As Recomendações Apostólicas A Uma Igreja Amada

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As recomendações apostólicas a uma igreja amada

(Fp 4.1-9)

A IGREJA DE FILIPOS ERA A alegria e a coroa do ministério de Paulo. Essa igreja nasceu num parto
de dor, mas lhe trouxe muitas alegrias. Essa igreja associou-se a Paulo desde o início para socorrê-lo
em suas necessidades. Era uma igreja sempre presente e solidária.
Paulo agora está fazendo suas últimas recomendações a essa igreja querida, a quem ele chama de
"minha alegria e coroà'. Na língua grega, há dois tipos diferentes de coroa: diadema significa "coroa
rea1 " e stefanos, "a coroa do atleta” que saía vitorioso dos jogos gregos. Essa era uma coroa de
louros que o atleta recebia sob os aplausos da multidão que lotava o estádio. Ganhar essa coroa era
a ambição suprema do atleta. No entanto, também, stefanos era a coroa com a qual se coroava os
hóspedes quando participavam de um banquete nas grandes celebrações. Esta última palavra é a que
Paulo usa neste texto.
É como se Paulo dissesse que os filipenses são a coroa de todas as suas fadigas, esforços e
empenhos. Ele era o atleta de Cristo, e eles, a sua coroa. É como se dissesse que, no banquete final de
Deus, os filipenses seriam a sua coroa festiva. 392 Ralph Martin, nessa mesma linha de pensamento, diz
que o ambiente escatológico de Filipenses 3.20,21 contribui para a bela metáfora de um prêmio
celestial a ser concedido a Paulo por seu trabalho pastoral. 393 Vejamos as recomendações do apóstolo
à igreja de Filipos:

A firmeza no Senhor, uma necessidade imperativa (4.1)


O apóstolo Paulo ainda continua com o mesmo raciocínio. Porque os crentes são cidadãos do céu,
eles devem ter coragem na terra para serem firmes.Na igreja de Filipos, havia perigos internos e
externos. A igreja estava sendo atacada por falsos mestres e por falta de comunhão. A heresia e a
desarmonia atacavam a igreja. Existiam problemas que vinham de dentro e problemas que vinham de
fora; problemas doutrinários e relacionais. A igreja estava sendo atacada por fora e por dentro. Diante
desses perigos, Paulo exorta a igreja a permanecer firme no Senhor.
A palavra grega que Paulo usa para "estar firmes" é stekete.
Essa palavra era aplicada ao soldado que permanecia firme em seu ímpeto na batalha ante a um
inimigo que queria superá-lo. 395 Em vez de dar atenção aos falsos mestres ou se entregar às
desavenças internas, a igreja deveria pôr a sua confiança no Senhor Jesus.
A igreja deve permanecer firme no Senhor por causa de sua herança (1.6) e vocação celestial
(3.20,21). Ela deve permanecer firme, a despeito da hostilidade dos legalistas (3.2) e dos libertinos
(3.18,19). Deve permanecer firme diante dos sinais de desarmonia nos relacionamentos
(2.3,4) e dos desacordos de pensamento (4.2).

A harmonia no relacionamento,uma súplica intensa (4.2,3)


