Lições de Física de Feynman Vol 1 - Cap. 15
Lições de Física de Feynman Vol 1 - Cap. 15
Lições de Física de Feynman Vol 1 - Cap. 15
:oi enunciada sob uma suposição tácita de que m é uma constante. mas sabemos agora 15-6 Simultaneidade
~e isso não é verdade e que a massa de um corpo aumenta com a velocidade. _ a fór- 15-7 Quadrivetores
ula corrigida de Einstein, m tem o valor
15-8 Dinâmica relativística
(15.1) 15-9 Equivalência entre massa e energia
nde a "massa de repouso" mo representa a massa de um corpo que não está se moven-
- . e c é a velocidade da luz, que é cerca de 3 x 108 mJs ou 10,8 X 108 km/b.
Para aqueles que desejam aprender apenas o suficiente sobre isso para que con-
gam resolver problemas, isto é tudo que existe sobre a teoria da relatividade - ela
nas muda as leis de ewton introduzindo um fator de correção da massa. Da pró-
rria fórmula é fácil ver que o aumento da massa é muito pequeno em circunstâncias
_ ridianas, Se a velocidade é mesmo tão grande como a de um satélite, que viaja ao
::dor da Terra a 8.000 m/s, então v/c = 8/300.000: colocando esse valor na fórmula
tra-se que a correção para a massa é de apenas uma pane em dois a três bilhões, o
é praticamente impossível de observar. De fato, a veracidade da fórmula foi am-
_..amenteconfirmada pela observação de muitos tipos de partículas, movendo-se com
elocidades variando num limite de velocidades muito próximas a da luz. Entretanto,
ido ao efeito ser normalmente tão pequeno, é impressionante que tenha sido desco-
erro através de métodos teóricos antes de ser descoberto experimentalmente. Empiri-
.zmente, a uma velocidade suficientemente alta, o efeito é muito grande, mas ele não
- descoberto dessa maneira. Portanto, é interessante ver como uma lei que envolveu
~ modificação tão delicada (na época quando foi inicialmente descoberta) veio à
por uma combinação de experimentos e argumentos físicos. Contribuições para a
- oberta foram feitas por muitas de pessoas, mas o resultado final dos trabalhos foi
coberta de Einstein.
Existem realmente duas teorias da relatividade de Einstein. Este capítulo se con-
tra na Teoria da Relatividade Restrita, que data de 1905. Em 1915, Einstein publi-
_ u uma teoria adicional, chamada de Teoria da Relatividade Geral. Essa última teoria
com a extensão da Teoria Restrita para o caso da lei da gravitação; não vamos
scutir a Teoria Geral aqui.
O princípio da relatividade foi pela primeira vez enunciado por Newton, em um
seus corolários das leis do movimento: "Os movimentos de corpos em um dado
ço são os mesmos entre si, caso esse espaço esteja em repouso ou se movendo
ormemente em linha reta". Isto significa, por exemplo, que se uma nave espacial
, se movendo com uma velocidade uniforme, todas as experiências realizadas e to-
- os fenômenos nessa nave vão parecer os mesmos como se a nave não estivesse se
vendo, desde que, é claro, ninguém olhe para fora. Esse é o significado do princípio
relatividade. Isso é uma idéia suficientemente simples, e a única pergunta é se é
dade que em todos os experimentos realizados dentro de um sistema em movimento
eis da física vão parecer como se o sistema estivesse parado. Vamos, inicialmente,
ar se as leis de ewton parecem iguais no sistema em movimento.
