Decisão

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Justiça Federal da 6ª Região

PJe - Processo Judicial Eletrônico

06/10/2022

Número: 1001598-72.2022.4.01.3803
Classe: PROCEDIMENTO COMUM CÍVEL
Órgão julgador: 2ª Vara Federal Cível e Criminal da SSJ de Uberlândia-MG
Última distribuição : 18/02/2022
Valor da causa: R$ 399.125,44
Assuntos: Edital
Segredo de justiça? NÃO
Justiça gratuita? NÃO
Pedido de liminar ou antecipação de tutela? SIM
Partes Procurador/Terceiro vinculado
ARQGRAPH SERVICOS LTDA. (AUTOR) LEONARDO SILVA PEREIRA (ADVOGADO)
CALEBE RAMALHO NACIF registrado(a) civilmente como
CALEBE RAMALHO NACIF (ADVOGADO)
MATEUS MARTINS DA SILVEIRA registrado(a) civilmente
como MATEUS MARTINS DA SILVEIRA (ADVOGADO)
OSMAR VAZ DE MELLO DA FONSECA NETO registrado(a)
civilmente como OSMAR VAZ DE MELLO DA FONSECA
NETO (ADVOGADO)
EMPRESA BRASILEIRA DE SERVICOS HOSPITALARES - DAISY CRISTINA OLIVEIRA BATISTA LIMA (ADVOGADO)
EBSERH (REU)
Documentos
Id. Data da Documento Tipo
Assinatura
96838 09/03/2022 19:38 Decisão Decisão
1152
PODER JUDICIÁRIO
JUSTIÇA FEDERAL
Subseção Judiciária de Uberlândia-MG
2ª Vara Federal Cível e Criminal da SSJ de Uberlândia-MG

PROCESSO: 1001598-72.2022.4.01.3803
CLASSE: PROCEDIMENTO COMUM CÍVEL (7)
POLO ATIVO: ARQGRAPH SERVICOS LTDA.
REPRESENTANTES POLO ATIVO: OSMAR VAZ DE MELLO DA FONSECA NETO -
MG135093, MATEUS MARTINS DA SILVEIRA - MG184165, CALEBE RAMALHO
NACIF - MG172821 e LEONARDO SILVA PEREIRA - MG190819
POLO PASSIVO:UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA

DECISÃO

1. RELATÓRIO.

A(s) parte(s) autora(s) acima epigrafada(s), qualificada(s) e


representada(s) nos autos, nesta ação ordinária, com pedido de tutela de urgência, em
face da UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA, objetiva, em sede de tutela de
urgência, seja determinado à ré que faça os pagamentos nos moldes e valores
firmados no contrato havido entre as partes, pelo menos até que seja assinado aditivo
contratual ou seja dado provimento jurisdicional nesta demanda, sob pena de multa
diária não inferior à R$20.000,00 (vinte mil reais).

Diz que participou de procedimento licitatório promovido pela re, edital n.


20/21, pregão eletrônico n. 18/2021, sagrou-se vencedora e celebrou contrato cujo
objeto é “a prestação de serviços para realização de pequenas construções, reforma e
manutenção em instalações prediais da CONTRATANTE englobando serviços de
operação, manutenção preventiva e manutenção corretiva, incluindo o fornecimento de
mão de obra operacional, equipamentos, ferramentas, materiais de consumo e
acessórios de uso individual.”

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Alega que após o primeiro mês de execução do contrato, antes de realizar
o pagamento pelos serviços executados, a ré exigiu o reajuste do contrato, alegando
ocorrência de desequilíbrio contratual, para reduzir o valor dos custos correspondentes
à desoneração da folha de salário, em razão de a autora ter optado pelo regime
diferenciado de tributação, em razão da redução da alíquota de 20% para 3,5%.

Afirma que a ré se recusa a efetuar os pagamentos até que a empresa


realize o ajuste nas planilhas de custo.

Aduz que ao formular sua proposta, já havia considerado a desoneração


na folha de pagamento, uma vez que competiu com diversas empresas que optaram
pelo regime diferenciado de tributação e mesmo assim sagrou-se vencedora pelo
menor preço global.

