TCC Ga 1

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UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE - UNESC

SISTEMA NACIONAL DE APRENDIZAGEM INDUSTRIAL - SENAI


CURSO DE TECNOLOGIA EM DESIGN DE MODA

GABRIELE BERNARDO DA CONCEIÇÃO

O CASO TUCUM E A IDENTIDADE CULTURAL INDÍGENA NAPÓS-


MODERNIDADE

CRICIÚMA
2019
GABRIELE BERNARDO DA CONCEIÇÃO

O CASO TUCUM E A IDENTIDADE CULTURAL INDÍGENA NA PÓS-


MODERNIDADE

Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado


para obtenção do grau de Tecnólogo no Curso
de Design de Moda da Universidade do
Extremo Sul Catarinense, UNESC/SENAI.

Orientador(a): Prof. Me. Felipe KanarekBrunel

CRICIÚMA
2019
Agradeço imensamente a Deus. A minha
família e por todo o apoio recebido. Sou
imensamente grata, por esse ciclo concluído.
AGRADECIMENTOS

Concluir o curso Superior tecnólogo em Design de moda é um grande


passo e um dos meus sonhos concretizados, na qual não seria possível sem
perseverança e dedicação.
Meu agradecimento vai a minha família, minha base, que com muito amor
e empenho contribuíram não apenas financeiramente, mas emocionalmente, com
palavras e a atitudes que me deram forças para concluir todos meus projetos do
curso.
Às amigas(os) que me deram apoio, sempre elevando meu entusiasmo, e
quando precisei com prontidão me escutaram e ajudaram.
Ao meu orientador, que se predispôs a me orientar, contribuído muito para
meu conhecimento e para o trabalho, abrindo minha visão, sempre flexível e quando
necessário argumentava e chamava minha atenção.
Aos componentes da banca, meus sinceros agradecimentos.
.
“A cultura é uma necessidade imprescindível de
toda uma vida, é uma dimensão constitutiva da
existência humana, como as mãos são um
atributo do homem.”
Ortega y Gasset, José
RESUMO

A identidade cultural na pós-modernidade é uma junção de vários


elementos fundamentais, na qual forma uma mistura na coexistência de varias
culturas em um todo, processo que se caracteriza como hibridização, através da
migração local/nacional, onde acontece o entrecruzamento cultural, pelas trocas de
informações, que se torna identidades múltiplas, resultante da diáspora. O processo
de hibridização está fortemente ligado aos povos brasileiros. Evidente através da
colonização, onde muitos povos aqui aportaram.Com a crescente globalização o
indivíduo está se transformando em um sujeito com a identidade fragmentada,
enfraquecendo as antigas identidades das culturas nativas que, por muito tempo,
sustentaram a sociedade e que davam aos indivíduos estabilidade no mundo social.
Existem três concepções de identidade, que são diferenciadas em três conceitos, o
sujeito iluminismo, totalmente individualistas e unificadas, a segunda concepção e o
sujeito sociológico, que acreditava que a formação do “ser” autônoma, mas coletiva,
com a interação de outras culturas. Por ultimo, a terceira concepção é chama pelo
autor de Sujeito pós-moderno, mudando de sujeito unificado para um sujeito
fragmentado. No entanto, mesmo com o avanço da globalização, ainda há
resistência de algumas identidades, que por consequência da globalização foram
dissolvidas pelo tempo. Após os anos de massacre e repulsa cultural, atualmente os
povos indígenas brasileiros vivem com mais liberdade para que possam prosseguir
em viver culturalmente suas tradições, resistem e lutam para sobreviver
culturalmente. A marca Tucum é um projeto de designers em parceria com os povos
indígenas brasileiros. Valoriza e promove o protagonismo das artes das tribos
indígenas, contribuindo para a subsistência das tribos, a tucum comercializa
artefatos exclusivos, peculiares cheios de significados, produzidos pelas mãos das
artistas das tribos, e oferece a possiblidade do acesso a essas culturas, mesmo não
se hibridizando das mesmas. Como uma pesquisa básica, qualitativa e exploratória é
analisar a Identidade cultural indígena na pós-modernidade nos produtos da Tucum,
através da pesquisa bibliográfica documental. Desta maneira como objetivo geral do
presente trabalho é analisar a Identidade cultural indígena na pós-modernidade nos
produtos da Tucum. Para isso é analisado a marca Tucum como estudo de caso.

Palavras-chave: Identidade cultural. Pós-modernidade. Hibridismo. Indígenas


Brasileiros. Tucum Brasil.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – Marca Tucum .......................................................................................... 36


Figura 2 - Site Tucum Brasil ..................................................................................... 37
Figura 3 - Colar de miçangas huni kuin .................................................................... 38
Figura 4 - Pulseira Rautihu Yawanawa .................................................................... 39
Figura 5 - Colar Volta do Xingu ................................................................................ 40
Figura 6 - Gargantilha de miçanga Kayapó .............................................................. 42
Figura 7- Encontro TUCUM | Anapuatã Mehinako ................................................... 43
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

SENAI Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial


UNESC Universidade do Extremo Sul Catarinense
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 12
2 IDENTIDADE CULTURAL NA PÓS MODERNIDADE .......................................... 15
2.1 A QUESTÃO DA IDENTIDADE E A PÓS-MODERNIDADE ............................... 16
2.2 A CULTURA NACIONAL COMO COMUNIDADE IMAGINADA .......................... 19
2.3 GLOBALIZAÇÃO: O GLOBAL, O LOCAL E O RETORNO DA ETNIA ............... 21
2.4 O FUNDAMENTALISMO, A DIÁSPORA E O HIBRIDISMO ............................... 23
2.4.1 Hibridismo cultural........................................................................................ 26
3 A QUESTÃO DO INDIO NO BRASIL .................................................................. 28
3.1 O QUE PENSAM OS BRASILEIROS SOB OS ÍNDIOS BRASILEIROS ............. 30
3.2 A IDENTIDADE CULTURAL INDÍGENA NO BRASIL ........................................ 32
3.3 RELAÇÃO ENTRE A IDENTIDADE E A CULTURA INDÍGENA ......................... 34
4 ANÁLISE TUCUM ................................................................................................ 36
4.1 TRABALHO TUCUM E A HIBRIDIZAÇÃO ......................................................... 43
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 46
REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 48
12

1 INTRODUÇÃO

Apesar de não ter ainda seu devido valor na sociedade atual brasileira, a
cultura indígena tem grande importância na formação cultural do país, embora tenha
sido reprimida pela cultura europeia com a chegada dos colonizadores portugueses.
Por outro lado, relatos escritos ou museus que mantem viva a cultura indígena são
escassos.Há pouco material sobre o conhecimento histórico, porém, sabe-se que a
mesma deixou fortes traços que perduram até hoje na sociedade e não podem ser
esquecidas.
Diversos setores se apropriam de características culturais para criação ou
ornamentação de produtos, sendo que, um dos que mais se destacam é o de
vestuário, que apresenta coleções de moda. Produtos da cultura indígena, de fato,
são pouco visto como referência para a comercialização para outras culturas, devido
a tudo que ocorreu na história dos povos indígenas que resultou na desvalorização
de suas identidades culturais e o processo de hibridização com outras culturas
aportaram ao Brasil. A marca Tucum trabalha paravalorizara cultura indígena
brasileira através de suas artes e técnicas passadas de geração a geração por seus
ancestrais.
Conseguinte ao avanço a globalização, as identidades culturais tornam-se
homogêneas através da desintegração, em todas as esferas, priorizando a vida e os
valores ocidentais. No entanto, há uma busca das identidades culturais nativas pela
resistência através das manifestações culturais, retornando a etnia. A cultura
brasileira na atualidade é a referência de outros povos, principalmente os europeus.
Com a chegada dos colonizadores, a miscigenação foi inevitável e
consequentemente, a imposição desta nova cultura e crença, resultando no
enfraquecimento da cultura aqui existente, ou seja, a indígena. Apesar disso,
existem relatos da riqueza cultural desses povos que podem ser observadas por
meio de suas artes naturais, danças e crenças.
A cultura Brasileira é o resultado da miscigenação de diversos povos que
aqui aportaram, podendo se inferir que a mesma é o espelho de outras culturas,
principalmente a européia. Com a chegada dos colonizadores europeus no Brasil,
ouve imposição de crenças e costumes, fazendo com que cultura indígena fosse se
dissolvendo por falta de espaço para a sua expressão, ou melhor colocando, inibidos
de realizarem seus cultos, os mesmos foram obrigados a internalizar a cultura dos
13

colonizadores.
Os registros sobre a pré-colonização brasileira são muito limitados,
porém, a riqueza cultural desses povos permanece, com pouco eco, no uso de
materiais naturais, danças e formas de vida. Apesar de tentarem coibir a existência
cultural indígena, existem grupos em manifestos de resistência que lutam para que a
cultura sobreviva e não seja engolida por questões globais que ocupam e são
incorporadas pelas pessoas devido a proliferação dos meios de comunicação em
massa. Por outro lado, é importante que a cultura do país seja preservada pelas
futuras gerações, sendo necessário que as manifestações ocorram com mais
intensidade, a fim de que o conhecimento chegue até a população.
As características da indumentária das tribos indígenas brasileiras, na
qual seu papel era funcional na comunidade, devido ao clima da região e suas
crenças, além da estética com suas formas, cores, materiais são ricas como fonte de
inspiração para a área da moda.
A Tucum, um grupo de designer sustentável, surge com a proposta
promover a manifestação étnica e cultural das tribos indígenas brasileiras.
Trabalham em conjunto, transparência e ética com os artistas das tribos indígenas,
promovendo seus artefatos e sobrevivendo culturalmente.
Porém, não se trata apenas de arte indígena, mas sim, da autenticidade
que cada povo tem em suas expressões, são peculiaridade na maneira como
produzem seus ornamentos cujo sentido é diferenciado em cada produção. A cultura
indígena, de beleza peculiar, cheia de intencionalidades, não pode ser subjugada a
perder-se no tempo.
Por isso, refletindo sobre a importância de não deixar se evadir
totalmente da vida moderna, essa pesquisa tem o seguinte problema de pesquisa:
Como a identidade cultural indígena pós-moderna se manifesta em produtos criados
por grupos indígenas da marca Tucum?
Como objetivo geral a pesquisa pretende:Analisar a Identidade cultural
indígena na pós-modernidade nos produtos da Tucum.
Os objetivos específicos são: a) Compreender como se caracteriza a
identidade cultural pós-modernidade; b)Identificar a identidade cultural indígena na
pós-modernidade; c)Compreender como a identidade cultural indígena se manifesta
em acessórios de moda.
14