Paulo não somente advertiu os crentes de Filipos acerca de erros doutrinários (3.1-19), mas também
acerca dos problemas de relacionamento (4.2,3). A desarmonia entre dois membros da igreja não era um
problema de pequena monta para o apóstolo.397
Evódia e Síntique eram duas irmãs que ocupavam posição de liderança na igreja, que haviam se
esforçado com Paulo no evangelho e cujos nomes estavam escritos no livro da vida, mas, agora,
estavam em desacordo na igreja. Elas tinham nomes bonitos (Evódia significa "doce fragrância", e
Síntique, "boa sorte"), mas estavam vivendo de maneira repreensível.398
Em vez de buscar os interesses de Cristo e da igreja, lutavam por causas pessoais. Punham o eu
acima do outro. Em vez de seguir o exemplo de Cristo e de Seus consagrados servos (2.5,17,20,30),
imitavam aqueles que trabalhavam por vanglória e partidarismo (2.3,4). F. F. Bruce diz que o
desacordo entre essas duas irmãs, não importando a sua natureza, representava uma ameaça à
unidade da igreja, como um todo. 399
Paulo solicita ajuda de um líder da igreja, que ele não nomeia, para auxiliá-las a fim de
construírem pontes, em vez de cavar abismos. Precisamos exercer na igreja o ministério da
reconciliação, em vez de jogar uma pessoa contra a outra. Precisamos aproximar as pessoas, em
vez de afastá-las. A igreja é um corpo, e cada membro desse corpo deve trabalhar em harmonia com
os demais para a edificação de todos.
Paulo exorta essas duas irmãs a pensarem concordemente no Senhor. Não podemos estar unidos a
Cristo e desunidos com os irmãos. Não há comunhão vertical sem comunhão horizontal. A lealdade
mútua é fruto da lealdade a Cristo. A irmandade humana é impossível sem o senhorio de Cristo.
Ninguém pode estar em paz com Deus e em desavença com os seus irmãos. Por isso, a desunião dos
crentes num mundo fragmentado é um escândalo.
J. A. Motyer, comentando esta passagem bíblica, enumera algumas razões pelas quais os
crentes devem viver unidos.
A desarmonia é contrária ao sentimento do apóstolo (4.1).
Paulo se dirige a toda a igreja, dizendo que os crentes eram a sua alegria e coroa. Ele chama os
irmãos de "amados" e "mui saudosos". A divisão na igreja ergue muros onde se deveriam
construir pontes; separa aqueles que devem permanecer sempre juntos.
A desarmonia é contrdria à fraternidade cristã (4.1). Paulo dirige-se à igreja total, chamando os
crentes de "irmãos". Eles pertenciam a uma só família, a um só rebanho, a um só corpo. Portanto,
deveriam viver como tal.
A desarmonia é contrdria à natureza da igreja (4.3). A igreja deve ser marcada pelo trabalho
conjunto, pelo auxílio recíproco e pela esperança futura. Há uma realidade celestial acerca da igreja.
O nome dos crentes está escrito no livro da vida, e lá no céu não há divisão. A igreja na terra deve
ser uma réplica da igreja do céu. A igreja que seremos deve ensinar a igreja que somos. É
contrária à natureza da igreja confessar a unidade no céu e praticar a desunião na terra.401 Todos os
crentes, lavados no sangue do Cordeiro, têm seus nomes escritos no livro da vida e serão introduzidos
na cidade santa (Lc 10.17-20; Hb 12.22,23; Ap 3.5; 20.11-15). O fato de irmos morar juntos no céu
deveria nos ensinar a viver em harmonia na terra.

A alegria, a marca distintiva do povo de Deus (4.4)


