Etapa 4 Volume 1031220
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Sumário
Apresentação do Instituto .............................................................................................................. 11
Quem somos ...................................................................................................................... 11
Nosso objetivo ................................................................................................................... 11
Por que fazer o ensino cristão? .......................................................................................... 12
Estudo Sagrado ............................................................................................................................ 19
Introdução...................................................................................................................................... 21
Advertências aos pais e educadores católicos ................................................................... 23
Aos queridos alunos .......................................................................................................... 25
Organização da disciplina.................................................................................................. 25
Semana 1 ....................................................................................................................................... 27
Doutrina Sagrada ............................................................................................................... 27
Amizade com Deus............................................................................................................ 30
A vida de Jesus .................................................................................................................. 38
Semana 2 ....................................................................................................................................... 40
Doutrina Sagrada ............................................................................................................... 40
Amizade com Deus............................................................................................................ 42
A vida de Jesus .................................................................................................................. 44
Semana 3 ....................................................................................................................................... 47
Doutrina Sagrada ............................................................................................................... 47
Amizade com Deus............................................................................................................ 50
A vida de Jesus .................................................................................................................. 52
Semana 4 ....................................................................................................................................... 54
Doutrina Sagrada ............................................................................................................... 54
Amizade com Deus............................................................................................................ 55
A vida de Jesus .................................................................................................................. 57
Língua Portuguesa ...................................................................................................................... 59
Dicas para os responsáveis ............................................................................................................ 72
Registro das atividades ...................................................................................................... 72
Como corrigir textos? ........................................................................................................ 72
Atividades avaliativas ................................................................................................................... 77
Recomendações iniciais ................................................................................................................ 81
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Gramática ...................................................................................................................................... 85
Substantivos ...................................................................................................................... 86
Classificação dos Substantivos.......................................................................................... 87
Adjetivos ........................................................................................................................... 89
Classificação dos adjetivos................................................................................................ 91
Verbo ................................................................................................................................. 92
Minigramática ................................................................................................................... 97
Produção de Textos ..................................................................................................................... 101
Narrativa .......................................................................................................................... 101
Elementos da Narrativa ................................................................................................... 101
Narrador............................................................................................................... 102
Personagens ......................................................................................................... 102
Tempo .................................................................................................................. 103
Espaço.................................................................................................................. 103
Enredo.................................................................................................................. 103
Biografia .......................................................................................................................... 107
Autobiografia .................................................................................................................. 107
Aprendendo com os Santos e com a Igreja ................................................................................. 111
1. São Galo ...................................................................................................................... 111
2. Puxão de orelha ........................................................................................................... 113
3. Prefácio do livro Na Luz Perpétua. ............................................................................. 114
4. Hino: Salve o dia que é a glória dos dias - Ofício das Leituras .................................. 115
Sagradas Escrituras ..................................................................................................................... 121
Salmo 30, 1-13 ................................................................................................................ 122
Salmo 30, 14-25 .............................................................................................................. 123
Salmo 31.......................................................................................................................... 124
Salmo 32, 1-11 ................................................................................................................ 125
Leitura Mensal ............................................................................................................................ 129
Santo Agostinho .............................................................................................................. 129
Matemática ................................................................................................................................ 135
Introdução ................................................................................................................................... 137
A importância dos números: qual a função da matemática no plano da Salvação? ........ 137
O mistério dos números ....................................................................................... 137
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Orientações ...................................................................................................................... 138
Capítulo 1 - Números cardinais e ordinais .................................................................................. 141
Capítulo 2 - Adição, subtração e multiplicação .......................................................................... 144
Adição.............................................................................................................................. 144
Subtração ......................................................................................................................... 144
Multiplicação ................................................................................................................... 145
Capítulo 3 - Divisão .................................................................................................................... 147
A “chave” ........................................................................................................................ 149
Termos da Divisão........................................................................................................... 150
Mais exemplos ..................................................................................................... 151
Zero no quociente ............................................................................................................ 153
Ciências ...................................................................................................................................... 155
Capítulo 1 – Fundamentos........................................................................................................... 158
Aula 1 - O que é ciência? ............................................................................................................ 158
Atividades ................................................................................................ 159
Aula 2 - Hierarquia das ciências.................................................................................................. 160
Ciência Sagrada ............................................................................................................... 160
Atividades ................................................................................................ 163
Aula 3 - Hierarquia das ciências.................................................................................................. 164
Ciências Naturais ............................................................................................................. 164
Atividades ................................................................................................ 166
Aula 4 - Estudo da Criação.......................................................................................................... 167
Atividades ................................................................................................ 167
Continuação do estudo .................................................................................................... 168
Atividades ................................................................................................ 169
História ....................................................................................................................................... 171
Introdução.................................................................................................................................... 173
Capítulo 1 - Apresentação da Disciplina História ....................................................................... 174
Introdução ........................................................................................................................ 174
O que é a História? .......................................................................................................... 174
Como devemos estudar História? .................................................................................... 176
A História atingiu seu ponto máximo em Jesus Cristo .................................................... 177
A Providência e a liberdade humana ............................................................................... 177
7
Linha do Tempo .............................................................................................................. 179
Atividades ................................................................................................ 179
Capítulo 2 - Fundamentos teológicos da história ........................................................................ 180
Introdução........................................................................................................................ 180
Fundamentos Teológicos da História .............................................................................. 180
Comentário da Bíblia de Navarra à Introdução do Evangelho de São João ................... 182
1º Ensinamento: A divindade e eternidade de Jesus............................................ 183
Atividades ................................................................................................ 184
Capítulo 3 - A encarnação do Verbo........................................................................................... 185
2º Ensinamento: A Encarnação do Verbo e a Sua manifestação como homem .. 185
3º Ensinamento: A intervenção do Verbo na Criação e na obra salvífica da
humanidade: ........................................................................................................ 186
Atividades ................................................................................................ 189
Capítulo 4 - A grande batalha ..................................................................................................... 190
4º ensinamento: O comportamento diverso dos homens diante da vinda do
Salvador: uns aceitam-No com fé, e outros rejeitam-No. ................................... 190
Atividades ................................................................................................ 193
Geografia.................................................................................................................................... 195
Orientações e práticas de estudo geográfico ............................................................................... 197
Capítulo 1 - Definindo a Geografia............................................................................................. 201
..................................................................................................................................................... 201
Reforçando o Saber ................................................................................. 203
Capítulo 2 - Desígnio do amor de Deus para a humanidade e para o mundo ............................. 204
Reforçando o saber .................................................................................. 205
Capítulo 3 - A missão de cocriação (parte 1) .............................................................................. 206
Reforçando o saber .................................................................................. 208
Capítulo 3 - A missão de cocriação (parte 2) .............................................................................. 209
Para quem trabalhar? ....................................................................................................... 211
Reforçando o saber .................................................................................. 212
Capítulo 4 - Contemplação das belezas de Deus ........................................................................ 213
Reforçando o saber .................................................................................. 218
Arte ............................................................................................................................................. 219
Introdução ................................................................................................................................... 221
Estudo da Arte: qual a importância? ........................................................................................... 222
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Deus: criador de todas as coisas. Homem: criatura capaz de criar. ................................. 222
Arte Sacra: santas imagens .............................................................................................. 224
Beleza: expressão e reflexo de Deus ............................................................................... 226
Atividades.................................................................................................................................... 228
Exercício 1:...................................................................................................................... 228
Exercício 2:...................................................................................................................... 228
Exercício 3:...................................................................................................................... 228
Exercício 4:...................................................................................................................... 228
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Apresentação do Instituto
Quem somos
O Instituto Cidade de Deus é formado por um grupo de professores católicos que deseja
educar, com o auxílio da graça de Deus, crianças e jovens para a santidade e a sabedoria, isto é,
torná-los imagens de Cristo.
Ao longo de nossa atividade docente, percebemos que existe um projeto global de
destruição das famílias, da inteligência e da verdade, que visa transformar nossos estudantes em
materialistas e ateus usando a educação para este fim. Por isso, resolvemos nos dedicar
exclusivamente à elaboração de um programa educacional tradicional, o qual servirá de base para
pais e mestres formarem seus filhos e educandos na verdadeira sabedoria, fundamentando tudo na
Sagrada Escritura, na Tradição, no autêntico Magistério e nos Santos.
Nosso objetivo
Nosso objetivo é, através da educação e com o auxílio da graça divina, levá-los a conhecer
intimamente a Deus, a amá-Lo acima de tudo e de todos e a desejar viver com Ele por toda a
eternidade, o que vemos refletido fundamentalmente nas fortes palavras de Monsenhor Gaume:
“Fazer o ensino cristão eis o intento da luta; eis a empresa que é preciso tentar, e que é
preciso realizar. Isto quer dizer:
É preciso que o cristianismo substitua o paganismo na educação.
É preciso reatar o fio do ensino católico, manifesta, sacrílega e infelizmente quebrado na
Europa (e no mundo inteiro).
É preciso pôr ao pé do berço das gerações nascentes a fonte pura da verdade, em vez das
cisternas impuras do erro; o espiritualismo em vez do sensualismo; a ordem em vez da
desordem; a vida em vez da morte.
É preciso introduzir novamente o princípio católico nas ciências, nas letras, nas artes, nos
costumes, nas instituições, para curá-las das vergonhosas moléstias que as devoram e para
as subtrair à dura escravidão em que gemem.
É preciso salvar assim a sociedade, se ela ainda pode ser salva, ou ao menos impedir que
não pereça toda a carne no cataclismo que nos ameaça.
É preciso ajudar assim os desígnios manifestos da Providência, já temperando, como o aço,
aqueles que devem suportar o embate da luta, para que avancemos rapidamente; já
conservando à religião um pequeno número de fiéis destinados a serem o gérmen d'um
reino glorioso de paz e justiça”. (Monsenhor Gaume, “Paganismo na Educação”, 1886, p.
12-13, editado)
Somos inspirados pela encíclica Divini Illius Magistri, de Pio XI, na qual o Sumo Pontífice
exorta os católicos a educarem seus filhos para o fim último, o Céu. Para isso, a Religião deve ser
o “fundamento e a coroa de toda a instrução”, de modo que “não só em determinadas horas se
ensine aos jovens a religião, mas que toda a restante formação respire a fragrância da piedade
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cristã”. Estas frases do saudoso Papa Pio XI fazem parte da essência daquilo que Deus espera da
educação.
É cada vez maior o número de pessoas conscientes, que compreendem o modelo atual de
educação como um modelo que levará o mundo ao mais profundo abismo.
Entre tantas mentiras que as ideologias implantaram na educação, a maior delas foi
desassociar o conhecimento de Deus do entendimento e da sabedoria. Não é possível ser
verdadeiramente sábio e entendido sem conhecer a Deus.
“A sociedade está enferma, muito enferma. Sintomas cada vez mais assustadores não nos
deixam duvidar da gravidade do mal (...). É, pois, preciso um remédio enérgico. O ponto
capital não é fazer o ensino livre, é fazê-lo cristão. De outro modo a liberdade só servirá
para abrir novas fontes envenenadas onde a mocidade virá beber a morte”. (Mons. Gaume,
p. 12)
12
Orientações para antes dos Estudos
Sabemos que o nosso estudo agrada a Deus, mas qual seria a melhor forma de estudar?
Esta é uma pergunta muito difícil, mas muitos santos, ao longo da História, como Hugo de São
Vítor, deixaram algumas dicas preciosas que podemos seguir.
As dicas são:
1. Seja humilde: a humildade é uma virtude essencial para quem quer começar uma
verdadeira vida de estudante, cujo objetivo é a caridade e a sabedoria. Segundo Hugo de
São Vítor, a humildade é o princípio do aprendizado. Sem ela, o estudo só inchará o seu
orgulho. Uma virtude é um bom hábito, ou seja, é algo que precisa ser praticado todos os
dias para ser alcançado. O bom estudante deve ser humilde e manso, inteiramente alheio
aos cuidados do mundo e às tentações dos prazeres. Consciente de que será preciso buscar
a humildade para começar a trilhar o caminho da sabedoria, você terá Nosso Senhor Jesus
Cristo como modelo perfeito na prática da humildade.
2. Oração: Antes de qualquer coisa que fazemos, convém que rezemos para pedir a Deus as
graças que necessitamos para atingir um resultado que agrada ao Senhor. Assim também é
com os estudos. Antes de iniciar os passos para um bom estudo, se recolha em silêncio,
eleve o seu coração a Deus e Lhe dirija uma oração sincera, atenta e humilde.
3. Ouvir os ensinamentos: Ouvir o que o outro quer nos ensinar parece uma tarefa fácil, mas
nem sempre isto acontece. Algumas vezes nos distraímos com muita facilidade ou
“ouvimos apenas por ouvir”, sem nos esforçarmos para compreender o que se fala. Quando
um ensinamento lhe está sendo apresentado, coloque toda a sua atenção para entender o
assunto.
4. Disciplina: Contemple toda a ordem do universo. Veja como tudo funciona ordenadamente
de tal forma a possibilitar a nossa existência. Isto tudo ocorre porque Deus governa todas
as coisas através de regras e leis que Ele mesmo estabeleceu. Imagine o universo sem
regras. Imagine se, de repente, o planeta Júpiter resolvesse “passear” perto do nosso planeta
Terra. Que grande desastre! Imagine se cada um seguisse sua própria lei no trânsito.
Quantos acidentes! O mundo e o homem necessitam de regras, leis e muita disciplina para
viver de forma ordenada. Organize junto com seus pais uma boa rotina e a contemple com
disciplina; tenha horário para sua oração, estudo, alimentação, esportes, etc. Com o esforço
diário aparecerão os frutos!
5. Leitura: A leitura é um passo fundamental para o bom estudo. Leia atentamente, buscando
compreender bem o que o texto quer lhe ensinar. Busque o significado das palavras que
lhe são desconhecidas em um bom dicionário. Quando o texto for fácil, não o leia correndo
de tal modo que se possa perder informações essenciais. Quando for difícil, não desanime
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diante dos obstáculos. Sabemos que é muito reconfortante entender um texto complexo.
Peça ajuda do Espírito Santo, fonte da inteligência. Porém, tome cuidado com alguns tipos
de textos que “caem” em nossas mãos, pois o demônio muitas vezes nos ataca através de
más leituras.
Certa vez Dom Bosco teve um sonho no qual via um navio que representava a Igreja
sendo atacado por inimigos furiosos e, para nossa surpresa, uma das armas de ataque eram
livros incendiados que eram lançados sobre a barca de São Pedro. Vejam que sonho
impressionante e cheio de lições para nós!
São Jerônimo dedicava horas e horas de seus dias lendo, estudando e até decorando
livros de clássicos latinos (Cícero, Virgílio, Horácio, Tácito) e ainda encontrava disposição
para conhecer autores clássicos gregos. Tal era seu entusiasmo e admiração pelos escritores
clássicos que logo formou uma biblioteca só com obras deles, chegando até a copiar a mão
vários desses livros.
Um dia Jerônimo estava em oração e teve uma visão de seu julgamento. O próprio
Nosso Senhor Jesus Cristo presidia o Tribunal e perguntava sobre seu estado de alma e sua
fé:
– Sou cristão, responde Jerônimo.
Ao que o Juiz lhe replicou com severidade:
– Mentira! Tu não és cristão, mas ciceroniano…
Isso seria o mesmo que dizer: “Não és de Cristo, és de Cícero.”
O Juiz mandou que ele fosse açoitado. Os assistentes pediram clemência
argumentando que ele ainda era jovem e poderia corrigir-se, arrepender-se e salvar-se.
Diante do que lhe acontecia, Jerônimo reconheceu o estado de alma em que se encontrava
e tomou a única atitude que lhe seria conveniente: reconheceu seu erro e pediu perdão.
Naquele instante, ele fez o firme propósito de emendar-se:
“Desde aquela hora eu me entreguei com tanta diligência e atenção a ler as
coisas divinas, como jamais havia tido nas humanas”, (carta de São
Jerônimo a Santa Eustáquia).
Formados pelo exemplo dos santos e movidos pela busca de santidade de vida,
sugerimos ainda dois passos importantes após a leitura: o resumo e a memorização.
Um resumo consiste em descrever as principais informações contidas no texto lido
de forma que fique somente o essencial. Se você não foi capaz de resumir o texto, pode
significar que não entendeu o mesmo. Depois de resumir as principais ideias do texto, é
necessário que você as memorize de tal modo que fiquem guardadas em sua memória.
Certamente é difícil memorizar todas as informações de um texto, mas o que se pede é que
se retenha somente as principais, pois a memória existe para guardar em nosso interior
aquilo que se aprendeu. Este passo é fundamental para chegar ao próximo.
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disse que o princípio da doutrina está na leitura, e, sua consumação, na meditação. Esta é
uma espécie de admiração das coisas estudadas, buscando dissipar tudo o que é obscuro no
que se estudou. Para meditar sobre algo é necessário você conduzir o seu pensamento na
direção de uma ideia e se esforçar para explicar as coisas que ainda não são claras. Depois
disso virá a contemplação.
Para ficar mais claro todos esses passos vamos dar um exemplo:
Imagine um quebra-cabeça cuja imagem não lhe é conhecida. Primeiramente, você
deverá conhecer as peças do jogo, virando-as de tal forma que apareçam as suas formas e
cores (leitura). Depois você deverá reunir as peças que se assemelham e separá-las em
blocos (resumo e a memorização). Após separar, você deve tentar reunir as peças,
começando pelos blocos com as cores e formas semelhantes, esforçando-se para descobrir
a imagem do quebra-cabeça (meditação). Quando as peças começarem a se encaixar, você
começará a ter maior noção do que se trata o jogo, e, depois de várias tentativas, com erros
e acertos, você descobrirá a belíssima imagem de Nossa Senhora de Guadalupe, mas isso
ainda não é a contemplação. Somente depois de terminar de encaixar todas as peças, após
muito esforço, você poderá olhar para aquela pintura feita por mãos celestes, com riqueza
de formas e cores, símbolos e significados, fitar aquela Mulher vestida de Sol com a Lua
debaixo de seus pés e se deleitar de tal modo que seu coração se elevará até a Virgem,
como se ela estivesse em pessoa ali, naquele simples quebra-cabeça, e lhe dirigirá uma
belíssima oração de agradecimento pelo seu sim, que nos trouxe o Salvador! Isto é
contemplação. Mas ainda não acabou.
8. Ensinar: Ainda resta este último e não menos importante passo. Após percorrer esse longo
trajeto proposto de Leitura, Resumo, Memorização, Meditação e Contemplação, você
precisará ensinar alguém aquilo que o estudo lhe proporcionou, recordando que Santo
Agostinho nos ensinou que edificar os outros por caridade é o motivo pelo qual se deve
estudar. Para ensinar, você deve trilhar “o caminho das pedras” e, somente assim, poderá
orientar outros sobre qual caminho tomar. Observe que você deve orientar e não carregar
aquele que se ensina. É um grande desafio. Entretanto, se esse passo não for dado, de nada
valeram os outros; e, se não se consegue ensinar, quer dizer que os passos anteriores não
foram cumpridos.
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Orações para antes dos estudos
Sinal da Cruz Signum Sanctae Crucis
Pelo sinal da Santa Cruz, livrai-nos, Deus, Per signum Crucis, de inimícis nostris, líbera
Nosso Senhor, dos nossos inimigos. nos Deus noster.
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito In nomine Patris, et Fílii, et Spíritus Sancti.
Santo. Amém. Amen.
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19
Sobre a Capa
BEATO PIO IX PROCLAMA O DOGMA DA IMACULADA CONCEIÇÃO
Em 1854, pela Bula “Ineffabilis Deus”, o grande Papa Pio IX definia como dogma a
Imaculada Conceição de Nossa Senhora. Ninguém sabia, mas esse solene acontecimento ia ficar
indissoluvelmente ligado à aparição de Nossa Senhora em Lourdes.
Com efeito, em 1858, de 11 de fevereiro a 16 de julho, Nossa Senhora apareceu dezoito
vezes, em Lourdes, a uma menina Bernadette Soubirous, declarando ser a Imaculada Conceição.
Esta obra foi pintada por Franceso Podesti (1800–1895) e está na sala dell'Immacolata,
Museu do Vaticano.
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Introdução
“O menor conhecimento das coisas mais elevadas, é mais desejável que uma ciência muito certa das
coisas menores.”
Santo Tomás de Aquino
O ensino da Sagrada Doutrina, servindo-nos das palavras do Sumo Pontífice Bento XIV, é o que
há de mais útil para a Glória de Deus e a Salvação das Almas.
O papa Pio XI, na encíclica Divini Illius Magistri, nos diz que a religião deve ser verdadeiramente
o fundamento e a coroa de toda a instrução e completa Santo Tomás que a ciência Sagrada, dentre todas
as ciências, é a mais excelente, pois seu objeto de estudo é o próprio Deus, o sumo bem; a mais certa,
porque parte daquilo que Deus revelou e, portanto, é perfeita. São Pio X, por sua vez, na carta Acerbo
Nimis, afirma que a maior parte dos condenados às penas eternas padece sua perpétua desgraça por ignorar
os mistérios da fé, que necessariamente se devem conhecer e crer para ser contado no número dos eleitos.
O Sermão da Montanha. Aqui, Nosso Senhor expõe maravilhosamente sua Doutrina e Ensinamentos.
O material de Estudo Sagrado foi, portanto, estruturado, para este fim: a Glória de Deus e a
Salvação das almas. Constituído de três seções, sua finalidade é mover a inteligência e a vontade do homem
para Deus.
A primeira parte, intitulada como Doutrina Sagrada, é a parte catequética do material. Nela se
encontra, na forma de perguntas e respostas, um resumo de toda a teologia, de todo o Evangelho, de todos
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os dogmas, de todas as verdades religiosas, de toda a moral cristã. Suas finalidades são conhecer e aprender
a doutrina em fórmulas breves, além de mover a inteligência, a vontade e o coração do estudante para que
ame a Deus e pratique, por amor d’Ele, o bem.
A segunda parte, intitulada Amizade com Deus, apresenta textos que versam sobre as Verdades
Eternas, que serão a base da Vida de oração e intimidade com Deus. Diz Santo Afonso “Quem reza, se
salva; quem não reza se condena”. Por isso, esses textos deverão ser meditados pelos alunos, em
oração. Santa Teresa d’Ávila nos ensina que “Que não é outra coisa a oração mental senão tratar de
amizade, estando muitas vezes tratando a sós com quem sabemos que nos ama”.
Por fim, temos a terceira e última parte, intitulada como “Vida de Jesus”, que consiste no
aprendizado de toda a história sagrada e da história eclesiástica. Nela, as crianças aprendem a ver na prática
com que amor corresponderam os grandes santos às petições do Amor Divino.
Em suma, o material de Estudo sagrado não consiste somente na instrução religiosa, senão em toda
a Educação Cristã de cada estudante.
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Advertências aos pais e educadores católicos
1º - Ensinar o catecismo é instruir na fé e na moral de Jesus Cristo; é dar aos filhos de Deus
a consciência da própria origem, dignidade e destino, e dos próprios deveres; é lançar e
desenvolver nas suas inteligências os princípios e os motivos da religião, da virtude e da santidade
na terra, e, portanto, da felicidade no céu.
2º - O ensino do catecismo é, por isso, o mais necessário e proveitoso para os indivíduos,
para a Igreja e para a sociedade civil; é o ensino fundamental, que forma a base da vida cristã, a
qual sempre é tíbia, vacilante e facilmente se extingue, quando ele falte ou seja mal ministrado.
3º - Sendo pais cristãos, os primeiros e principais educadores de seus filhos, devem ser
também os primeiros e principais catequistas: os primeiros, pois lhes devem instilar quase como o
leite a doutrina recebida da Igreja; os principais, pois lhes devem fazer aprender de cor em família
os princípios fundamentais da Fé, a começar pelas primeiras orações, e fazer-lhes repetir todos os
dias de maneira que pouco a pouco penetrem profundamente nos corações dos filhos. E se os pais,
como a miúdo acontece, se veem obrigados a fazerem-se substituir por outrem na educação, não
esqueçam da obrigação sacratíssima que tem de escolher pessoas e institutos tais que saibam e
queiram conscienciosamente cumprir em vez deles tão grave dever. A indiferença nesta matéria
tem sido a perda irreparável de tantos filhos. Que contas deverão dar a Deus por isto!
4º - Para ensinar com fruto é preciso saber bem a doutrina cristã, expô-la e explicá-la de
modo adequado à capacidade dos alunos e sobretudo, tratando-se de doutrina prática, é preciso
viver em conformidade com ela.
5º - Saber bem a doutrina cristã: pois como pode instruir quem não é instruído? Daqui o
grande dever para os pais e educadores de reler o catecismo e penetrar a funda as verdades nele
expostas, assistindo às explicações mais desenvolvidas dos párocos aos adultos, interrogando
pessoas competentes e lendo, se puderem, livros apropriados.
6º - Expor de modo adequado a Doutrina Cristã, isto é, com inteligência e amor, de maneira
que as crianças não se desgostem ou enfadem do mestre nem da doutrina. Por isso convém falar
ao alcance delas, empregando palavras simples e bem conhecidas, despertando-lhes a inteligência
com oportunas comparações e exemplos, e movendo-lhes os sentimentos do coração. Haja suma
discrição e comedimento para não causar cansaço; caminhe-se pouco a pouco, não se enfadando
das repetições; suportem-se com paciência e afeto a irrequietação, as distrações, as impertinências
e os demais defeitos próprios da sua idade. Haja sobremaneira evitar um ensino maquinal, que
acanha e entenebrece, pondo só em ação a memória, deixando de lado a inteligência e o coração.
7º - Finalmente viver na fé e na moral que se ensina; pois de outro modo, quem terá
coragem de ensinar aos filhos a religião que não prática, os mandamentos e preceitos que mesmo
diante deles se transgridem? E em tal caso que frutos há a esperar? Antes, pelo contrário, os pais
exautorar-se-ão por si mesmos, e habituarão os filhos à indiferença e ao desprezo dos princípios
mais necessários e dos deveres mais sagrados da vida.
8º - E já que hoje se tem criado uma atmosfera de incredulidade funestíssima para a vida
espiritual, com a guerra e todo a ideia de autoridade superior, de Deus, de revelação, de vida futura,
de mortificação, inculquem os pais e educadores, com máximo cuidado, as verdades fundamentais
das primeiras noções do catecismo; inspirem o conceito cristão da vida, o sentimento da
23
responsabilidade de todos os atos perante o Juiz supremo, que está em toda a parte, tudo sabe e
tudo vê; e infundam, com o santo temor de Deus, o amor a Nosso Senhor Jesus Cristo e da Igreja,
o gosto da caridade e da sólida piedade, e a estima das virtudes e práticas cristãs. Só assim a
educação dos filhos será fundada não sobre a areia de movediças ideias e de respeitos humanos,
mas sobre a rocha de convicções sobrenaturais, que resistirão durante a vida inteira ao embate de
todas as tempestades.
9º - Para tudo isto se requer fé viva, profunda estima de calor das almas e dos bens
espirituais, e aquele prudente amor que procura primeiro tudo assegurar a felicidade eterna às
almas que nos são mais queridas. Não é menos precisa uma graça especial para compreender a
índole dos filhos e descortinar as inclinações do espírito e do coração. Os pais cristãos, por virtude
do sacramento do Matrimônio bem recebido, têm direito às graças do próprio estado, e portanto,
às que são necessárias para a educação cristã dos filhos. Além disso, podem eles obter por meio
de humildes orações mais abundantes graças em ordem a este mesmo fim, pois é obra
particularmente agradável a Deus que se lhe eduquem adoradores, e filhos obedientes e devotos.
Façam-no, pois a custo de todo sacrifício: trata-se da eterna salvação das almas dos filhos e da
própria. Deus abençoará a sua fé e o seu a mor nesta empresa de importância capital, e há de
recompensá-los com o prêmio mais ambicionável, que é o de uma geração santa, eternamente feliz
com eles no céu.
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Aos queridos alunos
Q UANDO você gosta de um amigo, sua vontade é querer brincar, conversar, estar perto
dele. E, com essa proximidade, a amizade vai aumentando cada vez mais, não é verdade?
Nosso Senhor Jesus Cristo é o nosso melhor amigo. É muito importante estar próximo
d'Ele, conhecê-Lo e unir seu coração ao d’Ele. É necessário conhecer Seus ensinamentos, a
Doutrina Cristã Católica, isto é, as Verdades da fé. Para que essas verdades fiquem gravadas em
seu coração, é necessário decorá-las.
A palavra decorar vem do latim "cor" (coração), “guardar no coração”, “memorizar”.
Sabendo disso, guarde os ensinamentos de Nosso Senhor em sua memória, mas o mais importante
é guardá-los em seu coração, para que tudo o que você pensar, falar e agir seja igual a esse grande
amigo, Jesus Cristo!
“15
Trouxeram-lhe também criancinhas, para que Ele as tocasse. Vendo isto, os discípulos as
repreendiam.16Jesus, porém, chamou-as e disse: Deixai vir a mim as criancinhas e não as
impeçais, porque o Reino de Deus é daqueles que se parecem com elas.17Em verdade vos
declaro: quem não receber o Reino de Deus como uma criancinha, nele não entrará. 18”
(Lc 18, 15-17)
Organização da disciplina
25
26
Semana 1
Doutrina Sagrada
Na etapa 2 começamos a estudar os meios pelos quais Deus infunde a graça na alma, que
são dois: os sacramentos e a oração. Já foram estudados os sacramentos. Vamos, portanto, estudar
a oração. Mas antes, vamos retomar alguns conceitos que aprendemos sobre a Graça:
A GRAÇA
Que é a Graça?
A Graça é um dom sobrenatural, que Deus nos concede gratuitamente em virtude dos
merecimentos de Jesus Cristo para efetuar a obra da nossa salvação.
Geralmente falando, pode chamar-se Graça a todo o favor que Deus nos faz; e neste sentido,
a multidão inumerável de benefícios que temos recebido desde o primeiro instante do nosso ser, e
que estamos recebendo em todos os momentos da nossa vida são outras tantas graças que Deus
nos dispensa e que estão pedindo o nosso contínuo e eterno agradecimento.
27
Quando Deus nos concede a Graça atual?
Deus concede-nos a Graça atual todas as vezes em que é necessária, e que a pedimos
devidamente.
A ORAÇÃO
O que é a oração?
A oração é uma elevação da nossa alma e do nosso coração a Deus para pedir-lhe o que é
mais conveniente para a nossa salvação eterna.
28
Figura 2
29
Amizade com Deus
“Deixai vir a mim as crianças”
Mc 10, 13
Com estas doces palavras emanadas dos lábios de Nosso Senhor gostaríamos de iniciar o
tópico “Amizade com Deus” desta Etapa. Sim, nosso Senhor Jesus Cristo quer que as crianças
caminhem até Ele, pois tem por elas especial predileção: “Deixai vir a mim as crianças” (Mc 10,
13). Por acaso não se apraz seu Sagrado Coração ao ser invocado sob o título de “Menino Jesus”?
Não era assim que o preferia invocar Santa Teresinha do Menino Jesus, que segundo São Pio X, é
a maior Santa dos tempos modernos? Sim, é preciso deixar ir até Nosso Bom Jesus as criancinhas!
Deixá-las ir, no entanto, não significa tão somente não as impedir, mas sobretudo ensiná-
las a como trilhar este caminho, que só o enfrentam os
mais corajosos. Por isso, a fim de as auxiliar
nesta empreitada de intimidade com Deus
e de caminho de perfeição, escolhemos
apresentar nesta Etapa a segunda
parte1 do livro “Exercícios
Espirituais”, de frei Manuel
Sancho, da Ordem dos
Mercedários. Sobre esta obra e
seu autor, comenta Pe. Arintero,
importante dominicano do século
XX: “Acredito que o P. Sancho é
um apóstolo e habilíssimo diretor da
infância, o qual com facilidade
prodigiosa a conduz pela via purgativa, e,
introduzindo-a na via iluminativa, a dispõe para a
via unitiva”.
