Luiz Cláudio de Almeida Barbosa
Luiz Cláudio de Almeida Barbosa
Luiz Cláudio de Almeida Barbosa
MEMORIAL
Viçosa, MG
Março de 2012
2
Sumário
LUIZ CLÁUDIO DE ALMEIDA BARBOSA.................................................................... 9
APRESENTAÇÃO ............................................................................................................11
CAPÍTULO 1 – A FORMAÇÃO EM QUÍMICA ...........................................................14
1.1 Os anos da formação básica (1964-1977) ............................................................14
1.2 Formação universitária e a primeira experiência como docente (1978-1981) .......16
O método de Winkler.........................................................................................18
1.3 O mestrado no Departamento de Química da UFMG e o início da carreira
acadêmica na UFV (1982-1987)................................................................................18
A pesquisa durante o mestrado .............................................................................. 22
As aulas de físico-química ...............................................................................22
1.4 A pós-graduação na Inglaterra (1987-1991) ........................................................23
O ingresso na Royal Society of Chemistry (RSC)............................................27
1.5 O preparo para retornar ao Brasil ........................................................................28
CAPÍTULO 2 - OS DESAFIOS INICIAIS.....................................................................35
2.1 O retorno a Viçosa (1991)...................................................................................35
2.2 Os primeiros passos para a montagem do laboratório de síntese e
algumas reflexões ................................................................................................36
CAPÍTULO 3 - O ENSINO DE GRADUAÇÃO E PÓS-GRADUAÇÃO...................... 39
3.1 Aulas de graduação e pós-graduação...................................................................39
3.2 O Projeto PADCT...............................................................................................41
3.3 Projeto PROIN: entre os 20 melhores do Brasil...................................................42
3.4 Material didático para graduação e pós-graduação...............................................45
3.5 O livro-texto de Química Orgânica .....................................................................47
3.6 Outros livros.......................................................................................................48
Praticas de Química Orgânica ...................................................................................... 48
Pesticidas ....................................................................................................................... 49
Espectroscopia no infravermelho ................................................................................ 49
3.7 Comentários ainda em tempo ..............................................................................50
CAPÍTULO 4 - ADMINISTRAÇÃO E EXTENSÃO .....................................................51
5
Agradecimento
Cronologia
1960 Nasce em 6 de outubro em Além Paraíba, MG, filho de Paulo Antônio
Barbosa e Célia de Almeida Barbosa.
1966 Inicia os estudos primários na Escola Municipal de Jamapará, no município
de Sapucaia, RJ.
1970 É aprovado no Exame de Admissão e inicia os estudos no Ginásio Estadual
São José, em sua cidade natal.
1975 É aprovado no exame de seleção para o SENAI e inicia os estudos
secundários na Escola da Comunidade Professor Sérgio Ferreira.
1977 Conclui o curso secundário e gradua-se como torneiro mecânico pelo
SENAI.
1978 É aprovado no vestibular para Ciências na Universidade Federal de Viçosa
(UFV).
1979 Inicia a carreira docente como professor de Química do Colégio de Viçosa.
1981 Em 15 de dezembro, conclui o curso de Licenciatura Curta em Ciências e a
Licenciatura Plena em Química. Ainda em dezembro, é aprovado em
primeiro lugar no exame de seleção para o curso de mestrado em Química
na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em Belo Horizonte.
1983 É aprovado em primeiro lugar no concurso público para o cargo de
Auxiliar de Ensino na área de Química Geral na UFV. Em 26 de julho,
inicia suas atividades como docente universitário.
1984 Após interromper o mestrado na UFMG, inicia novo curso de mestrado na
UFV, na área de Físico-Química de Sistemas Naturais.
1986 Sob a orientação do professor José Domingos Fabris, em 15 de abril
defende a dissertação de mestrado intitulada Caracterização de um perfil
de solo desenvolvido de rochas pelíticas do grupo Bambuí pela análise
química, difratometria de raios X e espectroscopia Mossbauer. A banca
examinadora contou com a presença do físico Irlandês John Michael David
Coey.
1987 Em setembro viaja para a Inglaterra e inicia o doutoramento na
Universidade de Reading sob a orientação do renomado professor John
Mann.
1988 Viaja à França para participar do Congresso de Química, organizado pela
IUPAC, em Nancy. Na viagem encontra-se com grandes químicos
orgânicos brasileiros, com alguns do quais manterá contato por muitos
anos.
1989 Publica seu primeiro artigo científico sobre os resultados parciais de suas
pesquisas.
8
Pesquisador do CNPq desde 1992, publicou mais de 170 artigos científicos nas áreas de
síntese orgânica, química de produtos naturais, óleos essenciais, química de papel e
celulose, em revistas nacionais e estrangeiras. Orientou e coorientou mais de 100
estudantes de mestrado e doutorado e foi pesquisador visitante nas Universidades de
Reading e Warwick, na Inglaterra. É sócio da Sociedade Brasileira de Química desde
1978, membro da Royal Society of Chemistry (Inglaterra) desde 1989 e também membro
afiliado da International Union of Pure and Applied Chemistry (IUPAC) desde essa data.
CV Lattes: http://lattes.cnpq.br/0234920940703210
11
APRESENTAÇÃO
A vida universitária demanda de nós uma contínua reflexão sobre nossas ações.
Essa reflexão deve contemplar diversos aspectos de nossa atuação como docente, como
pesquisador, gestor e formador de opinião. Somos responsáveis pela formação da futura
geração de intelectuais, pesquisadores e administradores que levarão adiante, e ampliarão
ainda mais, o trabalho que hoje fazemos. Essa nova geração será responsável por
continuar alavancando o desenvolvimento científico, econômico, social e cultural do
Brasil. Apesar da importância de estarmos continuamente avaliando, de forma crítica, o
que se passa na universidade e na sociedade, nosso cotidiano de professor-pesquisador
demanda de nós um esforço contínuo em muitas áreas, fazendo com que muitas vezes o
tempo que dedicamos a esse processo reflexivo seja comprometido. A cada dia, as
cobranças impostas pela sociedade e pelas mais diversas instituições organizadas sobre o
trabalho do professor aumentam, exigindo cada vez mais que tenhamos envolvimento nas
mais diversas áreas, como ensino, pesquisa, extensão e administração. Esse é um dos
grandes erros do sistema atual, que confunde as áreas de atuação da instituição
universitária (historicamente estabelecida sobre as bases da trilogia ensino-pesquisa-
extensão) com aquelas que deveriam ser atribuições de indivíduos que compõem seu
quadro.
Com toda essa demanda, muitas vezes nós não paramos para refletir criticamente
sobre nossa própria atuação, tanto institucional quanto em nível mais amplo. Portanto,
nesse momento em que o Departamento de Química da UFMG torna público o edital para
o provimento de vaga para o cargo de Professor Titular de Química, não pude deixar de
me seduzir pela oportunidade de me candidatar a esse honroso posto. A sedução vem não
apenas da posição de destaque que a UFMG ocupa entre as instituições de ensino superior
do Brasil, mas também pela chance (forçada, eu diria!) de parar com as atividades
atribuladas do dia a dia e refletir sobre minha vida acadêmica nos últimos 30 anos. Tenho
certeza de que, independentemente do resultado da avaliação ao final desse processo, em
que estarei disputando uma vaga com os mais conceituados cientistas do País, o ganho
para minha vida será grande, pois me permitirá analisar de forma crítica a minha jornada
até o momento e, a partir daí, organizar meus planos pelo menos para a próxima década.
destacada. Outro ponto importante que é citado foi o convite feito ao professor Harrold
Kroto e a coordenação de sua vinda ao Brasil. A visita do professor Kroto constitui-se em
um marco na história da UFV, pois ele foi o primeiro laureado com um Prêmio Nobel a
visitar a instituição em seus 85 anos. No capítulo 6, é feita uma apresentação das
principais linhas de pesquisa desenvolvidas na UFV após a conclusão de meu
doutoramento. Alguns trabalhos foram discutidos em mais detalhes, enquanto outros não
foram mencionados, uma vez que corresponderam a participações esporádicas em
colaborações diversas. No capítulo 6, é discutido o trabalho realizado durante estágio de
pós-doutoramento na Universidade de Oxford, na Inglaterra. Esse trabalho se constituiu
em um marco para minha carreira, uma vez que durante o estágio estabeleci novos
contatos e tive a chance de trabalhar com novas metodologias de síntese. A vivência em
Oxford trouxe novo fôlego para a minha vida acadêmica. No capítulo 7, faço uma breve
análise do cenário atual das pesquisas em Química Orgânica no Departamento de Química
da UFV e no Brasil e concluo de forma bem geral sobre as perspectivas para o futuro de
minha carreira acadêmica.
L. C. A. B.
(lacb@ufv.br)
14
Capítulo 1
A formação em Química
Mesmo antes de iniciar a formação escolar formal, ainda aos quatro de idade,
recordo-me de aulas particulares com a professora Alda, que era também orientadora
durante minha catequese. Houve outra professora antes de eu atingir os seis anos, cujo
nome agora me falha. Essa formação inicial foi muito importante, pois estabeleceu em
mim a paixão pelo estudo e a disciplina necessária para levar isso a cabo.
Minha educação formal iniciou-se então na Escola Estadual de Jamapará, no
Estado do Rio de Janeiro. Naquela época, em meados dos anos 1960, havia naquele
estabelecimento de ensino duas turmas de primeira série: uma denominada “atrasada” e
a outra, “adiantada”. Os alunos que ainda não tinham atingido sete anos de idade para
iniciar os estudos formais eram matriculados no primeiro ano atrasado. Como meus pais
resolveram me matricular um ano antes de atingir a idade mínima, cursei esse ano
preparatório, mas, devido ao meu desempenho, fui matriculado no ano seguinte
diretamente na segunda série.
Durante os anos do ensino primário participei de diversos eventos na escola,
tendo sido inclusive apresentador durante uma das festas juninas. Após a conclusão da
15
prestaria vestibular para Medicina Veterinária, escrevi carta para o professor Ricardo
Feltre. A inesperada resposta veio, e me lembro de suas palavras: “existem excelentes
cursos de Química em Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo”... “no exterior as
referências são Estados Unidos, Inglaterra França e Alemanha”.1
A partir do meu gosto pela química e das palavras do professor Feltre, eu decidi
que iria prestar vestibular para Química.
Com duas cartas de apresentação de meu professor de Geografia, Clinton Motta,
visitei a Universidade Federal de Viçosa em julho de 1977. Uma das cartas era
endereçada ao professor Cid Martins Batista, então Chefe do Departamento de Química
da UFV. A outra foi endereçada ao professor Gui Capdeville, que eu nunca cheguei a
conhecer, uma vez que o professor Cid colocou um funcionário à minha disposição para
me apresentar e mostrar as diversas unidades e laboratórios do Campus.
1
Essas citações são livres, pois foi o que sempre ficou na minha memória desde essa época.
2
Então professor do Departamento de Química da UFV.
17
experiência, ótimo! Você começa agora mesmo, pois as turmas estão há quase um mês
sem aulas. Daqui a uma hora você pode começar: uma turma às 10 e a outra às 11
horas!”.
Eu não poderia deixar essa oportunidade passar, uma vez que se tratava do mais
conceituado colégio de Viçosa e eu havia sido muito bem recomendado. Sentei-me por
uma hora e organizei uma aula de revisão sobre a classificação de compostos orgânicos.
Esse foi o meu batismo como professor!
Em março de 1980, após nove meses como docente do Colégio de Viçosa, fui
aprovado em primeiro lugar3 em concurso para monitor de Química Geral no
Departamento de Química da UFV. Apesar de passar a receber menos da metade do
meu salário como professor, decidi optar pela monitoria. Teria sido muito difícil
acumular os dois cargos, pois isso demandaria muito tempo e poderia prejudicar meu
desempenho nas disciplinas na Universidade. Entendi que a experiência no ensino de
nível superior, mesmo na qualidade de monitor, seria muito importante para o futuro
que eu já havia traçado para mim, que seria realizar concurso para ingressar como
docente em alguma universidade. Portanto, até a conclusão de meu curso universitário,
atuei como monitor das disciplinas Química Geral, Química Analítica e Química
Orgânica. Para complementar minha formação pedagógica, atuei voluntariamente como
professor no Colégio Universitário (Coluni), durante o primeiro semestre de 1981.
Durante todo o curso de graduação participei, como estagiário, de atividades de
pesquisa. A princípio trabalhei brevemente com o professor Efraim Lázaro Reis, na
separação cromatográfíca de metais. Mais tarde, trabalhei com os professores Per
Christian Braathen e Benjamim Gonçalves Milagres no estudo da concentração de
oxigênio dissolvido em águas naturais. Esse projeto envolveu a calibração de um
potenciômetro com um eletrodo seletivo para oxigênio. Fiquei responsável pela
calibração do equipamento e, juntamente com o professor Benjamin Milagres, pelas
medidas da variação do teor de oxigênio dissolvido em um tanque de criação de peixes
do setor de piscicultura da UFV. A calibração foi feita pelo método de Winkler, que se
baseia em uma titulação de oxidorredução.
3
Eram vinte e dois candidatos para uma vaga.
18
O método de Winkler
4
Concluí o curso com os seguintes conceitos: A (40), B (5) e C (1).
19
5
Havia 15 candidatos de diversas partes do País.
6
O conceito B foi em Química Inogânica, com 84 pontos. Dos 13 alunos matriculados, apenas dois foram aprovados.
20
Com pouco tempo de trabalho, consegui isolar do caule dessa planta uma
substância aromática de cor amarela, assim como outros compostos alifáticos de pouco
interesse. O espectro no UV-Vis do composto amarelo indicava que se tratava de uma
xantona; entretanto, a falta de dados espectroscópicos novamente tornava muito difícil a
determinação da estrutura dos compostos isolados.
No período de verão de 1982 cursei a disciplina Química Bio-orgânica,
concluindo dessa forma, no prazo de um ano, os 24 créditos exigidos para o curso de
mestrado.
O ano de 1982 e o primeiro semestre de 1983 foram de muito estudo e trabalho.
Eu passava horas no laboratório fracionando amostras e interpretando espectros no
infravermelho. O ambiente no Departamento de Química da UFMG era diferente do que
eu havia experimentado na UFV. O grande número de alunos e a convivência com
pesquisadores renomados eram algo motivador.
No início dos anos 1980, o Brasil ainda se encontrava sob a ditadura militar.
Havia muitos anos que as universidades não abriam vagas para professor. No final de
1982, o Departamento de Química da UFV publicou um edital para uma vaga para
Professor Auxiliar de Química Geral. Naquela época o salário de docente da UFV era o
maior do Brasil. Não havia isonomia salarial entre as IFES, tema esse que foi inclusive
um dos pontos centrais da greve geral dos docentes em 1985. Assim, diante dessa
excelente oportunidade de iniciar minha carreira acadêmica, para a qual eu vinha me
preparando desde meus primeiros anos como estudante universitário, inscrevi-me no
concurso.
Desde a publicação do edital até a realização do concurso passaram-se muitos
meses. Durante todo o final de 1982 e o primeiro semestre de 1983, estudei
exaustivamente os pontos listados nesse edital.
Depois de uma longa espera e muito estudo, em junho o concurso foi realizado,
no qual logrei aprovação em primeiro lugar. 7 O concurso foi para Auxiliar de Ensino, na
área de Química Geral. Mesmo aprovado, ainda tinha dúvidas se interromperia o
mestrado para trabalhar. Mas, conforme já mencionado, naquela época havia
dificuldades de se conseguir emprego; portanto, como outros colegas da pós-graduação
na UFMG, optei por trabalhar em detrimento do curso de mestrado que vinha
7
Foram 22 os candidatos inscritos no concurso; desses 12 foram aprovados na prova de títulos e nove compareceram para
o concurso. Entre os inscritos encontravam-se tres ex-professores do DEQ. O segundo colocado havia sido minha ex-
professora de Química Geral, que, após sair da UFV para realizar o doutorado em SP, resolvera retornar para a vaga que
havia deixado.
21
realizando. Tanto a decisão de realizar o concurso quanto a de assumir a vaga foi difícil.
Tive o apoio de meu então orientador, professor Tanus, e, no dia 26 de julho de 1983,
assumi minhas funções no DEQ-UFV, ministrando inicialmente 18 horas semanais de
práticas de Química Analítica.
Neste período tentei continuar realizando os trabalhos experimentais em Belo
Horizonte e, para isso, viajava aos finais de semana. A dificuldade era enorme, uma vez
que o departamento se encontrava fechado e não era possível realizar análises de rotina,
como obter espectros no infravermelho, entre outros. Na sexta-feira eu ministrava aulas
das 8 às 18 horas e viajava para Belo Horizonte no ônibus da meia-noite, chegando de
madrugada. Às 7 horas eu já estava no laboratório trabalhando. Foi um período muito
difícil e cansativo, mas, ainda com 23 anos, tinha energia e vontade para superar esses
problemas.
Fiz algumas tentativas de continuar a pesquisa de minha dissertação na UFV,
porém naquela época não havia a menor condição de se realizar qualquer trabalho na
área de Fitoquímica. Apesar de algumas tentativas, não conseguia espaço adequado nem
material para realizar o trabalho. Além do mais, a falta de orientação era fator limitante,
pois eu ainda não tinha maturidade para realizar pesquisa de forma independente.