O apóstolo Paulo fala sobre três características da alegria:
Em primeiro lugar, a alegria é uma ordenança, e não uma opção. Ser alegre é um mandamento, e
não uma recomendação. Deixar de ser alegre é uma desobediência a uma expressa ordem de Deus. O
evangelho trouxe alegria, o Reino de Deus é alegria, o fruto do Espírito é alegria, e a ordem de Deus
é "alegrai-vos".
Em segundo lugar, a alegria é ultracircunstancial. Paulo diz que devemos nos alegrar sempre. Como a
vida é um mosaico em que não faltam as cores escuras do sofrimen to, nossa alegria não pode
depender das circunstâncias. Na verdade, nossa alegria não é ausência de problemas. Não é algo que
depende do que está fora de nós. Neste mundo, passamos por muitas aflições, cruzamos vales escuros,
atra vessamos desertos esbraseados, singramos águas profundas, mas a alegria verdadeira jamais nos
falta.
Em terceiro lugar, a alegria é cristocêntrica. Nossa alegria é uma pessoa, e não ausência de
problemas. Nossa alegria está centrada em Cristo. Quem tem Jesus, experimenta essa verdadeira
alegria. Quem não tem Jesus, pode ter momentos de alegria, mas não a alegria verdadeira. Quem tem
Jesus, tem a alegria; quem não O tem, jamais a experimentou.
A moderação, a doce razoabilidade a ser demonstrada (4.5)
O apóstolo Paulo fala à igreja sobre a necessidade de cuidarmos das nossas atitudes internas e
das nossas reações externas. A moderação tem que ver com o controle do temperamento. Um crente
não pode ser uma pessoa explosiva, destemperada e sem domínio próprio. Suas palavras precisam ser
temperadas com sal, as suas atitudes precisam edificar as pessoas, e a sua moderação precisa refletir o
caráter de Cristo.
A palavra grega para moderação é epieikeia. William Hendriksen diz que não há em nossa
língua uma única palavra que expresse toda a riqueza contida nesse vocábulo grego. Essa palavra foi
usada por Aristóteles para descrever aquilo que não apenas é justo, mas melhor ainda do que a
justiça. William Barclay diz que o homem que tem "moderação" é aquele que sabe quando não deve
aplicar a letra estrita da lei, quando deve deixar a justiça e introduzir a misericórdia.
Epieikeia é a qualidade do homem que sabe que as leis e prescrições não são a última palavra. Jesus
não aplicou a letra da lei em relação à mulher apanhada em flagrante adultério. Ele foi além da justiça. Ele
exerceu a misericórdia (Jo 8.1-11). Ralph Martin, nessa mesma trilha de pensamento, escreve:
Moderação é uma disposição amável e honesta para com outras pessoas, a despeito de suas faltas, disposição essa
inspirada na confiança que os crentes têm em que após o sofrimento terreno virá a glória celeste.

Ser uma pessoa moderada é ter o espírito pronto para abrir mão da retaliação quando você é
ameaçado ou provado por causa da sua fé. William Hendriksen corretamente afirma:
A verdadeira bem-aventurança não pode ser alcançada pela pessoa que rigorosamente insiste em seus direitos pessoais. O
cristão é aquele que crê ser preferível sofrer a injustiça a cometer a injustiça (1Co 6.7).406

Paulo diz que devemos ser moderados porque o Senhor está perto. O advérbio grego engys pode
significar "perto" quanto a lugar ou quanto a tempo. O Senhor está a nosso lado nas lutas e também
em breve virá para defender a nossa causa e nos recompensar. A razão desse espírito pacífico, não-
abrasivo, portanto, não é fraqueza, ou o desinteresse em defender a posição legítima de alguém. Essa
atitude covarde é condenada (1.27,28). Ao contrário, devemos ser moderados, pois o Senhor virá
para defender a nossa causa. Paulo diz: "Perto está o Senhor" (4.5).

A ansiedade, uma doença perigosa (4.6)


