GUATTARI - Transversalidade - Marcado

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instituic;ao, etc. Ora, 0 problema da ineidencia do significante social


sabre 0 individuo se caloca a todo instante e em tados os niveis, e na
perspectiva da terapeutica institucional uao se pode deixar de deparar
com isso. A rela~ao social nao esta alem dos problemas individuais e
familiais, ao contrario: temos de reconhece-la em todas as instancias
psicopato16gicas e, parece-nos, sua importancia e ainda maior nos
sindromes psic6ticos, sobretudo os que apresentam formas mais "desso-
cializadas" .
A transversalidade* Freud, cuja obra desenvolveu-se essencialmente em torno da
questao das neuroses, nao ignorou este problema, como podemos
constatar, por exemplo, 'na seguinte citac;ao das Novas Conferencias:
"Se nos detemos nas situac;5es perigosas, constatamos que a cada
periodo do desenvolvimento corresponde uma condic;ao de angustia
que the e propria. 0 perigo do desamparo psiquico coincide com 0
primeiro despertar do ego; 0 perigo de perda do objeto (ou do amor)
A terapeutica institucional l e uma cria,:,c!"ha fragil. Convem com a falta de independencia que caracteriza a primeira infaneia; 0
acompanhar seu desenvolvimento de perto e Vlgtar com quem anda, perigo da castra~ao com a fase fiilica; e finalmente 0 medo do superego
pois ela e muito mal acompanhada. A amea~a mortal qu; ~esa sobre com 0 periodo de latencia, quando ocupa urn lugar particular. Os
ela nao reside numa debilidade congenita, mas, ao contrano, no fato antlgos motivos de temor deveriam desaparecer no decorrer do desen-
de haver fac~oes de tudo quant~ ~ especie '!ue na? veem a hora de volvimento, pois as situac;5es perigosas correspondentes perderam sua
raptar seu objeto especifico. PSlcologos, PSICOSSOClO.logos, e"mesmo importancia grac;as ao fortalecimento do ego; mas nao e bern assim que
psicanalistas Ihe arrancarao uns peda~os com os quaIs farao seu ne- as coisas acontecem na realidade. Muitos individuos nunca chegam a
g6cio" enquanto que a ave de rapina ministerial esta esperando a hora controlar 0 medo de perder 0 amor, e sentir-se amado e para eles uma
em que podera incorpora-Ia em seus textos oficiais. Desde 0 pos:guerra, necessidade insuperavel; neste aspecto eles continuam a comportar-se
muitos outros frutos da psiquiatria de vanguarda foram ~sslm d~s. como crianc;as. Normalmente, 0 medo do superego nunca cessa, pois
viados precocemente de seu rumo: a ergoterapia, a soclalterapla, que sob a forma de medo da consciencia moral e indispensavel a manu~
a psiquiatria de setor, etc. . ' A
tenc;ao das relac;5es sociais. 0 individuo, salvo raras excec;5es, depende
Proclamemos em primeiro lugar que eXlste urn obJeto da terapeu- sempre de uma coletividade. Algumas dentre as antigas situa~oes peri-
tica institucional e que este deve ser defendido cont;a todo~ aqueles que gosas se mantem as vezes ate epocas tardias, tendo sido as condic;oes de
eiram faze-Io derivar para fora da problematica social real. fsto angustia oportunamente modificadas". 2
:plica numa tomada de consciencia do mvel social mais amplo, por Qual e 0 obstaculo contra 0 qual se chocam os "antigos motivos
exemplo 0 de uma orient~ao da saude mental na Fran~a,. e, ao ~esmo de temor" fazendo com que eles se neguem a desaparecer? De onde
tempo, numa tomada de posi~ao doutriniiria aO mv~1 mals tecmco ~as provem esta persisteneia, esta manutenc;ao das angiJ.stias neur6ticas, ja
terapeuticas existentes. De certo modo pode-se c?nsl.der:u- que a ca~en­ que se dissolveram as situac;oes que serviram de suporte para sua ge-
cia de uma concep~ao unitiiria no movimento pSlqUiatrico atual seJa 0 nese e "na ausencia de toda e qualquer situa~ao perigosa"? 3 Algumas
reflexo da segrega~ao que persiste, sob diferentes formas,. en.tre 0 paginas adiante, Freud reafirma a anterioridade da anglistia em rela-
mundo dos loucos e 0 resto da sociedade. Este corte, que os pSlqulatras c;ao ao recalque: a angustia e causada por urn perigo exterior, ela e real,
responsaveis por urn estabelecimento de assistencia operam entre suas mas 0 proprio perigo exterior e evocado e condicionado pelo perigo
preocupa~oes intemas e os problemas sociais mais g~rais, ,t~nde a seT pulsional interior: "De fato, 0 menino se angustia com as exigencias de
transposto de diferentes maneiras: desco~hecim.entos~stematico do que sua libido; neste caso, ele teme 0 arnor que sente por sua mae".4 Assim
acontece para alem dos muros do hOSpItal, pSlcologtZa~ao .de p~oble­ ea arneac;a interior que prepara 0 perigo exterior. A renuncia ao objeto
mas sociais, escamoteamento de seu campo intencional no mtenor da amado e correlativa, no plano do real, a aceita~ao da perda do mem-
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bra mas 0 "complexQ de castral;3.0" nao poderia ser "liquidado"
atr~ves de tal renuncia. h que, com efeito, ele implica no emprego de nedy e os Kruchtchev que tentarlUn passar por cima desta lei fo-
urn term a suplementar na triangula,ao situ~cional do complexo de fam "sacrificados", ainda que com urn cerimonial diferente, no al-
Edipo, de tal maneira que Dunea estaremos lsentos desta amea~a de tar, urn no dos petroleiros, 0 Dutro no dos detentores da industria
pesada.
castT~ao que reativara permanentemente 0 que Freud chama de. u,:".a
necessidade inconsciente de culpabilidade". 5 A engrenagem de slgmfl- A subjetividade real dos Estados modemos, os verdadeiros pode-
cantes sociais se encontra assim irreversivelmente sob cantrole da. cas- res de decisao, sejam quais forem os sonhos em desuso dos defensores
tT~ao e da culpabilidade, enquanto que. at~ 7sta etapa. su~s ~o~,19oes da "Iegitimidade nacional", nao poderiam identificar-se a uma encar.
permaneciam precarias por caus:, do "p~C.,p'O de ~bIV:"e~cla q~e A
na,ao individual nem il exist@ncia de urn pequeno estado-maior escla-
presidia aelei,ao dos diversos obJetos p~r':.'a.~. A p~rtir dIU, a mstancla recido. Ate _agora esta permanece inconsciente e cega, sem esperanc;a
desta realidade social lundara sua perslstencla na mstaur;'9ao d~ u,:".a de que urn Edipo modemo possa guiar seus passos. Nao se pode certa-
moralidade irracional em que a puni,ao nao encontTara s,;,a Justifl- mente esperar a saida numa invoc~ao e numa tentativa de reabilita,ao
cativa senao numa lei de repeti,ao cega na falta de ser articulavel ,a de suas formas ancestTais, precisamente pelo fato de que a experi@ncia
uma legalidade etica. Nao sera suficiente procurar reconhecer, a!"'aves freudiana nos leva a colocar a questao, por urn lado, desta persist@ncia
do diillogo impossivel entTe 0 ego .ideal.e 0 s~pereg~, est~ efel~o de da angUstia para alem das modific~Oes situacionais e, por outTo lado,
manuten,ao de angUstia fora das "sltua,oes pen~osas atulUs, ~.o~s ~Ie dos limites assinalaveis para tal processo. 0 objeto da terap@utica ins-
implica com efeito, na depend@ncia destas ultimas de uma lo~ca titucional nao e justlUnente 0 de se propor a lograr urn remanejamento
signific~te" especifica do nlvel social considerado, e que. conv':ID dos dados de "acolhida" do superego, tTansformando-os numa especie
analisar com as mesmas exig@ncias mai@uricas daquelas da ps,canill,se de nova acolhida "iniciatica", esvaziando de seu sentido a exigencia
do indjviduo. social cega de urn certo procedimento castTativo exclusivo?
