2 - Organização Da Educação Nacional

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Você provavelmente já sabe que a educação é um direito de todos.

Mas
será que você sabe quais são as principais leis que regulamentam o
sistema educacional brasileiro?

A educação é um direito social de todos, assegurado


pela Constituição Federal e de competência comum da União, dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios. Junto com saúde e segurança pública, é um
dos deveres mais importantes de todas as esferas governamentais e, por isso,
possui uma significativa legislação que visa garantir não só com que os governos
cumpram suas obrigações, mas também com que a educação cumpra sua
função social.
A Seção I do Capítulo III da Constituição de 1988, intitulada “Da
Educação”, define os pontos mais cruciais da educação em relação aos sistemas
de ensino, aos deveres do Estado, aos recursos públicos destinados à área e
aos seus objetivos, que de acordo com art. 205 são: o “pleno desenvolvimento
da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação
para o trabalho”.
Entre as definições mais importantes dessa seção, estão os princípios
com base nos quais o ensino deve ser ministrado (art. 206) e as
responsabilidades que o Estado deve exercer em vista de assegurar a efetivação
do seu compromisso com a educação (art. 208).

OS 8 PRINCÍPIOS-BASE DO ENSINO

O artigo 206 da Constituição Federal estabelece oito princípios nos


quais o ensino deve ser baseado. São eles:
I – Igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;
II – Liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e
o saber;
III – Pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas, e coexistência de
instituições públicas e privadas de ensino;
IV – Gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais;

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V – Valorização dos profissionais da educação escolar, garantidos, na forma da
lei, planos de carreira, com ingresso exclusivamente por concurso público de
provas e títulos, aos das redes públicas;
VI – Gestão democrática do ensino público, na forma da lei;
VII – Garantia de padrão de qualidade;
VIII – Piso salarial profissional nacional para os profissionais da educação
escolar pública, nos termos de lei federal.

AS 7 RESPONSABILIDADES DO ESTADO COM A EDUCAÇÃO

Já o artigo 208 da Constituição estabelece que o Estado brasileiro tem


sete responsabilidades para efetivar seu compromisso com a educação:
I – Educação básica obrigatória e gratuita dos 4 aos 17 anos de idade,
assegurada inclusive sua oferta gratuita para todos os que a ela não tiveram
acesso na idade própria;
II – Progressiva universalização do ensino médio gratuito;
III – Atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência,
preferencialmente na rede regular de ensino;
IV – Educação infantil, em creche e pré-escola, às crianças até 5 anos de idade;
V – Acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação
artística, segundo a capacidade de cada um;
VI – Oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do educando;
VII – Atendimento ao educando, em todas as etapas da educação básica, por
meio de programas suplementares de material didático escolar, transporte,
alimentação e assistência à saúde.

Vale a pena destacar que “o acesso ao ensino obrigatório e gratuito é


direito público subjetivo” (§ 1°, inciso VII, art. 208 da CF), ou seja, é um direito
intrínseco ao sujeito, que pode reivindicá-lo caso não esteja sendo cumprido
pelo Estado.
A Constituição ainda garante autonomia didática, científica,
administrativa e de gestão financeira e patrimonial às universidades (Art.
207); permite a liberdade de ensino à iniciativa privada – desde que ela
cumpra as normas gerais da educação nacional e seja autorizada e avaliada

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como qualificada pelo Poder Público (Art. 209); e determina que o ensino
fundamental deverá ter conteúdos mínimos fixados, a fim de assegurar
uma formação básica comum e o respeito de valores culturais e artísticos de
acordo com cada região (Art. 210).
Além da Constituição, o ensino no Brasil também é regulamentado
por outras leis, que vão abordar questões mais específicas e com maior
profundidade do que a Carta Magna. Entre as mais fundamentais, estão a Lei
de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) e o Plano Nacional de Educação
(PNE), cujas diretrizes e objetivos deste último, por sua vez, estão dispostas no
Art. 214 da Constituição.

LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO NACIONAL (LDB)

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) é a principal


legislação educacional brasileira, considerada a Carta Magna da Educação.
Ela organiza e regulamenta a estrutura e o funcionamento do sistema
educacional – público e privado – em todo o país com base nos princípios e
direitos presentes na Constituição Federal. Sua legislação é de competência
exclusiva da União (Art. 22 da Constituição Federal), ou seja, Estados, Distrito
Federal e Municípios não têm direito a legislar sobre o assunto.
A primeira LDB foi criada em 1961, tendo sido reformulada em 1971
e 1996. Apesar da versão de 1996 ainda estar em vigor (lei n° 9.394/1996), esta
já sofreu diversas alterações ao longo dos anos, sendo que sua última
modificação data de 2017.
Assim como a Constituição, a LDB também define os princípios, fins,
direitos e deveres referentes à educação nacional. Porém, além disso, ela
estabelece e aprofunda outros pontos relacionados ao sistema educacional,
como:
• Organização da Educação Nacional: determina quais são as
responsabilidades e obrigações de cada esfera administrativa (União, Estado,
Distrito Federal e Município), das instituições de ensino e dos professores e a
composição dos diferentes sistemas de ensino (federal, estadual – inclui o
Distrito Federal – e municipal);

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• Níveis e modalidades de educação e ensino: delibera sobre as finalidades
e o modo de organização dos níveis e modalidades da educação. Os níveis
são divididos em educação básica (composta por educação infantil, ensino
fundamental e ensino médio – que pode ser profissionalizante ou não) e
ensino superior. Já as modalidades incluem educação de jovens e adultos –
conhecido popularmente como supletivo –, educação especial, educação
profissional e tecnológica, educação a distância e educação indígena;
• Profissionais da educação: indica os títulos e experiências necessárias aos
profissionais da educação e estabelece as obrigações dos órgãos
administrativos em vista da valorização deles.

Leia também: como um facilitador pode ajudar na educação política?

Entre os avanços e novidades da atual LDB estão a implementação


do conceito de educação básica, nível de ensino que corresponde aos primeiros
anos de educação escolar, e a introdução, em 2013, da educação infantil como
primeira etapa desse nível, que também inclui o ensino fundamental e o ensino
médio. Como a educação básica é obrigatória, a educação infantil também
passou a ser e, portanto, os pais ficaram obrigados a matricular seus filhos na
escola a partir dos 4 anos. A LDB também determinou que os currículos da
educação infantil, fundamental e média tenham uma base nacional comum,
porém, respeitando as diversidades de cada região, dividiu melhor as
competências entre as esferas governamentais, pôs fim à obrigatoriedade do
vestibular como única forma de ingresso à universidade, trouxe as creches para
o sistema educacional, estimulou novas modalidades como a educação a
distância e determinou a elaboração de um novo Plano Nacional de Educação.

PLANO NACIONAL DE EDUCAÇÃO (PNE)

Como foi visto acima, o PNE é mencionado no artigo 214 da


Constituição, que estabelece a elaboração de um plano nacional de educação
para articular o sistema nacional de educação e estabelecer diretrizes,
estratégias e metas para a educação durante dez anos. Contudo, vale ressaltar

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que, antes mesmo de estar na Constituição de 88, o primeiro PNE foi organizado
em 1962, seguindo diretrizes da LDB de 61.
A LDB atual determina que o PNE deve ser organizado pela União em
colaboração com Estados, Distrito Federal e Municípios e estipulou prazo de um
ano – a partir da data de publicação da lei, 20/12/1996 – para elaboração e
apresentação do plano ao Congresso Nacional. Sendo assim, o segundo PNE
foi aprovado em janeiro de 2001. Com o fim de sua vigência em 2010, um novo
plano foi desenvolvido e colocado em tramitação no Congresso. Foi aprovado
em 2014, após quase quatro anos de tramitação (lei n° 13.005, de 25 de junho
de 2014).

Mas afinal, para que serve o PNE?