Figura 3. Menino demonstrando afetos ao Menino
Jesus.
1
A primeira parte do livro foi dada na Etapa anterior.
30
3ª Fase Unitiva: É a última fase do crescimento espiritual, e nesta foi a que chegaram os
maiores Santos da Igreja, muitos deles ainda crianças, como Santa Gema Galgani e Santa Elisabete
da Trindade. É chamada de matrimônio espiritual da alma com Deus, a união com a Santíssima
Trindade. O silêncio, a solidão, a contemplação marcam a via unitiva, como também a experiência
de luz e de obscuridade que leva mais para a luz. A união com Deus é transparente, irradiante e
simples. A pessoa evita os pecados pequenos, abandona-se confiantemente em Deus e desdobra-
se em boas obras e cuidados pelo próximo. As virtudes teologais e morais são vividas com
profundidade e inefabilidade. A alma é uma só coisa com Deus, como uma chama de duas velas.
Portanto, seguindo o mesmo itinerário do crescimento espiritual, nossos estudos ao longo
das Etapas 2, 3, 4 e 5 acompanharão estas fases, utilizando-se para isto dos Exercícios Espirituais
de Fr. Manuel Sancho. Veja na tabela a seguir qual será o itinerário ao longo destes anos:
2
Trecho extraído e adaptado de https://padrepauloricardo.org/episodios/o-porque-da-oracao. Acesso: 18.11.2019
31
No Evangelho da Transfiguração, os discípulos de Jesus são levados “a um lugar à parte,
sobre uma alta montanha”, a fim de se encontrarem com Deus, por meio da oração.
Santa Teresa de Jesus diz:
“Que não é outra coisa a oração mental senão tratar de amizade, estando muitas vezes
tratando a sós com quem sabemos que nos ama”.3
Então, a oração trata-se de amizade com Deus. E essa amizade brota do relacionamento
intratrinitário, da amizade que o Pai tem pelo Filho, expressa nas palavras: “Este é o meu Filho
amado, no qual eu pus todo o meu agrado”. Para que também nós entremos nessa amizade e nos
transfiguremos, por assim dizer, junto com Jesus, devemos atender ao apelo do Pai, que diz:
“Escutai-o!”. Da oração brota, então, um ato efetivo de amor a Deus: determinamo-nos a
transformar a nossa vontade na vontade de Deus, como o próprio Jesus indica em outra
passagem: “Vós sois meus amigos, se fazeis o que vos mando” (Jo 15, 14).
Mas Jesus também quer que o nosso amor a Deus se desdobre no amor ao próximo:
"Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a sua vida por seus amigos” (Jo 15, 13). Jesus
leva-nos para o monte, mas não para que fiquemos aí, isolados em tendas, como sugeriu São Pedro;
mas, ao contrário, para que, descendo o monte, entreguemos nossa vida por Ele e pelos outros.
Então, a oração, que é amizade com Deus, desabrocha, concretamente, na prática quaresmal da
caridade.
Ainda sobre a oração, Santa Teresa dá-nos algumas indicações preciosas:
“[O iniciante] pode fazer muito para se determinar a servir bastante a Deus e despertar o
amor. A pessoa pode imaginar que está diante de Cristo e acostumar-se a enamorar-se da
Sua Sagrada Humanidade, tendo-O sempre consigo, falando com Ele, pedindo-lhe auxílio
em suas necessidades, queixando-se dos seus sofrimentos, alegrando-se com Ele em seus
contentamentos e nunca esquecendo-se Dele por nenhum motivo, e sem procurar orações
prontas, preferindo palavras que exprimam seus desejos e necessidades. É excelente
maneira de progredir, e com rapidez. E adianto que quem trabalhar para ter consigo essa
preciosa companhia, aproveitando muito dela e adquirindo um verdadeiro amor por esse
Senhor a quem tanto devemos, terá grande benefício. 3. Para isso, não façamos caso de
não ter devoção sensível— como eu disse —, mas agradeçamos ao Senhor, que nos
permite estar desejosos de contentá-Lo, embora as nossas obras sejam fracas. Esse modo
de trazer Cristo conosco é útil em todos os estados, sendo um meio seguríssimo para tirar
proveito do primeiro e breve chegar ao segundo grau de oração, bem como, nos últimos
graus, para ficarmos livres dos perigos que o demônio pode pôr. Quem quiser passar
daqui e levantar o espírito a sentir gostos, que não lhe são dados, perde, a meu ver,
tudo.”4
A oração não consiste em “sentir gostos”, mas em determinar-se no amor. Que, nesta
Quaresma, lembremo-nos de cultivar a verdadeira oração, “que não é outra coisa (...) senão tratar
de amizade (...) com quem sabemos que nos ama”5.
3
Livro da Vida, cap. 8, 5.
4
Livro da Vida, cap. 12: 2 – 3.
5
Extraído de https://padrepauloricardo.org/episodios/oracao-amizade-com-deus. Acesso: 18.11.2019.
32
Portanto, todas as reflexões que serão feitas ao longo do ano só trarão frutos aos estudantes
se estes as meditarem, e as meditarem em oração. O trecho a seguir da Imitação de Cristo resume
bem o que queremos expressar:
Portanto, para essa oração meditativa, para esta conversação interior com Cristo, sugerimos
que sigam os passos propostos por santo Afonso Maria de Ligório, que se encontra nas páginas
seguintes.
Recomendamos que o estudante, ou mesmo seus responsáveis, identifique qual é o melhor
horário do dia para fazer esta oração meditativa, cuja base de reflexão serão os textos aqui escritos,
de tal forma que não seja antes do momento de brincadeiras, a fim de que a criança não o faça às
pressas, ou tarde da noite, quando os cansaços do dia não permitem um aprofundamento nas
reflexões e pensamentos. Lembre-se que apesar de o tópico “Amizade com Deus” conter um
texto para ser lido em um dia, ele deverá ser meditado ao longo de toda a semana, escolhendo
o aluno ora uma frase ora outra para meditar a cada dia.
Por fim, faça a consagração a Virgem Maria, que se encontra a seguir, pedindo-lhe a graça
de ser perseverante e paciente neste caminho que irá empreitar:
33
Consagração a
Nossa Senhora
Ó Senhora minha! Ó minha Mãe! Eu me ofereço
todo a vós. E em prova da minha devoção para
convosco, eu vos consagro, neste dia, meus olhos,
meus ouvidos, minha boca, meu coração e
inteiramente todo o meu ser. E como assim sou
vosso, ó boa Mãe, guardai-me e defendei-me como
coisa e propriedade vossa.
Amém.
34
A Oração Meditativa , 6
6
Disponível em http://almasdevotas.blogspot.com/2016/05/3105-consideracao-para-vespera-do-mes.html. Acesso
em 18.11.2019.
35
A oração mental contém três partes: a preparação, a meditação e a conclusão.
I. Na Preparação fazem-se três atos:
1. Ato de Fé na presença de Deus:
2. Ato de humildade.
Uma Ave-Maria à Mãe de Deus, e um Glória ao Pai a S. José, ao Anjo Custódio e ao nosso
Santo protetor. Estes atos devem ser feitos com atenção, mas brevemente; depois faz-se a
meditação.
II. Para a Meditação sirvamo-nos sempre de um livro, ao menos no começo, parando nas
passagens que mais impressão nos fazem. S. Francisco de Sales diz que devemos imitar as abelhas,
que se demoram numa flor enquanto acham mel, e voam depois para outra.
Cumpre, além disto, saber que os frutos da meditação são
três: afetos, súplicas e resoluções; nisto é que consiste o proveito da oração mental. Assim, depois
de haverdes meditado uma verdade eterna, e ter Deus falado a vosso coração, é mister que faleis a
Deus:
1º. Pelos afetos, isto é, pelos atos de fé, agradecimento, humildade, esperança; mas repeti
de preferência os atos de amor e contrição. Conforme Santo Tomás, todo ato de amor nos merece
a graça de Deus e o Paraíso. O mesmo se deve dizer do ato de contrição. Eis aqui exemplos de atos
de amor:
— Meu Deus, eu vos amo sobre todas as coisas.
— Eu vos amo de todo o meu coração.
— Quero fazer em tudo vossa vontade.
— Muito me regozijo por serdes infinitamente feliz.
36
Para o ato de contrição basta dizer:
2º. É necessário também falar a Deus pelas súplicas, pedindo-lhe as luzes de que
precisamos, a humildade ou outra virtude, uma boa morte, a salvação eterna, mas
principalmente seu amor e a santa perseverança. E si nossa alma está em grande aridez, basta
repetirmos:
3º. É mister enfim falar a Deus pelas resoluções: antes de terminar-se a oração, cumpre
tomar alguma resolução particular, por exemplo, fugir de tal ocasião, sofrer o que parece nos
molestar em tal pessoa, corrigir-se de tal defeito, etc.
37
A vida de Jesus
Durante este ano estudaremos a história do Corpo Místico de Cristo, a Igreja Católica,
narrada por São João Bosco no livro “História Eclesiástica”. Nele, veremos os principais
acontecimentos da Igreja e da vida dos Santos, desde sua fundação até o fim do século dezenove,
quando da morte de Dom Bosco.
NOÇÕES PRELIMINARES
História Eclesiástica e suas divisões - Igreja Católica - Hierarquia da Igreja: Papa, Cardeais,
Bispos, Padres, Párocos - Concílios: gerais, nacionais, provinciais e diocesanos.
Igreja Católica
A Igreja Católica é a congregação dos que professam na íntegra a fé e a doutrina de Jesus
Cristo, e respeitam a autoridade do Soberano Pontífice, constituído pelo mesmo Jesus Cristo como
Vigário e supremo Chefe visível da Igreja.
38
Figura 4. Basílica de São Pedro, sede da Igreja Católica.
39
Semana 2
Doutrina sagrada
A ORAÇÃO
40
Por quem devemos orar?
Devemos orar por nós, pelos nossos pais e parentes, por nossos superiores espirituais e
temporais, em geral por todos os homens, não excetuando os nossos inimigos, pela nossa pátria, e
pelas almas do purgatório, a fim de livrá-las das suas penas e introduzi-las no céu.
41
Amizade com Deus
VIII. PAIXÃO DE JESUS
1. Conclusão das meditações da terceira semana com as anteriores. – 2. Como se deve considerar
a Paixão do Cristo; a) Quem padece; b) Como padece; c) Por quem padece.
7
O que Fr. Manuel dividiu em 4 semanas nós dividimos em quatro anos, a começar pela etapa 2. Portanto, na etapa
4 estudaremos o que for correspondente à terceira semana.
42
isso. Humildade, humildade... Isso nos soa a coisa conhecida. Deve ser uma humildade muito
grande, muito grande...
Efetivamente, é muito grande. Tornarei a repetir-vos que, na posse deste grau, está a
verdadeira humildade, que consiste em preferir a pobreza, os desprezos e sofrimentos às riquezas
e às honras, para imitar a Cristo cheio de opróbrios e sofrendo terríveis dores. Oh! Quão
prontamente se diz isto, mas ai! Quão difícil a alma se resolve, com resolução enérgica, a trilhar
esse calvário!
E para que lembrarmos agora este grau de humildade de que já tratamos noutro lugar?
Recordo-o porque esta é a ocasião de vos resolverdes a praticá-lo e o fruto que haveis de tirar desta
consideração da Paixão de Cristo. Por onde vereis a conexão desta meditação com a anterior.
Claro está que, sendo tão sublimes estas virtudes, é difícil resolver-se a abraçá-las da
primeira vez que são propostas, por mais que elas sejam deduzidas das meditações que explicamos
anteriormente; mas agora, com estas novas razões e exemplos de Cristo padecente, seria amá-lo
muito pouco o não nos determinarmos a praticar o terceiro grau de humildade, tão necessário para
empreendermos uma santificação sólida e verdadeira.
Oração
Ó Salvador do mundo, ó amor das almas, ó Senhor, objeto mais digno de todo o amor! É pela
vossa Paixão que quisestes ganhar nossos corações, mostrando-nos o amor imenso que nos
tendes e consumando uma Redenção que nos trouxe a nós um mar de bênçãos e a Vós Vos
custou um mar de dores e de opróbrios. Com tantos prodígios de amor alcançastes que muitas
almas santas, abrasadas pelas chamas do vosso amor, renunciassem a todos os bens da terra,
para se consagrarem inteiramente a vosso amor, ó Senhor amabilíssimo! – Suplico-Vos, meu
Jesus: fazei com que eu me lembre sempre da vossa Paixão, e que, miserável como sou, mas
vencido, afinal, por tantas finezas do vosso amor, me renda a Vos amar e a dar-Vos com o meu
amor alguma prova de gratidão pelo amor excessivo que Vós, meu Deus e meu Salvador, me
haveis tido.
Lembrai-Vos, meu Jesus, que sou uma dessas ovelhas, por cuja salvação viestes à terra
sacrificar a vossa vida. Sei que, depois de me haverdes remido pela vossa morte, não deixastes
de me amar e que ainda me tendes o mesmo amor que me quisestes ter morrendo por mim. Não
permitais que eu viva ainda ingrato para convosco, meu Deus, que tanto mereceis meu amor e
tanto haveis feito para ser amado por mim. – É esta a graça que vos peço também, ó Maria,
pelos merecimentos da dor que sentistes na Paixão de vosso Filho Jesus.
43
A vida de Jesus
Hierarquia da Igreja
Nesta congregação de fiéis existe uma Hierarquia eclesiástica, isto é, uma ordem de
ministros sagrados estabelecidos para conservar, propagar e governar a mesma Igreja. Esta
hierarquia em parte foi instituída por Nosso Senhor Jesus Cristo e completada pela Igreja, no
exercício da faculdade que recebeu das mãos do mesmo. Nosso Senhor Jesus Cristo estabeleceu:
1°. O Papa, que é o Bispo dos Bispos.
2°. Os Bispos, que além do poder de consagrar o Corpo e Sangue do Redentor e perdoar os
pecados, têm a faculdade de comunicar a outrem o mesmo poder, consagrando os Sacerdotes.
3°. Os Sacerdotes, que podem consagrar o Corpo e o Sangue de Jesus Cristo e redimir os
pecados, porém não podem transmitir a outrem este poder.
4°. Os Diáconos ou Ministros, que devem ajudar os Bispos e os Sacerdotes no desempenho
do seu sagrado ministério.
A Igreja estabeleceu:
1°. Dividir em certa maneira, em várias ordens as atribuições dos diáconos, ajuntando os
subdiáconos, acólitos, leitores, exorcistas e hostiários.
2°. Que entre os Sacerdotes, alguns tivessem o cuidado de alguma parte da Diocese; isto é,
do rebanho confiado aos cuidados do Bispo, dando-lhes o nome e ofício de Párocos, dividindo
assim a Diocese em Paróquias.
3°. Que os Bispos tivessem o governo de uma Diocese, e que as Dioceses fossem reunidas
em Províncias, presididas por um Arcebispo, com jurisdição sobre os Bispos da mesma Província,
chamados sufragâneos.
4°. Que em alguns reinos e impérios houvesse, à frente de várias Províncias, um Bispo
Primaz ou Patriarca, do qual depende os mesmos Arcebispos e as Províncias por eles governadas.
5°. Finalmente que os Bispos das cidades mais circunvizinhas de Roma, capital do
Catolicismo, e os Sacerdotes e Diáconos adidos às principais Igrejas da Cidade Eterna formassem
como o Senado do Soberano Pontífice, quanto ao privilégio de eleger o Papa, e ajudassem a este
na administração da Igreja Universal. A estes foi dado o nome de Cardeais porque todos eles
tomam o título de uma Igreja a cujo serviço se acham ligados como portas de um edifício a seus
gonzos (em latim cardines).
De modo que a Hierarquia instituída por Jesus Cristo e completada mais tarde pela Igreja,
compõe-se:
1°. do Papa;
2°. dos Cardeais;
3°. dos Patriarcas;
4°. dos Arcebispos;
5°. dos Bispos;
44
6°. dos Sacerdotes (Presbíteros);
7°. dos Diáconos;
8°. dos Subdiáconos (extinto pelo Papa Paulo VI, através do Motu Proprio Ministeria
Quaedam de 15 de agosto de 1972);
9°. dos Acólitos e Leitores (incluso nos Diáconos).
Concílios
Os Concílios são assembléias de Bispos, convocadas para tratar das questões religiosas e
falar sobre as mesmas. Os Concílios podem ser: Ecumênicos ou Gerais, Nacionais e Provinciais.
Concílio Ecumênico é a reunião de todos, ou de uma grande parte dos Bispos da Igreja
Católica, aos quais convoca e preside pessoalmente ou por delegação, o mesmo Sumo Pontífice.
45
O Concílio Geral decide em última instância as controvérsias religiosas e ditas leis gerais
para toda Igreja; porém, nem as sentenças, nem as leis do Concílios Gerais tem força alguma, antes
de serem aprovadas pelo Papa; de modo que, o Concílio Geral legitimamente congregado
representa toda a Igreja Universal; e suas sentenças, quando trazem a aprovação do Papa, sendo
infalíveis, deverão ser tidas como artigos de fé.
O Concílio Nacional é a reunião dos Bispos de uma nação ou de um reino, convocados
pelo Patriarca ou pelo Primaz, ou mesmo por um Bispo da Província, nomeado para este efeito
pelo Sumo Pontífice.
O Concílio Provincial é a reunião dos Bispos de uma mesma Província, convocados pelo
Metropolitano, isto é, pelo Arcebispo, ou mesmo por outro Bispo co-provinciano, delegado pelo
Soberano Pontífice.
Também existem os Concílios Diocesanos, que consistem na reunião de todos os Párocos
e demais eclesiásticos eminentes de uma Diocese, convocados por seu Bispo. Advirta-se,
entretanto, que toda autoridade destes Concílios em resolver questões religiosas, ou ditar sentenças
relacionadas com elas, compete exclusivamente ao Bispo; enquanto nos Concílios Gerais,
Nacionais e Provinciais todos os Bispos congregados têm a faculdade de proferir um juízo
deliberativo. Nos Concílios Diocesanos, os Párocos são simples conselheiros, nos demais
Concílios, os Bispos são juízes.
46
SEMANA 3
Doutrina sagrada
A ORAÇÃO
47
Figura 8
48
Resumindo
- Para conhecê-lo.
- Adorá-lo.
Objetivo
- Agradecer-lhe.
- Pedir-lhe o que necessitamos.
- Humildade.
Oração
- Confiança.
- Recolhimento.
Como se deve rezar: com
- Atenção.
- Perseverança.
- Em união com Jesus.
- Ordem de Jesus.
Eficácia da oração - Obrigação nossa.
- Conselho dos Santos.
49
Amizade com Deus
50
O menino da parábola retira-se, espantado de tanta maldade. Vós outros haveis de vos
retirar dentro de vós mesmos para, cheios de comiseração para com o bom Jesus, considerardes os
vossos pecados.
Meditemos devagar e com dor estes mistérios, e esmiciuemo-los por parte. Os grãos de
pimenta, tragados inteiros, não têm, sabor. Parti-os e triturai-os com os dentes, e sentireis como
eles ardem e inflamam. Assim a Paixão de Cristo, bem meditada, amargará com dor o vosso
coração e vos inflamará no amor Àquele que padeceu e morreu por nosso amor.
Oração
(Santa Teresa d’Ávila)
51
A vida de Jesus
PRIMEIRA ÉPOCA
Desde a fundação da Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo, até a conversão de Constantino, o
Grande. (ano 312 da era cristã).
CAPÍTULO I
Maria Santíssima e São José - Nascimento do Salvador - Adoração dos Reis Magos - Degolação
dos Inocentes - A Sagrada Família no Egito - Disputa com os Doutores - São João Batista -
Batismo de Jesus.
Nascimento do Salvador
Corria o ano 4.000 da criação do mundo e Herodes, chamado o Grande, reinava na Judéia.
Maria Santíssima e São José, obedecendo às ordens do Imperador Romano, César Augusto, se
transportaram para Belém, pequena cidade da Judéia para inscreverem seus nomes nos registros
do Império. Estando as casas da cidade cheias de forasteiros, tiveram de sair daí e alojar-se em
uma gruta que servia de estábulo, onde se achavam dois animais.
Em tão humilde local, à meia-noite de 25 de dezembro, nasceu o Senhor do Céu e da Terra.
Nesse mesmo instante, um Anjo revestido de luz deslumbrante, anunciou a boa nova a uns pastores
que velavam guardando seus rebanhos, enquanto que uma multidão de Anjos fazia ressoar nos
ares aquelas palavras celestiais: "Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens de boa
52
vontade". Os pastores cheios de admiração por tão insólitos portentos, correram pressurosos a
Belém e encontraram ali o celestial Menino.
Depois de o haverem adorado e reconhecido como seu verdadeiro Deus e Salvador, cheios
de alegria voltaram a seus rebanhos bendizendo ao Altíssimo. Aos oito dias de seu nascimento o
Menino foi circuncidado e foi lhe posto o adorável nome de Jesus, que quer dizer Salvador, como
o tinha ordenado o Anjo antes do seu nascimento.
53
SEMANA 4
Doutrina Sagrada
A ORAÇÃO
Como vimos na Semana 2, as principais petições que devemos fazer estão contidas no Pai-
-Nosso. Nesta última semana começaremos a estudá-lo, e, no próximo volume, veremos o que
significa detalhadamente cada uma das petições.
54
Amizade com Deus
VIII. PAIXÃO DE JESUS
55
Meus filhos, se conseguirdes dor ao considerardes a grandeza de quem por nós padece,
detende um pouco a consideração, triturai esse grão de pimenta para que escalde com seu fogo o
vosso coraçãozinho, e tirai arrependimento dos vossos pecados, que são o que faz Jesus padecer.
Considerai, além disto, que as pessoas de quem Jesus recebe as afrontas e a morte são da
escória do populacho, e os que dirigem as turbas, embora sejam os princípios dos sacerdotes e
escribas, são piores do que demônios, piores do que o populacho, porque conscientemente se
obstinam no seu crime. Toda essa gente, fariseus, soldados, escória da plebe, são os atormentadores
de Jesus. A vileza do ofensor e a grandeza do ofendido tornam imensamente maior a ofensa.
Sem dúvida vos lembrais da fábula do leão caído e machucado, que vários animais
ofendiam, até que um burro se atreveu a desfechar-lhe um coice, injúria que o leão não pode sofrer,
por vir de quem vinha.
Cristo sofreu vilezas e escárnios do que havia de mais abjeto em Jerusalém: assim o seu
padecer foi mais oprobrioso e mais heroico.
Oração
Ó meu Senhor Crucificado, de todo o meu coração, de
todo o meu espírito, de toda a minha alma e com todas
as minhas forças, amo-Vos e desejo amar-Vos sempre
sobre todas as coisas; e, se fosse possível, gostaria de
amar-Vos com esse amor perfeitíssimo com o qual Vos
amais a Vós mesmo; com esse amor com o qual Vossa
santíssima humanidade, a Santíssima e Bem-aventurada
Virgem, juntamente com toda a corte e a Santa Igreja
Católica Vos amam.
56
A vida de Jesus
CAPÍTULO I (continuação)
57
acrescentou mais tarde o apelido de Batista, porque batizava as multidões. Este menino foi o
precursor do Messias. Para fugir aos tumultos do século, retirou-se, ainda muito criança à solidão
do deserto onde levou uma vida angélica; seu alimento se compunha de gafanhotos e mel silvestre
e não tinha outra vestimenta além da pele de um camelo e um cinturão de couro. Estava João pelos
trinta anos de idade quando recebeu ordem do Senhor de ir às margens do Jordão para pregar a
penitência e anunciar a chegada do Messias. Todos corriam para ouvir seus sermões e muitos
recebiam o batismo.
Batismo de Jesus
Jesus aos 30 anos de idade saiu de Nazaré e, às margens do Jordão, e recebeu também Ele
o batismo. São João como nunca o tinha visto, não o conhecia ainda; entretanto iluminado pelo
Espírito Santo, correu a seu encontro nas margens do Jordão, gritando para a multidão que o
acompanhava: "Eis aqui o Cordeiro de Deus que tira os pecados do mundo". Falando em seguida
a Jesus, disse-lhe: "Tu queres que eu te batize, entretanto sou eu quem deveria ser batizado por ti".
Respondeu-lhe Jesus: "Deixa agora porque assim nos convém observar toda justiça". Chegou São
João e o batizou. Terminada a augusta cerimônia, abriram-se de repente os céus, e o Espírito Santo
em forma de pomba, desceu sobre a cabeça de Jesus Cristo, fazendo ouvir ao mesmo tempo uma
voz que disse: "Este é meu dileto filho, em quem pus as minhas complacências". Deste modo,
Jesus foi proclamado solenemente verdadeiro filho de Deus, enviado para salvar os homens.
58
59
Sobre a capa
NÃO OS IMPEÇAIS DE VIR A MIM
60
Conteúdo Programático de Língua Portuguesa
ETAPA 4
Gramática:
- Substantivo.
- Classificação dos substantivos.
- Adjetivo.
- Classificação dos adjetivos.
- Verbo.
- Avaliação de Gramática.
Produção de Textos:
- Elementos da Narrativa.
- Biografia.
- Autobiografia.
Sagradas Escrituras:
- Salmo 30, 1-13.
- Salmo 30, 14-25.
- Salmo 31.
- Salmo 32, 1-11.
Leitura mensal:
- Santo Agostinho.
Gramática:
- Revisão: substantivo.
- Adjetivo.
- Classificação dos adjetivos.
- Formação dos adjetivos.
- Adjetivos pátrios.
- Avaliação de Gramática.
Produção de Textos:
- Texto Narrativo.
- Texto Descritivo.
61
- Jesus na manjedoura.
Sagradas Escrituras:
- Salmo 35.
- Salmo 36, 1-14.
- Salmo 36, 15-28.
- Salmo 36, 29-40.
Leitura mensal:
- Mês de São José, de Monsenhor José Basílio Pereira.
- São Francisco Xavier.
Gramática:
- Locução adjetiva.
- Formação de locuções.
- Locuções adjetivas e adjetivos correspondentes.
- Flexão de adjetivos.
- Avaliação de Gramática.
Produção de Textos:
- Texto Narrativo.
- Texto Descritivo.
- Avaliação de Produção de Textos.
Sagradas Escrituras:
- Salmo 40.
- Salmo 41.
Volume 3 - Salmo 42.
- Salmo 43, 1-14.
Leitura Mensal:
- História Maravilhosa dos Mártires do Japão.
Gramática:
- Tipos de frases.
- Oração.
- Tipos de oração.
- Sinônimos e antônimos.
- Singular e plural.
Volume 4 - Avaliação de Gramática.
Produção de Textos:
- Conto.
62
- Nossa Senhora Auxiliadora.
- Nossa Senhora de Loreto: Croácia terá um dos maiores monumentos
do mundo.
- A “água milagrosa” de Lourdes: Significado sobrenatural.
- Poema à Virgem Maria.
Sagradas Escrituras:
- Salmo 47.
- Salmo 48, 1-10
- Salmo 48, 11-21.
- Salmo 49, 1-12.
Leitura Mensal:
- São Pedro de Alcântara.
Gramática:
- Significado do texto.
- Organização dos parágrafos.
- Tipos de frases.
- Oração.
- Tipos de oração.
- Período.
- Avaliação de Gramática.
Produção de Textos:
- Conto.
- Avaliação de Produção de Textos.
Sagradas Escrituras:
- Salmo 49, 13-23.
- Salmo 53.
- Salmo 54, 1-11.
- Salmo 54, 12-24.
Leitura Mensal:
- São Bernardo
Gramática:
- Artigos.
- Artigo definidor.
- Artigo indefinidor.
Volume 6 - Pontuação.
- Sinais de pontuação.
- Ponto final.
- Ponto de interrogação.
- Ponto de exclamação.
63
- Reticências.
- Vírgula.
- Ponto e vírgula.
- Travessão.
- Dois-pontos.
- Parênteses.
- Aspas (duplas) e aspas simples.
- Chave.
- Asterisco.
- Avaliação de Gramática.
Produção de Textos:
- Fábula.
Sagradas Escrituras:
- Salmo 59, 1-14.
- Salmo 60.
- Salmo 61.
- Salmo 62.
Leitura Mensal:
-São Filipe de Néri.
Gramática:
- Acentuação de palavras.
- Acentos agudo, circunflexo e grave.
- Regras gerais de acentuação gráfica.
- Outros sinais gráficos.
- Avaliação de Gramática.
Produção de Textos:
- Fábula.
- Avaliação de Produção de Textos.
Sagradas Escrituras:
- Salmo 1.
- Salmo 2.
- Salmo 3.
- Salmo 4.
64
Leitura Mensal:
- Santa Maria Madalena de Pazzi.
Gramática:
- Numeral.
- Quantidade.
- Ordem.
- Multiplicação.
- Fração.
- Classificação dos numerais.
- Funções dos numerais.
- Numeral adjetivo.
- Numeral substantivo.
- Flexão dos numerais.
- Flexão de gênero.
- Flexão de número.
- Avaliação de Gramática.
Produção de Textos:
- Resumo.
Volume 8
Aprendendo com a Igreja e com os Santos e com a Igreja:
- 14 Santos auxiliares.
- Como aumentar minha fé?
- A ação divina oferece-nos a cada instante bens infinitos, e dá-no-los à
medida da nossa fé e do nosso amor.
- Hino: Benigno Criador – Vésperas.
Sagradas Escrituras:
- Salmo 10.
- Salmo 11.
- Salmo 12.
- Salmo 13.
Leitura Mensal:
- São Francisco de Sales.
Gramática:
- Palavras terminadas em S e Z.
- Palavras terminadas em S.
- Palavras terminadas em Z.
- Letras L e U no final das palavras.
- Mal ou Mau.
- Dicas para diferenciar L e U na fala.
Volume 9 - Palavras terminadas em L.
- Palavras terminadas em U.
- Terminações AM e ÃO em verbos e substantivos.
- Terminações oso (osa) e esa e eza em adjetivos.
- Avaliação de Gramática.
Produção de Textos:
- Resumo
65
- Avaliação de Produção de Textos.
Sagradas Escrituras:
- Salmo 18.
- Salmo 19.
- Salmo 20.
- Salmo 21 (até versículo 15).
Leitura Mensal:
- Santo Inácio de Loiola.
Gramática:
- Avaliação final de Gramática.
Produção de Textos:
Volume 10
- Avaliação final de Produção de Textos.
Sagradas Escrituras:
- Salmo 21, 16-31.
- Salmo 24, 1-10.
- Salmo 24, 11-22.
- Salmo 25.
Leitura Mensal:
- São Tomás de Aquino.
66
Orientações para a disciplina de Língua
Portuguesa
OBSERVAÇÃO:
As considerações em vermelho estão presentes apenas para uso do responsável.
Para cooperarmos com a graça, para formar crianças santas, dotadas de sabedoria e
virtudes, precisaremos, para esta disciplina, de muita dedicação e de empenho diário, distribuído
em leitura, interpretação, produção de textos e realização de atividades. Com a graça de Deus, os
frutos serão abundantes e todo esforço valerá a pena!
“Conhecer a Deus intimamente, amá-Lo acima de tudo e de todos e desejar viver com
Ele por toda a eternidade!”. Este objetivo é o que toda a equipe do Instituto Cidade de Deus
almeja e é também o que perpassará todos os conteúdos da disciplina de Língua Portuguesa.