A ansiedade é a maior doença do século. De acordo com a Organização Mundial de Saúde, mais
de 50% das pessoas que passam pelos hospitais são vítimas da ansiedade. A ansiedade atinge adultos
e crianças, doutores e analfabetos, religiosos e ateus. Warren Wiersbe diz que a ansiedade é um
pensamento errado e um sentimento errado a respeito das circunstâncias, das pessoas e das coisas.409
Ralph Martin diz que ansiedade é falta de confiança na proteção e cuidado de Deus.
Várias são as causas da ansiedade:
Em primeiro lugar,
 a ansiedade é o resultado de olharmos para os problemas, em vez de olharmos para Deus.
Os crentes de Filipos não estavam vivendo em um paraíso existencial, mas num mundo
cercado de perseguições (1.28). O próprio Paulo estava preso, na ante-sala do martírio,
com os pés na sepultura. Nuvens pardacentas se formavam sobre sua cabeça. Quando
olhamos as circunstâncias e os perigos à nossa volta, em vez de olharmos para o Deus que
governa as circunstâncias, ficamos ansiosos.
Em segundo lugar,
 a ansiedade é o resultado de relacionamentos quebrados. As pessoas nos fazem sofrer mais
do que as circunstâncias. Nós desapontamos as pessoas, e elas nos desapontam. As pessoas
têm a capacidade de roubar a nossa alegria. Há pessoas que carregam uma alma ferida e são
prisioneiras da amargura, pois os relacionamentos estão estremecidos (2.1-4; 4.2).
Em terceiro lugar,
 a ansiedade é o resultado de uma exagerada preocupação com as coisas materiais (3.19).
Aqueles que só se preocupam com as coisas materiais vivem inquietos e desassossegados.
Aqueles que põem a sua confiança no dinheiro, em vez de pô-la em Deus, descobrem que a
ansiedade, e não a segurança, é a sua parceira.
Três são os resultados da ansiedade:
 a ansiedade produz uma estrangulação íntima. A palavra "ansiedade" traz idéia de
estrangulamento. Ficar ansioso é como ser sufocado. É como cortar o oxigênio de uma
pessoa e tirar dela a possibilidade de respirar. A ansiedade produz uma fragmentação
existencial. A pessoa é rasgada ao meio. Ela produz uma esquizofrenia emocional. A
pessoa ansiosa perde o equilíbrio. Warren Wiersbe diz que a palavra "ansiedade" significa
ser "puxado em diferentes direções". As nossas esperanças nos puxam em uma direção;
os nossos temores nos puxam em direção oposta; assim, ficamos rasgados!
 a ansiedade rouba nossas forças. Uma pessoa ansiosa normalmente antecipa os problemas.
Ela sofre antecipadamente. O problema ainda não aconteceu e ela já está sofrendo. A
ansiedade esgota a energia antes de o problema chegar. E quando o problema chega, se chegar, a
pessoa já está fragilizada.
 a ansiedade é uma eloquente voz da incredulidade. A ansiedade é a incapacidade de crer
que Deus está no controle. A ansiedade ocupa o nosso coração quando tiramos os olhos da
majestade de Deus para fixá los na grandeza dos nossos problemas.

A oração, o remédio divino para a cura da ansiedade (4.6)


Deus não apenas dá uma ordem: "Não andeis ansiosos", mas oferece a solução. Não apenas
diagnostica a doença, mas também oferece o remédio. Se a ansiedade é uma doença, a oração é o
remédio. William Hendriksen diz que o antídoto adequado para a ansiedade é abrir efusivamente o
coração a Deus.
Lidamos com a ansiedade não com livros de auto-ajuda, mas com a ajuda do alto. Triunfamos
sobre ela não batendo no peito em uma arrogância ufanista, mas caindo de joelhos e lançando
sobre Cristo a nossa ansiedade. Onde a oração prevalece, a ansiedade desaparece. William Barclay
corretamente afirma: "Não existe nada demasiadamente grande para o poder de Deus nem
demasiadamente peque no para o Seu cuidado paternal".
O remédio de Deus deve ser usado de acordo com a prescrição divina. Paulo fala sobre três
palavras para descrever a oração: oração, súplica e ações de graças. A oração envolve esses três
elementos:
1. Paulo diz que precisamos adorar a Deus quando oramos. A palavra grega proseuche é o termo
genérico para oração. Essa palavra é um termo geral usado para se referir às petições que
fazemos ao Senhor. '1cm a conotação de reverência, devoção e adoração. Sempre que nos
vemos ansiosos, a primeira coisa a fazer é ficar sozinhos com Deus e adorá-Lo. Precisamos
saber que Deus é grande o suficiente para resolver os nossos problemas. A oração começa
quando focamos a nossa atenção em Deus, e não em nós mesmos. O ponto culminante da
oração é o relacionamento com Deus, mais do que pedir coisas a Deus. Orar é estar em
comunhão com o Rei do Universo. Adoramos a Deus por quem Ele é. Em vez de ficarmos
ansiosos, devemos meditar na majestade de Deus e descansar nos Seus braços. Se Deus é
quem Ele é, e se Ele é o nosso Pai, não precisamos ficar ansiosos.
2. Paulo diz que podemos apresentar a Ele as nossas necessidades quando oramos. A palavra
grega deesis enfatiza o elemento de petição, a súplica em oração. Devemos apresentar todas as
nossas necessidades a Deus em oração, em vez de acumular o peso da ansiedade em nosso
coração. O próprio Senhor Jesus nos ensinou: "Pedi, e dar-se-vos-á..." (Mt 7.7) e "... tudo
quanto pedirdes em meu nome, eu o farei" (Jo 14.13). Tiago escreveu: "Nada tendes, porque
não pedis" (Tg 4.2).
3. Paulo diz que devemos agradecer a Deus quando oramos. Devemos olhar para o que Deus já
fez por nós para não ficarmos ansiosos (SI 116.7). Todavia, devemos agradecer também o que
Deus vai fazer. Deus desbarata os nossos inimigos quando nos voltamos para Ele com ações
de graças (2Cr 20.21). O próprio Paulo, quando plantou a igreja em Filipos, foi açoitado e
preso. Não obstante a dolorosa circunstância, agradeceu a Deus, cantando louvores na prisão
(At 16.25). Quando o profeta Daniel foi vítima de uma orquestração na Babilônia, longe de
ficar ansioso, orou a Deus com súplicas e ações de

