Estatuto Do Maior Acompanhado 2

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Estatuto do Maior Acompanhado

Novo Paradigma no Exercício da Capacidade Jurídica


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CONTEÚDOS

1 CAPACIDADE JURÍDICA

2 FORMAS LEGÍTIMAS DE ACTUAÇÃO

3 GESTÃO DE NEGÓCIOS

4 PROCURAÇÃO

5 MANDATO COM VISTA AO ACOMPANHAMENTO

6 PROCURAÇÃO PARA CUIDADOS DE SAÚDE

7 REGIME DO MAIOR ACOMPANHADO

8 CONCLUSÕES
CAPACIDADE JURÍDICA
ENQUADRAMENTO
Direitos Fundamentais / Humanos
Vida, Integridade física, Livre e Pleno
Desenvolvimento da Personalidade, Respeito
pela Vida Privada e Familiar

Os Direitos Fundamentais, são inerentes à Desafio – Respeitar os Direitos e


qualidade de ser humano e não se perdem Promover a Autonomia das
com a idade Pessoas com capacidade
diminuída
A capacidade de exercer direitos pessoal e
livremente é que se pode perder ou ficar
comprometida por alguma vicissitude
CONSENTIMENTO

Em princípio, ninguém pode tomar decisões em nosso nome sem o nosso consentimento:

nem o cônjuge, nem os filhos, nem a família, nem a instituição que nos acolhe.

É preciso o nosso consentimento!


CONSENTIMENTO
A pessoa presume-se capaz enquanto não for declarada a sua incapacidade, logo, em princípio,
ninguém pode, em seu nome, sem o seu consentimento:

Autorizar ou
recusar
Proceder à
Movimentar Celebrar ou intervenções
venda ou
contas denunciar de saúde ou
oneração de
bancárias contratos acolhimento
bens
em resposta
social

A incapacidade para a prática de certos atos ou categoria de atos tem que ser declarada judicialmente
através de sentença que se deve basear numa avaliação clínica.
QUANDO COMEÇAMOS A PERDER CAPACIDADES

TEMOS DIREITO A:

Ser acompanhados nas nossas decisões, por alguém da nossa confiança e deve ser-nos dada toda a ajuda
possível para que sejamos nós próprios a decidir

Que alguém nos represente quando já não conseguirmos tomar decisões autónomas

Tudo o que seja feito em nossa representação, o seja de acordo com o nosso interesse e com a nossa vontade

Qualquer ato praticado, ou decisão tomada, em nossa representação, seja o menos restritiva possível dos
nossos direitos e liberdades
CAPACIDADE DE EXERCÍCIO

Quando deixamos de conseguir exprimir, de forma livre e esclarecida, a nossa vontade, é a nossa
capacidade de exercício que fica comprometida.

Mantemos os nossos Direitos mas precisamos de


ajuda para os exercermos.
FORMAS LEGÍTIMAS
DE ACTUAÇÃO
GESTÃO DE NEGÓCIOS
NOÇÃO

Artigo 464.º do Código Civil


(Noção)
Dá-se a gestão de negócios, quando uma
pessoa assume a direção de negócio alheio
no interesse e por conta do respetivo dono,
sem para tal estar autorizada.
DEVERES DO GESTOR DE NEGÓCIOS

Garantir a qualidade de vida da


Intervir apenas com caráter
pessoa com capacidade
transitório
diminuída

Evitar tomar decisões que


Procurar conhecer e respeitar a
afetem irreversivelmente a sua
sua vontade real ou presumida
vida ou o seu património
DEVERES DO GESTOR DE NEGÓCIOS

Garantir a transparência da gestão,


Criar e manter atualizado registo da gestão para
aconselhando-se com outras pessoas que
estar em condições de:
constituam a rede informal de apoio da
pessoa com capacidade diminuída, sobre as
a) Prestar contas
decisões tomadas ou a tomar que afetem
b) Entregar a gestão a outra pessoa
com mais relevância a sua vida
PROCURAÇÃO
NOÇÃO
Através de procuração, o seu autor confere poderes a pessoa ou pessoas da sua confiança,
familiares ou não, para o representar na prática dos mais diversos actos, nomeadamente:

Movimentar contas Vender, trocar, hipotecar Tomar decisões quanto a Aceder a dados pessoais,
bancárias, celebrar ou ou arrendar determinado cuidados pessoais e de informações e requerer
denunciar contratos , bem ou bens saúde relatórios clínicos
levantar registos ou
encomendas nos correios
MANDATO COM VISTA AO
ACOMPANHAMENTO
MANDATO COM VISTA A ACOMPANHAMENTO

• Prevendo uma eventual situação de acompanhamento (figura que vem substituir a interdição e
a inabilitação), alguém, no uso da sua capacidade de tomar decisões livres e esclarecidas, pode
celebrar com pessoa ou pessoas da sua confiança contrato de mandato para a gestão dos mais
diversos assuntos

• O conteúdo do mandato pode ser muito diverso incluindo tópicos como os que acima se
referiram para a procuração

• No contrato de mandato o mandante pode escolher por quem quer ser acompanhado quando
e se carecer de medidas de acompanhamento
MANDATO COM VISTA A ACOMPANHAMENTO

• No momento em que for decretado o acompanhamento o Tribunal aproveita o conteúdo do


mandato e tem-no em conta na definição das medidas a tomar bem como na designação do
acompanhante

• O mandato com vista ao acompanhamento é introduzido pelo Regime do Maior Acompanhado


ESCOLHA DO ACOMPANHANTE

O Regime do Maior Acompanhado permite


que a pessoa escolha, antecipadamente ou no âmbito do processo,
por quem quer ser acompanhado
(auxiliado ou representado na tomada de decisões)
ESCOLHA DO ACOMPANHANTE - MINUTA

NOME E IDENTIFICAÇÃO, considerando que a sua filha NOME E IDENTIFICAÇÃO:


a) Se preocupa com a saúde e bem-estar da sua mãe; b) Tem sido sempre uma filha presente e
afectuosa; c) Respeita a sua dignidade e a sua vontade; d) Se mostra capaz de promover a sua
autonomia e de promover os seus direitos e interesses; e) Se mostra capaz de gerir todos os
assuntos do dia-a-dia, bem como de gerir o património de sua mãe tendo em vista a
manutenção da sua qualidade de vida e do seu bem-estar
Declara que, se e quando vier a carecer de medidas de acompanhamento previstas nos
Artigos 138º e seguintes do Código Civil (Regime do Maior Acompanhado) ser sua vontade
que seja esta sua filha a desempenhar as funções de Acompanhante;
Confere autorização à sua filha para intentar o competente processo especial de
acompanhamento de maior para aí serem decretadas as necessárias medidas ao exercício dos
seus direitos e cumprimento dos seus deveres.
Local de data; Assinatura (reconhecida por Notário ou Advogado)
PROCURAÇÃO PARA CUIDADOS
DE SAÚDE
NOÇÃO

PROCURAÇÃO PARA CUIDADOS DE SAÚDE é uma


manifestação de vontade, unilateral, reduzida a escrito,
pela qual se atribui a uma pessoa, voluntariamente e de
forma gratuita, poderes representativos em matéria de
cuidados de saúde, para que aquela os exerça no caso de o
outorgante se encontrar incapaz de expressar de forma
pessoal e autónoma a sua vontade.
MUDANÇA DE PARADIGMA
ANTES – REGIME DAS INTERDIÇÕES

O regime jurídico das interdições e inabilitações apresentava-se desajustado aos dias de hoje
caracterizados por:

Aumento das
Diferentes
Envelhecimento doenças
estruturas
da população crónicas e
familiares
incapacitantes

Era um regime pouco ou nada promotor da autonomia das pessoas com capacidade diminuída, sem qualquer
papel ativo antecipadamente ou durante o processo.
ANTES – REGIME DAS INTERDIÇÕES

• Via a incapacidade como um fenómeno de tudo ou nada, ignorando que, quase sempre, a perda de
capacidade é um processo muitas vezes lento, com flutuações, não se perdendo de um momento para
o outro, mantendo-se por mais tempo, capacidades para certos atos ou categorias de atos

• Os familiares viam os processos de interdição ou de inabilitação como muito estigmatizantes e


evitavam ou adiavam a iniciativa de interditar ou inabilitar pessoa com capacidade diminuída