A Gramática é, antes de tudo, a arte da escrita. É organizada de modo a normatizar a fala e,
para tanto, realiza-se como arte estritamente normativa da escrita: a obediência às regras é sua
base. Sendo assim, deve ser ensinada desde a infância (com a necessária gradação no decorrer do
tempo), paralelamente à leitura dos melhores autores e ao exercício da escrita.
Para tanto, o material didático de Língua Portuguesa é organizado de modo a contemplá-la em
todas as suas seções: Gramática, Produção de Textos, Aprendendo com os Santos e com a Igreja,
Sagradas Escrituras e Leitura Mensal.
Ao longo dos volumes também serão apresentadas leituras como ponto inicial de reflexão,
sendo esta, como nos ensina Hugo de São Vitor, o estímulo da primeira operação da inteligência,
que é o pensamento. É por meio de cada leitura cuidadosamente proposta que a criança poderá
meditar e despertar a um amor profundo por Deus, por Sua Santa Igreja, por Sua Santa doutrina e
Tradição. Como explicamos na introdução, todo o conteúdo curricular estará mergulhado nesta
essência católica.
Conhecer os exemplos mais significativos e concretos de santidade, de pessoas que fizeram
a diferença onde estiveram e que são perfeitos cristãos, como nos exorta o Santo Padre Pio XI em
sua Encíclica Divini Illius Magistri, poderá levar o estudante a fugir de sensos e estereótipos
comuns modernos e a aderir a uma vida que busca, com a graça de Deus, a verdadeira sabedoria e
santidade.
No atual universo globalista, onde o prazer e a centralidade da “vontade” estão acima de
tudo, os responsáveis terão uma grande e árdua missão de educar e formar cristãos católicos, o que
aparece cada vez mais na contramão do mundo moderno. Educar, cooperando com a graça
divina, para a sabedoria e para a santidade, além de humildade, exigirá renúncias,
docilidade, obediência e perseverança por parte da criança. A autoridade será aquela que irá a
frente, indicando o caminho, sendo antes de tudo o exemplo que seguramente pode ser seguido.
Para auxiliar este aprendizado, nesta introdução são propostas indicações boas e úteis para
melhor organização e aplicação da disciplina. Para iniciar o trabalho, leia atentamente cada tópico:
67
Como se organiza o material de Língua Portuguesa?
Para alcançarmos todos os objetivos e conteúdos disciplinares, organizamos cada volume
em cinco partes diferentes, embora complementares e indissolúveis:
Lista de livros sugeridos para serem trabalhados durante esta etapa do Ensino Fundamental
(pode sofrer alterações sem aviso prévio):
Volume 1
Título: São Agostinho
Disponível para aquisição no site Katechesis: https://katechesis.com.br/clubinho-katechesis/
Volume 2
Título: Mês de São José
Autor: Monsenhor José Basílio Pereira
Editora: Permanência
68
Título: São Francisco Xavier
Disponível: https://katechesis.com.br/clubinho-katechesis/
Volume 3
Título: História Maravilhosa dos Mártires do Japão.
Disponível: https://katechesis.com.br/clubinho-katechesis/
Volume 4
Título: São Pedro de Alcântara.
Disponível: https://katechesis.com.br/clubinho-katechesis/
Volume 5
Título: São Bernardo
Disponível: https://katechesis.com.br/clubinho-katechesis/
Volume 6
Título: São Filipe de Néri
Disponível: https://katechesis.com.br/clubinho-katechesis/
Volume 7
Título: Santa Maria Madalena de Pazzi
Disponível: https://katechesis.com.br/clubinho-katechesis/
Volume 8
Título: São Francisco de Sales
Disponível: https://katechesis.com.br/clubinho-katechesis/
Volume 9
Título: Santo Inácio de Loiola
Disponível: https://katechesis.com.br/clubinho-katechesis/
69
Volume 10
Título: São Tomás de Aquino
https://katechesis.com.br/clubinho-katechesis/
2- Produção de Textos: propomos que seja trabalhada uma ou duas vezes por semana
(dependendo da dificuldade da criança, aumentar);
5- Leitura mensal: pode ser feita como trabalho mensal ou semanal, a critério do
responsável.
ATENÇÃO RESPONSÁVEL:
Realize um planejamento mensal de cada volume: organize e distribua as Seções e as
atividades conforme o seu planejamento, escolhendo o dia em que trabalhará cada uma,
considerando a frequência orientada anteriormente.
Conte com o auxílio do Instituto para resolução de dúvidas e orientações, por meio da
tutoria e apoio dos nossos docentes.
Estabeleça uma rotina e seja fiel ao tempo e dias de estudo, desta forma a criança aprenderá
disciplina, conseguirá ordenar as coisas e se organizar.
70
Qual é o significado desta imagem?
Responsável: Fique atento aos registros que a criança fará no caderno! Leia tudo o que ela
escrever, motive-a, corrija-a com docilidade, firmeza, e interceda sempre, pois será um dos
maiores responsáveis por todas as virtudes que ela poderá alcançar, com a Graça e Providência de
Deus!
71
Dicas para os responsáveis
72
procura em dicionários, para que seja mais difícil esquecer o que é aprendido! Muitos
optam sempre pelo mais rápido e fácil, o que não combina com um aprendizado efetivo,
que busca cooperar para a formação de sábio e santos!
A maioria dos erros podem ser evitados com a releitura do texto feita com muita atenção,
antes de mostra-lo ao responsável. Quando identificar um problema que seria facilmente
evitado com a releitura, destaque o parágrafo e peça para que o releia, tentando perceber
se algo está errado. Quando notar o equívoco, peça que corrija imediatamente. Na
ansiedade de acabar as atividades propostas, muitas vezes a criança pula algumas palavras,
não conjuga alguns verbos, não faz a concordância correta do sujeito com o verbo, costuma
utilizar palavras e expressões da oralidade informal (exemplos: tipo assim... aí, né... daí...),
dentre outros erros que são mais claramente observáveis e que devem ser sempre
corrigidos.
Nunca subestime a criança! Este é um dos maiores erros pois, julgando a incapacidade
da criança a nivelam “por baixo”, tornando o ensino limitadíssimo e fraco. Não significa
que deve estipular metas inalcançáveis, mas que, de modo equilibrado, deve sempre levar
em conta que a inteligência é um dom dado por Deus e que se perseverar, aprenderá e dará
muitos frutos. Não caia na tentação de pensar “isto é muito difícil, nunca aprenderá!”!
Confie em Deus e nas graças que a Virgem Santíssima concederá aos que lhe pedirem de
todo o coração. Coragem!
Caligrafia: Ter uma bela grafia exige esforço, treino e atenção! Caso a criança apresente
dificuldades ao escrever qualquer letra, ou tenha se habituado a uma grafia incorreta,
sugerimos que uma vez por semana o responsável indique um texto (ou ao menos alguns
parágrafos) da Seção “Aprendendo com os Santos e com a Igreja” que deverá ser copiado
em um caderno de caligrafia.
É importante que sempre obedeça às linhas da seguinte forma:
A linha central servirá para escrever as letras minúsculas, e deverá sempre ocupar toda a
altura desta linha.
Exemplo: como se deve escrever as letras minúsculas:
A linha superior, localizada acima da linha central, servirá para fazer as letras maiúsculas
e as letras minúsculas de maior altura (como o l, t, h, etc). Estas letras devem encostar na
linha superior.
73
Exemplo: como se deve escrever as letras maiúsculas.
A linha inferior, abaixo da linha central, servirá para desenhar partes de algumas das
letras, como no caso do f, g, p e q. Deverá sempre começar escrevendo pela linha central
e depois puxar a parte debaixo da letra, ocupando parte do espaço inferior.
Peça ajuda: muitas vezes a humildade abrirá todas as portas necessárias para um efetivo
aprendizado. O encaminhamento de dúvidas para os professores responsáveis pela
disciplina poderá ajudar muito e poupar horas de trabalho em excesso por parte do
responsável.
Apresentamos, a seguir, um modelo de roteiro que os amparará na correção de textos e
análise de leitura. Estes roteiros poderão auxiliar qualquer disciplina.
74
Roteiro para correção de textos
- Aspectos positivos.
- Grafia (Letra legível? Diferencia letras maiúsculas e
minúsculas...).
- Pontuação (Vírgula, ponto final, interrogação...).
- Coerência (Tem sentido? Começo, meio e fim?).
- Abordagem do tema (concluiu o objetivo da atividade?).
- Aspectos que devem ser melhorados.
75
76
Atividades avaliativas
Avaliações mensais
Após a realização das atividades mensais, atividades avaliativas são propostas em todos os
volumes que deverão ser cuidadosamente analisadas pelos responsáveis:
Avaliação da Seção “Gramática”: avaliação mensal que visa verificar os
conhecimentos construídos.
Avaliação da Seção “Produção de Textos”: avaliação bimestral que visa verificar os
conhecimentos construídos nas seções Gramática e Produção de Textos.
Minigramática: um resumo dos principais conceitos gramaticais vistos no volume,
feito separadamente. Este resumo se unirá com os resumos dos próximos volumes e
formará uma minigramática ao término desta Etapa.
Frutos de conversão: atividade separada que demonstra os frutos que a história mensal
e as biografias lidas geraram na vida da criança (formará um livro no término desta
Etapa).
77
Tabelas de correções que poderão auxiliar o
trabalho docente
78
Confusão (o texto
apresenta ideias
confusas?).
Ausência de palavras
(por algum motivo,
palavras importantes
foram esquecidas?).
Outras observações
importantes:
ATENÇÃO:
Caso queira atribuir uma nota à produção elaborada, estabeleça um ponto (1,0) para cada
item analisado, sendo que, em cada item, deverá analisar se o texto está:
0 – Insatisfatório.
0,5 – Satisfatório.
1,0 - Plenamente satisfatório.
Os aspectos positivos (primeiro item) poderão acrescentar até um ponto bônus, caso se
destaque em algum quesito.
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Tabela de avaliação de leitura
Pontuação, entonação,
ritmo da leitura.
Intensidade/ altura da
voz.
Velocidade da leitura.
ATENÇÃO:
Caso queira atribuir uma nota à leitura gravada, estabeleça dois pontos (2,0) para cada item
analisado, sendo que, em cada item, deverá analisar se a leitura está:
0 – Insatisfatória.
1,0 – Satisfatória.
2,0 - Plenamente satisfatória.
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Recomendações iniciais
1- Antes de iniciar, ofereça seu estudo a Deus, peça a presença do Divino Espírito Santo, busque
o silêncio e a concentração. Realize as orações propostas na introdução e entregue seu coração
e entendimento nas mãos de Nossa Senhora, para que Ela o conduza pelo caminho da sabedoria e
da santidade.
2- Cuide com muito zelo desta apostila e do seu caderno; os mantenha limpos e organizados! Eles
serão grandes instrumentos do amor de Deus que o conduzirá ao conhecimento da Verdade.
3- Na primeira página de seu caderno desenhe ou cole uma imagem que o inspira ou o motiva a
seguir esta Etapa; um exemplo de persistência, de perseverança e de virtudes! Esta imagem irá
motivá-lo ao longo do ano.
4- A organização de sua rotina será essencial para um bom trabalho. Para tal fim, organize com o
seu responsável um horário (cronograma semanal) que deverá seguir para contemplar todas as
atividades e leituras propostas. Não passe para os próximos itens antes de formalizar este
horário!
5- Se apresentar qualquer dificuldade ortográfica (como letra ilegível, má utilização das linhas e
espaços para a escrita, falta de alinhamento, etc.), sugerimos que as produções textuais e as
atividades sejam realizadas no caderno de caligrafia.
Atenção:
No primeiro volume (seção “Gramática”) será apresentada uma revisão dos aspectos
gramaticais e conceitos essenciais desenvolvidos na Etapa anterior.
81
82
83
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Gramática
Hugo de São Vitor, em seu livro Didascalicon - Arte de ler, escreve:
Muitas vezes pedimos a Deus a graça de nos livrarmos de nossos pecados, vícios e
imperfeições, para que nos tornemos virtuosos, pessoas que buscam a Verdade, o Bom, o Belo,
por meio de uma santa sabedoria, dada por Deus. O problema é que pouquíssimas pessoas
percebem, de fato, o alcance destes vícios e imperfeições, que atingem diretamente a nossa
disciplina, principalmente por meio de falsas promessas modernistas e relativistas.
É abundante o número de livros pecaminosos e nada virtuosos, de leituras que ferem a
essência e a dignidade da pessoa humana, personagens que em nada são exemplos de vida, e o
bombardeio diário de falsas garantias de felicidade por meio de uma liberdade desenfreada que faz
com que as crianças e jovens fiquem cada vez mais perdidos e desorientados.
A gramática de uma língua não está fora desta rede de confusões na qual o ser humano está
preso. Quem nunca ouviu falar que “o que importa é a comunicação”, que “não precisamos de
regras”, que “o que realmente importa é estar bem e falar como quiser”? Ao relativizarmos o uso
gramatical, não percebemos o mal que está sendo dia após dia gerado.
É possível imaginar o trânsito sem regras, onde não há regras para estacionar, onde o
semáforo é só um enfeite, onde o pedestre é um mero acessório e cada um faz o que gosta, do
modo que se sinta “bem”? O que é correto? O que é inadequado? Dirigir e mesmo caminhar pela
cidade seria um caos! O problema é que muitos desejam fazer o mesmo com a Língua Portuguesa,
evitando e ignorando tudo aquilo que organiza, norteia e justifica a linguagem. O trânsito sem as
leis equivale à língua sem a gramática! O caos se instaura.
Peçamos a Deus a graça de nos livrar de todos os vícios que nos impedem de estar mais
próximos d’Ele, para realizarmos a Sua Vontade em todas as áreas de nossas vidas e assim
sermos santos sábios que farão a diferença no mundo! Peça esta graça por meio de uma oração
escrita, em seu caderno.
Nos anos anteriores foram aprendidos alguns princípios importantíssimos que irão ajudá-
lo a penetrar mais profundamente no universo da Língua Portuguesa. Por isto, separamos os
conceitos e princípios mais significativos da Etapa anterior para revisar.
85
REVISÃO
Substantivos
Observe as sentenças:
“No ano seiscentos da vida de Noé, no segundo mês, aos dezessete do mês romperam-se
todas as fontes do grande abismo, abriram-se as cataratas do céu, e caiu chuva sobre a terra
durante quarenta dias e quarenta noites.” (Gênesis 6, 11-12)
“Mas não é assim a respeito do meu servo Moisés, o qual é fidelíssimo em toda a minha
casa.” (Números 12, 7)
“Aconteceu que, estando (Jesus) sentado à mesa em casa deste homem, eis que, vindo
muitos publicanos e pecadores, se sentaram à mesa com Jesus e com os seus discípulos.” (São
Mateus 9, 10)
“Seis dias depois, tomou Jesus consigo Pedro, Tiago e João, seu irmão, e levou-os a um
alto monte, e transfigurou-se diante deles.” (São Mateus 17, 1)
As palavras destacadas acima são os substantivos, isto é, são as palavras que dão nomes
às coisas ou aos entes (ente é aquilo que tem ser). Podemos entender como ser “a coisa existente,
aquilo que existe, aquilo que exerce o ato de existir ou que é concebido como podendo exercê-lo”.
(TOMÁS DE AQUINO, Santo. Suma Teólogica I; Vocabulário)
Classes gramaticais
As palavras da língua portuguesa são divididas em classes, denominadas classes
gramaticais ou classe de palavras. Algumas classes gramaticais são variáveis, isto é, as palavras
admitem alteração em sua forma. Outras são invariáveis, pois as palavras pertencentes a elas
não sofrem alteração. Na língua portuguesa, há dez classes gramaticais e a primeira delas, o
substantivo, estudaremos neste capítulo.
Como já explicado, estas palavras que representam os seres pertencem à classe gramatical
chamada substantivo.
86
Observe exemplos de seres:
Seres materiais – Jacinta / jovens / arbustos.
Seres espirituais – Deus/ anjo.
Para relembrar...
Os substantivos concretos são aqueles que designam seres que têm existência
independente, ou que o pensamento apresenta como tal. Estes seres podem ser reais ou não,
materiais ou não. Os substantivos abstratos são aqueles que designam nomes de qualidades,
ações ou estados – umas e outros imaginados independentemente dos seres de que provêm, ou
em que se manifestam. Os substantivos comuns expressam espécie, enquanto os substantivos
próprios expressam indivíduo. Por fim, os substantivos coletivos são aqueles que exprimem
uma coleção de seres.
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Humildade O sorrir O sonho
Generosidade A adoração A felicidade
O substantivo é uma classe gramatical variável. A palavra é variável quando sofre flexão, ou
seja, quando admite variação na sua estrutura e não fica sempre do mesmo modo, como por
exemplo a palavra rapidamente, a qual não existe a variação rapidamentão ou outra forma, pois
trata-se de um advérbio, classe que é invariável.
Veja:
Flexão de gênero: Santo – substantivo masculino.
Santa – substantivo feminino.
Menino – substantivo masculino.
Menina – substantivo feminino.
Flexão de número: Santo – substantivo singular.
Santos – substantivo plural.
Menino – substantivo singular.
Meninas – substantivo plural.
Dizemos, portanto, que a palavra que denomina o ser (substantivo) pode variar em gênero,
determinando ser masculino ou feminino; e em número, determinando ser singular ou plural.
Responda por escrito em seu caderno:
5. Classifique os substantivos abaixo de acordo com seu gênero e número:
a) dama;
b) cidades;
c) animais;
d) Maria;
e) José;
f) multidão;
g) livros;
h) água;
i) leituras;
j) escritório.
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Quando escrevemos sobre os seres, utilizamos palavras que representam a classe
gramatical chamada Substantivo, uma vez que substantivo “é a palavra que expressa os nomes
dos seres”, como já foi aprendido.
Exemplos:
Substantivos Comuns – representam ser de qualquer espécie, como peixe.
Substantivos Próprios – representam ser específico da espécie, como nomes de pessoas,
como Catarina.
Utilizamos os substantivos para escrever sobre os seres, sejam eles materiais, espirituais,
inanimados, dentre outros. Sendo assim, quando queremos determinar ou modificar os
substantivos, ou seja, atribuir características e qualificar estes seres, utilizamos uma nova classe
gramatical, denominada ADJETIVO.
Adjetivos
“Os adjetivos são as palavras que determinam ou modificam os substantivos, isto é, que
os caracterizam.”
(Nougué, p. 221, 2015)
Os adjetivos dividem-se em:
• QUALIFICATIVOS: aqueles que modificam a essência do ser, ou seja, uma qualidade:
obra profunda, mar azul, gato gordo, etc.
“Nós, teus servos, somos proprietários de gado, e desde a nossa infância até ao presente,
assim nós, como nossos pais.” (Gênesis 46, 34)
“Que me importa estar no purgatório até o dia do juízo, se com as minhas orações pudesse
ser salva mesmo uma única alma?” (Santa Teresa de Jesus)
“Tenho encontrado a esta Virgem soberana, sempre que me tenho encomendado a Ela.”
(Santa Teresa de Jesus)
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“Esse Jesus Cristo, tendo subido ao céu, está assentado à direita de Deus, depois de ter
recebido a submissão dos anjos, dos principados e das potestades.” (I São Pedro 3, 22)
“Esse homem tornou-se assim extremamente rico, e teve muitos rebanhos, escravas e
escravos, camelos e jumentos.” (Gênesis 30, 43)
“Não recebas acusação contra um presbítero, senão por duas ou três testemunhas.” (I São
Timóteo 5, 19)
“Essa mulher fez o que lhe disse o homem de Deus: emigrou com sua família e habitou sete
anos na terra dos filisteus.” (II Reis 8, 2)
Importante: nós vimos que os adjetivos são a classe gramatical das palavras que dão
qualidades ao ser e ao substantivo; no entanto, precisamos diferenciar o substantivo e o adjetivo.
O substantivo, como sabemos, é a classe gramatical que nomeia os seres: bondade, piedade e
generosidade são substantivos (são nomes de características e qualidades – virtudes). Sendo o
adjetivo aquele que qualifica o ser, temos os seguintes exemplos: bondoso, piedoso e generoso.
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f) Alegria.
g) Paciente.
Exemplos:
“Ele tinha um filho chamado Saul, jovem e belo. Não havia entre os filhos de Israel outro
mais belo que ele.” (1 Samuel, 9, 2)
“Mardoqueu, saindo do palácio e da presença do rei, resplandecia com vestes reais, azuis
e brancas, levando uma coroa de ouro na cabeça, e cobrindo-se com um manto de seda e de
púrpura.” (Ester 8, 15)
“Se eu disser: ‘Vou esquecer meus lamentos, mudar em alegre o meu ar triste’.” (Jó 9, 27)
-Belo, azuis e triste são adjetivos primitivos (não provêm de nenhuma outra palavra da língua).
Outros derivam de palavras existentes na língua, exemplo:
“O sol converter-se-á em trevas e a lua, em sangue, ao se aproximar o grandioso e temível
dia do Senhor.” (Joel 3, 4)
91
- Grandioso e temível são adjetivos derivados (aqueles formados a partir de uma palavra já
existente na língua):
-Temível vem de temer (palavra primitiva).
-Grandioso vem de grande (adjetivo primitivo).
Verbo
Quando queremos nos expressar e dizer sobre ações que realizamos, que desejamos realizar
ou que vimos alguém realizar, recorremos à classe gramatical dos Verbos.
Os verbos podem exprimir ações, estados e fenômenos naturais. Até este momento deve-
se ter claro como os verbos expressam ações.
Exemplos:
“Bem-aventurado o homem que achou a sabedoria, que alcançou a inteligência. Vale
mais a sua aquisição que a da prata e os seus frutos são melhores que o ouro puro.” (Provérbios 3,
13)
“Lutou a minha alma por ela, conservei-me constante em a praticar.” (Eclesiástico 51, 25)
92
“Quando criança, minha mãe tinha o costume de nos fazer rezar e de nos ensinar a ser
devotos de Nossa Senhora.” (Santa Teresa de Jesus)
Verbos que expressam ações: achou, alcançou, vale, lutou, desceu, falou, rezar, ensinar.
13. Escolha uma das leituras deste volume e circule vinte verbos que expressam ação.
93
Orientações para a avaliação
94
Nome:_____________________________________________________
Instituição: _________________________________________________
Etapa:_____________ Data:________________________________
Avaliação de gramática
4. O que é um adjetivo?
7. Escreva três frases que contenham exemplos de verbos que expressam ação.
95
96
Minigramática
Após a conclusão de todas as leituras e atividades propostas na Seção “Gramática”, elabore
um resumo que contenha os principais conceitos gramaticais estudados neste volume.
Os exemplos que deverão ilustrar o resumo devem ser retirados dos textos que foram lidos
neste volume (Seções: Aprendendo com os Santos e com a Igreja, Sagradas Escrituras, Leitura
Mensal ou Produção de Textos) de modo a destacar os princípios gramaticais estudados e analisar
como a teoria aprendida se faz presente nos exercícios práticos diários.
Guarde o resumo em uma pasta para unir com os dos próximos volumes organizando, ao
término do ano, uma Minigramática.
97
98
99
100
Produção de Textos
Nesta Seção “Produção de Textos” são apresentados critérios de identificação, análise,
elaboração e edição de textos, sob a arte da Gramática.
A boa escrita tem a capacidade de registrar e dar continuidade à língua, assim como
transmitir com clareza a doutrina, os pensamentos, os poemas e as histórias, a fim de fixá-los e
aprimorá-los em seu entendimento que vai além da simples fala.
Segundo Carlos Nougué (2015, p. 44), para falar, além do uso da razão, se faz necessário
o uso de uma série de elementos do corpo próprios para tal ação. A escrita, porém, tem sua
necessidade além da razão e das partes do corpo, exigindo bons materiais para materializá-la, como
lápis, caneta, máquina de escrever, computador e papel, demonstrando que para ela, é necessário
o aprimoramento além do que é natural.
Nosso estudo acontecerá a partir de diversos Gêneros Textuais. A palavra gênero tem sua
origem na palavra latina “generus”, que significa família, raça, ou seja, união de elementos que
apresentam as mesmas características. Os textos também são divididos em gêneros de acordo com
o assunto ou o modo com os quais o autor se expressa.
Gêneros Textuais são categorias de diferentes classificações de textos, isto é, são, modelos
abrangentes que definem e distinguem a estrutura e os aspectos da narração, da descrição, da
dissertação e apresentam uma função bem definida, que se adequa ao uso que deles se faz.
São exemplos de gêneros textuais os romances, os contos, as crônicas, as poesias, as cartas,
as memórias, as catequeses, os discursos, e muitos outros, que estudaremos ao longo das Etapas
subsequentes.
Neste Volume revisaremos alguns conteúdos abordados nas Etapas anteriores.
Revisão
Narrativa
A narrativa é o tipo de texto que expõe uma série de fatos reais ou imaginários, como um
conto ou uma história. O estudo da narrativa será aprofundado nos próximos volumes da coleção.
Elementos da Narrativa
Para melhor entender a narrativa é necessário o conhecimento dos elementos que a
constituem: narrador, personagens, tempo, espaço e enredo. Conhecendo-os é possível perceber o
modo como se organizam para construir uma história e transmitir uma mensagem.
101
Narrador
Narrador é aquele que narra ou conta a história; é o locutor que explica, descreve ou
comenta aquilo que é mostrado.
Os tipos de narrador são:
Narrador-personagem: O narrador-personagem conta uma história da qual participa
como personagem.
Narrador-observador: O narrador-observador conta a história do lado de fora, sem
participar das ações.
Narrador-onisciente: O narrador-onisciente conta a história de outros e, às vezes, permite
certas intromissões narrando em 1ª pessoa (eu que escrevo). Ele conhece tudo sobre os personagens
e sobre o enredo, sabe o que se passa no íntimo das personagens, conhece suas emoções e
pensamentos, por isso é denominado “onisciente”.
Personagens
Os personagens são os seres que vivenciam a história contada pelo narrador. A
classificação dos personagens acontece através da importância e da função que estes desempenham
na narrativa:
Protagonista: É o personagem central, principal, da trama. O protagonista pode ser
caracterizado como herói que se destaca por atitudes virtuosas.
Exemplo: No livro “Margarida Alacoque: o amor do coração de Jesus”, a protagonista da
história é Santa Margarida Alacoque.
Antagonista: É o personagem que cria o conflito da trama, opondo-se ao protagonista. A
palavra antagonismo significa oposição, rivalidade, incompatibilidade. Não se faz
necessariamente presente em toda narrativa.
Exemplo: Na história da criação podemos classificar como antagonista Lúcifer, pois este se
opõe ao Bem supremo, que é Deus.
Secundário: São personagens sem grande relevância na narrativa, no entanto participam
da ação e possuem relação com o desenvolvimento da trama.
Exemplo: No conto “Um chapéu para Dom Bosco”, Padre Francesco é um exemplo de
personagem secundário, no entanto ele está envolvido com a trama.
Figurantes: São os personagens que vivenciam ações da narrativa, sem interferir nelas
ativamente.
Ao caracterizarmos (ou identificarmos) personagens, podemos descrever:
Características físicas: Cor da pele, cor do cabelo, cor dos olhos, altura, tipo de cabelo, etc.
Exemplo: “Mandou-o, pois, chamar e apresentou-o (a Samuel). Ele era loiro, de olhos
formosos e belo aspecto. O Senhor disse: Levanta-te, unge-o, porque é esse mesmo (que eu
escolhi). (1Sm 16, 12)
Características psicológicas, emocionais e espirituais: Caráter, humor, comportamento,
102
temperamento, reações, etc.
Exemplo: No livro “Margarida Alacoque: o amor do coração de Jesus”, Santa Margarida
Maria Alacoque é descrita: Margarida tinha caráter amável, tinha vivacidade, era muito risonha e
gostava de brincar.
Tempo
O tempo é a indicação do período histórico, da época do ano ou do período do dia em que se
passam os fatos narrados. O tempo da narrativa pode ser linear – em ordem cronológica – contando
os fatos do início ao fim – ou não linear – começando no meio da ação, avançando e retrocedendo
(flashback) conforme as intenções do narrador.
Espaço
O espaço é a indicação de lugar (país, região ou ambiente) em que ocorrem os fatos narrados.
Enredo
O enredo é a estruturação dos acontecimentos da narrativa, de modo a prender a atenção do
leitor. O enredo das narrativas tradicionais apresenta, em geral, a sequência: apresentação –
complicação (ou conflito) – clímax e desenlace (ou desfecho).
Apresentação: introdução da história ao leitor, levando-o a conhecer sobre o que o texto irá
tratar.
Complicação (ou conflito): desenvolvimento das ações e dos conflitos que levarão ao clímax.
Clímax: momento mais tenso da trama, o qual exige uma solução no texto. Este é o ponto em
que a ação atinge seu momento crítico.
Desenlace (ou desfecho): momento em que o conflito é solucionado e o enredo é findado.
O estudo do Enredo será aprofundado nos próximos volumes da coleção.
103
Naquele ano de 1841, por falta de vigário na minha paróquia,
o substituí durante cinco meses.
Gostava muito do trabalho. Pregava todos os domingos,
visitava os enfermos, ministrava-lhes os santos Sacramentos, exceto
o da confissão, já que eu ainda não tinha passado pelo exame para
isso. Assistia aos enterros, mantinha em dia os livros paroquiais,
fornecia certificado de pobreza e outros do gênero.
Mas o que mais gostava era dar catecismo aos meninos,
entreter-me com eles, falar com eles. Vinham visitar-me de
Murialdo e me rodeavam sempre ao ir para casa. Começava a fazer
companheiros e amigos nas aldeias. Ao sair da casa paroquial ia
sempre acompanhado por uma fila de meninos, e aonde quer que eu
fosse, estava sempre rodeado dos meus amiguinhos.
Como tinha muita facilidade para expor a palavra de Deus, era frequentemente convidado
a pregar e a fazer sermões em louvor de Santo, nos povoados vizinhos.
No fim de outubro daquele ano, convidaram-me a fazer em Lavriano o elogio de São
Benigno. Aceitei de bom grado, porque aquele era o povoado do meu amigo e companheiro Dom
João Grassino, hoje pároco de Scalenghe.
Desejava honrar aquela solenidade, e, para isso, preparei e escrevi esmeradamente um
sermão em dialeto piemontês; estudei-o bem, certo da fama que conquistaria. Mas Deus quis dar
uma terrível lição à minha vaidade.
Como era dia festivo, para comodidade do povo, eu devia celebrar a Missa antes de partir.
Por isso precisei utilizar um cavalo para chegar a tempo da pregação.
Percorrida a metade do caminho a trote ou a galope, cheguei ao vale de Casalborgone, entre
Cinzano e Besano, quando de repente, de um campo semeado de milho, se levantou um bando de
pássaros, e meu cavalo, espantado, se pôs a correr desembestado por campos e semeaduras.
Mantive-me algum tempo sobre a cela, mas quando percebi que esta escorregava sob o
ventre do animal, tentei uma manobra de equitação; a cela, fora do seu lugar, me empurrou no ar
e caí sobre um monte de pedras.
Um homem que do alto de uma colina próxima assistira ao infeliz acidente, veio com seu
criado socorrer-me, e me levou desacordado à sua casa, onde me instalou na melhor cama que
tinha. Cuidaram de mim com toda a caridade, até que, depois de uma hora, voltei a mim e notei
que estava em casa estranha.
– Não se aflija, disse o homem que me acolhia; não se preocupe por estar em casa alheia.
