TCC Puc-Rs
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A EXTRAFISCALIDADE
TRIBUTA/ RIA COMO PROTEÇA4 O
AMBIENTAL
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2.
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criminal em relação aos crimes.
O princípio da anterioridade, previsto no art. 150, III, alíneas “b” e “c”, da
CF, também é um reflexo do princípio da legalidade
O aludido informa-nos que não poderá ser cobrado o tributo no ano-
exercício que o instituiu ou aumentou, apenas podendo ser cobrado no
exercício seguinte, respeitada a regra dos noventa dias após sua vigência,
também chamado princípio da anterioridade nonagesimal.
O princípio da isonomia também é um dos alicerces do direito tributário,
previsto no art. 150, Inciso II, da CF.
Vale ressaltar que o aludido deve possuir eficácia tanto em âmbito formal,
onde as Leis tributárias não podem tratar iguais de forma desigual, bem como
no caráter material, onde aceita o tratamento desigual de pessoas que estão
em situação de desigualdade.
Lembrando que esse tratamento especial ocorrerá conforme a
desigualdade do contribuinte.
A garantia fundamental do não-confisco também necessita ser respeitada
pelos tributos, os quais não podem possuir um caráter confiscatório, ou seja, a
sua cobrança não pode gerar um efeito de confisco em relação ao contribuinte.
O princípio do poluidor-pagador também merece sua explanação no
presente trabalho, tendo-se em vista que é um dos grandes fundamentos para
a tributação com finalidade extrafiscal como proteção ambiental.
De maneira sintética, pode-se afirmar que o princípio do poluidor-pagador
significa que são os responsáveis pela contaminação ambiental, e não toda a
coletividade, que devem suportar as consequências da degradação ambiental.
Assim, o princípio consiste num mecanismo de imputação de custos pela
prevenção, eliminação e reparação do dano ambiental. Logo, quem
provoca a degradação ambiental ou exerce atividade suscetível de
contaminar o meio ambiente, está obrigado a contribuir com os encargos
daí decorrentes. Dessa forma, todos os custos que o Estado vier a sofrer
no desenvolvimento de atividades de prevenção ou de reparação do
dano ambiental, serão imputados ao agente econômico que tiver
provocado essa situação. Destarte, internalizam-se os efeitos externos
da atividade econômica sobre o ambiente, à medida que os custos
gerados pela degradação ambiental são imputados ao sujeito econômico
que os tiver provocado, que poderá transferi-los para o preço dos bens
ou serviços que produzir ou substituir os fatores responsáveis pela
degradação ambiental por outros menos agressivos ao meio ambiente.
Eis o fim secundário do princípio: repartição dos encargos financeiros
decorrentes da degradação ambiental. No entanto, o escopo principal é
a prevenção (..)
Logo, não se reduz a uma simples atribuição de custos decorrentes de
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externalidades negativas. O princípio não consiste em uma mera
atribuição de custos pela prevenção, eliminação ou reparação pela
redução da degradação sobre o meio ambiente. Mais do que isso,
ele indica precisamente nas regras jurídicas quem tem obrigações
pelo combate à contaminação ambiental, na forma de
regulamentações diretas, por meio de proibições, mandamentos ou
imposições, que também deste princípio podem ser deduzidos.
Sendo assim, a imputação de custos é apenas uma das funções do
princípio, vale reafirmar.
Há uma razão econômica decisiva para aplicar o princípio de forma mais
ampla possível na realidade: o aumento da eficiência econômica. Isso
porque, quando os custos para evitar a degradação ambiental forem
menores que os custos sociais da produção e do consumo, maiores
serão as medidas de prevenção adotadas e realizadas de forma mais
favorável pelos agentes econômicos.89 Por esse motivo, pode-se afirmar
que o princípio representa também uma norma de eficiência
(PIMENTA, 2020, 130) – grifo nosso.
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3. EXTRAFISCALIDADE
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2016, p. 8) – grifo nosso.
