EIV - Estudo de Impacto de Vizinhança 20
EIV - Estudo de Impacto de Vizinhança 20
EIV - Estudo de Impacto de Vizinhança 20
RESUMO
1 INTRODUÇÃO
Contudo, pelo fato do LAM e do EIV serem instrumentos criados por campos disciplinares
distintos (com trajetórias específicas de suas políticas urbanas e políticas ambientais), suas
articulações ainda são pouco analisadas no campo teórico e pouco experimentadas pelas
gestões públicas, o que torna ainda limitadas suas reais possibilidades de integração. Para
Freire (2015), persiste, ainda, uma zona de indefinição conceitual que atrapalha a inserção
e integração de temas ambientais no EIV, por exemplo.
Diante dessa lacuna, o presente trabalho tem como objetivo mapear e discutir a produção
acadêmica sobre Estudo de Impacto de Vizinhança no Brasil, buscando identificar na
literatura as possibilidades de integração do EIV com o Licenciamento Ambiental
Municipal, compreendo limitações, conflitos e avanços aos processos de regulação urbano
ambiental no Brasil.
2 METODOLOGIA
Visando mapear a produção acadêmica sobre EIV no Brasil, e sua integração com o LAM,
a metodologia utilizada foi Revisão Bibliográfica Sistemática (RBS), complementada por
Pesquisa Cruzada e Pesquisa Aleatória. Os strings de busca consideraram os termos:
“Impacto vizinhança” e “Estudo Impacto Vizinhança” As bases de dados foram: Portal de
Periódicos da CAPES, Biblioteca Digital de Teses e Dissertações (BDTD), Web of Science
e Scopus. O recorte temporal contemplou trabalhos publicados até abril de 2020. A tabela 1
apresenta as etapas metodológicas adotadas de forma detalhada.
Definição dos strings Busca através dos strings: Impacto Periódicos CAPES e BDTD
de buscas Vizinhança; Estudo Impacto Vizinhança.
Pesquisa Cruzada Artigos, livros, teses e dissertações citados nos Arquivamento no Mendeley;
trabalhos fichados na etapa anterior que Fichamento na planilha no Excel
apresentaram no título os strings.
Aplicou-se o Filtro 1.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
AP AE DM TD NT CL LV ME RE
Embora o número de trabalhos publicados sobre EIV no país ainda pareça ser reduzido,
combina com o que vem sendo encontrado em outros trabalhos de revisão bibliográfica,
envolvendo instrumentos ambientais ou urbanísticos, como, por exemplo, os 131 trabalhos
sobre Avaliação de Impacto Ambiental, analisados por (Duarte et al., 2017). Todavia, os
autores utilizaram apenas publicações em periódicos científicos de impacto, o que não
seria possível na presente análise, visto o caráter ainda preliminar dos estudos envolvendo
EIV. Situação semelhante encontrada em (Nascimento,Abreu and Fonseca, 2020), onde
foram analisados 53 trabalhos sobre Descentralização do Licenciamento Ambiental de
diversas naturezas devido ao caráter preliminar dos trabalhos sobre o tema.
As publicações científicas levantadas sobre EIV neste trabalho tiveram início em 1992 e
mantiveram-se em pequena quantidade até 2005. A partir desse ano observa-se um
aumento do número de publicações, o que pode estar relacionado à aprovação do Estatuto
da Cidade e à Campanha Nacional de Revisão de Planos Diretores Municipais
(Rolnik,Schasberg and Pinheiro, 2005). Este crescimento expressou-se, principalmente, no
aumento de artigos publicados em periódicos científicos, encontrados em todos os anos do
período estudado, e em dissertações de mestrado.
Em relação aos métodos de estudos, dos 173 trabalhos levantados, 106 tiveram como
metodologia Estudos de Caso, sendo que 81 pesquisaram apenas um (01) município, cinco
(05) compararam dois (02) municípios, dez compararam três (03) ou mais municípios.
Peres e Cassiano (2019) e Peres et al. (2017) pesquisaram 13 municípios de todos os
estados das regiões Sul e Sudeste, enquanto Caetano e Rosaneli (2019) levantaram 381
municípios do estado do Paraná. Foram encontrados, também, pesquisas abrangendo
regiões metropolitanas, como as de São Paulo (Barreiros and Abiko, 2016), Belo Horizonte
(Merícia, 2018), Vitória (Souza, 2019) e Curitiba (Wütrich, 2016).
Os dez municípios mais pesquisados são, em ordem: São Paulo, Belo Horizonte, Londrina,
Porto Alegre, São Carlos, Goiânia, Curitiba, Florianópolis, Rio de Janeiro e Uberlândia
(Figura 2), todos, com exceção de Goiânia, localizados nas regiões Sul e Sudeste.