Aqui não lhe faltará nada. Já mandei uma pessoa chamar o médico; e outra foi procurar o seu
cavalo. Sou um camponês, mas disponho de todo o necessário. Sente-se muito mal?
– Deus lhe pague essa caridade, meu bom amigo. Não creio que seja grave; talvez alguma
costela quebrada, pois tenho dificuldade de me mexer. Mas, onde é que estou?
– O Sr. está na colina de Bersano, em casa de João Calosso, conhecido pela alcunha de
Brina, seu humilde servidor. Também eu rodei por esse mundo e necessitei dos outros. Ah!
Quantas aventuras me aconteceram por essas feiras e mercados!
– Pois conte-me alguma coisa enquanto esperamos o médico.
– Tinha tantas para contar... Ouça uma. Faz alguns anos, fui no outono a Asti, com minha
burrica, a fim de fazer provisões para o inverno. Na volta, ao chegar aos vales de Murialdo, meu
pobre animal, que estava muito carregado, caiu num lodaçal, e ficou imóvel no meio do caminho.
Todos os esforços para levantá-lo foram inúteis. Já era meia-noite de um tempo escuríssimo e
104
chuvoso. Não sabendo o que fazer, pus-me a gritar por socorro. Alguns minutos depois me ouviram
da casa vizinha. Acudiram um jovem seminarista, um irmão seu e outros dois homens, levando
tochas acesas. Ajudaram-me a descarregar a burra, a tirá-la do lodo e me conduziram com todas
as minhas coisas para a sua casa. Eu estava meio morto e muito sujo de barro. Limparam-me,
forneceram-me uma ceia estupenda e depois me deram uma cama muito macia. De manhã, antes
de partir, quis pagar como devia, mas o seminarista recusou, dizendo:
– Quem sabe se amanhã nós é que precisaremos do Sr.?
Nesse ponto eu me senti comovido, e o outro se deu conta de minhas lágrimas.
– Está passando mal? Perguntou.
– Não, respondi; gostei tanto desse relato que ele me comoveu.
– Se eu soubesse o que fazer por aquela família...! Que gente boa!
– Como se chamava?
– Família Bosco, de alcunha Bosquetti. Mas, por que se comove tanto? Talvez o Sr.
conheça essa família? Será que vive bem aquele seminarista?
– Aquele seminarista, meu bom amigo, é o sacerdote a quem o Sr. está pagando com juros
o que ele lhe fez. Foi ele mesmo que o Sr. trouxe à sua casa e colocou nesta cama. A divina
Providência quis fazer-nos conhecer, por esse fato, que quem dá recebe.
Podem todos imaginar o espanto, a alegria daquele bom cristão e a minha ao ver que em
meio à desgraça Deus me tinha feito cair nas mãos de um amigo.
A mulher, uma irmã, outros parentes e amigos tiveram grande alegria ao saber que estava
em casa aquele de quem tantas vezes tinham ouvido falar.
Dispensaram-me atenções de todo o tipo. Logo depois chegou o médico e constatou que
não tinha havido nenhuma fratura. Assim, em poucos dias pude me pôr a caminho de volta para a
minha aldeia com o mesmo cavalo.
João Brina me acompanhou até à minha casa, e enquanto viveu conservamos as mais
afetuosas relações de amizade.
Depois desse aviso, tomei a firme resolução de só preparar meus sermões para a maior
glória de Deus e não para parecer douto ou literato.
105
Texto Narrativo II:
Evangelho de São Marcos 6, 31-44
Ele disse-lhes: “Vinde aparte, a um lugar solitário, e descansai um pouco.” Porque eram
31.
muitos os que iam e vinham, e nem tinham tempo para comer. 32.Entrando pois numa barca,
retiraram-se aparte, a um lugar solitário. 33.Porém viram-nos partir, e muitos souberam para onde
iam, e concorreram lá, a pé, de todas as cidades, e chegaram primeiro que eles. 34.Ao desembarcar,
viu Jesus uma grande multidão. Teve compaixão deles, porque eram como ovelhas sem pastor, e
começou a ensinar-lhes muitas coisas. 35.Fazendo-se tarde, chegaram-se a eles seus discípulos,
dizendo: “Este lugar é solitário e a hora é já adiantada; 36.despede-os, a fim de que vão às quintas
e povoados próximos e comprem alguma coisa para comer.” 37.Ele respondeu-lhes: “Dai-lhes vós
de comer.” Eles disseram: “irem os pois com duzentos dinheiros comprar pão para lhes darmos de
comer?” 38.Jesus perguntou-lhes: “Quantos pães tendes vós? Ide ver.” Depois de terem examinado,
disseram-lhe: “Tem os cinco, e dois peixes.” 39.Então mandou-lhes que os fizessem recostar a
todos, em grupos, sobre a relva verde. 40.E recostaram-se em grupos de cem e de cinquenta. 41.Jesus,
tomando os cinco pães e os dois peixes, elevando os olhos ao céu, abençoou e partiu os pães, e os
deu a seus discípulos para que lhos servissem; igualmente repartiu por todos os dois peixes.
42.
Todos comeram e ficaram saciados. 43.E recolheram doze cestos cheios das sobras dos pães e
dos peixes. 44.Os que tinham comido dos pães eram cinco mil homens.
106
Biografia
A Biografia é o Gênero Textual que narra os acontecimentos da vida de uma pessoa, seja ela
famosa ou apenas uma pessoa comum. A palavra “biografia” é originária da língua grega, sendo
formada pelos termos bios (vida) e graphien (escrever), tendo como seu significado “escrever a
vida”.
As biografias, de modo geral, contêm as seguintes características:
✓ É um texto narrativo.
✓ Os acontecimentos, geralmente, são contados em ordem cronológica, ou seja, respeitando uma
sequência de acontecimentos no decorrer do tempo.
✓ É escrito e narrado por alguém que não é o protagonista.
✓ A biografia não se limita a narrar apenas acontecimentos pessoais, mas também conta as ações
externas que influenciaram ou foram influenciadas pela personagem principal.
✓ Pode conter frases da própria pessoa, ou de alguém falando sobre ela, sempre entre aspas, por
exemplo: “A medida do amor é amar sem medidas”, Santo Agostinho.
✓ Pode conter fotos e imagens para tornar a narrativa mais interessante.
Para fazer uma biografia é necessário conhecer bem a pessoa e a época em que ela viveu, por
meio de estudo em livros, sites e documentos, assim como por entrevistas a familiares, amigos e
conhecidos da pessoa que está sendo biografada.
O autor da biografia – biógrafo – deve transmitir o conhecimento sobre a pessoa abordando
assuntos relevantes, como o local e data de nascimento, informações sobre a infância e juventude,
gostos, anseios, etc.
Autobiografia
107
passado para relembrar sua história.
✓ Na autobiografia não consta apenas os acontecimentos pessoais, mas também as ações
externas que influenciaram ou foram influenciadas pelo autor.
✓ Pode conter fotos e imagens para tornar a narrativa mais interessante.
108
109
110
Aprendendo com os Santos e com a
Igreja
1. São Galo
São Galo era tio de São Gregório de Tours. O pai, George, era
senador, e a mãe, Leocádia, pertenceu à família de Vettins Epagathus,
um dos mártires de Lião de 177. Galo nasceu em 486, moço, vindo a
saber que o pai lhe tratava do casamento, fugiu, em companhia de um
jovem escravo amigo, e foi ocultar-se no mosteiro de Cournon. Pedindo
para ser admitido na comunidade, o abade estava pronto a fazê-lo,
quando, perguntando ao moço fugitivo o nome, a que família pertencia
e donde era, viu que se tratava de um membro da primeira família da
cidade e, pois, hesitou. Disse-lhe: Meu filho, tu tens um bom desejo, mas
é necessário que, antes, teu pai saiba de tudo. Se consentir, consentirei
também com o teu desejo. Interrogado o pai, o abade recebeu a seguinte
resposta: É meu filho mais velho. Queria casá-lo, mas se o Senhor o chamou para seu serviço,
antes se faça a Sua vontade do que a minha. Faze tudo aquilo que meu filho, por inspiração de
Deus, te pedir.
Admitido no mosteiro, Galo foi aplicadíssimo no estudo. Jejuava e praticava a abstinência.
E, o que mais chamava a atenção de todos, era a bela voz que possuía: Galo cantava
maravilhosamente. Um dia, Quintiniano, que foi bispo de Clermont de 515 a 525, ouviu-o cantar.
E tanto se agradou da voz e do moço que acabou por levá-lo consigo. Mais tarde, o rei Thierry I
atrai-lo-ia para si. São Galo foi prelado humilde, caridoso, muito amado pelo povo e venerado
pelos milagres que operou. Um padre, chamado Juliano, foi tomado pela febre, febre que deu de
persegui-lo longamente, sem que o deixasse. Fez de tudo, mas não se curou. Um dia, imaginou
que se deitasse na cama do santo bispo Galo e ali dormisse, mesmo que por um pouco só, haveria
de curar-se.
Aquilo não lhe saía da cabeça. Perseguia-o dia e noite, como a própria febre que não se ia
embora. Resolveu, então, pôr em prática o que imaginara. E assim fez. Depois de um curto sono
na cama do bispo, acordou completamente curado. Quando São Galo adoeceu, perdeu
completamente os cabelos e a barba. Aceitou a última e prolongada doença com toda a
conformidade e paciência, até que a morte lhe abriu as portas do paraíso, a 1 de julho de 553,
quando já entrado nos sessenta e cincos anos de idade.
Do exemplo de São Galo aprendemos a virtude da mansidão. Sem a mansidão não pode
haver paz. Para que a paz se estabeleça e se conserve, é necessário que se tenha paciência com os
defeitos do próximo; que se lhe suportem resignadamente as fraquezas; que se perdoem faltas
cometidas. A mansidão é o único meio de desarmar o inimigo e de conquistar-lhe a simpatia. Evita
tudo o que possa provocar discórdia e inimizade. Geralmente são os seguintes vícios que destroem
a paz na sociedade: a avareza, o egoísmo, a soberba, a inveja, a pretensão, a teimosia, a vingança,
a dureza, a injustiça, a mentira, e a maledicência.
O cristão deve ter toda a cautela, para nenhum destes vícios conseguir alojar-se no seu
coração. Quem quer viver em paz com o próximo, deve saber perdoar, desculpar, ter paciência
com os defeitos alheios e praticar a caridade por palavras e obras, sempre que para isso se
111
apresentar ocasião. Bem-aventurados os mansos, por que serão chamados filhos de Deus (Mt 5,
9).
Se for possível – escreve São Paulo aos Romanos, - quanto estiver da vossa parte, tende
paz com todos os homens... Sigamos as coisas que são de paz (Rm 12, 18; 14, 19). “Rogo-vos que
andeis como convém... com toda a humildade e mansidão, com paciência, sofrendo-vos uns aos
outros em caridade.” (Ef 4, 2) “Longe de vós seja toda a amargura, a ira, a indignação, a gritaria e
a blasfêmia... Antes sede uns para com os outros benignos, misericordiosos, perdoando-vos uns
aos outros, como também Deus por Cristo vos perdoou”. (Ef 4, 31-32)
112
2. Puxão de orelha
Aos poucos, a fama da santidade de
Dom Bosco foi se espalhando por Turim.
Todos já sabiam do seu Oratório, o
lugar onde jovens alegres estudavam,
cantavam, rezavam e brincavam.
Muita gente queria ver Dom Bosco,
ouvi-lo, tocá-lo.
Certo dia, uma família inteira veio
visitá-lo: pai, mãe e duas filhas.
Logo que chegaram, o padre notou
a maneira como as mulheres estavam
vestidas. Roupas chiques, mas meio
escandalosas.
Dom Bosco se abaixa perto da menina mais nova e lhe pergunta, sorrindo:
– Por que você se veste desse jeito?
– Como assim? – ela responde, sem entender direito.
– Pessoas de bem não andam assim por aí. A mãe, entendendo o que Dom Bosco queria
dizer, fica muito sem graça:
– Perdoe-me, padre. Daqui pra frente vou cuidar mais dessas coisas. Pode deixar comigo.
Depois desse dia, a família muitas vezes voltou a visitar Dom Bosco. Mas sempre com
roupas discretas e decentes.
113
3. Prefácio do livro Na Luz Perpétua.
Era necessário recomendar ao povo católico a leitura da Vida dos Santos? Somos da
opinião que sim, principalmente hoje, num tempo em que todos querem ler, todos leem, e desta
circunstância têm se aproveitado, e estão se aproveitando os magnatas da má imprensa, desta
poderosa mensageira do apostolado de Satanás, para implantar nos corações dos homens o amor
ao mundo, e tirar-lhes o que ainda possuam de amor de Deus e de sua santa religião. A apostasia,
e se não tanto, a indiferença religiosa, a aversão das coisas santas estão andando a passos largos.
Por que? Porque muita gente se esqueceu de elevar o seu olhar para o Céu; esqueceu-se do grande
e consolador dogma da Comunhão dos Santos, da grande e gloriosa família de Deus. A leitura da
Vida dos Santos é um dos mais fortes antídotos contra as influências perniciosas da leitura má e
frívola, como a oferecem a maior parte dos romances antigos e modernos, as revistas sem cor, e
os folhetins de orientação acatólica ou neo-pagãs.
Quem uma vez saboreou a delícia que há na leitura da Vida dos Santos, em que se nos
revela o nobre idealismo dos Servos de Deus, o heroísmo da suas virtudes, seu amor ardente a
Deus e ao próximo, dificilmente achará gosto nas obras de uma fantasia exaltada e doentia, nas
narrações inverossímeis e mentirosas, na exaltação e divinização das paixões inomináveis.
O exemplo que os Santos deram na prática das virtudes e na mortificação, impressiona
profundamente e arrasta com força irresistível. “Outros livros, diz Santo Afonso, ensinam-nos a
teoria da virtude; a Vida dos Santos, porém, mostra-nos como esta deve ser praticada, e anima-nos
a entregarmos logo a imitação.”
Não são raros os casos de conversão de grandes pecadores, ocasionada pela leitura da vida
de um ou outro Santo. A mesma leitura tem feito hereges voltarem a verdade e abandonarem o
erro. Os próprios Santos se edificaram lendo a Vida dos seus irmãos, e grande incitativo
experimentaram para se afervorar ainda mais na piedade e na prática do bem.
Nos escritos dos Santos Padres encontramos calorosas recomendações das leituras da Vida
dos Santos. Santo Ambrósio, tratando deste assunto, escreve: “A vida dos Santos é um espelho de
vida para todos. Conhecendo os Justos pela leitura, procuramos imitá-los e enveredar o caminho
que sua inocência nos abriu.” Frequentíssimo era o conselho que São Filipe Neri dava aos seus
penitentes de lerem a Vida dos Santos. É sabido que São João Colombino, Santo Inácio de Loiola
e Santa Teresa de Jesus tiraram maior proveito para sua alma desta mesma leitura, a ponto de se
consagrarem irrevogavelmente a Deus.
114
4. Hino: Salve o dia que é a glória dos dias - Ofício das Leituras
Leitura:
1. Com atenção, repita a leitura mais duas vezes, uma silenciosamente e a outra em voz alta, com
atenção aos sinais de pontuação.
115
2. Com a ajuda de seus responsáveis, faça a aferição de leitura, conforme os aspectos
apontados na tabela presente no Volume 1 (Tabela de aferição e avaliação de leitura),
analisando:
✓ Entendimento do texto a partir da leitura.
✓ Clareza, dicção (pronúncia correta e articulada das palavras)
✓ Pontuação, entonação, ritmo da leitura.
✓ Intensidade/ altura da voz.
✓ Velocidade da leitura.
3. Caso seja possível, registre suas leituras por meio de gravações, para que possa acompanhar
seu desenvolvimento.
116
Este será um dia de louvar e agradecer a Deus por
mais uma etapa concluída em sua vida!
Após ler, rezar, estudar, escrever e refletir sobre muitos Santos que testemunharam sua fé com
a vida, que souberam dizer sim a Deus, que o amaram verdadeiramente e transbordaram todas as
graças recebidas, realize as atividades abaixo:
Escolha o texto que mais despertou em seu coração o desejo de ser santo e escreva os
motivos.
Finalize este Volume escrevendo uma oração de ação de graças e peça a intercessão do
santo do texto que escolheu, para que seja uma criança segundo o coração de Deus, que
busque a Verdade para transformar o mundo!
117
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119
120
Neste volume iniciaremos um estudo mais detalhado sobre as
Sagradas Escrituras, com o objetivo de conhecer profundamente o que Deus
nos diz, nos ensina e aconselha em toda a história da Salvação. Como nos
Sagradas
evidencia São Paulo, na segunda carta a Timóteo:
"As Sagradas Escrituras (...) têm o condão de te proporcionar a
Escrituras
sabedoria que conduz à salvação, pela fé em Jesus Cristo. Toda a
Escritura é inspirada por Deus, e útil para ensinar, para repreender,
para corrigir e para formar na justiça. Por ela, o homem de Deus se
torna perfeito, capacitado para toda boa obra". (II Tm 3, 15 – 17)
121
Salmo 30, 1-13
1
Ao mestre do coro. Salmo de Davide.
2.
A ti recorro, ó Senhor: não permitas que eu seja confundido para sempre; livra-
me, segundo a tua justiça!
3
Inclina para mim o teu ouvido, acorde prontamente a livrar-me. Sê para mim
uma rocha de refúgio, uma cidadela fortificada, para me pores a salvo.
4
Tu és a minha rocha e a minha cidadela, e por causa do teu nome me conduzirás
e me guiarás.
5
Tu me tirarás do laço, que me armaram escondidamente, porque tu és o meu
refúgio.
6
Nas tuas mãos encomendo o meu espírito: vós me libertareis, ó Senhor, Deus
fiel.
7
Aborreces os que adoram ídolos vãos; eu, porém, é no Senhor que confio.
8
Regozijar-me-ei e alegrar-me-ei da tua misericórdia, porque olhaste para a
minha miséria, socorreste a minha alma nas angústias,
9
não me entregaste nas mãos do inimigo, antes puseste os meus pés em lugar
espaçoso.
10
Tem piedade de mim, Senhor, porque estou em angústias: definham de tristeza
os meus olhos, a minha alma e o meu corpo.
11
Sim, a minha vida vai-se consumindo na dor, os meus anos em gemidos.
Debilitou-se a minha força na aflição, os meus ossos consumiram-se.
12
Para todos os meus inimigos tornei-me um objeto de opróbio, de ludibrio
para os meus vizinhos, de terror para os meus conhecidos; os que me veem
de fora (pelos caminhos) foram de mim.
13
Caí no esquecimento dos corações, como um morto, reduzido à condição dum
vaso quebrado.
122
Salmo 30, 14-25
14.
Porque ouvi os assobios de muitos, o terror me rodeia! Concertando-se contra
mim, revolveram tirando-me a vida.
15.
Porém eu confio em ti, Senhor; eu digo: Tu és o meu Deus.
16.
Nas tuas mãos está o meu destino: livra-me das mãos dos meus inimigos e dos
que me perseguem.
17.
Mostra sereno o teu rosto ao teu servo, salva-me pela tua misericórdia.
18.
Senhor, não seja eu confundido, pois que te invoquei; sejam confundidos os
ímpios, sejam reduzidos ao silêncio, lançados no abismo.
19.
Tornem-se mudos os lábios mentirosos, que falam insolentemente contra o
justo, com soberba e com desprezo.
20.
Quão grande é, Senhor, a tua bondade, que tens reservada para os que te temem,
que concedes aos que se refugiam em ti, à vista dos homens!
21.
Sob a proteção do teu rosto os defendes das conjuras dos homens, oculta-los no
tabernáculo contra as altercações das línguas.
22.
Bendito seja o Senhor, porque maravilhosamente me mostrou a sua
misericórdia na cidade fortificada.
23.
Eu disse na minha ansiedade: “Fui expulso da tua presença” Tu, porém, ouviste
a voz da minha oração, quando a li clamava.
24.
Amai o Senhor, vós todos os seus santos! O Senhor guarda os que são fieis, mas
dá abundantemente a paga merecida aos que procedem com soberba.
25.
Esforçai-vos e fortaleça-se o vosso coração, vós todos que esperais no Senhor.
2. Leia o Salmo 30, 14-25 três vezes e reescreva o versículo que mais lhe chamou a atenção.
3. Leia o versículo que está em negrito e escreva o significado de insolência.
4. Decore o Salmo e recite-o para alguém.
5. Encontre, neste Salmo, cinco substantivos masculinos e cinco substantivos femininos.
123
Salmo 31
1.
De Davide. Maskil.
Bem-aventurado aquele cuja iniquidade foi perdoada, cujo pecado foi
coberto.
2.
Bem-aventudado o homem, a quem o Senhor não argui de culpa, e em cujo
espirito não há engano.
3.
Enquanto estive calado, os meus ossos definharam, entre os meus gemidos
contínuos.
4.
Com efeito, a tua mão pesava sobre mim de dia e de noite, consumia-se o meu
vigor como pelos ardores do estio.
5.
Eu te confessei o meu pecado, não ocultei a minha culpa; Eu disse: “Confessarei
ao Senhor a minha iniquidade”, e tu perdoaste a malícia do meu pecado.
6.
Por isto orará a ti todo o homem piedoso no tempo da necessidade. Quando
transbordarem águas abundantes, não chegarão até ele.
7.
Tu és o meu refúgio, tu me preservarás das angústias, me rodearás do gozo da
minha salvação.
8.
Eu te instruirei (disseste), e ensinar-te-ei o caminho que deves seguir; eu te
instruirei, tendo fixos sobre ti os meus olhos.
9.
Não queirais ser como o cavalo e o mulo sem entendimento, cujo ímpeto se
domina com o cabresto e o freio: doutro modo não se aproximam de ti.
10.
São muitas as dores do ímpio; mas o que espera no Senhor é cercado de
misericórdia.
11.
Alegrai-vos no Senhor e regozijai-vos, ó justos, exultai vós todos os que sois de
coração reto.
124
Salmo 32, 1-11
1.
Exultai no Senhor, ó justos, no Senhor: e aos retos (de coração) que fica bem o
louvá-lo.
2.
Celebrai o Senhor com a cítara, cantai-lhe hinos com o saltério de dez
cordas.
3.
Cantai-lhe um cântico novo, cantai-lhe com entusiasmo ao som das trombetas.
4.
De fato, a palavra do Senhor é reta, e toda a sua obra é fiel.
5.
Ele ama a justiça e o direito: a terra está cheia de graça do Senhor.
6.
Pela palavra do Senhor foram feitos os céus, e pelo sopro da sua boca
(formaram-se) todos os seus exércitos.
7.
Ele junta como num odre as águas do mar; ele põe as ondas como em
reservatórios.
8.
Toda a terra tema o Senhor, e todos os que habitam o universo prestem-lhe
reverência.
9.
Ele disse, e (tudo) foi feito; mandou, e (tudo) existiu.
10.
O Senhor dissipa os projetos das nações, e frustra os intentos dos povos.
11.
O desígnio do Senhor permanece eternamente: os pensamentos do seu
coração (subsistem) de geração em geração.
125
126
127
128
Leitura Mensal
São Jerônimo
As histórias são meios pelos quais Deus fala conosco, como nos diz São Jerônimo:
“Quando rezamos, falamos com Deus, e quando lemos, é Deus que nos fala!”. Durante este ano,
escolhemos diversas leituras que o irão levar para mais perto de Deus, de Sua palavra e
ensinamentos.
Santo Agostinho
(disponível para aquisição no site Katechesis:
https://katechesis.com.br/clubinho-katechesis/)
Leitura: Introdução
Responda por escrito em seu caderno:
1. A partir da capa e do título, sobre o que lhe parece ser o
assunto do livro?
2. Quem é o autor do livro?
3. Escreva o nome do tradutor do livro.
4. Qual é a editora do livro?
5. O livro é composto de quantas páginas?
6. Quantos Capítulos compõem o livro?
129
Leitura: O teu amigo Agostinho
Responda por escrito em seu caderno:
1. De qual região Santo Agostinho foi Bispo?
2. Por que Santo Agostinho costuma ser representado com um livro e um coração na mão?
3. Quem são os pais de Santo Agostinho? Eles eram cristãos?
4. Quem ensinou Santo Agostinho a rezar?
130
4. Faça uma pesquisa, com a ajuda de seu responsável: descubra quem foi Antão.
Registre no seu caderno o que mais chamou sua atenção.
5. Faça uma pesquisa, com a ajuda de seu responsável e descubra três Santos
Agostinianos. Registre em seu caderno os nomes e as datas em que são comemorados.
131
Leitura: O fim da minha vida terrena
Responda por escrito em seu caderno:
1. Como Agostinho buscava viver quando se tornou Bispo?
2. Por quais dificuldades passavam a Igreja e a sociedade daquele tempo?
3. O que era a vida de Agostinho?
4. Em que dia a Igreja celebra a memória de Santo Agostinho?
132
Frutos de Conversão
Todas as leituras feitas durante o ano poderão levá-lo a uma vida mais virtuosa, à busca da
sabedoria e da santidade, que produza abundantes frutos. Com este objetivo, ao término de cada
livro lido será realizada uma atividade que demonstra o fruto que a história lida gerou em sua vida.
Para esta atividade utilize o papel almaço ou o sulfite (escolha apenas um tipo e utilize-o
até o fim); ao término desta Etapa se surpreenderá com tantos exemplos e testemunhos de amor e
entrega a Deus.
Para começar...
Folha 1:
Escreva em uma folha de papel (almaço ou sulfite) um resumo dos aspectos que mais
chamaram a sua atenção na “Leitura Mensal” realizada.
Este resumo deve responder as seguintes questões:
Como esta história me ajudou a ter uma vida mais virtuosa?
Quais foram os frutos que esta leitura trouxe?
A partir da leitura, eu pretendo alcançar um propósito de vida: (coloque alguma virtude,
tarefa, algum sacrifício que ficou motivado a fazer para ser uma pessoa mais sábia, virtuosa
e santa!).
133
O que o aluno precisa saber neste volume – Volume 1
Ao final desta unidade a criança deve saber compreender e saber identificar os conceitos
de:
- Substantivos.
- Adjetivos.
- Classificação dos adjetivos.
- Verbos de ação.
- Narrativa
- Elementos da narrativa.
- Biografia.
- Autobiografia.
Anote aquilo que a criança apresentou de dificuldades e retome até verificar que ela
conseguiu alcançar o objetivo.
134
135
Sobre a capa
SANTO ISIDORO DE SEVILHA
(4 de abril)
Nasceu próximo do ano 556, numa família muito cristã da nobreza goda. Seus três irmãos
foram elevados às honras dos altares: São Leandro, São Fulgêncio e Santa Florentina. Seu irmão,
São Leandro, funda um mosteiro, onde os jovens passam a ser educados, inclusive Isidoro. Depois
que seu irmão Leandro foi eleito bispo, tornou-se o abade do mosteiro, e não mostrou menos
empenho do que ele na santificação de seus monges e jovens. Para ele, o trabalho manual e
intelectual estavam unidos, e frisava que o estudo faz parte dos deveres do religioso. Desta forma,
incentivava seus monges a darem importância à leitura, em especial das Sagradas Escrituras,
recomendando que a esta se seguisse a meditação. Depois, escreveria em seu Terceiro Livro das
Sentenças: “Todo proveito nos vem da leitura e da meditação, pois com a leitura aprendemos as
coisas que ignoramos e com a meditação conservamos as que aprendemos”.
Quanto ao trabalho intelectual, dedicou-se com afinco a escrever várias obras que se
conservam até hoje. A principal delas, “Etimologias”, é um compêndio de todos os ramos da
ciência da época, inclusive a ciência da Aritmética e da Geometria. Exímio professor, a escola de
Sevilha tornou-se célebre em toda a Europa, e formou Santos como São Bráulio e Santo Ildefonso,
além dos reis Sisenando e Sisebuto.
Por volta do ano 600 seu irmão São Leandro faleceu, e ele teve de suceder-lhe nas honras
do episcopado. Seu fervor e sabedoria marcavam suas pregações, que logo atraíram multidões de
fiéis, dedicando especial atenção, principalmente, na formação de seus sacerdotes.
No dia 31 de março de 636, acompanhado de seus dois bispos sufragâneos, dirigiu-se à
Basílica de São Vicente, para cumprir o rito preparatório para a morte, segundo o costume do
tempo. Prostrado ante o altar, vestido de saco e movido por profunda humildade, fez pública
penitência de seus pecados, pediu perdão aos fiéis por seus possíveis maus exemplos e deu seus
derradeiros conselhos à multidão, que via pela última vez seu Pastor. Passados quatro dias, sua
santa alma subiu ao Céu.
136
Introdução
A importância dos números: qual a função da matemática no
plano da Salvação?
Caríssimos pais e filhos,
Entre todas as disciplinas, a matemática é aquela em que se torna mais difícil perceber a
ação de Deus durante o aprendizado dos conteúdos. Parece impossível relacionar essa disciplina
com a Igreja Católica e com a vida dos Santos. Porém, a própria Sagrada Escritura nos exorta sobre
o valor e a importância dos números em nossas vidas já que Deus dispôs “tudo com medida,
número e peso” (Sb 11,20). Os Santos da Igreja também escrevem em consonância com esta
passagem. Santo Agostinho (354 – 430) escreve que “sem os recursos da matemática não nos seria
possível compreender muitas passagens da Santa Escritura”, e para São Jerônimo (347 – 420 dC)
“a Matemática possui uma força maravilhosa capaz de nos fazer compreender muitos mistérios de
nossa fé”. Os números também nos são absolutamente necessários e são um atributo da razão,
característica esta que nos difere de todas as outras criaturas. Como nos diz Santo Isidoro (560 –
636 dC): “Em alguma medida, nossa vida dá-se sob a ciência dos números: por ela sabemos as
horas, acompanhamos o curso dos meses, sabemos quando retorna cada época do ano. Pelo número
aprendemos a evitar enganos. Suprimido o número de todas as coisas, tudo perece. Se se tira o
cômputo dos tempos, tudo ficará envolto na cega ignorância e o homem não se pode diferenciar
dos animais, que ignoram os procedimentos de cálculo."
Em sua obra intitulada O livre-arbítrio, Santo Agostinho nos traz a realidade de que existe
algo imutável, que não perde sua essência e não se transforma, independente do gosto ou da
maneira como cada um o utiliza: o número! Não importa como utilizamos os números, sua essência
e verdade nunca são alteradas. Não faz diferença se você acredita ou não que a soma de quatro e
três resulta em sete, isto é um fato imutável em todos os países, para todas as culturas. A partir
dessa imutabilidade observada na sequência numérica, podemos meditar sobre a imutabilidade em
outras áreas, por exemplo, os dez mandamentos, os dogmas da Igreja Católica e a essência de toda
a criação, o que nos leva a perceber que, se todas essas coisas são imutáveis, só poderiam ser
pensadas por alguém imutável em Si, ou seja, o próprio Deus.
137
comer? Responderam-lhe: Não. E ele lhes disse: Lançai a rede para o lado direito
do barco, e achareis. Lançaram-na, pois, e já não a podiam tirar, pela multidão
dos peixes.
Então aquele discípulo, a quem Jesus amava, disse a Pedro: É o Senhor. E, quando
Simão Pedro ouviu que era o Senhor, cingiu-se com a túnica (porque estava nu) e
lançou-se ao mar. E os outros discípulos foram com o barco (porque não estavam
distantes da terra), levando a rede cheia de peixes. Logo que desceram para terra,
viram ali brasas, e um peixe posto em cima, e pão. Disse-lhes Jesus: Trazei dos
peixes que agora apanhastes. Simão Pedro subiu e puxou a rede para terra, cheia
de cento e cinquenta e três grandes peixes e, sendo tantos, não se rompeu a rede.”