• Também as instituições se abstinham de aconselhar os familiares a intentar estes processos e, muito


raramente sinalizavam situações junto do Ministério Público
ANTES – REGIME DAS INTERDIÇÕES

Ignorava-se a vontade antecipadamente expressa

Processos muito morosos

Dificuldades na nomeação de tutor e conselho de família


REGIME DO MAIOR ACOMPANHADO

ENQUADRAMENTO – CONVENÇÃO DOS DIREITOS DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA

• Adoptada na Assembleia Geral das Nações Unidas em Nova Iorque, no dia 13 de Dezembro de 2006

• Prevê normas mínimas sobre a proteção e garantia de direitos civis, políticos, sociais e económicos das
pessoas portadoras de deficiência

• Assinada pelos 27 Estados-Membros da UE e ratificada por 16, entre os quais Portugal (Resoluções nº 56 e nº
57 de 2009 da AR e Decretos do PR nº71 e 72 de 2009) – Faz parte do Direito Português
REGIME DO MAIOR ACOMPANHADO
ENQUADRAMENTO - CONVENÇÃO DOS DIREITOS DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA

OBJETIVO QUEM SÃO

O seu objetivo é promover, proteger e Pessoas com deficiência são aquelas que têm
garantir o pleno e igual gozo de todos os incapacidades duradouras físicas, mentais,
direitos humanos e liberdades fundamentais intelectuais ou sensoriais, que em interação
por todas as pessoas com capacidade com várias barreiras, podem impedir a sua
diminuída e promover o respeito pela sua plena e efetiva participação na sociedade.
dignidade
REGIME DO MAIOR ACOMPANHADO
ENQUADRAMENTO - CONVENÇÃO DOS DIREITOS DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA

CAPACIDADE JURÍDICA:
ARTIGO 12º, Nº 4
“Os Estados Partes asseguram que todas as medidas que se relacionem com o exercício da capacidade jurídica
fornecem as garantias apropriadas e efetivas para prevenir o abuso de acordo com o direito internacional dos
direitos humanos. Tais garantias asseguram que as medidas relacionadas com o exercício da capacidade jurídica
em relação aos direitos, vontade e preferências da pessoa estão isentas de conflitos de interesse e influências
indevidas, são proporcionais e adaptadas às circunstâncias da pessoa, aplicam-se no período de tempo mais
curto possível e estão sujeitas a um controlo periódico por uma autoridade ou órgão judicial competente,
independente e imparcial. As garantias são proporcionais ao grau em que tais medidas afectem os direitos e
interesses da pessoa.”
REGIME DO MAIOR ACOMPANHADO
ENQUADRAMENTO - CONVENÇÃO DOS DIREITOS DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA

As medidas devem assegurar as seguintes garantias:

• Ausência de conflitos de interesse e influências indevidas;


• Proporcionalidade e ajustamento às circunstâncias de cada pessoa;
• Aplicação durante o período de tempo mais curto possível;
• Sujeição a um controlo periódico por uma autoridade ou órgão judicial competente,
independente e imparcial;
• Proporcionalidade quanto ao grau em que as medidas afectam os direitos e interesses da
pessoa.
REGIME DO MAIOR ACOMPANHADO

QUEM PODE BENIFICIAR DE MEDIDAS DE ACOMPANHAMENTO?

Artigo 138º do Código Civil

O maior impossibilitado, por razões de saúde, deficiência ou pelo seu


comportamento, de exercer plena, pessoal conscientemente os seus
direitos ou de, nos mesmos termos, cumprir os seus deveres, beneficia
de medidas de acompanhamento previstas neste Código.
REGIME DO MAIOR ACOMPANHADO
OBJECTIVO DAS MEDIDAS DE ACOMPANHAMENTO

Assegurar o bem-estar, a recuperação, o pleno exercício dos Direitos e o


cumprimento dos Deveres.

A regra é a da Autonomia – só limitada nos termos da Lei ou da Sentença.

Subsidiariedade – Se o objetivo da medida puder ser alcançado pelos deveres de


assistência ou cooperação a medida não terá lugar.

Art. 140º do Código Civil.