O trabalhado será desenvolvido a partir da pesquisa cuja natureza é


básica que, para Gil (2002 apud TREVISOL, 2018, p.31), “objetiva gerar
conhecimentos para novas aplicações, dirigidas à solução de problemas específicos.
Envolvem verdades e interesses locais”.A pesquisa tem abordagem qualitativa,
desempenha a percepção sobre o principio da moda brasileira, buscando as raízes
da cultura nos seus primórdios.
Para o alcance dos objetivos, a pesquisa é exploratória que, segundo Gil
(2002 apud TREVISOL, 2018, p. 32-33), “Explora um problema, procurando, através
de uma investigação aprofundada, esclarecê-lo”. Como procedimentos técnicos, a
pesquisa é bibliográfica, através da imprensa escrita, publicações de livros e artigos,
coletados da internet. Também é feito um estudo de caso, a marca Tucum, através
de registros como o site, blog e redes socias da marca, onde é coletado as
informações.
Como resultado do presente trabalho, de pesquisa bibliográfica, é
elaborado três capítulos. No primeiro capitulo, “Identidade cultural na pós
modernidade”, a abordagem é fundamentada através dos pensamentos de autores
relevantes para o estudo. Stuart Hall (2006) é considerado um dos filósofos mais
importantes para o estudo da identidade cultural, globalização e hibridismo na qual
participa de todos os capítulos, muito citado e com grande relevância para o trabalho
em um todo.
Em seguida, o segundo capitulo,“A questão do índio no Brasil”,é
trabalhado com Luciano (2006). Os povos indígenas brasileiros prosseguiu a viver
culturalmente, resistindo e mantendo suas origens. É importante esse resgate e
valorização da cultura nativa, que por muito tempo vou evadido, não apenas pelos
próprios povos, mas pela sociedade brasileira.
E por último, “Análise tucum” como a marca Tucum, desenvolvida por um
grupo de designer com a missão de resgatar as culturas dos povos indígenas,
trabalhando com ética e em parceria com as tribos, promovendo e protagonizado as
artes desses povos.
15

2IDENTIDADE CULTURAL NA PÓS MODERNIDADE

Ao falar de identidade logo vem em mente uma perspectiva de


autoafirmação, de “quem eu sou”, características marcantes que formam um
indivíduo. No entanto, a identidade é aquilo que o diferencia dos demais, baseado
em sua forma de pensar, na raça, no gênero, na sexualidade e nacrença.Segundo
Silva e Woodward(2000), a identidade é autossuficiente e autocontida.
O conceito de cultura, para Hall (2006, p.135)se refere as ideias que um
determinado conjunto de indivíduos partilham. A cultura é, então,“[...]a soma das
descrições disponíveis pelas quais as sociedades dão sentido e refletem as suas
experiências comuns”.Refletindo, assim, nas práticas sociais edesenvolvendo
comportamentos em conjunto como uma língua, crenças, rituais, formando assim
uma identidade cultural. No entanto, o autor chama a atenção para o fato de que:

A concepção da cultura é, em si mesma, socializada e democratizada. Não


consiste mais na soma de o “melhor que foi pensado e dito” considerado
como os ápices de uma civilização plenamente realizada – aquele ideal de
perfeição para o qual, num sentido antigo, todos aspiravam. (HALL, 2006, p.
135).

Em visão geral, culturas são hábitos de determinados grupos sociais ou


até mesmo de indivíduos que fazem parte desses grupos sociais. De acordo com o
texto supracitado, existe uma ideia de que antigamente existia uma superioridade
cultural. Eles compreendiam haver uma alta cultura e uma baixa cultura quanto ao
nível de desenvolvimento que elas apresentavam.
Hoje, as culturas acabam sendo uma junção de vários elementos básicos,
que formam uma mistura da coexistência de várias culturas em um mesmo território.
A frase que sintetiza isso, segundo Hall (2006 p. 135), “‟cultura‟, nesse sentindo
especial, „é ordinária‟”.„Ordinário‟ é algo comum, simples, corriqueiro, que conjectura
a ideia de acessibilidade à cultura. No tempo de hoje valoriza-se tudo aquilo que é
produzido e que pode ser chamado de cultura.
Nos últimos anos,a questão da identidade cultural está sendo colocada
como uma pauta crítica,mesmo tratada com pouca ênfase. Há relatos dos primeiros
estudos culturais surgiram na década de 1950, de acordo com Stuart Hall (2006),
como um tema distinto.
16

Segundo Stuart Hall (2006 p. 9):

Um tipo diferente de mudança estrutural está transformando as sociedades


modernas no final do século XX. Isso está fragmentando as paisagens
culturais de classe, gênero, sexualidade, etnia, raça e nacionalidade, que,
no passado, nos tinham fornecido sólidas localizações como indivíduos
sociais.

Com a crescente globalização, o indivíduo está se transformando em um


sujeito com identidade fragmentada, enfraquecendo as antigas identidades das
culturas nativas que, por muito tempo, sustentaram a sociedade e que davam aos
indivíduos estabilidade no mundo social.

2.1 A QUESTÃO DA IDENTIDADE E A PÓS-MODERNIDADE

Stuart Hall (2006) é muito provavelmente o filósofo mais importante nos


estudos sobre identidade cultural, é a ele que essa pesquisa remete quando aborda
a questão da identidade cultura. Ao explorar as questões da identidade cultural, o
autor avalia se a “crise de identidade” é existente apontandoa fundamentação e as
influências que baseiam a direção desses acontecimentos, o qualestão ganhando
forma.
Para o autor,há três concepções de identidade, na qual se distingue em
três conceitos. O primeiro deles éo Sujeito do Iluminismo,totalmente individualista,
centrado, unificado, descrito unicamente como masculino, atribuído de ações
racionais, onde todo ser que nascia era igual: “O centro essencial do eu era a
identidade de uma pessoa” (HALL, 2006, p. 11).
A segunda é a concepção deSujeito Sociológico que considerava que a
formação do “ser” não era autônoma e nem autossuficiente, mas que dependia da
interação e apoio de outras personalidades, de pessoas próximas com relevância
em sua formação, a fim de interferir com valores, símbolos e sentido no território
onde ele habitava. Não deixando de existir seu eu interior, ou melhor, sua essência,
mas se adaptando e modificando continuamente com as identidades culturais
externas que o mundo apresenta.“A identidade, nessa concepção sociológica,
preenche o espaço entre o “interior” e o “exterior”- entre o mundo pessoal e o mundo
público.”. (HALL, 2006, p 11).
17

Ao projetar a identidade pessoal do “nosso interior” àoutras identidades


culturais e, ao mesmo tempo, introjetar os significados e seus valores, ele torna
parte também do “nosso interior”.Essa interação contribui para o ser viver e cumprir
seu papel social no mundo, alinhando sua consciência e sua subjetividade, gerando
um equilíbrio quanto ao mundo e as culturas existentes e tornado as culturas e o
sujeito unificado.
A questão de sujeito unificado está mudando e alterando para um sujeito
fragmentado. A terceira concepção échamada pelo autor de Sujeito Pós-moderno,
que não é composto apenas de uma identidade fixa, crucial e permanente, mas
provisório, inconstante e problemático.Hall (2006) aponta que não há possibilidade
de o ser humano nascer e morrer com a mesma identidade. A identidade do sujeito é
uma constante “metamorfose” permeada dedescobertas e transformaçõesdiante das
formas culturais que o cercam.O sujeito adota identidades diferentes, em inúmeros
momentos e em diferentes direções.No entanto, o ser humano está em constante
transformação em sua identificação.
Stuart Hall (2006, p. 13) argumenta que:

Se sentimos que temos uma identidade unificada desde o nascimento até a


morte é apenas porque construímos uma cômoda estória sobre nós
mesmos ou uma confortadora “narrativa do eu” [...]. A identidade
plenamente unificada, completa, segura é coerente uma fantasia. [...] somos
confrontados por uma multiplicidade desconcertante e cambiante de
identidades possíveis, com cada uma das quais poderíamos nos identificar -
ao menos temporariamente.