A manuten,ao e a repeti,ao, a expressao de uma pulsao de o que proporei agora tern urn carater apenas provisorio. Trata-se
morte. A interroga,ao ai implicada estara mascarada, sob uma no,ao de algumas formula,Oes que me pareceram uteis para pontuar diferen-
de continuidade. E considerado normal prolongar a res~lu,ao do c~m­ tes etapas de uma pratica institucional. Parece-me oportuno estabe-
plexo de Edipo por uma "boa" integra,ao a urn mve! s~c.".'. ,~ao sen~ 0 lecer uma especie de correspond@ncia entTe os fenamenos de desloca-
caso, ao contrano, de articular estes "efeitos de pe~sls~e~ncla da angus- mento de sentido nos psicoticos, particularmente nos esquizofrenicos, e
ria com esta depend@ncia, evocada por Freud, do md'Vlduo em rel~ao os mecanismos de discordancia crescente que se instauram em todos os
acoletividade? Trata-se do fato irreversivel ate segunda ordem de qu~ 0 niveis da sociedade industrial em Sua realiza,ao neocapitalista e socia-
complexo de castT~ao nao podera jamais encontTw; u.ma solu,~ satis- lista-burocratica, de tal forma que 0 individuo tende a se identificar
fataria enquanto a sociedade contemporanea persls~ em co~~~r-lhe com urn ideal de "rnaquina-consumidora-de-maquinas_produtivas"...
urn papel inconsciente de contTole social. Ha uma mc?mpatibill~a.de o silencio do catatanico nao seria uma interpreta,ao prefigurativa
cada vez mais abvia entTe a lun,ao do pai, enquant~ ela e. ~ara o. SUJ~lto deste ideal? Se 0 grupo tende a se estTuturar sob a forma da recusa da
o suporte de uma possivel medi~ao dos impa~s:s l~entiflCata~os me- fala, como responder-Ihe de outTa maneira que nao pelo sil@ncio?
rentes a estTutura da familia conjugal, e as ex.genclas. das s?cle.dades Como modificar urn lugar desta sociedade de maneira a reter ao menos
industriais para as quais urn modelo integrador do tipo ~a.'-.re'-deus urn pouco este processo de redu,ao da fala a linguagem? A partir dai
tende a perder qualquer outTa lun,ao efetiva que nao a mlstiflCad0.ra. tomaremos 0 partido de distinguir a natureza dos grupos segundo se
Este fato e particularmente claro d~rante ~s fas s. de regressao social, situem numa ou noutra vertente. Convem, com efeito, desconfiar abso-
7 lutamente das descri,Oes formals que caracterizam os grupos indepen-
por exemplo quando os regimes !ascIsta~, d.t~to,:als, de poder pe~s?al,
presidencial, fazem nascer fenomenos lmagmanos de pse~d~fal~clZa­ dentemente de seu projeto. Os grupos com que lidamos na terap@utica
,ao coletiva que resultam numa irrisaria totemiza,ao pleb,scltma ~e institucional estao vinculados a uma atividade concreta, e nao t@m
urn chefe, 0 qual alias permanece sem nenhum contTole :eal da ma- nada a ver com aqueles que estao geralmente em causa nas pesquisas
quina significante do aparelho econamico, que, a~ contTmo, nao para ditas de dinamica de grupo. Vinculados a uma institui,ao, eles t@m de
de fortalecer seu poder e a aut\lnomia de seu lunclOnamento. Os Ken- algum modo uma perspectiva, urn ponto de vista sobre 0 mundo, uma
"missao" a cumprir.
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Esquematizaremos esta primeira distin9ao, que alias sera dificil parti~uI~res, mas sem perder de vista que eles nao poderiam pretender
manter em seguida, entre grupos sujeitos e grupos sujeitados. 6 0 grupo constiturr nada alem de media900s simb6licas, tendendo por essencia a
sujeito, ou que tern vocac;ao para se-Io, se esfo~a para ter urn contrale se desfazer em efeito de sentido. 0 objeto que esta em jogo nao e 0
sobre sua conduta, tenta elucidar seu objeto e, nesse momento, secreta me~mo que encontramos na rela9ao da transferencia psicanalitica. Os
os meios desta elucida9ao. Schotte 7 poderia dizer deste tipo de grupo fen.omenos de captura imaginaria nao podem mais ser retomados e
que ele e ouvido e ouvinte, e que por este fato opera 0 desapego a uma articuI~dos a p.artir da interpreta9ao de urn analista. A phantasia de
hierarquiza9ao das estruturas que Ihe permitira se abrir para alem dos grupo e essenclalmente simb6lica, sejam quais forem as imagens que
interesses do grupo. 0 grupo sujeitado nao se presta a tal perspecti· el~ drena em .seu rastro. Sua inercia nao conhece outra regulagem
va9ao; ele sofre hierarquiz~ao por ocasiao de seu acomodamento aos al~n.' da volta mcansavelrilente repetida aos mesmos impasses proble.
outros grupos. Poder·se·ia dizer do grupo sujeito que ele enuncia maticos. A:p~ati~,,: da terapeutica institucional mostra que a produ9ao
alguma coisa, enquanto que do grupo sujeitado se diria que "sua causa ~e phantaSla mdlvld,;,al s; ~ecusa sistematicamente a respeitar a especi.
e ouvida". Ouvida, alias nao se sabe onde nem por quem, numa cadeia ficlda~e deste mvel slmbohco da phantasia de grupo. Ao contrario ela
serial indefinida. t';.nta mcorpora·la a si e aplicar·lhe dados imaginarios singulare.'que
Esta distin9ao nao e absoluta, ela constitui apenas uma primeira vern se acomodar "naturalmente" nos diferentes papeis potencialmente
aproxim~ao nos possibilitando indexar 0 tipo de grupo com que Ii· estruturados p~la extensao dos significantes introduzidos pelo coletivo.