REGIME DO MAIOR ACOMPANHADO
AS MEDIDAS DE ACOMPANHAMENTO DEVEM SER:

Podem ser
modificadas ou
cessar a qualquer
Flexíveis,
Limitar ao mínimo a momento, a pedido Devem ser revistas ,
proporcionais e
capacidade de do acompanhante no mínimo, de 5 em
adequadas ao caso
exercício ou de qualquer das 5 anos
concreto
pessoas que podem
requerer o
acompanhamento

Perante a situação concreta, de que medidas de acompanhamento é que a pessoa carece?


REGIME DO MAIOR ACOMPANHADO
QUE MEDIDAS DE ACOMPANHAMENTO?
a) Exercício das responsabilidades parentais ou dos meios de as suprir, conforme as circunstâncias

b) Representação geral ou representação especial com indicação expressa, neste caso, das categorias de atos
para que seja necessária

c) Administração total ou parcial de bens

d) Autorização prévia para a prática de determinados atos ou categorias de atos

e) Intervenções de outro tipo, devidamente explicitadas

Pode ser aplicado um ou mais destes regimes, em função do caso concreto.


Artigo 145º, nº 2 do Código Civil
REGIME DO MAIOR ACOMPANHADO
MEDIDAS DE ACOMPANHAMENTO - EXEMPLO DE MEDIDAS QUANTO AO PATRIMÓNIO:

O beneficiário:

Carece de acompanhamento, sob a forma de representação, para todo e qualquer acto de disposição,
oneração ou administração do seu património imobiliário.

Carece de acompanhamento, sob a forma de representação, para a administração das suas contas
bancárias e outros bens mobiliários, à excepção da conta à ordem nº…….para a qual é transferida a sua
pensão de reforma, preservando autonomia para, através da mesma, fazer a gestão da sua vida
corrente.
REGIME DO MAIOR ACOMPANHADO
MEDIDAS DE ACOMPANHAMENTO - EXEMPLO DE MEDIDAS QUANTO AO PATRIMÓNIO:

Atribuo ao acompanhante poderes de representação especial para, em substituição da


beneficiária, realizar os actos necessários à gestão imediata dos seus bens,
nomeadamente proceder à abertura de contas bancárias e receber a pensão de
invalidez, por forma a poder custear as suas despesas e unicamente para este fim.
REGIME DO MAIOR ACOMPANHADO
MEDIDAS DE ACOMPANHAMENTO - EXEMPLO DE MEDIDAS QUANTO A DECISÕES DE SAÚDE:

Atribuo ao acompanhante poderes de representação especial para diligenciar pela


saúde da beneficiária, marcando e acompanhando-a às consultas e providenciando pela
adesão à terapêutica.

Atribuo ao acompanhante a responsabilidade de aceitar ou recusar os tratamentos


propostos.
REGIME DO MAIOR ACOMPANHADO
MEDIDAS DE ACOMPANHAMENTO - EXEMPLO DE MEDIDAS QUANTO A DECISÕES DE SAÚDE:

Atribuo ao acompanhante os poderes de decisão que cabem ao procurador para


cuidados de saúde, ou seja, não se encontrando o beneficiário em condições de
expressar a sua vontade autonomamente em consequência do seu estado de saúde
física e/ou mental e houver que, perante determinada situação clínica, decidir que
cuidados de saúde devem ou não ser recebidos, nos termos definidos na Lei nº 25/2012
que regula as Directivas Antecipadas de Vontade.
REGIME DO MAIOR ACOMPANHADO
ATÉ ONDE VÃO OS PODERES DO ACOMPANHANTE?
• Os atos de disposição de bens imóveis carecem sempre de autorização judicial prévia e específica por parte
do Tribunal

• A representação geral segue o regime da tutela, podendo dispensar-se o Conselho de Família (Artigo 1927º e
seguintes do C. Civil)

• À Administração total ou parcial de bens aplica-se o regime da administração total ou parcial de bens (Artigo
1967º e seguintes do C. Civil)

• Atos para os quais o representante geral ou ao administrador careçam de autorização: Contrair


empréstimos, repudiar herança ou legado, aceitar herança, legado ou doação com encargos, convencionar
partilha extrajudicial, locar bens por período superior a 6 anos
REGIME DO MAIOR ACOMPANHADO

CONSELHO DE FAMÍLIA

Artigo 145º, nº 4 do Código Civil


A representação legal segue o regime da tutela, com as adaptações necessárias,
podendo o tribunal dispensar a constituição do conselho de família.
REGIME DO MAIOR ACOMPANHADO
CONSELHO DE FAMÍLIA