Também, Gouvêa:
A extrafiscalidade estaria, em maior ou menor grau, disposta em
qualquer norma tributária, posto que a arrecadação não se justifica por si
só, havendo sempre um objetivo estatal por trás do tributo a legitimar a
sua ocorrência. Apesar de concordarmos com o autor, no sentido de que
a finalidade e a motivação estão sempre presentes na cobrança de um
tributo, entendemos que, para fins de identificação do fenômeno da
extrafiscalidade no sentido desejado pelo presente estudo, é necessário
que a finalidade adjacente da obrigação tributária seja elemento central
do tributo e plenamente identificável, mesmo que não esteja expressa na
norma. Sendo assim, a extrafiscalidade, para ser identificada dentro da
norma tributária, deve prevalecer sobre os fins meramente
arrecadatórios (GOUVÊA, 2006, p. 14)
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tributários com finalidade extrafiscal ambiental, com exemplo o IPTU – imposto
predial e territorial urbano que possui um regime diferenciado na cidade de
Porto Alegre. O regime informa que é isento do pagamento, o contribuinte que
efetua a implantação de Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN),
categoria de unidade de conservação.
Também existe o denominado ICMS ecológico que está presente nos
Estados de São Paulo, o qual consiste na utilização de instrumentos vinculados
ao direito tributário, como a concessão de benefícios fiscais relativamente aos
recursos naturais, corresponde a uma prática plenamente admitida pelo
ordenamento jurídico brasileiro, sendo bastante amplo o campo de atuação
desse ramo do Direito com relação à proteção e à preservação do meio
ambiente natural.
Diante de tantas possibilidades de utilização dos instrumentos tributários
para a defesa do meio ambiente, eles vêm sendo utilizados pelos entes dotados
da competência tributária para concessão de benefícios fiscais nas hipóteses
de resguardo e proteção do patrimônio natural.
Nesse contexto, o ICMS Ecológico constitui uma importante ferramenta
de política pública, com observância do princípio do “provedor-recebedor”, para
que os estados estimulem os municípios a participarem de um processo de
desenvolvimento sustentável em larga escala, por meio de retribuição à
execução de atividades ambientalmente positivas em seus respectivos
territórios.
O ICMS ecológico também é adotado no Estado do Paraná, o qual se
conceitua como um instrumento de política pública que trata do repasse de
recursos financeiros aos municípios que possuem em seu território Unidades
de Conservação ou mananciais que abastecem municípios vizinho.
Foi criado no Paraná em 1991 como medida de distribuição dos recursos
provenientes das arrecadações de ICMS aos seus Municípios, mediante o
estabelecimento de critérios de restrição e proteção ambientais pré-definidos.
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4.
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órgão público competente, na forma da lei.
§ 3º As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente
sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e
administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos
causados.
§ 4º A Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o
Pantanal Mato-Grossense e a Zona Costeira são patrimônio nacional, e
sua utilização far-se-á, na forma da lei, dentro de condições que
assegurem a preservação do meio ambiente, inclusive quanto ao uso dos
recursos naturais. (Regulamento) (Regulamento)
§ 5º São indisponíveis as terras devolutas ou arrecadadas pelos Estados,
por ações discriminatórias, necessárias à proteção dos ecossistemas
naturais.
§ 6º As usinas que operem com reator nuclear deverão ter sua
localização definida em lei federal, sem o que não poderão ser
instaladas.
§ 7º Para fins do disposto na parte final do inciso VII do § 1º deste artigo,
não se consideram cruéis as práticas desportivas que utilizem animais,
desde que sejam manifestações culturais, conforme o § 1º do art. 215
desta Constituição Federal, registradas como bem de natureza imaterial
integrante do patrimônio cultural brasileiro, devendo ser regulamentadas
por lei específica que assegure o bem-estar dos animais envolvidos.
(Incluído pela Emenda Constitucional nº 96, de 2017)
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também poderão ser exercitadas com o escopo de proteger o meio
ambiente. Outrossim, algumas funções, reguladas em outros setores do
texto constitucional, também poderão ser exercitadas para tutela ao meio
ambiente, como, por exemplo, a exigência de tributos.
