Checklist de Mobilização Precoce
Checklist de Mobilização Precoce
Checklist de Mobilização Precoce
19500
Resumo
Ronaldo Luís Abdalla-Silva1
Luan de Marco Felix2 Introdução: Um extenso período imóvel no leito, ocasionalmente, leva à síndrome
do imobilismo, comum em Unidades de Terapia Intensiva. Contrapondo-se as
Fernanda Regina de Moraes3 complicações, a mobilização precoce proporciona melhora ventilatória, circulatória
e metabólica.
Objetivo: Construir um instrumento (checklist) que aponte os principais achados
clínicos para nortear a atuação fisioterapêutica no combate ao imobilismo
Parecer de aprovação pelo comitê de ética CAAE: 46108515200005145 prolongado.
Métodos: Elaborar Checklist com achados particulares e na literatura,
aperfeiçoando escolhas no protocolo cinesioterapêutico em pacientes críticos
admitidos no Mario Palmério Hospital Universitário, em Uberaba-MG. Mediante
Autor correspondente: Revisão Integrativa para fundamentação do instrumento Checklist para Mobilização
Ronaldo Luís Abdalla Silva Precoce, somada à Pesquisa Experimental para adequações no referido serviço
Endereço: Rua Jonas Gomes de Sá, nº 582, hospitalar.
Olinda, Uberaba – MG,38.055-480. Resultados: 24 pacientes, coleta beira-leito e prontuários eletrônicos, idade média
contato.ronaldoabdalla@gmail.com de 66anos (±25) distribuído igualmente em ambos os gêneros.
Discussão: A ferramenta promoveu apoio na atuação da equipe de fisioterapia, não
havendo divergência nos parâmetros cardiorrespiratórios entre beira-leito e
prontuário eletrônico.
Endereço científico: Conclusão: A utilização de uma ferramenta avaliativa é fundamental ao tratamento,
Universidade de Uberaba, Instituto de Ciências Biológicas e da Saúde, favorecendo a conduta individualizada ao paciente crítico.
Fisioterapia.
Avenida Nenê Sabino, 1801-Bloco I Fisioterapia Universitário Descritores: Mobilização precoce. Checklist. Fisioterapia hospitalar.
38050501 - Uberaba, MG - Brasil
Telefone: (34) 33198928 Abstract
Ramal: 8928
Fax: (34) 33148910 Introduction: An extended immobile period in bed occasionally leads to the
http://www.uniube.br immobilization syndrome, common in Intensive Care Units. In contrast to the
complications, early mobilization provides ventilation, circulatory and metabolic
improvement.
Objective: To build an instrument (checklist) that points out the main clinical
1
Universidade de Uberaba – UNIUBE, Uberaba, MG, Brasil. findings to guide physiotherapeutic activities in the fight against prolonged
contato.ronaldoabdalla@gmail.com immobilization.
Methods: Develop Checklist with particular findings and in the literature,
2
Universidade de Uberaba – UNIUBE, Uberaba, MG, Brasil. improving choices in the kinesiotherapy protocol in critical patients admitted to
luan_felix_@hotmail.com Mario Palmério Hospital Universitário, in Uberaba-MG. Through an Integrative
Review to support the Checklist for Early Mobilization, in addition to the
3
Universidade de Uberaba – UNIUBE, Uberaba, MG, Brasil. Experimental Research to adapt the hospital service.
fernandaregmoraes@gmail.com Results: 24 patients, bedside collection and electronic medical records, mean age
66 years (± 25) distributed equally in both genders.
Discussion: The tool provided support in the performance of the physiotherapy
team, with no divergence in cardiorespiratory parameters between bedside and
electronic medical record.
Conclusion: The use of an evaluation tool is fundamental to the treatment, favoring
the individualized approach to the critical patient.
Silva, RLA, Felix, LM, Moraes, FR. Checklist de Mobilização Precoce: construção de uma ferramenta para facilitar sua
aplicação na Unidade de Terapia Intensiva. Conscientiae Saúde 2021;20:1-15, e19500. https://doi.org/10.5585/20.2021.19500.
1 de 15
Conscientiae Saúde, 2021 jan./dez.;20:1-15, e19500
Silva, RLA, Felix, LM, Moraes, FR. Checklist de mobilização precoce / Early Mobilization Checklist
1 Introdução
A Unidade de Terapia Intensiva (UTI) teve a sua implantação no Brasil por volta da
década de 70, com a finalidade de agrupar no mesmo ambiente físico pacientes recuperáveis,
tecnologia e recursos humanos capacitados aos cuidados e observações constantes¹.
Seu surgimento coincide com o período histórico em que as técnicas curativas detinham
maior atenção do que os cuidados preventivos e as técnicas de promoção de saúde. Além disso,
o conceito de ambiente humanizado ainda se apresentava de forma incompleto¹.
Todavia, com o decorrer da evolução desse setor, e com o advento da globalização, as
UTIs apresentam hoje um aspecto muito mais voltado para dar atenção ao paciente como um
todo e não mais apenas de sua enfermidade. Dessa forma, há o favorecimento de um ambiente
com característica multiprofissional, o que promove a melhora desse paciente crítico em
diversas óticas de atenção à saúde2.
Por vez, esse processo colabora para que a equipe de fisioterapia se torne cada vez mais
presente e indispensável dentro de uma Unidade de Terapia Intensiva, atuando ativamente no
restabelecimento do quadro geral do paciente crítico, na reabilitação e prevenção respiratória,
e nos diversos distúrbios musculoesqueléticos apresentados por ele3.
