Tell ed-Duweir, (Js


10.3,31) fica na Shefelá, a oeste de Hebronn. Foi fortificada por Roboão
(2Cr 11.9), capturada pelo rei Senaqueribe (2Rs 18-19), tomada mais
tarde pelos babilônios (Jr 34.7) e habitada até depois do exílio (Ne
11.30). Era uma das cidades fortalezas que guardavam os acessos à
região montanhosa. Foi escavada na década de 1930 e de 1970 e 1980.
A história de Laquis remonta a 8000 a C.. Os egípcios exerceram muita
influência no local no Período do Bronze Médio e Posterior. Entre as
descobertas importantes destacam-se um templo cananeu do Bronze
Posterior e um palácio do período israelita (Idade do Ferro). Foram
encontrados muitos selos, escaravelhos e registros de impostos
egípcios, vários selos hebraicos, pesos e alças de vasos com
inscrições. As cartas de Laquis são óstraca (cacos de cerâmica com
informações) em hebraico. São 18 cartas que discorrem sobre a
conquista babilônica de Judá em 586/ 7 por Nabucodonosor.

A conclusão das descobertas


A vasta gama de achados arqueológicos pertinentes ao mundo bíblico
sem dúvida trouxe muita informação importante a respeito das
narrativas sagradas do mundo judaico-cristão. Algumas conclusões são
inequívocas e merecem destaque:

1. A arqueologia revelou que o Israel bíblico pertenceu ao mundo


semítico, com o qual tinha muitas semelhanças lingüísticas e culturais.
A compreensão desse universo permite um entendimento mais correto
do Antigo Testamento.
2. A arqueologia comprovou em muito a historicidade bíblica. Dezenas
de lugares e fatos anteriormente contestados por críticos céticos foram
mais do que comprovados pela pesquisa arqueológica. Nas palavras do
naturalista Werner Keller “A Bíblia tinha Razão”.

3. 0 estudo da arqueologia não resolve todas dificuldades bíblicas. Todo


achado arqueológico exige interpretação. Além disso, há dificuldades
ainda não resolvidas plena e satisfatoriamente como os casos de Jericó
e da cidade de Ai.

4. Os achados arqueológicos desmontaram o historicismo, o liberalismo


clássico e o anti-semitismo que influenciaram muito da literatura crítica
do século XIX. Os paralelos entre a literatura babilônica e hitita dos
séculos XVIII e XVII a.C. e o Pentateuco estão confirmados.

5. A arqueologia trouxe muita luz sobre a preservação da Bíblia.


Centenas de manuscritos confirmaram que o texto bíblico foi mais
preservado que qualquer outro documento antigo da humanidade, Os
Manuscritos do Mar Morto são a maior prova disso.

Material Adaptado do Manual de Antigo Testamento de Luiz Sayão


do Manual de Apoio do Comentário Bíblico Falado, Rádio
Transmundial, pp.9-40. O texto é todo do autor, apenas partes
selecionadas foram compiladas

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