15-2 Lições de Física
y' Suponhamos que Moe esteja se movendo na direção x com uma velocidade uni-
forme u e ele mede a posição de certo ponto, mostrado na Figura 15-1. Ele chama a
JOE MOE
• p
(x',
ou
y: z') "distância x" do ponto, em seu sistema de coordenadas, como x'. Joe está em repouso
(x, y, z) e mede a posição do mesmo ponto, chamando a coordenada x desse ponto em seu
ut--+
sistema como x. A relação das coordenadas nos dois sistemas está clara no diagrama..
x' Depois de um tempo t, a origem de Moe se moveu para uma distância ut, e se os doi
sistemas originalmente coincidirem,
Figura 15-1 Dois sistemas de coordenadas em
movimento relativo uniforme ao longo do eixo x. x' x- ut,
y' y,
Z' z, (15.2
t' t.
x'
x - u!
viI - U2/C2
y' y,
(15.3)
z' z,
t - ux/c2
t'
viI - 1/2, c2
saber, as equações de Maxwell permanecem com a mesma forma quando esta trans-
ação é aplicada a elas! As Equações (15.3) são conhecidas como uma transforma-
jo de Lorentz. Einstein, seguindo uma sugestão originalrnente feita por Poincaré, en-
- propôs que todas as leis físicas deveriam ser de tal forma que elas permanecessem
lteradas sob uma transformação de Lorentz. Em outras palavras. não deveríamos
udar as leis da eletrodinâmica, mas as leis da mecânica. Como modificar as leis de
-ewton de modo que elas permaneçam inalteradas sob a transformação de Lorentz?
- ~ este objetivo for fixado, temos então que reescrever as equações de ewton de
_~ forma que as condições que impusemos sejam satisfeitas. Como resultado disto,
único requisito é que a massa m nas equações de ewton seja substiruída pela forma
trada na equação (15.1). Quando essa mudança é feita, as leis de Newton e as leis
_ eletrodinâmica se harmonizam. Então, se usarmos a transformação de Lorentz ao
zomparar as medidas de Moe com as de Joe, jamais conseguiremos detectar se algum
les está se movendo, porque a forma de todas as equações será a mesma em ambos
_ istemas de coordenadas!
É interessante discutir o que significa se substituimos a transformação antiga entre
- oordenadas e o tempo por uma nova, porque a antiga (Galileana) parece ser evi-
.:ente por si só, e a nova (a de Lorentz) parece estranha. Queremos saber se é lógica
! experimentalmente possível que a nova, e não a antiga, transformação possa estar
eta. Para descobrir isto, não basta estudar as leis da mecânica, mas, como Einstein
2. devemos também analisar nossas idéias de espaço e tempo a fim de entender essa
znsformação. Teremos de discutir essas idéias e suas implicações para a mecânica
.om certo detalhe, e assim digamos de antemão que o esforço será recompensado, uma
'=Z que os resultados concordam com o experimento.
B e dois espelhos C e E, tudo montado sobre uma base rígida. Os espelhos são co-
locados a distâncias iguais L em relação a B. A lâmina de vidro B divide um feixe
recebido de luz, e os dois feixes resultantes continuam em direções mutuamente
perpendiculares até os espelhos, onde são refletidos de volta a B. Ao chegarem
de volta a B, os dois feixes são recombinados como dois feixes superpostos, D
e F. Se o tempo decorrido para a luz ir de B a E e voltar for o mesmo que de B a
C e de volta, os feixes emergentes D e F estarão em fase e reforçarão um ao ou-
tro, mas se os dois tempos diferirem ligeiramente, os feixes estarão ligeiramente
fora de fase, resultando numa interferência. Se o aparelho estiver "em repouso-o
no éter, os tempos deveriam ser exatamente iguais, mas se estiver movendo- e
para a direita com uma velocidade u, deveria haver uma diferença nos tempo.
Vejamos por quê.