(Jo 21,4-11)
Santo Agostinho escreve o simbolismo numérico como um elemento importante para a
compreensão da Revelação e por isso explica um dos possíveis significados para o número 153
dessa narração: Se somarmos os números de 1 + 2 + 3 + 4 + 5 +... até 17, temos como resultado o
número 153 (faça a conta se quiser verificar!). Mas 17 é o mesmo que 10 + 7. Por que 10? Porque
os mandamentos são 10. E, por que 7? Por causa da perfeição que se celebra nos 7 dons do Espírito
Santo.
Nessa mesma linha, o abade beneditino de Fulda, Rábano Mauro (784 – 856 dC), escreveu
uma obra enciclopédica, o De universo, na qual expõe os sentidos das Sagradas Escrituras, e dedica
um dos livros ao sentido dos números, o De numero. Nesta época, era comum esse mesmo tipo de
busca de sentido em tudo o que se aprendia e vivia, por isso, para seus contemporâneos não era
difícil compreender textos como os de Rábano, Agostinho e Isidoro. Entretanto existe para nós
uma grande dificuldade de pensar neste sentido das coisas e relacionar cada fato com sua vida e
com o Transcendente que o cerca. É necessário fazer um esforço para trazer esse modo de pensar
ao nosso dia-a-dia, contemplando o sentido mais profundo de tudo o que iremos aprender.
Ao longo de nosso estudo, vamos analisar um pouco da obra de Rábano Mauro para
compreender melhor como o sentido por trás dos números nos mostram muitos aspectos do
mistério que iremos venerar.
Orientações
Posto que a matemática pode ser um caminho para conhecer Nosso Senhor Jesus Cristo e
compreender mais profundamente os mistérios de seu plano de Salvação revelado nas Sagradas
Escrituras, se faz necessário conhecermos antes a própria matemática, seus fundamentos e leis.
Esperamos que este material possa ser útil neste processo, mas, para isso, é preciso seguir com
humildade e paciência algumas orientações:
1º A criança com até dez ou onze anos de idade não precisa saber fazer cálculos complexos,
porque inúmeras vezes ela saberá fazer contas mecanicamente, mas não saberá o fundamento de
cada coisa. O estudante não precisa terminar rapidamente as tarefas, ou adiantar conteúdos para
provar que é capaz. Isso é orgulho. A partir da metodologia exposta nesse material, o aluno com
certeza irá aprender matemática, mas com paciência pois o conteúdo não será apresentado de
maneira espiralada, sendo assim, o que o aluno aprende no 2º ano não será revisado novamente no
3º, ou mesmo no 4º ou no 5º ano. Uma vez aprendido um conteúdo, ele ficará gravado na memória
138
e usado sempre que necessário para compreensão de uma nova gama de lições. Por isso é
importante que a criança só passe para o próximo conteúdo quando aprender muito bem aquele
que está estudando.
2º O aluno nunca deve perder de vista que não é detentor do conhecimento, ou seja, ele
ainda não sabe e está nesse processo de aprender. Assim sendo, é função dos pais pedir com o
filho, todos os dias, a virtude da humildade, no início de cada aula.
3º O método de ensino utilizado neste material utiliza a abstração como ferramenta para
aprender matemática: “A matemática pode começar a elevar a alma a grandes alturas obrigando-a
a discorrer sobre os números em si, rebelando-se contra qualquer tentativa de introduzir objetos
visíveis ou palpáveis na discussão.”8
Isso significa que não utilizaremos materiais concretos no ensino da matemática; iremos
treinar a abstração dos estudantes para que sejam capacitados ao aprendizado da filosofia e de
todas as outras matérias, já que a abstração matemática aprimora o pensamento filosófico.
4º Ambos, pais e estudante, devem ter a plena clareza de que tudo o que for aprendido não
ocorreu por mérito do filho, mas por ação da graça de Deus. Mesmo que uma pessoa não tenha
plena consciência de que é Deus quem está agindo em sua inteligência, o Magistério da Igreja
Católica nos ensina que “aquele que se esforça, com perseverança e humildade, por penetrar no
segredo das coisas, é como que conduzido pela mão de Deus, que sustenta todos os seres e faz que
eles sejam o que são, mesmo que não tenha consciência disso” (CIC 159).
5º Em todos os textos, é importante que, antes de fazer as atividades, o estudante procure
no dicionário as palavras das quais não sabe o significado, escreva no caderno a definição de
cada uma e sublinhe o significado que mais se adequa ao contexto do texto. Por exemplo:
Para que o filho não esqueça de procurar as palavras que não conhece no dicionário, as
atividades sempre virão acompanhadas do ícone:
8
A Educação segundo a Filosofia Perene: Síntese Sobre a Educação Humana, p. 110. (www.cristianismo.org.br)
139
6º Ao final de cada conteúdo o estudante encontrará o tópico “Atividade no caderno”.
Nessas atividades é importante que o responsável verifique e corrija tudo o que o estudante fizer,
desde as respostas às perguntas, até a própria letra com que ele copiou os textos no caderno. O uso
da régua é fundamental para desenhos, tabelas e gráficos. Caso o estudante escreva sem capricho
e atenção o pai deve apagar e fazê-lo copiar de novo, até que fique bonito. Claro que quanto mais
nova a criança, devemos saber que sua letra ainda está em formação. Ainda assim, o pai deve
animar o estudante para que dê o seu melhor. As atividades não precisam ser feitas todas no mesmo
dia.
7º Quanto aos procedimentos de avaliação, temos três sugestões:
Um resumo oral, ao final da semana, sobre o que aprendeu naquela semana. Isso faz
com que o pai perceba se o filho realmente aprendeu o conteúdo. O pai pode direcionar
o resumo com perguntas essenciais sobre o que foi estudado.
As próprias atividades no caderno.
8º É preciso também tomar cuidado para não colocar a matemática como o mais importante
a ser aprendido entre todas as disciplinas. Tudo o que você irá aprender só faz sentido se houver
um bom conhecimento de filosofia, dedicação e disciplina ao aprender história, geografia, artes e
as demais ciências, domínio da língua portuguesa (considerando o nível de cada idade), e,
principalmente, uma profunda intimidade com Nosso Senhor Jesus Cristo.
Vamos começar o estudo com uma primeira atividade: escreva em seu caderno um
glossário inicial contendo o significado das palavras que você não conhece e que estão escritas
nesta introdução. Lembre-se de grifar o melhor significado que se encaixe em cada contexto.
Bom trabalho!
140
Capítulo 1
Números cardinais e ordinais
P ARA começar nosso estudo procure na Bíblia e leia essas duas histórias. Veja se consegue
notar alguma diferença nos números:
Marcos 6, 30-44 (Multiplicação dos pães)
Gênesis 1, 1 - 2,4 (Criação)
Na primeira história, os números que aparecem são: dois, cinco e cinco mil. Esses números
são classificados como números cardinais. A palavra cardinal vem do latim cardinalis que
significa “principal, o mais importante, essencial”. Realmente, são os números que mais utilizamos
em nosso cotidiano, pois indicam quantidades, estão nos calendários, nas horas, utilizamos para
fazer contas, etc. São todos os números na forma: 1, 2, 3, 4, ...
Já na segunda história temos a marcação dos dias: primeiro, segundo, terceiro, quarto,
quinto, sexto e sétimo. Esses números são classificados como números ordinais. A palavra ordinal
vem do latim ordo que significa “arranjo de elementos feito conforme certos critérios, ordenar”.
Esses números são utilizados para classificar, colocar em ordem, indicar séculos, artigos de leis e
decretos, folhas e capítulos de uma obra, soberanos, papas, o primeiro dia do mês, entre outros.
A leitura dos números ordinais é diferente da leitura dos números cardinais:
1º Primeiro 2º Segundo 3º Terceiro
4º Quarto 5º Quinto 6º Sexto
7º Sétimo 8º Oitavo 9º Nono
10º Décimo 20º Vigésimo 30º Trigésimo
40º Quadragésimo 50º Quinquagésimo 60º Sexagésimo
70º Septuagésimo 80º Octogésimo 90º Nonagésimo
100º Centésimo 200º Ducentésimo 300º Trecentésimo
141
400º Quadringentésimo 500º Quingentésimo 600º Sexcentésimo
700º Setingentésimo 800º Octingentésimo 900º Noningentésimo
142
c) Quadragésimo
d) Milionésimo octingentésimo segundo
e) Centésimo sétimo
7. Crie e escreva três histórias onde os personagens demonstram algum tipo de virtude e
em que são utilizados números ordinais.
8. Pesquise uma passagem das Sagradas Escrituras, sem ser o relato da Criação, onde
aparecem números ordinais. Transcreva-a aqui.
143
Capítulo 2
Adição, subtração e multiplicação
Adição
Definição: adicionar significa juntar, acrescentar.
Os termos da adição são PARCELA + PARCELA = SOMA.
Subtração
Definição: subtrair significa tirar, diminuir.
Os termos da subtração são MINUENDO – SUBTRAENDO = RESTO (DIFERENÇA).
Assim, no caso do versículo acima, quando o autor do livro do Eclesiastes9 diz que nada se
pode adicionar ou subtrair ao que Deus faz, podemos substituir a palavra adicionar por acrescentar
e subtrair por tirar, ou seja, tudo o que Deus faz é perfeito e completo e não podemos melhorar.
9
Não se tem certeza sobre quem é de fato o autor do livro do Eclesiastes, mas há um indício de que tenha sido
Salomão (filho do Rei Davi), aproximadamente 900 anos antes da encarnação de Nosso Senhor Jesus Cristo.
144
Multiplicação
Definição: multiplicar significa aumentar, tornar um número várias vezes maior. É o
mesmo que somar várias vezes a mesma parcela.
Os termos da multiplicação são: FATOR . FATOR = PRODUTO.
Na multiplicação e na adição, a ordem em que fazemos as contas não importa, por exemplo:
Adição: Multiplicação:
2+4=6 3 . 5 = 15
4+2=6 5 . 3 = 15
Observação: Para verificar se você aprendeu a aplicar essas operações, faça as atividades abaixo.
Caso você perceba que precisa revisar esse assunto mais profundamente, não se preocupe: peça
para seus pais entrarem em contato conosco que poderemos enviar um conteúdo mais profundo
de revisão.
Atividade no caderno
1. Copie o texto acima prestando atenção para que sua letra fique caprichada e leia em
voz alta para treinar a leitura até pronunciar bem as palavras.
145
2. Escreva o que significa adicionar, subtrair e multiplicar.
3. Analise as situações e escreva qual é a operação envolvida em cada uma:
a) Quando Abraão não negou a Deus seu único filho, Isaac, o Senhor ficou muito feliz
pela fé e pelo amor de Abraão e enviou um Anjo para dizer-lhe: “Juro por mim mesmo, diz o
Senhor: pois que fizeste isto, e não me recusaste teu filho, teu filho único, eu te abençoarei.
Aumentarei a tua posteridade como as estrelas do céu, e como a areia na praia do mar. Ela
possuirá a porta dos teus inimigos, e todas as nações da terra desejarão ser benditas como ela,
porque obedeceste à minha voz.” (Gn 22, 16-18)
b) “Todos comeram e ficaram fartos. Recolheram do que sobrou doze cestos cheios de
pedaços.” (Mc 6, 43)
c) “Ó Deus, como são preciosos para mim os vossos desígnios! E quão imensa é a soma
deles.” (Sl 138, 17)
4. Peça para seus pais escolherem um dia da semana para fazer com você uma chamada
oral da tabuada, até o fim do ano. Por exemplo: se eles escolherem segunda-feira, significa que
toda segunda-feira você terá que dizer a eles as tabuadas do zero ao dez, até ao fim do ano.
Quando já estiver bem decorado, faça a chamada oral fora de ordem, de maneira aleatória, sem
seguir a sequência.
5. São Nicolau distribuiu trezentas bonecas, quatrocentos e sessenta e oito carrinhos e
oitocentos e setenta e cinco bolas. Quantos brinquedos forma distribuídos?
6. Para comprar um presente para seus pais, Eduarda, Tomás e Antônio levaram para
uma loja duzentos reais. Decidiram comprar um conjunto com seis xícaras, onde cada uma
custava oito reais. Compraram também um conjunto de panelas, com cinco peças, que custava
ao todo cento e trinta e quatro reais. Qual o troco que eles receberam?
7. Catarina precisava comprar 77 cm de renda para fazer seu véu para ir à Missa. A
vendedora disse que a metragem mínima que poderia vender-lhe seria de 100 cm. Quantos
centímetros irão sobrar?
8. Francisco ganhou um livro de quatrocentas e trinta e cinco páginas. Ele lê dez páginas
por dia. Já está lendo há seis dias. Quantas páginas ainda devem ser lidas?
9. Multiplique 25 pela soma de 106 com 134. Qual será o resultado?
10. Para uma excursão a um museu de Arte Sacra, os Arautos do Evangelho alugaram 4
ônibus. Em cada ônibus foram colocados 35 meninos. Além dos meninos, 7 responsáveis
acompanharam a excursão. Quantas pessoas participaram desta viagem?
11. Cristina foi a uma livraria comprar cinco cadernos e um livro. O total dos gastos foi
de vinte e dois reais. Como o livro custou sete reais e todos os cadernos têm o mesmo preço,
quanto ela pagou por cada caderno?
12. Crie um único problema que precise de uma conta de adição e uma de subtração para
ser resolvido. O enunciado do problema deve abordar alguma ação virtuosa.
13. Crie um único problema que precise de uma conta de subtração e uma de
multiplicação para ser resolvido. O enunciado do problema deve abordar alguma ação virtuosa.
146
Capítulo 3
Divisão
O mistério dos números de Rábano Mauro
O número 33
Jesus morreu com trinta e três anos, assim, esse número refere-se misticamente à idade
que Nosso Senhor cumpriu na carne, por isso disse o Apóstolo: "Até que todos
tenhamos chegado à unidade da fé e do conhecimento do Filho de Deus, até atingirmos
a idade de homem feito, na medida da idade da maturidade de Cristo." (Ef 4, 13)
Leia com atenção a parábola do filho pródigo contada por Jesus, escrita em Lc 15, 11-32.
Nessa parábola o pai reparte os bens que possui entre seus dois filhos, e isso nos mostra
mais um tipo de operação matemática, além da adição, subtração e multiplicação, que está presente
nas Sagradas Escrituras... a divisão.
Dividir significa partir, quebrar, repartir, fragmentar, separar, fracionar, compartilhar. Ou
seja, dividir é distribuir em partes iguais. No caso da parábola, por exemplo, o pai dividiu os bens
entre os dois filhos, isso significa que ambos receberam partes iguais.
Imagine que o pai dessa história tem 8 moedas de prata para dividir entre seus 2 filhos.
Usando sinais matemáticos escrevemos:
8:2
147
(...)
Então, cada filho recebe outra moeda. Já foram dadas seis moedas e agora cada filho possui
três moedas.
(...)
Mais uma vez, cada filho recebe outra moeda. Já foram dadas oito moedas, e agora cada
filho possui quatro moedas.
(...)
NÃO!
Então no final da distribuição das moedas, com quantas moedas cada filho ficou?
8:2=4
(oito moedas divididas para dois filhos = quatro moedas para cada um)
Perceba que se temos 2 irmãos com 4 moedas cada um, no total temos 4 x 2 = 8 moedas.
Assim:
8 : 2 = 4 pois 4 x 2 = 8
Podemos perceber que as contas de multiplicação e divisão são operações inversas uma da
outra, por isso, para fazer uma divisão, basta saber as tabuadas.
Exemplo 2:
Exemplo 3:
36 : 4 = ? significa que ? x 4 = 36
148
Sabemos que 9 x 4 = 36, então 36 : 4 = 9.
Atividade no caderno
1. Copie o texto acima prestando atenção para que sua letra fique caprichada e leia em voz
alta para treinar sua leitura até pronunciar bem as palavras.
2. Resolva as operações:
a) 10 : 5 = c) 24 : 8 = e) 42 : 7 =
b) 15 : 3 = d) 24 : 3 = f) 81 : 9 =
A “chAve”
Voltemos ao exemplo do pai que divide 8 moedas entre 2 filhos.
Para representarmos divisão, podemos utilizar outro sinal matemático, além dos dois
pontos (:); esse sinal é chamado “chave”.
8 2
Chave
(A leitura é feita da mesma maneira: oito dividido por dois)
Chamamos essa maneira de escrever a conta com a chave de “armar a conta”:
8 2
4
Basta agora conferir se sobra alguma moeda com o pai após a distribuição.
Se o pai tinha 8 moedas, e foram dadas aos filhos 8 moedas... significa que não sobrou
nenhuma moeda.
Perceba que quando pensamos em “quanto sobra”, estamos fazendo uma subtração:
8 2
- 8 4
0 Não sobrou nada!
149
Outro exemplo:
Dona Margarida, a mãe de Dom Bosco, estava preparando uma surpresa para cinco
meninos que haviam chegado ao oratório. Ela havia feito 23 doces. Quantos doces cada menino
recebeu?
Informações: 23 5
23 doces
5 meninos
Como a multiplicação é a operação inversa da divisão, para fazer essa conta vamos pensar
na tabuada do 5.
Que número multiplicado por 5 dá 23?
(...)
Não existe o 23 na tabuada do 5... o mais próximo é o 20. Então, que número
multiplicado por 5 resulta em 20?
(...)
Resposta: 4 (4 x 5 = 20)
23 5
- 20 4
03
Assim, 23 : 5 = 4 e sobra 3.
Resposta: Cada menino recebeu 4 doces, e ainda sobraram 3.
Termos da Divisão
Da mesma maneira que a adição, a subtração e a multiplicação, também existe uma maneira
correta de nomear cada um dos termos da divisão:
DIVIDENDO DIVISOR
. QUOCIENTE
RESTO
No caso do exemplo de Dona Margarida, temos que:
23 é o DIVIDENDO (o número que será dividido).
5 é o DIVISOR (aquele que divide o dividendo).
4 é o QUOCIENTE (a resposta da conta).
3 é o RESTO
150
OBSERVAÇÃO: Quando o resto é zero significa que não sobrou nada, então dizemos que essa
conta é EXATA.
Mais exemplos
Exemplo 1:
Santo Antônio preparou 52 pãezinhos para levar em uma viagem que faria com seus irmãos
frades. Considerando que eles eram 8 viajantes, quantos pães cada um poderia comer?
Informações: 52 8
52 pães - 48 6
8 viajantes
04
Exemplo 2:
São José de Cupertino foi um monge franciscano que, no início de sua estadia no mosteiro,
por ser muito atrapalhado, recebeu a missão de cuidar dos animais do estábulo do monastério.
Imagine que certa vez as galinhas botaram 152 ovos! Ele percebeu a necessidade de enviar esses
ovos para outros missionários. Dividiu então todos os ovos entre 4 monastérios. Quantos ovos
cada monastério recebeu?
Informações: 152 4
152 ovos
4 monastérios
Não!
151
15 2 4
-12 3
3
15 2 4
-12 3
32
(...)
Sim! 8 x 4 = 32
15 2 4
-12 38
32
- 32
00
Observação: Você não deve ficar treinando muitas vezes de maneira mecânica as contas
de divisão até decorar como faz! É preciso entender o porquê de cada passo da conta, o
processo em si. É preciso pensar no que está fazendo!
152
Zero no quociente
Algumas vezes as contas de divisão apresentam algumas particularidades, por exemplo:
Santa Teresa de Calcutá recebeu uma doação de trezentos e doze sacos de grãos para dividir
entre três de suas casas de missão. Quantos sacos de grãos cada casa irá receber?
Informações:
312 sacos 312 3
3 casas
312 3
-3 10
012
12 dá para dividir por 3?
Sim, 4 x 3 = 12
312 3
-3 10 4
012
-12
00
153
Resposta: Cada casa irá receber 104 sacos de grãos.
Tente agora fazer sozinho os exercícios para verificar se aprendeu!
Atividade no caderno
1. Copie o texto acima prestando atenção para que sua letra fique caprichada e leia em voz
alta para treinar a leitura até pronunciar bem as palavras.
2. Arme e resolva as operações:
a) 76 : 4 = e) 25705 : 5 = i) 12075 : 5 =
b) 18 : 9 = f) 1248345 : 3 = j) 64423 : 8 =
c) 428 : 2 = g) 247:2 = k) 14052 : 7 =
d) 49264 : 4 = h) 534 : 3 = l) 630153 : 9 =
3. Em uma biblioteca estão guardados 4671 livros. A biblioteca possui 3 andares, cada
andar com a mesma quantidade de livros. Quantos livros estão guardados em cada andar?
4. Joaquim possuía 642 varetas. Guardou 298 e distribuiu o restante entre seus 8 colegas.
Com quantas varetas cada colega ficou?
5. Para a festa de aniversário de Bento e Escolástica, oito amigos foram convidados. Ao
fim da festa a mãe dos gêmeos quis distribuir para os convidados cento e trinta e cinco balas, trinta
e quatro barrinhas de chocolate e vinte e três pirulitos. Quantos doces cada criança recebeu?
154
155
Sobre a capa
SANTA HILDEGARDA
(17 de setembro)
Santa Hildegarda foi a décima filha de seus pais, e apesar da frágil saúde, dava ela – desde
os primeiros anos de existência – mostras de muita inteligência e inclinação religiosa.
Certo dia, caminhando com sua ama pelas redondezas do castelo, exclamou radiante: “Veja
aquele bezerrinho, como é bonito! Todo branco, tem manchas apenas na cabeça e nas patas. Ah!
tem uma também no lombo!” A criada, olhando para os lados e nada vendo, perguntou-lhe onde
estava o bezerro. Sem compreender como ela não via o animalzinho, a menina apontou uma grande
vaca e disse incisiva: “Está ali! Está ali!”. Perplexa, a mulher pensou estar ouvindo mais uma
fantasia infantil e, em tom de gracejo, contou o sucedido à mãe de Hildegarda. Entretanto, algum
tempo depois nasceu um bezerro e ninguém mais riu: possuía exatamente o aspecto predito pela
menina!
Como Hildegarda dava sinais inequívocos de vocação contemplativa, aos oito anos de
idade, ela ingressou na ermida de Disibodemberg, onde “cresceu em graça e santidade” a exemplo
do Menino Deus. Havia, entretanto, um fator que a unia especialmente a Deus: as comunicações
sobrenaturais de que era objeto. Iniciadas as visões na primeira infância e tendo continuidade ao
longo de toda a sua vida, elas deram a Santa Hildegarda um discernimento profundo da ação do
bem e do mal, da graça e do pecado, da realização da vontade de Deus a que o homem é chamado
e a facilidade que este tem em desprezar os desígnios divinos.
Sabe-se que, naquele tempo, a Bíblia era quase sempre divulgada em latim. Embora não
entendesse o significado das palavras, Santa Hildegarda conseguia explicar o conteúdo dos textos
sagrados. Fato que constitui um milagre dos mais assinalados, e também contínuo e palpável. Era
um fenômeno manifestado exteriormente, e qualquer um podia constatá-lo.
Em determinado tempo a ordem divina lhe disse: “Manifesta as maravilhas que aprendes.
Escreve e fala!” Assim originou-se a principal obra escrita de Santa Hildegarda, “Liber Scivias”,
o qual recebeu nada menos que o louvor de São Bernardo de Claraval e a aprovação do Papa
Eugênio III. Ambos reconheceram em suas palavras e em sua vida a autenticidade das revelações.
Para ela, o Universo criado é um espelho admirável das realidades espirituais e divinas:
“Deus, que fez todas as coisas por um ato de sua vontade e as criou para tornar conhecido e honrado
o seu nome, não se contenta em mostrar através do mundo apenas o que é visível e temporal, mas
manifesta nele aquelas realidades que são invisíveis e eternas. Isto é o que me foi revelado”. Por
isso escolhemos Santa Hildegarda para ser a intercessora dos estudos de ciências.
Aos 81 anos, aquela que nunca recusou socorro aos filhos de Deus entregou sua alma em
meio à grande paz e serenidade de seu mosteiro. Era o dia 17 de setembro de 1179. Em pouco
tempo, encheu-se de peregrinos o seu túmulo, multiplicaram-se os milagres. A vida e a ação desta
celebérrima Santa nos ensinam que a união com Deus e o cumprimento da vontade divina são os
bens que, acima de todos, se devem ambicionar. Além disso, esta mestra, cheia de Deus, mostra
que o mundo só pode ser entendido e governado, se visto como criatura saída das mãos do Pai que
está nos céus, cheio de amor e providência. Sem jamais se vangloriar de suas prerrogativas ou
utilizar em benefício próprio os dons recebidos, ela pode ser definida com estas suas próprias
palavras: “Aqueles que, na elevação de sua alma, gozaram da sabedoria de Deus e se portaram
com humildade, converteram-se em colunas do Céu”.
156
Introdução
C
ARÍSSIMOS pais e estudantes, este material tem o objetivo de a partir do conhecimento
do mundo natural (mais especificamente com ajuda da ciência natural), auxiliar o
desenvolvimento do pensamento, da meditação e da contemplação, ações necessárias para
que se alcance a sabedoria e se tenha a mente sempre nas coisas divinas e em Deus.
Para alcançarmos esse objetivo, tão importante rumo à santidade, procuraremos, ao longo
deste ano de estudo, possibilitar uma maior compreensão de toda obra da Criação, do próprio
Criador e da pessoa humana criada à Imagem e Semelhança de Deus.
Sugerimos que este estudo seja realizado duas vezes por semana, sendo que em cada
semana o estudante deverá realizar a leitura e a compreensão do conteúdo, bem como as atividades
sugeridas.
157
Capítulo 1 – Fundamentos
Aula 1 - O que é ciência?
A palavra ciência vem do latim (Scientia) e significa conhecimento. Ciência, portanto, é
uma forma de conhecimento, ou seja, de conhecer as coisas, de estudar as realidades existentes,
de saber melhor sobre elas.
Conhecer algo não é simplesmente saber um pouco sobre aquilo, mas é compreender o que
se estuda de forma profunda, não apenas observando os fatos (acontecimentos), mas procurando
entender as razões, as causas do que se observa.
Entender a causa das coisas é entender o que se estuda da melhor forma possível, é
compreender o que cada coisa é.
Por exemplo, ao observamos a água em um copo,
sabemos que ela existe, que é um líquido sem cheiro, sem cor
e sem gosto, temos um pouco de conhecimento sobre a água,
o que é um princípio de ciência. Ter uma verdadeira e
profunda ciência sobre a água é saber mais, por exemplo, que
ela é formada por substâncias menores (o oxigênio e o
hidrogênio), que foi criada por Deus para que os seres vivos
pudessem existir (conforme Gênesis 2, 4-5), e ainda mais, que
é a água, derramada sobre a cabeça no batismo, que permite o
nascimento para uma vida nova e verdadeira, em Cristo, de
modo a tornar a pessoa filha de Deus e parte da Igreja. Mesmo Vitral representando o batismo de Jesus.
que não tenhamos escrito tudo o que se pode conhecer sobre
a água, pode-se entender com esse exemplo, que ter a ciência das coisas é procurar este
conhecimento mais profundo, que busca a causa, a função o objetivo de as coisas existirem.
Santo Tomás de Aquino (imagem na próxima página),
é um santo chamado Doutor da Igreja pois seus muitos livros
e ensinamentos nos ajudam a conhecer melhor a Deus e Sua
vontade. Este santo nos ensina também sobre Ciência, no
início de uma obra chamada Suma Teológica (um “resumo”
sobre várias coisas importantes a saber sobre Deus e sua
doutrina). Santo Tomás foi um homem muito sábio, e tinha o
dom da ciência, ou seja, de conhecer profundamente as coisas,
o que elas são, a causa delas. Ele nos ensina o seguinte sobre
ciência:
Existem dois tipos de ciência:
1. A ciência que se faz a partir do conhecimento de
realidades que podem ser vistas, observadas e são
possíveis de serem estudadas pela luz natural da
Santo Tomás de Aquino, Doutor da Igreja
inteligência. Um exemplo é a matemática.
158
2. A ciência que se faz a partir do conhecimento de realidades que são superiores à luz natural
da inteligência, pois tem origem na revelação feita por Deus (como é o caso da Ciência
Sagrada ou Teologia), ou que utiliza conhecimentos de várias ciências que partem da luz
natural da inteligência (como a Música, que aplica conhecimentos da matemática, da
ciência natural, e de outras).
ATIVIDADES
4) Explique aos seus pais a diferença entre ter um pouco de conhecimento sobre algo e ter
uma ciência profunda, se quiser pode usar o exemplo da água.
(Peça aos responsáveis para corrigirem suas atividades)
159
Capítulo 1 – Fundamentos
Aula 2 - Hierarquia das ciências
V
IMOS que a ciência é um conhecimento profundo sobre as coisas. Há diversas coisas e
realidades que podemos observar, compreender e estudar, por isso dividimos o nosso
conhecimento em várias Ciências diferentes, sendo que cada uma estuda algo específico.
Por exemplo, as Ciências Naturais estudam a natureza, mas de um modo profundo, que
compreenderemos melhor nas próximas semanas. As Ciências Humanas estudam matérias
relacionadas ao ser humano, sua história, locais de habitação, entre outras coisas, sendo sempre
um estudo profundo.
Todas as formas de conhecimento são importantes para nós, pessoas, pois todos
queremos conhecer a verdade, devido a nossa inteligência, e conhecendo as realidades
profundamente, podemos chegar às verdades mais importantes para nós e nossa vivência no mundo
e caminhar em direção a Deus e à santidade.
Mesmo que todas as ciências ajudem o ser humano a conhecer cada vez mais as
realidades e a verdade, há um tipo de ciência que é a mais importante do que todas: a Ciência
Sagrada.
A seguir, veremos por que a Ciência Sagrada é tão importante, o que ela estuda e
compreenderemos por que ela está em 1º lugar na hierarquia das ciências.
Ciência Sagrada
A Ciência Sagrada também recebe o nome de Doutrina Sagrada. Essa ciência pertence
ao segundo tipo de ciência ensinado por Santo Tomás de Aquino, isto é, é uma ciência que se faz
a partir do conhecimento de realidades que são superiores à luz natural da inteligência, e, portanto,
seu conhecimento não é possível simplesmente a partir de um saber natural, mas precisa de algo
mais, de um conhecimento superior.
160
A Ciência Sagrada pertence a um campo de estudo chamado Teologia (palavra que vem do
grego e significa “theos” – Deus e “logos” – estudo; portanto “estudo de Deus”). Essa ciência é
muito importante, pois como São Paulo nos ensina na bíblia: “Toda Escritura inspirada por Deus
é útil para ensinar, refutar, corrigir e educar na justiça” (2 Tm 3,16). Santo Tomás de Aquino,
também nos ensina que a Ciência Sagrada é importante porque era necessário existir, para a
salvação do homem, um ensinamento fundado na revelação divina, pois as coisas que vão além de
sua inteligência precisariam ser reveladas por Deus.
Sendo as Ciências Sagradas uma forma de ciência que parte daquilo que Deus revelou,
e que, portanto, mostra muitas coisas superiores à inteligência humana, não será alcançada
principalmente pelo esforço do conhecimento humano, mas sim pelo ato de Fé.