Desse modo, para realizar o direito fundamental mencionado no caput
do art. 225, o Texto Magno estabeleceu as seguintes ações, ou seja, os
caminhos a serem seguidos: (a) proteção e manutenção dos
ecossistemas, visando à garantia da sua integridade (incisos I, II e III);
(b) uso sustentável dos recursos naturais, a ser atingido por meio de
medidas que compatibilizem a exploração dos recursos naturais com
formas de atuação mais racionais, evitando o efeito social da produção
(incisos IV, V e VII e § 2.º); (c) medidas preventivas e compensatórias
em face de práticas degradantes (§§ 2.º, 3.º e 6.º).42 Isso significa que a
preservação do meio ambiente pode ser perseguida pelo Estado por
meio do exercício de diferentes funções (reguladora, preventiva, de
incentivo etc.).
Vale observar, por fim, que a Carta qualificou o meio ambiente como um
“bem de uso comum de povo”, o que não significa romper com a
separação entre os bens públicos e privados, muito menos alterar a
classificação dos primeiros. Os bens jurídicos ambientais admitem
titularidade de pessoa jurídica de direito público ou privado, em nosso
ordenamento. A referência constitucional deve ser compreendida
como uma vinculação de qualquer bem ambiental ao direito
consagrado pelo art. 225, que impõe um dever de conservação, de
zelo em relação ao meio ambiente. Vale dizer, o regime jurídico
aplicável aos bens ambientais (público ou privado) é alterado, pois
necessariamente o bem estará afetado. É o caso, por exemplo, da
propriedade agrária, que implica a titularidade do solo. A Constituição
Federal prescreveu em relação a essa a obrigação de observar a função
social (art. 186), cujo conceito inclui a preservação ambiental. Deste
modo, o direito de propriedade é modificado, porque vinculado a
determinadas condições. (PIMENTA, 2020, P.121) – grifo nosso.
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RECURSO EXTRAORDINÁRIO. REPERCUSSÃO GERAL.
REAFIRMAÇÃO DE JURISPRUDÊNCIA. DIREITO TRIBUTÁRIO.
OPERAÇÕES DE EXPORTAÇÃO INCENTIVADAS. IMPOSTO DE
RENDA PESSOA JURIDICA. FUNÇÃO EXTRAFISCAL. SÚMULA 584
DO STF. OCORRÊNCIA DO FATO GERADOR EM CADA OPERAÇÃO.
APLICAÇÃO RETROATIVA. RE 183.130, DE RELATORIA PARA
ACÓRDÃO DO MINISTRO TEORI ZAVASCKI. PRECEDENTE
VINCULANTE. 1. No RE 183.130, de relatoria para o acórdão do Ministro
Teori Zavascki, o Plenário desta Corte assentou que a utilização do
Imposto de Renda com conotação extrafiscal afasta a incidência da
Súmula 584 do STF. 2. O fato gerador se consolida no momento em que
ocorre cada operação de exportação incentivada pela redução da
alíquota do imposto de renda, à luz da extrafiscalidade da tributação na
espécie. 3. É inconstitucional a aplicação retroativa do art. 1º, I, da Lei
7.988/89, que majorou a alíquota incidente sobre o lucro proveniente de
operações incentivadas ocorridas no passado, ainda que no mesmo ano-
base. Precedente: RE 183.130, de relatoria para o acórdão do Ministro
Teori Zavascki, Tribunal Pleno, DJe 14.11.2014. 4. Recurso
extraordinário a que se dá provimento, reafirmando a jurisprudência
desta Corte, em sede de repercussão geral, para reformar o acórdão
recorrido e declarar a inconstitucionalidade, incidental e com os efeitos
da repercussão geral, do art. 1º, I, da Lei 7.988/89, uma vez que a
majoração de alíquota de 6% para 18% a qual se reflete na base de
cálculo do Imposto de Renda pessoa jurídica incidente sobre o lucro das
operações incentivadas no ano-base de 1989 ofende os princípios da
irretroatividade e da segurança jurídica.
(STF - RE: 592396 SP, Relator: EDSON FACHIN, Data de Julgamento:
03/12/2015, Tribunal Pleno, Data de Publicação: 28/03/2016)
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menor impacto ambiental.
Outro imposto muito válido é o IPI, o qual pode ter como grande critério
norteador diferenciadas e progressivas, analisado se aquele tributo é
essencialmente poluidor (CALIENDO, 2021).
Outras técnicas que podem ser utilizadas, são as alíquotas seletivas, os
quais são aplicados apenas em casos que são ruins à sociedade, os chamados
“tributos sobre o pecado”.
