Psicologia Aplicada2

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Psicologia, Senso Comum e Ciência

Em nosso cotidiano ouvimos muito o termo psicologia, cada


indivíduo se diz um pouco entendedor dela. Cada um diz ter
sua “própria psicologia” e a usa em situações mais diversas
de suas vidas. É comum ouvirmos que um vendedor através
do seu poder de convencimento usa de “psicologia” para
conquistar clientes e assim vender seu produto. Da mesma
forma quando dizemos que um amigo está sempre disposto a
nos ouvir, afirmamos que ele tem uma boa “psicologia” para
conversar.

Certamente essa não é a psicologia dos psicólogos, essa é a


chamada psicologia do senso comum, usada no cotidiano
das pessoas em geral. Mas nem por isso deixa de ser uma
psicologia. Com isso é possível dizer que as pessoas têm um
domínio mesmo que pequeno e superficial a respeito do
conhecimento da psicologia científica. O que lhes permite
1
explicar ou compreender o cotidiano das pessoas de um
ponto e vista psicológico. Quando falamos de senso comum
estamos nos referindo à vida do cotidiano, isto é, a forma
como as coisas acontecem, como nos sentimos vivos, como
sentimos a realidade. Quando vou à aula, faço uma prova,
vou ao cinema, converso com amigos, tomo um refrigerante,
lembro-me de um compromisso, tudo isso nos mostra que
estamos vivos.

Psicologia e História

Para compreender a diversidade que a Psicologia se encontra


hoje, é indispensável recuperar sua história. As exigências de
conhecimento da humanidade, às demais áreas de
conhecimento humano e aos novos desafios colocados pela
realidade econômica e social e pela insaciável necessidade do
homem de conhecer a si mesmo.

A psicologia com Sócrates (469-399 a.C.) ganha


consistência, sua principal preocupação era com o limite que
separa o homem dos animais. Desta forma postulava que a
2
principal característica do homem era a razão. A razão
permitia ao homem sobrepor-se aos instintos, que seria a base
da irracionalidade.

Platão (427-347 a.C.) discípulo de Sócrates dá o passo


seguinte. O filósofo procurou definir um “lugar” para a razão
no nosso próprio corpo. Definiu esse lugar como sendo a
cabeça, onde se encontra a alma do homem. A medula seria,
portanto, o elemento de ligação da alma e do corpo. Este
elemento de ligação era necessário porque Platão concebia a
alma separada docorpo.

Aristóteles (384-322 a.C.) discípulo de Platão foi um dos


mais importantes da história da Filosofia. Postulou que a
alma e o corpo não poderiam ser dissociados. Para
Aristóteles, a psyché seria o princípio ativo da vida. Tudo
aquilo que cresce se reproduz e se alimenta possui a sua
psyché oualma.

3
A PsicologiaCientifica

O berço da psicologia moderna foi na Alemanha no final do


século 19. Seu status de ciência é obtido à medida que se
“liberta” da Filosofia, que marcou sua história até aqui, e
atrai novos estudiosos e pesquisadores, que sob novos
padrões de produção passam:

✓ Definir seu objeto de estudo (o comportamento, a vida


psíquica, aconsciência);
✓ Delimitar seu campo de estudo, diferenciando-o de
outras áreas de conhecimento, como Filosofia eFisiologia;
✓ Formular métodos de estudo desseobjeto;

✓ Formular teorias enquanto um corpo consistente de


conhecimentos naárea.

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As Principais teorias da Psicologia

As três mais importantes tendências teóricas da Psicologia


são consideradas por inúmeros autores como sendo:
Behaviorismo, Gestalt e Psicanálise.

Behaviorismo –Nasce com Watson e tem um


desenvolvimento grande nos Estados Unidos, em função de
suas aplicações práticas, tornou-se importante por ter
definido o fato psicológico, de modo concreto, a partir da
noção de comportamento.

Gestalt – Tem seu berço na Europa, surge como uma


negação da fragmentação das ações e processos humanos,
realizada pelas tendências da Psicologia, científica do século
19, postulando a necessidade de se compreender o homem
como uma totalidade. A Gestalt é a tendência mais ligada a
Filosofia.

Psicanálise – Nasce com Freud, na Áustria, a partir da


prática médica, recupera para a Psicologia a importância da
afetividade e postula o inconsciente como objeto de estudo,
5
quebrando a tradição da Psicologia como ciência da
consciência e da razão.

Psicanálise

O termo psicanálise é usado para se referir a uma teoria, a um


método de investigação e a uma prática profissional.
Enquanto teoria caracteriza-se por um conjunto de
conhecimentos sistematizados sobre o funcionamento da vida
psíquica. Freud publicou uma extensa obra, durante toda a
sua vida, relatando suas descobertas e formulando leis gerais
sobre a estrutura e o funcionamento da psique humana. A
Psicanálise, enquanto método de investigação caracteriza-se
pelo método interpretativo, que busca o significado oculto
daquilo que são manifestos por meio de ações e palavras ou
pelas produções imaginárias, como os sonhos, os delírios, as
associações livres, os atos falhos.

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Inconsciente

“Qual poderia ser a causa de os pacientes esquecerem tantos


fatos de sua vida interior e exterior...?” perguntava-se Freud.

O esquecido era sempre algo penoso para o indivíduo, e era


exatamente por isso que havia sido esquecido e o penoso não
significava, necessariamente, sempre algo ruim, mas podia se
referir a algo bom que se perdera ou que fora intensamente
desejado.
A esta força psíquica que se opunha a tornar consciente, a
revelar um pensamento, Freud denominou resistência. E
chamou de repressão o processo psíquico que visa encobrir,
fazer desaparecer da consciência, uma idéia ou representação
insuportável e dolorosa que está na origem do sintoma. Estes
conteúdos psíquicos “localizam-se” no inconsciente.

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1ª Teoria do Aparelho Psíquico

O inconsciente exprime o “conjunto dos conteúdos não


presentes no campo atual da consciência”. É constituído por
conteúdos reprimidos, que não têm acesso aos sistemas pré-
consciente/consciente, pela ação de censuras internas. Estes
conteúdos podem ter sido conscientes, em algum momento, e
ter sido reprimido, isto é, “foram" para o inconsciente, ou
podem ser genuinamente inconscientes.

✓ O pré-consciente refere-se ao sistema onde


permanecem aqueles conteúdos acessíveis à consciência. É
aquilo que não está na consciência, neste momento, e no
momento seguinte podeestar.
✓ O consciente é o sistema do aparelho psíquico que
recebe ao mesmo tempo as informações do mundo exterior e
as do mundointerior.
✓ Na consciência, destaca-se o fenômeno da percepção,
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principalmente a percepção do mundo exterior, a atenção,
oraciocínio

2ª Teoria do Aparelho Psíquico

Entre 1920 e 1923, Freud remodela a teoria do aparelho


psíquico e introduz os conceitos de id, ego e superego para
referir-se aos três sistemas dapersonalidade.