graças (Dn 6.10,11). Daniel foi capaz de passar a noite, em perfeita paz, com os leões, enquanto o rei
no seu palácio não conseguiu dormir (Dn 6.18).

A paz de Deus, uma bênção a ser recebida (4.7)


Pela oração, a paz de Deus ocupa o lugar que antes a ansiedade tomava conta. A oração aquieta o
nosso interior e muda o mundo ao nosso redor. Por meio dela, nos elevamos a Deus e trazemos o
céu à terra. A ansiedade é um pensamento errado e um sentimento errado, por isso a paz de Deus
guarda mente e coração. O mesmo coração que estava cheio de ansiedade, pela oração agora está
cheio de paz. F. F. Bruce diz que a paz de Deus pode significar não apenas a paz que Ele mesmo
concede, mas a serenidade em que o próprio Deus vive: Deus não está sujeito à ansiedade.416
O apóstolo destaca três verdades importantes sobre a paz:
1. a paz que recebemos é uma paz divina, e não humana (4.7). É a paz de Deus. A paz de
Deus não é paz de cemitério. Não é ausência de problemas. Essa paz não é produzida por
circunstâncias. O mundo não conhece essa paz nem pode dá-la (Jo 14.27). Governos
humanos não podem gerar essa paz. Essa paz vem de Deus. Bruce Barton afirma: ''A
verdadeira paz não é encontrada no pensamento positivo, na ausência de conflito, ou em
bons sentimentos; ela procede do fato de saber que Deus está no controle".
2. a paz de Deus transcende a compreensão humana (4.7). Essa paz é transcendente. Ela vai
além da compreensão humana. A despeito da tempestade do lado de fora, podemos
desfrutar bonança do lado dentro. Ela coexiste com a dor, com as lágrimas, com o luto
e com a própria morte. Essa é a paz que os mártires sentiram diante do suplício e da morte.
Essa é a paz que Paulo sentiu ao caminhar para a guilhotina, dizendo: ''A hora da minha
partida é chegada. Combati o bom combate, completei a carreira e guardei a fé. Agora, a
coroa da justiça me está guardada..." (2Tm 4.6-8).
3. a paz de Deus é uma sentinela celestial ao nosso redor (4. 7). A palavra grega frourein é
um termo militar para estar em guarda.418 Assim, "guardar" traz a idéia de uma sentinela, um
soldado na torre de vigia, protegendo a cidade. A paz de Deus é como um exército
protegendo-nos dos problemas externos e dos temores internos. Paulo diz que essa paz
guarda os nossos corações (sentimentos errados) e nossas mentes (pensamentos errados), as
nossas emoções e a nossa razão. William Hendriksen, comentando este texto, escreve:
Os filipenses estavam acostumados a ver as sentinelas romanas montarem guarda. Assim também, se bem que
em um sentido muitíssimo mais profundo, a paz de Deus montará guarda à porta do coração e da mente. Ela
impedirá que a torturante angústia corroa o coração, que é o manancial da vida (Pv 4.23), a fonte do
pensamento (Rm 1.21), da vontade (lCo 7.37) e do sentimento (1.7). O homem de fé e oração tem-se refugiado
naquela inexpugnável cidadela da qual ninguém jamais poderá arrancá-lo; e o nome dessa fortaleza é Jesus
Cristo.
Ralph Martin comenta que o uso que Paulo faz de um verbo militar demonstra que ele está pensando
na segurança da igreja, e seus membros, num ambiente hostil, cercados de inimigos.
O pensamento, uma área estratégica a ser guardada (4.8)
Pensamentos errados levam a comportamento errado, e comportamento errado leva a sentimento
errado. Por isso, devemos levar todo pensamento cativo à obediência de Cristo (2Co 10.5). As
nossas maiores batalhas são travadas no campo da mente.
 Nessa trincheira, a guerra é ganha ou perdida.
 O homem é aquilo que ele pensa.