Também existem os chamados benefícios fiscais que podem ser
aplicados em casos positivos ao meio ambiente, exemplo das isenções fiscais
que podem ser totais ou parciais e concedidos para empresas que protegem o
ambiente.
O principal fundamento para uso da extrafiscalidade é o art. 170, inciso
VI, da Constituição Federal.
Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho
humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos a existência
digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes
princípios:
VI - Defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento
diferenciado conforme o impacto ambiental dos produtos e serviços e de
seus processos de elaboração e prestação (Redação dada pela Emenda
Constitucional no 42, de 19.12.2003).
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regulamento pelo incentivo, a obrigatoriedade pelo poder de convencimento, a multa
pela vantagem fiscal, os órgãos de execução pelos intermediários privados, a
execução pela conciliação.4 Com isso, o Estado não busca apenas direcionar,
induzir os modos de comportamentos individuais, mas sim controlar, de forma
efetiva e indireta, o funcionamento dos acontecimentos.
Para alcançar esse desiderato, o Estado não promulga ordens, e sim provoca
efeitos reais, que são menos perceptíveis pelos destinatários (os administrados).
Uma ordem, diz Kirchhof, é promulgada de forma consciente e controlada pelo ente
estatal. Já a atuação por meios indiretos provoca efeitos reais que não são
percebidos em larga escala pelo aplicador. Vale dizer, os efeitos são disfarçados.
Tanto a repetição quanto o controle de tais condutas situam-se fora do âmbito do
Estado, afastamento este que reduz a influência dos órgãos estatais sobre os
comportamentos realizados e sobre os efeitos causados. Tal fator, para Kirchhof,
acaba enfraquecendo o autocontrole do Estado.5 Em contrapartida, o Estado de
Direito exige que exista uma responsabilidade estatal por todas as ações realizadas.
Vale dizer, a atuação da Administração insere-se dentro dos limites do Direito.6
Destarte, o modo de atuação indireta deve ocorrer dentro de contornos gizados pelo
ordenamento. Não se trata, pois, de um atuar contra, e sim conforme o Direito.
É importante observar que a existência dessa atuação indireta da Administração
parte de um pressuposto: a admissão de uma interação entre Estado e Sociedade.
Na área econômica, por exemplo, as iniciativas gerais de política estatal
influenciam a economia privada. Por isso, há uma inevitável influência do
Estado sobre a vida econômica. Por outro lado, a produtividade dos sujeitos
que exercem atividade econômica pode repercutir, de modo negativo ou
positivo, no Estado. Assim, embora no plano normativo exista uma separação
entre Estado e Sociedade, no plano real há influências e interpenetrações
(PIMENTA, 2020, p. 2) – grifo nosso.
Nessa linha, é necessário que o Poder Público faça essa regulação econômica,
interfira na economia visando a proteção ambiental, deixando produtos mais poluentes com
maior valor e os menos poluentes com valores mais econômicos, exemplo seria adotar
alíquotas progressivas e base de cálculo com esse pressuposto.
Imaginemos a adoção do IPVA com alíquota bem baixa para carros elétricos,
consequentemente o valor de mercado deles iria abaixar consideravelmente e ficariam mais
interessantes ao consumidor final.
O Estado tem o poder de regular a economia e impor medidas para incentivar
condutas, logo é de rigor a proteção ambiental como ponto de partida da legislação
tributária.
Nessa linha:
A análise da tributação ambiental deve tomar como ponto de partida o contexto em
que o fenômeno surgiu: o da extrafiscalidade.
Com efeito, a partir da primeira metade do século passado, no período posterior à
Primeira Guerra Mundial, o Estado passou a modificar a sua forma de atuação,
substituindo o modelo da imposição de ordens e de proibições, pelo da cooperação
de terceiros. Com isso, buscou estimular, incentivar a realização de
comportamentos pelos administrados, para estruturar a realidade.
Dentre os meios utilizados para a realização dessa atuação indireta, destaca-se o
poder financeiro do ente público, cujo exercício pode importar na imposição de um
ônus para o alcance de determinados fins. Os tributos aparecem, desse modo, como
um instrumento que pode ser usado nessa modalidade de atuação estatal.