Sendo conferidos ao acompanhante poderes de representação com a amplitude da tutela (ainda aplicável
aos menores), o Tribunal pode entender dispensar a constituição do Conselho de Família ou entender que,
face à dimensão ou caraterísticas das medidas a tomar, à existência de património mais ou menos
considerável ou por outras razões, é de o constituir.
REGIME DO MAIOR ACOMPANHADO

CONSELHO DE FAMÍLIA

O Conselho de Família é composto pelo Ministério Público, por um protutor e


por um vogal (Art. 1951º do C.C.);

Ao protutor cabe a fiscalização da acção do tutor, a ser exercida com carácter


permanente, segundo o Art. 1955º, nº1 do C.C.
REGIME DO MAIOR ACOMPANHADO
CONSELHO DE FAMÍLIA

Artigo 1956.º
(Outras funções do protutor)

Além de fiscalizar a acção do tutor, compete ao protutor:

a) Cooperar com o tutor no exercício das funções tutelares, podendo encarregar-se da administração de
certos bens do menor nas condições estabelecidas pelo conselho de família e com o acordo do tutor;

b) Substituir o tutor nas suas faltas e impedimentos, passando, nesse caso, a servir de protutor o outro
vogal do conselho de família;

c) Representar o menor em juízo ou fora dele, quando os seus interesses estejam em oposição com os do
tutor e o tribunal não haja nomeado curador especial.
REGIME DO MAIOR ACOMPANHADO
CONSELHO DE FAMÍLIA

Ao Conselho de Família cabe, essencialmente, vigiar o exercício das funções do acompanhante, devendo
ser ouvido quanto a decisões de fundo como a disposição de bens do património do beneficiário ou a
decisão de institucionalização ou sobre determinada intervenção de saúde.

Podem existir reuniões do Conselho de Família.


REGIME DO MAIOR ACOMPANHADO
INTERNAMENTO

[1] [2]

O internamento do maior acompanhado Em caso de urgência, o internamento


depende de autorização expressa do pode ser imediatamente solicitado pelo
tribunal acompanhante, sujeitando-se à
ratificação do juiz

Artigo 148º do C. Civil


REGIME DO MAIOR ACOMPANHADO
QUE INTERNAMENTO?
“Quanto ao internamento do maior acompanhado, prevê a lei que o mesmo depende de “autorização
expressa do Tribunal”, podendo embora, em caso de urgência, ser imediatamente solicitado pelo
acompanhante, sujeitando-se, neste caso, à ratificação do juiz (art.º 148.º). Embora a letra da lei não o
diga, parece-nos que deve entender-se que a norma abrange tanto o internamento por razões de saúde,
num hospital ou clínica particular, como o internamento num lar.”

http://www.cej.mj.pt/cej/recursos/ebooks/civil/eb_Regime_Maior_Acompanhado.pdf (pag. 36 – Prof.


António Pinto Monteiro)
REGIME DO MAIOR ACOMPANHADO
DIREITOS PESSOAIS E NEGÓCIOS DA VIDA CORRENTE:

[2]

[1] São pessoais, entre outros, os direitos de


casar ou de constituir situações de união, de
O exercício pelo acompanhado de direitos procriar, de perfilhar ou de adotar, de cuidar
pessoais e a celebração de negócios da vida e de educar os filhos ou os adotados, de
corrente são livres, salvo disposição da lei ou escolher profissão, de se deslocar no país ou
decisão judicial em contrário no estrangeiro, de fixar domicílio e
residência, de estabelecer relações com
quem entender e de testar

Artigo 147º do C. Civil


REGIME DO MAIOR ACOMPANHADO

NEGÓCIOS DA VIDA CORRENTE


Os negócios da vida corrente são os negócios que a generalidade das pessoas celebra quer para satisfação das
necessidades do dia-a-dia quer para satisfação de necessidades que, ultrapassando o quotidiano, fazem ainda
parte do ordinário da vida.
Assim, por exemplo, é livre a compra pelo acompanhado de um livro para oferecer a um amigo no seu aniversário,
a aquisição de um bilhete para um concerto mas já não a compra de um automóvel
REGIME DO MAIOR ACOMPANHADO

QUEM DECIDE AS MEDIDAS DE COMO DESENCADEAR O PROCESSO?