12 11
10
10
8 8 8
8 7
6 5
4 4 4
4
Número de trabalhos
Sessenta e sete (67) trabalhos discutiram aspectos mais teóricos, abordando, por exemplo,
semelhanças e diferenças entre o EIA e o EIV (Sampaio, 2005; Prestes, 2006; Reis, 2009;
Peres and Cassiano, 2017) o papel do EIV na política urbana municipal (Boratti, 2008;
Chamié, 2010; Júnior and Corrêa, 2018), além de sua integração com outros instrumentos.
Tipo de Tipo de
Ano Autor(es) Ano Autor(es)
publicação publicação
Em Belo Horizonte (MG), a união dos aspectos urbanístico e ambiental foi introduzida
ainda na década de 1990 com o PD e a LOUS, fortalecendo o conceito de ambiente-urbano
(Moreira, 2007; Veloso, 2012). Em 2011, o Decreto nº 14. 594/11 regulamentou o
processo de licenciamento integrado de empreendimentos e atividades de impacto
urbanístico. Este decreto surge pela necessidade de aprimorar os processos de gestão
interna e agilizar o processo de licenciamento na capital (Castriota and Veloso, 2015;
Schvarsberg et al, 2016). Segundo Silva (2017), o exemplo de Belo Horizonte demonstrou
que um sistema de LA estruturado e integrado pode ser o caminho para o desenvolvimento
e aplicação dos instrumentos de avaliação urbana-ambiental nos municípios que ainda não
implementaram essas rotinas na sua gestão, mesmo que existam leis específicas.
A literatura aponta, ainda, que a formação de uma equipe multidisciplinar, tanto para
elaboração como para análise do EIV, pode apresentar avanços no licenciamento integrado
e na análise dos processos por parte dos municípios (Tomanik and Falcoski, 2009; Chamié,
2010; Pegoraro, 2010; Rosa, 2012; Veloso, 2012). Alguns aprimoramentos envolvem:
orientações mais claras e sistematizadas aos profissionais que elaboram os estudos por
meio de fluxogramas integrados; formação de equipes técnicas conjuntas de análises e
criação de novos marcos regulatórios. O protagonismo do Estado, a capacitação de agentes
sociais e a ampliação de espaços de debate, também são questões consideradas
estruturantes, além da organização de ações integradas entre universidades e gestão
municipal (Peres and Cassiano, 2019).
Em municípios que realizam o LAM, ainda existe insegurança jurídica por parte de
gestores municipais e empreendedores, em relação aos limites e fronteiras entre EIV e o
LAM, bem como seus instrumentos, como o EIA. Alguns autores apontam a urgência da
criação de orientações, diretrizes e procedimentos conjuntos, capazes de abordar os dois
instrumentos (Prestes, 2006; Perez, 2008), principalmente “quanto à desnecessária
repetição de informações nos documentos técnicos apresentados e à morosidade das etapas
de análise e deliberação sobre os pedidos de licença” (Merícia, 2018).
Embora o EIV não resolva todos os gargalos presentes nos processos de LU e LAM, este,
se for conduzido de modo prévio, integrado e participativo, tem o potencial de aperfeiçoar
a gestão ambiental territorial, representando uma mudança na condução das políticas
urbanas implementadas nas cidades brasileiras, inserindo importantes aspectos ambientais
(Hoshino et al, 2014; Campos, 2018).
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
As análises da literatura sobre Estudo de Impacto de Vizinhança, apontam para uma maior
necessidade de articulação das suas etapas com as do Licenciamento Ambiental Municipal.
Propostas de elaboração de fluxogramas integrados, criação de comissões multissetoriais
para diretrizes conjuntas de análise de projetos, além de consolidação de novos marcos
regulatórios urbanístico-ambientais integrados vêm sendo feitas, visando a ampliação da
capacidade municipal para enfrentar interesses conflitantes de órgãos setoriais e dos
agentes do mercado. A literatura também sugere a ampliação de espaços de debate sobre os
instrumentos de regulação urbana e ambiental, que pode ser feita, por exemplo, pelo
retorno da realização das Conferências Municipais, Estaduais e Nacionais, ou da formação
de redes e fóruns conjuntos entre universidades, municípios e instituições nacionais que
atuam no fortalecimento da gestão local.
No âmbito dos objetivos deste trabalho, ressalta-se que pesquisas de revisões de literatura
possuem algumas limitações metodológicas. Uma delas refere-se às constantes
atualizações dos planos diretores, das leis específicas ou dos procedimentos de
licenciamento, que podem sofrer modificações conforme mudanças nas gestões municipais
ou por interesses públicos e privados. Esse é, portanto, um trabalho constante e contínuo
que pode ser desdobrado em futuras pesquisas.
AGRADECIMENTOS
Este trabalho foi financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo
(FAPESP), processo nº 2018/24661-0.
REFERÊNCIAS