✓ O id constitui o reservatório da energia psíquica, é onde


se “localizam” as pulsões: a de vida e a de morte. As
características atribuídas ao sistema inconsciente, na primeira
teoria, são, nesta teoria, atribuídas ao id. É regido pelo
princípio do prazer.

✓ O ego é o sistema que estabelece o equilíbrio entre as


exigências do id, as exigências da realidade e as “ordens” do
superego. Procura “dar conta” dos interesses da pessoa. É
regido pelo princípio da realidade, que, com o princípio do
prazer, rege o funcionamento psíquico. É um regulador, na
medida em que altera o princípio do prazer para buscar a
satisfação considerando as condições objetivas da realidade.
9
Neste sentido, a busca do prazer pode ser substituída pelo
evitamento do desprazer. As funções básicas do ego são:
percepção, memória, sentimentos,pensamento.

✓ O superego origina-se com o complexo de Édipo, a


partir da internalização das proibições, dos limites e da
autoridade. A moral, os ideais são funções do superego. O
conteúdo do superego refere-se a exigências sociais e
culturais.

✓ A pulsão refere-se a um estado de tensão que busca,


através de um objeto, a supressão deste estado. Eros é a
pulsão de vida e abrangeas pulsões sexuais e as de
autoconservação. Tanatosé a pulsão de morte, pode ser
autodestrutiva ou estar dirigida para fora e se manifestar
como pulsão agressiva ou destrutiva.

Mecanismos de Defesa do Ego

A percepção de um acontecimento, do mundo externo ou do


mundo interno, pode ser algo muito constrangedor, doloroso,
desorganizador. Para evitar este desprazer, a pessoa
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“deforma” ou suprime a realidade — deixa de registrar
percepções externas, afasta determinados conteúdos
psíquicos, interfere no pensamento. São vários os
mecanismos que o indivíduo pode usar para realizar esta
deformação da realidade, chamados de mecanismos de
defesa. São processos realizados pelo ego e são
inconscientes, isto é, ocorrem independentemente da vontade
do indivíduo.

Projeção

O ato de atribuir a uma pessoa, animal ou objeto as


qualidades, sentimentos, ou intenções que se originam em si
próprio. Ex. A pessoa afirma todos nós somos desonestos ou
todos os homens são infiéis com isso esta tentando projetar
nos demais sua própria característica.

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Repressão

Afasta da nossa consciência uma idéia ou evento que poderia


causar ansiedade. Algumas doenças psicossomáticas podem
ser associadas a esse mecanismo: asma, artrite, algumas
fobias, úlcera. A repressão pode apagar não só a lembrança
do acontecimento, mas também tudo que diz respeito ao
mesmo, inclusive seu próprio nome e sua identidade, criando
uma profunda. Ex. Uma vítima de acidente.

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Racionalização

É um processo pelo qual o sujeito procura apresentar uma


explicação coerente do ponto de vista lógico, ou aceitável do
ponto de vista moral, para uma atitude, uma ação, uma idéia,
um sentimento, etc., cujos motivos verdadeiros não
percebem. A pessoa encontra respostas lógicas para afastar o
sofrimento. Ex. Funcionário que rouba o caixa da empresa
justificando que precisou pagar a conta de luz, mas que
devolverá no mêsseguinte.

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Negação

Quando o ocorre algo que nos incomoda profundamente, há a


tendência de não aceitar o ocorrido ou lembrá-lo de modo
incorreto. Podemos fantasiar o que houve na tentativa de
minimizar, assim o impacto do evento. Ex. Pessoa alcoolista
que não admite que tenha o problema afirmando que
consegue parar de beber no momento que quiser. Ex. 2 –
Pessoa que faz dieta, fala o tempo todo que está fazendo dieta
e comendo pouco, mas quando está sozinha de madrugada
come compulsivamente.

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Formação Reativa

O ego procura afastar o desejo que vai a determinada direção,


e, para isto, o indivíduo adota uma atitude oposta este desejo.
Um bom exemplo são as atitudes exageradas — ternura
excessiva, superproteção — que escondem o seu oposto, no
caso, um desejo agressivo intenso. Aquilo que aparece (a
atitude) visa esconder do próprio indivíduo suas verdadeiras
motivações (o desejo), para preservá-lo de uma descoberta
acerca de si mesmo que poderia ser bastante dolorosa. É o
caso da mãe que superprotege o filho, do qual tem muita
raiva porque atribui a ele muitas de suas dificuldades
pessoais.

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Sublimação

A energia associada a impulsos e instintos socialmente e


pessoalmente constrangedores é, na impossibilidade de
realização destes, canalizada para atividades socialmente
meritosas e reconhecidas. A frustração de um relacionamento
afetivo e sexual mal resolvido, por exemplo, é sublimado na
paixão pela leitura ou pelaarte.

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Deslocamento

É o mecanismo psicológico de defesa onde a pessoa substitui


a finalidade inicial de uma pulsão por outra diferente e
socialmente mais aceita. Durante uma discussão, por
exemplo, a pessoa tem um forte impulso em socar o outro,
entretanto, acaba deslocando tal impulso para um copo, o
qual atira ao chão.

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Regressão

É o retorno a um nível de desenvolvimento anterior ou um


modo de expressão mais simples e mais infantil. Ex.: Uma
pessoa ao ver uma barata sob na mesa aos berros. Uma
criança ao nascer seu irmãozinho começa a fazer xixi nas
calças e pedir chupeta novamente.

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Catitimia

Indica a ação que as tendências afetivas exercem sobre a


percepção da realidade. Ex.: uma pessoa quandoesta
apaixonadaporoutratendeaversomentesuasqualidades.Ex.:2
Precisava ver era uma serpente enorme de mais de 3 metros
“Às vezes exageramos as dimensões das coisas que nos
causam medo.

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A Importação da Vida Afetiva

A vida afetiva é parte integrante da nossa subjetividade.


Compreendemos nossas expressões a partir dos afetos que
nos acompanham. Temos que considerar a vida afetiva nos
processos psicológicos. E mesmo, os pensamentos, as
fantasias, aquilo que fica contido em nós, só tem sentido se
sabemos o afeto que os acompanham. Em muitas situações
da vida, não há mediação do pensamento – são os afetos que
determinam nosso comportamento. A vida afetiva ou os
afetos abarca muito os estados pertencentes a gama prazer-
desprazer, como por exemplo, a angústia em seus diferentes
aspectos – a dor, o luto, a gratidão, a despersonalização.

Ao estudarmos a vida afetiva procuramos compreender que


ela é uma área ampla e com isso temos que identificar suas
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terminologias de forma correta. Hoje nos deparamos com
definições como emoção, sentimentos e podemos fazer
distinção desses termos quanto a sua definição.

Os Afetos

Os afetos podem ser produzidos fora do indivíduo, isto é, a


partir de um estímulo externo — do meio físico ou social —
ao qual se atribui um significado com tonalidade afetiva:
agradável ou desagradável, por exemplo. A origem dos afetos
pode também nascer surgir do interior do indivíduo.