O autor afirma que o processo de mudança é consequente da


“globalização” que é marca dos tempos atuais e caracteriza a sociedade atual como
“modernidade tardia”.Tempo marcado pelas mudanças que interferem na identidade
cultural, mudanças constantes, aceleradas e permanecentes, com distinção das
identidades culturais tradicionais que conservam e veneram os símbolos e
realizações do passado, buscando recorreràsmesmas práticas sociais de outrora.
A modernidade tardia na sua totalidade não é apenas uma prática de
convivência com a mudança apressada e contínua, mas faz refletir na vida das
pessoas, Giddens(apud HALL, 2006, p.15)cita que, como tudo é mutável, “As
práticas sociais são constantemente examinadas e reformadas a luz das
informações recebidas sobre aquelas próprias práticas, alterando, assim,
constitutivamente, seu caráter”. A estrutura da sociedade pós-moderna é deslocada,
18

não possui um único centro, com uma exclusiva organização que caminha para uma
única causa e lei. A sociedade moderna é definida por sua multiplicidade e
diferença.
A pós modernidade é um conceito que muitos autores trabalham de forma
diferente que percebem a modernidade com visões distintas.De acordo com Hall
(2006, p.17), “a sociedade não é, como os sociólogos pensaram muitas vezes, um
todo unificado e bem delimitado, uma totalidade”, mas em geral os autores hão de
concordar que o tempo moderno atual acaba sendo marcado por mudanças
constantes, “Ela está constantemente sendo „descentrada‟ ou deslocada por forças
fora de si mesma” (HALL, 2006, p 17). Existem alguns termos usados por
pesquisadores, sociólogos e filósofosque sintetizam a leitura da atual
sociedade.Esses termos variam,a “modernidade líquida”, a“modernidade tardia”,
a“segunda modernidade”, a“pós-modernidade”, entre outros, mas, em comum, essas
nomenclaturas tentam apresentar o que está acontecendo com a modernidade atual.
Não existe uma definição única sobre o tempo que começou a
modernidade em si, são vários os pensamentos, mas em geral há uma concordância
entre os estudiosos que a modernidade se consolidou por meio da industrialização,
por meio de uma política de liberdade e igualdade.Só que esses valores
perpetuaram-se como verdades em busca de um mundo “ideal e perfeito”.No
entanto, esse mundo “ideal e perfeito” não aconteceu e hoje em dia existe um
ambiente de muita critica quanto essa busca pela perfeição.Ou seja, essas
narrativas criadas ao longo do tempo de que a modernidade se caracteriza por uma
busca de uma humanidade melhor por meio da ciência, técnica, indústria, da
sociedade de mercado, etc., na verdade apresenta muitas contradições e problemas.
(HALL, 2006). A pós-modernidade vem questionar essa modernidade atual e é
justamente isso que o autor está tratando.
Há uma ruptura e muitas faces nessa modernidade atual.Hoje, a pós-
modernidade critica e questiona a modernidade daquele tipo criado, no entanto, ela
não é uma modernidade traçada em apenas um único rumo, ela possui várias
verdades e vários caminhos. Hall(2006, p.16) apresenta isso como uma estrutura
deslocada“cujo o centro é deslocado, não sendo substituído por outro, mas por „uma
pluralidade de centros de poder‟”, no caso o centro deslocado é devido ao processo
da globalização.
19

A visão da identidade moderna é a mais complexa e temporária em


comparação as identidades que a antecede, do sujeito do iluminismo e o sujeito
sociológico, que eram constantes e inalteráveis, contudo a identidade atual
apresenta formas e junções de novas identidades novas, não é unificada em um
todo, como alguns sociólogos pensavam. (HALL, 2006, p. 17).

2.2 A CULTURA NACIONAL COMO COMUNIDADE IMAGINADA

Tendo em vista os conceitos teóricos e características que Stuart Hall


(2006) apresenta sobre os sujeitos da modernidade tardia e da pós-modernidade,
percebe-se o sujeito fragmentado que está sendo afetado pelo processo da
globalização, problematizando sua identidade cultural particular.
Ao nascer em uma determinada nação, o sujeito se reconhece por uma
das principais marcas de identidades culturais que remetem ao lugar, se auto
definindo de uma maneira conjecturada. “Essas identidades não estão literalmente
impressas em nosso gene” (HALL, 2006, p. 47), mas essas culturas são imaginadas
como parte de sua essência e existência.
A identidade nacional não é implantada no interior da sociedade através
de representações das transformações, não é uma identidade raiz, que nasce com o
indivíduo. Hall (2006) diz que só há o conhecimento do que é uma determinada
cultura através das representações dela com a agregação de seus significados,
tradições e valores.O autor menciona que nós “[...] só sabemos o que significa ser
„inglês‟ devido ao modo como a „inglesidade‟ (Englishness) veio a ser representada”.
(HALL, 2006, p. 49).
A nação não se resume apenas em uma política de organização, mas
uma representação cultural que envolve sentidos dentro do sistema. Os cidadãos
não são apenas integrantes de uma sociedade na qual cumprem seus direitos e
deveres perante as leis de um determinado território, mas, em conjunto
compartilham dos mesmos ideais e visões que formam a cultura representativa da
nação em que se socializa.
20

Hall afirma que (2006, p. 47):

A formação de uma cultura nacional contribuiu para criar padrões de


alfabetização universais, generalizou uma única língua vernacular como o
meio dominante de comunicação em toda nação, criou uma cultura
homogênea e manteve instituições culturais nacionais.

A cultura nacional se tornou uma engrenagem para a modernidade,


contribuindo assim em indústrias e tecnologias, criando um sistema homogêneo na
educação nacional.A formação da cultura em uma nação não é constituída apenas
pelas instituições culturais, compostas nos museus e livros, mas são os símbolos e
as representações que dão sustentaçãoà cultura.
Conforme o autor supracitado, a cultura nacional é uma descrição
imaginada na qual se tem acesso diante das histórias e discursos das memórias
criadas sobre o passado que reflete no presente, produzindo sentido sobre a nação
e identificação pessoal.O autor afirma que “uma cultura nacional é um discurso – um
modo de construir sentidos que influencia e organiza tanto nossas ações quanto a
concepção que temos de nós mesmos” (HALL, 2006, p. 51).
O autor dá sentindo as representações que definem uma nação como
“comunidade imaginada” por meio de algumas características principais, na qual dão
sentindo a pergunta:“Como é contada a narrativa da cultura nacional?” (HALL, 2006,
p. 51).
Existem várias perspectivas de narrações contadas sobre as nações, que
se materializam através da literatura nacional, das imagens, dos eventos históricos,
das mídias, dos símbolos e das representações, que, por fim, permitem ao indivíduo
a identificação com a história nacional.As narrativas dão ênfase à continuidade
original da identidade nacional, como uma tradição atemporal que é imutável ao
passar do tempo, narrando a identidade nacional como única e primordial. “Está lá
desde o nascimento, unificado e continuo, „imutável‟ ao longo de todas as
mudanças, eterno.” (HALL, 2006, p. 53).
Em contrapartida, a estratégia discursiva se dá através de rituais solenes
e formais, na qual traz a memória uma vinculação histórica, tidos como profundos,
de valores nacionais e comportamentos do passado, como desfiles militares.Outra
narração é o mito funcional, uma construção de discursos estratégicos na qual
21

dálegitimidade à presunção dos atos praticados no passado através de


contranarrativas da idéia de nação. Por fim, a formação de uma nação se dá sobre a
“idealização”de um povo, mas, durante o processo, dificilmente esses povos
primitivos que persiste nesse ideal exercem o poder (HALL, 2006).
Segundo o autor, os discursos sobre a nacionalidade não é uma pauta tão
moderna, ela forma identidades que são sustentadas por histórias equivocadas e
duvidosas, entre o passado e o presente, de origens religiosas, místicas, ortodoxas e
de pureza racial. “Ele se equilibra entre a tentação por retornar a glórias passadas e
o impulso por avançar ainda mais em direção à modernidade” (HALL, 2006, p.56).

2.3 GLOBALIZAÇÃO: O GLOBAL, O LOCAL E O RETORNO DA ETNIA

A globalização não é um acontecimento recente.Giddens (apud HALL,


2006, p. 68) diz que “a modernidade é inerentemente globalizante”, uma está
interligada à outra.
Segundo Gioielli(2004), a globalização é uma união complexa de poder e
processos de mudanças em uma grande escala, deslocando as identidades culturais
nacionais.O autor ressalta que, diante das transformações do mundo moderno, é
insustentável somente preencher a sociedade com a cultura do
Estado/Nação.Sendo assim, surge aglobalização e o consumismo preenchendo o
eixo da sociedade, gerando uma integração e a troca de culturas, costumes e
produtos típicos de uma localidade com outras, atravessando fronteiras.Por meio
desse movimento o mundo torna-se interconectado, ou seja, globalizado.
Com a consolidação do mundo global os discursos dos quais eram
construídas as identidades culturais nacionais estão sendo desmistificadas e o
propósito do discurso construído é insatisfatório. A globalização, além de
desmistificar os discursos que sustentaram as identidades culturais e colocar em
contradição a limitação cultural que o Estado construiu, ampliou as fronteiras e as
trocas simbólicas das quais as identidades se sustenta.Com isso, a identidade
nacional, que era supremacia sobre as outras, entrou em uma crise de definição e
significado que desnuda as visões dessa questão.É irrelevante, no mundo global,
discriminar um sujeito por sua nacionalidade.(GIOIELLI, 2004)
Conforme Hall (2006),há a permanênciade alguns aspectos que a
globalização trouxe como consequência para as identidades culturais em longo
22

prazo. Com o passar do tempo,a modernidade vai desintegrando a identidade


homogênea de cada nação, devido a mistura de culturas, desde ao menor povoado
até as grandes metrópoles.
No entanto, mesmo com o avanço da globalização, ainda há resistência
de algumas identidades seja no âmbito nacional, local ou particular. Ainda assim,
nota-se, com muita clareza, o declínio das identidades nacionais, em todas suas
particularidades. Outras identidades estão surgindo, identidades heterogêneas estão
no ápice da globalização, formando pontes culturais em toda sua totalidade entre as
nações.
Em contrapartida a globalização, oimpacto “global” gerou um interesse
pelo “local”, produzindo novas identificações sobre o que identifica culturalmente um
local.Nesse caso, a definição de “local”, segundo Hall (2006), se refere as
manifestações culturais de um grupo em um determinado lugar, em contraposição a
homogeneização em uma única cultura global,
O autor ressalta que:

A globalização (na forma da especialização flexível e da estratégia de


criação de "nichos" de mercado), na verdade, explora a diferenciação local.
Assim, ao invés de pensar no global como "substituindo" o local seria mais
acurado pensar numa nova articulação entre "o global" e o "local". Este
"local" não deve, naturalmente, ser confundido com velhas identidades,
firmemente enraizadas em localidades bem definidas. Em vez disso, ele
atua no interior da lógica da globalização. Entretanto, parece improvável
que a globalização vá simplesmente destruir as identidades nacionais. É
mais provável que ela vá produzir, simultaneamente, 'novas' identificações
"globais" e novas identificações "locais". (HALL, 2006, p 77)

A globalização produz modificações significativas em aspectos distintos


de uma sociedade. Perscrutando, inclusive, os seus traços identitários. Emergindo
então, "novas" identidades, submissas as diretrizes do mercado global-local-global.
Causando uma espécie "nova" nacionalidade sujeita às relações mercantis, gerando
um homem-global-local.
No entanto, o processo deglobalização é desigual e tem sua própria
articulação de poder, fazendo com que o “global” alcance todas as esferas da
sociedade de uma maneira incompatível entre as regiões periféricas e grandes
metrópoles. Hall (2006, p. 78) afirma que“Isso é o que a DorcenMassey chama de
„geometria do poder‟ da globalização”, que é a homogeneização global das
identidades.
23

A globalização é um processo de ocidentalização, ou seja, que prioriza e


valoriza a forma de vida ocidental, através da mercantilização de produtos
exportados e valores ocidentais.