Nesse contexto, surgem as normas jurídicas qualificadas como normas
direcionadoras de condutas, denominadas pela doutrina alemã de
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Lenkungsnormen, as quais são produzidas com o propósito de atuar sobre
determinada situação fática, implementando uma finalidade cuja realização foi
atribuída ao Estado pelo ordenamento jurídico.
O aparecimento dessa modalidade de norma jurídico-tributária importou no
surgimento de uma interessante discussão doutrinária, tanto no exterior quanto no
Brasil, acerca da identificação de um critério de diferenciação entre as normas
denominadas de normas fiscais e aquelas qualificadas como normas extrafiscais
(direcionadoras, regulatórias, indutoras).
Sobre o assunto, a posição predominante na doutrina pátria caminha no sentido de
diferenciar tais normas pelo critério da finalidade, aqui compreendida como um fim
externo, como uma modificação na realidade, para implementar um estado de
coisas, realizar valores, no caso brasileiro, previstos implícita ou explicitamente pelo
texto constitucional.
Ao nosso ver, além da finalidade, o critério do efeito pretendido com a edição da
norma também deve ser levado em consideração na separação em epígrafe. O
efeito postulado não se confunde com a efetividade da norma. Trata-se do
conteúdo, do comportamento que se busca implementar com a edição de uma
norma tributária direcionadora. Com base na utilização desses dois critérios, as
normas tributárias podem ser separadas, então, em duas classes: normas de
finalidade arrecadatória e de efeito predominante de oneração e normas de
finalidade direcionadora e eficácia preponderante de estruturação da realidade.
Essas normas direcionadoras podem veicular medidas diversas, visando a estimular
ou inibir a prática de determinada conduta. Por conseguinte, podem consistir em
uma imposição de um ônus ou de uma desoneração financeira (benefício ou
incentivo fiscal). No primeiro caso, irão importar na criação de um tributo
direcionador (Lenkungssteuer) ou no estabelecimento de um ônus financeiro no
bojo do regime jurídico aplicável a determinado tributo. Na segunda situação, a
norma irá reduzir ou eliminar o ônus incidente sobre uma classe de sujeitos, para
facilitar a realização de certo comportamento.
Em qualquer situação, a criação de um tributo direcionador deve obedecer
aos seguintes pressupostos: (a) existência de uma intervenção indireta por
meio do tributo; (b) tolerabilidade e licitude do comportamento que se busca
incentivar ou evitar; (c) objetivo de incentivo; (d) presença de um motivo; (e)
adequação da espécie tributária à finalidade direcionadora eleita; e (f) dupla
competência do ente tributante (PIMENTA, 2020, p. 215).
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claramente a aplicação de um regime constitucional diferenciado aos
produtos e processos que tenham efeito positivo sobre o meio ambiente.
Depreende-se que o tratamento diferenciado implique em regimes distintos a
produtos e serviços que provoquem resultados ambientais mais benéficos. Não
haveria, neste caso, qualquer ofensa ao princípio da igualdade, mas um reforço ao
tratamento isonômico, justo e necessário. Não é coerente tratar igualmente
situações ambientalmente distintas. O regime diferenciado implica em um
tratamento favorecido para os produtos e serviços de menor impacto ambiental,
dado que eles produzem uma menor carga de externalidades negativas, ou seja,
impõem um menor custo social.
Vejamos que, um determinado produto, altamente poluente, e que agride o meio
ambiente, pode provocar doenças, exigindo, desse modo, intervenções estatais
reparadoras. Este não pode receber o mesmo tratamento que um outro produto
similar ou com função similar, que não polui tanto e nem gera tantos riscos à saúde
pública. O primeiro possui consequências sociais e financeiras que devem ser
levadas em conta pela sociedade. Os seus custos atuais e futuros devem ser
internalizados pelos agentes envolvidos. (CALIENDO, 2016, p. 13) – grifo nosso.
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distribuição da riqueza e para orientar e induzir condutas ou atividades consideradas
como valiosas para o bem-estar da sociedade33.
A orientação de condutas através da extrafiscalidade poderá ser realizada
utilizando-se duas técnicas de atuação: (1) através de incenti- vos fiscais; e (2)
através do estabelecimento de cargas tributárias. (MONTEIRO, 2013, p. 181).
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5.