Existem dois afetos que constituem a vida afetiva: o amor e o


ódio. Estão sempre presentes na vida psíquica — de modo
mais ou menos integrado —, associado aos pensamentos, às
fantasias, aos sonhos e se expressam de diferentes modos na
conduta de cada um. Os afetos também têm outra
característica — eles estão ligados à consciência, o que nos
permite dizer ao outro o que sentimos, expressando, através
da linguagem, nossas emoções. E é isso o que fazem,
21
incessantemente, os poetas, até mesmo quando não querem
falar.

Muitas vezes os afetos são enigmáticos para quem os sente.


Exemplos: quando temos muitos motivos para não gostar de
alguém de quem gostamos; ou quando deveríamos ser gratos
a alguém de quem temos raiva. Há motivos dos afetos que
estão fora do campo da consciência; nem mesmo quem os
vivencia consegue explicar — só sente a estranheza daquele
sentimento que parece “fora do lugar”. Os afetos também
podem ser enigmáticos para aqueles que os supõem em nós a
partir de alguma expressão, isso porque, muitas vezes, nossa
reação não condiz com o que sentimos (com que o outro
esperava), ou seja, nem sempre o comportamento está em
conformidade com os nossos afetos, os quais não queremos
(ou não podemos)demonstrar.

As Emoções

Durante o dia presenciamos conjunto de sensações e


sentimentos: alegria, tristeza, raiva, decepção. A emoção é
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desencadeada por um objeto ou situação excitante, sendo
provocada por reações motoras e glandulares. Encéfalo
médio: diencéfalo, Tálamo – comportamentos e emoções. As
emoções principais e universais: alegria, tristeza, medo e
raiva. As emoções são expressões afetivas acompanhadas de
reações intensas e breves do organismo, em resposta a um
acontecimento inesperado ou, às vezes, a um acontecimento
muito aguardado (fantasiado).

Outras reações orgânicas que acompanham as emoções e


revelam vivências os estados emocionais do indivíduo:
tremor, riso, choro, lágrimas, expressões faciais etc. As
reações orgânicas fogem ao nosso controle. Podemos
“segurar o choro”, mas não conseguimos deixar de “chorar
por dentro”, sentindo aquele nó na garganta e, às vezes,
tentamos, mas não conseguimos segurar duas ou três
lágrimas que escorrem, traindo-nos, demonstrando nossa
emoção. Todas essas reações de que vimos falando são
importantes descargas de tensão do organismo emocionado,
pois as emoções são momentos de tensão em um organismo,
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e as reações orgânicas são descargas emocionais.

Os Sentimentos

Os afetos básicos (amor e ódio), além de manifestarem-se


como emoções, podem expressar-se como sentimentos. Os
sentimentos diferem das emoções por serem mais
duradouros, menos “explosivos” e por não virem
acompanhados de reações orgânicas intensas. Assim,
consideramos a paixão uma emoção, e o enamoramento, a
ternura, a amizade, consideramos sentimentos, isto é,
manifestações do mesmo afeto básico — o amor. O
importante é compreender que a vida afetiva — emoções e
sentimentos — compõe o homem e constitui um aspecto de
fundamental importância na vida psíquica. As emoções e os
sentimentos são como alimentos de nosso psiquismo e estão
presentes em todas as manifestações de nossa vida.
Necessitamos deles porque dão cor e sabor à nossa vida,

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orientam-nos e nos ajudam nas decisões. Enfim, são
elementos importantes para nós, que não podemos nos
compreender sem os sentimentos e as emoções. Saber e
compreender o mundo que nos rodeia é fundamental para que
possamos estar nele. A apreensão do real é feita de modo
sensível e reflexivo e, portanto, realizada pelo pensar, sentir,
sonhar,imaginar.

Identidade
Identidade é a denominação dada às representações e
sentimentos que o indivíduo desenvolve a respeito de si
próprio, a partir do conjunto de suas vivências. A identidade
é a síntese pessoal sobre o si - mesmo, incluindo dados
pessoais (cor, sexo, idade), biografia (trajetória pessoal),
atributos que os outros lhe conferem, permitindo uma
representação a respeito de si. Este conceito supera a
compreensão do homem enquanto conjunto de papéis, de
valores, de habilidades, de atitudes etc., pois compreendem
todos estes aspectosintegrados
25
— o homem como totalidade — e busca captar a
singularidade do indivíduo, produzida no confronto com o
outro.

O Homem com um ser Social e os Papéis Sociais

O homem como um ser social, como um ser de relações


sociais, está em permanente movimento. Estamos sempre nos
transformando, apesar de aparentemente nos mantermos
iguais. Isso porque nosso mundo interno se alimenta dos
conteúdos que vêm do mundo externo e, como nossa relação
com esse mundo externo não cessa, estamos sempre como
que fazendo a “digestão” desses alimentos e, portanto,
sempre em movimento, em processo de transformação.

Se estivermos em permanente movimento, não podemos ter


um conjunto teórico onde os conceitos paralisam nosso
objeto de estudo. Se nos limitarmos a falar das atitudes, da
percepção, dos papéis sociais e acreditarmos que com isso
compreendemos o homem, nãoestaremos percebendo que, ao
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desempenhar esse papel, ao perceber o outro e ao
desenvolver ou falar sobre sua atitude, o homem estará em
movimento. Por isso, nossa metodologia e nosso corpo
teórico devem ser capazes de captar esse homem
emmovimento.

A sociedade como um conjunto de posições sociais (como a


posição de médico, de professor, de aluno, de filho, de pai),
todas as expectativas de comportamento estabelecidas pelo
conjunto social para os ocupantes das diferentes posições
sociais determinam o chamado papel prescrito. Assim,
sabemos o que esperar de alguém que ocupa uma
determinada posição.

Auto-Estima

É o conjunto de atividades que cada pessoa tem sobre si


mesma, uma percepção avaliativa sobre si própria, que
podem ser positivas ou negativas. Apresentam altos e baixos,
revelando- se nos acontecimentos sociais, emocionais e
psico-fisiológicos (psicossomáticos), emitindo sinais
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detectáveis em vários graus. Ninguém deixa de pensar em si
mesmo, todos temos tendência a nos avaliar, porém o
fazemos de um modo diferente, distinto, cada um à sua
maneira, levando em conta o mundo ao redor.

São traços do que seria uma autoestima positiva: ter


segurança e confiança em si mesmo; procurar a felicidade;
reconhecer nossas qualidades sem maiores vaidades; não
considerar-se superior e nem inferior aos outros; saber
admitir limitações e aspectos menos favoráveis da
personalidade; ser aberto e compreensivo; ser capaz de
superar os fracassos com categoria; saber estabelecer
relações sociais saudáveis; ser crítico construtivo; e,
principalmente, ser coerente e conseqüente consigo mesmo e
com os outros.

Baixa autoestima e auto-imagem se constituem em uma


doença grave, que favorece o egoísmo e tende a criar
dependência, minando as relações interpessoais. Não é uma
regra, mas possuir auto-imagem e auto-estima mais positiva,
nos deixa bastante mais livre de tensões, frustrações e
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intranqüilidades, portanto seríamos capazes de ir mais além.