Uma vez que a direção do fluxo é desequilibrada, e que continuam a existir


relações desiguais de poder cultural entre "o Ocidente" e "o Resto", pode
parecer que a globalização __ embora seja, por definição, algo que afeta o
globo inteiro __ seja essencialmente um fenômeno ocidental. (HALL, 2006,
p.78).

Novas possibilidades de identidades são evidências da globalização,


tornando as identidades mais plurais e menos fixas. Mas em contrapartida há uma
busca das identidades culturais nativas, que foram abafadas pelo nacionalismo. Há
um grande interesse em preservar os vínculos sem regressar ao passado,
convivendo com as novas culturas em que vivem, carregando os traços e tradições
das culturas ascendentes que o marcaram, retornando a etnia. No entanto, essas
culturas não irrevogáveis nunca serão unificadas como eram no passado,
poisconstruíram novas conexões com outras culturas.Hall (2006, p.86) afirma
que“pertencem a uma e, ao mesmo tempo, a várias „casas‟ (e não a uma „casa‟
particular)”.
Essas culturas que são enraizadas, ou tradicionais, estão sujeitas as
causas anteriores, submissas as suas tradições carregadas em si mesmas, mas, ao
mesmo tempo atendem as novas “propostas” identitárias em consonância e com
princípios mercantis burgueses, ou seja, com princípios do capitalismo.No geral,
entende-se que o sujeito está em um “lugar”, não perdendo sua identidade, mas ao
mesmo tempo, surgem as relações novas, essas relações existem justamente por
esse mundo novo, o mercantil globalizado, desse tempo especifico em que é
inserido. Ao mesmo tempo, carrega-se traços identitários preservados, sujeitando a
novos traços.

2.4 O FUNDAMENTALISMO, A DIÁSPORA E O HIBRIDISMO

Segundo Stuart Hall (2006), há três consequências sobre a identidade


cultural diante da globalização:(1ª) as culturas tradicionais e fixas estão se
dissolvendo com o tempo,impulsionada pela homogeneização cultural. (2ª)mesmo
24

com o avanço da globalização surge aresistência de algumas identidades,(3ª)


apesar disso percebe-se a declinação dessas identidades culturais nacionais e
surgemas identidades hibridas, que são uma multiplicidade identitárias ocasionadas
através da migração e pelas trocas de informações culturais.
Quando se trata de identidades culturais pós-modernas, logo vem em
mente que elas se tratam, unicamente, de culturas híbridas. O hibridismo se
caracterizapela fusão entre diferentes tradições culturais, sendo assim é capaz de
produzir outras fontes culturais, adaptadas durante a modernidade tardia, diferente
das identidades culturais do passado consideradas “puras”. As identidades
híbridasreconciliamo velho com o novo.
No entanto, em contrapartida o que se vê é um forte movimento de cunho
conservador que busca pelo fundamentalismo das origens das tradições.Esse
movimento surge em frente ao hibridismo e a diversidade,a fim de restaurar os
conceitos do antigo em contrapartida a um fechamento para o novo. O
ressurgimento do nacionalismo da Europa, e em diversos países no mundo inteiro,
que age diretamente no campo econômico, politico e da cultura, buscando a
unificação cultural, alimentado pela ideia da uma única raça “pura”, é um exemplo de
fundamentalismo apontado por Hall (2006). Outro fenômeno do fundamentalismo é o
nacionalismo particularista, onde um povo de um determinado local procura a
conservação e autonomia da sua identidade, um absolutismo étnico e religioso.
É característica do fundamentalismo governantes fomentarem ideais
como artificio de manipulação em massa com objetivos políticos e expansionista. Um
exemplo disso é o que ocorreu após a primeira guerra mundial com os países que
saíram como derrotados. Nestes países,surgiram ideais fundamentalistas, mais
especificamente sentimentos nostálgicos e desejo de reconstruir quem eram antes
da guerra. Neste aspecto,no contexto na qual estavam inseridos, alguns
governantes fomentaram esses ideais para ganhar força populacional para alia-los
em planos políticos e expansionista, como o exemplo da Alemanha com Hitler
durante a Segunda Guerra Mundial.
Outra característica fundamentalista estáligadoareligião. Hall menciona
(2006 p. 95) que“o fundamentalismo é mais forte nos estados islâmicos mais pobres
da região”.Afé islâmica é um artificio usado como um meio para unir aquele povo em
prol de fins políticos, econômicos e culturais.
25

Para essa pesquisa, no entanto, interessam as identidades híbridas.


Através da migração local/nacional,surgem as identidades hibridas que acontece
diante do entrecruzamento cultural ou pelastrocas de informações culturais.
Segundo Hall, (2006, p. 27), “no caso da diáspora, as identidades se tornam
múltiplas”. Hall (2006, p. 30)explica o conceito da diáspora como “Todos que estão
aqui pertenciam originalmente a outro lugar”.A sociedade ocidentalécomposta por
muitos povos que aqui aportaramde uma forma aterradora, marcada porviolência e
ruptura. Em meio a essa perplexidade que atualmente se revela nas mais diversas
esferas, do econômico ao político, do cultural ao ambiental, formas contraditórias de
ideias convivem em um mesmo local.Por exemplo, do mesmo modo em que uns
defendem osdiscursos culturalistas que supervalorizam traços identitário e limitam a
forma em que a sociedade deve compreender e agir, outros com a visão para
economia defendem a ideia de um neoliberalismo capitalista global, implacável e
homogêneo, diante da crise financeira.(HAESBAERT, 2012).
Há, no entanto, uma resistência e contradiçãodiante do mundo de
identidades “transculturais”, “mestiças” ou “hibridas”. De tal modo, aparecem
“desvios” ou “escapes” dentro de uma organização social que em nome do controle
da multiplicidade, preservam a ideia de “vida no limite”. De acordo com Young
(HAESBAERT, 2012, p. 27):

Hoje, as identidades que se declaram móveis e múltiplas, podem ser


indicação, não de desapropriação e fluidez social, mas antes de uma nova
estabilidade, segurança de si e quietismo. A fixidez da identidade só é
buscada em momentos de instabilidade e ruptura, de conflito e mudança.
[...] a heterogeneidade, o intercâmbio cultural e a diversidade se tornaram
agora a identidade autoconsciente da sociedade moderna.

O autor supracitado apresenta com clareza esta contradição,que mostra a


construção identitária na sociedade atual, em um novo formato, baseada na
mobilidade e na multiplicidade, que não seria propriamente representada na
descontinuidade, na mudança e no conflito, mas em fases de “estabilidade,
segurança de si e quietismo”, “estabilidade na fluidez e na multiplicidade”, são
processos paradoxais sob a construção da identidade cultural.
26

2.4.1 Hibridismo cultural

Segundo Canclini (1997), ahibridação dentro da cultura pode se


caracterizar por três abordagens importantes:(1ª) a dúvida em questão do valor da
modernidade, na qual acontece a mistura do tradicional e moderno e a ruptura dos
grupos dentro do sistema organizacional (nações, etnias e classes); (2ª) o conjunto
das ciências sociasmultitemporal, contextualizado atravésda história da arte, da
literatura, museus de arte, folclore, bibliotecas, etc. Ter acesso a essas organização
é um meio de dispor dessas culturas; (3ª) Por ultimo, o estudo mais complexo sobre
o hibridismo mostra suas características, como a desterritorialização dos processos
simbólicos, havendo assim, o aumento dos gêneros “impuros”, “miscigenados”, ou
híbridos.
Como localização do indivíduo no mundo, o espaço e o território são
características que constroem a existência do ser, tanto como noaspecto da
sobrevivência enquanto “corpos” quanto no aspecto simbólico-social.
Haesbaert(2012) relaciona o homem não unicamente como um “animal territorial”,
mas a um “animal multiterritorial”, vivendo em vários territórios em um mesmo
período de tempo.Esse aspecto não é necessariamente um complemento para a
raça humana, mas um aspecto fundamental.
A amplificação urbana é um dos motivos que impulsiona e reforça a
hibridação cultural.Segundo Costa Canclini(1997, p.2), “países que no começo do
século tinham aproximadamente 10% de sua população nas cidades concentrem
agora 60 ou 70%”.A sociedade passou por um entrecruzamento cultural, do
tradicional, local e homogêneo.Mas,em algumas localidades onde as culturas nativas
estão enraizadas, a intercomunicação através de redes nacionais e transnacionais
da dominância urbana é limitada.
Há diversas faces da multiterritorialidade, seja no sentindo particular
territorial ou geográfico,devido à visão materialista com foco no “poder” político-
econômico, mas também como empoderamento de classes e grupos socioculturais.
Não somente um olhar sobre o fator administrativo, mas sobre o simbólico. A
territorialização no âmbito simbólico carrega significados culturais e contribui para o
processo da hibridização e identificação social, “seja por nossa crescente mobilidade
física, articulando mais de um território, como ocorre com os migrantes em diáspora,
seja pela própria diversidade territorial” (CANCLINI, 1997, p. 35), construir culturas
27

hibridas é também construir fronteiras.


Em contrapartida Haesbaert(2012, p. 35,36)esclarece que:

A burguesia planetária, por exemplo, se desloca muito, mas quase sempre


frequentando os mesmos lugares, ignorando a imensa diversidade cultural –
e territorial – que se estende ao seu redor. Aqui e ali ela pode até cruzar
com o “Outro”, mas é como se ele estivesse invisibilizado, não se
estabelecendo nenhum diálogo – ou, quando, por obrigação, este se dá
(como em serviços de hotéis/restaurantes (como em serviços de
hotéis/restaurantes e no comércio).