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proteger o meio ambiente, através do mandamento constitucional previsto no
art. 225, é de rigor que o compliance público também se preocupe com
situações que envolvam meio ambiente.
O dever do compliance público resguardar o direito ambiental está dentro
da própria razão de sua existência.
É cediço que a governança corporativa nasceu do conflito de agências,
ocorreu o agigantamento das corporações que abriram seus capitais em bolsa
de valores e diversas pessoas que não participam da gestão das empresas
tornaram-se proprietárias passivas dela.
Ocorreu uma separação daqueles que fazem a gestão da empresa e os
seus proprietários, nascendo o dever de introduzir mecanismos que protejam
os proprietários que não participam da sua administração.
O mesmo ocorre na máquina pública, o interesse é totalmente público e
todos são proprietários, porém poucos fazem a sua gestão, logo é necessária
a fiscalização para impedir o desvio de interesses, pois toda empresa necessita
agir de acordo com o interesse de todos os proprietários e não do gestor, o
mesmo ocorre na área pública.
Logo, o meio ambiente saudável como direito de todos e que todos os
brasileiros são proprietários dele, é necessário que o gestor público utilize o
compliance para impedir desvios que o danifique.
O compliance também necessita ser utilizado para a análise e cobrança
do tributo ambiental, nesse diapasão, as práticas exercidas pelo contribuinte
serão devidamente analisadas para que possa averiguar qual alíquota
adequada, variando-se conforme a poluição gerada.
Ante o exposto, a máquina pública apenas fará o uso correto do tributo
para que cumpra a sua função extrafiscal de proteção ambiental com a efetiva
utilização do compliance público.
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6.
Outro limite é o direito de propriedade, dessa forma não pode ser utilizado o aludido
instituto caso viole o exercício da livre iniciativa e a propriedade privada, por exemplo, pode-
se citar um tributo que impede o início na exploração de certos comércios.
O limite da capacidade contributiva também deve ser respeitado, tendo-se em vista
que o instituto da extrafiscalidade não pode prejudicar em maior valor público com menor
poder contributivo, ferindo-se, também, o princípio da isonomia.
Veja-se, caso eu aplique a alíquota progressiva do IPVA apenas com base no quanto
o veículo polui o ambiente, acabarei tributando de forma bem mais alta pessoas humildes
com veículos antigos e beneficiarei pessoas de alto poder aquisitivo que conseguem
adquirir carros híbridos e elétricos.
Nesta linha, o legislador deve-se atentar às problemáticas do tema, evitando
alíquotas muito altas para o poder aquisitivo do contribuinte.
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Acerca dos limites da extrafiscalidade, PIMENTA:
21
(SABBAG, 2022, p. 61).
Como já apresentado anteriormente, outra limitação da extrafiscalidade é a análise
de seus pressupostos, alicerces que necessitam existir no contexto fático para que sua
utilização não se torne meramente simbólica ou inútil.
Os princípios do direito tributário não admitem a aplicação de alíquotas progressivas
em casos sem a devida motivação, logo, é dever do Ente Público fundamentar corretamente
sua utilização e analisar todas os pressupostos necessários para sua implementação,
assim como incentivos fiscais, obedecendo-se o princípio da isonomia, o qual só poderá
ser mitigado de forma motivada.
É necessário utilizarmos os critérios da antinomia entre princípios, ou seja,
dependendo do caso concreto será visualizado qual princípio fundamental irá sopesar sobre
o outro.
Válido destacar que a devida análise é um dever do legislador e da Administração
Pública para evitar o uso desnecessário ou excessivo do instituto. Assim, para que possa
relativizar princípios é necessário visualizar no caso concreto uma devida imposição
constitucional de proteção ambiental, casos em que realmente o meio ambiente está sendo
afetado e necessita da proteção estatal.
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7.
23
Conclui-se que o instituto da extrafiscalidade ambiental deve ser utilizada,
tendo-se em vista o próprio “mandamus” constitucional, porém o instituto
necessita respeitar os princípios que protegem o contribuinte, sob pena de
inconstitucionalidade.
24
AMARO, Luciano. Direito Tributário Brasileiro. 23. ed. São Paulo: Saraiva,
2019;
25
econômico e tributário, V. 11, nº 1, p. 253/276, junho, 2016;
26