ACOMPANHAMENTO?
a) Sinalizar a necessidade de medidas de
acompanhamento junto do Ministério Público –
As medidas de acompanhamento são qualquer pessoa o pode fazer
decididas pelo Tribunal sempre mediante
audição do beneficiário. b) Constituir Advogado e intentar a acção (só têm
legitimidade as pessoas indicadas no Art. 141º do
Código Civil)
Art. 139º, nº 1 do Código Civil
REGIME DO MAIOR ACOMPANHADO
QUEM PODE REQUERER AS MEDIDAS DE ACOMPANHAMENTO?

REGRA O próprio beneficiário das medidas

O cônjuge
MEDIANTE AUTORIZAÇÃO O unido de facto
DO BENEFICIÁRIO
Qualquer parente sucessível

SEM AUTORIZAÇÃO O Ministério Público

Art. 141º, nº 1 do Código Civil


REGIME DO MAIOR ACOMPANHADO

SUPRIMENTO DA AUTORIZAÇÃO:

O tribunal pode suprir a autorização do beneficiário


quando, em face das circunstâncias, este não a possa
livre e conscientemente dar, ou quando para tal
considere existir um fundamento atendível.

Para tal, o requerente (cônjuge, unido de facto ou


parente sucessível) podem pedir esse suprimento no
próprio requerimento inicial.

Art. 141º, nº 2 do Código Civil


REGIME DO MAIOR ACOMPANHADO

QUEM PODE SER ACOMPANHANTE?


Qualquer pessoa maior e no pleno exercício dos seus direitos.

CRITÉRIOS DE ESCOLHA:
1. Escolha do acompanhado (antecipadamente ou
no próprio processo)
2. Pessoa que melhor salvaguarde o interesse
imperioso do beneficiário

Artigo 143º C. Civil


REGIME DO MAIOR ACOMPANHADO
SÓ DEPOIS O ACOMPANHAMENTO PODE CABER:

a) Ao cônjuge não separado, judicialmente ou de facto


b) Ao unido de facto
c) A qualquer dos pais
d) À pessoa designada pelos pais ou pela pessoa que exerça as responsabilidades parentais, em
testamento ou em documento autêntico ou autenticado
e) Aos filhos maiores
f) A qualquer dos avós
g) À pessoa indicada pela instituição em que o acompanhado esteja integrado
h) Ao mandatário a quem o acompanhado tenha conferido poderes de representação
i) A outra pessoa idónea

Artigo 143º C. Civil


REGIME DO MAIOR ACOMPANHADO

O ACOMPANHANTE PODE RECUSAR-SE A EXERCER O CARGO?

• O cônjuge, os descendentes ou os ascendentes não podem escusar-se ou ser


exonerados
• Os descendentes podem ser exonerados, a seu pedido, ao fim de cinco anos, se
existirem outros descendentes igualmente idóneos
• Os demais acompanhantes podem pedir escusa com os fundamentos previstos no
artigo 1934.º ou ser substituídos, a seu pedido, ao fim de cinco anos

Artigo 144º do C. Civil


REGIME DO MAIOR ACOMPANHADO
QUEM PODE ESCUSAR-SE DO ACOMPANHAMENTO?
a) O Presidente da República e os membros do Governo
b) Os bispos e sacerdotes que tenham cura de almas, bem como os religiosos que vivam em comunidade;
c) Os militares em serviço ativo
d) Os que residam fora da comarca onde o menor tem a maior parte dos bens, salvo se a tutela compreender
apenas a regência da pessoa do menor, ou os bens deste forem de reduzido valor
e) Os que tiverem mais de três descendentes a seu cargo
f) Os que exerçam outra tutela ou curatela
g) Os que tenham mais de sessenta e cinco anos
h) Os que não sejam parentes ou afins em linha reta do menor, ou seus colaterais até ao quarto grau
i) Os que, em virtude de doença, ocupações profissionais absorventes ou carência de meios económicos, não
possam exercer a tutela sem grave incómodo ou prejuízo
2. O que for escusado da tutela pode ser compelido a aceitá-la, desde que cesse o motivo da escusa.