damos em nossa pratica. Na realidade ela funciona a maneira de dois Est,,: ':corporallZ~ao irnaginaria" de urn certo numero de articula900s
p610s de referencia; qualquer grupo, mais especialmente os grupos slgmfle.antes do grupo, sob pretexto de organiz~ao, de eficacia, de
sujeitos, tendem a oscilar entre estas duas posi900S: a de uma subje· presti~o, .ou tambe,?, de incapacidade, de falta de qualific~ao, etc.,
tividade com voca9ao a tomar a palavra, e a de uma subjetividade faz cnstallZar 0 conJunto da estrutura, entrava suas capacidades de
alienada a perder de vista na alteridade social. Esta referencia nos remanejamento, Ihe da seu Tostae seu "peso", limitando na mesrna
servira de prot09ao para evitarmos cair no formalismo da anitlise de ~ropor9ao suas possibilidades de dialogo com tudo que pudesse ques.
papeis enos levara a colocar a questao do sentido da participa9ao do tionar suas "regras do jogo" em uma palavra, reune as condic;Oes de
J

individuo no grupo enquanto ser falante e a questionar assirn 0 meca· seu deslocamento na dire9ao daquilo que chamamos de grupo sujei.
nismo habitual das descri900s psicossociol6gicas e estruturalistas. Ra· tado.
verla ai, sem ~hi.vida, igualmente uma maneira de retomar as teorias da . . 0, ~e~~jo inconsciente de urn grupo, por exemplo do "grupo
burocracia, da-autogestao, dos "grupos de form~ao", etc., que regu· mlsslOna~1O de urn hospital tradicional, como expressao de uma pul.
larmente perdem seu objeto pela recusa, de carater cientificista, em sao mortifera, provavelmente nao estara em condi900s de ser evocado
implicar os conteudos de sentido. na or~e,?, da fa~a e fara surgir toda uma gama de sintomas. Ainda que
Achamos por outro lado cl'\modo distinguir, ao mvel dos grupos, estes u~t~m~s seJam de certo modo "articulados como uma linguagem"
os "conteudos manifestos", constituidos por aquilo que e dito e feito, e descntivels ~u.ma pe~sp~ctiva estrutural, na medida em que tendem a
pelas atitudes de uns e de outros, as cisOos, a existencia de lideres, mascarar 0 sUJelto da mstitui9ao, eles nunca chegarao a se exprimir de
bodes expiat6rios, etc., e 0 "conteudo latente", que requer ser deci· ~utr~ forma que nao seja a de uma frase incoerente a partir da qual
frado a partir de uma interpret~ao das diversas rupturas de sentido flcana p~ra ser .d~~ifrado 0 objeto (totem e tabu), erigido no pr6prio
que surgem na ordem fenomenal. Definamos essa instancia latente lugar da Imposslbilldade de urn surgimento de uma !ala verdadeira no
como desejo de grupo: ela teria de ser articulada com uma ordem grupo. A revela9ao deste lugar, em que 0 desejo esta reduzido a
pulsional de Eros e de morte espeelfica do grupo. mostra~ some~te a ponta de urn falso dedinho, nao poderia dar acesso
Freud descrevia a existencia nas neuroses graves de uma difusao ao deseJo en.' ~I mesn.'0' pois 0 desej? enquanto tal, de qualquer modo,
das pulsoes fundamentais, e 0 problema analitico como sendo 0 de per~anecera mconSClente e recusara sempre se anular pelo vies de uma
chegar a uma refusao suscetivel de fazer desaparecer, por exemplo, expl~cac;ao exaustiva, como seria a vontade do neur6tico. Mas a desobs-
uma sintomatologia sadomasoquista. A pr6pria estrutura das institui· tru9ao de urn es~a90: preserva9ao de ~m vacuolo de onde poderia ser
90es, que nao tern outra corporeidade senao a imaginaria, exige, para destacado u.m p~melr.o pl,,:uo de referencia a esta instancia do desejo
tentar uma oper~ao deste tipo, a instaura9ao de meios institucionais do grupo, sltuara de Imedlato 0 conjunto da problematica alem das
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conting~ncias relacionais, clarificara sob uma luz totalmente outra as uma paixao. Seria por uma especie de respeito pelos enigmas encarR
"questOes de organiz3.\'ao" e obscurecera na mesma medida as tentati- nados nas neuroses e psicoses que nossos modernos guardiaes de tU-
vas de descri~ao formal e aparentemente racional; de fato, esta desobs- mulo se sentem na obriga~ao de aviltar-se e saudar tao negativamente
tru~ao constituira a prova pela qual devera passar 0 grupo antes de assim a mensagem daqueles que deverao permanecer desconhecidos,
qualquer tentativa analitica. de acordo com 0 que esta implicado por toda a organiza~ao social.?
Desde os primeiros passos neSse sentido, surgira uma distin~ao Nem todo mundo pode, como alguns psiquiatras, se dar ao luxe de
primordial entre a desaliena~ao de grupo e sua anillise. Com efeito, 0 relugiar-se em formas superiores de estetismo, significativas do fato de
papel de uma analise de grupo nao e id~ntico ao de uma ordena~ao do que, para eles, nao ha nenhuma questao essencial que possa se colocar
coletivo de inspira~ao mais ou menos psicossociol6gica ou ao de uma ao nivel do hospital!
interven~ao de urn engenheiro de organiza~ao. Repetindo, a anil1ise de A analise de grupo nao se propora como objetivo revelar uma
grupo se situa aquem e alem dos problemas de ajustamento de papeis, verdade estatica que estaria por tras desta sintomatologia, mas sim rea·
de transmissao de inform3.\'Oes, etc. As questOes-chave sao colocadas lizar as condi~oes favoraveis a urn modo particular de interpretariio,
antes da cristaliz3.\'ao das constela~Oes, das rejei~Oes e atra~Oes, ao a qual, segundo Schotte, e jd~ntica it transfer~ncia. Transferencia e
mvel donde pode brotar uma criatividade do grupo, se bern que esta interpreta<;ao constituem urn modo de interven<;ao simb6lica, mas -
geralmente se estrangula por si mesma com 0 tenue fio de nonsense que insistamos nesse ponto - elas nao poderiam ser da al~ada de uma
ela se recusa a assumir, preferindo 0 grupo se consagrar ao balbu- pessoa ou de um gropo que, para a ocasiao, teria se batizado HanaH·
ciamento de "palavras de ordem", obturando qualquer acesso a uma sador". A interpreta~ao, pode ser (j debil mental de servi~o quem vai
faili verdadeira, isto e, articulavel as outras cadeias do discurso hist6- dar, se ele estiver em condi<;5es de reivindicar, num dado momento,
rico, cientifico, estetico, etc. por exemplo, que se organize urn jogo de amarelinha, justo quando tal
De que especie de desejo pode viver, por exemplo, urn grupo significante se tornara operatorio ao nivel do conjunto da estrutura.