No ano de 1984, além das aulas práticas de Química Analítica, assumi aulas
teóricas dessa disciplina e, no segundo semestre, comecei a ministrar também aulas
práticas de Físico-Química I. Devo esclarecer que, apesar de ter sido aprovado em
concurso para a área de Química Geral e do compromisso da chefia do DEQ de que em
breve eu seria transferido para o setor de Química Orgânica, comecei a trabalhar em
áreas distintas, por força das circunstâncias.
Considerando as dificuldades reais em continuar o trabalho na UFMG,8 e
objetivando concluir o mestrado o mais rápido possível, inscrevi-me no curso de
mestrado em Agroquímica da UFV. Assim, em março de 1985 iniciei o curso sob a
orientação do professor José Domingos Fabris, na área de concentração de físico-
química de sistemas naturais. Mais uma vez, estava me afastando da Química Orgânica.
Mudar de área foi uma decisão difícil; entretanto, eu considerava o mestrado apenas
8
Nesse período, ainda fiz uma tentativa de iniciar outro trabalho contando com a supervisão do professor Reginaldo da
Silva Romeiro, do Departamento de Fitopatologia (UFV). O professor Romeiro era especialista em bactérias
fitopatogências e estava interessado em fitoalexinas. Cheguei a realizar um estágio em seu laboratório, aprendendo
técnicas de cultivos de fungos e bactérias. Uma das bactérias (não me lembro dos detalhes) que ele estava estudando
produzia fitoalexinas que causavam lesões graves em plantas de maracujá. Meu projeto envolveria o isolamento e
caracterização dessa(s) substância(s) a fim de entender o seu mecanismo de patogenicidade para a planta. Ficou acertado
que o professor Tanus viria a Viçosa para conversar com o professor Romeiro como o trabalho seria conduzido. Como
ele não veio, tomei outra decisão quanto ao mestrado.
22
parte do treinamento que eu iria realizar. Além disso, um mestrado nessa área me daria
mais condições de atuar como professor de Química Analítica e Físico-Química. Tive
que cursar mais 13 créditos,9 e estudar espectroscopia Mössbauer por conta própria, já
que esta seria a técnica central a ser empregada no meu trabalho.10
As aulas de físico-química
9
Obtive conceito A em todas as disciplinas, concluindo o curso com coeficiente de rendimento máximo (3,0).
10
Após tantos anos da defesa, não tenho mais o conhecimento teórico sobre essa metodologia.
11
BARBOSA, L. C. A.; FABRIS, J. D.; RESENDE, M.; COEY, J. M. D.; GOULART, A. T.; CADOGAN, J. M.;
SILVA, E. G. Mineralogia a química de um solo desenvolvido de rocha pelítica do grupo Bambuí. Revista Brasileira de
Ciência do Solo, v.15, n.3, p.259-266, 1991.
23
12
ALMEIDA, P. G. V.; BARBOSA, L. C. A.; BARCELLOS, E. S. Roteiro de aulas práticas de Físico-Química I.
Universidade Federal de Viçosa, 70p. 1986 (mimeografado); BARBOSA, L. C. A.; ALMEIDA, P. G. V.;
BARCELOS, E. S. Roteiro de aulas práticas de Físico-Química II. Universidade Federal de Viçosa, 64p. 1986
(mimeografado).
13
O principal líder do grupo, professor Evaldo Vilela, foi posteriormente reitor da UFV e, em 2011, nomeado membro da
Academia Brasileira de Ciências, em função de sua contribuição nessa área.
24
O OH O O R
R2 R1 R1 1
R2 R2
O O O
O O
O OCH3
[1] [2] [3]
cicloadição O
O [3+4] R2 R1
O
R2 R1
O
O composto [1] possui uma estrutura tricíclica, com um anel central de sete
membros. Uma revisão sobre as possibilidades sintéticas existentes à época para esse
tipo de composto encontra-se na tese de doutoramento.14 Esse assunto ainda continua
sendo de grande importância, tanto que e uma excelente revisão sobre diversas
14
BARBOSA, L. C. A. A. New Approach to the Pseudoguaianolide Skeleton via Oxyallyl Cation Chemistry, PhD thesis,
1991. Reading, UK.
25
15
FOLEY, D. A.; MAGUIRE, A. R. Synthetic approaches to bicycle[5.3.0]decanesesquiterpenes. Tetrahedron, v.66,
p.1131-1175, 2010.
16
BARBOSA, L. C. A.; MANN, J.; WILDE, P. D. New Routes to Substituted Tropones.Tetrahedron, v.45, n.14, p.4619-
4626, 1989.
26
O
O
O
O O
O
O
[10] [9 ]
O O O O
O O O
17
BARBOSA, L. C. A.; MANN, J. A concise Synthesis of the Pseudoguaianolide Skeleton. J. Chem. Soc., Perkin Trans, v.1,
p.177-178, 1990.
18
BARBOSA, L. C. A.; MANN, J.; CUMMINGS, J. The Photochemical Behaviour of 2-Methylcyclohept-2-enones. J. Chem.
Soc., Perkin Trans.v.1, n.11, p.3081-3083, 1990.
27
19
BARBOSA, L. C. A.;MANN, J. A Concise Synthesis of the Pseudoguaianolide Skeleton.J. Chem. Soc., PerkinTrans, v. 1,
p.337-342, 1992.
28
características dos trabalhos a serem realizados em Viçosa não poderiam ser as mesmas
daquele que eu havia desenvolvido durante o doutoramento. Deveriam ser trabalhos mais
simples do ponto de vista químico, mas de alta qualidade científica. A minha ideia era
iniciar alguns projetos ainda em Reading e, uma vez constatado que eram viáveis,
pretendia adquirir reagentes necessários ainda na Inglaterra.
Como havia me familiarizado com a metodologia de cicloadição [3+4],20
envolvendo cátions oxialílicos, decidi desenvolver essa metodologia e aplicá-la no preparo
de moléculas estruturalmente simples.
Embora muitas metodologias já tivessem sido descritas para o preparo de cátions
oxialílicos, desenvolvi um método novo a partir do tratamento de polibromocetonas com
dietilzinco (Et2Zn). Os cátions gerados foram então capturados com furanos e pirróis,
resultando, com sucesso, em reações de cicloadição [3+4]. Inicialmente, demonstrei a
utilidade do método no preparo de alcaloides tropânicos, como a escopolina [13], bem
como de compostos do tipo 2-alquil-8-oxabiciclo[3.2.1]oct-6-en-3-ona [14], difíceis de
serem preparados pelas metodologias então existentes.21
H 3C
O
N
R
O
HO O
20
Esta metodologia foi utilizada em uma das etapas do meu trabalho. Alguns anos atrás eu e outros colegas escrevemos uma
revisão sobre este assunto: DEMUNER, A.; BARBOSA, L.C.A.; VELOSO, D.P. Cicloadições [3+4] via cátions
oxialílicos: aplicações em síntese orgânica. Química Nova, v.20, n.l, p.18-29. 1997.
21
BARBOSA, L. C. A.;MANN, J. An efficient route to tropane alkaloids. J. Chem. Soc., Perkin Trans, v.1, p.787-790, 1992.
30
22
BARBOSA, L. C. A.; MANN, J.; DEMUNER, A. J.; VELOSO, D. P. Novel rearrangements of 2α-isopropyl-8-oxa-
bicyclo[3.2.1]oct-6-ene producing the monoterpene 3-hydroxyphelandral. J. Chem. Soc., Perkin Trans, v.1, n.1, p.585- 587,
1993.
23
BARBOSA L.C.A.; MANN J. The use of diethylzinc for the generation of oxyallylcations from polibromoketones and
its reactions with dienes. Synthesis, p.31-33, 1996.
31
uma tentativa frustrada de clivar a ligação dupla do oxabiciclo [4], por meio de ozonólise, e
o único produto isolado por Jonathan foi o ozonídeo [16] (R = H).24 Naquele momento, a
semelhança estrutural entre o composto [16] (R = H) e a artemisinina nos pareceu óbvia.
Eu disse ao professor Mann que iria tentar repetir a síntese de [16] e submeter o composto
para avaliação de sua atividade antimalarial. Ele concordou, dizendo que, assim que eu
tivesse um tempo, seria interessante testar essa ideia. Eram 16 horas de uma tarde de
outono, e eu, que já estava saindo para o "chá das cinco", decidi realizar a reação antes. Foi
um intervalo para café mais curto que o usual naquele dia. A ansiedade por ver o resultado
da reação era grande. Quinze minutos depois, voltei e a reação havia se completado. Filtrei
o sólido formado [16] (R = H), e o professor Mann, ao ver meu interesse pelo assunto,
ficou de encontrar alguém que pudesse fazer os testes biológicos. No dia seguinte, ele
telefonou para o Hospital de Medicina Tropical, em Londres, e conversou com o Dr. David
Warhurst, o maior especialista, na Inglaterra, sobre estudos com Plasmodium. Acertados os
detalhes da cooperação, alguns dias mais tarde fui à London School of Hygiene and
Tropical Medicine, e conversei longamente com o Dr. Warhurst e seu assistente, o Dr.
Geoffrey Kirby, e deixei a amostra para teste. Ele pareceu uma pessoa muito agradável e,
durante toda a manhã, mostrou-me as instalações de seu laboratório e falou sobre diversos
projetos que vinha desenvolvendo. Em poucos dias o resultado estava pronto, e o Dr.
Warhurst telefonou entusiasmado para a casa do professor Mann para dar a notícia
diretamente. O composto havia sido extremamente ativo contra uma linhagem de
Plasmodium falciparum, da Tailândia, resistente a várias drogas.
Esse resultado era muito interessante, pois tratava-se do primeiro ozonídeo com tal
atividade. Por sugestão do Dr. Warhurst, preparei diversos outros compostos do tipo [16],
variando apenas a natureza do grupo R de modo a obter compostos mais lipofílicos, o que
deveria a princípio facilitar o transporte do composto pela camada lipídica da membrana do
parasita. O professor Mann conseguiu um auxílio de uma companhia inglesa e contratou o
químico recém-formado David Cuttler para trabalhar no projeto, uma vez que eu
continuava investigando outras possibilidades, preparando para a minha volta.
24
CUMMINS, J. W.; DREW, M. G.B.; MANN, J.; WALSH, E. B. J. Chem. Soc. Perkin Trans, v.1, p.167, 1983.
32
O David, que se tornou meu amigo, trabalhou sob minha supervisão direta no
preparo de moléculas mais complexas, como [17], durante os seis meses que ainda
permaneci na Inglaterra. 25
Esses ozonídeos foram testados para avaliação da atividade antimalárica,
utilizando-se uma linhagem de Plasmodiumfalciparum resistente à cloroquina; alguns dos
resultados dos testes biológicos são apresentados na Tabela 1.1. Publicamos os resultados
iniciais26 o mais rápido possível para garantir a autoria dessa descoberta inédita.
25
David Cutler tinha o sonho de se tornar aviador da RAF, mas nunca conseguiu ser aprovado nos exames. Acabou se
tornando guarda de trânsito em Londres, logo após concluir o Ph.D. com a síntese de vários ozonídeos. Durante algum
tempo ainda mantivemos contato.
26
BARBOSA, L. C. A.; CUTLER, D.,; MANN, J.; KIRBY, G.C.; WARHURST, D.C. Synthesis of some stable ozonides
with anti-malarial activity. J. Chem. Soc., Perkin Trans, v.1, p.3251-3253, 1992.
27
BARBOSA, L. C. A.;CUTLER, D.; MANN, J.; CRABBE, J.; KIRBY, G. C.; WARHURST, D.C.The design, synthesis and
biological evaluation of stable ozonides with anti-malarial activity. J. Chem. Soc., Perkin Trans, v.1, p 1101-1105, 1996.
33
inclusive uma das citações principais do artigo publicado pelo renomado professor
americano Gary Posner e seus colaboradores (Tetrahedron, v.55, p.37-50, 1997), optei por
não continuar esse trabalho em Viçosa, devido ao variado número de projetos, mais ligados
à agricultura, que comecei a desenvolver. 28
Eu deveria ainda mencionar que, além do David Cutler, orientei nigeriana
Olufunmilayo Adewumi Soremekuny, estudante de Química, no seu projeto do último ano,
também na síntese de ozonídeos. Minha outra experiência de orientação na Inglaterra foi
com o estudante Abid Massod,29 que trabalhou com reações fotoquímicas de α-santonina,
visando ao preparo de novas lactonas sesquiterpênicas. Esse era um dos projetos que eu
estava iniciando; somente uns 15 anos após meu retorno para a UFV, é que tive condições
de recomeçá-lo. Sobre esse assunto devo tratar mais adiante.
As coisas estavam caminhando bem, com muitos resultados promissores. Para
garantir algum recurso quando estivesse no Brasil, submeti um projeto à Royal Society of
Chemistry (RSC), que tratava da síntese de novos compostos potencialmente herbicidas,
com estrutura geral [18]. Meu projeto foi aprovado, e, por isso, recebi o auxílio no valor de
500 libras. Com esses recursos adquiri reagentes e despachei-os para o Brasil pouco antes
de meu retorno. Pouco tempo depois submeti outro projeto e consegui um novo auxílio da
RSC, agora no valor de 1.000 libras. Esses auxílios internacionais, embora de pequeno
montante, foram muito importantes, pois me permitiam adquirir reagentes aos preços
praticados na Inglaterra, uma vez que a RSC realizava a compra e despachava os produtos
para o Brasil. Naquela época, os valores cobrados por reagentes importados giravam em
torno de 10 vezes o preço de catálogo.
Continuando o planejamento para a minha volta, além de investigar possíveis
projetos, eu teria também que garantir recursos financeiros para iniciar a instalação de um
laboratório de síntese orgânica na UFV. Os recursos, já aprovados pela RSC, eram
importantes, mas suficientes apenas para a aquisição de alguns reagentes. Assim, antes de
meu retorno, submeti um projeto ao CNPq, que tratava da síntese de compostos, com
potencial atividade reguladora do crescimento de plantas, análogos ao ácido
helmintospórico [19]. O projeto incluía também a síntese de compostos do tipo [18], alguns
28
Posteriormente retomei essa linha de pesquisa em função de um artigo publicado na revista Nature, que irei mencionar
posteriormente.
29
Abid se tornou um grande amigo. Posteriormente, quando solicitei uma vaga para realizar pós-doutoramento na
Universidade de Oxford, ele foi um dos nomes que indiquei para apresentar uma carta de referência. Ele se tornou um
importante pesquisador na Pfizer, em Sandwich (Inglaterra).
34
dos quais eu também já havia preparado e mostrado que eles possuíam atividade
reguladora do crescimento de plantas (Figura 1.5).
O
O R3 H
R2
O HO2 C
O R1
H3C
H3C
[18] [19] Ácido helmintospórico
Nesse ponto devo destacar que, embora tenha concluído o Ph.D., eu estava ansioso
quanto à submissão de projeto ao CNPq. Isso porque, após quatro anos fora do Brasil, não
sabia exatamente como as coisas andavam por aqui em termos de financiamento das
pesquisas e quanto eu poderia solicitar.
O início da década de 1990 foi um período muito conturbado na economia
brasileira, com uma inflação galopante e uma total desvalorização da moeda. Mesmo
assim, baseei-me no valor da taxa de bancada que o CNPq pagava para a Universidade de
Reading para estabelecer o valor do orçamento.
No final do ano de 1991, apesar de ter a aprovação da UFV para continuar na
Inglaterra por um período de mais um ano, por questões pessoais e familiares decidi voltar
para o Brasil e iniciar meu trabalho na UFV. Assim, no dia 18 de outubro de 1991
desembarquei no Rio de Janeiro com minha esposa e minha filha Carolina, que havia
nascido durante o período de doutorado.
35
Capítulo 2
Os desafios iniciais
30
Sobre esse aspecto comentei brevemente na introdução.
31
Richard Felder é professor de engenharia química da Universidade do Estado da Carolina do Norte (USA). Esteve na UFV
por duas vezes, quando apresentou um workshop sobre Ensino Efetivo
32
Felder, R. The myth of the superhuman professor, J. Eng. Edu., v.83, n. 2, p.105-110, 1994.
38
i. No ensino, eu pretendia criar uma disciplina na área de síntese orgânica, para dar
oportunidade aos alunos de terem contato com essa nova área da Química. Pretendia ainda
escrever um livro-texto de química orgânica. No longo prazo minha meta era escrever um
livro sobre métodos espectroscópicos de identificação de compostos orgânicos. Para isso, já
vinha colecionando uma série de espectros desde o início de meu doutoramento. Pretendia,
ainda, reorganizar as práticas de química orgânica e preparar um material didático adequado.
ii. Na pesquisa, minha meta era estabelecer um laboratório com condições de realizar
trabalhos de síntese orgânica. Associado a isso, pretendia criar um grupo de pesquisa que
fosse atuante e pudesse agregar outros professores do Departamento de Química.
Em termos gerais, a principal e mais ambiciosa meta de longo prazo era contribuir
para o fortalecimento das pesquisas no DEQ. Naquela época, o curso de mestrado em
Agroquímica era ainda novo e contava principalmente com professores da área de
Bioquímica com ligações fortes e diretas com a área de Ciências Agrárias. O Departamento
de Química não tinha tradição em pesquisa e ainda era visto como prestador de serviços
para a Universidade, tendo como principal função ministrar disciplinas para vários cursos.