Primeiro calculemos o tempo necessário para a luz ir de B a E e voltar. Digamos
que o tempo para a luz ir da lâmina B até o espelho E seja tI' e o tempo de retomo sej
Figura 15-2 Diagrama esquemático do experi- t2. Agora, enquanto a luz está a caminho de B até o espelho, o aparelho se desloca de
mento de Michelson-Morley. uma distância ut., então a luz precisa percorrer uma distância L+utl' à velocidade c
Podemos também expressar essa distância como cr., de modo que temos:
(Este resultado também é óbvio do ponto de vista de que a velocidade da luz em rela-
ção ao aparelho é c - u, então o tempo é o comprimento L dividido por e - u.) De forma
análoga, o tempo t2 pode ser calculado. Durante esse tempo, a lâmina B avança um;
distância ut2, de modo que a distância de retomo da luz é L - ut2. Então temos
2L/e
ti + t2 = 1 - u-?/ e-?
(15.
Nosso segundo cálculo será o do tempo t3 para a luz ir de B até o espelho C. Com
antes, durante o tempo t3, o espelho C move-se para a direita de uma distância ui; até _
posição C'; ao mesmo tempo, a luz percorre uma distância ct3 ao longo da hipotenu
de um triângulo, que é BC'. Para esse triângulo retângulo, temos
ou
do qual obtemos
t3 = L/ve2 - u 2.
Para a viagem de volta de C' a distância é a mesma, como pode ser visto pela simetria
da figura; portanto, o tempo de retomo também é igual, e o tempo total é 2t3. Com um.:.
pequena reorganização da fórmula, podemos escrever:
2Lje
(15. -
Podemos agora comparar os tempos gastos pelos dois feixes de luz. Nas expressões
(15.4) e (15.5), os numeradores são idênticos e representam o tempo que decorreria
2
se o aparelho estivesse em repouso. Nos denominadores, o termo i/c será pequeno
a não ser que u seja comparável ao tamanho de c. Os denominadores representam as
modificações nos tempos causadas pelo movimento do aparelho. E veja, essas modifi-
cações não são iguais - o tempo para ir até C e voltar é um pouco menor que o tem
A Teoria da Relatividade Restrita 15-5
ara ir até E e voltar, embora os espelhos estejam eqüidistantes de B. e tudo que temos
de fazer é medir essa diferença com precisão.
Aqui um pequeno problema técnico aparece - suponha que os dois comprimentos
L não sejam exatamente iguais? De fato. não podemos fazê-los exatamente iguais.
_"este caso, simplesmente giramos o aparelho 90 graus, de modo que BC esteja na li-
nha do movimento e BE seja perpendicular ao movimento. Qualquer diferença peque-
aa no comprimento então perde a importância. e o que procuramos é um deslocamento
franjas de interferência quando girarmos o aparelho.
Ao realizarem o experimento, Michelson e Morley orientaram o aparelho de modo
:}ue a linha BE estivesse quase paralela ao movimento da Terra em sua órbita (em cer-
ro períodos do dia e da noite). Essa velocidade orbital é de aprox.imadamente 29.000
txd», e qualquer "corrente do éter' deveria ser pelo menos desse tanto em algum ins-
:ante do dia ou da noite e em determinados períodos durante o ano. O aparelho era bem
sensível para observar um efeito dessa magnitude. mas nenhuma diferença de tempo
foi detectada - a velocidade da Terra através do éter não pôde ser detectada. O resul-
:ado do experimento foi nulo.
O resultado do experimento de Michelson-Morley foi muito intrigante e perturba-
aor para a maioria. A primeira idéia frutífera para achar urna saída para o impasse veio
::e Lorentz. Ele sugeriu que os corpos materiais se contraem quando se movem e que
_- a redução é apenas na direção do movimento. e também que. se o comprimento é Lo
~ando o corpo está em repouso, então quando ele se mover à velocidade u paralela ao
seu comprimento, o novo comprimento. que chamamos de LII (L paralelo), é dado por
(15.6)
omparando este resultado com a equação (15.5). vemos que tI + r" = 2r3" Então,
-e o aparelho encolhe da maneira descrita, ternos urna forma de entender por que o
experimente de Michelson-Morley não mostra nenhum efeito. Embora a hipótese da
rontraçâo explicasse com sucesso o resultado negativo do experimento. estava sujeita
objeção de que foi inventada com o propósito expresso de explicar a dificuldade e
"OJeera artificial demais. Entretanto, em muitos outros experimentos, para descobrir
movimento no éter, surgiram dificuldades semelhantes, até então a natureza parecia
"conspirando" contra o homem, introduzindo algum fenômeno novo no intuito de
ular todos os fenômenos que permitissem uma medição de 11.