Diz que a proposta foi apresentada de forma competitiva em razão da


expectativa que possuía de optar pela desoneração da folha durante a execução do
contrato.

Sustenta que a ré não efetuou nenhum pagamento referente ao contrato,


nem mesmo o valor incontroverso.

Afirma que não é possível à ré realizar a alteração unilateral do contrato,


que a empresa apresentou sua proposta e firmou o contrato quando já estavam
vigentes as leis que permitem a opção de desoneração da folha e que não foi em
nenhum momento advertida pela UFU quanto à reformulação ou recomposição do
preço antes de consolidar o negócio jurídico.

Alega que em casos idênticos aos dos autos a jurisprudência tem decidido
pela impossibilidade de revisão do equilíbrio econômico-financeiro em razão de
desoneração da folha.

Salienta que não há nexo de causalidade entre a desoneração da folha e


eventual desequilíbrio contratual, porque a nova base de cálculo passou a ser o
faturamento da empresa, que decorre não somente da prestação de serviços para a
ré, mas do próprio fornecimento de material de material e insumos, além de outros
serviços que executa para outros contratantes, e que a redução do percentual sobre a
folha de salário não equivale a redução da carga tributário porque não há redução de
tributo, mas somente a alteração da base de cálculo.

Aduz que os custos com o INSS incidem de forma indireta nos contratos e
não podem ser considerados como causadores de desequilíbrio contratual.

Diz que não restou configurado fato imprevisível que gere desequilíbrio
contratual, uma vez que no momento da pactuação do contrato, já havia previsão legal
do benefício fiscal, não havendo que se falar em fato imprevisível ou superveniente.

Assevera que o contrato estipulou prazo mínimo de 12 meses para

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celebração de qualquer reajuste ou alteração, razão pela qual o contrato somente
poderá ser reajustado após esse prazo.

Defende a inexistência de desequilíbrio contratual e ressalta que a


empresa considerou o seu enquadramento e opção pela desoneração da folha para os
serviços faturados no ano de 2022, informações que já eram de conhecimento da ré
quando solicitou a readequação do contrato e planilha de custos.

Inicial instruída com procuração e documentos.

Intimada, a parte autora apresentou emenda à inicial e juntou documentos.

Novamente intimada, a parte autora apresentou emenda à inicial para


substituição do polo passivo.

É, em apertada síntese, o relatório.

DECIDO.

2. FUNDAMENTAÇÃO.

Em primeiro lugar, anoto que o contrato discutido nos autos, cujo


pagamento pretende a parte autora que lhe seja assegurado, foi celebrado com a
Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares – Filial Hospital de Clínicas de Uberlândia
e não com a Universidade Federal de Uberlândia.

Por esta razão, deve figurar no polo passivo a EBSERH e não a


Universidade Federal de Uberlândia.

Destarte, necessário acolher a emenda à inicial para substituição do polo


passivo.

Prosseguindo, anoto que a tutela de urgência, definida no art. 300 do


Código de Processo Civil, poderá ser concedida pelo Juiz desde que haja elementos
que evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado
útil do processo e não haja o risco da irreversibilidade dos efeitos da decisão.

No caso, a parte autora celebrou com a EBSER o contrato n. 029/2021 (ID


n. 952522682), que tem como objeto a “contratação de empresa especializada na
prestação de serviços continuados, com dedicação exclusiva de mão de obra, de
operação e de manutenção predial preventiva, corretiva e preditiva, com fornecimento
de peças e insumos, bem como a realização de serviços eventuais diversos, nos
sistemas, equipamentos e instalações prediais utilizados pelo Hospital de Clínicas de
Uberlândia da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (HC-UFU/EBSERH),
conforme condições, quantidades e exigências estabelecidas neste instrumento, no
Termo de Referência, Anexo I do Edital do Pregão Eletrônico nº 018/2021, por um
período de 60 (sessenta) meses, não podendo ter a sua duração prorrogada, nos

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termos do art. 90 do Regulamento de Licitações e Contratos da Ebserh”, com vigência
de 01/12/2021 a 30/11/2026.