politico "condenado pela hist6ria", senao de urn etemo curvar-se sabre Deve-se ir no encal<;o da interpreta<;ao. Convem, pais, livrar a escuta de
si mesmo? Ele tera de secretar sem parar mecanismos de defesa, de todo e qualquer preconceito psicol6gico, sociol6gico, pedag6gico ou
deneg3.\'ao, de recalque, phantasias de grupo, mitos, dogmas, etc. Sua mesmo terap~utico. Na medida em que 0 psiquiatra ou 0 enfermeiro
analise nao poderia levar senao a descoberta da natureza do desejo detem uma parcela de poder, ele deve ser considerado responsavel
mortifero de grupo do qual aqueles mecanismos sao a expressao em sua pelos obstaculos as possibilidades de expressao da subjetividade in-
rela~ao com as soterradas e castradas pulsOes hist6ricas das massas, consciente da institui<;ao. A transferencia congelada, mecanica, inso-
das classes ou das nacionalidades sujeitadas. Este ultimo aspecto da luvel, par exemplo: dos enfenneiros e doentes sobre 0 medico; a trans-
analise ao "nivel mais elevado" DaO poderia, a meH ver, ser separado ferencia obrigat6ria, predetenninada, "territorializada" num papel,
dos outros problemas psicanaliticos de grupo, alias, nem dos indivi- urn estere6tipo dado, e pior do que uma resistencia a analise, e uma
duais. forma de interioriz3.\'ao da repressao burguesa pelo reaparecimento
No hospital psiquiatrico tradicional, por exemplo, existe urn repetitivo, arcaico e artificial de fencmenos de casta com sen cortejo de
gropo dominante constituido pelo diretor, 0 administrador, os me- phantasias de grupo, fascinantes e reacionanas.
dicos, suas mulheres, etc., formando uma estrutura opaca que impede Como apoio provis6rio visando preservar, ao menos por algum
a emerg~ncia de uma expressao do desejo dos conjuntos humanos tempo, 0 objeto de nossa pratica, proponho introduzir em lugar da
constitutivos da institui~ao. Onde pode refugiar-se esse desejo? Num no~ao demasiadamente ambigua de transferencia institucional urn con-
primeiro momento, a interpreta~ao devera se deixar guiar nao s6 pelos ceito novo: 0 de transversalidade no grupo. Transversalidade em opo-
sintomas manifestados ao mvel de diversos subconjuntos, suporte das si~ao a:
taras sociais classicas, da sedimenta~ao da caduquice, da agita~ao, das uma verticalidade que encontramos por exemplo nas descri·
segrega~Oes de toda especie, mas tambern por outros sinais como, por ~Oes feitas pelo organograma de uma estrutura piramidal
exemplo, 0 alcoolismo de que se encontra tornado tal grupo de enfer- (chefes, subchefes, etc.);
meiros, ou a bobeira difusa de tal outro grupo, se e que e verdade, uma horizontalidade como a que pode se realizar no patio
segundo uma f6rmula de Lacan, que bobagem tambem e expressao de do hospital, no pavilhiio dos agitados, ou, melhor ainda,
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no dos caducos, ista e. uma certa situac;ao de fato em que as dentes constituido em torno do mCdico-diretor, ficara talvez num plano
coisas e as pessoas ajeitam-se como podem na situ~ao em muito formal, e se podera considerar que 0 coeficiente de transversa-
que se encontram. lidade ai e muito baixo. Em compens~ao, ao nivel do pavilhao, 0
Coloquemos num campo fechado cavalos com viseiras regulaveis coeficiente latente e reprimido podera se revelar muito superior. Os
e digamos que 0 "coeficiente de transversalidad~" sera justamente esta enfermeiros, tendo entre si rela~5es mais aurenticas, darao aos doentes
regulagem das viseiras. Imaginemos que a partir do m?mento em que a possibilidade de efetuar algumas transferencias com efeito terapeu-
os cavalos estiverem completamente cegos, urn certo ~po de e~co.ntro tico. Continuando a hipotese, os rnultiplos coeficientes de transversa-
traumatico vai se produzir. A medida que}ormos abnnd.o as vl~erras, lidade, apesar de diferentes em intensidade, sao homogeneos. Com
pode-se imaginar que a circula~ao se realizar.a de manerra malS har- efeito, 0 myel de transversalidade existente no grupo que detem 0 poder
moniosa. Tenternos nos representar a manerra como os ho~ens se real sobre a institui9ao determina inconsciememente a regulagem das
comportam uns em rela9ao aos outros do ponto de vista afetivo. D.e possibilidades extensivas dos outros niveis de transversalidade. Tome-
acordo com a celebre parabola de Schopenhauer ~obre os po~co~-e~pl­ mos 0 caso, bastante raro, de urn fortissimo coeficiente de transversali-
nhos sentindo frio, ninguem suportaria uma apr~xlma~ao multo ~1ima dade entre os residentes, que em geral nao costumam ter poder a1gum
com seus semelhantes: "Urn dia de inverno glacial, os porcos-espmhos sobre a institui~ao; este forte coeficiente permanecera latente e nao po-
de urn rebanho apinharam-se a fim de se proteger contra 0 frio pelo dera repercutir senao numa area muito limitada. Deste estado de trans-
calor reciproco, salvando-se assim do congelamento. Porem, doloro- versalidade, desde que se tolere uma compar~ao termodinamica neste
samente incomodados pelos espinhos, eles naa tardaram em voltar a ~e campo onde as coisas se movem em Iinhas de for~as sociais, se poderia
afastar uns dos outros. Obrigados a reaproximar-se, por causa do fno dizer que sua entropia institucional demasiadamente forte vai resultar
persistente, sentiram novametlte a ado desagradavel dos ;spinhos; na absor9ao ou no enquistamento de toda e qualquer veleidade de sua
estas a1ternancias de aproxim~ao e afastamento duraram ate que eles diminui9ao local. Mas n,!o nos enganemos, 0 fato de postularmos que
encontraram uma distancia conveniente oode puderam melbor tolerar urn ou varios grupos detem a chave da transversalidade latente do
os males". 8 conjunto da institui9ao nao nos designa, por isso, os grupos em ques-
Num hospital, 0 "coeficiente de transversalidade" e 0 grau de tao. Com efeito, eles nao coincidem necessariamente com as instancias
cegueira de cada membro do pessoal. Mas, aten?a~, formulamos a juridicas do estabelecimento que so tern 0 controle de sua expressao
hipotese de que a regulagem oficial de todas as VlSelTaS e dos en.un- manifesta. 0 problema da rela~ao de for9a real deve ser analisado:
ciados manifestos que dela decorrem dependem quase que mecamc~­ todo mundo esta cansado de saber que 0 Estado nao faz a lei em seus
mente do que acontece ao mvel do medico-chefe, do du:etor, do adml- ministerios. Da mesma forma pode acontecer que num hospital psi-
nistrador etc. Conseqiientemente tudo parece repercutir do topo para quiatrico 0 poder de fato escape dos representantes patenteados da lei e
£
a base. verdade que pode existir uma "pressao da base", m.as em se reparta entre diversos subgrupos: servi~o, chefetes, ou :- por que
geral ela continua incapaz de ~odifi~ar a e~trutura de cegue~a. do nao? - clube inter-hospitalar, associa9ao do pessoal, etc. E obvio que
conjunto. A modifica9ao deve mtervlT ao mvel de uma redef~m9ao seria born que os medicos e os enfenneiros, aos quais cabe, em prin-
estrutural do papel de cada urn e de uma reorienta~ao do con]unto. cipio, tratar dos doentes, garantissem a assun~ao coletiva da regulagem
Enquanto as pessoas permanecem paralisadas em toma de si mesmas, daquilo que, situado a1em da legalidade ordinaria, controla os fatores
elas nao enxergam nada a1em de si mesmas. . suscetiveis de modificar 0 ambiente, as trocas, 0 modo de funciona-
A transversalidade e uma dimensao que pretende. superar os. dOIS mento real da institui~ao. Mas isso nao poderia ser instituido por uma
impasses, 0 de uma pura verticalidade e 0 de uma. Slmples ~~nzon­ reforma; as boas inten~Oes neste caso nao garantem nenhum acesso a
talidade; ela tende a se realizar quando uma co~umca9ao m:uuna se esta dimensao da transversalidade.