Por fim foi reconhecido, corno Poincaré observou, que uma total conspiração é
r si própria uma lei da natureza! Poincaré então propôs que existe urna tal lei da
tatureza, que não é possível descobrir o movimento no éter por meio de nenhum expe-
"1.lllento;ou seja, não existe forma alguma para determinar uma velocidade absoluta.
Espelho o observador externo vê o homem na nave espacial acender um charuto, todas as ações
parecem ser mais lentas que o normal, enquanto para o homem na nave tudo se move
E::
'
S' sistema
1 D
no ritmo normal. Portanto, não apenas os comprimentos devem se reduzir, mas tam-
bém os instrumentos de medida do tempo ("relógios") devem aparentemente diminuir
o ritmo. Ou seja, quando o relógio na nave espacial registra que 1 segundo se passou,
visto pelo homem na nave, para o homem lá fora mostra l/VI - U2/C2 segundos.
" Esta dilatação do tempo dos relógios em um sistema móvel é um fenômeno bem
Fotocélulo ~
estranho e merece uma explicação. Para entendê-lo, temos de observar o mecanismo
~ do relógio e ver o que acontece quando ele está em movimento. Uma vez que isto é
difícil vamos pegar um tipo de relógio bem simples. Aquele que escolhemos é um tipo
( a) de relógio bobo, mas funcionará em princípio: é uma barra (régua graduada) com um
Pulso espelho em cada uma das extremidades e quando iniciamos um sinal luminoso entre o
refletido
"':::1 espelhos, a luz vai indo e voltando, fazendo um clique cada vez que chega, como um
relógio de tique-taque comum. Construímos dois desses relógios, com exatamente o
Ssistema
-
ele monta a barra perpendicularmente à direção do movimento da nave; então o com-
primento da barra não mudará. Como sabemos que os comprimentos perpendiculare
,
t'1Jfp não mudam? Os homens podem concordar em fazer marcas em réguas que medem o
r_L._.L1.-.
I I
eixo y um do outro ao se cruzarem. Por simetria, as duas marcas devem ocorrer nas
l -1
Pulso Pulso mesmas coordenadas y e y' caso contrário quando eles se encontrarem para comparar
emitido
(b) recebido
os resultados, uma marca estará acima ou abaixo da outra e assim poderíamos dizer
quem estava realmente se movendo.
II Agora vamos ver o que acontece com o relógio em movimento. Antes do homem
II
c II Ievá-lo a bordo, ele concordou que era um bom relógio padrão e ao viajar na nave
II espacial não veria nada de estranho. Se visse, ele saberia que estava se movendo - se
.JC2_U 11 2
II qualquer coisa mudasse devido ao movimento, ele poderia dizer que estava se mo-
vendo. Mas o princípio da relatividade diz que isto é impossível em um sistema se
movimentando uniformemente, de modo que nada mudou. Por outro lado, quando o
observador externo olha para o relógio dentro da nave, ele vê que a luz, ao ir de um
Figura 15-3 (a) Um "relógio de luz" em repou- espelho para o outro, está "realmente" fazendo um caminho em ziguezague, já que
so no sistema 5: (b) O mesmo relógio movendo-se barra está se movendo lateralmente o tempo todo. Já analisamos movimentos como o
pelo sistema 5. (e) lIustroção da trajetória em dic-
ziguezague, em relação ao experimento de Michelson-Morley. Se num intervalo de
gonal percorrido pelo feixe de luz em um "relógio
de luz" em movimento. tempo a barra se move uma distância proporcional a u na Figura 15-3, a distância que
a luz percorre no mesmo intervalo é proporcional a c, e a distância vertical é portanto
proporcional a V c2 - u2.