A hibridização é vivenciada através da mobilidade, mediante ao


deslocamento físico como uma experiência particular. Mas não é por habitar em
diversos territórios híbridos que um sujeito vive a hibridização, se viver além de seu
aspecto funcional. A habitação em regiões culturalmente múltiplas não
necessariamente faz com que o cidadão usufrua uma multiterritoriedade cultural, há
diferença em sua natureza funcional e real.Para o autor, “podemos ter „múltiplos
[tipos de] territórios‟ sem construir ali, efetivamente, uma multiterritorialidade.”
(HAESBAERT, 2012, p.36), Isso implica em transitar em multiterritoriedade, sem que
proporcione experiências de hibridização cultural. A unidade entre ambos só
acontece quando a mudança de território provoca uma mudança de comportamento,
por conseguinte uma mistura cultural.
Conforme o autor, assim como tudo que esta na moda tem um preço alto,
ou valor de troca, o hibridismo está na moda. “É „bom‟ ser híbrido, „mestiço‟, créole,
porque isto „vende‟ – e vende porque nos dizem que faz bem realizar misturas,
circular por territorialidades diferentes, enfim, consumir o world hybrid”
(HAESBAERT, 2012, p.41).Nesse sentindo, o hibridismo é abordado de uma forma
global, comercial e política.De fato, todo aquele que é “global” de certa forma é
“hibrido”, mas não se pode globalizar o hibridismo, visto que o hibridismo “regional”
não é o mesmo que o “nacional” e sequer o “continental”.
No continente latino americano, houve, com constância, processos
dehibridismo cultural devido as idas e vindas de pessoas que aqui chegaram desde
as eras remotas. Todo migrante é um sujeito hibrido, porque na terra há diferentes
costumes, culturas, músicas, danças, gastronomia, seitas religiosas, entre outros,
assim surge as misturas de culturas, entre grupos ou comunidades.
28

3 A QUESTÃO DO INDIO NO BRASIL

A sociedade brasileira personifica o índio de uma maneira mutável em seu


espaço. Em primeiro instante, relaciona-se o índio em uma parte da formação da
constituição nacional como um marco importante no passado, enfatizando o índio
apenas como nosso antepassado, onde herdamos a genética e cultura, e na
contribuição para a adequação dos colonizadores que aportaram nessa nova terra.
O índio não é apenas um contribuinte, mas o personagem principal na história do
Brasil. (COHN, 2001).
Os nativos, ou indígenas, representam uma grande parte da população
brasileira. Não são povos do passado, mas de hoje, que contribuíram na construção
do Brasil com seus conhecimentos, valores, diversidade cultural e territórios.
Luciano (2006) afirma que a cultura indígena não é uma cultura
homogênea.Cada tribo tem a sua cultura, rituaise costumes, com o intuito de atender
interesses comuns. Hoje, o significado de índios no Brasil é decorrente deuma
diversidade de povos antepassados que habitavam há muitos anos no continente
americano, muito antes da invasão europeia. Por cerca de 1500, quando o
continente americano, hoje conhecido como Brasil, foi descoberta e aportada por
colonizadores, estimava-se que existiam cerca de cinco milhões de índios de
diversas línguas e tribos. Hoje, por consequência da colonização,essa população
reduziu para 700.000 índios. “A Fundação Nacional do Índio (FUNAI) e a Fundação
Nacional de Saúde (FUNASA) trabalham com dados ainda muito inferiores: pouco
mais de 300.000 índios.”(LUCIANO, 2006, p. 27). A diferença entre a quantidade da
população indígena dá-se a maneira diferente na forma da coletados dados.AFUNAI
e FUNASA apresentam somente as informações das tribos em que eles prestam
serviços, na qual são registradas as informações dos povos indígenas por todo
território brasileiro.

Os dados da FUNASA são importantes no que se refere às


informaçõessobre as populações indígenas que vivem nas terras
indígenas.Segundo dados do Sistema de Informação de Atenção à Saúde
Indígena/SIASI/FUNASA, o contingente populacional habitante das terras
indígenas reconhecidas pelo governo brasileiro e cadastrado pelo Sistema é
de 374.123 índios, distribuídos em 3.225 aldeias, pertencentes a 291 etnias
e falantes de 180 línguas divididas por 35 grupos linguísticos (FUNASA,
Relatório DESAI, 2002:3). Dos 374.123 indígenas atendidospela FUNASA,
192.773 são homens e 181.350 são mulheres. (LUCIANO, 2006, p. 28).
29

A maior concentração da população indígena brasileira encontra-se no


Norte do país, em torno de 49%,e a menor concentração coletiva das tribos na
região Sudeste com somente 2%.Os indígenas estãoespalhados por todo território
brasileiro. (LUCIANO, 2006).
Por conta de imposições políticas, econômicas e religiosas,os indígenas
vêmsido,por séculos, despojados de suas terras, crenças, rituais e valores, perdendo
sua força culturalmente de uma forma “obrigatória”. Eles acabam por optar
emescondere negarsuas raízes como um plano de sobrevivência, uma forma de
tornar ameno a crise de discriminação pelo profundo preconceito dos indivíduos não
índios. Os índios são julgados por suas particularidades por conta da visão da
cultura predominante europeia que se estabeleceu no Brasil desde a chegada dos
colonizadores. “Antes da década de 1970, chamar alguém de índio, fosse ele nativo
ou não, era uma ofensa” (LUCIANO, 2006, p.31), por esse motivo a denominação
índio ou indígena pelos povos nativos eram uma recusa.Essa negação era em vão,
visto que não se esconde as origens, as aparência e as tradições.
Desde a última década do século anterior, os indígenas procuram
sobreviver não apenas como indivíduos, mas sobreviver culturalmente.Esse
fenômeno é chamado de “etnogênese” ou “reetinização”, reassumindo suas
tradições:

A criação de organizações indígenas formais que representem os seus


interesses perante a sociedade nacional e global e por meio das quais
possam ser construídas alianças para resolverem suas demandas constitui
um passo importante na redefinição do lugar dos povos indígenas no Brasil.
(LUCIANO, 2006, p. 29).

Os ideais indígenas vêm se fortalecendo através dos anos, concretizando


sua luta pela valorização político cultural de sua etnia. Atualmente, as ofertas de
políticas públicas específicas estão tangíveis, o que torna crescente o orgulho
étnico, o que reafirma a identidade indígena. Sobreviventes a história da colonização
europeia, os povos indígenas brasileiros resistem e lutam em busca de estabelecer
um espaço merecedor no país, na história e na vida multicultural. Por conta dos
séculos de repreensão dos colonizadores sob os povos indígenas, os sujeitos
indígenas viveram muito tempo negando suas identidades, hoje eles reivindicam
seus territórios e suas etnicidades através do processo de reafirmação medianteao
plano estratégico pan-indígena que contribui para a reafirmação das identidades
30

étnicas e conquistas dos povos indígenas no Brasil.O que resulta na aceitação da


denominação genérica índios ou indígenas e recuperando a autoestima dos povos
indígenas apagada pelo tempo da colonização. O índio tem orgulho de ser nativo, de
ter a liberdade de manifestar o modo de vida de sua civilização própria e carregar
uma ancestralidade peculiar.

3.1 O QUE PENSAM OS BRASILEIROS SOB OS ÍNDIOS BRASILEIROS

Historicamente, aos índios são despendidas inúmeras representações


bem como definições por parte dos não-índios e, em decorrência, até mesmo dos
índios propriamente ditos, destacadas imensamente por prejulgamentos pautados
sob ignorância e repúdio. A partir da vinda dos portugueses, entre outros
provenientes da Europa, e sua acomodação neste lugar, a população oriunda
tornou-se objeto de diversas concepções e apreciações a respeito de suas
peculiaridades comportamentais e aptidões, assim como o universo biológico e
espiritual que lhes são intrínsecos. Uma parcela religiosa europeia, por exemplo,
questionava e afirmava a não existência de alma nos índios. Outros renegavam o
pertencimento dos nativosaos seres humanos, visto que, segundo estes, os nativos
assemelhavam-se a bichos primitivos. Isto são algumas das múltiplas maneiras,
dentre as que os de pele brancaestabelecem na definição integral da população
indígena, evidenciado pela cosmovisão etnocêntrica preponderante ao povo europeu
ocidental. (LUCIANO, 2006).
Resultante desta visão restrita e preconceituosa existente na relação
entre índios e brancos no Brasil com início em 1500, gerou-seum conjunto de
imprecisões e contradições existentes ainda na atualidade no ilusório cenário da
nação brasileira e no representativo povo nativo. A maior parte da sociedade
brasileira, interposto na perspectiva evolucionista presente na narrativa, bem como
nas tradições, permanece classificando as povoações indígenas como uma geração
em fase ínfera, cuja excepcional expectativa é a coerência e a incorporação à cultura
universal. Os indígenas possuem intensa convicção que a posição se encontra em
um patamar inferior, enfrentado duplo obstáculoem busca da consolidação de
identidade e pelo êxito na obtenção de garantias no âmbito dos direitos e deveres
dos cidadãos na esfera nacional e global.(LUCIANO, 2006)
Os contrassensos, bem como as prenoções, são estabelecidos no
31