efetua entre os diferentes mveis e sobretudo nos dlferentes sentidos. Eo Para que a inten~ao dec1arada dos terapeutas tenha urn alcance
proprio objeto da busca de urn grupo sujeito.. ~ossa hipotese e a que nao 0 de denega~ao, e seu pr6prio ser, como ser do desejo, que deve
seguinte: e possivel modificar os diferentes coeficlen!eS ~e. transver- ser tocado e questionado pela estrutura significante com a qual eles
salidade inconsciente nos diferentes mveis de uma mstitul~ao. P~r estao confrontados. Isto pode levar a urn questionamento decisivo de
exemplo, a comunic~ao Hpublicamente" existente no nueleo de reSl- toda uma serie de dados bern estabelecidos: que interesse tern 0 Estado
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em bloquear as verbas? Por que 0 Seguro Social persiste em desconhe- mesmo tempo 0 gtupO e si pr6prio. Se e 0 grupo, enquanto cadeia
eer as psicoterapias de gropo? Sera que a faculdade, de essencia significante pura, que 0 acolhe, ele podera revelar-se a si mesmo, para
liberal, nao e retr6grada. alias tanto quanta as federa~Oes sindicais, em alem de seus impasses imaginarios e neur6ticos. Mas, se ele, ao con-
principia mais "a, esquerda" em rela~a.o aos problemas, por exemplo, trarie, se depara com urn grupo profundamenle alienado, fixado as
de categoriza,ao, de hierarquia, etc. ? 0 sujeito da institui,ao; 0 sujeito suas pr6prlas irnagens deformantes. se for urn neur6tico, encontrara ai
efetivo, isto e, inconsciente, aquele que detem 0 pader real, nunea e uma ocasiao inesperada par2. refon;ar seu narcisismo, e, se for urn
dado de uma vez por todas. Sera preciso desencava-Io por ocasiao de psic6tico, podera continuar consagrando-se em silencio as suas subli-
uma investiga,ao analitica implicando as vezes em imensos desvios que mes paixoes universais. Que seja possivel a urn individuo inserir-se no
poderao levar a coloca,ao dos problemas cruciais de nos.sa epoca. grupo sob a forma de ouvido-ouvinte e por isso mesmo ter acesso ao
Se a analise de uma instituil;3.o consiste em se deternllnar como alem do grupo, que ele interpreta ao inves de manifestar, esta e a
tarefa abri-la a voca,ao de tomar a palavra, qualquer possibilidade de alternativa proposta a interven,ao ana.litica de grupo.
interven,ao criadora dependera da capa.cidade de seus iniciadores de A consolida,ao de urn mvel de transversalidade numa institui,ao
existir no lugar onde "poderia ter havido fala", sob a forma de estar permite que se institua no grupo urn dialogo de urn novo tipo: 0 delirio
marcados pelo significante do grupe, ista e, de assumir urn certa modo e qualquer outra manifesta.;ao inconsciente, em eujo seio 0 doente ate
de castra,ao. Este esfolamento. esta bana, esta rasura de suas poten- entao permanecia emparedado e solitario, pode alcan,ar urn modo de
cialidades imaginarias remete seguramente aanalise destes ohjctos que expressao coletiva. A modifica,ao do superego que evocamos anterior-
o freudismo descobriu como sendo 0 suporte de uma possivel assun,ao mente intervem, ao mesmo tempo que urn certo modelo de fala esta
da ordem simb6lica para 0 sujeito: seio, fezes, penis, etc.; todas para surgir em lugar das estruturas sociais, funcionando num sentido
eles elementos descartaveis, ao menos na phantasia; contudo remete meramente ritual. Considerar a possibiiidade, para os terapeutas, de
igualmente a analise do papel desempenhado pelo conjunto dos objetos intervir nurn processo deste tipo, eolocaria 0 problema de urna super·
transicionais 9 que se encontram efetivamente articulados a maquina de visao analitica que por Slia vez suporia resolvida em parte uma trans-
lavar, atelevisao, em outras palavras, a"razao de ser" moderna! Alias, forma<;ao radical do movimento psicanalltico existente, que, ate 0
a cole<;ao de objetos parciais, a come<;ar pela propria imagem do corpo presente momento, nao esta absolutamente preocupado com urn recen-
como suporte da identifica,ao a si mesmo, nao e cotidianamente jo- trarnento de sua atividade em dire<;ao aos doentes reais, la onde e1es se
gada no mercado feito pasto, cotada na bolsa oculta dos valores pseu- encontram efetivamente, isto e, essencialmente, no campo da psiquia-
do~er6ticos esteticos, esportivos... ? A sociedade industrial se assegura tria hospitalar e de setor.
, • • A· •
assim. do controle inconsciente de nosso destino pela eXlgencla, sahs- A posi,ao social do medico·chefe supoe uma aliena,ao imaglna-
fat6ria do 'ponto de vista da pulsao de morte, de uma,?:sa~cul~<;a~ de ria, que 0 erige como Uestatua de cornendador". Como le;;a·lo a aceitar
cada consumidor-produtor, e de tal modo que em ultima lllstancia a e ate a solicitar que 0 questionemos, sem que ele recue diante do medo
humanidade poderia decidir ser urn irnenso corpo esfacelado se recc- estarrecedor de se despeda,ar? 0 medico que renuncia 11 sua post,ao
lando unicamente ao bel-prazer das exigencias do Deus econornico imaginaria, para situar seu papel num plano simb6lico, esta em com~
supremo. Logo e inutil for<;ar urn sintoma social a "entrar na linha", pensa,ao apto a operar 0 recorte necessario da fun,ao medka em mul-
pois em ultima analise e ele seu ver~adeiro suporte; acontece c011' ele ? tiplos encargos, implicando diferentes especies de grupos e de pessoas.