Ou seja, a luz leva mais tempo para ir de uma extremidade a outra no relógio em
movimento do que no relógio parado. Portanto, o tempo aparente entre os cliques é
mais longo para o relógio em movimento, na mesma proporção mostrada na hipotenu-
sa do triângulo (essa é a origem das expressões de raiz quadrada em nossas equações).
Da figura, também é claro que, quanto maior for u, mais devagar o relógio em movi-
mento parece funcionar. Não apenas esse tipo de relógio funciona mais lentamente.
mas, se a teoria da relatividade estiver correta, qualquer outro relógio, funcionando
com qualquer princípio que seja, deveria também parecer funcionar mais lentamente
e na mesma proporção - podemos dizer isso sem qualquer análise adicional. Por que
isto acontece?
Para responder a essa questão, suponhamos que tivéssemos dois outros relógios
feitos exatamente iguais, com rodas e engrenagens, ou talvez baseados na desintegra-
ção radioativa, ou outra coisa qualquer. Então ajustamos esses relógios de modo que
ambos funcionem em perfeito sincronismo com nossos primeiros relógios. Quando
a luz vai e volta nos primeiros relógios e anuncia sua chegada com um dique, o
modelos novos também completam alguma espécie de ciclo, que anunciam simulta-
neamente por algum flash duplamente coincidente, ou um tique, ou outro sinal. Um
desses relógios é levado na nave espacial, junto com o primeiro tipo. Talvez esse re-
lógio não funcione mais lentamente, mas continue marcando o mesmo tempo de seu
correspondente parado, sendo assim, discordando do outro relógio em movimento. Oh.
não, se isto acontecesse, o homem na nave poderia usar essa discrepância entre seus
A Teoria da Relatividade Restrita 15-7
ois relógios para determinar a velocidade de sua nave. o que supomos ser impossível.
_'ão precisamos saber nada sobre o mecanismo do relógio novo que possa causar o
efeito - simplesmente sabemos que, qualquer que seja o motivo. ele parecerá funcionar
aevagar, exatamente como o primeiro.
Agora se todos os relógios em movimento funcionam mais lentamente. se todas as
formas de medir o tempo não fornecem nada diferente que um ritmo mais lento. tere-
:nos apenas que dizer, em certo sentido. que o próprio tempo parece dilatado na nave
espacial. Todos os fenômenos na nave - a pulsação do homem. seus processos de pen-
samento, o tempo que ele leva para acender um charuto. quanto ele leva para crescer
e envelhecer - enfim, todas estas coisas devem ser mais lentas na mesma proporção.
?Drque ele não consegue dizer e está se movendo. Os biólogos e médicos às vezes di-
zem que não é totalmente certo que o tempo que um câncer levará para se desenvolver
será mais longo em uma nave espacial, mas do ponto de vista de um físico moderno,
sto é quase certo; senão seria possível usar a taxa de desenvolvimento do câncer para
zalcular a velocidade da nave!
Um exemplo muito interessante da dilatação do tempo com o movimento é for-
ecido por mésons j.1 (múons), que são partículas que se desintegram espontanea-
mente após uma vida média de 2,2 x 10-6 segundo. Eles atingem a Terra em raios
:ó micos e também podem ser produzidos artificialmente em laboratório. Alguns
.:eles se desintegram na atmosfera, mas o restante só se desintegra após encontrar
zrn pedaço de material e parar. É claro que, em sua curta vida, um múon pode viajar,
mo com a velocidade da luz, muito mais que 600 metros. Mas, embora os múons
ejarn criados, por raios cósmicos, no alto da atmosfera, cerca de 10 quilômetros de
"rura, eles são realmente encontrados nos laboratórios. Como isto é possível? A
posta é que diferentes múons se movem em diferentes velocidades, algumas bem
_ 'ximas da velocidade da luz. Enquanto de seu próprio ponto de vista eles vivam
nas cerca de 2 ps, do nosso ponto de vista eles vivem consideravelmente mais - o
ciente para que eles possam atingir a Terra. O fator pelo qual o tempo é aumenta-
já foi dado como I / yll - U2/C2. A vida média foi medida muito precisamente
múons de diferentes velocidades, e os valores concordam bem proximamente
_ fi os da fórmula.