preceito da estupidez e incompreensão acerca da classe dos índios, como também


nas fundamentaisrazões e princípios que carecem de serem deixados para trás. A
raça humana que se autodetermina como contemporânea e sociável, em hipótese
alguma é capaz de admitir a carência do democratismo de raça, cultura e política.
De que maneira se pode ser civilizadoe instruído se desconhece ou, na pior
hipótese, não se admite apreciar distintos costumes e entendimentos? No período
de tempo em que isso não ocorre, persistimos em conviverjunto as oposições acerca
dos povos indígenas, as quais são capazes de sintetizar no presente em três
diferentes concepções sociais.
A primeiraconcepção se tem como um olhar poético em relação aos
índios, existente a partir da chegada dos primeiros europeus ao Brasil. Essa
concepção constituio ponto de vista que compreende o índio como atado ao meio
ambiente, vigilante das florestas, tolo, possuidor de ínfima capacidade ou
impossibilitado de decifrar o mundo branco com seus princípios e estimas. O
indígena conviveria numa coletividade incompatívelà comunidade nova que aqui
aportaram. Essa interpretação instituída por críticos, romancistas e intelectuais a
partir do advento de Pedro Álvares Cabral, em 1500, persiste até os dias atuais e
tem baseado integralmente a conexão defensora e condescendente dentre os
indígenas e a coletividade pátria, legitimadas pelos regimes indigenistas do
derradeiro século, primeiramente, por intermédio do Serviço de Proteção ao Índio
(SPI) e, ultimamente, pela Fundação Nacional do Índio (FUNAI). (LUCIANO, 2006)
Até neste momento, o nativo é tido como martirizado e inábil,
necessitando de um defensor para ser amparado e apoiado, ou seja, na ausência de
tutor ou representante, os índios não saberiam se proteger, se resguardar, progredir
bem como perdurar. Deste ponto, nasce o conceito de pai e mãe, por exemplo,
criado pela FUNAI e existente até o presente dentre diversas populações nativas
brasileiras. (LUCIANO, 2006)
Segundo o autor (2006), a segunda se refere a expectativa amparada na
perspectiva do nativo bárbaro, desumano, antropófago, desprovido de razão,
indolente, embusteiro, entre outros numerosos e distintos atributos e designações
diminutivas. Esta perspectiva nasceu a partir da vinda dos portugueses, por
intermédio especialmente da constância comercial, que ansiava contemplar os
indígenas serem integralmente aniquilados objetivando apoderar-se de suas
propriedades para desígnios financeiros. Embora no presenteessa concepção
32

semantenha amparada por conglomerados da economia,que se interessam pelas


propriedades dos nativos bem como pelas riquezas ambientais nelas presentes. Os
indígenas são classificados pelas corporações do mesmo modo que obstáculos ao
progresso da economia da nação, pela compreensível circunstância de se
recusarem a se sujeitarem ao abusivo sistema econômico que busca a posse e o
lucro, denominado capitalista, como fazem parte de costumes sociais, preocupados
com o bem comum e contráriosaacumulação desmedida. Desta concepção acarreta
diversos tiposde intolerância. bem como brutalidade desfavorável aos índios,
especialmente em combate aos líderes atuantes na proteção de garantias
mínimas.(LUCIANO, 2006)
Por fim, o terceiro aspecto temse pautado em um olhar manifestamente
cidadão, que incidiu e obteve ampla magnitude nos últimosvinte anos,
correspondendo ao recente período de redemocratização do Estado, tendo princípio
no final da década de 1980, Luciano (2006, p.36) explana “[...] que é a visão mais
civilizada do mundo moderno, não somente sobre os índios, mas sobre as minorias
ou as maiorias socialmente marginalizadas.”.Neste ponto, considera-se os indígenas
como indivíduos possuidores de garantias, bem como de direitos e deveres de
cidadão. Não se tratando de direitos comuns, excepcional e de forma generalizada,
contudo se fundamenta em direitos intrínsecos, ocasionando uma cidadania distinta,
ou usando um termo mais adequado e múltiplo. A partir deste momento, os índios
auferiram a garantia de persistir em conservar seus estilos de vida particulares, seus
costumes e princípios, assegurando da mesma forma a oportunidade em acessar às
distintas civilizações e tecnologias, bem como as convicções a nível global.

3.2 A IDENTIDADE CULTURAL INDÍGENA NO BRASIL

O Brasil passou a obter uma consciência étnica sobre a cultura indígena,


por conseguinte da valorização e do reconhecimento da cidadania indígena. Ser
índio hoje, depois do período repreensivo de massacre e escravidão, é motivo de
orgulho identitário. Ser índio é apropriar o país de uma rica cultura, ser tratado como
um cidadão com direitos perante a sociedade conquistando seu espaço social,
cultural, econômico e político. (LUCIANO, 2006)
Após 500 anos de massacree repulsa cultural, hoje, os povos indígenas
vivem com mais liberdade para que possam prosseguir em viver culturalmente suas
33

tradições que tem sido resgatadas pelos nativos, restaurandoassim seus projetos
socias étnicos identitários. (LUCIANO, 2006)
Diante dessa retomada, Luciano (2006, p.39) faz a seguinte pergunta “Isto
é um retorno ao passado ou puro saudosismo? De modo algum.”. O autor reflete que
isto é viver sua essência, valorizar a identidade de ser índio, “É ser o que se é”, um
acontecimento que ocorre perante a todas sociedades, fenômeno chamando de
etnogênese, quando um grupo étnico passa a ser distinto conseguinte ao período de
repressão institucional e ressurge reafirmando sua identidade por sobrevivência
cultural. A nova geração indígena tem a necessidade mais apurada de se identificar
culturalmente, em comparação aos anciãos, e de ter a segurança de seu espaço na
sociedade em um mundo globalizado.
É interesse da nova geração indígena fazer parte da modernidade sem
abdicar da sua origem. As gerações ancestrais indígenas apresentam uma maior
resistência para reafirmar suas identidades pelo profundo marco da escravidão
durante o período colonial, na qual foram induzidos a renunciar sua identidade. “Eles
foram obrigados a acreditar que a única saída possível para o futuro de seus filhos
era esquecer suas tradições e mergulhar no mundo não-indígena sem olhar para
trás” (LUCIANO, 2006, p. 40).Apesar disso, muitos anciões enfrentam essa carga
gerada pela repulsa e discriminação dos colonizadores, combatendo seus traumas e
vivendo o novo tempo, lutando por seus direitos e tendo orgulho de sua história
reafirmando sua identidade.
Os grupos indígenas possuem uma diversidade étnica, tal qual como os
povos europeus possuem nações com vários grupos étnicos (italiano, francês,
alemão, holandês). O autor aduz que “Seria ofensa dizer que o alemão é igual ao
português, da mesma maneira que é ofensa dizer que o povo Yanomami é igual ao
Guarani” (LUCIANO, 2006, p. 41).É umahostilidade referir uma cultura igual a outra
por pertencer amesma nação, assim como generalizar a cultura indígena brasileira.
Divergentemente do que é explanado na perspectiva dos europeus, estes
que colonizaram o continente americano, os povos nativos apresentam um imenso
desenvolvimento, com avanços nas civilizações milenares, desconstruindo a ideia de
inferioridade na em relação aos colonizadores europeus. De acordo com o Luciano
(2006, p.48),“As civilizações astecas, maias e incas em nada são inferiores às
européias, exceto no domínio da arma de fogo.”.Ambos com sistemas políticos
similares, com impérios, hierarquia e cidades-estados.
34

Reafirmar a identidade indígena e assegurar um espaço que sempre foi


seu, mas que gradativamente foi apoderada pelos colonizadores europeus, é de
extrema conquista diante da longa história de sofrimento, símbolo de revolução na
história do Brasil, rica herança deixada para nação brasileira dos ancestrais dessa
terra. Os povos nativos carregam a identidade primária histórica e enraizada da
nação brasileira, precedente a colonização europeia.

3.3 RELAÇÃO ENTRE A IDENTIDADE E A CULTURA INDÍGENA

A cultura indígena enfrenta três questões que segundo Stuart Hall (2006)
são consequências diante da globalização (1ª) as culturas convencionais já
existentes encontram-se em dissolução tendo em vista o passar dos períodos, este
fato deve-se ao que se pode denominar de uniformização cultural. (2ª) Apesar do
progresso da globalização, ainda há a permanência de certos elementos
identificadores culturais, (3ª) Não obstante observa-se a decadência das
identificações culturais locais bem como revelam-se as identificações miscigenadas,
caracterizando a abundante identificação entre identidades, tendo como causador a
ocorrência de fluxos migratórios como também as trocas de referenciais no âmbito
cultural.
A partir dessas três questões podemos observar queo fundamentalismo
dentro da cultura indígena surge diante do sentimento de nostalgia, com a
necessidade de fixar suas origens e tradições dentro da sociedade pós-
modernizada, estabelecendo sua identidade em busca do alcance dos direitos de
cidadão no âmbito nacional e global. Esse fundamentalismo não é necessariamente
ruim, faz com que eles fortaleçam as características intrínsecas de sua cultura, que
no entanto podem gerar situações conflituosas com outras.
Ainda assim por conta de todas as dificuldades que os índios sofreram,
eles tiverem que abdicar de sua identidade, e passaram a viver a identidade de
outros povos. Tornado-se praticamente homogênea, rejeitando sua identidade e
vivendo outra cultura por aceitação.Esses aspectos levam a perceber a cultura
indígena como parte de um processo de hibridização. Após a colonização dos povos
europeus que aqui aportaram, impondo suas tradições e costumes sob os povos
indígenas, o hibridismo se fez presente no cenário brasileiro. A europeização é
predominante no Brasil, dessa forma foram os povos nativos que foram prejudicados
35

de tal modoque tiverem que se enquadrar a forma de vida europeia.Por motivos de


sobrevivência, os povos indígenas se hibridizaram, moldaram e se inseriram as
regras culturais distintas. Em toda cultura que há menor predominância política e
econômica, submete-se a outra cultura predominante. A cultura indígena é hibrida,
pois teve força inferior perante outros povos e assim houve a necessidade de
moldar-se às diretrizes de diferentes culturas, sujeitando-se a um estilo de vida
diverso daquele em que seus ancestrais estavam inseridos e vivenciavam. Esse
processo, contudo, não foi um processo que aconteceu de forma completa, por esse
motivo os índios lutaram por sua cultura.Características das culturas indígenas
misturam com outras culturas e formaram as identidades hibridas.
Não acontece exatamente o mesmo com os brancos quando estes estão
em contato com os povos indígenas. O fato de consumir produtos de diversas
culturas, ou apropriando-se delas, não os tornam híbridos.Os brancos usufruem
superficialmente da cultura indígena, deixando-as em um patamar desprezível,
valorizando-a de maneira insignificativa de forma a não alterar os aspectos culturais
que lhes são próprios. O eurocentrismo sempre esteve no topo como a cultura
dominante, estando no centro da cultura do mundo.
Por fim, o conceito de diáspora faz pensar sobre ahibridização vivenciada
através da mobilidade, por meio do deslocamento, não apenas físico, mas de uma
maneira subjetivaem busca de aceitação social. Um povo se move ao adquirir
características de outras tradições, no caso dos indígenas isso aconteceu de uma
forma forçada.Em período algum houve a procura dos indígenas pelos povos
europeus, contudo, no momento em que ocorreu a vinda dos europeus, os índios
encontraram-se diante da necessidade imposta de se removerem e deslocarem de
seus ambientes rotineiros, seus lares e grupos para habitar em cidades ou em seus
próprios ambientes, mas modificados inteiramente, como as florestas.
Os povos nativos movimentaram-se e hibridizaram-se, mas seus traços,
riqueza cultural e características são inegáveis. Para poder viver culturalmente e
reafirmar sua identidade, que com o tempo foi rescindida, eles resistem através
manifestosculturais intensificadas. Algumas tribos indígenas produzem artesanatos,
com o intuito de conservação da comunidade.
36