O Plano Nacional de Educação desenvolve um diagnóstico da


situação educacional no país e, a partir dele, determina princípios, diretrizes,
estratégias de ação e metas a fim de guiar as políticas públicas educacionais e
combater os problemas do sistema de educação brasileiro em todos as esferas
de governo. Em outras palavras, o PNE aponta para onde queremos que a
educação no Brasil chegue e qual é o caminho que ela deverá percorrer para
chegar até lá.
Ao todo, o plano apresenta 254 estratégias e 20 metas a serem
cumpridas ao longo de dez anos, que buscam garantir o direito à educação
básica de qualidade, a universalização do ensino obrigatório, a redução das
desigualdades, a valorização da diversidade, a valorização dos profissionais da
educação e o aumento das oportunidades educacionais. São diretrizes que
mobilizam todas as esferas administrativas e, por isso, Estados e Municípios
também foram obrigados a elaborar seu próprio plano estadual ou municipal de
educação, seguindo os princípios do plano nacional, mas adaptados a sua
realidade.
O plano é, portanto, uma ferramenta para planejar e articular as
ações de todas as esferas do governo em função de objetivos em comum,
a fim de otimizar suas ações e evitar problemas causados pelas lacunas entre
União, Estados e Municípios, como descontinuidade de programas e de políticas
públicas e insuficiência de recursos.

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As 20 metas do PNE

1. Universalizar, até 2016, a educação infantil na pré-escola para as crianças de


4 a 5 anos de idade e ampliar a oferta de educação infantil em creches de
forma a atender, no mínimo, 50% das crianças de até 3 anos até o final da
vigência deste PNE.
2. Universalizar o ensino fundamental de 9 anos para toda a população de 6 a
14 anos e garantir que pelo menos 95% dos alunos concluam essa etapa na
idade recomendada, até o último ano de vigência deste PNE.
3. Universalizar, até 2016, o atendimento escolar para toda a população de 15 a
17 anos e elevar, até o final do período de vigência deste PNE, a taxa líquida
de matrículas no ensino médio para 85%.
4. Universalizar, para a população de 4 a 17 anos com deficiência, transtornos
globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação, o acesso à
educação básica e ao atendimento educacional especializado,
preferencialmente na rede regular de ensino, com a garantia de sistema
educacional inclusivo, de salas de recursos multifuncionais, classes, escolas
ou serviços especializados, públicos ou conveniados.
5. Alfabetizar todas as crianças, no máximo, até o final do 3o ano do ensino
fundamental.
6. Oferecer educação em tempo integral em, no mínimo, 50% das escolas
públicas, de forma a atender, pelo menos, 25% dos (as) alunos (as) da
educação básica.
7. Fomentar a qualidade da educação básica em todas as etapas e modalidades,
com melhoria do fluxo escolar e da aprendizagem de modo a atingir as
seguintes médias nacionais para o Ideb:

Metas de médias nacionais para o IDEB, entre 2015 e 2021. Elaboração da autora.

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8. Elevar a escolaridade média da população de 18 a 29 anos, de modo a
alcançar, no mínimo, 12 anos de estudo no último ano de vigência deste
Plano, para as populações do campo, da região de menor escolaridade no
País e dos 25% mais pobres, e igualar a escolaridade média entre negros e
não negros declarados à Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística – IBGE.
9. Elevar a taxa de alfabetização da população com 15 anos ou mais para 93,5%
até 2015 e, até o final da vigência deste PNE, erradicar o analfabetismo
absoluto e reduzir em 50% a taxa de analfabetismo funcional.
10. Oferecer, no mínimo, 25% das matrículas de educação de jovens e adultos,
nos ensinos fundamental e médio, na forma integrada à educação
profissional.
11. Triplicar as matrículas da educação profissional técnica de nível médio,
assegurando a qualidade da oferta e pelo menos 50% da expansão no
segmento público.
12. Elevar a taxa bruta de matrícula na educação superior para 50% e a taxa
líquida para 33% da população de 18 a 24 anos, assegurada a qualidade da
oferta e expansão para, pelo menos, 40% das novas matrículas, no segmento
público.
13. Elevar a qualidade da educação superior e ampliar a proporção de mestres
e doutores do corpo docente em efetivo exercício no conjunto do sistema de
educação superior para 75%, sendo, do total, no mínimo, 35% doutores.
14. Elevar gradualmente o número de matrículas na pós-graduação stricto
sensu, de modo a atingir a titulação anual de 60.000 mestres e 25.000
doutores.
15. Garantir, em regime de colaboração entre a União, os Estados, o Distrito
Federal e os Municípios, no prazo de 1 ano de vigência deste PNE, política
nacional de formação dos profissionais da educação de que tratam os incisos
I, II e III do caput do art. 61 da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996,
assegurado que todos os professores e as professoras da educação básica
possuam formação específica de nível superior, obtida em curso de
licenciatura na área de conhecimento em que atuam.
16. Formar, em nível de pós-graduação, 50% dos professores da educação
básica, até o último ano de vigência deste PNE, e garantir a todos (as) os (as)