Não sabemos por que o méson se desintegra ou qual o seu mecanismo, mas sabe-
s que seu comportamento satisfaz ao princípio da relatividade. Esta é a utilidade do
-:rincípio da relatividade - ele nos permite fazer previsões, mesmo sobre coisas que do
so contrário não saberíamos nada. Por exemplo, antes que tenhamos qualquer idéia
que faz um méson se desintegrar, ainda podemos prever que, quando ele está se
vendo a nove décimos da velocidade da luz, o tempo aparente que existe é de 2,2 x
-6/(yll - 92/102) segundos; e nossa previsão funciona - isto é a boa coisa dela.
- 5 A contração de Lorentz
-sgora, vamos retomar às transformações de Lorentz (15.3) e tentar ter a melhor com-
rreensão da relação entre os sistemas de coordenadas (x, y, z, t) e (x', y', z', t'), que
amos chamar de sistemas Se S' ou sistemas de Joe e Moe, respectivamente. Já nota-
que a primeira equação é baseada na sugestão de Lorentz da contração ao longo
direção x; como podemos provar que uma contração ocorre? No experimento de
Iichelson-Morley, agora reconhecemos que o braço transversal BC não pode mu-
de comprimento, devido ao princípio da relatividade; assim, o resultado nulo do
experimento exige que os tempos sejam iguais. Então, para que o experimento dê um
=esultadc nulo, o braço longitudinal BE deve parecer mais curto, pela raiz quadrada
,1 - u 2/ c2. O que esta contração significa, em termos das medidas feitas por Joe e
toe? Suponha que Moe, movendo-se com o sistema S' na direção x, esteja medindo a
:oordenada x' de um dado ponto com uma régua de metro. Ele abaixa a régua x' vezes,
então pensa que a distância é de x' metros. Do ponto de vista de Joe no sistema S, en-
zretanto Moe está usando uma régua contraída, assim a distância "real" medida é de x'
'I - U2/C2 metros. Desta forma, se o sistema S' tiver viajado uma distância ut do
15-8 Lições de Física
sistema S, o observador S diria que o mesmo ponto, medido em suas coordenadas, está
a uma distância x e x'V'l - u2jc2+ut,ou
x - ut
x' = --;~=~=
VI - u2jc2
que é a primeira equação das transformações de Lorentz.
15-6 Simultaneidade
De forma análoga, devido à diferença nas escalas de tempo, a expressão do denomi-
nador é introduzida na quarta equação das transformações de Lorentz. O termo mai
interessante nessa equação é o ux/c: no numerador, porque ele é bem novo e inespera-
do. Agora, o que ele significa? Se olharmos para a situação cuidadosamente veremo
que eventos, que ocorrem em dois lugares diferentes ao mesmo tempo como vistos por
Moe em S', não ocorrem ao mesmo tempo se vistos por Joe em S. Se um evento ocorre
no ponto x1 no momento to e o outro evento em x2 e to (no mesmo instante), acharemo
que os dois instantes correspondentes t1' e t2' diferem por uma quantidade
15-7 Quadrivetores
Vamos ver o que mais podemos descobrir nas transformações de Lorentz. É interes-
sante observar que a transformação entre os x's e t's tem uma forma análoga à trans-
formação dos x's e y's que estudamos no Capítulo 11 para a rotação de coordenadas.