mesmo que com urn ohsessivo que e fechado num quarto onde nao ha o objeto desta fun,ao se desprende da "totemiza,ao" para se transferir
pia, quando costuma lavar as rna-os ~m vezes por dia, e, q~e .entao sobre diversas especies de institui90es, deslocamentos e deleg"-\,oes de
desloca sua sintomatologia para 0 pamco e a cnse de angustia msus~
A

poderes. A pr6pria assun,ao desta phantasia de estilha,amento por


tentitvel. parte do medico funciona assim como urn tempo primordial da instau-
S6 a revela,ao de urn grau mais ou menos grande de transver- ra,ao de uma estrutura de transversaiidade. Seu pape!, agora "articu-
salidade permitira que se desencadeie, durante urn tempo Ua que nesse lado como urna linguagern" ~ se encontrara diretamente conectado ao
assunto tudo e permanentemente questionado), urn processo analitico, conjunto dos significantes e das phantasias de grupo. Ao inves de cada
oferecendo aos individuos urna real possibilidade de se servirern do urn desempenhar para si mesmo e para os outros 0 teatro da existencia,
grupo a maneira de urn espelho. Entao, 0 individuo manifestara ao correlativo a coisifica,ao do grupo, a transversalidade aparece como a
100 FIOLlX GUAITARI REVOLU<;AO MOLECULAR 101

exigencia de marca~ao inevitavel de cada pape!. Vma vez que este A transversalidade e 0 lugar do sujeito inconsciente do grupo,
principio de contesta~ao e de redefini~ao de pap"is tenha sido instau- o atem das leis objetivas que 0 fundamentam. 0 suporte do desejo do
rado por urn grupo detentor de parte importante do poder legal e do grupo.
poder real, isto tera grandes chances, se aplicado numa perspectiva Esta dimensiio so pode ser posta em relevo em certos grupos que,
analitica, de repercutir em todos os niveis. Tal remanejamento dos deliberadamente ou niio. tentam assumir 0 sentido de sua praxis e se
ideais do ego modifica os dados de acolhida do superego e permite a instaurar como grupo sujeito, colocando-se assim na postura de se
inser~ao de urn tipo de complexo de castra~ao articulado a exigencias assumir como agente de sua propria morte.
sociais diferentes daquelas que os doentes tinham conhecido em suas Em oposiriio (relativa) a estes grupos missionarios, os grupos
rela~Oes familiares, profissionais, etc. 0 fato de aceitar ser "posto em sujeitados recebem passivamente suas determinaroes do exterior e,
causa", ser desnudado pela fala do outro, urn certo estilo de contes- com a ajuda de mecanismos de autoconservariio, se protegem magi-
ta~ao reciproca, de humor, de elintina~ao das prerrogativas da hierar- camente de um nonsense sentido como extemo; assim procedendo, eles
quia, etc., levara a tender fundar uma nova lei do grupo, cujos efeitos recusam qualquer possibilidade de enriquecimento dialetico fundado
"iniciaticos" permitirao a emergencia, ou semi-emergencia de urn certa na alteridade do grupo.
numero de signos. presenciando os aspectos transcendentais da loucura Uma analise de grupo que se proponha resultar no remaneja-
que ate enta~ permaneciam recalcados. As phantasias de morte, ou de mento das estruturas de transversalidade, nos parece concebEvel; na
estilha~amento do corpo, tao importantes nas psicoses,
poderao ser condiriio de evitar os perigos das descriroes psicologizantes das re-
retomadas num contexto de calor de grupo, quando se poderia ter laroes internas que tem por efeito perder as dimensoes de phantasia
ficado na cren~a de que sen destino, em essencia, e 0 de perma- espec£{icas do grupo, ou das comportamentalistas, que licam delibera-
necer prisioneiras de uma neo-sociedade, cuja missao, alias, e exor- damente no plano dos grupos sujeitados.
ciza-Ias. A incidencia do significante de grupo sobre 0 sujeito e vivida, por
Isto DaD nos autoriza no entanta a perder de vista que, mesmo este ultimo, ao nfvel de um "limiar" de castrariio pelo fato de que a
revestido de boas inten~oes, 0 empreendimento terapeutico a cada ins- cada etapa de sua historia simbolica 0 grupo possui um modo proprio
tante corre 0 risco, apesar de tudo, de cair na mitologia bestificante do de exigencia frente aos sujeitos individuais. que implica numa renuncia
"nos". Mas a experlencia mostra que a emergencia das instancias relativa de suas incitaroes pulsionais a "estar-em-grupo ".
pulsionais do grupo constitui a melhor garantia contra este perigo. Elas Ha, ou niio, compatibilidade entre esse desejo, esse Eros de
interpelam cada urn, tanto os tecnicos quanta os pacientes, para ques- grupo, e as possibilidades concretas de assunriio por cada sujeito de tal
tiona-los sabre sen ser e sen destino. 0 gropo torna-se entao uma cena prova, que pode ser vivida segundo diversas modalidades, que viio do
ambigua, percebida num duplo plano, urn primeiro, que da seguran~a sentimento de rejeirao, ou mesmo de mutilarao. ate a aceitariio do
e protec;ao, veu encobrindo todo acesso a transcendencia, gerador de estilo iniciatico, podendo resultar num remanejamento irreversivel de
defesas obsessivas, de urn modo de aliena~ao "reconfortante apesar de sua personalidade.
tudo", de eternidade semanal, e urn segundo, que deixa aflorar por Esta marcariio pelo grupo niio ocorre em sentido unico: ela da
tras desta seguran~a artificial a imagem mais realizada da finitude direitos e poder aqueles que a sofreram; mas, em contrapartida, ela
humana, sendo cada urn de meus empreendimentos despossuido em pode trazer modificaroes no nEvel de tolerfmcia do grupo face a desvios-
nome de uma instancia mais implacavel que minha propria morte: a de padriio individuais, e acarretar crises suscetfveis de por em perigo, com
sua captura pela existencia do outro, unica garantia de tudo aquila base em problemas mistificados, 0 proprio destino do grupo.
que pode acontecer pela fala. Diferentemente do que se passa na o papel do analisador de grupo consistiria em revelar tais situa-
analise dita dual, nao mais subsiste aqui qualquer recurso imaginario ryoes e levar 0 conjunto do grupo a niio mais poder fugir. tiio facilmente,
ao nivel das dialeticas de senhor e escravo, a que constitui, a meu ver, das verdades que elas encobrem.
uma possivel supera~ao do complexo de castra~ao. Formulamos a hipotese de que a automutilaryiio burocratica de
A transversalidade no grupo e uma dimensiio contraria e comple- um grupo sujeito, seu recurso inconsciente a mecanismos antagonicos a
mentar as estruturas geradoras de hierarquizariio piramidal e dos sua transversalidade potencial. niio siio fenomenos inelutaveis e depen-
modos de transmissiio esterilizadores de mensagens. dem, num primeiro momento, de uma assunriio. no seio do grupo, do

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REYOW«;:AO MOLECULAR 103
102 F£LlX GUAITARI

que a socializa.i;io nlo e a pr6pria cura, mas seu suporte, e busca-se fazer da instituiclo
risco de ter de se con/rontar com 0 nonsense. com a marte e com a "urn lugar onde a polifonia da fala seja, como na psicanalise, urn instrumento de
alteridade, risco esse corre/otivo a emergencia de todD fenomeno de transforma~io, fazendo surgir 0 sujeito e nio 0 ego, com seu sistema de apoio no estatuto
sentido verdadeiro. s6cia-profissional (Tosquelles, in Histoire de la Psychiatrie de Secteur). Esta tendencia se
agrupa em 1960 no GTPSI, muito ativa ate 1965. Saint-Alban e la Borde (cf. nota 7 de
"0 Fim dos Fetichismos") foram nuc1eos import.antes ligados ao GTPSI.