O ato de fé é livremente decidir acreditar em tudo o que Deus fez e revelou, conforme nos
ensina a bíblia:
“A fé é o fundamento do que se espera, é uma certeza a respeito do que não se vê. Foi a
fé que fez a glória dos nossos antepassados. Pela fé sabemos que o universo foi criado pela
palavra de Deus, de modo que do invisível teve origem o visível. [...] Ora, sem fé é impossível
agradar a Deus, pois quem se aproxima de Deus deve acreditar que Ele existe e que recompensa
aqueles que O procuram.” (Hb 11, 1-3.6)
Estudaremos agora porque a Ciência Sagrada está em 1º lugar na hierarquia das ciências:
Vimos que há diversas ciências que estudam várias realidades diferentes. Vimos também
que todas as formas de conhecimento são importantes para o ser humano em sua busca pela
Verdade. Mesmo que todas as ciências contribuam para o conhecimento das realidades e, portanto,
da Verdade, há ciências que são mais importantes, e por isso dizemos que há uma hierarquia nas
ciências.
Hierarquia das ciências significa que há uma organização das ciências, conforme sua
importância. Nessa hierarquia a Ciência Sagrada ocupa o 1º lugar, ou seja, é a mais importante de
todas as formas de conhecimento.
Santo Tomás de Aquino nos ensina que podemos afirmar que a Ciência Sagrada está em
1º lugar pelos seguintes motivos:
- A forma de conhecimento mais perfeita é aquela que leva a um objetivo mais elevado, e sendo
assim, a Ciência Sagrada é a mais perfeita porque nos leva à santidade, à contemplação de Deus,
ao Paraíso, principal objetivo da vida de todo cristão.
Vamos estudar alguns exemplos para que os motivos acima fiquem mais claros:
161
• Diferentemente da Ciência Sagrada que parte daquilo que Deus revelou, as outras ciências
partem de princípios estudados pelas pessoas e compreendidos a partir da inteligência
humana. Uma vez que nossa inteligência não é perfeita, podemos errar. Já a Ciência
Sagrada não erra, pois foi revelada por Deus, que é perfeito.
• A Ciência Natural, por exemplo, estuda a natureza, enquanto a Ciência Sagrada estuda o
próprio Deus. Deus foi quem criou a Natureza e tudo o que existe, portanto Ele é mais
importante do que tudo e estudá-lo e conhecê-lo é mais considerável do que estudar e
conhecer as outras realidades.
• Ao conhecermos os números ou mesmo os animais, podemos perceber a perfeição de tudo
o que Deus fez, mas ao estudarmos o que Deus revelou e como chegar a Ele, estamos
estudando o que é mais importante e aquilo que, como cristãos, buscamos em toda a nossa
vida.
162
ATIVIDADES
- O título “Hierarquia das ciências” e abaixo os parágrafos que apresentam esse lápis ( ) no
seu início.
- O subtítulo “Ciência Sagrada” e abaixo os parágrafos que apresentam esse lápis ( ) no seu
início.
4) Leia para seus pais a citação da bíblia sobre o que é a fé (Hb 11,1-3.6) e peça para eles
explicarem a você a importância da fé.
5) Conte aos seus pais qual é a ciência mais importante de todas, e porque ela é tão importante.
6) Leia com seus pais a frase de Santo Tomás de Aquino (última frase) e conversem sobre o
que este santo tão sábio quis ensinar.
163
Capítulo 1 - Fundamentos
Aula 3 - Hierarquia das ciências
C ONHECEREMOS agora um pouco sobre outras ciências, que serão o campo de estudo
desse material, as Ciências Naturais.
Ciências Naturais
- O ser humano é a única criatura que pode não apenas observar, mas procurar compreender o
que vê, conhecer em profundidade a criação, o sentido de as coisas existirem, e também o Criador.
164
Estudando as Ciências Naturais, procuraremos conhecer em profundidade a criação, e ter
sempre a mente nas coisas divinas e em Deus.
Apesar das Ciências Naturais não serem as mais elevadas, elas podem contribuir muito
para que se consiga desenvolver o pensamento, a meditação e a contemplação, de forma a poder
ajudar muito no aprendizado da Ciência Sagrada.
Muitas pessoas hoje em dia acabam pensando de forma errada, e entendem que a Ciência
Natural (muitas vezes chamada apenas de ciência) é certa, sempre verdadeira, e por isso deixam
de acreditar naquilo que é o mais certo, que é o que a Doutrina Sagrada da Igreja nos apresenta.
Esse erro acontece porque as pessoas esquecem, ou muitas vezes não sabem, que não é possível
estar errado o que o próprio Deus revelou, pois Ele é perfeito e conhece toda a verdade, foi Ele
quem criou tudo.
A Ciência Natural, que é aquela que as pessoas estudam a partir das observações da
natureza, pode errar, e sabemos que as explicações dessa ciência já mudaram várias vezes ao longo
da história, pois as novas tecnologias ajudam a compreender melhor os fenômenos que se
observam. A explicação cientifica não é algo certo, que não pode mudar, é na verdade a melhor
explicação que os cientistas podem dar até aquele momento com os estudos realizados, e também
está sujeita a erros, já que um ser criado não possui uma inteligência perfeita como a de Deus.
Vamos entender melhor com alguns exemplos:
- Antigamente acreditava-se que os astros (o Sol, a Lua, as Estrelas) eram deuses que governavam
o mundo e decidiam sobre ele. Deus então, por meio de seu servo Moisés, ao revelar como foi que
criou tudo, mostrou que na verdade esses astros são luzeiros que Deus fez para iluminar o dia e a
noite, e não deuses. Esse entendimento dos astros simplesmente como luzeiros é certo, pois foi
revelado por Deus, está na bíblia, no livro do Gênesis. Os cientistas ao observarem o céu,
confirmaram aquilo que Deus já havia revelado.
- Hoje em dia, muitas pessoas estão preocupadas em cuidar dos animais, da natureza, e acabam
muitas vezes, com isso, prejudicando o próprio ser humano ou culpando-o por todos os males do
mundo. Deus revelou no Gênesis que as pessoas são as únicas criaturas a “Imagem e Semelhança
de Deus”, e a Igreja ensina que o ser humano não se engana ao se achar superior às outras criaturas.
Sendo assim, como somos inteligentes e recebemos de Deus a missão de cuidar da Terra, temos
que viver bem no mundo, sabendo utilizar a natureza e cuidar dela, mas não podemos pensar que
as pessoas são menos importantes do que as outras criaturas.
Imagem de Cristo, Rei do Universo, com o mundo nas mãos. Deus Filho é o senhor de
165
ATIVIDADES
1) Leia o texto acima duas vezes: a primeira silenciosamente e a segunda em voz alta.
- O título “Ciências Naturais” e abaixo os parágrafos que apresentam esse lápis ( ) no seu início.
166
Capítulo 1 - Fundamentos
Aula 4 - Estudo da Criação
A
criação do mundo e de tudo o que existe está relatada na Bíblia, no livro do Gênesis,
mais especificamente nos capítulos 1 e 2. A Bíblia também é chamada de Sagrada
Escritura por apresentar a Revelação de Deus.
Atividades
- Pegue uma bíblia e leia uma vez silenciosamente e uma em voz alta o primeiro capítulo
do livro do Gênesis (Gn 1, 1-31).
- Copie em seu caderno a descrição abaixo, que indica o que Deus criou no primeiro dia e em
seguida escreva também as obras de Deus em cada um dos 7 dias da criação:
1º dia: Deus criou os céus e a terra; criou também a luz e separou a luz das trevas.
(Continue até o 7º dia)2º dia:
A obra da Criação também é relatada em algumas outras partes da bíblia, confirmando ou
complementando aquilo que está no capítulo que lemos. Para conhecer melhor, vamos ler esses
textos também:
- Utilize novamente a bíblia, mas agora para ler o 2º capítulo do livro do Gênesis. Leia
também duas vezes (uma silenciosamente e uma em voz alta). Neste capítulo a criação não é
narrada em dias, mas podemos conhecer melhor como Deus fez algumas coisas. Sobre esse
capítulo anote:
- Como ocorreu a criação do primeiro homem (Adão)?
- Como ocorreu a criação da primeira mulher (Eva)?
- Utilize agora a bíblia para ler o Salmo 103. Este Salmo também fala da Criação. Leia ele
ao menos três vezes, como nas leituras anteriores.
167
- Escolha um versículo desse Salmo, aquele que mais chamar a sua atenção e copie-o em seu
caderno.
Continuação do estudo
As Sagradas Escrituras nos revelam tudo o que Deus fez no início, e também explicam
diversas vezes como Deus fez as coisas.
Ao estudarmos sobre a criação, precisamos saber que a Santa Igreja nos ensina algumas
verdades, que não podem ser contestadas, por terem origem na Revelação de Deus. Essas verdades
são:
4. Foi Deus quem criou o ser humano, “à Sua Imagem e Semelhança”, dotado de
inteligência e liberdade e o constituiu senhor do universo.
Isto significa que nós, seres humanos, também fomos criados por Deus do nada, e com
características únicas. E por sermos Imagem e Semelhança de Deus, fomos agraciados por Ele
como aqueles aos quais o universo está submetido, ou seja, temos que reinar sobre o mundo e
temos responsabilidade sobre ele.
168
5. Deus não apenas criou o mundo, mas conserva-o. Ele mantém a existência das
coisas, fazendo com que elas sejam o que são.
Isto significa que Deus além de criar tudo, continua mantendo o que criou, ou seja, tudo o que
existe, só existe porque Deus fez e permanece sustentando tudo aquilo que fez.
Essas verdades são muito importantes, e não podemos deixá-las de lado ao longo de nosso
estudo sobre a criação.
ATIVIDADES
1) Leia o texto acima duas vezes: a primeira silenciosamente e a segunda em voz alta.
3) Leia e decore as 5 verdades que a Igreja ensina sobre a Criação. Depois conte a seus pais e
procure explicar a eles o que significa cada verdade.
169
170
171
Sobre a capa
BATALHA DE LEPANTO
172
Introdução
Este material didático de História tem como objetivo auxiliar o desenvolvimento da leitura
dos alunos, ao mesmo tempo, habituá-los à linguagem histórica (passado, séculos, antiguidade,
etc.) para que, posteriormente, tenham mais facilidade em compreender a ciência histórica. Não se
pretende, entretanto, extrapolar esta compreensão superficial da História, pois o objetivo nesta
Etapa ainda é o desenvolvimento da leitura e da escrita. Escolhemos narrar a história desde a
fundação da Igreja católica até a Idade Média e algumas de suas características. Veja, abaixo, o
conteúdo das aulas de cada volume. Sugerimos que se estude um capítulo por semana.
173
Capítulo 1
Apresentação da Disciplina História
Introdução
N
ESTA aula, estudaremos os princípios básicos da História, pois a humanidade vive no
tempo e, através de suas escolhas, participa ou não do plano de Deus. Deus criou todas as
coisas para o homem. Este vive um período nesta terra onde deve decidir se estabelecerá
uma aliança de amor com Deus ou não. Sua vida futura, a vida eterna, depende dessa decisão
terrestre. Para realizarmos um bom estudo da História temos que estabelecer algumas noções
fundamentais que serão expostas a partir de agora.
Este estudo da disciplina História deseja fazer com que você ame a Deus e contemple a
Sua Providência através dos acontecimentos históricos ao longo do tempo. Conheceremos alguns
eventos da história da humanidade, onde observaremos épocas extraordinárias, que engrandeceram
o nome de Deus, e períodos adversos, que nos recordam a triste queda dos nossos primeiros pais
Adão e Eva e suas terríveis consequências.
O que é a História?
A História é o período de tempo entre a Criação e o Juízo Final, onde todos os homens
serão julgados por Deus, sendo que uns serão salvos e outros condenados. O acontecimento mais
importante que ocorreu na história da humanidade foi a vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Há milhares de anos atrás, Deus criou todas as coisas, e as criou para o homem, sua criatura
mais bela, pois foi criado à imagem e semelhança do Criador. Desde Adão e Eva, os filhos de
Adão (que são todos os homens) marcham no tempo, assim como um exército marcha em um
campo de batalha. Este tempo se encerrará no Juízo Final, onde todos serão julgados segundo suas
obras.
Gustave Doré. A criação do mundo.
174
Todas as pessoas vivem no tempo. É no tempo que o homem se salva ou se perde. Por isso,
não podemos usar mal este período de prova.
“Ah! Meu Redentor, é o que eu fiz no passado: em lugar de aproveitar o tempo que me dáveis
para chorar os meus pecados, abusei dele para excitar a vossa ira. Agradeço a vossa infinita
bondade o ter-me aturado tanto tempo. Se não fosse infinita, como me houvera sofrido?”
Santo Afonso Maria de Ligório
Cada um de nós tem a sua própria história, ou seja, nascemos de uma família, em tal cidade,
em tal estado; em tal data fomos batizados, em tal igreja, por tal padre. Além disso, passamos por
diversas situações diferentes ao longo de nossa vida. Todas as nossas ações, pensamentos e
palavras estão inseridos na história e prestaremos conta de cada um deles. Mas nossas histórias se
inserem na grande História da humanidade, onde Deus, com sua infinita bondade e graça, quer
salvar as almas que o amam.
Dissemos, acima, que a humanidade marcha como um exército no tempo. Agora é preciso
entender que não há só um, mas dois exércitos: os filhos de Deus e os filhos das trevas, o trigo e o
joio, as ovelhas e os cabritos, para usarmos os termos da Sagrada Escritura. Um grande doutor da
Igreja chamado Santo Agostinho usa os seguintes termos para expressar estes dois exércitos: a
Cidade de Deus e a cidade dos homens.
“Dois amores fundaram duas cidades, a saber: o amor-próprio, levado ao desprezo de Deus, a
terrena; o amor a Deus, levado ao desprezo de si próprio, a celestial.”10
Santo Agostinho
Uma cidade ama a Deus e a outra ama a si mesmo. Estas duas cidades estão em guerra,
mesmo que os nossos olhos não vejam o conflito. Na verdade, este conflito se passa dentro de cada
um de nós. Todas as nossas ações, palavras e pensamentos ou são por amor a Deus ou por amor a
nós mesmos. Trataremos mais profundamente deste assunto no capítulo 4.
10
Trecho retirado da obra “A Cidade de Deus”, parte 2, de Santo Agostinho, p. 165.
175
“Que escultura genial”, exclamará o visitante. Somente com a luz acesa as coisas se tornaram
interessantes.
O salão é a História e a Luz é Nosso Senhor Jesus Cristo. “O povo que andava nas trevas
verá uma grande luz e amanhecerá o dia para os que moravam nas sombras da morte” (Is 9, 1).
Jesus Cristo é o motivo de estudarmos a História, porque toda ela só faz sentido se
entendermos que Deus faz parte dela de tal forma que se fez homem e habitou entre nós, porque
nos ama e quer que vivamos com Ele por toda a eternidade.
176
Victor Meirelles. A primeira Missa no Brasil.
Roque Gameiro. Caravelas portuguesas.
“Tal fé católica, tendo sido, de certo modo, a linfa vital, que alimentou a nação portuguesa desde
seu nascimento, assim foi senão a única, certamente a principal fonte de energia, que elevou a
vossa pátria ao apogeu da sua glória de nação civil e nação missionária, ‘expandindo a fé e o
império’. Refere-o a história e os fatos o atestam”.11
Papa Pio XII
11
Trecho da encíclica “Saeculo exeunte octavo” do Sumo Pontífice Papa Pio XII aos bispos de Portugal, nº 4.
177
Isso é heresia. De fato, Deus sabe o destino de todas as pessoas, mas não criou pessoas para serem
condenadas. A perdição de uma alma ocorre por causa da liberdade humana.
A Providência abrange todas as coisas, desde o movimento dos grandes astros até o voar
de uma mosca. Deus não criou as coisas sem sentido, mas designou um fim para cada criatura.
“Contemplai o céu e a terra, e a sábia economia desse universo. Existe algo melhor concebido do
que este edifício? Existe algo melhor provido do que esta família? Existe algo melhor governado
do que este império? Esse poder supremo, construtor do mundo e que nele nada obrou que não
fosse muito bom, fez, apesar disso, algumas criaturas melhores do que outras. Ele fez os corpos
celestes, que são imperecíveis; fez os terrestres, que são perecedouros; criou os animais,
admiráveis por sua grandeza; criou os insetos e os pássaros, que parecem desprezíveis pela sua
pequenez; criou as grandes árvores das florestas, que subsistem, por séculos a fio; criou as flores
do campo, que murcham entre a manhã e a noite. Existe desigualdade em meio às criaturas, pois
essa mesma bondade, que doou distinção às mais nobres, não a quis para as menos aquinhoadas.
Porém, das maiores até as menores, sua Providência estende-se por toda parte. Ela nutre os
pequenos pássaros, que a invocam desde a manhã pela melodia de seus cantos; e essas flores,
cuja beleza tão cedo fenece, ela as veste tão magnificamente durante esse pequeno momento do
seu ser, que Salomão, em toda a sua glória, nada tem de comparável a esse ornamento. Vós,
homens, que Ele fez à sua imagem, que Ele iluminou com o seu conhecimento, que Ele chamou
ao seu reino, podeis crer que Ele vos esquece, e que sejais as únicas de suas criaturas sobre as
quais os olhos sempre vigilantes de sua Providência paternal não estejam abertos?”12
Jacques Bossuet
Este entendimento da ação da Providência pode gerar algumas dúvidas em relação ao livre-
arbítrio. A liberdade humana existe e é justamente por causa dela que o mal acontece na História,
é pelo mau uso desta liberdade que nossos primeiros pais pecaram e continuamos pecando. Deus
não quer o mal, mas permite que ele aconteça justamente porque nos deu liberdade. É uma decisão
nossa viver com Deus por toda eternidade e Ele nos dará todas as graças de que precisamos para
alcançá-la. Contudo, se nos opormos a ela pecamos e seremos condenados se não houver
conversão. O amor exige a liberdade. Vejamos o que diz o Catecismo de São Pio X13:
53) É livre o homem nas suas ações?
Sim, o homem é livre nas suas ações; e cada qual sente, dentro de si mesmo, que pode fazer uma
ação e deixar de fazê-la, ou fazer antes uma que outra.
54) Explicai com um exemplo a liberdade humana.
Se eu disser voluntariamente uma mentira, sinto que poderia deixar de dizê-la, e calar-me, e que
poderia também falar de outro modo, dizendo a verdade.
“Há uma Providência que conduz a história; há também a liberdade humana capaz de colaborar
com a graça ou de a ela opor-se. Na história se dá o mesmo que na vida de cada homem. Assim
como o homem pode julgar suas próprias ações como ordenadas ou não a seu fim último
sobrenatural, assim também pode julgar os grandes fastos como frutos da sua colaboração com a
12
Trecho retirado da obra “História e Providência”, organizada por Edmilson Cruz, p. 37.
13
Perguntas e respostas retiradas do “Catecismo Maior de São Pio X”, p. 33.
178
graça para a realização do plano salvífico ou produtos da sua soberba de querer realizar na terra
um reino independente de Deus.”14
Pe. João Batista de Almeida P. F. Costa
Linha do Tempo
Atividades
1) O que é a História?
2) Como Santo Agostinho chama os dois exércitos que são inimigos um do outro?
3) Qual é a importância de se estudar História?
4) Qual é a importância de Jesus na História? Peça para que a criança dê o exemplo dado na aula
acima sobre o salão e a iluminação.
5) Em quantas partes o tempo é dividido?
6) Como se chamam estas partes?
7) Quais são as quatro perguntas que o historiador deve responder?
8) O que mais o historiador deve responder?
9) Qual foi a causa das Grandes Navegações?
10) Copie a linha do tempo.
14
Trecho retirado da apresentação do texto “O sentido cristão da História” de Dom Prosper Guéranger, p. 1.
179
Capítulo 2
Fundamentos teológicos da história
Introdução
Vimos no capítulo anterior que a História é o período de tempo que vai da Criação até o
Juízo Final. Para o estudo da disciplina História precisamos responder as quatro perguntas (o que,
quem, quando e onde) e buscar as causas verdadeiras dos acontecimentos.
Porém, não queremos parar por aí. Para nos aprofundar mais ainda recorremos à Teologia
ou à História iluminada pela Teologia. A Providência Divina nunca deixou a humanidade seguir
um sentido diferente dos seus desígnios. Os homens que rejeitam a vontade de Deus se perdem,
mas não mudam o sentido da História.
Deus é o Senhor da História, portanto, compreendemos que as causas dos acontecimentos
são mais profundas e precisam ser conhecidas, na medida do possível, pois ninguém pode conhecer
totalmente os desígnios de Deus. Há algo, porém, que não devemos esquecer: “Nós sabemos que
todas as coisas concorrem para o bem daqueles que amam a Deus” (Rm 8, 28). Mesmo que não
possamos compreender plenamente todos os mistérios da história e conhecer as intenções de cada
pessoa temos a certeza que Deus conduz a história em seu sentido escatológico.
Como diz Bossuet:
“Quem não admiraria vossa Providência? Quem não temeria os vossos julgamentos? Ah!
Em verdade ‘o homem insensato não entende essas coisas e o louco não as conhece. Ele somente
olha o que enxerga e engana-se’ porque de vós ele se agradou somente quando viu, na beleza do
vosso edifício, vossa mão ali colocada no último momento; e vosso Profeta predisse que ‘apenas
no último dia se entenderia o mistério de vosso conselho’.” 15
Isto significa que os mistérios da História só serão conhecidos plenamente no Juízo Final,
onde tudo será revelado.
15
Trecho retirado da obra “História e Providência”, organizada por Edmilson Cruz, p. 41.
180
Tudo foi feito por Ele, e sem Ele nada foi feito.
Nele havia a vida, e a vida era a luz dos homens.
A luz resplandece nas trevas, e as trevas não a dominaram.
Houve um homem, enviado por Deus, que se chamava João.
Este veio como testemunha, para dar testemunho da luz,
a fim de que todos cressem por meio dele.
Não era ele a luz, mas veio para dar testemunho da luz.
O Verbo era a verdadeira luz que, vindo ao mundo, ilumina todo homem.
Estava no mundo e o mundo foi feito por ele, e o mundo não O reconheceu.
Veio para o que era seu, mas os seus não o receberam.
Mas a todos aqueles que o receberam, aos que creem no seu nome,
deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus,
os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do
homem, mas sim de Deus.
E o Verbo se fez carne e habitou entre nós,
e vimos sua glória, a glória que o Filho único recebe do seu Pai,
cheio de graça e de verdade.
João dá testemunho d’Ele e clama, nestes termos:
“Era d’Este que eu dizia: O que vem depois de mim passou à minha frente,
Porque era antes de mim”.
E da Sua plenitude todos nós recebemos, graça por graça.
E que a Lei foi dada por meio de Moisés,
A graça e a verdade vieram por meio de Jesus Cristo.
A Deus ninguém jamais O viu.
Um Deus, Filho Único, que está no seio do Pai,
é que O deu a conhecer.
181
Faça-se em mim segundo a vossa palavra.
Anunciação e a encarnação do Verbo Eterno por Fra Angélico.
182
1º Ensinamento: A divindade e eternidade de Jesus
N
o princípio era o Verbo
e o Verbo estava junto de Deus,
e o Verbo era Deus!
Ele estava, no princípio, junto de Deus.
Tudo foi feito por Ele, e sem Ele nada foi feito.
Nele havia a vida, e a vida era a luz dos homens.
A luz resplandece nas trevas, e as trevas não a dominaram.
Jo 1, 1-5
O princípio deste livro busca olhar para os acontecimentos da história submetidos ao Poder
e à Providência de Nosso Bom Deus, ou seja, Ele e Sua Igreja serão o princípio, o meio e o fim
deste estudo. Portanto, primeiramente apresentamos alguns aspectos importantes sobre Deus.
O Bom Deus: embasado em textos de São João Bosco, São Pio X e Pe. Augustin Berthe.
No princípio, antes de todas as coisas que
conhecemos existirem, só Deus existia, ou seja, só
Deus é eterno. Todas as coisas foram criadas por
Ele através de um simples ato de Sua vontade.
Só existe um Deus, porém há nesse Deus
único três pessoas diferentes: o Pai, o Filho e o
Espírito Santo. Portanto, desde toda a eternidade, o
Criador nunca esteve só, pois encontrava Sua
felicidade e Sua glória no convívio das Três
Pessoas da Trindade.
Numa extraordinária manifestação de amor,
de sabedoria e de poder, criou do nada o Céu e a
Terra, e destinou estas moradas para uma multidão
imensa de seres diferentes. No seu infinito amor,
Deus quis que esses seres pudessem participar na
Sua eterna felicidade.
Quando você era pequeno não sabia andar
nem falar. Agora já sabe muitas coisas bonitas. Ícone da Santíssima Trindade.
Crescerá mais e será grande e forte, mas para isso
procure aperfeiçoar-se cada vez mais. Porém, Deus não pode crescer mais nem ser mais perfeito,
porque Ele é e sempre foi perfeitíssimo, desde toda a eternidade.
Se se examinar, encontrará muitos defeitos. Até o Sol tem manchas. Só Deus não tem
mancha alguma. Os reis são poderosos, Deus é poderosíssimo. Os professores sabem muitas
coisas, mas Deus sabe tudo. Seu pai e sua mãe são bons, porém Deus é muito melhor que eles.
183
Veja como Deus é bom e amável. Ele merece todo nosso respeito e amor. Nós devemos imitá-Lo,
pois isto nos é possível, visto sermos as únicas criaturas livres e inteligentes.
Por exemplo, podemos imitar o seu poder, praticando o bem e fugindo do mal; a sua
sabedoria, instruindo-nos sobre as verdades da fé; a sua bondade, fazendo ao nosso próximo todo
o bem que nos for possível. Para alcançarmos isso recordemo-nos daquele aviso de Jesus: “Sede
perfeitos, como também vosso Pai celestial é perfeito” (Mt 5, 48).
Atividades
1) Quem é o Verbo de Deus?
2) O que significa dizer que somente Deus é eterno?
3) Leia a Primeira Carta de São João, capítulo 3, versículos 7 a 21.
184
Capítulo 3
A encarnação do Verbo
E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, e vimos Sua glória, a glória que o
Filho único recebe do Seu Pai, cheio de graça e de verdade.
Jo 1, 14
Nosso Senhor Jesus Cristo, a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, o Verbo de Deus,
se fez homem e habitou entre nós para perdoar os nossos pecados, para nos servir como O modelo
de vida, para nos ensinar Suas doutrinas recebidas do Pai, para elevar a nossa natureza decaída por
causa do pecado à natureza divina, isso tudo sem perder nada de Sua infinita glória.
Esse é um texto central sobre Jesus Cristo. Nele se manifesta a realidade da Encarnação do
Filho de Deus. “Ao chegar a plenitude dos tempos, enviou Deus o Seu Filho, nascido de mulher”
(Gl 4, 4).
A frase “e o Verbo se fez
carne” significa que Jesus se fez
homem. “E habitou entre nós”: em
vários momentos do Antigo
Testamento anuncia-se que Deus
“habitará no meio do povo” (Jr 7,3;
Ez 43,9; Eclo 24,8). Jesus é perfeito
Deus e perfeito homem, em Quem
se cumpre todas as antigas
promessas, mais além do que
poderíamos esperar. Também a
promessa feita pelo profeta Isaías
onde ele anuncia que Deus habitaria
conosco (Is 7,14; cfr Mt 1,23) se
cumpre quando Jesus veio viver a
nossa história. O Nascimento de Jesus Cristo.
Essa é a maior prova do amor de Deus por nós! Para entender melhor quem é Jesus, leia
essas belas palavras de São Pio X:
“Contempla Jesus na serena beleza da Sua humanidade”. Você aprendeu a conhecer e amar
Jesus no colo de Sua mãe. Jesus é o Filho de Deus feito homem, isto é, a Segunda Pessoa da
Santíssima Trindade. Fez-se homem para nos salvar. Ele é eterno como o Pai, imenso como o Pai,
perfeitíssimo como o Pai.
185
O Evangelho de São João começa com esta solene introdução: ‘No princípio era o Verbo
e o Verbo estava em Deus, e o Verbo era Deus’ (Jo 1, 1). ‘E o Verbo se fez carne e habitou entre
nós’ (Jo 1, 14). Deu Pai confirmou no Monte da Transfiguração, que Jesus Cristo é o Verbo
Encarnado: ‘Este é o meu Filho amado, escutai-O’ (Mc 9,6).
Por que o Filho de Deus se fez homem?
Jesus se fez homem para nos salvar, isto é, para nos remir do pecado e nos reconquistar o
Paraíso.
Deus criou Adão e Eva, cumulando-os de dons maravilhosos: eram imensamente felizes,
inclinados ao bem, isentos de todas as doenças e da morte. Deu-lhes ainda o maior de todos os
dons: a graça, que os faziam filhos de Deus e herdeiros do Paraíso.
Para lhes provar a
fidelidade, Deus os proibiu de
comer o fruto da árvore do bem e
do mal. Mas o demônio, tomando
a forma de serpente, tentou Eva
para comê-lo. Eva escutou o
demônio, comeu o fruto e o deu a
Adão, que também comeu.
Cometeram assim o primeiro
pecado e Deus os castigou
imediatamente. Perderam a graça
e todos os outros dons, tanto para
si quanto para os seus
descendentes; foram expulsos do Adão e Eva sendo expulsos do Paraíso.
Paraíso terrestre e o Senhor fechou-
lhes também as portas do Céu.
Como poderia o homem reconquistar a graça, tornar-se novamente filho de Deus e se salvar
do Inferno?
O Pai Celeste enviou seu Filho para nos salvar e reabrir as portas do Céu. Santo Agostinho,
grande sábio e doutor da Igreja, diz que Deus se fez homem para que nos tornássemos semelhantes
a Ele. Oh! Como Jesus é Bom e como devemos amá-Lo” (São Pio X).
“O
Verbo era a verdadeira luz que, vindo ao mundo, ilumina todo homem. Estava no
mundo e o mundo foi feito por ele, e o mundo não O reconheceu. Veio para o que
era Seu, mas os Seus não O receberam. Mas a todos aqueles que O receberam, aos
que creem no Seu nome, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus, os quais não
nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas sim de
Deus”.
Jo 1, 9-13
186
“A Igreja Católica sabe que todos os acontecimentos se desenvolvem de acordo com a vontade
ou a permissão da Divina Providência e Deus realiza na História os seus próprios objetivos.
Deus é realmente o Senhor da História”.
S.S. Papa Pio XII
“Quem suscitou do Oriente aquele cujos passos são acompanhados de vitórias? Quem pôs
então as nações à sua mercê, e fez cair diante dele os reis? Sua espada os reduz a pó, seu arco
os dispersa como se fossem palha. Persegue-os e passa invulnerável, sem mesmo tocar com
seus pés o caminho. Quem, pois, realizou essas coisas? Aquele que desde a origem chama as
gerações à vida: eu, o Senhor, que sou o primeiro - e que estarei ainda com os últimos.”
Isaías 41, 2-4
“Deus é o Senhor da História, assim como o é do cosmos: ‘É ele, dizia o profeta Daniel (2, 21),
que faz alternar as estações e os tempos, que estabelece e derruba os reis’.”16
Henri Marrou
Todos os acontecimentos da História não passam despercebidos por Deus, uma vez que
“nenhum cabelo cai de vossa cabeça sem que Deus permita” (Lc 12, 7). Todo o universo é obra
criada por Deus, que o
sustenta no ser. O ser
humano é o ápice da criação
e tudo foi feito para o seu
benefício. A partir disso, é
certo que Deus, ao criar
tudo, estabeleceu Seu plano
para a humanidade viver em
comunhão com Ele na
eternidade. A finalidade da
ação de Deus na História é
estabelecer com seus filhos
uma aliança já nessa vida
que se estenderá para a
eternidade.
Jesus Cristo, Senhor da História.