Tínhamos que
no qual o novo x' mistura os x e y antigos, e o novo y' também mistura os x e y antigos:
semelhantemente, nas transformações de Lorentz, achamos um novo x' que é uma mis-
tura de x e t, e um novo t' que é uma mistura de t e x. Desta forma, as transformaçõe
A Teoria da Relatividade Restrita 15-9
de Lorentz são análogas à rotação, só que é uma "rotação" no espaço e Tempo. o que
parece ser um conceito estranho. Uma verificação da analogia com a rotação pode ser
feira calculando a quantidade
(15.9)
'esta equação, os três primeiros termos de cada lado representam, em geometria tri-
.fimensional, o quadrado da distância entre um ponto e a origem (superfície de uma
sfera) que permanece inalterado (invariante) indiferentemente à rotação dos eixos
:oordenados. Similarmente, a Equação (15.9) mostra que existe uma cena combina-
_- , que inclui o tempo, que é invariante sob as transformações de Lorentz. Portanto,
_ analogia com a rotação é completa e é de tal forma que vetores, ou seja, quantidades
envolvendo "componentes" que se transformam da mesma forma que as coordenadas
= o tempo, também são úteis juntamente com a relati vidade.
Então, contemplamos uma extensão da idéia de vetores, que até agora conside-
-:unos como tendo apenas componentes espaciais, para incluir uma componente tem-
_ ral. Isto é, esperamos que existam vetores com quatro componentes, três que são
:umo as componentes de um vetor comum e com as quais será associada uma quarta
_ mponente, que corresponde à componente do tempo.
Esse conceito será aprofundado nos capítulos posteriores, onde veremos que, se
- idéias do parágrafo anterior são aplicadas ao momento, a transformação fornece três
mponentes espaciais que são como componentes comuns do momento e uma quarta
mponente, a do tempo, que é a energia.
F = d(mv)jdt.
_ momento ainda é dado por mv, mas, quando usamos o novo m, isto se toma
mov
p = mv = (15.10)
Vi - v2jc2
:=':' 1<1 é a modificação de Einstein das leis de Newton. Sob essa modificação, se ação e
eação continuarem iguais (o que podem não ser no detalhe, mas são a longo prazo),
. tirá conservação do momento da mesma forma que antes, mas a quantidade que
, sendo conservada não é o antigo mv com sua massa constante, mas sim a quantida-
mostrada em (15.10), que possui a massa modificada. Quando esta mudança é feita
fórmula do momento, a conservação do momento ainda funciona.
Agora vamos ver como o momento varia com a velocidade. Na mecânica newto-
a, ele é proporcional à velocidade e, de acordo com (15.10), sob uma faixa con-
rável de velocidades, mas pequenas comparadas a c, é quase igual na mecânica
_ tivística, porque a expressão da raiz quadrada difere apenas ligeiramente de 1.
quando v é quase igual a c, a expressão da raiz quadrada se aproxima de zero e o
mento, portanto, tende ao infinito.
O que acontece se uma força constante atua sobre um corpo por um longo tempo?
_ mecânica newtoniana, o corpo vai ganhando velocidade até ultrapassar a velocida-
da luz. Mas isto é impossível na mecânica relativística. Na relatividade, o corpo vai
;.;nhando não velocidade, mas momento, que pode aumentar continuamente, porque
massa está aumentando. Após algum tempo, praticamente não existe aceleração no
entido de uma mudança na velocidade, mas o momento continua aumentando. Claro
15-10 Lições de Física
que, sempre que uma força produz muito pouca mudança na velocidade de um corpo.