Desenvolvimento da Autoestima

Não existe fórmula milagrosa para desenvolver a autoestima,


mas uma série de recomendações que se aplicadas em
conjunto, ajudarão você a vencer o derrotismo. Sugestões
para desenvolver a autoestima:

✓ Não se culpar quando ouvir coisas ruins a seurespeito;


✓ Saber gostar de si e apreciar avida;
✓ Saber administrar os altos (elogios) e os
baixos(críticas);
✓ Evitar crenças “por mais que eu me esforce nunca serei
tão bom”, “toda felicidade dura pouco”, não vale a pena se
esforçar, sempre terá alguém melhor do queeu”;
✓ Ser mais tolerante com os erros ou defeitos dos outros e
com os seus, aceitar melhor as diferenças
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✓ Valorizar suas virtudes e aspectospositivos;
✓ Ter uma alimentação saudável, melhorando sua saúde e
disposição para enfrentar os problemas dodia-a-dia;
✓ Praticar atividade física e mental, estimulando suas
capacidades físicas e cognitivas que lhe proporcionemprazer;
✓ Valorizar as relações interpessoais, aumentando o
sentimento de pertencimento, pois é na relação com o outro
que aprendemos e nosdesenvolvemos.

Motivação

A motivação é o processo que mobiliza o organismo para a


ação, a partir de uma relação estabelecida entre o ambiente, a
necessidade e o objeto de satisfação. Isso significa que, na
base da motivação, está sempre um organismo que apresenta
uma necessidade, um desejo, uma intenção, um interesse,
uma vontade ou uma predisposição para agir. Na motivação
está também incluído o ambiente que estimula o organismo e
que oferece o objeto de satisfação.

O estudo da motivação considera três tipos de variáveis:


1. Oambiente;
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2. As forças internas ao indivíduo, como necessidade,
desejo, vontade, interesse, impulso, instinto;

3. O objeto que atrai o indivíduo por ser fonte de satisfação


da força interna que omobiliza.

Saúde Mental

A referência de ausência de enfermidade ou invalidez é


componente essencial desse conceito de saúde e dele não
deve ser separado sob pena de reduzi-lo a total utopia,
principalmente do ponto de vista médico.

O conceito de saúde nos permite resignar seu conceito como


a promoção de saúde mental, pensar o homem na sua
totalidade, como um ser biológico, psicológico e social.

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Sofrimento Psíquico e Doença Mental

A questão da doença mental, neste enfoque psicológico,


significa considerá-la como produto da interação das
condições de vida social com a trajetória específica do
indivíduo (sua família, os demais grupos e as experiências
significativas) e sua estrutura psíquica. As condições externas
— poluição sonora e visual intensas, condições de trabalho
estressantes, trânsito caótico, índices de criminalidade,
excesso de apelo ao consumo, perda de um ente muito
querido etc. — devem ser entendidas como determinantes ou
desencadeadoras da doença.

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Durante a vida todo indivíduo pode viver situações difíceis e
de sofrimento tão intenso, que em muitos momentos entende
que não vai suportar que vai perder o controle sobre si
mesmo.. .Que vai enlouquecer. Isto pode ocorrer quando se
perde alguém muito próximo e querido, em situações
altamente estressantes, em que o indivíduo se vê com muitas
dúvidas e não percebe a possibilidade de pedir ajuda e/ou
resolver sozinho tal situação.

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A Neurose e a Psicose

Para a Psicanálise, o que distingue o normal do anormal é


uma questão de grau e não de natureza, isto é, nos indivíduos
“normais” e nos “anormais” existem as mesmas estruturas de
personalidade e de conteúdos, que, se mais, ou menos,
“ativadas”, são responsáveis pelos distúrbios no indivíduo.
Essas são as estruturas neuróticas e psicóticas.
Neurose — “os sintomas (distúrbios do comportamento, das
idéias ou dos sentimentos) são a expressão simbólica de um
conflito psíquico que tem suas raízes na história infantil do
indivíduo”.

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A neurose é uma doença emocional, afetiva e da
personalidade. As neuroses costumam ser classificadas
através de seu sintoma mais proeminente. Isso não significa
que elas possam ter uma série de sintomas comuns (todas têm
ansiedade, por exemplo). Um dos tipos mais comuns hoje é
aquele cujo sintoma predominante é a fobia (medo
patológico) juntamente comansiedade.

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As neuroses podem ser subdivididas em:

Neurose obsessiva — esse tipo de conflito psíquico leva


comportamentos compulsivos (por exemplo, lavar a mão com
freqüência não usual); ter idéias obsedantes, por exemplo, de
que alguém pode estar perseguindo-o e, ao mesmo tempo,
ocorre uma luta contra esses pensamentos e dúvidas quanto
ao que faz ou fez.

Neurose fóbica ou histeria de angústia — a angústia é


fixada, de modo mais ou menos estável, num objeto exterior,
isto é, o sintoma central é a fobia, o medo. Medo de altura,
medo de animais, medo de ficar sozinho etc.

Neurose histérica ou histeria de conversão — o conflito


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psíquico simboliza-se nos sintomas corporais de modo
ocasional, isto é, como crises. Por exemplo, crise de choro
com teatralidade, ou sintomas que se apresentam de modo
duradouro, como a paralisia de um membro, a úlcera etc.
Todas as formas de manifestação da neurose têm sua origem
na vida infantil, mesmo quando se manifestam mais tarde,
desencadeadas por vivências, situações conflitivas etc. Nos
dois últimos tipos apresentados, a neurose está associada a
conflitos infantis de ordem sexual.

Neurose traumática, em que os sintomas — pensam


obsessivamente no acontecimento traumatizante, ter
perturbações do sono etc. — aparecem após um choque
emotivo do indivíduo, ligado a uma experiência em que ele
correu risco de vida.

Psicose — é o termo usado até meados do século 19 para se


referir, de modo geral, à doença mental. Para a Psicanálise,
refere-se a uma perturbação intensa do indivíduo na relação
com a realidade. Na psicose, acontece uma ruptura entre o
ego e a realidade, ficando o ego sob domínio do id, isto é, dos
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impulsos. Posteriormente, na evolução da doença, o ego
reconstrói a realidade de acordo com os desejos do id.

As psicoses subdividem-se em:


Paranóia— é uma psicose que se caracteriza por um delírio
mais ou menos sistematizado, articulado sobre um ou vários
temas. Não existe deterioração da capacidade intelectual.
Aqui se incluem os delírios de perseguição, de grandeza.

Esquizofrenia — caracteriza-se por: afastamento da


realidade — o indivíduo entra num processo de centramento
em si mesmo, no seu mundo interior, ficando,
progressivamente, entregue às próprias fantasias. Manifesta
incoerência ou desagregação do pensamento, das ações e da
afetividade. Os delírios são acentuados e mal sistematizados.
A característica fundamental da esquizofrenia é ser um
quadro progressivo, que leva a uma deterioração intelectual e
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afetiva.

Mania e melancolia ou psicose maníaco depressivo —


caracteriza-se pela oscilação entre o estado de extrema
euforia (mania) e estados depressivos (melancolia). Na
depressão, o indivíduo pode negar-se ao contato com o outro,
não se preocupa com cuidados pessoais (higiene,
apresentação pessoal) e pode mesmo, em casos mais graves,
buscar o suicídio.