“Deus, árbitro de todos os tempos, do centro de Sua eternidade desenvolve toda a ordem dos
séculos, reconhece-se como Todo-Poderoso e sabe que nada pode escapar às Suas mãos
soberanas.”
Jacques Bossuet
Dessa forma, ressalta-se que tudo o que acontece em nossas vidas, acontece por permissão
divina, previamente determinada por Deus em Seu trono. Isto não significa que Deus quer ou,
muito menos, pratica o mal. O mal, sendo um ato da vontade, é decidido e praticado a partir da
liberdade de cada um. Esse aspecto será estudado com mais detalhe nos próximos volumes.
A partir de nossa liberdade, podemos nos conformar com o Plano Divino ou Lhe fazer
oposição. Entretanto, mesmo nos opondo, Deus, em Sua Eterna Sabedoria, realiza Seu querer.
16
Trecho tirado da obra “Teologia da História” de Henri Marrou, p. 25.
187
Essa lógica da História se exemplifica neste episódio famoso da Sagrada Escritura:
“H AVIA, na terra de Hus, um homem chamado Jó, íntegro, reto, que temia a Deus e fugia
do mal. Um dia em que os filhos de Deus se apresentaram diante do Senhor, veio também
Satanás entre eles. O Senhor disse-lhe: De onde vens tu? Andei dando volta pelo mundo,
disse Satanás, e passeando por ele. O Senhor disse-lhe: Notaste o meu servo Jó? Não há ninguém
igual a ele na terra: íntegro, reto, temente a Deus, afastado do mal. Mas Satanás respondeu ao
Senhor: É a troco de nada que Jó teme a Deus? Não cercaste como de uma muralha a sua pessoa,
a sua casa e todos os seus bens? Abençoas tudo quanto ele faz e seus rebanhos cobrem toda a
região. Mas estende a tua mão e toca em tudo o que ele possui; juro-te que te amaldiçoará na tua
face. Pois bem, respondeu o Senhor. Tudo o que ele tem está em teu poder; mas não estendas a tua
mão contra a sua pessoa. E Satanás saiu da presença do Senhor”.
Jó 1, 6-12
Ao observarmos atentamente esse episódio da vida de Jó percebemos que Deus está
sentado em Seu Trono Altíssimo onde é adorado por Seus filhos, os Anjos. Diante d’Ele se
apresentou também Satanás, desejoso de obter a permissão divina para tentar Jó. Nada pode o
demônio sem o consentimento do Pai. Percebemos a mesma coisa na passagem em que Jesus disse
a Pedro que Satanás pediu para peneirá-lo, contudo o Senhor intercedeu por ele:
“Simão, Simão, eis que Satanás vos reclamou para vos peneirar como o trigo. Mas eu roguei por
ti, para que a tua confiança não desfaleça; e tu, por tua vez, confirma os teus irmãos”.
Para compreender esta concepção da História é necessário, inicialmente, um ato de Fé, pois:
“É muito difícil, talvez até mesmo
impossível, explicar a visão cristã da
História para um não cristão, uma vez
que é preciso aceitar a fé cristã para que
se entenda a visão cristã sobre a História.
Aqueles que rejeitam a ideia da
participação de uma revelação divina são
obrigados, necessariamente, a rejeitar
também a visão cristã da História”.
Christopher Dawson
Assim, serão narrados neste livro os
principais acontecimentos da História da
Salvação da humanidade e como os
acontecimentos históricos se inserem no
Plano de Deus.
Adotaremos a visão sacramental da
História, onde os principais
acontecimentos estudados serão a
Criação, a Queda, a Encarnação, a
Jesus Cristo em seu trono onde governa o mundo e julgará vivos e Redenção, a fundação da Igreja, a
mortos. Santificação e o Reino de Deus. As
histórias dos egípcios, dos gregos, dos
188
romanos, das revoluções industrial e francesa, as guerras mundiais e a História do Brasil serão
estudadas na relação que se estabelece com o Plano Salvífico de Deus.
Incrível semelhança entre a introdução do Evangelho de São João e a concepção
sacramental que um historiador católico deve ter da História: Deus Eterno criou todas as coisas e
se fez carne para salvar a humanidade caída pelo pecado. A Luz veio ao mundo, mas as trevas não
A receberam. Essa humanidade vive no tempo e suas ações determinam a qual civilização ela
pertence, ao Reino de Deus ou ao Império da Trevas cujo líder é Satanás. Uns acolhem Jesus e
seus ensinamentos e outros O rejeitam direta ou indiretamente. Deus age nos acontecimentos deste
mundo incessantemente fazendo apelos com a Sua graça ao homem que busca a si mesmo.
Atividades
1) Escreva uma oração de agradecimento a Jesus no seu caderno, porque Ele se fez homem para
nos salvar.
2) Por que Jesus se fez homem?
3) A partir da encarnação do Verbo, como podemos provar que Deus intervém na História?
4) Como podemos dizer que todos os acontecimentos históricos não passam despercebidos por
Deus?
5) Por que podemos dizer que tudo o que acontece é por vontade ou permissão de Deus?
6) O que significa a visão sacramental da História?
7) Copie a frase (esta frase é uma das mais importantes para nós):
“A Igreja Católica sabe que todos os acontecimentos se desenvolvem de acordo com a
vontade ou a permissão da Divina Providência e Deus realiza na História os seus próprios
objetivos. Deus é realmente o Senhor da História”.
S.S. Papa Pio XII
189
Capítulo 4
A grande batalha
ELE havia a vida, e a vida era a luz dos homens. A luz resplandece nas
N trevas, e as trevas não a dominaram. O Verbo era a verdadeira luz que,
vindo ao mundo, ilumina todo homem. Estava no mundo, e o mundo foi
feito por ele, e o mundo não O reconheceu. Veio para o que era seu, mas
os seus não o receberam.
Jo 1, 1-5
“Dois amores fundaram, pois, duas cidades, a saber: o amor-próprio, levado ao desprezo de
Deus, a terrena; o amor a Deus, levado ao desprezo de si próprio, a celestial.” 17
Santo Agostinho
A imagem acima representa o conflito entre as duas cidades na História. O homem vive este drama, pois os seus
inimigos, o mundo, o demônio e a carne, tentam perdê-lo enquanto a graça de Deus é dada para salvá-lo.
17
Trecho retirado da obra “A Cidade de Deus”, parte 2, de Santo Agostinho, p. 165.
190
A luta entre a luz e as trevas, ou seja, a luta entre o bem e o mal, é a verdadeira chave de
interpretação dos acontecimentos históricos. Muitos historiadores católicos perceberam essa
realidade, mas é a própria autoridade dos ensinamentos do Verbo Encarnado a que nos faz olhar a
História desta forma.
“O gênero humano quase todo tende hoje rapidamente a separar-se em dois opostos campos de
batalha: por Cristo ou contra Cristo. Vê-se agora num momento decisivo, de que há de sair ou a
salvação de Cristo ou a tremenda ruína”.18
Pio XII
A História não se desenvolve separadamente de Deus. Pelo contrário, sendo Ele quem a
governa, ela é um constante combate contra o mal e, apesar das aparências, o bem é sempre
invencível. Na História sempre se verificará a vitória do bem sobre o mal, pois a Igreja é imortal
e “as portas do Inferno não prevalecerão contra Ela” (Mt 16, 18).
O Salmo 32 serve de fundamento para esse entendimento da História: “O Senhor desfaz os planos
das nações pagãs, reduz a nada os projetos dos povos. Só os desígnios do Senhor permanecem
eternamente e os pensamentos de seu coração por todas as gerações” (Sl 32, 10-11). Ao analisar
esses versículos, a Bíblia Comentada por Maximiliano Cordero e Gabriel Pérez diz:
“O salmista fala sobre a luta entre o bem e o mal na História. Toda a Bíblia gira em torno de um
drama que é a batalha entre aqueles que representam os interesses de Deus e se empenham em
difundir seus desígnios na História e, de outro lado, os que se opõem a essa marcha religiosa da
História”.
Biblia Comentada, Libros Sapienciales, Madri (adaptado)
Estas duas cidades estão entrelaçadas uma na outra e intimamente misturadas, de sorte que
nos é impossível separá-las, até o dia em que o Juízo as separará.
“É verdade: Deus ainda não faz separação entre os bons e os maus; mas Ele escolheu o seu dia
decisivo, no qual Ele a fará aparecer completamente diante de todo o universo, quando o número
de uns e de outros será completo”.19
Jacques Bossuet
“Como já dissemos, neste mundo (as duas cidades) andam ambas misturadas e confundidas uma
com a outra.”20
Santo Agostinho
Recorre-se naturalmente à parábola evangélica do joio e do trigo.
“O
Reino dos céus é semelhante a um homem que tinha semeado boa semente em seu
campo. Na hora, porém, em que os homens repousavam, veio o seu inimigo,
semeou joio no meio do trigo e partiu. O trigo cresceu e deu fruto, mas apareceu
também o joio.
Os servidores do pai de família vieram e disseram-lhe:
— Senhor, não semeaste bom trigo em teu campo? Donde vem, pois, o joio?
Disse-lhes ele:
18
Trecho retirado da encíclica Evangelii Praecones do Papa Pio XII, nº 69.
19
Trecho retirado da obra “História e Providência”, organizado por Edmilson Menezes, p. 38.
20
Trecho retirado da obra “A Cidade de Deus” de Santo Agostinho, parte 2, p. 17.
191
— Foi um inimigo quem fez isto!
Replicaram-lhe:
— Queres que vamos e o arranquemos?
— Não, disse ele; arrancando o joio, arriscais a tirar também o trigo. Deixai-os crescer
juntos até a colheita. No tempo da colheita, direi aos ceifadores: arrancai primeiro o joio e atai-o
em feixes para o queimar. Recolhei depois o trigo no meu celeiro.
Em seguida, entrou de novo na casa e seus discípulos agruparam-se ao redor dele para
perguntar-lhe:
— Explica-nos a parábola do joio no campo.
Jesus respondeu: O que semeia a boa semente é o Filho do Homem. O campo é o mundo.
A boa semente são os filhos do Reino. O joio são os filhos do Maligno. O inimigo, que o semeia,
é o demônio. A colheita é o fim do mundo. Os ceifadores são os anjos. E, assim como se recolhe
o joio para jogá-lo no fogo, assim será no fim do mundo. O Filho do Homem enviará seus anjos,
que retirarão de seu Reino todos os escândalos e todos os que fazem o mal e os lançarão na
fornalha ardente, onde haverá choro e ranger de dentes. Então, no Reino de seu Pai, os justos
resplandecerão como o sol. Aquele que tem ouvidos, ouça.”
Mt 13, 24-30; 36-43
O limite que separa estas duas cidades é praticamente invisível a nossos olhos: quantas
vezes Santo Agostinho não voltou a este ponto em sua pregação – também o Evangelho sugere
isso, em mais de uma ocasião: ao lado da parábola do joio, aquela, paralela, da rede lançada ao
lago e que traz à Igreja bons e maus, ou, na pregação do Batista, a eira do Senhor, onde o trigo e a
palha ainda estão misturados: “O inimigo semeou o joio por toda parte: leigos, clero, bispos,
pessoas casadas, religiosos, não deixou nada em que isso não estivesse misturado” (Marrou).
Assim se resume o grande drama da História, ou seja, o que a move: a luta entre os filhos
de Deus e os filhos das trevas, a luta pela salvação das almas ou pela perdição dessas. Essa
concepção da História se encontra na grande encíclica Humanum genus (no 1-2), de Leão XIII:
“O Gênero Humano, após sua miserável queda de Deus, o Criador e Doador dos dons celestes,
‘pela inveja do demônio’, separou-se em duas partes diferentes e opostas, das quais uma
resolutamente luta pela verdade e virtude, e a outra por aquelas coisas que são contrárias à
virtude e à verdade. Uma é o reino de Deus na terra, especificamente, a verdadeira Igreja de
Jesus Cristo; e aqueles que desejam em seus corações estar unidos a ela, de modo que recebam a
salvação, devem necessariamente servir a Deus e Seu único Filho com toda a sua mente e com
um desejo completo. A outra é o reino de Satanás, em cuja possessão e controle estão todos e
quaisquer que sigam o exemplo fatal de seu líder e de nossos primeiros pais, aqueles que se
recusam a obedecer à lei divina e eterna, e que têm muitos objetivos próprios em desprezo de
Deus, e também muitos objetivos contra Deus. Este reino dividido Santo Agostinho
penetrantemente discerniu e descreveu ao modo de duas cidades, contrárias em suas leis porque
lutam por objetivos contrários; e com sutil brevidade ele expressou a causa eficiente de cada uma
nessas palavras: ‘Dois amores formaram duas cidades: o amor de si mesmo, atingindo até o
desprezo de Deus, uma cidade terrena; e o amor de Deus, atingindo até o desprezo de si mesmo,
uma cidade celestial’. Em cada período do tempo uma tem estado em conflito com a outra, com
uma variedade e multiplicidade de armas e de batalhas, ainda que nem sempre com igual ardor e
192
assalto. Nesta época, no entanto, os guerrilheiros do mal parecem estar reunindo-se, e estar
combatendo com veemência unida, liderados ou auxiliados por aquela sociedade fortemente
organizada e difundida chamada Maçonaria. Já não fazendo nenhum segredo de seus
propósitos, eles estão agora abruptamente levantando-se contra o próprio Deus. Estão planejando
a destruição da santa Igreja publicamente e abertamente, e isso com o propósito estabelecido de
despojar completamente as nações da Cristandade, se isso fosse possível, das bênçãos obtidas
para nós através de Jesus Cristo nosso Salvador”.21
Leão XIII
Atividades
1) Por que podemos dizer que a História é uma imensa guerra?
2) Onde esta guerra começou e quando vai terminar?
3) Quem sairá vitorioso deste combate?
4) Copie as frases:
“Dois amores fundaram, pois, duas cidades, a saber: o amor-próprio, levado ao desprezo
de Deus, a terrena; o amor a Deus, levado ao desprezo de si próprio, a celestial.”
Santo Agostinho
“O gênero humano quase todo tende hoje rapidamente a separar-se em dois opostos
campos de batalha: por Cristo ou contra Cristo. Vê-se agora num momento decisivo, de
que há de sair ou a salvação de Cristo ou a tremenda ruína.”
S. S. Pio XII
21
Trecho retirado da encíclica Humanum Genus do Papa Leão XIII, nº 1 e 2.
193
194
195
Sobre a capa
SÃO JOÃO BOSCO
(31 de janeiro)
São João Bosco é um dos Santos mais populares da Igreja e do mundo. Foi sua missão
específica a educação cristã da juventude. Para o desempenho da sua missão salvadora, jamais o
Céu lhe faltou com extraordinários dotes humanos e sobrenaturais.
Dom Bosco tinha sonhos místicos e em um destes sonhos determinou a latitude e a
longitude de uma região, que hoje reconhecemos como sendo Brasília, a capital do Brasil. Por
estes conhecimentos geográficos místicos, escolhemos Dom Bosco como o padroeiro da Geografia
nesta trajetória de estudo.
196
Orientações e práticas de estudo
geográfico
T
EMOS grande alegria de lhes apresentar este material didático da Ciência Geográfica, que
tem por finalidade o engrandecimento de Nosso Senhor Jesus Cristo, de Sua Igreja e o
triunfo da Bem-Aventurada Virgem Maria nos corações e mentes, para que através dos
estudos consigam contemplar o Bem, a Beleza e a Verdade expressas no Catolicismo.
É de extrema relevância que os senhores pais se dediquem a apresentar a Geografia na
educação de seus filhos, pois o presente conteúdo quer apresentar uma nova Geografia, a Católica!
Trata-se de conteúdos que envolvem toda a nossa vida, tanto a terrena, quanto a eterna: referência
à mapas (Cartografia), ajudando a lê-los e compreendê-los, a localizar-se e orientar-se no espaço;
observa, também, aspectos da Criação Divina que nos cerca e sua perfeita harmonia, mostrando as
cores, movimentos e formações diversas levando a perceber, assim, a Grandeza, Beleza e Glória
de Deus Criador. A natureza recebe destaque: a formação do relevo, vegetações, os climas,
furacões, raios, mares, rios, oceanos, o magnífico toque de perfeição e poder do Senhor. Não faltam
passagens das Sagradas Escrituras que exaltam a beleza e o toque divino dado a elas, ressaltando
inclusive a importância da Geografia para a interpretação e entendimento dos espaços bíblicos.
Outro ponto fundamental da Geografia são as relações entre as pessoas (cultura, religião,
guerras, alianças, migrações, etc.), que foram transformando a si mesmas e o espaço a sua volta, à
partir de uma missão dada pelo próprio Deus, Senhor do Universo, ainda em tempos de Adão. Essa
missão santa será apresentada mais adiante. Como se observa, a Geografia possui muito conteúdo
a ser tratado e todos serão vistos a partir da fé Católica que está por trás de toda a Ciência e Vida
Humana.
197
Antes de definirmos o que vem a ser a Geografia em sua visão católica, passemos a algumas
orientações simples e objetivas de como o estudante e os educadores/pais devem proceder ao longo
deste ano. Elas são de extrema importância para o aprendizado do estudante; se forem seguidas,
haverá o desenvolvimento intelectual e espiritual que o aluno necessita, além de desenvolver as
qualidades necessárias para prosseguir no estudo da Ciência Geográfica.
Seguem as orientações:
1ª) Os primeiros Capítulos, serão apresentados os principais fundamentos da Geografia, para que
o estudante alcance o objetivo almejado de todo conteúdo.
2ª) É de extrema importância que o estudante seja aplicado ao estudo semanal de Geografia, tanto
teórico (leitura), quanto prático (exercícios e atividades).
3ª) Para o estudo teórico recomenda-se cerca de 40 minutos semanais; para o estudo prático não
há recomendação de tempo, mas o necessário para que o estudante adquira o conhecimento
essencial do volume.
4ª) Ainda sobre o estudo prático: será proposta uma atividade, escrita ou oral, chamada
“Reforçando o Saber”, composta de exercícios sobre o capítulo, ou algum outro tipo de atividade
semelhante. Essa atividade estará junto ao material teórico e poderá ser corrigida pelos
responsáveis, pois o gabarito com as respostas estará contido na área exclusiva do site. Além disso,
será realizada uma avaliação bimestral (a cada dois volumes), também com gabarito disponível na
área exclusiva.
5ª) Trabalho de mapas: será proposto, ocasionalmente, uma atividade sobre mapas na folha
vegetal, para que o estudante adquira maior noção de localização e alicerce o estudo que está
realizando.
6ª) É importante ter sempre em mãos um dicionário da língua portuguesa para encontrar o
significado das palavras presentes nos textos. Para facilitar, seria interessante sublinhar de
vermelho as palavras desconhecidas e uma estrela ao lado dos parágrafos que tiver dúvida, para
serem levadas na tutoria.
7ª) Procure a tutoria online em caso de dúvidas, via Skype, ou WhatsApp.
8ª) Evite ao máximo assistir TV, usar computador (a menos que seja necessário) e jogar
videogame. Essas práticas, na maioria das vezes, além de estarem abarrotadas de ideologia,
sensualidade e vício, pela quantidade de imagens e o prazer que causam, destroem a imaginação
sadia, vontade de estudo e a busca pela virtude.
Posto tudo isto, é muito importante ressaltar a prática da virtude da Humildade nos estudos,
pois, como diz Hugo de São Vitor, “a Humildade é o princípio do aprendizado, e sobre ela, muita
coisa tendo sido escrita, as três seguintes, de modo principal, dizem respeito ao estudante. A
primeira é que não tenha como vil nenhuma ciência e nenhuma escritura. A segunda é que não se
envergonhe de aprender de ninguém. A terceira é que, quando tiver alcançado a ciência, não
despreze os demais.”22 Estas três prescrições da Humildade são o ponto chave para o bom estudo
e o alcance da graça santificante. Mas, acima de tudo, tanto o filho quanto os pais, devem procurar
22 SÃO VITOR, Hugo de. Opúsculo sobre o modo de aprender e de meditar. Disponível em:
www.cristianismo.org.br.
198
em tudo a virtude e agradar a Deus em suas ações: “Buscai primeiro o Reino de Deus e a Sua
justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas” (Mt 6, 33).
“Aos que fizeram tudo o que tiveram em seu alcance para permanecer fiéis, não lhes faltará
nada, nem a guarda dos anjos nem a proteção dos santos.”
(Santo Hilário de Poitiers)
Introdução
O conteúdo de Geografia para a Etapa 4 tem como objetivo auxiliar o processo de leitura e
escrita dos alunos, e, ao mesmo tempo, habituá-los à linguagem geográfica (definição de alguns
elementos da paisagem natural e humanizada, princípios cartográficos para interpretação de mapas
e localização no espaço, etc.) para que, posteriormente, tenham mais facilidade em compreender
a Ciência Geográfica propriamente dita.
Para alcançar estes objetivos, primeiramente apresentaremos os fundamentos que
sustentam a Geografia, para depois iniciarmos um estudo sobre a Geografia do Mundo Bíblico.
Veja, abaixo, o Conteúdo Programático de cada Volume.
199
- Mar Mediterrâneo.
- Rio Jordão.
- Mar da Galileia.
- Mar Morto.
- Orografia de Israel.
- Sentido místico das montanhas e montes.
- Monte Hermom.
Volume 7 - Monte Tabor.
- Monte Carmelo.
- Monte Sião.
- Monte Moriá.
- Monte das Oliveiras.
- Desertos de Israel.
Volume 8 - Sentido místico.
- Desertos Bíblicos.
- Vales de Israel.
Volume 9 - Climas da Palestina.
- Estradas e caminhos da Palestina.
Volume 10 - Revisão anual.
200
Capítulo 1
Definindo a Geografia
Este tópico apresenta a definição da Geografia. Por isso, talvez ele se constitua em um dos capítulos mais importantes. Sem esta
definição o estudante não terá uma compreensão completa dos conteúdos. Portanto, estude bem!
A
palavra ‘Geografia’ vem do grego, GEOGRAPHIA: ‘GEO’ significa “terra”
e ‘GRAPHIA’ significa “descrever” ou “descrição”. Sendo assim, Geografia significa
algo como a “descrição da terra”. No entanto, como veremos a seguir, essa maravilhosa
ciência é muito mais do que simplesmente descrever a paisagem criada por Deus, é também o
estudo da relação estabelecida entre o homem e essa paisagem.
Para facilitar o entendimento
sobre a Geografia, comparemo-la à uma
árvore. Ela é composta por tronco e
galhos que lhe conferem uma aparência
diferenciada; as raízes dão nutrientes e
sustentação à árvore; e a parte mais
central, chamada cerne que é
considerada a melhor madeira para se Cerne
construir um móvel, pois é bela e muito
resistente, mas está longe dos nossos
olhos, e é mais trabalhoso de se extrair
da árvore.
Os galhos e o tronco, podem ser
comparados aos assuntos mais comuns
da Geografia, conforme apresentamos
no Capítulo anterior. Casca
Porém, fica faltando apresentar
também seu cerne mais belo e suas
raízes mais profundas. O cerne da
Geografia representa o que há de mais
Recorte de um tronco.
belo no mundo: todas as belezas
naturais que nosso Deus criou para que as contemplássemos, e o ser humano e suas diferentes
ações que o levam a Deus. É a identidade que possui o perfume de Cristo, que engrandecem a Sua
Pessoa. Sua essência, o cerne, é então o próprio Deus, Criador de todas as coisas.
As raízes, responsáveis por sustentar a árvore e lhe dar o alimento necessário, são as
Sagradas Escrituras, a Santa Doutrina Católica, a Tradição, a vida dos Santos e seus ensinamentos,
tudo reunido e harmonizado dentro da Igreja Católica Apostólica Romana.
Desta maneira, podemos chegar a uma definição:
A Geografia é uma Ciência que estuda as ações humanas em sociedade e sua relação com
a criação, o que contribui para a sua perfeição.
201
A partir desta breve, mas rica definição, podemos determinar 5 pilares que sustentam a
Ciência Geográfica:
1) Missão de cocriação.
2) Trabalho.
3) Contemplação da criação.
4) Vocação à civilização.
5) Cultura.
Leia o seguinte trecho da Sagrada Escritura:
“26E (por fim) disse: Façamos o homem a nossa imagem e semelhança, e presida aos
peixes do mar, e as aves do céu, e aos animais selváticos, e a toda a terra, e a todos os
répteis, que se movem sobre a terra. 27E criou Deus o homem a sua imagem; criou-o a
imagem de Deus, varão e fêmea os criou. 28E Deus os abençoou, e disse: Crescei te
multiplicai-vos, e enchei a terra, e sujeitai-a, e dominai sobre os peixes do mar e sobre as
aves do céu, e sobre todos os animais que se movem sobre a terra. 29E Deus disse: eis que
vos dei todas as ervas, que dão semente sobre a terra, e todas as árvores, que encerram
em si mesmas a semente do seu gênero, para que vos sirvam de alimento, 30e a todos os
animais da terra, e a todas as aves do céu, e a tudo o que se move, sobre a terra, e em que
há alma vivente, para que tenham que comer. E assim se fez.”23 (Gn 1, 26-30)
Esta passagem da Sagrada Escritura é essencial para o nosso entendimento daquilo que é
mais essencial à Ciência Geográfica.
Ao ser criado à imagem e semelhança de Deus, Adão, e por consequência toda a
humanidade, recebeu uma grande missão: conhecer e contemplar Sua criação, mas também
transformá-la e usá-la livremente, desde que com sabedoria, a fim de sobreviver e servir ao Único
Deus. Desta maneira, nos tornamos cocriadores das obras de Deus.
Aliás, esta missão de cocriação deve também favorecer a vocação do homem para a
construção da civilização, que nada mais é que o aperfeiçoamento de si e de seus costumes,
expressos em suas obras materiais e espirituais, sustentados por uma autêntica e verdadeira cultura.
Para facilitar o entendimento, imagine que seus pais planejem construir uma casa. Para
isso, contratarão uma equipe de pedreiros qualificados para o trabalho. Embora sejam eles que
façam todo o serviço, quem dá os comandos de como e onde cada coisa deve ser feita, é o pai.
Agora vamos à construção da casa propriamente dita: o primeiro e o mais importante passo
para sua construção, depois de limpar o terreno, é colocar o alicerce. Ele é a base da casa, pois,
além de evitar que ela fique torta, confere-lhe firmeza. Depois disso, as paredes são levantadas, e
por último é posto o telhado, ao mesmo tempo que é feito o acabamento (detalhes que embelezam
a casa: janelas, portas, pintura, molduras de parede, etc.).
O alicerce representa a missão de cocriação que Deus deu ao homem, de ser cocriador e
administrador de Sua criação, ou seja, todo o universo. Esta missão será a base para todo o nosso
estudo.
202
As paredes da casa, são os
assuntos referentes ao mundo
natural e à formação da sociedade,
Reforçando o Saber
1- O que é Geografia. Para facilitar a explicação, utilize o exemplo da construção da casa.
2- Quais são os 5 pilares da Geografia?
203
Capítulo 2
Desígnio do amor de Deus para a
humanidade e para o mundo
D
EUS é o Senhor e Criador do universo. Diz-se Criador porque Ele fez do nada o céu, a
terra e todas as coisas que o céu e a terra contêm, isto é, todo o universo; e fez tudo por
amor. Ele cuida do mundo e de todas as coisas que criou, conserva-as e governa-as com
a sua infinita Bondade e Sabedoria, e nada acontece no mundo sem que Deus o queira ou o
permita.24
Nas Sagradas Escrituras, observamos esse processo da Criação no livro do Gênesis, logo
no seu primeiro capítulo, quando Nosso Senhor faz a luz, depois o céu, divide as águas, faz
aparecer a terra firme, o Sol, a Lua, estrelas, vegetais e os animais marinhos e terrestres.
Repare que, para a manutenção da vida no planeta Terra em harmonia e perfeição, nada
mais seria necessário, pois já existia o céu com regime de chuvas, rios, florestas, alimento para
todos os dos seres vivos, animais das mais variadas espécies a cadeia alimentar completa.
Entretanto, Nosso Senhor não criou o mundo para apenas manter vivo os seres. Ainda faltava algo
para que o Amor Divino se manifestasse com maior perfeição: o homem, a criatura mais nobres
que Deus colocou sobre a terra.
Assim, vemos na continuação do primeiro capítulo de Gênesis, como Deus chega ao ápice
de seu plano:
“Deus disse: ‘Façamos o homem à Nossa imagem e semelhança, e que eles dominem sobre
os peixes do mar, as aves do céu, os animais domésticos, todas as feras e todos os répteis
que rastejam sobre a terra’.”
204
O homem foi criado à imagem e semelhança de Deus porque a alma humana é espiritual e
racional, com liberdade para agir, capaz de conhecer e de amar a Deus, e de adorá-Lo eternamente,
perfeições que refletem em nós um raio da infinita grandeza de Deus.25
Ao mesmo tempo, o eterno Pai, por meio do livre e profundo desejo da Sua Sabedoria e
Bondade, criou todo o universo e elevou os homens à participação da vida divina para um fim
maior: a Igreja Católica. “O mundo foi criado em vista da Igreja”, diziam os cristãos dos primeiros
tempos. Deus criou o mundo em ordem à comunhão na Sua Vida Divina, comunhão que se realiza
pela "convocação" dos homens em Cristo, e esta "convocação" é a Igreja. A Igreja é o fim de todas
as coisas.26
Toda a humanidade deve buscar fazer parte da família de Deus e, de modo particular o
homem cocriador deve realizar com plenitude a missão que lhe foi confiada desde muito antes da
sua concepção.
Reforçando o saber
1- O que o homem tem de especial em relação às outras criaturas?
205
Capítulo 3
A missão de cocriação (parte 1)
A missão de cocriação é um tema que será sempre lembrado ao longo do percurso destes estudos, pois ela constitui o fio condutor
de todas as ações humanas, enquanto transformação da paisagem, estabelecimento de uma cultura e de uma civilização. Assim,
sempre que este tipo de assunto for tratado, procure relembrar o que representa essa missão na vida do homem e se ele a está
realizando como Deus a idealizou.
A
PÓS Adão e Eva terem sido criados, Deus lhes deu a missão de serem cocriadores com
Ele, ou seja, administradores e transformadores do espaço, missão esta que se perpetuaria
entre as gerações seguintes até os dias atuais:
Esta missão foi dada ainda dentro do Paraíso: “Tomou, pois, o Senhor Deus o homem, e
colocou-o no jardim do Éden, para que o cultivasse e guardasse” (Gn 2, 15)27. Mas, para que
trabalhar no Paraíso terrestre se ele era perfeito? De fato, devido a essa perfeição, como cocriadores
ainda não necessitavam de aplicar muito esforço.
O sentido de Deus ter dado a Adão a missão de trabalhar no Paraíso, foi que as coisas que
Deus criara, cresciam mais e melhor com a ajuda do trabalho humano, porém, este trabalho não
era uma coisa necessária, era uma graça prazerosa. Mas, isso só ocorria porque o casal vivia ainda
em estado de inocência e de graça. Aliás, todos aqueles que buscam viver na perfeita santidade
também podem realizar seus trabalhos, embora necessários à sobrevivência, de forma fácil e
agradável, a ponto de não perceber as fadigas próprias de cada dia.
Podemos citar o exemplo de um agricultor, que trabalha todos os dias (de segunda à
sábado) em uma grande plantação de feijão.
Ele trabalha debaixo do Sol quente da
manhã e da tarde, cansado pelo acúmulo das
fadigas diárias e, para piorar, a terra é de
difícil produção.