A partir deste momento, para fins de organização, a apresentação será dividida nos
seguintes tópicos: Ensino; Administração e Extensão; e Pesquisa. Em cada tema será feita
uma tentativa de apresentar os fatos em ordem aproximadamente cronológica, partindo de
outubro de 1991. Deve também ficar claro que essa divisão é arbitrária, pois ações em
qualquer dessas áreas estão diretamente relacionadas com as outras.
39
Capítulo 3
Oliveira, Valdir Peres e João Sabino de Oliveira. O professor Maurício Antônio Barbosa,
integrante do mesmo setor, encontrava-se realizando doutoramento na UNICAMP;
entretanto, não chegou a retornar a Viçosa, uma vez que se aposentara. Desses docentes, o
único com doutorado era o professor Gulab Jham.
Ainda, no segundo semestre de 1991, imediatamente após meu retorno, ministrei a
disciplina Métodos Físicos de Identificação de Compostos Orgânicos, em nível de
graduação (QUI 330) e pós-graduação (QUI 633). A partir de então tenho ministrado as
seguintes disciplinas em nível de graduação: Métodos Físicos de Identificação de
Compostos Orgânicos (QUI 330, atualmente QUI 235), Análise Orgânica (QUI 332),
Química Orgânica I (QUI 133), Química Orgânica II (QUI 134), Fundamentos de Química
Orgânica (QUI 138) e Laboratório de Química Orgânica (QUI 139). Já, em nível de pós-
graduação, tenho ministrado e coordenado as seguintes: Métodos Físicos de Identificação
de Compostos Orgânicos (QUI 633), Síntese Orgânica (QUI 630), Seminário (QUI 797) e
Problemas Especiais (QUI 795).
Como era meu objetivo, criei, em 1995, uma disciplina com foco em sínteses
orgânicas. Essa disciplina era codificada como QUI 531 (Sínteses Orgânicas) e foi
elaborada com vistas a atender estudantes de pós-graduação e alunos de graduação que
estivessem concluindo o curso. As disciplinas de nível misto tinham código 500 (graduação
e pós-graduação) e existiram na UFV até o final da década de 1990. Como eram poucos os
alunos de pós-graduação em Agroquímica, especialmente na área de Química Orgânica, a
criação inicial de uma disciplina de nível misto visava atrair alunos de graduação para o
tema.
Posteriormente, as disciplinas de nível misto foram extintas, e o programa de
sínteses orgânicas foi alterado, sendo recodificado como QUI 630. Atualmente, essa
disciplina tem tido uma demanda semestral de seis a oito alunos.
Em 2006, com a implantação do programa de doutoramento em Agroquímica,
criamos a disciplina QUI 730 – Síntese de Agroquímicos. O objetivo dessa disciplina é dar
aos estudantes uma formação específica em métodos utilizados no preparo de compostos na
indústria. Nunca cheguei a ministrá-la, devido ao fato de já ser responsável por duas outras
em nível de pós-graduação e ter uma elevada carga didática na graduação.
Na pós-graduação, contribuí com a organização sistemática dos seminários. Até
então, os alunos limitavam-se a apresentar um seminário no dia da defesa da dissertação.
Como eram poucos os alunos de pós-graduação, não teria como preencher o semestre com
pelo menos 14 seminários. Com isso, passamos a fazer um planejamento e convidar
41
No final do ano de 1991, poucas semanas após meu retorno, o professor Maurílio
Alves Moreira, então Presidente do Conselho de Pesquisa da UFV, reuniu vários
professores do DEQ e apresentou um edital da CAPES referente ao programa PADCT. Ele
sugeriu, veementemente, que nós deveríamos apresentar uma proposta dentro de contexto
que tratava da melhoria do ensino de química.
Em seguida, eu e os professores Paulo Gontijo Veloso de Almeida e Per Christian
Braathen elaboramos, com o auxílio de mais alguns colegas, o projeto intitulado
"Desenvolvimento Instrucional Experimental e Reequipamento de Laboratórios de
Disciplinas Experimentais do Curso de Química da Universidade Federal de Viçosa (U$
124.190,00). Como eu era recém-doutor e o professor Per Christian possuía doutoramento
na área de ensino de Ciências, concordamos que ele seria indicado coordenador do projeto.
O projeto tratava basicamente da aquisição de vários equipamentos, bem como da
elaboração de apostilas e introdução de novas práticas, em função dos equipamentos
adquiridos. Os recursos foram liberados em 1993, e o projeto se estendeu até 1995.
Foram adquiridos, dentre outros equipamentos, um espectrofotômetro UV-Vis,
balança analítica e semianalítica, placas aquecedoras, banho termostatizado,
fotocolorímetros, medidores de pH, computadores e impressoras, sistema completo de
33
Implantei os seminários de forma organizada e sistemática quando passei a integrar a Comissão Coordenadora da PG em
Agroquímica.
42
34
A sigla em português utilizada é CLAE (cromatografia líquida de alta eficiência), todavia o uso corrente na maioria das
vezes é HPLC (do inglês: high performance liquid chromatography).
35
Sobre o LASA, comentarei mais adiante.
43
do curso. Apesar de todo esse cenário, depois de muita insistência de diversos colegas,
aceitei o desafio. A partir desse momento constituímos uma equipe formada pelos seguintes
professores: Mayura M. M. Rubinger (representante do setor de Química Geral), Célia A
Maltha (Química Orgânica), Maria Eliana Lopes Ribeiro de Queiroz (Química Analítica) e
Cremilda Rosa da Silva (Departamento de Bioquímica e Biologia Molecular), 36 para
elaborar a proposta. Contamos também com a participação de outros colegas, que não
mencionarei no momento.
Minha estratégia para a elaboração do projeto foi escolher um colega de cada uma
das subáreas que estariam contempladas na proposta. Cada um desses colegas ficou
responsável pela montagem e coordenação das respectivas equipes.
No prazo de duas semanas, o projeto, intitulado "Melhoria do Ensino de
Disciplinas Básicas de Química e de Bioquímica através da Integração Graduação-Pós-
Graduação", ficou pronto para ser submetido. Solicitamos o valor máximo permitido
correspondente a R$120.000,00.
O tema central do projeto tratava de uma série de ações que deveriam ser tomadas
para melhorar a qualidade do ensino de disciplinas básicas de grande demanda e que
atendessem a diversos cursos. Foram incluídas as seguintes disciplinas (teoria e prática):
Fundamentos de Química Orgânica, Química Analítica Aplicada, Química Geral e
Bioquímica Fundamental.
O projeto foi aprovado na íntegra, e, com os recursos obtidos, adquirimos alguns
equipamentos, como um cromatógrafo a gás e aparelhos para determinação de ponto de
fusão, equipamentos de projeção, computadores etc. Também foi adquirida uma estação
gráfica para o preparo de vídeos didáticos.
Não vou detalhar o desenvolvimento do projeto, apenas apresento um resumo dos
produtos preparados:
i. Livro “Química Orgânica: uma introdução para ciências agrárias e biológicas”. , Viçosa:
Editora UFV, 1998. 354 p.
ii. Conjunto de 140 transparências coloridas para acompanhar o livro de química orgânica. Esse
conjunto foi impresso em várias vias e entregue a todos os professores da disciplina QUI 138
(Fundamentos de Química Orgânica).
iii. Vídeo “Segurança em Laboratório”.
iv. Apostila “Práticas de Química Orgânica”, para uso na disciplina QUI 139 (Laboratório de
Química Orgânica).
36
O DBB havia sido recentemente criado com a saída do grupo de professores de Bioquímica do Departamento de Química.
44
v. Apostila “Práticas de Química Analítica Aplicada”, utilizada na disciplina QUI 119, Química
Analítica Aplicada.
vi. Conjunto de transparências referente ao curso de química analítica aplicada.
vii. Criação de um sistema de tutoria.
Desde o início de minha carreira acadêmica, sempre tive a inquietude para preparar
material didático. Como já mencionado, nos primeiros anos como docente da UFV eu havia
preparado duas apostilas sobre práticas de físico-química. Embora o material tenha sido
utilizado por muitos anos, nunca foi devidamente publicado e divulgado além das “Quatro
Pilastras”.37 Durante o período em que me encontrava em Reading, eu havia planejado que,
após meu retorno, iria escrever um livro-texto na área de espectroscopia. Para isso, eu
comecei a colecionar os melhores espectros no infravermelho, de massas e de ressonância
magnética nuclear que vinha obtendo durante meu doutoramento.
37
O campus da UFV é ligado à cidade e um marco divisor entre as duas são quatro pilastras. Cada pilastra tem uma inscrição,
de modo que as primeiras letras de cada palavra (Estudar, Saber, Agir, Vencer) inscrita forma a sigla ESAV. Esta sigla
designava a Escola Superior de Agricultura e Veterinária, primeiro nome da instituição.
38
BARBOSA, L. C. A., VELOSO, D. P. Sistema para representação simbólica de mecanismos de reação. Química Nova,
v.17, p.68-87, 1994.
46
Considero que temos que continuar trabalhando para que haja uma sistematização
no vocabulário químico. Não há como retornar aos tempos anteriores à reforma/revolução
causada por Lavoisier. Apesar disso, muitos ainda se recusam a utilizar o sistema
internacional de unidades, 39 insistentemente reportando dados em calorias etc.
39
MILLS, I.; CVITAS, T.; HOMANN, K.; KALLAY, N.; KUCHITSU, K. Quantities, units and symbols in physical
chemistry. 2.ed. Oxford: Blackwell, 1995. 169p.
40
BARBOSA L.C.A.; DEMUNER, A. J.; PERES. V. Guia para a Nomenclatura de compostos orgânicos. Viçosa:
Editora UFV, 1992. 63 p.
41
RIGAUDY, J.; KLESNEY, S. P. Nomenclature of organic chemistry sections A, B, C, D, E, F, H. Oxford: Pergamon
Press, 1979. 559p.
47
42
PANICO, R.; POWELL, W. H.; RICHER, J. C. A IUPAC guide to nomenclature of organic compounds. Oxford:
Pergamon Press, 1993. 190p.
43
O código dessa disciplina já foi QUI 130.
44
A referência utilizada por muitos anos foi o livro de Morrison e Boyd. A partir da década de 1990, o livro adotado era a
edição da época de: SOLOMONS, T.W.G.; FRYHLE, C. B. Química orgânica. Rio de Janeiro: LTC. v. 1 e 2.
45
BARBOSA L.C.A. Química orgânica: uma introdução para ciências agrárias e biológicas. 1. ed. Viçosa: Editora UFV,
1998. 354 p.
48
O livro foi reimpresso várias vezes, e, em 2002, fui procurado pelo representante da
Editora Pearson Education do Brasil, que propôs publicá-lo. Depois de muita insistência da
editora e negociação dos termos, preparei uma nova edição, ampliada e revisada, que foi
publicada em 2004. Mantive a mesma estrutura, mas, por questões comerciais, a nova
editora exigiu que o título fosse mudado e que não fosse publicado como 2ª edição, mas
como um novo livro.46
Após o lançamento, a nova edição passou a ter uma distribuição muito mais efetiva,
e a vendagem desde então sobe a cada ano, comprovando que o material se tornou
referência em muitas universidades e faculdades.
Durante o ano de 2009 e início de 2010, trabalhei na revisão desse livro, que na
minha avaliação, ficou muito mais robusta que as anteriores. Em 2011, a 2ª edição foi
publicada e oficialmente lançada na Reunião Anual da SBQ, em Florianópolis.47
Além de atender ao mercado brasileiro, o livro começou a ser exportado para a
África no início de 2011.
46
BARBOSA L. C. A. Introdução à química orgânica. 1. ed. São Paulo: Pearson, 2004. 311 p.
47
BARBOSA L. C. A. Introdução à química orgânica. 2. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2011. 331 p.
48
DEMUNER, A. J.; MALTHA, C. R.; BARBOSA L. C. A.; PERES, V. Experimentos de química orgânica. 1. ed.
Viçosa: Editora UFV, 2000. 69 p.
49
DEMUNER, A. J.; MALTHA, C. R. A.; BARBOSA L. C. A; PERES, V. Experimentos de química orgânica. 1. ed.
Viçosa: Editora UFV, 2011. 82 p.
49
Pesticidas
Espectroscopia no infravermelho
50
O livro havia sido aprovado pelo Conselho Editorial da Editora da UNESP; mas, devido à grande demora na publicação,
resolvi submetê-lo à Editora UFV.
51
BARBOSA L. C. A. Os pesticidas o homem e o meio ambiente. 1. ed. Viçosa: Editora UFV, 2004. 215 p.
50
Para minha honra, a apresentação foi feita pelo professor Victor Francisco Ferreira,
da Universidade Federal Fluminense. Depois de comentar com detalhe vários aspectos
técnicos do livro, ele conclui:
Parafraseando Mário Quintana, que diz “Há duas espécies de livros: uns que os leitores esgotam,
outros que esgotam os leitores”. Tenho a certeza de que esta obra será esgotada pelos leitores, pois
é um livro de referência que deverá estar presente em todos os laboratórios de ensino e pesquisa em
Química Orgânica no Brasil.
O livro foi finalmente publicado pela Editora UFV em 200752, e seu lançamento
oficial também ocorreu em uma reunião anual da SQB. Nesses quatro anos foi reimpresso
duas vezes e está praticamente esgotado. Em breve devo elaborar uma nova edição, com
alterações, de modo a atender e contemplar alguns comentários que recebi até o momento.
Frequentei por duas vezes, como já mencionado, o workshop sobre Ensino Efetivo,
ministrado pelo professor Richard Felder. Foi uma experiência fantástica, e até hoje releio
com alguma periodicidade o material que ele nos ofereceu. Esse material, na minha
avaliação, é uma fonte rica para professores novatos e – por que não? – para os já não tão
novos assim. Afinal, aprender com os mais experientes sempre foi o pensamento que me
tem guiado desde meus primeiros anos na escola.
52
BARBOSA L. C. A. Espectroscopia no infravermelho na caracterização de compostos orgânicos. Viçosa: Editora UFV,
2007. 189 p.
51
Capítulo 4
Administração e Extensão
4.1 Introdução
Para não estender demais este memorial, farei apenas breve relato da minha
participação em atividades de extensão e administração.
Desde que iniciei minha carreira na UFV, nunca tive a intensão de me dedicar a
atividades administrativas e fazer carreira nesta área. Apesar disso, ainda como Auxiliar de
Ensino eu já participava da Câmara Curricular do curso de Bacharelado em Física. Durante
os 29 anos na UFV, atuei em pelo menos uma comissão ou conselho. Não era incomum
minha participação simultânea em três a cinco comissões administrativas simultaneamente.
Entre os cargos que já exerci e são associados à administração, cito como exemplo:
Presidente da Comissão de Extensão do DEQ; Presidente da Comissão de Pesquisa do
DEQ; Presidente da Comissão de Reagentes de Vidrarias da UFV por muitos anos;
Membro do 1º Conselho Consultivo da Biblioteca Central (BC) da UFV, responsável pela
elaboração de normas e regimento de funcionamento da BC; Representante da UFV no
“Conselho Diretor do Consórcio para a Aquisição e Administração de Espectrômetro de
RMN” com sede na UFMG; Membro da Comissão de Avaliação de Disciplinas da
Graduação, nomeado pela Pró-Reitoria de Ensino; Membro da Comissão de Avaliação
52
se constatou que mais de 30% dos alunos sempre estavam atrasados em relação ao prazo o
máximo recomendado pela CAPES, além do que os orientados de alguns professores
gastavam em média mais de 48 meses para concluir o curso. Realizamos uma alteração
profunda na composição do corpo de orientadores e na maneira de administrar as taxas de
bancada concedidas pelo CNPq, bem como implantamos, de forma sistemática, os
seminários de pós-graduação. Houve um aumento no número de estudantes e bolsas,
passando de 22 para 27; vários professores foram descredenciados; etc.
Ao concluir meu mandato, somente um estudante estava atrasado com a defesa!!!
Vencido o meu mandato, continuei como membro da Comissão Coordenadora. Portanto,
durante os últimos 20 anos somente não atuei como membro da Comissão Coordenadora
do Programa de Pós-Graduação em Agroquímica53 por dois períodos curtos de um ou dois
anos.
De 2005 a 2008, ocupei novamente a Coordenação do então Programa de Mestrado
em Agroquímica. A pós-graduação em Agroquímica, com conceito máximo nos últimos 14
anos, estava estagnada com o mesmo número de alunos (em torno de 27) desde 1996. O
desafio posto por alguns colegas era a implantação do programa de Doutorado, que já
vinha sendo demandado há muitos anos.
53
De acordo com o Regimento da Pós-Graduação na UFV, os membros das comissões coordenadoras são eleitos para
mandatos de quatro anos. Os coordenadores são nomeados pelo Diretor de Centro de Ciências a que o programa está
ligado, conforme indicação do chefe do departamento responsável pelo curso. A escolha é feita a partir de uma lista tríplice
organizada pelos docentes permanentes do programa. O mandado do coordenador cessa com o do chefe do departamento
que o houver indicado.
54
Anteriormente se denominavam cursos de mestrado e doutorado. Posteriormente, a CAPES passou a denominá-los de
Programas. Neste memorial, uso os dois termos de forma indistinta por não precisar quando a mudança ocorreu.
55
Antes os conceitos eram dados por meio de letras, e a Agroquímica era classificada como A.