Psicopatologias

Transtorno - fóbico - ansioso - é uma neurose que se


caracteriza por um medo anormal, desproporcional e
persistente diante de um objeto ou situação específica. Dentre
os quadros fóbicos ansiosos destacam-se três tipos:

Ansiedade - É um sentimento de apreensão desagradável,


vago, acompanhado de sensações físicas como vazio (ou frio)
no estômago ou na espinha, opressão no peito, palpitações,
cor de cabeça, falta de ar, dentre outras. É um sinal de alerta
que adverte sobre perigos iminentes capacita o indivíduo a
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tomar decisões para enfrentar as ameaças.

Transtorno do Pânico – Ocorrência espontânea de ataques


do pânico tem a duração de menos de uma hora com intensa
ansiedade e medo. Os sintomas são: palpitações, respiração
ofegante, medo de morrer. A pessoa pode ter múltiplos
ataques durante o dia. Esses ataques podem ocorrer por
agorafobia que é o medo de estar sozinho, em lugares
públicos. Pode haver dificuldade de concentração, confusão,
aceleração do coração, dificuldade para falar, além do medo
enorme demorrer.

Fobia Simples – medo intenso provocado pela exposição a


objeto ou situação definido freqüentemente em uma situação
de esquiva. Ex.: Medo dealtura.

Agorafobia – comportamento de evitação provocados por


lugares ou situações onde o escape seria difícil ou
embaraçoso caso se tenha uma crise de pânico ou mal estar.
Os temores agorafóbicos são: andar desacompanhado, estar
em meio à multidão, permanecer em uma fila,estar em uma
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ponte, viajar de trem, ônibus.

Sintomas:
Palpitações ou taquicardias, sudorese, tremores, dispnéia,
sensação de sufocação, dor ou desconforto torácico, náuseas
ou desconforto abdominal, sensação de tonturas,
instabilidades, desmaio, medo de perder o controle ou
enlouquecer, medo de morrer, formigamento, calafrios e
onda de calor.

Fobia Social - Ansiedade significativa provocada pela


exposição a certos tipos de situação social ou de desempenho
(Ex. falar em público) freqüentemente levando a
comportamento de esquiva. Os sintomas são desencadeados à
medida que a pessoa é exposta a observação externa na
execução de alguma atividade. A ansiedade antecipatória da
exposição caracteriza essa fobia: escrever ou assinar em
público, falar em público, dirigir ou estacionar um carro
quando é observado, cantar ou tocar um instrumento musical,
comer ou beber, ser fotografado, usar banheiros.

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Transtorno – obsessivo - compulsivo (TOC) -
caracterizado por obsessões – pensamentos recorrentes que
causam ansiedade e desconforto acentuados e/ou compulsões
– comportamentos estereotipados ou rituais que servem para
aliviar a ansiedade.

Primeiramente surgem os pensamentos obsessivos, são


pensamentos intrusivos interrompendo as atividades. A
pessoa sente o desejo de pensar sobre algo dezenas de vezes
ou até centena de vezes até que os pensamentos se acalmem.
A segunda diz respeito à verificação, como lavar as mãos
diversas vezes, retornar diversas vezes para verificar se
fechou a porta, se o gás está desligado, se limpa a casa muitas
vezes, recomeça-se a limpeza porque “não ficou bom”
42
afetando diretamente a qualidade de vida do paciente.

E a terceira forma os dois aparecem juntos. As causas


podem ter vários fatores o que sempre está presente são
fatores hereditários e conflitos internos iniciando na infância.

Transtorno de estresse pós – traumático – reviveu do


acontecimento extremamente traumático (acidentes,
agressões, calamidades) acompanhada de hiper vigilância e
esquiva de estímulos associados ao trauma.

Depressão -Os distúrbios depressivos incluem a depressão


maior, a destina e tipos não especificados de depressão. A
depressão maior caracteriza-se por um ou mais episódios
depressivos com pelo menos duas semanas de humor
deprimido ou perda de interesse na maior parte das
atividades, acompanhados por pelo menos quatro sintomas
adicionais de depressão.

43
O estado depressivo pode ser classificado em 3 grupos:

Depressão menor: 2 ou 4 sintomas por duas ou mais


semanas, incluindo o estado deprimido ou anedônia.
Distimia: 3 ou 4 sintomas, incluindo estado deprimido,
durante dois anos no mínimo.
Depressão maior: 5 ou mais sintomas por duas semanas ou
mais incluindo estado deprimido ou anedônia.

✓ Os sintomas interferem na qualidade de vida: perda de


dia de trabalho, atendimento médico, medicamentos.

FATORES DE RISCO PARA DEPRESSÃO


44
✓ Histórico familiar dedepressão
✓ Sexo feminino
✓ Idade mais avançada
✓ Episódios anteriores de depressão
✓ Partorecente
✓ Acontecimentos estressantes
✓ Dependência de droga

O número de casos de mulheres é o dobro dos homens,


principalmente após o parto (15% das mulheres apresentam
quadro depressivo). Nos casos leves e moderados a
psicoterapia é indicada. Nos casos graves a psicoterapia deve
ser aplicada com o uso de medicamentos criando-se um
plano terapêutico. Muitas pessoas portadoras de depressão
não se utilizam nem da psicoterapia nem de medicamentos
podendo evoluir para um estado mais grave ainda
independente do controle voluntário.

Esquizofrenia - é uma doença mental caracterizada pela


perda do contato com a realidade. A pessoa fica fechada em
si mesma, com o olhar distante, indiferente com tudo ao seu
45
redor. O paciente fala de maneira ilógica, desconexa,
demonstrando incapacidade de organizar o pensamento. 1%
da população é afetada por esse transtorno. Os sintomas
começam a se manifestar na adolescência – homens entre 17e
27 anos e mulheres entre 17 e 37 anos. Na esquizofrenia
os sintomas são positivos enegativos.

Sintomas positivos:
Delírios – crenças infundadas – o indivíduo crê em idéias
falsas, irracionais ou sem lógica. Alucinações – alterações
sinestésicas. O indivíduo percebe estímulos que não existem.
Ouvir vozes, enxergar pessoas, sentir cheiros, sensações, etc.

Sintomas negativos - 80% das esquizofrenias começam com


sintomas negativos. Delírio e alucinação chamam mais
atenção. Já os sintomas negativos ocorrem no íntimo da
pessoa, causando menos impacto nos outros. Afeto embotado
– dificuldade de demonstrar a emoção que está sentindo. Não
demonstra se está alegre ou triste. Anedônia – perda da
46
capacidade de sentir prazer. Isolamento - Alteração de
comportamento – os pacientes podem ser impulsivos,
agressivos, agitados ou retraídos, apresentando risco de
suicídio ou agressão, além da exposição moral, falar sozinho
em voz alta, andar sem roupa em público.

Tipos de Esquizofrenia
Paranóide – predomínio de delírios e alucinações.

Hebefrênica – alterações da afetividade e desorganização do


pensamento.