Assim, ele tem duas escolhas: a)
alegrar-se, por saber que Deus providencia
todo o necessário e que se fizer bem feito,
com amor e dedicação, haverá muito feijão
que servirá de alimento para muitas pessoas
ou não, e, mesmo assim esperar da
Providência; ou b) fazer o mesmo trabalho,
mas sempre preocupado se conseguirá
atingir a meta, se não vai chover muito e
destruir a plantação, qual o melhor adubo,
murmurando pelo cansaço que vai se repetir
no dia seguinte.
No primeiro caso, como faz tudo por
amor e servidão a Deus, acaba se Mosaico de Abel e Caim
esquecendo das fadigas do dia a dia e de oferecendo os frutos de seu
trabalho a Deus – Um faz
27 Bíblia Sagrada do Padre Matos Soares, 1956.
206
todas as outras preocupações e se alegra. No segundo, por mais que a plantação cresça muito e dê
alimento para todos, que não falte dinheiro e que não haja nenhum outro contratempo, mesmo
assim não ficará satisfeito e feliz. Por isto, é de extrema relevância que observemos estas duas
situações, pois elas se repetem muitas vezes na sociedade atual, seja no campo, na cidade, em casa,
na fábrica, etc.
Lembremo-nos de que o homem nasceu para ser feliz e só alcançará a plena felicidade se
contemplar a Deus. Quando os homens só contemplam as riquezas e os prazeres, nunca alcançarão
a felicidade verdadeira. Posteriormente, mostraremos como mudar esse quadro.
Voltando ao percurso da história da humanidade decaída: após o pecado original e a
expulsão do Paraíso, Adão e Eva perderam a graça de Deus e o direito que tinham ao Céu, e
ficaram submetidos a muitas misérias na alma e no corpo e condenados a morrer. Necessitavam
voltar à perfeição:
“E o Senhor disse a Adão: Porque destes ouvidos à voz de tua mulher, e comeste da árvore
de que te ordenei, dizendo: ‘Não comerás dela’, maldita é a terra por causa de ti; com dor
comerás dela todos os dias da tua vida. Espinhos, e cardos também, te produzirá; e
comerás a erva do campo. No suor do teu rosto comerás o teu pão, até que te tornes à
terra; porque dela foste tomado; porquanto és pó e em pó te tornarás.” (Gn 3, 17-19)
Deus não os abandonou à sua própria sorte, e não os expulsou do Paraíso apenas para dar-
lhes uma repreensão pelo delito cometido.
207
“Então disse o Senhor Deus: Eis que o homem é como um de nós, sabendo o bem e o mal;
ora, para que não estenda a sua mão, e tome também da árvore da vida, e coma e viva
eternamente, o Senhor Deus, pois, o lançou fora do jardim do Éden, para lavrar a terra
de que fora tomado.” (Gn 3, 22-23).
Mesmo após o pecado, Deus, por amor à humanidade, deixou inalterada a missão do
homem de guardião da criação, mas acrescentou, um meio pelo qual voltasse a alcançar o Paraíso
Eterno: o trabalho (“lavrar a terra de que fora tomado”). Como será visto adiante, o trabalho não
é diferente da missão de cocriação, mas, a partir do pecado, essa missão se torna árdua e por vezes
sem interesse na salvação ou em servir a Deus, mas apenas para enriquecimento e vanglória
própria.
Desta maneira, o homem conseguirá voltar à perfeição e ser merecedor da morada celeste:
realizando a missão dada por Deus de dominar a terra e toda criatura, com o suor de seu rosto.
Como agora não possuem mais as dádivas da perfeição santa, o trabalho se tornou sofrido
e angustiante, fadiga e pena, por causa do pecado cometido. Eles pecaram pela desobediência e
soberba, querendo ter o domínio absoluto sobre todas as coisas, acreditando que seriam deuses,
sem se submeter à vontade do Criador, e isso os afastou de Seu olhar de amor.
Reforçando o saber
1- Em que consiste a missão do homem dada por Deus?
2- Por que Adão e Eva foram expulsos do Paraíso?
3- Após o pecado original, a missão de cocriação continua? Será fácil? Explique.
208
Capítulo 3
A missão de cocriação (parte 2)
A
ruptura com Deus causada pelo pecado de
Adão e Eva, foi transmitida à toda a
humanidade e será o fim. Ele provocou
também a ruptura interior da pessoa humana,
gerando um desequilíbrio na relação entre o homem
e a mulher e na relação deles com as demais
criaturas. Nesta condição, o solo se tornou ruim,
ingrato e somente com o suor do rosto será possível
tirar dele alimento.
Assim, se o homem rompeu com Deus,
perdeu a harmonia com todas as coisas (animais,
plantas, água, rochas, etc.), Adão antes, quando era
perfeito, vivia ao lado de muitas feras como com animais domesticados; mas agora precisava de
abrigo e acessórios de proteção contra as feras. Seus descendentes também nascerão com a mancha
do pecado e escolherão o mal caminho, sendo egoístas, violentos e destruidores de tudo e de todos.
Um exemplo bem conhecido de uma pessoa que resgatou a perfeição e harmonia entre
todas as coisas é o Padre José de Anchieta. Quando começou a evangelizar os índios canibais e
violentos do Brasil, conseguiu convertê-los e trazê-los à Luz da Verdade. Certa vez, enquanto
rezava o rosário em uma floresta, contemplando as maravilhas de Deus expressas na natureza, foi
surpreendido por uma feroz e faminta onça e de forma dócil e amigável exclamou: “onça, sou eu,
José de Anchieta”. Ela se aproximou dele e, mansamente, lhe ofereceu sua cabeça para ser
209
que enfrentavam os primeiros evangelizadores na Terra de Santa Cruz (Brasil), cheia de perigos, doenças,
até a perda de alguns, trabalhando dia e noite, com muita alegria por saber que estavam levando mais
pessoas a Deus:
“Quase sem parar, andamos visitando várias povoações, tanto de índios como de portugueses,
sem se importar com os dias eram calmos, de chuvas ou de grandes enchentes de rios e muitas vezes, de
noite, andamos por bosques muito escuros a socorrermos os enfermos, com grande trabalho. Passamos
por caminhos cheios de pedras, espinhos, penhascos e são tantas estas povoações e tão longe umas das
outras, que não somos suficientes para acudir tantas necessidades, mesmo se estivéssemos em maior
número, não poderíamos bastar. Ajunta-se a isto, que nós que socorremos as necessidades dos outros,
muitas vezes estamos maldispostos e cheio de dores, desfalecemos no caminho, de maneira que apenas
podemos chegar até o local dos índios e não conseguimos voltar; assim parece que os médicos (jesuítas)
tem mais necessidade de ajuda do que os enfermos (índios). Mas nada é árduo aos que têm por meta
trabalhar somente pela honra de Deus e a salvação das almas, pelas quais não duvidarão dar a vida.”
Como pôde ser observado na
história do Padre Anchieta, o trabalho era
sofrido, mas como ele e os jesuítas
procuravam fazer tudo com perfeição e
amor à Deus, o sofrimento era esquecido
por causa da alegria com que faziam
tudo. Esta é a verdadeira missão de
cocriação que Deus havia dado à Adão
dentro do Paraíso.
Falando um pouco mais sobre o
trabalho de resgate da santidade, para ser
completo, ele deve ser realizado por
meio de dois esforços:
a) esforço corporal que consiste
na transformação da paisagem para a
sobrevivência corporal, bem como para
construir a sociedade;
b) esforço espiritual, esforço
para amar e Deus e glorificá-Lo, através
Adão e Eva trabalharam na terra e viveram em grande penitência da oração íntima e das penitências para
(esforço corporal) e oração (esforço espiritual) para voltar ao estado
de inocência – Catedral de Canterbury.
expiar nossos inúmeros pecados.
O esforço corporal de Adão
poderia ser realizado lavrando a terra, caçando e sobrevivendo em um mundo cheio de incertezas
e sofrimentos. Mas Deus estava com eles providenciando todo o necessário para viverem bem: “E
fez o Senhor Deus a Adão e à sua mulher túnicas de peles, e os vestiu”.
Eles ainda possuíam a grande graça de estar na presença do Senhor, pois Adão e Eva
viveram até o fim da vida em penitência pelo erro cometido e isso agradou ao Senhor.
O trabalho enquanto esforço corporal deve ser honrado, porque é fonte de riqueza ou pelo
menos manutenção da vida e eficaz contra a pobreza (falta das necessidades básicas), mas não o
colocando como objetivo de vida, idolatrando-o, pois nele não se encontra o sentido da vida, mas
210
sim uma forma de temer e glorificar a Deus, pois vale mais ter um pouco com Deus, do que muito
sem Ele.
Nosso Senhor Jesus Cristo ensina a apreciar o trabalho quando passa grande parte de Sua
vida terrena dedicando-se ao serviço de carpinteiro na oficina de São José, a quem estava submisso.
Ensina que todos devem exercer seus dons e talentos e não escondê-los, sejam quais forem, mas
sempre se preocupando, antes de tudo, com a alma, em ganhar a salvação e não o mundo. 28 Deus
dá a cada ser humano a oportunidade única de viver e espera amorosamente que ele trabalhe e
desenvolva os talentos que Ele lhe concedeu. "Trabalhai na vossa salvação com temor e tremor" (Fl 2,
12), diz também São Paulo.
211
companhia. Cada trabalhador é a mão de Cristo que continua a criar e fazer o bem. Nenhuma
atividade humana deve ser somente para benefício próprio, mas principalmente para ajudar o
próximo, servindo e agradando ao Senhor Deus, alcançando novamente o Paraíso Eterno.
Reforçando o saber
1- Quais foram as consequências do pecado de Adão e Eva para toda a humanidade? Qual a solução
apresentada por São José de Anchieta para restaurar o equilíbrio com as coisas criadas por Deus e
com o próprio Deus?
1- Para quem devemos trabalhar?
2- Cite as principais características dos dois esforços presentes no trabalho e exemplos de Santos
ou pessoas comuns.
212
Capítulo 4
Contemplação das belezas de Deus
Este capítulo é de suma importância, pois toda vez que se tratar da geografia física, ou seja, dos elementos naturais da paisagem,
além do olhar técnico e material, o estudante deve também adquirir um olhar espiritual, realizado através da contemplação.
N
O capítulo anterior, vimos um pouco sobre o trabalho e seus esforços para cumprir a
missão de cocriação e voltar à perfeição divina. Neste capítulo, falaremos mais sobre o
esforço espiritual, que se refere à vivência de um fiel católico, segundo as determinações
da Igreja, que deve cumprir os Dez Mandamentos da Lei de Deus e os cinco Mandamentos da
Igreja, viver os Sacramentos, orar diariamente na intimidade com Deus, praticar a piedade, as obras
de misericórdia, dentre outras coisas que fazem parte da vida em Cristo, porém, todas essas práticas
serão ensinadas na disciplina de Estudo Sagrado. A Ciência Geográfica deve ressaltar um dos
aspectos da vida espitural: a contemplação. Ela funciona como que um óculos para enxergarmos
as belezas de Deus ocultas no universo criado, bem como encontrar o cerne da Geografia.
Contemplar é possuir um olhar mais profundo sobre as coisas, entendê-las por completo, à
ponto de encontrar seu Criador e conhecê-Lo pela grandeza e equilíbrio de suas criaturas. Enxergar
que é o Senhor que move todas as coisas: nenhuma pena de um pássaro cai, ou um peixe é fisgado
no anzol do pescador sem que Deus saiba. Ele conhece e auxilia em todas as coisas. Se usamos a
mente com toda a pureza e intensidade para ver como o Senhor está perto dos Santos; ou para
entender que quando nosso coração bate é Ele que o faz dar cada batida, ou ainda consideramos
que Ele contou todas as areias da praia, as gotas do oceano e as estrelas do céu, aí sim estamos
contemplando.30
Assim como a abelha nasceu para fazer o mel e a aranha suas teias, o homem nasceu para
ser feliz. As pessoas não se estabeleceram em sociedade somente para nascer, crescer e morrer,
mas para viver felizes, pois essa é a finalidade da vida humana, a Felicidade.
Evidentemente, não estamos falando de uma felicidade mundana e passageira, das riquezas,
ambições e prazeres, mas sim da perfeita felicidade. E qual seria? Segundo Santo Tomás de
Aquino, “a perfeita felicidade consiste na contemplação da Verdade”31, que é Deus.
Como, porém, pode o homem alcançar tal objetivo? É muito difícil contemplar os bens
eternos. Por isso, Deus dispôs dos bens visíveis (a criação) para facilitar nosso caminho rumo a
perfeição.
Segundo D. Thiago Sinibaldi, a partir dos estudos de Santo Tomás de Aquino (Sum. Th. P.
I, q. 2), a nossa inteligência conhece Deus por um modo indireto, porque não podemos conhecer
Deus em si mesmo, mas nas coisas criadas. Ou seja, a partir dos seres finitos, chegamos ao Ser
infinito; a partir dos seres criados, chegamos ao Criador32.
Em todo ser que possui inteligência existe o desejo de conhecer as causas daquilo que
veem, ou seja, saber a origem das coisas, quem ou o que as fez e para que elas existem. É claro
que a origem de todas as coisas é Deus Todo Poderoso e que nelas existem somente partículas
30 ROSA, Antonio Donato. A Educação segundo a Filosofia Perene: síntese sobre a Educação humana. Disponível
em: http://cristianismo.org.br/efp-ind.htm. Acesso em: 05 jan. 2018.
31 Santo Tomás de Aquino, In Libros Ethicorum Expositio, L. X, l. 10, 2092.
32 SINIBALDI, D. Thiago. Elementos de Philosophia. 4ª ed., v. 2, Roma: Via del Banco S. Spirito, 1916, p. 331.
213
muito pequenas de Sua Realeza Celeste, mas é possível, por meio da contemplação das obras de
Deus e de tudo o que representa o esforço espiritual da missão de cocriação, chegar ao caminho
da verdadeira felicidade.
São Francisco de Assis é um exemplo perfeito de contemplação, pois através do Cântico das Criaturas,
expressa ver toda a Beleza, Grandeza e Imensidão de Deus na natureza. Ele não amou e adorou a
natureza, mas amou e adorou a Deus através da natureza.
À princípio, Deus não quis colocar toda a Sua Bondade e Beleza em uma única criatura,
por isso, multiplicou as criaturas e as espécies. Ele produziu coisas diversas para que aquilo que
faltasse a uma fosse suprido por outra:
“Certa vez um anjo resolveu percorrer a terra em busca da mais bela das criaturas.
Contemplava, maravilhado, a obra dos seis dias e encantava-se com os reflexos das
perfeições divinas nela contidos. Abalava-se com a singeleza das plantas e a ordenação
dos pequenos animais, maravilhava-se com a vastidão das mais belas paisagens naturais,
impressionava-se com a majestosa e implacável força da natureza. Tudo o que via com os
olhos do espírito enchia-o de sentimentos de adoração a Deus. Todavia, não encontrou
uma criatura que condensasse os incontáveis esplendores que o haviam fascinado.
Então pensou: “Se me fosse dado criar um ser perfeito, que características ele deveria
ter?”
Voltou-se para o oceano e admirou sua grandeza: imponente e forte, mas envolvente; ora
feito de calma, rico em cores e variações, ora violento, furioso e indomável. O Anjo pensou
que uma criatura, para ser perfeita, precisaria harmonizar em si todas as qualidades do
mar.
Nesse momento, porém, os ventos atraíram-lhe a atenção. Às suaves brisas que
acariciavam com delicadeza a vegetação sucediam-se ventanias impetuosas, furacões e
tempestades, símbolos da cólera divina. “Como seria bom reunir também estes atributos”,
pensou.
214
Mal cessara o vento, se interessou pelas árvores, cuja força e fertilidade mostram a
imensidão de Deus. O Anjo não cabia em si de assombro quando avistou ainda as águas
puras e cristalinas dos lagos, e observou o brilho e o calor do fogo, instrumento divino
para purificação da terra. Considerando assim a obra do Altíssimo, concluiu que a
criatura perfeita seria aquela que refletisse, ao mesmo tempo, todas as excelências divinas
disseminadas entre os diferentes seres.
Então, elevando os olhos, pôde ver a formosura inefável da Virgem Santíssima. E
compreendeu que Deus reunira n’Ela o brilho de todas as suas qualidades, pois em seu
seio virginal a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade (Jesus Cristo) tomaria carne. Em
razão da proximidade da mãe com seu filho, Nossa Senhora, chamada a ser a Mãe de
Deus, deveria ser inundada por Ele de insondáveis perfeições na ordem da natureza e da
graça.”33
Tho
Vê-se com esta bela história a possibilidade de contemplar toda a riqueza, perfeição, amor
e harmonia de Deus no mundo natural, mas, principalmente, como a contemplação da pessoa
humana é infinitamente superior, pois reúne todas essas qualidades de Nosso Criador,
especialmente quando se trata dos seres mais dignos do universo, como a Bem-Aventurada Virgem
Maria, os Santos Anjos ou a Santíssima Trindade.
O nosso espírito, ensina Santo Tomás, “para se unir com Deus, precisa ser conduzido pelas
coisas sensíveis (ou seja, coisas que podemos tocar, ver, sentir, ouvir), porque ‘as coisas invisíveis
de Deus são conhecidas por intermédio das criaturas’ (Rm 1, 20)”. As pessoas, não conseguem ver
a Deus diretamente. Elas se elevam até onde podem na contemplação do divino por meio de
imagens sensíveis.
33 História de autor indefinido, transcrita no livro “São José: quem o conhece?” de Mons. João S. Clá Dias (São
Paulo, 2017, p.29-31).
215
Santo Tomás ainda diz que o culto a Deus precisa usar de coisas corpóreas para que, por
elas, que são como sinais, a mente humana desperte para atos espirituais, podendo assim se unir
de fato com Deus. Essas coisas corpóreas, como as árvores, as belas aves, as flores, os rios, não
são o fim da santidade, quer dizer, elas não podem nos levar para o Céu, mas podem sim ser uma
janela na muralha que existe entre nós e Deus, convidando a uma atitude de admiração, entrega e
gratidão.
Caso contrário, se ficássemos contemplando as belezas naturais e humanas, esquecendo de
quem as criou, cairíamos no mesmo pecado que caíram os homens insensatos citados no capítulo
13 do livro da Sabedoria:
"São insensatos por natureza todos os que desconheceram a Deus, e, através dos bens
visíveis, não souberam conhecer Aquele que é, nem reconhecer o Artista, considerando
suas obras. Tomaram o fogo, ou o vento, ou o ar agitável, ou a esfera estrelada, ou a água
impetuosa, ou os astros dos céus, por deuses, regentes do mundo." (Sb 13, 1-2).
Deus não condena quem quer contemplá-Lo através das coisas criadas, mas é preciso
compreender que o único meio de encontrar e adorar verdadeiramente a Nosso Senhor, é
reconhecendo que todas as coisas foram criadas por Ele, que toda a grandeza, perfeição, harmonia
e beleza do universo foram feitas pelas Mãos Divinas e Poderosas do Senhor:
"Se tomaram essas coisas por deuses, encantados pela sua beleza, saibam, então, quanto
seu Senhor é maior do que elas, porque é o Criador da beleza que fez estas coisas. Se o
que os impressionou é a sua força e o seu poder, que eles compreendam, por meio delas,
que seu Criador é mais forte; pois é a partir da grandeza e da beleza das criaturas que se
conhece o seu Autor. Contudo, estes só recebem uma leve repreensão, porque, talvez, eles
caíram no erro procurando Deus e querendo encontrá-Lo; vivendo entre Suas obras, eles
as observam com cuidado, e porque eles as consideram belas, deixam-se seduzir pelo seu
encanto. Ainda uma vez, entretanto, eles não são desculpáveis, porque, se eles possuíram
luz suficiente para poder entender a ordem do mundo, como não encontraram eles mais
facilmente aquele que é seu Senhor?" (Sb 13, 3-9)
Nos tempos atuais, o homem sente-se órfão do belo, dessa janela que torna mais fácil a
nossa passagem para o Céu. Sua alma busca valores eternos que vem de Deus, mesmo sem
conhecê-Lo. Porque “assim como a corça suspira pelas águas vivas” (Sl 41, 2), o ser humano tem
sede de Deus, Beleza absoluta e eterna, mas não consegue mais encontrá-Lo, pois ficou cego
procurando a si próprio, na soberba e egoísmo deixados como herança pelos primeiros pais, Adão
e Eva.
“Assim, teu Deus te amou desde a eternidade; e é só por amor de ti que tirou do nada tantas
outras criaturas formosas, afim de que te servissem e te recordassem sem cessar o amor que te tem,
e o que Lhe deves. O céu e a terra, exclamava Santo Agostinho, tudo me prega, ó meu Deus, quanto
sou obrigado a amar-Vos. Quando o Santo olhava o sol, a lua, as estrelas, as montanhas, os rios,
parecia-lhe que todas estas criaturas lhe diziam: Agostinho, ama a teu Deus, criou-nos para ti, para
ganhar o teu amor34.
34 LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo III: Desde a Décima
Segunda Semana depois de Pentecostes até o fim do ano eclesiástico. Friburgo: Herder & Cia, 1922, p. 78-81.
216
O abade de Rancé, fundador da Trappa, à vista das colinas, das fontes, das flores, dizia que
todas estas criaturas lhe recordavam o amor que Deus lhe tinha. Santa Teresa dizia igualmente que
as criaturas lhe repreendiam a sua ingratidão para com Deus. Quando Santa Maria Magdalena de
Pazzi tinha na mão uma bela flor ou qualquer fruto, sentia o coração ferido por uma seta do amor
divino, dizendo consigo: “O meu Deus pensou desde a eternidade em criar esta flor, este fruto, a
fim de que eu o amasse!”35
Diante disso, percebe-se a valorosa importância do esforço espiritual na missão de
cocriação e na volta à perfeição divina: “Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e a Sua justiça
e todas estas coisas vos serão dadas em acréscimo” (Mt VI, 33).
Dois grandes exemplos bíblicos famosos em que os personagens tiveram a importante
decisão de viver para sua vanglória ou para a glória de Deus, dá-nos a história de Caim e Abel e
de Marta e Maria: no primeiro caso, a soberba, inveja e desequilíbrio foram ao máximo grau,
quando o irmão mau ceifou a vida do servidor do Criador. Abel, em suas atitudes, realizava os
dois esforços impostos pelo trabalho (corporal e espiritual) de maneira santa. Caim, porém, vivia
para si, se esforçava muito para que suas plantações dessem bons frutos, mas oferecia o pior a
Deus, mostrando seu egoísmo. Embora o esforço corporal de Caim enquanto sobrevivência fosse
bem exercido, não estava completo, carecia da penitência e do esforço espiritual.
No segundo caso, Marta se ocupa
com muitas coisas, preparando a refeição
do Senhor. Maria, ao contrário, preferiu
alimentar-se do que dizia o Senhor. Não
reparou na agitação contínua de sua irmã
e sentou-se aos pés do Senhor Jesus, sem
fazer outra coisa senão escutar as Suas
palavras. Tinha compreendido de forma
fidelíssima o que diz o Salmo:
“Descansai e vede que Eu sou o Senhor”
(Sl 46, 11). Marta consumia-se, Maria
alimentava-se; aquela se preocupava com
muitas coisas, esta só com uma. Marta
representa a vida ativa, exercendo o
trabalho corporal e em menor proporção
o espiritual. Maria, por sua vez, simboliza
a vida contemplativa, em que dá plena
dedicação ao esforço espiritual. Deste Abel, ajoelhado, oferece o
modo, se a vida ativa (esforço corporal) é melhor a Deus, que aceita de
desprovida da união com Deus, é inútil e bom grado sua oferta,
estéril. Mas, também uma suposta vida de oração que dispense a evangelização e a doação pelos
outros também não agrada a Deus. A chave está, pois, em saber unir estes dois esforços, sem
prejuízo nem de um nem de outro.36
35 Idem.
36 BÍBLIA SAGRADA: anotada pela Faculdade de teologia da Universidade de Navarra: Santos Evangelhos.
Braga: Edições Theologica, 1985. 1501p.
217
Grão Vasco – Jesus na casa de Jesus e Maria, 1535 – Museu
Reforçando o saber
1- No que consiste a contemplação? Escreva um exemplo do Santo citado no texto que conseguiu
fazer isso com perfeição.
2- Como Deus se faz presente nas criaturas? Quais foram as Suas qualidades nelas colocadas?
3- Qual é o possível risco encontrado na contemplação da natureza?
218
219
Sobre a capa
São Lucas, o Evangelista, era médico, como podemos notar na epístola de São Paulo aos
colossenses, do qual era inseparável e fiel companheiro de missão (“o caríssimo médico”,
Colossenses 4, 14). Mas, não raro, também se diz que ele era pintor, por isso é o padroeiro dos
médicos e pintores. Além de médico, homem culto e letrado, o Evangelista teria sido o primeiro a
retratar a Virgem Maria. Segundo antiga tradição, São Lucas a teria pintado enquanto ela relatava
o que teria acontecido com seu Filho, Jesus. Há pinturas atribuídas a ele que existem até hoje,
como é o caso dos ícones da “Theotokos de Vladimir” e de “Nossa Senhora de Czenstochowa”.
São Lucas pinta a Virgem (detalhe), obra preservada na Academia Nacional de San Luca, em
Roma. Obra atribuída a Rafael Sanzio.
220
Introdução
E
STE material tem por objetivo levar o aluno a contemplar a beleza como reflexo
de Deus, expressa na obra da criação. Que o mesmo compreenda, através da arte,
que Deus é o autor de toda criação, que dispôs com beleza as partes do Universo;
que ele aprenda a contemplar a beleza da Arte Sacra e perceba que o dom
artístico, dado por Deus, é a forma do homem se expressar e de contemplar, em sua obra,
o próprio Criador. Que pela apreciação e escuta musical, o estudante entenda a
importância de saber ouvir e fazer silêncio, virtude necessária para alcançar a intimidade
com Deus.
Que pelo estudo da Arte, o aprendizado e desenvolvimento das habilidades
artísticas conduzam o estudante à aquisição de virtudes, tal como a busca pelo bem, pelo
belo e pela verdade, frutificando em uma vida autenticamente cristã, de santidade.
É importante que a leitura dos textos seja feita com a presença e ajuda dos senhores, para maior
entendimento e aprendizado de seus filhos. Oriente-os na realização das atividades. Faça com seu filho
uma leitura calma e certifique-se de que ele está compreendendo o assunto; faça pequenas pausas na
leitura e dirija a ele perguntas.
Para exercer a apreciação e a escuta musical, durante as atividades escute alguns Cantos Gregorianos.
A saber, o Canto Gregoriano é o canto oficial da Igreja Católica e por essência é uma oração. Foi
estabelecido pelo papa São Gregório Magno no século VI. Indicação para encontrar os cantos:
As aulas de Arte podem acontecer uma vez por semana. Para que
os trabalhos de Arte sejam organizados e preservados, guarde-os
em uma pasta. Sugestão: arquivar os trabalhos em uma pasta
catálogo (fácil acesso).
221
Estudo da Arte: qual a importância?
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O Altíssimo sustenta todas as criaturas, é o único Ser necessário; todos os outros são
casuais, ou seja, poderiam não existir.
“Ele existe antes de todas as coisas, e todas as coisas subsistem n’Ele.” (Cl 1, 17)
“E transcende os seres criados, pois está acima de todas as suas obras.” (Eclo 43, 30)
O grande e único Autor de todas as coisas, nosso Deus Todo Poderoso, vendo toda a sua
obra, a Criação, considerou-a muito boa. São João Paulo II declara, em sua carta aos artistas, que
a página inicial da Bíblia nos apresenta Deus quase como o modelo exemplar de toda a pessoa que
produz uma obra de arte; no artesão, reflete-se a sua imagem de Criador. No final de sua obra,
criou o homem, o fruto mais nobre do seu projeto, a quem submeteu o mundo visível como um
campo imenso onde exprimir a sua capacidade inventiva.
Por isso, quanto mais consciente está o artista do dom que possui, tanto mais se sente
movido a olhar para si mesmo e para a criação inteira com olhos capazes de contemplar e
agradecer, elevando a Deus o seu hino de louvor. Só assim é que ele pode compreender
profundamente a si mesmo e a sua vocação e missão.
223
Arte Sacra: santas imagens
Uma obra de arte (arquitetura, pintura, escultura, música etc.) é considerada sacra quando
é destinada à uma função litúrgica.
Entre as mais nobres atividades do espírito humano estão, de pleno direito, as belas artes,
e muito especialmente a arte religiosa e o seu mais alto cume, que é a arte sacra. Elas tendem, por
natureza, a exprimir de algum modo, nas obras saídas das mãos do homem, a infinita beleza de
Deus, e estarão mais orientadas para o louvor e glória de Deus se não tiverem outro fim senão o
de conduzir piamente e o mais eficazmente possível, através das suas obras, o espírito do homem
até Deus.
É esta a razão pela qual a santa Mãe Igreja amou sempre as belas artes, formou artistas e
nunca deixou de procurar o contributo delas, procurando que os objetos referentes ao culto fossem
dignos, decorosos e belos, verdadeiros sinais e símbolos do sobrenatural. A Igreja julgou-se
sempre no direito de ser como que o seu árbitro, escolhendo entre as obras dos artistas as que
estavam de acordo com a fé, a piedade e as orientações veneráveis da tradição e que melhor
pudessem servir ao culto.
224
A tradição musical da Igreja é um tesouro de inestimável valor, que excede todas as outras
expressões de arte, sobretudo porque o canto sagrado, intimamente unido com o texto, constitui
parte necessária ou integrante da Liturgia solene. A música sacra será, por isso, tanto mais santa
quanto mais intimamente unida estiver à ação litúrgica, quer como expressão delicada da oração,
quer como fator de comunhão, quer como elemento de maior solenidade nas funções sagradas.
225
Beleza: expressão e reflexo de Deus
Os salmos são expressão da beleza Divina e por meio deles é possível contemplar a obra
perfeita do Criador:
Salmo 8
Paisagem: natureza
226
São João Damasceno diz que a beleza e a cor das imagens estimulam sua oração. É uma
festa para seus olhos, tanto quanto o espetáculo do campo estimula seu coração a dar glória a Deus.
A beleza é a chave do mistério e apelo ao transcendente. É convite a saborear a vida e a sonhar o
futuro.
Por isso, a beleza das coisas criadas não pode saciar, e suscita aquela misteriosa saudade
de Deus que Santo Agostinho soube interpretar com expressões incomparáveis: “Tarde Vos amei,
ó Beleza tão antiga e tão nova, tarde Vos amei!” Há belezas existentes nas criaturas, que são
reflexos da Beleza do Criador e ao contemplar tal beleza estaremos conhecendo, amando,
louvando e glorificando a Deus.
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Atividades
Exercício 1: Leia o texto novamente destacando as partes que mais lhe chamaram a atenção.
Em seguida, responda à pergunta oralmente e realize os exercícios a abaixo.
Pergunta:
Exercício 2: Em um ambiente aberto, observe o que está a sua volta, observe a paisagem que
compõe sua visão. Contemple-a percebendo a beleza da obra de Deus e compreendendo que nada
do que está vendo existiria se Ele não o tivesse criado.
Use o talento dado por Deus a você e faça uma produção artística que expresse a beleza do
grande e único Autor.
Essa produção artística pode ser feita por ilustração em folha sulfite A4, usando lápis de
cor, giz ou mesmo tinta para colorir.
A ilustração é uma imagem, desenho, pintura ou colagem que serve normalmente para
acompanhar um texto, a fim de, acrescentar informações, sintetizar, decorar ou representar
visualmente o texto.
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