 Precisamos fechar os portais da nossa mente para o que é vil e abrir as suas janelas para o
que é verdadeiro, justo, amável e de boa fama.
 Precisamos jogar para o sacrário da nossa mente o que é elevado e esvaziar todos os
porões da nossa mente de tudo aquilo que é impróprio.
Somos aquilo que registramos em nossa mente.
 Se arquivarmos em nossa mente coisas boas, de lá tiraremos tesouros preciosos, mas se
tudo o que depositamos são coisas malsãs, não poderemos tirar dela o que é proveitoso.
Paulo faz uma lista do que que deve ocupar os nossos pensamentos:
1. tudo o que é verdadeiro. A palavra grega alethe pode significar "verdade" em oposição
àquilo que é irreal, insubstancial, ou "verdade" em oposição à falsidade. 421 Noventa e dois
por cento de tudo aquilo que ocupa a mente das pessoas, levando-as à ansiedade, são coisas
imaginárias que nunca aconteceram ou envolvem questões fora do controle das pessoas. 422
F. F. Bruce diz que a ordem de Paulo poderia tratar-se de uma advertência contra a
indulgência mental em fantasias ou difamações infundadas. Tudo o que é verdadeiro, aqui,
possui as qualidades morais de retidão e confiança, de realidade em contraposição à mera
aparência.
2. tudo o que é respeitável. A palavra grega é semnos e traz a idéia de alguém que vive neste
mundo com uma profunda consciência de que o Universo inteiro é um santuário e tudo o
que ele faz deve ser um culto a Deus. A mente que se concentra em assuntos desonestos
corre o perigo de tornar-se desonesta. Honestidade é o contrário da duplicidade de caráter
que avilta a moral, sendo incompatível com a mente de Cristo. 424 Os crentes devem ser
dignos e sinceros tanto em suas palavras quanto em seu comportamento. O decoro nas
conversações, nos costumes e na moral é muito importante, diz William Hendriksen.425
3. tudo o que é justo. A palavra grega dikaios enfatiza aqui uma correta relação com Deus e com
os homens. Tendo recebido de Deus tanto a justiça imputada quanto a comunicada, os crentes
devem pensar com retidão, diz Hendriksen.
 William Barclay diz que essa é a palavra do dever assumido e do dever cumprido.
 O reverso disso encontramos no homem iníquo que "maquina o mal na sua cama",
a fim de executá-lo depois, à luz do dia (Am 8.4-6).
 tudo o que é puro. A palavra grega hagnos descreve o que é moralmente puro e livre de
manchas. Ritualmente descreve algo purificado de tal maneira que se faz apto para ser
oferecido a Deus e usado em seu serviço. Pureza de pensamento e de propósito é
condição preliminar indispensável para a pureza na palavra e na ação.
 tudo o que é amável A palavra grega prosphiles traz o significado de agradável,
aquilo que suscita amor. Trata-se de algo que se auto-recomenda pela atração e
encanto intrínsecos. São aquelas coisas que proporcionam prazer a todos, não
causando dissabor a ninguém, à semelhança de uma fragrância preciosa.
 tudo o que éde boa fama. A palavra grega euphemos significa literalmente "falar
favoravelmente". No mundo, há demasiadas palavras torpes, falsas e impuras. e
em sua mente, devem existir Nos lábios do cristão somente palavras que são
adequadas para ser ouvidas por Deus.
 se alguma virtude há e se algum louvor existe, seja isso que ocupe o vosso
pensamento. Ao invés de continuar sua seleção, Paulo resume, agora: "se alguma
virtude há" do grego, arete, cujo significado é "virtude moral", e "se algum
louvor existe", do grego epainos, "aquilo que merece louvor ou que inspira a
aprovação divina''. Ambos os termos descrevem as qualidades que devem marcar as
atitudes e ações dos crentes.