54
com a Agroquímica. Alguns professores eram responsáveis pela maior parte da produção
científica qualificada do curso. 56 Todos ministravam pelo menos uma disciplina em nível
de pós-graduação. Esse talvez seja o único aspecto do curso em que não havia muitos
problemas. Vários docentes eram muito bons para atrair alunos, mas as dissertações
orientadas não se transformavam em artigos.
Para que a proposta viesse a ser aprovada, era necessário rever muita coisa:
disciplinas, docentes permanentes, áreas de concentração, linhas de pesquisa etc..
56
Tudo a que eu me referir ao passado recente (2005) ainda vale para hoje!
55
O Simpósio, ocorrido nos moldes dos muitos que vi na Inglaterra, foi um sucesso.
Tanto que faz parte do calendário do DEQ, ressaltando-se que o último ocorreu no dia 1º de
dezembro de 2011 e contou com a participação de aproximadamente 90 estudantes.
No final do ano de 2009, logo após meu retorno de Oxford, fui convidado pelo
então Reitor da UFV, professor Luiz Cláudio Costa para assumir a Assessoria Internacional
e de Parcerias (AIP).
Para aceitar o cargo, coloquei para o Reitor as minhas condições: liberdade para
escolher o pessoal com o qual iria trabalhar e apoio total da administração. Ele, por sua vez,
solicitou-me que reestruturasse o órgão e que trabalhasse para colocar a UFV nos caminhos
da internacionalização. Uma vez que estávamos de acordo com as condições, aceitei o
convite e, em fevereiro de 2010, fui nomeado Assessor Internacional e de Parcerias da
UFV.
Novamente não poderei relatar aqui todos os detalhes e resultados do meu trabalho
à frente da AIP. Ao sair do cargo, elaborei um relatório detalhado contendo tais
informações. Farei apenas um pequeno relato dos 16 meses de minha atuação.
Inicialmente devo dizer que o órgão não era conhecido na UFV. Nem mesmo eu,
tendo vários intercâmbios internacionais, tinha conhecimento de sua existência.
Logo após minha nomeação, fiz uma reunião com os funcionários lotados na AIP.
Apresentei-me e ouvi de cada um deles suas atribuições e funções. A partir daí propusemos
a criação de uma Diretoria de Relações Internacionais (DRI). Com o auxílio de uma
57
A sua esposa Lady Margaret Kroto trabalha como secretária do marido, sendo responsável pela sua agenda de viagens.
59
ii. Simpósio sobre energias alternativas na Universidade de Purdue, com uma sessão exclusiva
sobre a cooperação UFV-Purdue.
iii. International Symposium on Food Security, ocorrido na UFV em novembro de 2011.
9. Aumentamos significativamente o número de vagas para alunos da UFV realizarem estágios no
exterior; abrimos oportunidades para estudantes estrangeiros virem para a UFV.
10. Preparamos um portfólio em três línguas sobre a UFV, que foi enviado para as embaixadas de
todos os países com os quais a UFV tem acordos. O material foi também enviado a diversas
universidades da América Latina, América Central. América do Norte, Europa e África.
Em fevereiro de 2011, o Reitor Luiz Cláudio Costa aceitou o convite feito pelo
Ministro da Educação para ocupar o cargo de Secretário da SESU. Com sua saída,
declinei do convite do próximo reitor para continuar exercendo o cargo de Diretor de
Relações Internacionais, tendo em vista poder me dedicar mais aos trabalhos que vinha
desenvolvendo nas áreas de pesquisa e ensino.
Figura 4.4 – Reunião ocorrida em 29/11/2009 na Universidade Federal de São João del-Rei
quando foi assinada a ata de criação da Rede Mineira de Química.
63
Capítulo 5
5.1 Introdução
pesquisa também nos proporciona uma visão mais crítica a respeito de vários temas que
ensinamos.
Durante minha carreira, toda pesquisa que realizei até concluir o doutoramento foi
na condição de estudante. Todas as condições necessárias para a realização dos trabalhos
me foram dadas pelos orientadores que tive. A mim cabia apenas a tarefa de solucionar os
problemas propostos.
Durante minha formação acadêmica, conforme ficou registrado, tive oportunidade
de trabalhar com química de produtos naturais, vários métodos de análise inorgânica,
difratometria de raios-X, espectroscopia Mössbauer e finalmente síntese orgânica. Durante
o início de minha carreira como docente na UFV, quando, em função das circunstâncias,
atuei em áreas diversas da química orgânica, muitas vezes fiquei receoso se estava ou não
trilhando o caminho certo. Agora, decorridos já vários anos desde meu ingresso na UFV,
reconheço e agradeço as palavras e conselhos da professora Dra. Marília Ottoni Pereira
(professora do Departamento de Química da UFMG nos anos 1980), que sempre me
encorajava dizendo que toda aquela experiência seria muito importante para minha
formação como docente e pesquisador.
Concluído o doutoramento, já em Viçosa, eu deveria ter uma atuação diferente no
que se refere ao desenvolvimento de pesquisas. Caberia a mim propor os problemas aos
estudantes que viesse orientar, montar um laboratório adequado ao desenvolvimento dos
trabalhos, adquirir todo o material necessário etc. Para isso, seria fundamental a elaboração
de propostas para conseguir os recursos necessários, bem como o estabelecimento de
parcerias que permitissem o desenvolvimento de um trabalho multidisciplinar.
No início dos anos 1990, o Brasil vivia uma situação de crise financeira e
econômica sem precedentes. Com a inflação galopante, os governos experimentavam novos
planos econômicos que não surtiam efeito. A consequência desse caos financeiro foi direta
sobre o financiamento para a educação e para a pesquisa. A situação era tão grave que, ao
retornar ao Brasil em outubro de 1991, encontrei as universidades federais saindo de uma
greve de quase 100 dias.
Os recursos dos órgãos de financiamento de pesquisa no Brasil eram mínimos. A
FAPEMIG era ainda muito nova, e com o esforço dos pesquisadores lutava para sobreviver.
66
Os projetos que eu havia enviado para a FAPEMIG e para o CNPq somente seriam
implementados bem mais tarde, e mesmo assim parcialmente.
Em função desse cenário, logo nos primeiros anos de minha carreira como
pesquisador procurei recursos no exterior. Assim, consegui a aprovação de dois auxílios
Royal Society of Chemistry (RSC, Inglaterra), um pela International Foundation for
Science (IFS, Suécia), um pelo Bristish Council, e, posteriormente, diversos pela
FAPEMIG, CNPq, Capes-PADCT. O CNPq sempre apoiou de forma contínua minhas
pesquisas, desde o início, mas os recursos na primeira metade da década de 1990 eram
muito reduzidos.
Em 1992, o CNPq me concedeu uma bolsa de pesquisa, que tem sido desde então
renovada. A implementação de uma taxa de bancada (“grant”) associada à bolsa de nível 1
foi uma inovação excelente do CNPq e que tem contribuído muito para a dinamização das
pesquisas, uma vez que atende a situações emergenciais sem muita burocracia.
Como mencionei anteriormente, ainda na Inglaterra eu antevia os problemas que
iria encontrar para estabelecer um laboratório de pesquisa em síntese orgânica. Apesar das
dificuldades encontradas, o início da implantação do laboratório foi imediato em função
dos seguintes fatores:
i. A doação de vidrarias especializadas e alguns reagentes pelo meu orientador John Mann.
Muitas dessas vidrarias pequenas ainda são utilizadas pelos meus estudantes.
ii. O auxílio financeiro conseguido da RSC, que possibilitou a aquisição de reagentes da Aldrich
para síntese.
iii. A disponibilização de um pequeno laboratório por parte da Chefia do Departamento. Sem esse
espaço inicial teria sido praticamente impossível começar.
iv. Meu credenciamento imediato como orientador do curso de mestrado em Agroquímica.
v. O Presidente do Conselho de Pesquisa da UFV, professor Maurílio Alves Moreira, concedeu-
nos um auxílio no valor aproximado de U$2.000,00. Com esse auxílio adquirimos grande
quantidade de solventes e sílica para cromatografia.
vi. Apoio incondicional da professora Dorila Piló Veloso, que nos auxiliou em todos os aspectos.
vii. A investigação que iniciei no meu último ano na Inglaterra em diversas áreas foi fundamental
para a continuidade da pesquisa na UFV. Muitos dos projetos que iniciei foram retomados na
UFV alguns anos mais tarde. Além disso, a quantidade de dados que obtive nesse último ano
me permitiu continuar publicando de forma ininterrupta.
Com o tempo, passamos então a estabelecer uma grande rede de cooperações, cujas
áreas principais dos trabalhos realizados no LASA podem ser sumarizadas na Figura 5.2.
i. Síntese orgânica, com foco na síntese de substâncias com atividade herbicida e inseticida.
ii. Química de produtos naturais, cujo objetivo é o estudo de plantas e fungos que tenham
alguma atividade inseticida, alelopática ou nematicida.
iii. Óleos essenciais de plantas aromáticas e condimentares.
iv. Química de papel e celulose.
de ela ser muito procurada por alunos de química e que demandavam uma orientação dos
projetos para os aspectos mais químicos que tecnológicos.
As cooperações e interações realizadas podem ser dividas em: cooperações na
UFV; cooperações em diversos estados no Brasil; e cooperações no exterior.
Na Tabela 5.1 são listados os principais departamentos da UFV e instituições
nacionais e estrangeiras com os quais estabelecemos algum tipo de interação ao longo dos
anos.
Tabela 5.1 – Instituições com as quais o LASA manteve ou mantém alguma interação
Local Instituição
Departamentos na UFV Bioquímica e Biologia Molecular
Botânica
Ciência de Alimentos
Engenharia Agrícola
Engenharia Florestal
Entomologia
Fitopatologia
Fitotecnia
Laboratório de Celulose e Papel
Nutrição
No Brasil UFMG - MG
UFLA - MG
UNIFENAS - MG
UFU - MG
UESB – BA
UFVJM - MG
UFC - CE
UFF - RJ
UFT - TO
No exterior Universiyt of Reading - UK
John Moores University – Liverpool - UK
University of Warwick - Coventry - UK
University of Oxford - UK
Universidade de Aveiro - Portugal
Universidade Nacional Autônoma do México – UNAM -
México
Universidade de Ferrara - Itália
Sri Venkateswara University - India
Lab. of Environmental Toxicology- IMBECU. CCT-
Mendoza - Argentina
71
Nesse tópico será feita uma apresentação breve sobre cada uma das áreas listadas da
Figura 5.2. O foco central será na área de síntese, que se constitui na base da pesquisa
realizada no LASA. A sequência de apresentação não corresponde à ordem cronológica em
que os trabalhos foram desenvolvidos.
58
Informações sobre o LCP podem ser obtidas no endereço: http://www.lcp.ufv.br/
72
na área celulose e papel que não se sobrepusesse ao que era feito no LCP. Uma dessas
áreas se constituía no estudo de “picth”, que são depósitos pegajosos formados durante o
processo de produção da fibra de celulose e que contaminam o produto final, causando
muitos prejuízos.
A partir desse momento passei então a orientar e coorientar alguns estudantes de
mestrado em Agroquímica nessa nova área. Posteriormente participei do grupo de
orientadores na criação do curso de Mestrado Profissionalizante em Celulose e Papel.
O foco do trabalho que temos desenvolvido pode ser dividido em duas áreas
principais: (i) análise de pitch e de pintas em papel; e (ii) desenvolvimento de um método
analítico para a determinação da relação siringil/guaiacil em madeira.
i. Análise de pitch
59
SILVERIO, F.O.; BARBOSA L.C.A.; MALTHA, C.RA.; SILVESTRE, A.J.D.; PILÓ-VELOSO, D.; GOMIDE, J.L.
Characterization of lipophilic wood extractives from clones of Eucalyptus urograndis cultivate in Brazil. Bioresources, v.2,
p.157-168, 2007.
60
BARBOSA L.C.A.; MALTHA, C.R.A.; CRUZ, M.P.; BELINELO, V.J.; MILANEZ, A.F. O uso da espectroscopia no
infravermelho na caracterização de depóstios de pitch e outros resíduos na indústria de celulose e papel. O Papel, v.66,
p.72-82, 2005.
61
CRUZ, M.P.; BARBOSA, L.C.A.; MALTHA, C R.A.; GOMIDE, J.L.; MILANEZ, A.F. Caracterização química do Pitch
em indústria de celulose e papel de Eucaliptus. Química Nova, v.29, p.459-466, 2006.
62
BARBOSA, L.C.A.; DEMUNER, A. J.; MALTHA, C.R.A.; CRUZ, M.P.; VENTORIN, G. Análise da composição
química de pintas no papel. O Papel, v.66, p.68-73, 2005.
63
BARBOSA LCA.; MALTHA, C.R A; CRUZ, M.P. Composição química de extrativos apolares e polares de madeira de
Eucaliptus grandis. Ciência e Eng. , v.14, p.13-19, 2005.
73
64
Flaviano realizou o doutorado na UFMG sob a orientação da professora Dorila Piló Veloso e sob minha coorientação. Todo
o trabalho experimental de sua tese foi realizado no LASA, em continuidade ao projeto iniciado pela mestranda Mariluze
Peixoto Cruz.
65
BARBOSA, L.C.A.; SILVERIO, F.O.; MALTHA, C.R.A.; FIDÊNCIO, P.H.; CRUZ, M.P.; PILÓ-VELOSO, D.;
MILANEZ, A. F. Effect of storage time on the composition and content of wood extractives in eucalyptus cultivated in
Brazil. Bioresource Technology, v.99, p. 4878-4886, 2008.
66
SILVERIO, F.O.; BARBOSA, L.C.A.; FIDENCIO, P.; CRUZ, M.P.; MALTHA, C.R.A.; PILÓ-VELOSO, D. Evaluation
of chemical composition of eucalyptus wood extracts after different storage times using principal component analysis.
Journal of Wood Chemistry and Technology, v.31, p. 26-41, 2011.
67
SILVERIO, F. O.; BARBOSA L.C.A.; MALTHA, C. R A.; PINHO, G.P.; FIDÊNCIO, P. H.; PILÓ-VELOSO, D.;
SOUZA, L.C. Characterization of speck impurities sources in cellulose pulp by analytical pyrolysis. Appita Journal , v.62,
p.285-289, 2009.
68
SILVÉRIO, F.O.; BARBOSA, L.C.A.; MALTHA, C.R.A.; PILÓ-VELOSO, D. Characterization of synthetic polymers
and speck impurities in cellulose pulp: A comparison between pyrolysis-gas chromatography-mass spectrometry and
Fourier Transform Infrared Spectroscopy. Analytica Chimica Acta, v.643, p.108-116, 2009.
74
OH OH OH
Figura 5.3 - Álcoois precursores das unidades fenilpropanoides guaiacila (G), siringila
(S) e p-hidroxifenila (H).
69
(a) DEL-RÍO, J. C.; GUTIÉRREZ, A.; HERNANDO, M.; LANDÍN, P.; ROMERO, J.; MARTÍNEZ, A. T.J. Anal. Appl.
Pyrolysis, v.74, p.110, 2005; (b) RODRIGUEs, J.; MEIER, D.; FAIX, O.; PEREIRA, H. J. Anal. Appl. Pyrolysis, 1999,
48, 121. (c) COLLINS, D. J.; PILOTTI, C. A.; WALLIS, A. F. A. Appita Journal, v.43, p.193. 1990
70
(a) TANAHASHI, M.; HIGUCHI, T. Methods in Enzimology, 1988, v.161, p.101; (b) XIE, Y.; YASHUDA, S. Nordic
Pulp and Paper Res. J., v.19, p.18, 2004.
71
SILVERIO, F. O.; BARBOSA L.C.A.; PILÓ-VELOSO, D. A pirólise como técnica analítica. Química Nova, v.31, p.1543
- 1552, 2008.
75
Cavacos
Moagem em
moinho Wiley
Serragem
Pirólise-CG/EM
Relação S/G
Figura 5.4 - Sequência dos procedimentos realizados para determinação da relação S/G
em madeiras de E. grandis e “E. urograndis”.
72
BARBOSA L.C.A.; MALTHA, C.R.A.; SILVA, V.L.; COLODETTE, J.L. Determinação da relação siringila/guaiacila da
lignina em madeiras de eucalipto por pirólise acoplada à cromatografia gasosa e espectrometria de massas (Pi-CG/EM).
Química Nova , v.31, p.2035-2041, 2008.
76
nitrobenzeno. 73,74,75
Embora promissores, os resultados obtidos necessitam ainda de uma avaliação mais
ampla, incluindo ligninas modificadas e recuperadas. Em um trabalho recente para uma
empresa de polpa de celulose, verificamos que os valores de S/G que obtivemos para seis
amostras de ligninas recuperadas após o cozimento da madeira, apresentou resultados muito
inferiores aos obtidos pelo método do nitrobenzeno.
Vários desses trabalhos foram desenvolvidos inicialmente como pesquisa básica,
visando entender e conhecer melhor alguns aspectos relacionados à formação de pitch, bem
como desenvolver um método rápido para a estimativa da relação S/G. Paralelamente às
pesquisa que realizamos, tivemos muitos contatos com empresas diversas do ramo de papel
e celulose e também com empresas fabricantes de aditivos e cola para a indústria de papel e
celulose.
73
LIMA, C.F.; BARBOSA L.C.A.; MARCELO, C.R.; SILVERIO, F.O.; COLODETTE, J.L. Comparison between
analytical pyrolysis and nitrobenzene oxidation for determination of syringyl/guaiacyl ratio in Eucalyptus spp. lignin.