Guattari, membra ativo deste grupo, formula naquele periodo alguns dos prin-
NOTAS cipais conceitos da psicoterapia institucional: "transversalidade", "transferencia insti·
tucional", "analisador", "gropo sujeito/gropo sujeitado" (d. nota 6). Este ensaio,
escrito em 1964, representa urn momenta importante na elabor~Ao te6rica da psico-
(1) N. do Trad.: 0 termo "psicoterapia institucional" foi criado por Daumez6n terapia institucional, concomitante a uma aproxim~io entre 0 GTPSI e a escola freu-
nurn artigo escrito em 1952. para nomear uma das Hnhas do processo de mut~ilo diana que entio se fundava. Lacan participou de algumas jornadas. No ana seguinte, no
te6rico/pratico em curse Da psiquiatria francesa desde 0 p6s-guerra. As experiencias de entanto, Lacan se vinculou aos althusserianos dos Cahiers pour I :Analyse.
confinamento durante a guerra, bern como a solidariedade entre membros da Resistencia Algumas propostas do inicio do movimentQ sao entia criticadas e superadas:
- de diferentes origens sociais, econamicas, etc. -, e ate 0 fata de 0 cenario desta o microssocialismo que nlo leva em conta a dimenslo analitica e que se limita a critica
solidariedade ter side muitas vezes os hospitais psiquiatricos, que abrigavam refugiados, ideol6gica e a reivindic~ao de liberdade, sem produzir deslocamento algum; as refe-
levau a psiquiatria a colocar em questlo 0 confinamento, a rigida hierarquia das rel~{)es rencias a Lewin e a Moreno, e s6 acessoriamente a Marx e a Freud; a utiliz8i;io da
e a crueldade e frieza com que se tratava os loucos. Saint-Alban, hospital psiquiAtrico em psicanalise - quando nlo excluida -, que a reduz a mere apoio externo, analise de urn
Lozere, constituiu-se em urn nucleo importante de crltica a psiquiatria tradicional. especiaHsta, psiquiatra, psic610go, ou mesmO de urn gropo analitico constituindo uma
Durante a guerra, Saint-Alban havia abrigado comunistas, surrealistas, cristAos progreso form89ao de poder. A analise passa a ser vista como uma dimensAo de toda experi·
sistas, anarquistas, centralizando importantes aspectos da ResistSncia: por exemplo, ment~io social, tendo como objeto 0 conjunto de urn complexo de processos sociais.
durante algum tempo toda a sua edii;io clandestina ali se organiz.a.va sob coorden~Ao de Nesta perspectiva, a analise nAo pode mais ser considerada uma especialidade de Saude
Paul Eluard. Tosquelles, psiquiatra espanhol, com vasta experiencia de luta na psi- Mental, correndo 0 risco de ser reificada como uma tlknica da psicoterapia institucional.
quiatria de seu pais (d. nota 4 de "As Lutas do Desejo e a Psican81ise"), se instala ai £. no seio desta problematica que Guattari sugere 0 termo de "analise institucional", para
desde a guerra, tomanda-se uma especie de catalisador das aspir8.i;6es de mu1:ai;lo na urn projeto que supera 0 GTPSI pela exigencia de urn trabalho interdisciplinar entre a
prAtica psiquiAtrica a partir do jfinal da guerra. Com~a ai uma primeira fase de psicoterapia institucional e praticas similares em outros campos: pedagogia, urbanismo,
mudani;as visando a human~io, a destecnocrat:iza.i;lo e a desmedica~lo da psi- rnilitantismo, movimento estudanti1, etc. Cria-se urn novo gropo, 0 FGERI, ern 1966,
quiatria, que poderlam05 agropar como ama proposta de "microssocialismo" nas insti- onde se desenvolvera a proposta de uma analise institucional (cf. nota 3 de "Devir
tuii;6es, tendo na autogestAo seu projeta-limite. Confundia-se entio a1ien~lo social com Criani;a, Malandro, Bicha"). Os principais ensaios de Guattari da epoca da psicoterapia
alienft.i;lo mental, e conseqilentemente cura com particip~ilo na institucionaliz~lo: institucional estlo na coletanea de seus textos Psychanalyse et Transversa/ite, publicada
a organizai;lo do tempo e do esp~o feita por tad05; 0 organograma justaposto ao socia- em 1972; entre esses foram inc1uidos na presente edi~Ao "A Transversalidade" e "A
grama, anul~io de qualquer difereni;a rlgida entre profissionais. Utiliza-se, como a
Transferencia", ambos de 1964; urn terceiro, "Introducao Psicoterapia Institucional",
suporte desta social~io, atividades coletivas tais como reuni6es, ateliers, terapias de de 1962, foi publicado r.aRevista Tempo Brasi/eire, n? 3..<:;, out./dez., 1974. Alem destes,
gropo - "cUnica de atividade", como 0 denominou Daumezon. Era 0 momento da sugerimos como bibliografia basica as seguintes obras:
impor~lo das tecnicas de gropo norte-americanas: psicodrama, ergoterapia, sociote- Oury, Jean, Psychiatrie et Psycholherapie lnstitutionnelle, Pay('lt, Traces,
rapia, psicologia social, dinamica de grupo, tecnicas ativas, behaviorismo, gestaltismo. Paris, 1976.
Simultaneamente, e fonnulada a critica a psican81ise feita por Politzer e seus seguidores. Revue de Psychothirapie lnslitutionnelle, publicada pelo CERFI, cuja comis-
Sio nontes importantes desta epoca, alem de Tosquelles e Daurnezon, BonnaM, Le Guil- sao de reda~lio era constituida pelos principais nomes da psicoterapia institu-
lant e outros. cional, ta:s como Frani;ois Tosquelles, Jean Oury, Felix Guattari, Jean Ayme,
Na decada de SO, corn~am a delinear-se duas linhas neste processo, correspcnden- Helene Chaigneau, Roger Gentis, etc. (6 numeros. de 1965 a 1967).
do a uma discusslo poUtica geral. A orien'ta.i;lo do PCF naquele momento e objeto de du- Recherches, revista publicada pela FGERI, de 1966 a 1%9, e pelo CERFI,
ras criticas. Vma nova esquerda com~a a delinear-se. Questiona-se sobretudo 0 compro- a partir de 1969 (alguns numeros).