Artigo 1934º do C. Civil


REGIME DO MAIOR ACOMPANHADO
DISCUSSÃO DE CASO I

M vive numa ERPI e apesar de conseguir manifestar a sua vontade e de tomar decisões,
apresenta alguma dificuldade em encontrar a palavra certa e tem alguns esquecimentos
ainda que não comprometam o seu dia-a-dia. À semelhança do que tem acontecido com
outros utentes, a equipa teme que a Senhora M venha a desenvolver demência.
M tem duas filhas, mas apenas uma a visita com regularidade.

QUE INFORMAÇÃO DEVEMOS FORNECER A M PARA QUE POSSA EXERCER OS SEUS


DIREITOS?
REGIME DO MAIOR ACOMPANHADO

O ACOMPANHANTE:

Exerce o cargo Tem direito a ser Tem o dever de prestar


gratuitamente reembolsado de contas
despesas

Artigo 151º do C. Civil


REGIME DO MAIOR ACOMPANHADO
O Tribunal pode nomear mais do que um acompanhante com diferentes
funções especificando as atribuições de cada um.

E pode nomear um acompanhante substituto.

Vantagens? Desvantagens?
DISCUSSÃO DE CASO II

A é cliente do SAD da instituição.


No âmbito de processo judicial de acompanhamento, o Tribunal nomeou
dois acompanhantes: V para as questões de saúde e S para gerir o
património de A.
Acontece que A precisa de fazer fisioterapia sob pena de perder
mobilidade com todas as consequências inevitáveis.
S entende que esse serviço é demasiado caro e recusa-se a pagá-lo.

Como proceder?
REGIME DO MAIOR ACOMPANHADO
O QUE ACONTECE AOS ATOS DO ACOMPANHADO CONTRÁRIOS ÀS MEDIDAS DE
ACOMPANHAMENTO?
1. Os atos praticados pelo maior acompanhado que não observem as medidas de
acompanhamento decretadas ou a decretar são anuláveis:
a) Quando posteriores ao registo do acompanhamento
b) Quando praticados depois de anunciado o início do processo, mas apenas após a
decisão final e caso se mostrem prejudiciais ao acompanhado
2. O prazo dentro do qual a ação de anulação deve ser proposta só começa a contar-se
a partir do registo da sentença
3. Aos atos anteriores ao anúncio do início do processo aplica-se o regime da
incapacidade acidental
REGIME DO MAIOR ACOMPANHADO
O QUE ACONTECE AOS ANTERIORES PROCESSOS DE INTERDIÇÃO OU INABILITAÇÃO?

Contudo, o juiz pode


Às interdições
autorizar a prática de
decretadas
atos pessoais mediante
A nova Lei aplica-se aos anteriormente aplica-se
requerimento
processos de interdição o regime do maior
devidamente
e de inabilitação acompanhado, sendo
justificado, a apresentar
pendentes atribuídos ao
pelo próprio, pelo
acompanhante poderes
acompanhante ou do
gerais de representação
Ministério Público
DISCUSSÃO DE CASO III

J. em virtude da deficiência intelectual de que padece foi,


em 2017, declarado interdito.
Acontece que João, apesar das suas limitações cognitivas
que o impedem de tomar decisões sobre diversos
aspectos da sua vida, sempre mostrou muito interesse por
política e gostaria de votar nas próximas eleições
presidenciais para que o actual presidente fosse reeleito.

Como ajudar J. a cumprir a sua vontade?


REGIME DO MAIOR ACOMPANHADO

OS PROCESSOS PASSAM A SER MAIS CÉLERES?

O processo passa a ser urgente.

É possível requerer medidas urgentes:

“Em qualquer altura do processo, podem ser determinadas as medidas de


acompanhamento provisórias e urgentes, necessárias para providenciar quanto à pessoa
e bens do requerido.”