Bioresources, v.3, p.701-712, 2008.
74
NUNES, C.A.; LIMA, C.F.; BARBOSA L.C.A.; COLODETTE, J.L.; SILVERIO, F. O. Determination of Eucalyptus spp.
ligin S/G ratio: A comparison between methods. Bioresource Technology, v.101, p.4056-4061, 2010.
75
NUNES, C.A.; LIMA, C.F.; BARBOSA L.C.A.; COLODETTE, J.L.; FIDÊNCIO, P. H. Determinação de constituintes
químicos em madeira de eucalipto por PI-CG/EM e calibração multivariada: comparação entre redes neurais artificiais e
máquinas de vetor suporte. Química Nova, v.34, p.279-283, 2011.
76
VIEGAS JR, C.; BOLZANI, V. S.; BARREIRO, E. J. Os produtos naturais e a química medicinal moderna. Quím. Nova,
v. 29, p.326-337, 2006.
77
COPPING, L. G.; DUKE, S. O. Natural products that have been used commercially as crop protection agents. Pest Man.
Sci., v. 63, p. 524-554, 2007.
77
Apesar dos muitos estudos já realizados nessa área, ainda existem espécies que
foram pouco investigadas. Nesse contexto, nosso interesse por essa área de pesquisa
iniciou-se com o estudo da espécie Gallesia gorazema, seguido logo pela investigação de
Ocimum selloi e de várias outras espécies de plantas.
78
SILVA, S. R. S.; DEMUNER, A. J.; BARBOSA, L. C. A.; ANDRADE, N. J.; NASCIMENTO, E. A.; PINHEIRO, A. L.
Análise dos constituintes químicos e da atividade antimicrobiana do óleo essencial e deficiência hídrica de Melaleuca
alternifolia Cheel. Rev. Bras. Pl. Med., v. 6, p.63-70, 2003.
79
GOBBO-NETO, L.; LOPES, N. P. Plantas medicinais: fatores de influência no conteúdo de metabólitos secundários. Quím.
Nova, v.30, p. 374-381, 2007.
80
SANGWAN, N. S.; FAROOQI, A. H. A.; SHABIH, F.; SANGWAN, R. S. Regulation of essential oil production in plants.
Plant Growth Regul., v.34, p.3-21, 2001.
78
i. Gallesia gorazema
81
BARBOSA L.C.A.; DEMUNER, A.J.; TEIXEIRA, R.R.; MADRUGA, M.S. Vitamin E and others chemical constituents
from the leaves of Gallesia gorazema. Fitoterapia, p.515-519, 1999.
82
BARBOSA L.C.A.; DEMUNER, J.A.; TEIXEIRA, R. R.; MADRUGA, M. S. Chemical constituents of essential oil from
Gallesia gorazema. Fitoterapia, v.70, p.152-156, 1999.
79
A B
Figura 5.5 – Cromatogramas dos óleos essenciais das folhas (A) e flores (B) de dois
acessos (a, b) de Ocimum selloi.
Ficou evidente a grande diferença na composição química dos óleos dos dois
acessos. Por meio da análise dos espectros de massas, foi possível identificar 11
compostos. O composto 3 foi identificado como sendo o estragol (1-alil-3-metoxibenzeno)
e o composto 5, o metil eugenol (4-alil-1,2-dimetoxibenzeno). As estruturas desses
compostos foram confirmadas pelas análises dos espectros no infravermelho e de RMN de
H de amostras purificadas a partir do óleo bruto.
Como as plantas dos dois acessos foram cultivadas nas mesmas condições, as
diferenças morfológicas e químicas observadas não poderiam ser atribuídas a fatores
80
83
MARTINS, E.R.; CASALI, V. W. D., BARBOSA L.C.A.; CARAZZA, F. Essential oil in the taxonomy of Ocimum selloi
BENTH. Journal of the Brazilian Chemical Society, v.8, p.29-32, 1997.
81
84
MARTINS, F.T.; SANTOS, M. H.; POLO, M.; BARBOSA L.C.A. Variação química do óleo essencial de Hyptis
suaveolens (L.) Poit, sob condições de cultivo. Química Nova, v.29, p.1203-1209, 2006.
85
MARTINS, F.T.; SANTOS, M.H.; POLO, M.; BARBOSA L.C.A. Effect of the interaction among macronutrients, plant
age and photoperiod in the composition of Hyptis suaveolens (L.) Poit essential oil from Alfenas (MG), Brazil. Flavour
and Fragrance Journal, v.22, p.123-129, 2007.
86
PEREIRA, F.J.; MARTINS, F.T.; CORREA, R.S.; MOREIRA, M.E.C.; COSTA, A.M.D.D.; SANTOS, M.H.; POLO, M.;
BARBOSA, L.C.A. Isolamento, composição química e atividade anti-inflamatória do óleo essencial do pericarpo de
Copaifera langsdorffii Desf de acordo com hidrodestilações sucessivas. Acta Farmaceutica Bonaerense, v.27, p.369-374,
2008.
87
MARTINS, F.T.; DORIGUETTO, A.C.; SOUZA, T.C.; SOUZA, K.R.D.; SANTOS, M.H.; MOREIRA, M.E. C.;
BARBOSA L.C.A. Composition, and anti-inflammatory and antioxidant activities of the volatile oil from the fruit peel of
Garcinia brasiliensis. Chemistry & Biodiversity, v.5, p.251-258, 2008.
82
X). Esses dois professores foram meus alunos durante o período em que realizaram o curso
de graduação na UFV.
Para mim a participação do Felipe nesses trabalhos ilustra bem a importância da
cooperação entre grupos de instituições diferentes e mostra claramente como é
recompensador a nossa profissão quando temos a oportunidade de convivermos e trocar
experiência com pessoas de alto nível intelectual.
Como não considero oportuno detalhar cada um dos trabalhos que realizamos,
apresento a seguir uma lista de alguns artigos que ainda não foram citados:
26. CASALI, V.W.D.; BARBOSA, L.C.A.; LOPES, R.C.; CECON, P.R. Influência de três
regimes hidricos na produção de óleo essencial em sete acessos de Plygonum punctatum Ell.
Revista Brasileira de Plantas Medicinais, v.3, p.7-10, 2001.
27. SILVA, A.F.; SILVA, A.F.; NASCIMENTO, E. Chemical composition of the essential oil of
Hyptis glomerata Mart. ex Schrank (Lamiaceae). Journal of Essential Oil Research, v.12,
p.725-727, 2000.
28. BARBOSA, L.C.A.; KAMADA, T.; CASALI, V.W.D.; FORTES, I.C.P.; FINGER, F.
Plasticidade fenotípica do óleo essencial em dois acessos de manjericão (Ocimum basilicum
L.). Revista Brasileira de Plantas Medicinais, v.1, p.13-22, 1999.
H 3C
HO
H H
H 3C CH 3
[1] Espatulenol
88
BARBOSA, L.C.A.; DEMUNER, A.J.; HOWARTH, O.W.; PEREIRA, N.S.; VELOSO, D.P. Chemical study of the
leaves of Vitex poligama. Fitoterapia, Milão, v.66, n. 3, p. 2798-280, 1995.
89
Bombacaceae foi reclassificada e é agora considerada uma subfamília (denominada Bombacoideae) de Malvaceae.
86
Segundo ele, diversas espécies de insetos e abelhas eram atraídas pelas flores dessa planta
e, ao se alimentarem do néctar, eram mortas.
Eu entendia que seria interessante investigar a causa da mortalidade dos insetos,
uma vez que poderia ser devida a algum composto natural com propriedades inseticidas.
Via ali um interessante tema a ser investigado no contexto do curso de mestrado em
Agroquímica, uma vez que me encontrava direcionando minhas pesquisas para o
desenvolvimento de agroquímicos naturais e sintéticos.
Em setembro de 1992, comecei a orientar Vanderlúcia Fonseca de Paula e Gelson
José Andrade da Conceição, meus primeiros estudantes de mestrado em Agroquímica.
Propus então para Vanderlúcia a investigação da composição química do pólen e do néctar
das flores de O. lagopus,
O estudo químico do néctar levou à determinação dos carboidratos glicose, frutose,
sacarose e de 16 aminoácidos proteicos. Do pólen foram identificados 19 aminoácidos
proteicos. Diversos ensaios biológicos foram realizados sob a supervisão do professor
Lúcio Antônio de Oliveira Campos, do Departamento de Biologia Geral da UFV. Esses
ensaios demonstraram a toxicidade do néctar para abelhas. Embora não tenha sido possível
identificar a substância responsável pela toxicidade do néctar, ficou evidente o não
envolvimento de açúcares e aminoácidos não proteicos. O trabalho completo foi
posteriormente publicado.90
Enquanto essas análises estavam sendo realizadas, uma revisão de literatura revelou
que nenhum estudo químico havia sido realizado com O. lagopus. Assim, Vanderlúcia
iniciou também uma investigação da composição química do tronco dessa planta. O
trabalho resultou na identificação de uma mistura de ácidos e ésteres de ácidos graxos, das
cumarinas escopoletina [2] e cleomiscosina A [3], da lignana boehmenan [5], além de β-
sistosterol, estigmasterol e seus derivados glicolisados.91
Vanderlúcia defendeu sua dissertação de mestrado em dezembro de 1994, após dois
anos e quatro meses do início de seu curso.
Em março de 1995, ela iniciou o curso de doutorado em Química na UFMG, sob a
orientação da professora Dorila Piló Veloso e minha coorientação. Sua tese foi defendida
até fevereiro de 1999. Seu trabalho consistiu na continuação do estudo químico de O.
lagopus e uma parte sobre síntese de amidas potencialmente inseticidas.
90
PAULA, V.F.; BARBOSA, L.C.A.; DEMUNER, A.J.; CAMPOS, L.A.O.; PINHEIRO, A.L. Entomotoxicity of the nectar
from Ochroma lagopus Swartz. Ciência e Cultura, v. 49, n.4, p. 274-277,1997.
91
PAULA, V. F.; BARBOSA L.C.A.; DEMUNER, A.J.; HOWARTH, O.W.; PILÓ-VELOSO, D. Constituintes
Químicos de Ochroma lagopus Swartz. Química Nova, v.9. n.3, p.225-229, 1996.
87
OH
H3CO H3CO H3 CO
O
HO O O OCH3
O O O O
O
OH
[2]
HO OH OH
OCH 3 O
OCH3
O
H3CO
[3]
OH
HO
7 [4]
O
H3CO
8
O CH 2OH
R O 7'''
OCH3 HO H
O HO H
8'''
HO
O OH H OH
H OH
H3CO OCH3
CH 2OH
[5] ∆7,8 (E); ∆ 7''',8''' (E); R = H
[6] ∆7,8 (E); ∆ 7''',8''' (Z); R = H
[15] Manitol
[7] ∆7,8 (Z); ∆ 7''',8''' (E); R = H
HO [8] ∆7,8 (E); ∆ 7''',8''' (E); R = OMe
7
H3 CO
8 O O
7'''
OCH 3
HO O O 8'''
OH
H3CO O
OH
HO OCH3
iii. Estudo químico de Mucuna spp. e a busca por compostos com atividade nematicida
92
PAULA, V.F.; BARBOSA L.C.A.; HOWARTH; O.W.; DEMUNER; A.J.; CASS; Q.B.; VIEIRA U. New lignans from
Ochroma lagopus Swartz. Tetrahedron, n.51, v.45, p.12453-12462, 1995.
93
BARBOSA, L.C.A.; PAULA, V.F.; PILÓ-VELOSO, D.; DEMUNER, A.J. Constituintes químicos da casca de Ochroma
lagopus (Swartz Bombacaceae). Eclética Química, v.23, p.45-57, 1998.
94
PAULA, V.F.; BARBOSA, L.C.A.; DEMUNER, A.J.; PILÓ-VELOSO, D. A química da família Bombacaceae. Química
Nova, v.20, n.6, p.627-630, 1997.
95
SANTOS, M.A.; RUANO, O. 1987. Reação de plantas usadas como adubos verdes a Meloidogyne incognita raça 3 e M.
javanica. Nematologia Brasileira, v.11, p.184-197.
96
BUCKLES, D. Velvetbean: a “new” plant with a history. Economyc Botany, v.49, p.13-25, 1995.
97
BELL, E.A.; NULU, J.R.; CONE, C. L-dopa and L-3-carboxy-6,7-dihydroxy-1,2,3,4-tetrahydroisoquinoline, a new imino
acid, from seeds of Mucuna mutisiana. Phytochemistry, v.10, p.2191-2194, 1971.; DING, Y.; KINJO, J.; YANG, C.R.;
NOHARA, T.Triterpenes from Mucuna birdwoodiana. Phytochemistry, v.30, p.3703-3707, 1991.; GODA, Y.; SHIBUYA,
89
M.; SANKAWA, U. Inhibitors of prostaglandin biosynthesis from Mucuna birdwoodiana. Chemistry and Pharmaceutical
Bulletin, v.35, p.2675-2677, 1987.; HASAN, S.Q.; SHERWANI, M.R.K.; AHMAD, F.A.; OSMAN, S. M. Epoxy acids of
Mucuna prurita seed oil. Journal Indian Chemistry Society, v.57, p.920-922, 1980.; ISHIKURA, N.; YOSHITAMA, K.
C-glycosylflavones of Mucuna sempervirens. Phytochemistry, v.27, p.1555-1556, 1988.
98
NOGUEIRA, M.A.; OLIVEIRA, J.S.; FERRAZ, S. Nematicidal hydrocarbons from Mucuna aterrima. Phytochemistry,
v.42, p.997-998, 1996a.; NOGUEIRA, M.A.; OLIVEIRA, J.S.; FERRAZ, S.; SANTOS, M.A. Nematicidal constituents in
Mucuna aterrima and its activity on Meloidogyne incognita race 3. Nematologia Mediterranea, v.24, p.249-252, 1996b.
90
22
23
O H
HO CO 2H O N
NH 2 H 2N N N O .
5 HO
. RO H H
[16] β-sitosterol: R=H; 22,23-diidro [21] L -Dopa [20] alantoina
22
[17] estigmasterol: R=H; ∆
[18] daucosterol: R=glicose;22,23-diidro
22
[19] estigmasterol D-glicosidio: R=glicose;∆
100
H. glycines
80
Mortality / %
60
40
M. incognita
20
0 1 2 3 4 5
-1
L-Dopa / µg ml
RO O
O
OH
[21] R = H Daizeina
[22] R = β-D-glicopiranosídio
99
BARBOSA, L.C.A.; BARCELOS, F.F.; SANTOS, M.A.; DEMUNER, J.A. Nematicidal constituents from Mucuma
aterrima. Nematropica, v.29, p.81-89, 1999.
100
DEMUNER, A.J.; BARBOSA, L.C.A.; NASCIMENTO, J.C.; VIEIRA, J.J.; SANTOS, M.A. Isolamento e avaliação da
atividade nematicida de constituintes químicos de Mucuna Cinerea contra Meloidogyne Incognita e Heterodera Glycines.
Química Nova, v.26, p.335-339, 2003.
92
101
MOREIRA, M.D.; PICANÇO, M.C.; BARBOSA, L.C.A.; GUEDES, R.N.; SILVA, E.M. Toxicity of leaf extracts of
Ageratum conyzoides to lepidoptera pests of horticultural crops. Biological Agriculture & Horticulture, v.22, p.251 - 260,
2004.
102
MOREIRA, M.D.; PICANÇO, M.C.; BARBOSA L.C.A.; GUEDES, R.N.; CAMPOS, M.R.; SILVA, G.A.; MARTINS,
J.C. Plant compounds insecticide activity against Coleoptera pests of stored products. Pesquisa Agropecuária Brasileira,
v.42, p.909-915, 2007.
93
H 3C H3C HO
O O HO O O
OH
OH HO
O O O
O
O O
HO
[33] [34] [35]
Por sugestão de um dos revisores quando o artigo foi submetido, 105 as latonas [33] e
[34] foram submetidas a uma série de ensaios biológicos, e verificamos que [34] apresentou
toxicidade acentuada para algumas espécies de Coleoptera.
Devido à seletividade encontrada nos ensaios biológicos, antevemos que essas
lactonas podem servir de modelo para o preparo de novos inseticidas.
Além desses trabalhos citados, realizamos diversos outros envolvendo produtos
naturais, conforme pode ser encontrado na lista de publicações no currículo Lattes.
Desde o início dos trabalhos no LASA-UFV, uma das principais linhas de pesquisa
envolve a síntese de novas moléculas com potencial atividade herbicida ou reguladora do
crescimento de plantas. A grande maioria dos trabalhos tem sido baseada na estratégia de
103
MOREIRA, M.D.; COUTINHO, M. P.; BARBOSA L.C.A.; GUEDES, R.N.; BARROS, E.C.; CAMPOS, M.R.
Compounds from Ageratum conyzoides: isolation, structural elucidation and insectide activity. Pest Management Science,
v.63, p.615-621, 2007.
104
QUEIROZ, J.H.; BARBOSA, L.C.A.; CARVALHO, M.R.; HOWARTH, O. Complete H and 13C-NMR signal
assignements of ergosterol peroxide isolated from Aspergillus versicolor. Ciência & Engenharia, v.10, p.14 - 17, 2001.
105
CARVALHO, M.R.; BARBOSA, L.C.A.; QUEIROZ, J.H.; HOWARTH, O. Novel Lactones from Aspergillus versicolor.