4ANÁLISE TUCUM
É encontrado em todo território brasileiro uma palmeira chamada Tucum,
da qual todos os povos tradicionais brasileiros têm acesso, utilizando as folhas,
sementes e fibras. Disso se originou o nome da marca de um projeto carioca que
alia designers com povos indígenas. “Essa palmeira é nossa inspiração, tecendo
redes entre pessoas” (TUCUM, 2016). A Tucum é um grupo de designer solidários
ativistas que trabalham com a sustentabilidade através da arte dos povos indígenas.

Criada por três sócios, o antropólogo e indigenista Fernando Niemeyer, 34,


a empreendedora social e gestora Amanda Santana (esposa de Fernando),
34, e o geógrafo Thiago Vedova, 34, a Tucum fica no bairro de Santa
Teresa, no Rio de Janeiro [...] (MARCOS, 2017).

Sua missão é a valorização através da promoção da autonomia e do


protagonismo das artes dos povos nativos, os índios brasileiros, contribuindo para a
subsistência das tribos. Eles trabalham em prol da luta dos direitos e territórios dos
povos indígenas. (TUCUM, 2016). A figura 1 mostra a identidade visual da marca
onde fica evidente a relação com a Arte Indígena e o Design Sustentável.

Figura 1–Marca Tucum

Fonte: Tucum Brasil 1

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Disponível em:<https://www.tucumbrasil.com/> Acessado em 25 de maio de 2019.
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Os produtos são confeccionados em parcerias dos artistas indígenas


através de instituições cooperativas e produtores, trabalhando em prol da ética, do
respeito ao modo de vida das tradições das tribos e da realidade local, construindo
uma relação balanceada economicamenteonde uma parte justa e considerável dos
lucros é conduzida para os artistas das tribos indígenas.(TUCUM, 2016) O que
estreita e fortalece a relação da Tucum com as tribos é a transparência em seus
negócios. A Tucum é como se fosse o cliente inicial, em primeira concepção,
primordial, das artes que serão revendidas, acrescentando um valor inerente para os
custos da marca. Todos os produtores são pagos antes mesmo de seus produtos
serem comercializados.
A Tucum é uma ponte que traz a ligação entre a população que habita
nos centros urbanos à rica arte cultural dos povos indígenas, através da arte e do
artesanato comercializados através de site, figura 2,blog, rede sociais e pela loja
física situada no Rio de Janeiro. Todo o processo de criação e comercialização é
feitocom transparência e acesso as negociações, mostrando o quão atual e
atemporal são as manifestações culturais estéticas desses povos, com o
fundamento transmitido por seus ancestrais de geração a geração.

Figura 2- Site Tucum Brasil

Fonte: Site Tucum Brasil2

O site expõe com transparência a identidade da marca, sua visão seus


valores e princípios. Os produtos são apresentados de tal forma a evidenciar

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Disponível em: <https://www.tucumbrasil.com/> Acessado em 25 de maio de 2019.
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aparceria com as tribos indígenas. São comercializados acessórios para o corpo


como brincos, pulseiras, colares, camisas, bolsas, etc., como também arte e
artefatos como decoração interna e externa para casa, sempreevidenciando a
identidade cultural das tribos.
A marca Tucum comercializa peças exclusivas produzidas pelas mãos
dos artistas das tribos e oferece a possibilidade de estar diante de um acervo de arte
indígena com diversas etnias, cada uma com sua peculiaridade, grafismos, cores,
sementes e formas carregando a tradição de cada tribo.Para a análise foi trabalhado
somente com informações do site da marca, de tal modo que os produtos escolhidos
são aqueles divulgados no site. As imagens selecionadas foram escolhidas de forma
aleatória, sem algum tipo de regra, de maneira que foram escolhidos os produtos
compreendidos como mais relevantes para a discussão dentro da identidade
cultural.
Entre as diversas artes expostas no site, o colar de miçangas HuniKuin é
uma das artes, onde pode-se ter acesso.

Figura 3- Colar de miçangas hunikuin

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Fonte: Site Tucum Brasil

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Disponível em: <https://www.tucumbrasil.com/produto/colar-de-micangas-huni-kuin-8610> Acessado em 25 de
maio de 2019.
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O colar éfeito de miçangas de vidro e fios de algodão, nas cores azul,


marrom, turquesa, vinho e preto. O colar é produzido pela artesã Maria do Socorro
da tribo HuniKuin, localizados do Acre e no sul da Amazônia .Essa é, claramente,
uma peça de grande valor cultural com técnicas passadas pelos ancestrais que
perduram de geração em geração. O produto, no entanto, traz características de
hibridizaçãovisto que carrega aspectos culturais com técnicas tradicionais, mas com
o uso de novas matérias primas que vem sendo utilizada com o tempo, como a
miçangas de vidro.
Outra característica da hibridização das artes das tribos é a utilização de
pessoas brancas, não apenas como consumo, mas, como uma das maneiras de
expor o produto, pessoas brancas usando tucum. (TUCUM, 2016). No entanto, não é
o branco que usa quem se hibridiza e sim a própria arte cultural indígena que precisa
se adaptar ao corpo branco e urbano. Em todos os trabalhos da Tucum veremos os
aspectos de hibridização, como também na Pulseira RautihuYawanawa, abaixo.

Figura 4- Pulseira RautihuYawanawa

Fonte: Site Tucum4

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Disponível em: <https://www.tucumbrasil.com/produto/pulseira-rautihu-yawanawa-9101 > Acessado
em 25 de maio de 2019.
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Pulseira RauthiYawanawá éuma arte rica em detalhes, cores e


significados. A pulseira foicriadapor um grupo de mulheres da tribo Yawanawá que
carrega como missão o fortalecimento e a valorização da cultura.Com suas mãos
hábeis, elascriam e entrelaçam as miçangas com formas gráficas que expressam a
espiritualidade do povo Yawanawa, transmitindo a energia e proteção que recebem
na natureza. “RAUTI é beleza! É estar protegido de energias ruins, É ser visto com
bons olhos pelos bons espíritos da floresta, e ser presenteado pela boa energia, É
estar de bem com a vida, Estar com RAUTI é estar feliz!” (TUCUM, 2016).
As tribos manifestam suas identidades através das joias a materiais
artesanais, como uma forma de resistênciacultural. As manifestações artísticas
indígenas por meio de artefatos e grafismos como o caso da Tucum, surge como
uma iniciativa positiva para o âmbito mais vasto de proteção dos patrimônios
culturais das tribos indígenas. Isso condiz com a afirmação de Stuart Hall ao dizer
que, na globalização, ainda há a permanência de certos elementos identificadores
culturais que são reforçados por seus grupos.
Os colares Volta do Xingu desenvolvido pela artista YnêKuikuro.

Figura 5- Colar Volta do Xingu


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5
Fonte: Site Tucum
O colar é um adorno utilizado nas festas tradicionais e em rituais dos
povos que habitam no Parque Indígena do Xingu, MT. Com uma riqueza de
significados, ele pode ser feito somente de miçangas entremeadas ou sementes
perfuradas. Muito utilizados pelas mulheres das tribos, esses colarespodem chegar a
passar de 200 voltas de miçangas no fio de algodão. Os colares Volta do Xingu é
apresentado pela Tucum com uma versão mais leve e curta, repleta de beleza e da
força que os povos do alto Xingu carregam.Com cores de representatividade
brasileira, o tradicional verde, amarelo, azul e branco, e com um forte trabalho de
adaptação para o mercado branco e urbano, o colar Volta do Xingu é
fortementecaracterizadopela hibridização. (TUCUM, 2016).
Em última análise, ve-se a gargantilha Kayapó, um ornamento produzido
por artesões da etnia Kayapó, que pode ser vista na figura 6.

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Disponível em: <https://www.tucumbrasil.com/produto/colar-curto-voltas-do-xingu-8368> Acessado
em 25 de maio de 2019.
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Figura 6- Gargantilha de miçanga Kayapó

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Fonte: Site Tucum

A etnia Kayapó possui vários subgrupos: Gorotire, Kuben-Krân-Krên,


Kôkraimôrô, Kararaô, Mekrãgnoti, Metyktire e Xikrin.
As artes do grupo Kayapóé destacada pela utilização de materiais que
vem sendo incorporados com o passar do tempo, como as miçangas de vidros,
canudos e fio nylon, utilizando a mesma técnica tradicional. Kayapó se
autodenomina “aqueles que se assemelhamaos macacos”, a causa deve-se ao ritual
praticado pelos grupos, uma dança curta vestidos com máscaras de macacos que
durava por semanas. (TUCUM, 2016).
Diante das ameaças sociais que impedem os povos indígenas de
sobreviver culturalmente e com poucos recursos financeiros para se manter
economicamente, a Tucum vem fortalecendo e enaltecendo a riqueza das artes dos
povos indígenas através de sua arte trazendo um rendimento as tribos e
fortalecendo a tradição e o acesso da rica cultura indígena.O resultado é a
preservação, transmição e evoluçãodos saberes dos ancestrais, valorizando as
elaborações e técnicas exclusivas de cada tribo, onde cada peça carrega uma
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Disponível em: <https://www.tucumbrasil.com/produto/gargantilha-de-micanga-kayapo-9058 > Acessado em
25 de maio de 2019.
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história e sãoverdadeiras joias brasileiras. Todo o processo envolve, de forma


cuidadosa, designers que estão em um grande centro e indígenas que estão em
suas próprias tribos. O trabalho conjunto pode ser visto na figura
7.AnapuatãMehinako, que vive na aldeia Uyapiyuku, no Parque do Xingu, artesão da
etnia Mehinako, visita a loja física da Tucum e estreita a relação com o grupo
Tucum.