Em razão do contrato celebrado, a empresa contratada obrigou-se a


“executar os serviços conforme especificações do Estudo Técnico Preliminar, do
Termo de Referência e de sua proposta, com a alocação dos empregados necessários
ao perfeito cumprimento das cláusulas contratuais, além de fornecer e utilizar os
materiais, equipamentos, ferramentas e utensílios necessários, na qualidade e
quantidade mínimas especificadas”.

Em contrapartida pelos serviços prestados pela contratada, a empresa


pública contratante – EBSERH obrigou-se a “pagar à Contrata o valor resultante da
prestação do serviço, no prazo e condições estabelecidas no Contrato, Edital, Termo
de Referência e seus Anexos”.

O contrato previu as hipóteses de retenção ou sustação de pagamento:

- Fiscalizar, mensalmente, o cumprimento dos Instrumentos de Medição do


Resultado (IMR), conforme indicadores constantes do Encarte B
(Documento SEI nº 13889322), impondo, conforme o caso, o
redimensionamento do valor financeiro mensal por metas não
atingidas (item 9.3)

- Recusar Notas Fiscais ou Faturas que estejam em desacordo com as


exigências editalícias, informando à CONTRATADA e sobrestando o
pagamento até a regularização da condição (item 9.9)

- Caso não seja apresentada a documentação comprobatória do


cumprimento das obrigações trabalhistas, previdenciárias e para com o
FGTS, a CONTRATANTE comunicará o fato à CONTRATADA e reterá o
pagamento da fatura mensal, em valor proporcional ao inadimplemento,
até que a situação seja regularizada (item 10.38).

- Havendo erro na apresentação da Nota Fiscal/Fatura, ou circunstância


que impeça a liquidação da despesa, o pagamento ficará sobrestado até
que a CONTRATADA providencie as medidas saneadoras. Nesta hipótese,
o prazo para pagamento iniciar-se-á após a comprovação da regularização
da situação, não acarretando qualquer ônus para a CONTRATANTE (item
12.7)

- Nos termos do item 1, do Anexo VIII-A da Instrução Normativa


SEGES/MP nº 05, de 2017, será efetuada a retenção ou glosa no
pagamento, proporcional à irregularidade verificada, sem prejuízo das
sanções cabíveis, caso se constate que a Contratada: 12.8.1. Não
produziu os resultados acordados; 12.8.2. Deixou de executar as
atividades contratadas, ou não as executou com a qualidade mínima
exigida; 12.8.3. Deixou de utilizar os materiais e recursos humanos

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exigidos para a execução do serviço, ou utilizou-os com qualidade ou
quantidade inferior à demandada; 12.8.4. Caso do contratante ser
acionado judicialmente por fatores imputáveis ao contratado na monta do
valor previsto da causa. 12.8.5. A glosa ou retenção será formalizada por
meio de formulário específico e será aplicada no mês subsequente ao de
competência da ocorrência do fato gerador, assegurada à Contratada a
ampla defesa. 12.8.6. Quando houver a glosa parcial dos serviços, a
Contratante deverá comunicar à Contratada para que emita a NFS-e com o
valor exato do mês com a aplicação da glosa do mês anterior, evitando,
assim, efeitos tributários sobre valor glosado pela Contratante, conforme
Anexo XI, item 4.2, da IN 05/2017 da SEGES/MPDG.

- Havendo a efetiva prestação dos serviços, os pagamentos serão


realizados normalmente, até que se decida pela rescisão contratual, caso a
CONTRATADA não regularize sua situação junto ao SICAF (item 12.9.4)

- A ausência da documentação pertinente ou da comprovação do


cumprimento das obrigações previdenciárias, sociais e trabalhistas,
inclusive FGTS, relativas aos empregados, implicará a retenção do
pagamento mensal, em valor proporcional ao inadimplemento, mediante
prévia comunicação, até que a situação seja regularizada, sem prejuízo
das demais sanções administrativas cabíveis (item 12.10)

No caso, pelo que se depreende da documentação que acompanha a


inicial, a recusa de pagamento pelos serviços prestados pela contratada não se deu
em razão de nenhuma dessas hipóteses previstas no contrato, que foram acima
enumeradas.