Uma das mais atuais condutas mais atuais é a mobilização precoce do paciente em
estado crítico alocado na UTI, uma vez que durante muito tempo foi preconizado, entre a equipe
multidisciplinar, o repouso absoluto como tratamento para esses indivíduos. Tal característica
vem sendo reavaliada no decorrer da última década graças aos avanços tecnológicos, as
pesquisas realizadas e o incentivo científico nesse setor, demonstrando que a imobilidade não
é um fator colaborador para o bom prognóstico deste doente4.
Muitas condições de caráter biopsicossociais submetem o paciente ao decúbito
prolongado no leito. Assim, altivamente da condição, sabe-se que o tempo imóvel no leito é
diretamente proporcional ao agravamento dos diversos sistemas do organismo que o paciente
pode evidenciar5.
Desse modo, ficam evidentes os efeitos apresentados durante esse período em repouso
absoluto, sendo seus principais: úlceras de pressão, perda de massa muscular, perda de força
motora – que, consequentemente, proporcionam alterações no aparelho locomotor –, déficit da
mecânica respiratória, complicações pulmonares como pneumonia e atelectasia, atrasos na
recuperação da doença inicial, complicações hemodinâmicas, cardíacas e neurológicas – que,
por sua vez, irão interferir diretamente no tempo de internação e na redução da qualidade de
vida desses pacientes6.
2 Materiais e métodos
Continua
PONT.
QUESTÕES RESP.
Sist. Leito
( ) sim
Frequência cardíaca está entre 60-110
01
bpm?
( ) não
( ) sim
Pressão arterial média estável (70-100
02
mmHg)?
( ) não
( ) sim
03 Dor incapacitante?
( ) não
( ) sim
04 Uso de drogas vasoativas?
( ) não
( ) sim
05 Isquemia miocárdica?
( ) não
( ) sim
06 Arritmias?
( ) não
( ) sim
07 Administração de agente antiarrítmico?
( ) não
( ) sim
08 Frequência respiratória entre 16 e 20irpm?
( ) não
( ) sim
Saturação periférica de oxigênio entre 88-
09
99%.
( ) não
( ) sim
Nível de consciência acima de 8 na ECG?
10
RASS ou RAMSAY
( ) não
( ) sim
12 Temperatura corporal entre 35,5-37,9°C?
( ) não
( ) sim
13 Fraturas instáveis e instabilidade óssea?
( ) não
( ) sim
14 Trombose venosa profunda?
( ) não
Conclusão
( ) sim
15 Hemodiálise contínua?
( ) não
( ) sim
16 Gasometria normal?
( ) não
( ) sim
17 Hemorragia ativa?
( ) não
( ) sim
18 Necessidade de suporte ventilatório?
( ) não
Somatória:_________
Mobilização proposta:_____________________
Fonte: Adaptado de Morris, 2008.
3 Resultados
4 Discussão
Este trabalho apresentou como proposta a criação de um instrumento para avaliação pré-
aplicação de protocolos de Mobilização Precoce em Unidade de Terapia Intensiva (UTI), a fim
de considerar critérios de segurança para início da Mobilização Precoce, assim como a
instituição individualizada de atividades benéficas para redução do tempo de suporte
ventilatório, tempo de internação e manutenção ou aquisições na capacidade funcional.
Estruturou-se um instrumento simples, de fácil preenchimento, tanto em beira leito, quanto por
meio da seleção de informações em prontuários.
Segundo Glosselink et al.8, em uma força tarefa da European Respiratory Society and
European Society of Intensive Care Medicine, o fisioterapeuta é o profissional responsável pela
implantação e gerenciamento do plano de mobilização do doente crítico. Ademais, a
reabilitação do paciente em UTI depende de fatores como força física e funcionalidades prévias,
nível de cooperação, dispositivos anexados ao paciente e a cultura de mobilização existente na
unidade. Essas informações reforçam a necessidade de instrumentos avaliativos, tal qual o
Checklist criado neste estudo, que auxiliarão o fisioterapeuta na implantação de protocolos de
Mobilização Precoce.
A força tarefa da European Respiratory Society and European Society of Intensive Care
Medicine (2008) estabeleceu uma hierarquia de atividades de mobilização na UTI, baseada
numa sequência de intensidade do exercício: mudança de decúbitos e posicionamento
funcional, mobilização passiva, exercícios ativo-assistidos e ativos, uso de cicloergômetro na
cama; sentar na borda da cama; ortostatismo, caminhada estática, transferência da cama para
poltrona, exercícios na poltrona e caminhada. Estas atividades são demonstradas como seguras
e viáveis por alguns estudos, devendo ser iniciadas o mais precocemente possível, isto é, logo
após a estabilização dos maiores desarranjos fisiológicos8,11. Esses dados reforçam a
necessidade de estudos como o nosso, que, além de estruturar um instrumento de avaliação pré-
mobilização precoce, também sugere uma instituição gradativa de exercícios e atividades de
acordo com uma nota proposta após realização do Checklist.
Conceição et al.12 realizaram uma revisão sistemática sobre critérios de segurança para
iniciar a mobilização precoce em UTI e referiram que os critérios cardiovasculares foram os
mais citados entre os estudos. Em relação aos critérios respiratórios, as variáveis relacionadas
com a ventilação mecânica obtiveram maior concordância entre os autores. Foi encontrada uma
maior divergência entre os autores em relação aos critérios neurológicos, não havendo
consenso, principalmente, em relação à avaliação do nível de consciência. Os autores
5 Conclusão
Referências
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