Figura 7- Encontro TUCUM | AnapuatãMehinako

7
Fonte: Site Tucum

A relação consolidada entre a Tucum e os povos indígenas, em uma


situação política atual precária e de ameaça aos direitos indígenas é a motivação do
grupo Tucum.

4.1 TRABALHO TUCUM E A HIBRIDIZAÇÃO

O processo de hibridização está fortemente ligado aos povos


brasileiros.Evidente através da colonização, onde muitos povos aqui aportaram,
juntamente com seus credos, tradições e culturas fazendo com que os povos nativos
da terra colonizada sofressem o processo de hibridização, por meio do
entrecruzamento cultural durante a migração local/nacional, surgem às identidades
hibridas.

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Disponível em: <https://tucumbrasil.tumblr.com/post/161364522204/encontro-tucum-anapuat%C3%A3-
mehinako > Acessado em 25 de maio de 2019.
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Hoje, conseguinte a colonização, os povos indígenas foram reduzidos


com o tempo, o que os tornou mais fracos diante da sociedade capitalista,
transmudando para povos totalmente hibridizados, forçados pela repreensão
epelopreconceitos dos não índios a mudarem seus comportamentos peculiares e
suas tradições e a abdicar de viver suas raízes.
Segundo Stuart Hall (2003) três consequências são notáveis sobre a
identidade cultural e tradicional como as indígenas na presente globalização. Em
primeira questão, as culturas tradicionais e bem definidas estão perdendo sua força
com o tempo através da homogeneização cultural, onde ocorre o cruzamento entre o
tradicional e o novo, provocando a ruptura dos grupos, classes e etnias tradicionais,
como os povos nativos brasileiros, os indígenas.Foi justamente o fato de não
existirem produtos da cultura indígena como referencia para a comercialização a
outras culturas que fez com que a Tucum buscasse reduzir essa discrepância,
devido a história da cultura indígena, evidenciando a riqueza das artes culturais das
tribos.
Em segundo, juntamente com o aumento da globalização, manifesta-se a
resistência de algumas identidades culturais. Fenômeno chamado de
fundamentalismo, onde os povos indígenas lutam em sobreviver culturalmente, e
restaurar conceitos e tradições de seus ancestrais, ao mesmo tempo em que
viveperante a sociedade, sujeitando a novos traços para a sobrevivência (trabalho
fora de seu âmbito natural, faculdade, etc.) eles carregamtraços de sua identidade
preservada e buscam fortalece-las através de manifestações, ainda que isso gere
conflitos com outros povos.Como uma forma de reagir a isso, gradativamente as
tribos indígenas estabelecem e atuam modos de produzir seus artefatos. A Tucum
caminha com a ideia muito clara sobre a demarcação cultural indígena, tanto
demarcar a cultura indígena entre eles como exteriorizar no território brasileiro como
um todo. A partir da renda das artes vendidas, os grupos indígenas são fortalecidos,
e fazem com que reaprendam suas antigas técnicas passadas pelos seus
ancestrais, por conseguinte consigam sobreviver disso. O cuidado que a Tucum tem
em respeitar os ritmos e técnicas tradicionais indígenas na qual são elaboradas as
artes, a partir das lideranças locais, sem impor, faz com que tudo seja muito justo.
Por último, apesar das manifestações, surge o declínio dessas
identidades culturais e suas simbologias, caraterísticas do hibridismo, ocorrendo o
aumento dos gêneros “miscigenados” e “impuros”.Surgem, então,as identidades
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híbridas ocasionada através das trocas de informações culturais mediante a


diáspora, a migração dos povos.Como as peças e artefatos que costumam utilizar
carregam características e adaptação de outras culturas pelo fato do grupo Tucum e
as tribos indígenas trabalharem juntas. O consumo, de certa forma,acontece com um
olhar romantizado pelos brancos, sendo que os brancos não se hibridizam e acabam
impondo a cultura europeia sobre a cultura indígena.
A Tucumé um projeto que propõem consolidar algumas das formas de
manifestação cultural das tribos indígenas brasileiras através de suas artes culturais
feitas pelos artesões das próprias tribos, valorizando a especificidade de cada tribo e
de cada indígena com a divulgação do nome de cada artistaenvolvido e de sua tribo
de origem. Uma parte justa dos lucros é enviada com destino as tribos para
sobreviverem economicamente através de suas manifestações culturais.
A Tucum possuiuma série de fatores que revela o hibridismo, em primeiro
aspecto o estético, pela utilização de novos materiais como as miçangas de vidro,
canudos, fios de algodão, dentre outros, que são feitos pelas mesmas técnicas de
seus ancestrais, unindo o tradicional com o novo. A hibridização aparece, também,
nas transformações que são necessárias para tornar uma peça tradicional em algo
que pode ser comercializado nas cidades. Outro motivo é o processo de voltar a
essa cultura e empoderar as tribos a produzirem, transmitindo e criando o acesso
cultural das tribos para as culturas dominantes, branca e europeia, que compõe o
Brasil através de suas joias que carregam significados e energias de suas crenças,
por meio de sites, blogs, rede social e loja física. Ter acesso a esses meios é uma
maneira de se dispor dessas culturas, mesmo não se hibridizando delas.
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6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A cultura é extremamente importante para o registro da existência da


humanidade e a sua evolução. A identidade cultural é idealizada por um conjunto
básico de características marcantes que diferencia os povos, baseado em sua forma
de pensar, nas crenças e tradições. O Brasil é um país fortemente hibridizado,
evidente através da colonização dos povos europeus, aportando as terras
pertencentes aos povos nativos, os indígenas, fazendo com que sofressem o
processo da colonização, os tornando híbridos por questão de sobrevivência. Por
meio do entrecruzamento cultural durante a migração local/nacional, surgem às
identidades hibridas.
A cultura indígena, foi hibridizada aos valores e a moda ocidental
predominante, tornando-se menos compreendida por causa do longo período de
desvalorização e exploração do índio. Desde a época das colonizações europeias
até tempos hodiernos, houve uma grande movimentação e mistura dos povos e,
consequentemente, de suas culturas, caracterizando os indígenas sujeitos híbridos.
Por outro lado, não se pode negar que existem grupos indígenas com
manifestações de resistência, buscando forças para viver culturalmente e manter
esta memória viva. Algumas tribos como os índios da tribo HuniKuin, localizados do
Acre e no sul da Amazonas, Indígenas da tribo do Xingu, localizada no Mato Grosso
e várias outras tribos que, com a parceria da Tucum, produzem artesanatos, na qual
são verdadeiras relíquias comercializadas com o intuito para a subsistência da
comunidade.
Entretanto, é preciso ir um pouco mais além e resgatar a cultura indígena
na moda, ressaltando o vestuário, ornamentos que utilizam, tatuagens como forma
de evidenciar a beleza do corpo, crenças e danças, incorporando-as a vida
moderna, respeitando a cultura primitiva do Brasil pré-colonizado, pois devem
caminhar juntas no processo criativo, a ética e estética.
Sendo assim, a presente pesquisa encontra seu ponto de relevância,
quando busca evidenciar a cultura indígena dissolvida pelo tempo, utilizando seus
traços e valorizando a apropriação da identidade das tribos indígenas dentro da
moda, apresentada por meio de lançamentos de produtos, com designers que não
se apropriam das culturas de tribos nativas, mas trabalham com parceria, ética e
transparência, com a missão de valorizar e promover essas culturas.
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A marca Tucum vem contribuindo para a demarcação da cultura indígena


no território brasileiro, para que possam sobreviver culturalmente diante de uma
sociedade globalizada, que valoriza o ocidental. A Tucum empodera e motiva as
tribos a produzirem seus artefatos, relembrando as técnicas dos seus ancestrais,
unindo o tradicional com o moderno, e criando o acesso cultural das tribos para as
culturas ocidentais que predominam o Brasil.
Inspirado na forma de expressão da arte dos indígenas brasileiros, na
perspectiva da valorização e preservação da memória dos primeiros habitantes
desta terra, a marca Tucum busca demarcar a cultura indígena no território brasileiro
como também evidenciar a cultura, externando a outras culturas, iniciada a partir da
relação e a parceria dos designers com os artistas das tribos, contribuindo para
maior conhecimento da cultura e, desse modo, mantendo a origem histórica cultural.
Compreender a luta dos povos indígenas brasileiros, como o processo da
colonização,que por consequência os povos indígenas foram obrigatoriamente
hibridizados, é necessário para mudar a visão cultural do Brasil, na quala cultura
europeia é predominante. Deve-se valorizar e respeitar as causas indígenas e seu
espaço, pois o Brasil é seu por direito, na qual foi tomado de suas mãos
violentamente.
Como designer, criar e desenvolver com ética e transparência é
essencial, o mundo da moda está saturado de causas que não contribuem para
consciência sociocultural, trabalhar por causas como essa, não se apropriando, mas
contribuindo é evolutivo e recompensador.
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REFERÊNCIAS

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em perspectiva. v.15, n.2, abr/jun, São Paulo, 2001. Disponível em: <
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<https://www.academia.edu/1148803/Pistas_para_entender_a_identidade_cultural_n
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CANCLINI, Néstor García. Culturas Híbridas - estratégias para entrar e sair da


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TREVISOL, Márcia Elisa Madeira. Apostila de metodologia científica. Criciúma,


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