Tetrahedron Letters, v.42, p.809 - 811, 2001.
94
utilização de produtos naturais como modelos para o preparo de novos compostos análogos
a esses.
Uma segunda área em que temos desenvolvido alguns projetos se refere à síntese de
novos compostos com potencial atividade inseticida.
Nas indústrias agroquímica e farmacêutica, a realização de “screenings aleatórios” é
uma estratégia muito utilizada no processo de descoberta de novas moléculas
biologicamente ativas. Nessa mesma linha também temos empregado essa estratégia em
nossas pesquisas. Portanto, alguns compostos, inicialmente sintetizados com vistas à
realização de determinado tipo de bioensaio, foram submetidos a testes biológicos diversos.
Isso tem resultado na descoberta de novas moléculas com atividade citotóxica, por
exemplo.
Farei, pois, um resumo de alguns dos projetos que temos desenvolvido nos últimos
anos, sem a pretensão de ser exaustivo. Para fins de sistematização, a apresentação a seguir
será divida nas seguintes áreas: inseticidas e herbicidas.
106
SCOTT, W.P.; MCKIBBEN, G.H. Toxicity of black pepper extract to boll weevils. Journal of Economic Entomology,
College Park, v.71, n.2, p.343-344, 1978.
95
O O O
R R1 O N O
N N
n m
R2 O O
Figura 5.13 – Fórmula geral de amidas naturais [36] e das amidas piperina [37] e
piperilina [38].
107
PARMAR, V.S.; JAIN, S.C.; BISHT, K.S.; JAIN, P.; TANEJA, P.; JHA, A.; TYAGI, O.D.; PRASAD, A.K.; WENGEL,
J.; OLSEN, C.E.; BOLL, P.M. Phytochemistry of the genus Piper. Phytochemistry, Oxford, V.46, n.4, p.597-673, 1997.
108
Os dados atualizados correspondem a uma revisão feita e ainda não publicada pelo professor Jeferson Chagas do
Nascimento, da UESB.
109
ELLIOTT, M.; FARNHAM, A.W.; JANES, N.F.; JOHNSON, D.M.; PULMAN,.D.A. Synthesis and insecticidal activity
of lipophilic amides. Part 1: Introductory survey, and discovery of an active synthetic compound. Pesticide Science,
Oxford, v.18, p.191-201, 1987.
110
MIYAKADO, M.; NAKAYAMA, I.; OHNO, N. Insecticidal unsaturated isobutylamides, p. 173-187. In: ARNASON,
J.T.; PHILOGÉNE, B.J.R; MORAD, P. (Ed.). Insecticides of plant origin. ACS Symposium Series; 387. New York:
Maple, 1989.
111
(a) SYNERHOLM, M.E.; HARTZELL, A.; ARTHUR, J.M. Derivatives of piperic acid and their toxicities toward
houseflies. Contributions from Boyce Thompson Institute, v.13, p. 433-42, 1945.; (b) MIYAKADO, M.; NAKAYAMA, I.;
96
O O
i) LiOH, EtOH, H2O
O N O
ii) HCl OH
O O
[37] [39] (COCl)2, THF
25 ºC, 6h
O R'R''NH, THF O
60 ºC, 1,5 h
O R' O Cl
N
O R" O
[41] [40]
OHNO, N., Insecticidal unsaturated isobutylamides. In: ARNASON, J. T.; PHILOGÉNE, B. J. R.; MORAD, P. (Ed.);
ACS Insecticidas of plant origin Symposium Series, 387, New York: Maple Press, 1989. p. 173-87.
97
D i-Pr i-Propil 85
E H Butil 69
F H i-Butil 83
G H Pentil 45
H H i-Pentil 78
I H Hexil 80
J H Decil 56
K H Cicloexil 89
L H 68
M H 28
N
N H O 73
N
O H N
35
P H 80
N
No caso das aminas mais caras e disponíveis em menor quantidade, foi utilizado
apenas 1 equivalente na reação com o cloreto [40], na presença de uma amina terciária como
trietil amina par neutralizar o ácido formado112.
Ensaios biológicos preliminares, em placas de Petri, foram realizados com insetos
das espécies Sitophilus zeamais (caruncho-do-milho), Acanthoscelides obtectus (besouro-
do-feijão), Rhizopertha dominica (caruncho-do-trigo), Brevicoryne brassicae (pulgão) e
Cornitermes cumulam (cupim). Em cada placa, contendo 2 mg de cada amida, foram
colocados 10 insetos. Após o período de incubação adequado para cada espécie, a avaliação
112
BARBOSA, L.C.A.; PAULA, V.F.; DEMUNER, A. J.; PILÓ-VELOSO, D.; PICANÇO, M.C. Synthesis and inseticidal
activity of new amides derivates of piperine. Pest Management Science , v.56, p.168-174, 2000.
98
feita mostrou que nenhum dos compostos foi tóxico, por contato, aos insetos (0% de
mortalidade). Foi então realizado outro teste, que consistiu na aplicação tópica de 10 µg de
piperina por inseto (larva de 1º instar de Ascia monuste orseis Latr., lagarta da couve), em
que se observou 100 % de mortalidade. Em vista desses resultados, novos ensaios foram
realizados com os compostos mais ativos para larvas de Ascia monuste orseis.113
O(S) O(S)
R
R2 P X Acyl P N 2
R1 OR 3 R 1
R1 = R 2= R3 = alkyl, aryl
(a) (b)
Figura 5.15 - Estruturas químicas gerais representativas de organofosfatos (a) e subclasse
dos fosforamidatos (b).
113
BARBOSA, L.C.A.; PAULA, V.F.; PICANÇO, M.C.; VELOSO, D.P. Toxicidade de amidas derivadas da piperina A
Ascia Monuste Orseis (Godart, 1819) (Lepdoptera: Pieridae). Revista Brasileira de Entomologia, v.45, p.7 - 10, 2001.
114
SINGH, B.K.; WALKER, A. Microbial degradation of organophosphorus compounds. FEMS Microbiological Reviews, v.
30, p. 428-471, 2006.
115
KUMAR, S.V.; FAREEDULLAH, M.; SUDHAKAR, Y.; VENKATESWARLU, B; KUMAR, E.A. Current review on
organophosphorus poisoning. Archives of Applied Science Research, v. 2, p. 199-215, 2010.
116
DELFINO, R.T.; RIBEIRO, T.S.; FIGUEROA-VILLAR, J.D.; organophosphorus compounds as chemical warfare agents:
a review. Journal of the Brazilian Chemical Society, v. 20, p. 407-428, 2009.
117
SANTOS, V.M.R.; DONNICI, C.L.; DACOSTA, J.B.N.; CAIXEIRO, J.M.R. Compostos organofosforados pentavalentes:
histórico, métodos sintéticos de preparação e aplicações como inseticidas e agentes antitumorais. Química Nova, v. 30, p.
159-170, 2007.
99
118
NARDI, F.; CARAPELLI, A.; VONTAS, J.G.; DALLAI, R.; RODERICK, G.K.; FRATI, F. Geographical distribution
and evolutionary history of organophosphate-resistant Ace alleles in the olive fly (Bactrocera oleae). Insect Biochemistry
and Molecular Biology, v. 36, p. 593–602, 2006.
119
JOSHI, S.C; SHARMA, P. Male reproductive toxicity of organophosphorous compounds: a review. Toxicological &
Environmental Chemistry, v. 93, p. 1486-1507, 2011.
100
O O
O P NR2 O P N(CH 3)2
O O
NR2 N(CH 3)2
O
O O P Cl
O O
Cl
[45] [46]
O O
O P Cl O P O
O O O
N(C2H5)2 N(C2H5) 2
[4 7] [48]
Figura 5.16 – Estruturas de alguns compostos derivdos da furanona [45] que foram
avaliados quanto à suas atividades inseticidas.
R3 R2
R4 R1
Li R5 6
O O ArCH2Br 4 3 O
n-BuLi,
O P N(C 2 H5 )2 O P N(C 2H 5) 2 5 2
O P N(C 2H 5) 2
O O -78 oC r.t. O
N(C 2H 5) 2 THF, HMPA N(C 2H 5) 2
N(C 2H 5) 2
-78 oC
[43] [44a-m]
Conforme mostrado nesse esquema, o composto [43], obtido a partir da lactona [45],
foi submetido à reação com BuLi; e o intermediário formado, capturado com vários
brometos de benzila resultando na série de compostos [44a-m].
A toxicidade de contato de todos os derivados, na dose de 10 µg por mg de inseto,
foi avaliada contra quatro espécies de insetos: Ascia monuste orseis Latr. (Lepidoptera:
Pyralidae), Diaphania hyalinata (L.) (Lepidoptera: Pyralidae), Sitophilus zeamais
(Coleoptera: Bruchidae) e Solenopsis saevissima (Hymenoptera: Formicidae). A faixa de
mortalidade observada em alguns derivados, como 3-(3-methylbenzyl) furano-2-il
N,N,N',N'-tetraetildiamidofosfato (82,5% de mortalidade contra D. hyalinata; 100% de
mortalidade contra S. saevissima), foi comparável ao inseticida comercial metil clorpirifos.
A atividade biológica dos derivados depende do padrão de substituição do anel benzílico.
Os resultados promissores dessa classe de compostos nos motivou a submeter uma
solicitação de depósito de patente, ja efetivada.
Alguns resultados nessa linha também já foram publicados, 120,121 mas o projeto
continua ainda em andamento. Temos preparado vários outros compostos inéditos
realizando alterações estruturais na porção nitrogenada e no anel heteroaromático.
120
PAULA, V.F.; BARBOSA, L.C.A.; TEIXEIRA, R.R.; COUTINHO, M.P.; SILVA, G.A. Synthesis and insecticidal
activity of new 3-benzylfuran-2-yl N,N,N’,N’-tetraethyldiamidophosphate derivatives. Pest Management Science, v.64,
p.863-872, 2008.
121
OLIVEIRA, F.M.; BARBOSA L.C.A.; TEIXEIRA, R.R.; DEMUNER, A.J.; MALTHA, C.RA.; PICANÇO, M.C.;
SILVA, G.A.; PAULA, V.F. Synthesis and insecticidal activity of new phosphoramidates. J. Pest. Sci., v.37, n.1, p.1-4,
2012.
102
122
PICMAN, A. K. Biochem. Syst. Ecol. v.14, p. 255, 1986.
123
(a) MACÍAS, F. A.; FERNÁNDEZ, A.; VARELA, R. M.; MOLINILLO, J. M. G.; TORRES, A.; ALVES, P. L. C. A. J. Nat. Prod.,
v.69, p.795, 2006.; (b) MACÍAS, F. A.; TORRES, A.; MOLINILLO, J. M. G.; VARELA, R. M.; CASTELLANO, D.;
Phytochemistry, v.43, p.1205, 1996,
103
14
O OH OH
H H O H
2
O
10 9
1
3 8
5
7 HO O
6
4 13
H 11 H
15 O O H
HO O
12
O O
O
[45] [46] [47]
O
C CH3
O O
O
O C CH3
H
H O
OH CH3
OH O
O
O O
Derivados do glaucolídeo B
O
O O
C CH3
C CH3 O O C CH3
O O O O O
O O C CH3 O
O C CH3 O C CH3
H
H
CH3 O
O CH3 O
O O OH
O OH O CH3
O
O O
O O O
C CH3 C CH3 C CH3
O O O O O O
O O O
O C CH3 O C CH3 O C CH3
H
H
CH3 CH3
OH OH CH3
OH O OH O CH3 O
O O O
Essa colaboração teve início com a vinda ao LASA do professor Blas Lotina, que
havia se interessado por alguns de nossos trabalhos na área de herbicidas. Posteriormente,
em 2000, visitei a UNAM por um período de 14 dias quando pude estabelecer um maior
contato com o grupo do professor Blas e apresentar algumas palestras no México.
A partir do segundo semestre de 2003, o professor Blas trabalhou no LASA por um
período de um ano, como pesquisador visitante patrocinado pela FAPEMIG. Desde então,
temos realizado vários trabalhos em colaboração – alguns ainda estão para ser publicados.
Derivados da α-santonina
O objetivo inicial desse projeto era a obtenção de novas substâncias com atividade
herbicida. Embora a ideia do projeto e as condições de trabalho no LASA permitissem o
seu desenvolvimento, até o ano de 2004, já passada uma década de meu retorno ao Brasil,
eu não tinha nenhum aluno para trabalhar nessa proposta.
12 11
O
O 5
5a
f 7 6 4
9b 3a 10
8
9a
[56] O 9 3
O 2
O 1
e g O
[57]
13
H5 H5 '
H4
14 11 6
b H9 H9 ' H4'
HO
7a 3a
O 7 12
10 8 3
O O O 2
[49] α-santonina O [58]
1 O
a +
OAc OH
O O
O O
[60] O
[59] O
c d
OAc 9'
14 OH
H2' H
H2 H9
10 9
2 1 H8' HO
HO 8
3
4
5
6
H8
7
11 13
O
15 O
12
O
[61] O [62]
Foram preparados sete derivados da α-santonina, cinco dos quais pela reação
fotoquímica da α-santonina variando o solvente, o reator (quartzo ou borossilicato) e a
fonte de radiação (lâmpada de mercúrio de alta ou baixa pressão). Os álcoois 61 e 62 foram
preparados, respectivamente, pela redução dos compostos 59 e 60 com boroidreto de sódio.
124
ALVARENGA, E.S.; BARBOSA, L.C.A.; SALIBA, W.A.; ARANTES, F.F.P.; DEMUNER, A.J.; SILVA, A.A. Síntese e
avaliação da atividade fitotóxica de derivados da a-santonina. Química Nova, v.32, p.401 - 406, 2009.
109
ii. Uso da sorgoleona como modelo para o preparo de novas quinonas com atividade herbicida
O efeito alelopático causado por espécies de sorgo tem sido relatado na literatura.128
Vários compostos biologicamente ativos, tendo atividade inibitória do crescimento de
plantas, como p-hidroxibenzaldeído, ácido vanílico, ácido p-cumárico e ácido siríngico,
foram encontrados em exsudatos aquosos de sorgo.129
Estudos realizados por Netzly e Butler (1986), 130 sobre a composição química de
exsudatos radiculares hidrofóbicos de sorgo, levaram ao isolamento e identificação de
sorgoleona [63] e di-hidrosorgoleona [64] como os principais constituintes (Figura 5.22).
125
ARANTES, F.F.P.; BARBOSA, L.C.A.; ALAVARENGA, E.S., DEMUNER, A.J.; BEZERRA, D.P.; FERREIRA,
J.R.O.; Costa-Lotufo, L.V.; PESSOA, C.; MORAES, M.O. Synthesis and cytotoxic activity of alpha-santonin derivatives.
European Journal of Medicinal Chemistry, v.44, p.3739 - 3745, 2009.
126
ARANTES, F.F.P.; BARBOSA, L.C.A.; MALTHA, C.R.A.; DEMUNER, A.J.; COSTA, P.M.; FERREIRA, J.R.O.;
COSTA-LOTUFO, L.V.; MORAES, M.O.; PESSOA, C. Synthesis of novel a-santonin derivatives as potential cytotoxic
agents. European Journal of Medicinal Chemistry, v.45, p.6045 - 6051, 2010.
127
ARANTES, F. F. P., BARBOSA, L.C.A.; MALTHA, C.RA.; DEMUNER, A.J.; FIDÊNCIO, P.H.; CARNEIRO, J.W.M.
A quantum chemical and chemometric study of sesquiterpene lactones with cytotoxicity against tumor cells. Journal of
Chemometrics, v.25, p.401 - 407, 2011.
128
(a) OVERLAND, L. Am. J. Bot., v. 53, p.441, 1966.; (b) PUTNAM, A.R.; DEFRANK, J.; BARNES, J.P. J. Chem. Ecol.,
v.8, p.1001, 1983.; (c) BEN-HAMMOUDA, M.; KREMER, R.J.; MINOR, H.C. Crop Science, v.35, p.1652, 1995.; (d)
BEN-HAMMOUDA, M.; KREMER, R.J.; MINOR, H.C.; SARWAR M. J. Chem. Ecol., v.21, p.775. 1995.
129
(a)ABDUL-WAHAB, A.S.; RICE, E.L. Bull. Torrey Bot. Club, v.94, p.486, 1967.; (b) GUENZI, W.D.; MCCALLA T.M.
Soil Sci. Soc. Amer. Proc., v. 26, p.456, 1962.
130
NETZLY, D.H.; BUTLER, L.G. Crop Science, v.26, p.775. 1986.
110
H3 CO
O
[63] Sorgoleona
OH
OH
H3 CO
OH
[64] Diidrosorgoleona
Figura 5.22 – Foto expandida (64 x) de uma raiz de sorgo exsudando sorgoleona; e
fórmulas estruturais da sorgoleona [63] e da di-hidrosorgoleona [64].
131
NETZLY, D. H.; RIOPEL, J. L.; EJETA, G.; BUTLER, L.G. Weed Science, v.36, p.441, 1988.
132
EINHELLIG, F.A.; SOUZA, I. F. J. Chem. Ecol., v. 18, n.1, 1992.
133
BARBOSA, T.M.L.; FERREIRA, F.A.; SOUZA, I.F.; BARBOSA, L.C.A.; CASALI, V.W.D. Caracterização química e
efeitos alelopáticos de exsudatos radiculares de sorgo sobre a alface. Planta Daninha, v.22, p.153-162, 1998.