misso do PCF com 0 governo frances contra as colonias em suas luras de libertai;lo, culmi-
nando com sua posii;ao na Guerra da Argelia (de 54 a 62). Questiona-se tambem sua (2) N. do Trad.: Freud, Novas Conferincias Introdut6rias sabre Psicanalise
indiferfm~a em rel~lo ao processo de desestaliniz8.i;l1o desencadeado no XX Congresso, (texto de 193211933), ConI. XXXII, "Ansiedade e Vida Instintual", in Edii;ao Standard
em 1956. Isto vai le'Var dentro da psiquiatria a uma separ~lo entre partidArios e nio Brasileira das obras psicoI6gicas completas, vol. XXII, Imago, Rio de Ianeiro, 1969
partidarios da politica do PCF, 0 que implicava, por exemplo, ser ou nlo partidArio do (p. 111). Na tradui;ao nlo utilizamos literalmente 0 texto supracitado, mas optamos por
exorcismo da psicanalise feita pelo stalinismo recalcitrante. Em 1958, deu-se uma cislo urna comparai;Ao entre 0 texto original (G.W., v. XV, p. 95) e as tradu~~s francesa e
entre as duas tendencias, no Encontro de Sevres. Uma destas duas linhas - froto, entre brasileira. Nossa principal modific~lorefere-se Apalavra Angst, utilizada por Freud no
outras coisas, da nova esquerda e da contribuii;io de Lacan para a psican31ise - , original para designar angUstia, medo ou temor (Freud nunca usa a palavra Furcht,
liderada por Tosquelles, desem'olverA uma nova leitura da lii;io freudiana a partir cia coloquialmente ernpregada para designar medo). Optamos por "angUstia", "medo" ou
pratica em institui~Ao. £. reconhecida a dimensAo inconsciente da instituii;io: percebe-se
104 Fl':L1X GUAITARI REVOLUc;AO MOLECULAR 105

"temor" de acordo com 0 contexte - 0 primeiro termo designando urn sentimento sem juram totalidades e hierarquias; eles sio agentes de enunci~io, suportes de desejo,
objeto definido, e os dais outros urn sentimento com objeto definido - , tendo ai elementos de cri~lo institucional; atraves de sua pratica, eles nio param de se defrontar
coincidido, oa maioria das veres, com a tradu~io francesa (Nouvelles Conferences sur /a com 0 limite de seu pr6prio nonsense, de sua pr6pria morte ou roptura. Ainda que se
Psychanalyse, Gallimard. pp. 121/122). A edi~l1o brasileira tambem adotou "temor" e trate menos de duas especies de gropo, do que de duas vertentes da institui~io, pois que
"medo", mas, quanta ao terceiro termo, optou sempre por "ansiedade" ao inves de um gropo sujeito estA sempre trazendo 0 risco de se sujeitar, em urn se crispar paran6ico,
"anglistia". atraves do qual tenta a todo custo manter-se e eternizar-se como sujeito" (in "Trois
Problemes de Groupe" - prefado a Psychanalyse et TransversaIite).
(3) N. do Trad.: Op. cit. (Imago, p.llS eGallimard, p. 129).
(7) Referencia a uma palestra de J. Schotte: "A Transferencia dita fundamental
(4) N. do Trad.: Op. cit. (Imago, p. 109 e GaUimard, p. 119). Aqui tambem de Freud para colocar a questio: psican.ilise e instituil;io", in Revue de Psychotherapie
Angst oa tradu~io da Imago aparece como "ansiedade". InstitutionneIle, n? 1.
(5) N. do Trad.: Op. cit. (Imago, p. 136 e Gallimard, p. 149). Aqui h8 dais (8) N. do Trad.: Schopenhauer, Parerga und Paralipomena, II parte, Gleichnis-
problemas de tradu~lI.o. A tradu~lo francesa un besoin inconscient de crJpabiJite - me und Parabeln, citado por Freud in "Psicologia de Gropo e a AnMise do Ego" (texto
expresslo rnuitas vezes repetida neste ensaio de Freud, mas uma s6 vez entre aspas - de 1921), in vol. XVIII, Imago, Rio de Janeiro, 1969; nota I, p. 128. A trad~10 adotada
significa literalmente "uma necessidade inconsciente de culpabilidade". A tradul;lo - que nlo corresponde a supracitada - baseia-se num trabalho de comparac;10 entre 0
brasileira da Imago adotou ora "necessidade inconsciente de puni~lo", ora "sentimento original (G. W., v. XXIII, p. 110) e as tradu~r:.es brasileira e francesa (Psychologie
inconsciente de culpa", sendo esta ultima a que aparece entre aspas. No original alemlo Collective et Analyse du Moi, Payot, p. 112).
Freud utiliza ora unbewusstes Stratbediir/n's, ora unbewusstes SchuldgejUhl, este 0 que
aparece entre aspas(G. W., v. XV, p. 116). (9) Tornados num sentido mais geral do que aquele dado por Winnicott.
Primeiro problema: culpabilidade ou culpa? Adotamos 0 primeiro por esse desig-
nar 0 "estado ou qualidade de culpavel ou de culpado" (in Aurelio Buarque de Holanda,
Novo Dicionario da Lfngua Portuguesa, Editora Nova Fronteira, Rio de Janeiro), mais
pr6ximo do conceito freudiano deste sentimento difuso que nem sempre depende de um
ato preciso e objetivavel de que 0 sujeito estaria se acusando; ja 0 termo "culpa" estA
necessariamente vinculado a um ato, que 0 sujeito considera condenavel independente-
mente da pertinencia destejulgamento.
Segundo problema: sentimento OU necessidade inconsciente de culpabilidade?
Estas diferentes o~res de tradu~lo correspondem a diferentes posi~res na discusslo do
significado do original unbewusstes ShuldgefUhI. Discute-se a possibilidade de se falar em
"sentimento inconsciente", por urn lado, e, por outro, de se falar em "necessidade de
culpabilidade". Optamos por manter a escolha feita na tradu~lo francesa: necessidade
inconsciente de culpabilidade - pois e com este significado que trabalha Guattari neste
ensaio (d. a respeito desta discusslo 0 VocabuIario de PsicanQlue de Laplanche e
PontaIis, Moraes, SloPaulo, 1976).

(6) N. do Trad.: "Gropo sujeito" e "gropo sujeitado", termos importantes na


teoria de Guattari sobre a institui~lo, foram incorporados ao vocabul8rio da Analise
Institucional como "gropo sujeito" e "gropo objeto". Pode-se indicar uma fi1iB.l;lo destes
conceitos em "gropo em fuslo" e "pratico-inerte", presentes no Sartre da Crltica da
Razao DiaIetica. De acordo com a leitura de Guattari, feita por Gilles Deleuze, ..... os
gropos sujeitados nlo estio menos nos mestres por eles adotados ou aceitos do que nas
massas que os comprem; a hierarquia, a organ~lo vertical ou piramidal que os
caracteriza e feita para conjurar toda e qualquer inscril;lo possivel de nonsense, de morte
ou de estilha~amento, para impedir 0 desenvolvimento de cortes criativos, para assegurar
os mecanismos de autoconservB.l;lo fundados sobre a excluslo dos outros gropos; seu
centralismo opera por estruturB.l;lo, totalizal;lo, unific8l;10, substituindo as condil;res de
uma verdadeira 'enunci8l;lo' coletiva por urn agenciamento de enunciados estereotipa-
dos, cortados ao mesmo tempo do real e da subjetividade (e ai que se produzem os fen&-
menos imaginarios de edipian~lo, de superegoic~loe de castrB.l;lo de gropo). Os
gropos sujeitos, ao contrArio, se definem por coeficientes de transversalidade, que con-

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