Catatônica – entorpecimento, alteração de motricidade

Causas - Hipóteses

Componente genético – O risco sobe para 13% se um parente


de 1º grau é Portador da doença. Quanto mais próximo o
parentesco maior o risco.
47
Contribuição ambiental – Histórico de vida relacional com
familiares

Psicose Puerperal (Depressão pós - parto) - Psicose pós-


parto ocorre na mulher que recentemente teve um bebê. Essa
síndrome se caracteriza por depressão materna, delírios e
pensamentos de machucar a si mesmo e ao bebê. A
incidência é de 1 a 2 por 1000 nascimentos. 50% das
mulheres afetadas têm histórico familiar de transtorno de
humor. Os sintomas podem se iniciar em dias após o parto
até dentro de 8 semanas após o parto. As pacientes começam
a se tornar cansadas, com insônia, irritadas, podendo
apresentar choro fácil. Mais tarde idéias confusas,
incoerência de pensamento, estados de irracionalidade,
48
e
pensamentos obsessivos a saúde do bebê. O delírio pode
envolver a idéia de que o bebê está morto ou doente. Elas
podem negar o nascimento do bebê, expressar pensamentos
de não serem casadas. As alucinações podem apresentar
vozes que pedem para ela matar o bebê ou se matar. Vozes
de comando são comuns. 5% das pacientes cometem suicídio
e 4% cometem infanticídio.. Gestações subseqüentes têm o
risco aumentado de novos episódios

Transtorno Afetivo Bipolar - Caracteriza-se por variações


cíclicas do humor. A pessoa está sujeita a episódios de
extrema alegria, euforia e humor excessivamente elevados e
também a episódios de humor muito baixo e desespero
(depressão). Dentre esses episódios é normal a pessoa passar
por períodos de normalidade. O paciente bipolar pode chegar
ao extremo da depressão e se suicidar e no extremo da
euforia e escrever um livro em um dia. A pessoa bipolar vai
de 8 a 80: desânimo, tristeza, ansiedade, falta de sono com
euforia, agitação, agressividade, aumento de riscos e gastos.
49
Stress

“Stress”. Chama-se de stress a um estado de tensão que causa


uma ruptura no equilíbrio interno do organismo. É por isso
que às vezes, em momentos de desafios, nosso coração bate
rápido demais, o estômago não consegue digerir a refeição e
a insônia ocorre. Em geral, o corpo todo funciona em
sintonia, como uma grande orquestra.

Desse modo, o coração bate no ritmo adequado às suas


funções, pulmões, fígado, pâncreas e estômago têm seu
50
próprio ritmo que se entrosa com o de outros órgãos. Mas
quando o stress ocorre esse equilíbrio, chamado de
homeostase pelos especialistas, é quebrado e não há mais
entrosamento entre os vários órgãos do corpo. Cada um
trabalha em um compasso diferente devido ao fato de que
alguns órgãos precisam trabalhar mais e outros menos para
poderem lidar com o problema. Isso é o que se chama de
stress inicial.

E de onde vem o stress?

Aquilo que gera stress é chamado de estressor ou fonte de


stress. Existem vários tipos de estressores e muitas vezes o
que estressa uma pessoa não estressa outra. Para facilitar a
identificação do que está criando stress, dividimos os
estressores em duas categorias: fontes externas e internas.
As fontes externas são constituídas de tudo aquilo que
ocorre em nossas vidas e que vem de fora do nosso
organismo: a profissão, a falta de dinheiro, brigas, Assalto,
51
perdas, falecimentos. Tudo o que exija do organismo uma
maior adaptação cria stress.

Pela definição, compreende-se que não são somente os


acontecimentos negativos que dão origem ao stress.
Determinados eventos, mesmo que nos tragam muita
felicidade, podem também exigir uma adaptação grande e,
por isso, se tornam fontes positivas de stress.

As fontes internas se referem ao nosso modo de serem,


nossas crenças e valores, nosso modo de agir. O presente
livro foi elaborado para tratar as fontes internas mais comuns
e mais graves Também. Os estressores externos são mais
fáceis de serem identificados porque são passíveis de
inspeção objetiva de qualquer um. Sabemos perfeitamente
bem que qualquer um que passou pela morte de um ente
querido deve estar sob um stress excessivo. Mas quando nos
52
referimos àquilo que está dentro do ser humano, escondido,
às vezes dormente, torna-se muito difícil de avaliar. A
própria pessoa muitas vezes não consegue perceber que
certos modos de pensar e Analisar o mundo podem estar lhe
criando stress.

Fases de Stress

A fase de alerta é considerada a fase “positiva” do stress. O


organismo produz adrenalina, que deixa o indivíduo cheio de
energia e vigor. Libido alta, dificuldade de dormir, em função
da adrenalina, respiração mais ofegante que o normal e
humor eufórico são algumas características desta fase. Se a
causa do stress é eliminada logo, a pessoa volta a seu
53
equilíbrio normal sem nenhum problema.

"Fase de resistência", em que a pessoa automaticamente


tenta lidar com os seus estressores de modo a manter sua
homeostase (equilíbrio)interna.

Muitos dos sintomas da fase de alerta desaparecem, dando


lugar a uma sensação de desgaste e cansaço. Dificuldade de
memória é algo comum nesse estágio do stress.

A terceira fase, a fase de quase-exaustão, é caracterizada


pelo enfraquecimento da pessoa, que não mais está
conseguindo se adaptar ou resistir ao fator estressor. Nesta
fase de quase- exaustão, o processo de adoecimento se inicia
e os órgãos que possuírem maior vulnerabilidade genética ou
adquirida passam a mostrar sinais de deterioração. Embora
apresentando desgaste e outros sintomas, a pessoa ainda
consegue trabalhar e atuar na sociedade, ao contrário do que
ocorre em exaustão, quando a pessoa pára de funcionar
adequadamente e, na maioria das vezes, não consegue
trabalhar ou se concentrar.

A quarta-fase: exaustão. Nesta fase as doenças já estão se


54
instalando. Para se proteger do stress excessivo, as
recomendações principais concentram-se na alimentação,
relaxamento, atividade física, estabilidade emocional e
qualidade de vida. A alimentação deve ser rica em legumes,
verduras e frutas, para repor as energias, vitaminas e
nutrientes consumidos nos momentos de maior stress.
Recomenda-se evitar gordura, chocolate, café, refrigerantes e
sal.

Controle do Stress

✓ MUDANÇA DE VIDA E DE ATITUDE - A prática


de atividade física é muito importante para o metabolismo,
pois elimina a adrenalina e produz beta-endorfina. ATITUDE
POSITIVA PERANTE A VIDA – É sempre importante saber
as várias alternativas que a vida nos coloca. Sempre
considerar o lado que pode ser melhor na tomada de
55
decisões, reestruturar o pensamento e não fazer o relógio
como seu maior adversário sem ter tempo para mais nada a
não ser otrabalho.