A recusa do pagamento ocorreu em razão da adesão da empresa


contratada à desoneração da folha de pagamento, instituída pela Lei n. 12.546/2011,
que possibilitou às empresas listadas na referida Lei contribuírem com 3,5% sobre o
valor da receita bruta em substituição às contribuições previstas nos incisos I e III do
caput do art. 22 da Lei n. 8.212/91 (IDs ns. 939677651 e 939677653).

Portanto, não se trata de recusa ou retenção de pagamento pelos serviços


prestados em razão de inadimplência da contratada com suas obrigações
previdenciárias.

E pelo que se percebe, o que pretende a EBSERH é a alteração do


contrato por entender que por ter a empresa contratada optado pela contribuição
previdenciária sobre a receita bruta, houve alteração nos custos, o que deve repercutir
no contrato celebrado, o qual deve ser alterado para a manutenção da equação
econômico-financeira do contrato.

E nesse ponto, destaco que o contrato prevê a hipótese de alteração na


Cláusula Décima Terceira, para cujo implemento deve haver concordância das partes
em relação às alterações propostas, ou seja, a alteração deve ser realizada de forma

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consensual.

O contrato prevê ainda a possibilidade de repactuação para adequação


aos novos preços praticados no mercado, por solicitação da contratada e observado o
interregno mínimo de 1 ano, o que não é o caso dos autos, pois não foi solicitada
repactuação pela contratada.

Nesse caminhar, enquanto as partes não celebrarem aditivo para alteração


do contrato ou ocorrer a resolução do contrato, pelos serviços prestados pela
contratada deve haver a contraprestação pela EBSERH, com o pagamento de acordo
com os valores pactuados no contrato, sob pena de enriquecimento ilícito da empresa
pública federal.

Reputo presente, assim, neste juízo perfunctório, a probabilidade do


direito.

Quanto ao perigo de dano ou risco ao resultado útil do processo, observo


que não houve a suspensão do contrato, estando a empresa contratada obrigada a
prestar os serviços para os quais foi contratada, mas se recusa a EBSERH a efetuar
os pagamentos pelos serviços prestados.

E para prestar o serviço deverá colocar à disposição da EBSERH a mão-


de-obra necessária e outros itens para cumprir com objeto do contrato, o que resulta
no dever de a empresa ARQGRAPH continuar arcando com as obrigações
trabalhistas, tributárias e previdenciárias decorrentes do contrato, que somente
poderão ser cumpridas mediante o pagamento que lhe é devido como contraprestação
pelos serviços prestados.

Logo, a suspensão dos pagamentos decorrentes do contrato coloca em


risco o fluxo de caixa da empresa, podendo causar-lhe dano de irreparável ou difícil
reparação.

Pelas razões expostas, reputo preenchidos os requisitos legais para a


concessão da tutela de urgência pretendida.

3. DISPOSTIVO.

Por tais razões, e mais que dos autos consta, acolho a emenda à inicial,
fixo o valor da causa em R$ 399.125,44 e defiro o pedido de tutela de urgência para
determinar que efetue os pagamentos à empresa ARQGRAPH Serviços Ltda pelos
serviços prestados, nos termos pactuados no contrato celebrado entre as partes, até
seja realizado aditivo contratual entre as partes ou que seja rescindido o contrato.

Retifiquem-se os registros do feito para que seja alterado o polo passivo,


excluindo-se a Universidade Federal de Uberlândia e incluída a Empresa Brasileira de
Serviços Hospitalares – EBSERH, e para alteração do valor da causa.

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Cite-se a parte ré para, querendo, apresentar contestação no prazo legal,
devendo, no mesmo prazo, requerer as provas que pretende produzir, justificando-as,
na forma do art. 336 do CPC, sob pena de preclusão, informar nos autos se possui
interesse na realização de audiência de conciliação, nos termos do art. 334 do CPC.

P. R. I.

Uberlândia/MG, 9 de março de 2022.

JOSÉ HUMBERTO FERREIRA

Juiz Federal

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