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profissionais da educação básica formação continuada em sua área de
atuação, considerando as necessidades, demandas e contextualizações dos
sistemas de ensino.
17. Valorizar os (as) profissionais do magistério das redes públicas de educação
básica de forma a equiparar seu rendimento médio ao dos (as) demais
profissionais com escolaridade equivalente, até o final do sexto ano de
vigência deste PNE.
18. Assegurar, no prazo de 2 anos, a existência de planos de Carreira para os
(as) profissionais da educação básica e superior pública de todos os sistemas
de ensino e, para o plano de Carreira dos (as) profissionais da educação
básica pública, tomar como referência o piso salarial nacional profissional,
definido em lei federal, nos termos do inciso VIII do art. 206 da Constituição
Federal.
19. Assegurar condições, no prazo de 2 anos, para a efetivação da gestão
democrática da educação, associada a critérios técnicos de mérito e
desempenho e à consulta pública à comunidade escolar, no âmbito das
escolas públicas, prevendo recursos e apoio técnico da União para tanto.
20. Ampliar o investimento público em educação pública de forma a atingir, no
mínimo, o patamar de 7% do Produto Interno Bruto – PIB do País no 5o ano
de vigência desta Lei e, no mínimo, o equivalente a 10% do PIB ao final do
decênio.

PNE e participação social

Organizações e movimentos sociais, como a Campanha Nacional


pelo Direito à Educação, tiveram participação ativa na elaboração do PNE 2014-
2024. Contudo, para seu efetivo cumprimento, é muito importante que a
sociedade civil continue acompanhando e monitorando o desenvolvimento do
plano mesmo após sua aprovação. Para isso, foi criada a plataforma
online Observatório do PNE, que monitora e analisa os indicadores referentes
às metas e estratégias e apresenta informações sobre programas e políticas
públicas educacionais existentes. De acordo com o próprio site do Observatório,
“a ideia é que a ferramenta possa apoiar gestores públicos, educadores e
pesquisadores, mas especialmente ser um instrumento à disposição da

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sociedade para que qualquer cidadão brasileiro possa acompanhar o
cumprimento das metas estabelecidas”.

LDB e PNE: diferenças

Ficou confuso sobre a Lei de Diretrizes e Bases e o Plano Nacional


de Educação? Então confira as diferenças fundamentais entre os dois na tabela
a seguir:

E A BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR (BNCC)?

Com as recentes alterações na LDB, entrou em debate a formulação


de um currículo com base nacional comum, para determinar as condutas que
trariam uniformidade à educação. Após quatro anos de elaboração, foi finalizada
a BNCC para as duas primeiras etapas do ensino básico: a educação infantil e
o ensino fundamental. Agora, essas duas fases de projeto serão apreciadas pelo
Conselho Nacional de Educação, enquanto a terceira continua a ser discutida e
tem direta relação com a Reforma do Ensino Médio.

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Entenda o que é a BNCC e qual sua importância para a educação brasileira!
E então, conseguiu entender melhor a organização da educação
nacional?

REFERÊNCIAS:

Plano Nacional de Educação – Portal MEC: “LDB completa 20 anos e continua


atual” – Estudos Legislativos (Senado Federal): 10 anos da LDB – MEC: as 20
metas do PNE

Quem escreveu este conteúdo?


https://www.politize.com.br/organizacao-da-educacao-no-brasil/

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