134
BARBOSA, T.M.L.; FERREIRA, F.A.; BARBOSA, L.C A.; SOUZA, I.F. Método químico de análise de exsudatos
111
O
HO
O
O
OH O O O
[68 [69] [70]
Figura 5.23 – Estrutura de algumas quinonas submetidas a avaliação da atividade
herbicida.
Os compostos foram avaliados sobre o controle de plantas de Sorghum bicolor,
Cucumis sativus e Desmodium tortuosum, cultivados em areia lavada, em placas de Petri, e
radiculares coletados de plantas intactas de sorgo BR001A. Ciência e Agrotecnologia, v.22, p.490-498, 1998.
135
BARBOSA, L.C.A.; FERREIRA, M.L.; DEMUNER, A.J.; SILVA, A.A.; WALKIL, J. Análise e quantificação de
sorgoleona em diferentes cultivares de sorgo (Acta Scientiarum). Agronomy, v.21, p.565- 570, 1999.
112
Posteriormente, os efeitos dos compostos [63], [79] e [81], na dose de 5,6 µg de ia/g
de substrato, sobre o crescimento de Cucumis sativus, Lactuca sativa, Desmodium
tortuosum, Hyptis suaveolens e Euphorbia heterophylla foram avaliados. Todos os três
compostos causaram alguma inibição no crescimento radicular das plantas-teste (0,0-
69,19%), sendo a parte aérea menos afetada de modo geral. Os resultados mostraram que a
unidade trieno na cadeia lateral da sorgoleona não é essencial para a fitotoxicidade e que a
quinona sintética [79] foi tão ativa quanto o produto natural [63].136
136
BARBOSA, L.C.A.; FERREIRA, M.L.; DEMUNER, J.A.; SILVA, A.A.; PEREIRA, R.C. Preparation and phytotoxicity
of sorgoleone analogues. Química Nova, v.24, p.751-755, 2001.
113
OCH 3
H 3CO
OCH 3
OCH3
[80]
iii
i ii
OH O
H3 CO H 3CO H 3CO
H X
[71] [72] [73] X = OH
[74] X = Cl
iv
O OCH3 OCH 3
vi v
OAc O
OAc OAc
viii
H3 CO H 3CO
OAc O
[78] [79]
O
O
OAc
H 3CO
H3CO
O
O
[80] [81]
O O
OH OH
O CH3
H3CO H3CO
n
O O
[82] [83] n = 1
[84] n = 3
[85] n = 5
137
LIMA, L.S.; BARBOSA, L.C.A.; ALVARENGA, E.S.; DEMUNER, A.J.; SILVA, A.A. Synthesis and phytotoxicity
evaluation of substituted para-benzoquinones. Australian Journal of Chemistry , v.36, p.625-630, 2003.
115
O
O R
OCH 3 O
R
O
H O
O
O OCH 3
[86] [87]
.
Figura 5.26 – Quinonas preparadas a partir do álcool 2,5-dimetoxibenzílico.
138
BARBOSA, L.C.A.; ALVARENGA, E.S.; DEMUNER, A.J.; VIRTUOSO, L.S.; SILVA, A.A. Synthesis of new
phytogrowth-inhibitory substituted aryl-p-benzoquinones. Chemistry & Biodiversity, v.3, p.553-567, 2006.
116
OMe
OMe OMe OR
OMe
OR OR
MeO
RO MeO
4+ 3+
Ce Ce
OMe MeO
RO 14
OMe
10 OMe
13 R1 H2O
- H+
O OMe
MeO
- MeOH OR
OR H2O OR
- MeOH R1
H R1 3+ 4+
R1 O Ce Ce MeO O
O H
4+
2 Ce
- H+
3+
2 Ce
O OMe
OMe OR + R2 +
-H -H
RO
3+ 4+ 3+
RO O Ce
4+
Ce Ce Ce
OMe
H H OMe R2
O OMe
R2
OMe OR
H2O
RO
O - ROH2+
O OMe
H OMe
Figura 5.27 – Proposta mecanística para a formação dos compostos do tipo [87].
139
DEMUNER, A.J.; BARBOSA, L.C.A.; CHINELATTO JUNIOR, L.S.; REIS, C.; SILVA, A.A. Sorção e persistência da
sorgoleona em um latossolo vermelho- amarelo. Química Nova, v.28, p.451-455, 2005.
140
BARBOSA, L.C.A.; PEREIRA, U.A.; MALTHA, C.R.A.; TEIXEIRA, R.R.; VALENTE, V.M.; FERREIRA, J.R.O.;
Costa-LOTUFO, L.V.; MORAES, O.M.; PESSOA, C. Synthesis and biological evaluation of 2,5-bis(alkylamino)-1,4-
benzoquinones. Molecules, v.15, p.5629-5643, 2010.
117
Compostos do tipo [88] (Figura 5.28) podem ser obtidos por meio da reação de
cicloadição entre um cátion oxialílico e furano ou outros dienos. Essa reação, conhecida
como cicloadição [3+4], é muito útil para o preparo de compostos com anéis de sete
membros, conforme discutido brevemente no Capítulo 1. Uma revisão sobre as diversas
metodologias para a realização dessa reação foi feita por nós há algum tempo.141 Durante
os últimos anos, diversas novas metodologias têm sido desenvolvidas para a geração e
captura de cátions oxialílicos. 142
Uma das grandes utilidades dessa reação é que compostos do tipo [88] são muito
versáteis do ponto de vista químico, podendo ser transformados em uma gama variada de
compostos naturais e sintéticos.
Nesse contexto, compostos do tipo [89] foram preparados como intermediários
sintéticos durante o desenvolvimento de uma rota sintética para a colchicina. Durante a
realização de um “screening aleatório” com esses compostos, descobrimos que eles
apresentam atividade fitotóxica.
Em vista desses resultados, iniciamos uma linha de pesquisa visando obter novos
compostos análogos a [89] que tivessem atividade herbicida acentuada.
141
DEMUNER, A.J.; BARBOSA, L.C.A.; VELOSO, D. P. Cicloadições [3+4] via cátions oxalílicos: aplicações em sínteses
orgânicas. Química Nova, v.20, p.18-29, 1997.
142
HARMATA, M. The [3+4]-cycloaddition reaction: heteroatom-substituted allylic cations as dienophiles.
118
O
R' O O CH3 O
R O H3C
R
O CH3 O
O
R'
R
Apenas para fins de ilustração, um esquema de síntese para esse tipo de composto
é ilustrado na Figura 5.29. Esse trabalho foi realizado pela estudante de mestrado Flávia
Reis Ganen.
O
Br Br O
+
O Br Br
R [91]
O i
O ii
R vi O v O H
O O OH +
O O O
O O OH
OH H
[95] (83%) [96] (62%) [97] (20%)
[98] R = o - C6H5F (72%)
[99] R = m- C6H5F (17%)
[100] R = m- C6H5Cl (30%)
[101] R = p-C6H5OCH3 (36%)
[102] R = -CH2[CH2]2CH3 (56%)
[103] R = 2,4- C6H5(OMe)2 (20%)
Figura 5.29 – Reagentes e condições: i) Zn/Ag, THF, 17 h, 25 oC; ii) Zn/Cu, NH4Cl, MeOH, 3 h,
25 oC, iii) OsO4 , H2O2, acetona, Et2O, 3 dias, 25 oC; iv) acetona, PTSA, CuSO4, 7 dias, 25 o C; v)
NaBH4, MeOH, 5 h, 25 o C → 40 oC, 2 h; vi) BuLi, THF, -78 oC, 5,5 h (11), 26 h (14 e 16), H3O+;
12, 13 e 15: a) ArMgBr, THF, 24 h, b) NH4Cl (aq.); vii) SOCl2, Piridina, 25 oC, 3 h.
F O CH3
H3C O
O CH3
HO
CH3
[107]
Lactonas do tipo [90], bem como um derivado análogo ao oxabiciclo [104] com um
grupo fenil no carbono 2, foram preparadas e avaliadas.145,146,147
Nesse projeto, além dos estudantes já citados nas referências listadas, trabalharam
os estudantes de mestrado Gelson da Conceição148 e Remilson Figueiredo.149 Os estudantes
143
BARBOSA, L.C.A.; MALTHA, C.R.A.; DEMUNER, A.J.; FILOMENO, C.; SILVA, A.A. Síntese de novos herbicidas
derivados do 1,2α,4 α,5-tetrametil-8-oxabiciclo[3.2.1]oct-6-en-3-ona. Química Nova, v.27, p.241-246, 2004.
144
BARBOSA, L.C.A.; COSTA, A.V.; DEMUNER, A.J.; SILVA, A.A. Synthesis and herbicidal activity of 2a,4a -dimethyl-
8-oxabiciclo[3.2.1]oct-6-en-3-one derivatives. Journal of Agricultural and Food Chemistry, v.47, p.4807-4814, 2000.
145
BARBOSA, L.C.A.; DEMUNER, A.J.; MANN, J. Syntesis and evaluation of the plant growth regulatory activity of 8-
oxabicyclo[3.2.1]- oct-6-en-3-one derivatives. Journal of the Brazilian Chemical Society, v.8, p.19-27, 1997.
146
BARBOSA, L.C.A.; DEMUNER, A.J.; COSTA, A.V.; LIMA, E.E.B. Atividade fitotóxica de 2-fenil-6,7-exo-
isopropilidenodioxi-8-oxabiociclo[3.2.1]oct-2-eno. Química Nova, v.23, p.461-465, 2000.
147
BARBOSA, L.C.A.; MALTHA, C.R.A.; BORGES, E.E.L. Síntese e avaliação da atividade fitotóxica de lactonas
derivadas do 2,4-dimetil-8-oxabiciclo[3.2.1]-oct-6-en-3-ona. Química Nova, v.25, p.203-208, 2002.
120
de iniciação científica Vanessa Lopes Silva e Fabrício de Oliveira também tiveram uma
participação nessa linha de trabalho.150
Embora os oxabiciclos do tipo [96] e [97] sejam relativamente rígidos, no caso dos
compostos análogos a estes, mas contendo dois grupos metila nas posições 2 e 4,
verificamos algumas feições inesperadas nos espectros de RMN. Para explicar os
espectros, realizamos cálculos teóricos em colaboração com o professor Antônio Flávio
Alcântara. 151
Vários ensaios biológicos mostraram que alguns compostos são seletivos para
determinadas plantas daninhas, como Desmodium tortuosun. Na Tabela 5.2 apresentamos
uma lista de plantas resistentes e suscetíveis ao composto [108]. Na Figura 5.31 é ilustrado
o efeito seletivo do composto [108] sobre milho e Desmodium.
O CH 3
O
O CH3
[108]
Figura 5.31 – Comparação do efeito do composto [108] sobre milho e Desmodium. À
esquerda, o controle; à direita, o composto [108], aplicado na concentração de 6,6
mg g-1 de areia, após 14 dias a 25 ºC.
148
BARBOSA, L.C.A.; CONCEIÇÃO, G.A.; DEMUNER, A.J.; SILVA, A. A.; VELOSO, D.P.; MANN, J. A new class of
herbicides derived from 8-oxabiciclo[3.2.1]oct-6-en-3-one. Australian Journal of Chemistry, v.52, p.929-936, 1999.
149
BARBOSA, L.C.A.; ALVARENGA, E.S.; DEMUNER, A.J.; FIGUEIREDO, R.; SILVA, A.A. Synthesis of new aliphatic
and aromatic phytotoxic derivatives of 2alfa,4alfa-dimethyl-8-oxabicyclo[3.2.1]oct-6-en-3-one. Pest Management
Science, v.59, p.1043-1051, 2003.
150
BARBOSA, L.C.A.; MALTHA, C.R.A; DEMUNER, A.J.; SILVA, V.L.; OLIVEIRA, F.M.; BORGES, E.E.L.
Fitotoxicidade de novos álcoois e alquenos derivados do 2a,4a-dimetil-8-oxabiciclo[3.2.1]oct-6-en-3-ona. Eclética
Química, v.30, p.33-41, 2005.
151
ALCÂNTARA, A.F.; VELOSO, D.P.; ALMEIDA, W.B.; MALTHA, C.R.A.; BARBOSA, L.C.A.; Conformational
analysis of 8-oxabicyclo[3.2.1]oct-6-en-3-one derivatives by NMR and theoretical calculations. Journal of Molecular
Structure, v.791, p.180-185, 2006.
121
1 O H
2
[109] R1 = CH2OH , R2 = CHO
CO OH
[110] R1 = CHO , R2 = CHO 3
5 1 HO
8 [111] R1 = CH2OH , R2 = CO2H
[112] R1 = OH , R2 = CO2H CO2H
R2 [113] R1 = OH , R2 = CO2CH3
R1 [114]Ácido giberélico
152
(a) Briquet, M.; Vilret, D.; Goblet, P.; Mesa, M.; Eloy, M. C.; J. Bioenerg. and Biomemb. 1978, 30, 285; (b) Corey, E. J.;
Nozoe, S.; J. Am. Chem. Soc. 1965, 87, 5728.
122
153
Kim, B. T.; Soh, C. H.; Murofushi, N.; Yoshida, S; Bioorg. Med. Chem. Lett. V.4, p.18-47,1994.
154
DEMUNER, J. A.; BARBOSA, L.C.A.; VELOSO, D. P. Synthesis of new 8-oxabicyclo3.2.1oct-6-en-3-one derivatives
with plant growth regulatory activity. Journal of Agricultural and Food Chemistry, v.463, p.1173-1176, 1998.
155
BARBOSA, L.C.A.; DEMUNER, A. J.; MALTHA, C. R. A.; SILVA, P. S. Síntese e avaliação da atividade fitotóxica de
novos análogos oxigenados do ácido helmintospórico. Química Nova, v.26, p.655-660, 2003.
156
CHAVES, F.C.; BARBOSA, L.C.A.; DEMUNER, A.J.; SILVA, A.A. New helminthosporal analogues with plant-growth
regulatory properties synthesized via oxyallyl cation. Zeitschrift für Naturforschung. B, A journal of Chemical Sciences,
123
Os compostos [115-119] foram avaliados sobre sorgo e pepino, sendo observada alta
seletividade entre mono e dicotiledôneas. Todos os compostos, na concentração de 10-3
mol/L, inibiram o crescimento radicular de sorgo (22-82%) e estimularam o crescimento de
raízes de pepino (até 127%).
Essa seletividade é importante no desenvolvimento de novos herbicidas, uma vez
que na maioria dos casos o que se deseja é a eliminação ou controle de determinada
espécie de planta.
Esse projeto teve a participação de meu orientado de mestrado Leonardo Brandão
Nogueira, que preparou e avaliou a atividade de análogos oxabicíclicos do ácido
helmintospórico, que não possuíam o grupo isopropil. Foi observado que os compostos
com grupo carbolina foram os mais ativos, e a mesma seletividade para mono e
dicotiledôneas foi observada. 157
O O
O
OH
HO OH
[117] [119]
iii iv
O O
i
O O
HO O
[115] [116]
H
ii
O
RO
[117] R = CH 3
[118] R = PhCH 2
R1 O R3 10 R3 O
Me 4 5 6
O O
2
7
NaI, Cu, MeCN R2 O 3 1
oC
+ Me R 1 R 2
Br Br 0 0 oC r.t., 16h 9
Oxyallyl
Cátion
(14) Carbocation (15-24)
oxialílico (121-130)
(20)
11
13 R3 O 8
Me 5
6 7 O
4 3
O3, CH 2 Cl2 1 O9
2
O
-78 o C O
Me R 1 R 2 10
12
(131-139)
(25-33)
R1 R2 R3 Oxabicycle Ozonide
compound yield (%) compound yield (%)
CH3 H CH3 121 55 131 100
CH3 H H 122 56 132 100
CH3 CH3 H 123 48 133 7
COCH3 H H 124 23 134 98
CH2CH3 H H 125 56 135 100
H H H 126 54 136 99
CH3 (CO)OCH3 H 127 28 137 50
CH3 CH2 OH H 128 26 138 75
CH3 CH2 OCH3 H 129 46 139 100
CH3 (CO)OCH3 CH3 130 9 -
158
DUKE, S.O.; VAUGHN, K.C.; CROOM, E.M.; ELSOHLY, H.N. Artemisinin, a constituent of annual wormwood
(Artemisia annua), is a selective phytotoxin. Weed Sci., v.35, p.499-505, 1987.
125
159
BARBOSA, L.C.A.; MALTHA, C.R.A.; CUSATI, R.C.; TEIXEIRA, R.R.; RODRIGUES, F.F.; SILVA, A.A.; DREW,
M.G.B.; ISMAIL, F.M. D. Synthesis and biological evaluation of new ozonides with improved plant growth regulatory
activity. Journal of Agricultural and Food Chemistry, v.57, p.10107-10115, 2009.
126
Segundo cálculos efetuados pelo professor Ismail, esse ozonídio deveria ter grande
semelhança estrutural com a artemisinina. Os compostos obtidos nessa segunda etapa se
mostraram mais ativos que os primeiros. 160
OH
O
O O O
O O
R
I
Cl
OH CH3O
160
BARBOSA, L.C.A.; PEREIRA, U.A.; TEIXEIRA, R.R.; MALTHA, C.R.A.; FERNANDES, S.A.; FORLANI, G.
Synthesis and phytotoxic activity of ozonides. Journal of Agricultural and Food Chemistry, v.56, p.9434-9440, 2008.