dizemos que o corpo possui um alto grau de inércia, e isso é exatamente o que nossa
fórmula da massa relativística diz (ver equação 15.10) - ela diz que a inércia é muito
grande quando v está próximo de c. Como um exemplo desse efeito, para desviar o
elétrons de alta velocidade no síncroton, que é usado aqui no Caltech, precisamos de
um campo magnético que é 2.000 vezes mais forte do que se esperaria com base nas
leis de Newton. Em outras palavras, a massa dos elétrons no síncroton é 2.000 vezes
maior que sua massa normal e é tão grande quanto a de um próton! Essa m deve se
2
2.000 vezes mo' significando que 1 - i/c deve ser 1/4.000.000, portanto V2/c2 difere
de 1 por uma parte em 4.000.000, ou que v difere de c por uma parte em 8.000.000.
assim os elétrons estão se aproximando bastante da velocidade da luz. Se os elétrons
e a luz apostassem corrida do síncroton até o Bridge Lab (estimado como cerca de
200 metros de distância), qual dos dois chegaria primeiro? A luz, é claro, porque el
sempre viaja mais rápido'. Quanto tempo antes? Isto é muito difícil de saber - ao invés
disto, diremos a distância que a luz está na frente: será cerca 2,511.000 centímetros ou
1/4 da espessura de uma folha de papel! Quando os elétrons estão com essa velocidade.
suas massas são enormes, mas suas velocidades não podem ultrapassar a velocidade
da luz.
Agora, vamos olhar para algumas outras conseqüências da mudança relativísti-
ca da massa. Considere o movimento das moléculas em um pequeno tanque de gás
Quando o gás é aquecido, a velocidade das moléculas aumenta e, portanto, a mas
também aumenta, e o gás fica mais pesado. Uma fórmula aproximada para expres ar
o aumento da massa, para o caso em que a velocidade é baixa, pode ser encontrada
expandindo mo / V 1 - V 2/ c 2= mo (1- i I c2 ;-1/2 em uma série de potências usando
teorema binornial. Obteremos
Vemos claramente pela fórmula que a série converge rapidamente quando v é pequell!.
e os termos após os dois ou três primeiros são desprezíveis. Então, podemos escrever
(15.11
(15.1::
I Os elétrons deveriam, na prática, vencer a corrida contra a luz visível, devido ao índice de refra .
do ar. Um raio gama se sairia melhor.
A Teoria da Relatividade Restrita 15-11
dE
-= F·v. (15.13)
dt
Também temos (Capítulo 9, Equação 9.1) que F= d(mv)/dt. Quando essas relações são
zombinadas à definição de E, a Equação (15.13) toma-se
d(mv)
v· --· (15.14)
dt
Queremos resolver essa equação para 111. Para isto, primeiro usamos o truque materná-
':0 de multiplicar os dois lados por 2m, o que muda a equação para
?;ecisamos nos livrar das derivadas, o que se consegue integrando ambos os lados. A
tidade (2m)dmldt pode ser reconhecida como a derivada em relação ao tempo de
:. e (2mv) . d(mv)/dt é a derivada em relação ao tempo de (mv)2. Então, a Equação
-.15) é o mesmo que
(15.16)
(15.17)
(15.18)
onde chegamos em
(15.19)
ta energia de uma dada quantidade de material, mas numa bomba atômica a energia
explosiva equivalente a 20 quilotons de TNT, por exemplo, é possível mostrar que a
sujeira após a explosão é um grama mais leve do que a massa inicial do material rea-
gente, devido à energia que foi liberada, ou seja, a energia liberada tinha uma massa
de 1 grama, de acordo com a relação l'1E :: l'.(mc\ Esta teoria da equivalência entre
massa e energia tem sido lindamente verificada por experimentos em que a matéria é
aniquilada - convertida totalmente em energia: um elétron e um pósitron se aproxi-
mam em repouso, cada um com uma massa de repouso mo' Quando se aproximam.
eles se desintegram, e dois raios gama surgem, cada um com a energia medida de moc-.
Esse experimento fornece uma determinação direta da energia associada à existênci
da massa de repouso de uma partícula.