✓ INVESTIR EM RELACIONAMENTOS – Valorizar


o relacionamento interpessoal (família, amigos). É através
dos relacionamentos que é possível o
desenvolvimentopessoal.
✓ ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL – Repor os
nutrientes perdidos durante os períodos destress.
✓ IDENTIFICAR ATIVIDADES QUE GOSTA
DEFAZER

Relações Humanas

A produtividade de um grupo e sua eficiência estão


estreitamente relacionadas não somente com a competência
de seus membros, mas, sobretudo com a solidariedade de
suas relações interpessoais.Schutz, outro psicólogo, trata de
uma teoria das necessidades interpessoais: necessidade de ser
56
aceita pelo grupo, necessidade de responsabilizar-se pela
existência e manutenção do grupo, necessidade de ser
valorizado pelo grupo.
O relacionamento intrapessoal, que é a forma como nos
relacionamos com nós mesmos, exerce um papel vital
quando consideramos o âmbito profissional, pois através
dessa comunicação bem elaborada que se consegue evoluir
nos demais relacionamentos. Estabelecer relacionamentos
sadios dentro do ambiente profissional é sempre desafiador
quando consideramos que temos que lidar com as diferenças
do outro.

Quando compreendemos o papel que a outra pessoa tem nos


relacionamentos passamos a tratá-lo com respeito, sendo
mais tolerante. Faz-se necessário respeitarmos as diferenças
da mesma forma como capacidade intelectual, cultura,
religião e caráter. Relacionamento nos remete sempre a lidar
com as diferenças pessoais e do outro para assim
estabelecermos um bom vínculo profissional e pessoal.
57
ESTIMULANDO UM BOM RELACIONAMENTO

✓ Desenvolva um espírito de cooperação e trabalho


emequipe;
✓ Dar oportunidades para se vivenciar crises e limitações
pessoais no ambiente profissional;
✓ Manter um canal de comunicação aberto com a equipe,
como forma de minimizar as tensões e fantasias acerca
dosrelacionamentos;
✓ Desenvolver um diálogo franco e aberto com todos os
membros da equipe, facilitando assim a troca de experiências
edificuldades;

✓ Respeitar seus próprios limites e os limites dooutro;


✓ Ter sempre disponível um canal de escuta e
aprendizado, possibilitando assim um bom desenvolvimento
pessoal eprofissional;

Humanização da Saúde

O contato direto com seres humanos coloca o profissional de


58
saúde diante de sua própria vida, saúde ou doença, dos
próprios conflitos e frustrações. Se ele não tomar contato
com esses fenômenos, correrá o risco de desenvolver
mecanismos rígidos de defesa que possa prejudicá-lo tanto no
âmbito profissional quanto no pessoal, como também este
profissional da saúde, ao entrar em contato com os seres
humanos, pode utilizar o distanciamento como mecanismo de
defesa.

Então, o que é humanizar? Entendido assim, humanizar é


garantir à palavra a sua dignidade ética; ou seja, para que o
sofrimento humano e as percepções de dor ou de prazer
no corpo sejam humanizados, é preciso tanto que as palavras
expressas pelo sujeito sejam entendidas pelo outro quanto
que este ouça do outro, palavras de seu conhecimento. A
humanização depende de nossa capacidade de falar e ouvir,
do diálogo com nossos semelhantes.
59
O Processo do Adoecer

O adoecer é um processo singular, é uma experiência única


que apresenta tantos aspectos objetivos como subjetivos
ambos importantes. Alguns aspectos são relevantes para o
paciente, na forma como ele irá lidar com o seu adoecimento:
história pessoal, momento de vida, defesas egócicas, nível de
maturidade, forma de reação frente às situações novas,
característica da dinâmica e estrutura familiar, intensidade e
gravidade da doença, possibilidade de seqüelas e tipos de
personalidade. O indivíduo não consegue se satisfazer com a
resposta que ele pode dar diante desta situação
conflituosa/stressante, a qual inevitavelmente, ele tem que
enfrentar nas suas relações psicossociais.

Essa inadequação ao evento stressante, leva o indivíduo a


uma falha adaptativa que vai gerar uma desestabilização dos
mecanismos psiconeuroimunológicos.

O adoecer é mais que um sintoma somático, é deixar de


60
viver, é sofrer, é um conflito existencial, é um isolamento,
é sentir dor, é ter medo, é até morrer.

A transição entre saúde e doença é uma experiência


complexa e muito individual. As duas principais tarefas de
quem apresentam uma condição em desenvolvimento são:

✓ Modificar sua imagem corporal, o autoconceito e


suas relações com as pessoas e com otrabalho;
✓ Reajustar-se as limitações e adaptações realísticas
da situação. Essas tarefas começam dentro do ambiente em
que a pessoa está sendo tratada do seu distúrbiofísico.

No ciclo saúde-doença, a maioria das pessoas atravessa três


61
estágios:

1) Transição da saúde-doença;
(2) O período da doença “reconhecida”;
3) Aconvalescência.

O tempo e a qualidade de experiências do indivíduo estágios


variam com a sua personalidade, a doença específica e as
mudanças em sua vida. O profissional de saúde precisa estar
alerta às mudanças nos sentimentos da pessoa durante a
adaptação, reconhecer os desvios e fazê-lo avançar no
processo.

Manejo de Familiares Difíceis

Outra questão que necessita de um olhar cuidadoso é a


relação do profissional com os familiares do paciente. A
dinâmica dessa relação requer cuidado, pois assim como o
paciente, a família se apresenta com as sentimentos abalados,
levando em conta a situação-limite que todos envolvidos no
processo se encontram. Quando nos referimos ao manejo
falamos de controle, de como conduzir a relação em um
62
momento de dor e sofrimento. É importante para o
profissional reconhecer o lugar do outro e entender que todos
atravessam um momento de intensa fragilidade. Saber
assumir responsabilidade com o paciente e com seus
familiares é papel fundamental na relação.

Quanto ao familiar deve-se entender que existem alguns tipos


de famílias incluídas narelação:

1) As famílias bem adaptadas - são aquelas que


entendem e aderem bem ao tratamento do familiar.
Conseguem contribuir de forma efetiva para o tratamento
agindo como facilitadores doprocesso;
2) As famílias difíceis – são aquelas que devido à
situação de crise se tornam difíceis, a situação de
adoecimento do familiar afeta a relação, os tornado difíceis
de relacionar, principalmente com o profissional de saúde,
responsável pelocuidado.
3) As famílias sempre difíceis – são aquelas famílias que
se apresentam difíceis em qualquer relação social,
independente da doença. Esses familiares muitas vezes se
63
sentem prejudicados e atribuem ao profissional o não-
cuidado ao familiar, e toda relação sempre se
apresentaconflituosa.

Como o Profissional deve Agir?