A prática é a evidência de uma vida autêntica (4.9)


Warren Wiersbe diz que não é possível separar atos exteriores de atitudes interiores.
 Há uma íntima conexão entre "Seja isso que ocupe o vosso pensamento" (4.8) e "praticai"
(4.9).
 A dinâmica do cristianismo deriva-se da união desses dois imperativos.
 Tais imperativos estão corporificados na coleção de qualidades éticas (4.8), nas tradições
apostólicas (4.9a) e nos ensinos exemplificados na própria vida de Paulo (4.9b).
Paulo considera quatro atividades: aprender, receber, ouvir e ver. Uma coisa é aprender a verdade,
e outra, bem diferente, é recebê-la e assimilá-la.
 Não basta ter fatos na cabeça; é preciso ter verdade no coração.
 Ao longo do seu ministério, Paulo não apenas ensinou a Palavra, mas tamhém a viveu na
prática para que os seus ouvintes pudessem vê-la em sua vida.
 Há uma íntima relação entre a palavra e a pessoa que a pronuncia.
O apóstolo Paulo conclui esse parágrafo falando da necessidade de praticar o que se aprendeu.
Acumular conhecimento sem o exercício da vida cristã não nos torna crentes maduros. Precisamos ter
olhos abertos para ver, ouvidos atentos para aprender e disposição para praticar o que aprendemos.
Paulo, igualmente, mostra que devemos ser criteriosos acerca dos nossos modelos. Não
devemos imitar os falsos mestres. Não devemos seguir as pegadas dos que vivem des regradarnente
nem seguir o exemplo dos que vivem bus cando os seus próprios interesses. Ao contrário, Paulo
se apresenta como exemplo para os crentes de Filipos (3.17; 4.9). Paulo entende que o exemplo
pessoal é parte essencial do ensino. O mestre deve praticar a doutrina que professa e demonstrar em
ação a verdade que expressa em palavras. 436 A conclusão do apóstolo Paulo é majestosa. Além de
termos a paz de Deus para nos guardar, agora ternos o Deus da paz para nos guiar. Não apenas
temos uma harmonia bendita em lugar da ansiedade, mas temos também a
companhia divina na caminhada.
Corretamente Bruce Barton diz que muitas pessoas hoje procuram ter paz com Deus sem ter
um relacionamento com Deus, que é o autor da verdadeira paz. Isso, porém, é impossível. Para
experimentar a paz, precisamos primeiro conhecer o Deus da paz.437

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