Artigo 139º nº 2
REGIME DO MAIOR ACOMPANHADO
Tramitação do processo
Requerimento inicial

Suprimento da autorização do Publicidade a dar à


beneficiário Medidas adequadas decisão final

Legitimidade Elementos que indiciem a Quem deve(m) ser o(s)


deficiência, a situação de saúde ou o acompanhante(s)
comportamento que justificam as
medidas de acompanhamento
REGIME DO MAIOR ACOMPANHADO
Tramitação do processo

Publicidade
O juiz decide, em face do caso, que tipo de publicidade deve ser
dada ao início, ao decurso e à decisão final do processo.
Quando necessário, pode determinar-se a publicação de anúncios
em sítio oficial, a regulamentar por portaria do membro do Governo
responsável pela área da justiça.
REGIME DO MAIOR ACOMPANHADO

Tramitação do processo

Comunicações e ordens
Quando o interesse do beneficiário o justifique, o tribunal pode
dirigir comunicações e ordens a instituições de crédito, a
intermediários financeiros, a conservatórias do registo civil,
predial ou comercial, a administrações de sociedades ou a
quaisquer outras entidades.
REGIME DO MAIOR ACOMPANHADO
Tramitação do processo:

Citação
Audição
(Juiz decide se Poderes Relatório
Contestação pessoal do
a citação é instrutórios Pericial
10 dias beneficiário
pessoal ou por do juiz (facultativo)
(obrigatório)
carta)
REGIME DO MAIOR ACOMPANHADO

SENTENÇA
Decisão
Artigo 900º do Código Processo Civil

1 — Reunidos os elementos necessários, o juiz designa o acompanhante e define as medidas de


acompanhamento, nos termos do artigo 145.º do Código Civil e, quando possível, fixa a data a
partir da qual as medidas decretadas se tornaram convenientes.
2 — O juiz pode ainda proceder à designação de um acompanhante substituto, de vários
acompanhantes e, sendo o caso, do conselho de família.
3 — A sentença que decretar as medidas de acompanhamento deverá referir expressamente a
existência de testamento vital e de procuração para cuidados de saúde e acautelar o respeito pela
vontade antecipadamente expressa pelo acompanhado.
DISCUSSÃO DE CASO IV

Em virtude da sua enorme dificuldade em gerir as suas poupanças, os seus bens e mesmo a
sua pensão (esquecia-se de pagar as contas e gastava o dinheiro da pensão logo nos
primeiros dias) e também de um grande desleixo na sua higiene, na limpeza da casa e tendo
deixado de se alimentar convenientemente, o que aconteceu logo após ter ficado viúvo, o
Senhor R foi declarado interdito e o seu filho nomeado seu tutor.
O filho, contra a sua vontade, colocou o pai no lar e nunca mais apareceu, limitando-se a
pagar as mensalidades.
No lar, R conheceu T. Entre eles cresceu uma amizade que foi evoluindo para uma relação
mais intima. E querem casar.

Como podemos ajudar R e T a cumprirem a sua vontade?


CONCLUSÕES E DESAFIOS
CONCLUSÕES
Apesar das suas imperfeições e ambiguidades, o novo Regime do Maior Acompanhado,
conjugado com outros diplomas legais (Lei nº 25/2012 ou Lei nº 31/2018,
nomeadamente), tem virtudes que nos cabe potenciar:

[3]
[1]
[2]
Relevância da Limitação do
Vontade exercício de
Relevância da
Antecipadamente direitos ao
Vontade Atual
Expressa estritamente
necessário
CONCLUSÕES

O novo Regime do Maior Acompanhado continua sem dar resposta às pessoas


com capacidade diminuída que não têm familiares ou amigos que possam assumir
o acompanhamento.

É de evitar que o acompanhamento seja assegurado por pessoas da instituição


que as acolhem por poderem acontecer situações de conflito de interesses.
CONCLUSÕES

À semelhança do que existe noutros


ordenamentos jurídicos, ainda que com todas as
cautelas, impõe-se a criação e regulamentação:

a) Do acompanhamento por pessoas coletiva


b) Do acompanhamento assegurado por
profissional especificamente preparado para o
efeito
DESAFIOS

Assegurar o respeito e efetivação dos direitos dos nossos utentes.

Como?

[3]
[1] [2]
Recolher e registar
Dar a conhecer os Recolher e registar
informação que
Direitos e as informação sobre
elucide sobre a
ferramentas para os vontade, desejos e
capacidade de
efetivar preferências
escolher e decidir
MARIA DO ROSÁRIO ZINCKE DOS REIS
ADVOGADA

rosariozincke@gmail.com
T. 936774262

OBRIGADA.
www.fundacaovva.org | www.eapn.pt

Com o apoio

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