✓ Compreenda as inseguranças dofamiliar;


✓ Compreenda a necessidade da família de estar perto
da equipe de estar próxima a equipe desaúde;
✓ Identifique as incertezas, culpas e ressentimentos da
família, que surgem durante a internação;
✓ Argumente compreensiva e calmamente sobre as
conseqüências da atitude da família para opaciente;
✓ Reconheça junto a família a dificuldade de ter uma
pessoa próxima gravemente doente, mas
evite“sentimentalismos”.
✓ Compartilhe sua preocupação com outros
64
profissionais e procurem juntos estabelecer uma estratégia
para resolver e lidar com asituação;
✓ Converse com os familiares sobre as
dificuldadesencontradas;
✓ Mantenha contato freqüente, mas nunca firme
compromisso que não poderá cumprir;
✓ O reconhecimento dos sentimentos presentes nesta
relação é que permite o agir de forma consciente e planejada,
manejando assim, as situaçõesdifíceis;

O Profissional de Saúde na Equipe Interdisciplinar

Hoje em dia vários termos próximos – pluri, multi, inter,


transdisciplinariedade – trazem a idéia de soma, de
cooperação e integração. Enquanto puri e multi referem-se a
duas ou mais disciplinas que se relacionam ao olhar um
mesmo objeto de vários ângulos, inter e trans implicam uma
articulação, uma interpenetração dessas disciplinas.

Na multi e na pluridisciplinaridade há uma associação de


65
disciplinas com um objetivo comum, sem que cada uma
tenha que modificar significativamente sua maneira de
compreender as coisas. Assim, a pluridisciplinaridade sempre
existiu, pois os estudos e as práticas dependem de vários
saberes. A interdisciplinaridade, no entanto, exige
comunicação; implica superar os termos especializados,
fechados, dando origem a uma linguagem única para
expressar os conceitos e as contribuições das várias
disciplinas, o que vai possibilitar a compreensão e
osintercâmbios.

É importante a agregação de pessoas que pratiquem a mesma


filosofia de trabalho e por isso coloquem acima de interesses
pessoais. O bem estar do paciente e o sucesso no tratamento
preconizado. O que deve direcionar o funcionamento do
grupo é a harmonia de objetivos e ações compatíveis com as
metas que se pretende alcançar. Trabalhar em equipe não
significa a existência de pessoas trabalhando ao mesmo
tempo em um espaço físico, mas sim trabalhar lado a lado,
66
conhecendo o papel que cada um desempenha e sabendo da
importância que cada um tem no desenvolvimento do projeto
como todo Em cada momento, em cada ação e em cada setor,
um elemento terá sua participação mais ou menos destacada
e, respeitadas as especificidades profissionais, todos terão o
mesmo peso para o sucesso da empreitada.

A Morte e suas Representações

Quando pensamos em morte, logo nos sugere algo


relacionado ao fim, ao incerto. Por medo dessa realidade
evitamos pensar na morte no dia-a-dia ou mesmo sobre sua
representação. Nega-se em todo momento a morte, seja como
forma de aceitação ou pela forma de constituição de fim de
um processo.
67
Ela é tratada de forma indiferente, ou mesmo distante e
muitas vezes também como medo do desconhecido.
Compreende-se que é inevitável atravessar esse processo,
uma vez que a morte se apresenta até nos momentos em que
não pensamos sobre ela e assim formamos sua representação.
Não resta dúvida que a questão da morte é altamente cultural
possuindo variações de época, crenças, valores que permitem
uma aproximação ou distanciamento de outras culturas.

Os Estágios da Morte

Negação: ajuda a aliviar o impacto da notícia, servindo como


uma defesa necessária a seu equilíbrio. Geralmente em
pacientes informados abruptamente e prematuramente. O
profissional deve respeitar, porém ter o cuidado de não
estimular, compactuar ou reforçar anegação.
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Raiva: o paciente já assimilou seu diagnóstico e prognóstico,
mas se revolta por ter sido escolhido. Tenta arranjar um
culpado por sua condenação. Geralmente se mostra muito
queixoso e exigente, procurando ter certeza de não estar
sendo esquecido, reclamando atenção, talvez como último
brado: Não esqueçam que ainda estou vivo! Nesta fase deve-
se tentar compreender o momento emocional do paciente,
dando espaço para que ele expresse seus sentimentos, não
tomando as explosões de humor como agressõespessoais.

Barganha: tentativa de negociar a morte, através de


promessas e orações. A pessoa já aceita o fato, mas tenta
adiá-lo. Deve-se respeitar e ajudar opaciente

Depressão: aceita o fim próximo, fazendo uma revisão da


vida, mostrando-se quieto e pensativo. É um instrumento na
preparação da perda iminente, facilitando o estado de
aceitação. Neste momento, as pessoas queo acompanham
devem procurar ficar próximas e em silêncio. Cabe ressaltar
69
que o termo "depressão" não está sendo utilizado aqui para
designar a doença depressiva, conforme descrita na
Classificação Internacional de Doenças (CID).

Aceitação: a pessoa espera a evolução natural de sua doença.


Poderá ter alguma esperança de sobreviver, mas não há
angústia e sim paz e tranqüilidade. Procura terminar o que
deixou pela metade, fazer suas despedidas e se preparar
paramorrer.

São fatores que dificultam a aceitação da morte:

✓ Desequilíbrio financeiro que o tratamento da doença ou


a falta daquela pessoa podem acarretar àfamília;
✓ Dificuldade da pessoa em aceitar cuidados, quando esta
estiver acostumada com o cuidar;
✓ História e elaboração de perdas anteriores e crenças
70
com relação àmorte;
✓ Momento em que a morte ocorre no ciclo da vida,
quanto mais jovem for o paciente, mais difícil será a
aceitação de suamorte;
✓ A morte súbita impede os familiares de elaborarem
gradativamente o luto, ao contrário da morteprolongada.

A fim de ajudar o paciente e seus familiares o profissional


pode:

✓ Ajudar a pessoa a enfrentar a crise, auxiliando-a a


expressar seussentimentos;

✓ Ajudar a pessoa a descobrir os fatos, desmistificando


fantasias e esclarecendo suas dúvidas, evitando especulações
sobre adoença;
✓ Não dar a pessoa uma falsa confiança, oferecendo ajuda
e reconhecendo a validade de seustemores;
✓ Não encorajar a pessoa a culpar asoutras;
✓ Ajudá-la a aceitarajuda;
✓ Incentivar e sugerir uma reorganização das tarefas
cotidianas, para que a pessoa receba assistência.

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CUIDADOS PALIATIVOS E RELIGIOSIDADE

O termo Paliativo (Palliative), do inglês, aliviar, suavizar,


refere-se à care (cuidado) e não a cure (curar). Os cuidados
paliativos não se iniciam apenas quando o tratamento
“falhou”, mas é parte de uma abordagem altamente

72
especializada para ajudar as pessoas a viver e enfrentar o
morrer da melhor forma possível (McCoughlan, 2004). O
cuidado ativo total dos pacientes cuja doença não responde
mais ao tratamento curativo. O controle da dor e de outros
sintomas, o cuidado dos problemas de ordem psicológica,
social e espiritual são o mais importante. O objetivo do
cuidado paliativo é conseguir a melhor qualidade de vida
possível para os pacientes e suas famílias. (OMS,1990)
A atenção ao aspecto da espiritualidade se torna cada vez
mais necessária na prática de assistência à saúde. Cada vez
mais a ciência se curva diante da grandeza e da importância
da espiritualidade na dimensão do ser humano.

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