161
XUEMIN, Y.; YUZURU, S.; STEINER, J.R.; CLARDY,J. Tetrahedron Lett., v.34, p.761, 1993.
162
BOUKOUVALAS, J.; MALTAIS, F.; LACHANCE, N. Tetrahedron Lett., v.35, p.7897, 1994.
127
O O H
O
O OTBDMS
O O
[146] [147]
R R
[144] [145]
O CH3
H O P N
O
O O O
N CH3
O
CH3 CH3
[150] [149] [148]
Figura 5.37 – Análise retrossintética para os compostos análogos aos nostoclídeos [144],
sem o grupo isopropila.
H 2O 2, HCOOH O O
POCl3, Et3N Et2NH/Et2O
O O P Cl O P NEt2
O CHO N,N-dietiletanolamina O CH2Cl2, t.a. O O
CH 2Cl2, t.a. Cl NEt2
[150] [149] 46% [151]
[152] 26-45%
(não isolado)
Figura 5.38 – Síntese da fosforamida [152].
Li Ph Ph
O O O
n-BuLi PhCH2Br HCOOH
O P NMe2 O P NMe2 O P NMe2
O THF, -78 oC O O O O
NMe2 NMe2 NMe2
Figura 5.39 – Síntese da benzil lactona [155], precursora de análogos aos nostoclídeos.
Ph
DBU
Ph
[157a] R1= R2= R4= R5= H; R3= NMe2 (71%, Z:E 4:1) H O
O
[157b] R2= R4= H; R1= R3= R5= OCH3 (23%, E )
[157c] R2= R3= R5= H; R1= R4= OCH3 (26%, Z ) R5 R1
[157d] R1=R2= R 3= R4= R5=H (42%, Z )
[157e] R1= R4= R5= H; R2= R3= OCH3 (10%, Z ) R4 R2
[157f] R1= R3= R4= R5= H; R2= Br (31%, Z ) R3
[157g]R 2= R3= R4= H; R1= R5= Cl (0%)
Embora as reações tenham resultado nos produtos com baixo rendimento, nesse
ponto do projeto o objetivo principal era a produção de alguns análogos ao produto natural
para avaliação de seu potencial fitotóxico.
Com os compostos em mãos, foram realizados vários tipos de ensaios biológicos em
colaboração com o professor Blas Lotina, da UNAM.
As lactonas 157d e 157e foram as mais ativas, agindo como inibidores do crescimento
radicular da planta daninha Lolium multiflorum. Por outro lado, essas substâncias estimularam
o crescimento das raízes de Physalis ixocarpa. Ambos os compostos inibiram o fluxo de
elétrons (basal, fosforilar e desacoplados) de água para methylviologen (MV), em cloroplastos
isolados de espinafre. Os estudos mostraram que esses compostos atuam como inibidores da
reação de Hill, uma vez que inibem a síntese de ATP no processo de fotossíntese. De modo
geral, o padrão de substituição do anel benzilideno influenciou na atividade dos compostos,
cuja fitotoxicidade está associada à inibição do processo fotossintético.163
Em vista desses resultados promissores, o trabalho foi então continuado pelo meu
orientado de doutorado Robson Ricardo Teixeira, da UFMG.
Posteriormente, a estudante de mestrado Kamila A. P. Souza e a estudante de
iniciação científica Keyla U. Bicalho prepararam um nova série de compostos com o grupo
benzila ligado ao carbono 3 do anel lactônico substituído pelo grupo 3-clorobenzila. 164 Na
sequência, o estudante de mestrado Marcelo Eça Rocha preparou análogos contendo o
grupo 4-bromobenzila no carbono 3 do anel lactônico.
A partir do trabalho do estudante Marcelo, estabelecemos uma parceria com o
professor Giuseppe Forlani, da Universidade de Ferrara na Itália. Forlani realiou vários
estudos bioquímicos com essa nova série de compostos e mostrou que a presença de grupo
Br no anel benzila reduzia a atividade. Também ficou demonstrado que compostos mais
polares possuíam maior atividade. 165
Em vista desses resultados promissores, o trabalho foi então continuado pelo meu
orientado de doutorado Robson Ricardo Teixeira, da UFMG. Durante seu doutoramento
163
BARBOSA, L.C.A.; DEMUNER, A.J.; ALVARENGA, E.S.; OLIVEIRA, A.; KING-DIAZ, B.; LOTINA-HENNSEN, B.
Phytogrowth and photosynthesis-inhibiting properties of nostoclide analogues. Pest Management Science, v.62, p.214-
222, 2006.
164
BARBOSA, L.C.A.; DEMUNER, A.A.; MALTHA, C.R.A,; TEIXEIRA, R.R.; SOUZA, K.A.; BICALHO, K.U.
Phytogrowth activity of 3-(3-chlorobenzyl)-5-arylidenofuran-2(5H)-ones. Zeitschrift für Naturforschung. B, A journal of
Chemical Sciences , v.64, p.245-251, 2009.
165
BARBOSA, L.C.A.; ROCHA, M.E.; TEIXEIRA, R.R.; MALTHA, C.R.A.; FORLANI, G. Synthesis of 3-(4-
bromobenzyl)-5-(aryl methylene)-5H-furan-2-ones and their activity as inhibitors of the photosynthetic electron transport
chain. Journal of Agricultural and Food Chemistry, v.55, p.8562-8569, 2007.
130
Robson preparou uma série maior de compostos análogos aos nostoclídeos com vistas à
realização de um estudo quantitativo estrutura-atividade biológica.
Nesse trabalho foram feitos estudos detalhados para tentar entender a seletidade da
reação de alquilidenação. Verificou-se que o favorecimento do isômero Z está em parte
asociado ao padrão de substituição da unidade derivada do aldeido. Aspectos estruturais e
teóricos foram então reportados.166,167 Esse trabalhou passou a contar com a colaboração do
professor Antônio Carlos Dorigueto da Universidade Federal de Alfenas na parte de
determinação estrutural por raios X. Estabelecemos também a partir desse momento uma
colaboração com o professor José Walkimar Carneiro, da Universidade Federal
Fluminense. Essa nova cooperação teve como objetivo nos dar suporte na parte de cálculos
computacionais com vistas ao desenvolvimento de estudos de QSAR.168,169
O trabalho de tese do estudante Robson resultou em várias publicações e resultou
na indicação de sua tese como sendo a melhor do Departamento de Química da UFMG no
ano de 2010.
Posteriormente, a estudante de mestrado Jodieh Santana Varejão preparou alguns
compostos incluindo unidades heterocíclicas na porção alquilideno, na tentativa e obter
compostos mais polares.170
A estudante de doutorado Patrícia Fontes Pinheiro trabalhou com o objetivo de
desenvolver um método para a introdução do grupo isopropila no carbono 4 do anel
lactônico e, assim, avaliar a influência dessa unidade estrutural sobre a atividade
biológica.171
Além dos projetos descritos até aqui, outros trabalhos ainda não publicados vêm
sendo desenvolvidos no LASA. Descreveremos de forma resumida dois desses projetos.
166
TEIXEIRA, R.R.; BARBOSA, L.C.A.; VAREIJÃO, J.O.S.; PILÓ-VELOSO, D.; DORIGUETTO, A.C.; DREW, M.G.B;
ISMAIL, F.M.D. Synthesis and structural characterizationof two nostoclide analogues. Journal of Molecular Structure,
v.837, p.197-205, 2007.
167
TEIXEIRA, R.R.; BARBOSA, L.C.A.; CARNEIRO, J.W.M.; RODRIGO, S.C.; ELLENA, J.; DORIGUETTO, A.C.
Synthesis, structural characterization and conformational aspects of nostoclide analogues. Journal of Molecular Structure,
v.927, p.1- 9, 2009.
168
BARBOSA, L.C.A.; TEIXEIRA, R.R.; GIUSEPPE, F.; VELOSO, D.P.; CARNEIRO, J.W.M. Synthesis of photosynthesis-
inhibiting nostoclide analogues. Journal of Agricultural and Food Chemistry , v.56, p.2321- 2329, 2008.
169
TEIXEIRA, R.R.; PEREIRA, P.F.; BARBOSA, L.C.A.; CARNEIRO, J.W.M.; FORLANI, G. QSAR modeling of
photosynthesis-inhibiting nostoclide derivatives. Pest Management Science, v.66, p.196-202, 2010.
170
BARBOSA, L.C.A.; VAREJÃO. O. S.J.; PETROLINO, D.; PINHEIRO, P.F.; DEMUNER, A.J.; MALTHA, C.R.A.;
FORLANI, G. Tailoring nostoclide structure to target the chloroplastic electron transport chain. ARKIVOC, p.15- 32, 2012.
171
BARBOSA, L.C.A.; MALTHA, C.R.A.; DEMUNER, A.J.; PINHEIRO, F.P.; VAREJÃO, J.O.S.; MONTANARI, R.M.;
ANDRADE, N.J. Síntese e avaliação da atividade antimicrobiana de furanonas halogenadas e de compostos análogos aos
nostoclídeo. Química Nova, v.33, p.2020-2026, 2010.
131
OH O
HO
H3C OH
[158] Alternariol
172
HUBBALLI, M.; NAKKEERAN, S.; RAGUCHANDER, T.; RAJENDRAN, L.; RENUKADEVI, P.; SAMIYAPPAN, R.
First report of leaf blight of noni caused by Alternaria alternate (Fr.) Keissler. J. Gen. Plant. Pathol., v.76, p.284-286,
2010.
132
todos os casos, a rota sintética mostrada na Figura 5.43 foi utilizada e várias dezenas de
compostos novos foram preparados.
R O R O
OMe
2(HO)B H OH
Pd(PPh3)4 OCH3 NaClO2 OCH3
R R
R1 R3 K2CO3, DMF, 80 ºC
R R1 R1
R3 R3
CHO
+
BBr 3
R Br
R=OMe, H
R O
R1 R3
Figura 5.43 – Estratégia geral para o preparo de compostos análogos ao alternariol [158].
Alguns dos compostos foram submetidos a ensaios biológicos para avaliar seu
potencial como inibidor da fotossíntese. Os resultados preliminares mostraram que alguns
são muito mais ativos que os nostoclídeos que descrevemos.
Esse projeto se encontra em andamento, e em breve alguns dos resultados serão
publicados.
173
ORTEGA, M.J.; ZUBÍA, E.; OCAÑA, J.M.; NARANJO, S.; SALVÁ. J. New rubrolides from the Ascidian Synoicum
blochmanni. Tetrahedron, v.56, p.3963-3967, 2000.
133
HO
R Rubrolídeo A R4 = R2 = H; R1 = R3 = R5 = R = Br
Rubrolídeo B R4 = H; R1 = R3 = R5 = R = Br; R2 = Cl
R1
R2
Rubrolídeo C R4 = R1 = R = R2 = H; R3 = R5 = Br
Rubrolídeo D R4 = R3 = R5 = R2 = H; R1 = R = Br
H
O Rubrolídeo E R4 = R3 = R1 = R5 = R = R2 = H
O Rubrolídeo F R4 = Me; R3 = R1 = R5 = R = R2 = H
Rubrolídeo I R4 = R1 = H; R3 = R5 = R = Br; R2 = Cl
R3 Rubrolídeo J R4 = R1 = R2 = H; R3 = R5 = R = Br
R5 Rubrolídeo K R4 = R1 = R3 = H; R5 = R = Br; R2 = Cl
O
R4 Rubrolídeo L R4 = R1 = R = H; R3 = R5 = Br; R2 = Cl
Esse projeto, que corresponde a uma extensão dos trabalhos com os nostoclídeos, foi
iniciado pela estudante de mestrado Rosimeire Coura Barcelos, que utilizou a estratégia de
síntese ilustrada na Figura 5.45.
X
Br Br
Br 1) NaBH 4, MeOH, 0ºC Br PdCl 2 (MeCN) 2, AsPh 3
2) H 2SO 4, MeOH, 0ºC Ag 2O THF, 65ºC
O O Br
HO O 3) - MeOH X H3 C O
O
4) Recristalização
O O
X = H ou F
H3 C O B(OH) 2
X
CHO
Br
H3 C O 1) , TBDMSOTf, DIPEA, DCM
R
O O
2) DBU, refluxo
Figura 5.45 – Estratégia geral para o preparo de compostos análogos aos rubrolídeos
[159].
Capítulo 6
O pós-doutoramento em Oxford
O O
BnO Br OBn OBn
N HN Cl N
OMe OMe OMe
H Zn, THF Et3N, CH 2Cl2
O NH4Cl (aq) CH3 O 86% CH 3 O [3]
100%
[1] [2]
GH-II (5 mol %)
98% CH2Cl2, reflux
OTf O
O
ArNTf2, KHMDS DBU, THF OBn
N N
NH
OMe THF, -78 oC 94% OMe
OMe
70%
CH 3 O CH 3 O
CH3 O
[4]
[6] [5]
Mes N N Mes
Cl
Cl Ru
Cl N NTf 2
O
GH-II ArNTf 2
Figura 6.1 – Síntese de piridinas substituídas por meio de reação de metátese por
fechamento de anel (RCM – do inglês).
O
H3CO O O
O
A B H 3CO X N
N OCH 3
H2N N OH
C CH3
O H 2N N M AcHN
H2N CH3
O OP
[7] OH
D [8] [9]
OMe
OMe
OMe
OMe
O
H O M X N OCH3
O N OCH3 OP
AcHN CH 3
AcHN CH 3 OMe Y
OMe [10]
[12]
[11]
X, Y = Cl, Br, OTf
O O
OCH 3
H 3CO H 3CO
H3 CO
H 2N N Cl N Cl
N Cl
O O
OCH 3
[8] [13]
[14]
NH2 Cl O N O
H
OCH 3 OCH3
Figura 6.3 – Análise retrossintética para o fragmento [8] correspondente aos anéis A-B
da estreptonigrina.
O
O i)crotyl bromide, Zn, HN
O MeOH, Py N
NH4Cl(aq), MeOH OCH3
OCH3 reflux, 5 h
O OCH3 r.t., 6 h
H H
ClH3N CH3 O
O O
90 mmol scale, LC3 (94.3%), 1g scale
excess aldehyde (69%, 5 g scale)
(99%)
O O H OCH3
DCM, TEA GI, 4 mol%, DCM O O DBU (1.4 eq),
r.t., 2 h O N
O N 55 oC, 87 h O N MeOH, 3h, r.t. O
OCH3 OCH 3
CH3 HG, 3 mol% CH3
5 mmol scale CH3
98% LC42.3 (99%)
LC13 (96.2%) LC13B (91.3%)
(5 mmol scale) (8 mmol scale)
HNO 3, 70%
H OCH 3 OCH3
H2SO4, conc. OCH 3
O N POCl3, Py, DMF Cl N Fe, HCl, MeOH
50 oC, 7 h O O 1.5 h, reflux Cl N
PhCl, O
O 2N CH3 120 oC, 6 h O 2N CH 3
H2N CH3
LC43 (82%) LC46 (79.8%)
LC49
(60%) - R173
100% - R177 (reflux 5 h)
OCH3
OCH3 Pd[Ph3P]4 (10 mol%), H3CO
CuI (20 mol%), OR
Br 2, CH 3CN Cl N
O Toluene, 110 oC, 13h. N
4.5h, r.t. N O
H2N CH3 OCH3
H2N CH3
Br
LC50 R174 (94% ) Br
R178 - LC 50 was formed
in 93% over 2 step s LC172 48% (0.1 mmol)
f rom LC46,
O
OCH3
H3CO
Pd(AcO)2 (25 mol%), H 3CO O
O
Lig (50 mol%), N
N N OCH3
Dioxane, Na2CO 3 N OCH 3
130 oC, 4.5 h. OCH3
O
CH3
CH3 H2N
H2N
O AgO, DCPNO O R
MeO B O R
O MeCH, H 2O
MeO O
R OMe 0 oC, 20 min OMe
LC99, R = MOM OMe
OMe
LC199.2, R = CH2Ph
LC187, R = MOM 58% LC192, R = MOM (48%)
LC206, R = CH2Ph 75% LC211.1, R = CH2Ph (40%)
Figura 6.4 – Esquema geral da síntese total formal da estreptonigrina (a numeração dos
compostos corresponde àquela apresentada em meu relatório final).
A experiência de voltar para a bancada foi excelente, pois nos últimos anos eu não
tinha essa oportunidade em função de tantos outros compromissos. No início, foi o desafio
de provar que eu seria capaz de desenvolver o projeto de forma satisfatória. O ambiente em
Oxford é extremamente competitivo, com alguns querendo chamar a atenção do chefe e
140
outros querendo se mostrar superiores. Toda semana participávamos de duas reuniões com
o grupo, e a cada quatro semanas apresentávamos para todo o grupo os resultados obtidos.
Diariamente, pouco antes das 18 horas, o professor Donohoe passava em cada capela e
perguntava individualmente sobre os resultados do dia.
Embora eu tenha começado esse projeto de síntese total do início, consegui em 11
meses de trabalho realizar a síntese com um menor número de etapas e maior rendimento
global que as sínteses descritas na literatura.
Tive que retornar ao Brasil sem completar a síntese total. Muitas das etapas que eu
havia realizado também poderiam ser otimizadas. A conversão do produto que obtive na
estreptonigrina envolveria apenas a inclusão do grupo amino no anel A e desproteção do
ácido e do fenol.
Em função dos excelentes resultados, o professor Donohoe resolveu não publicar os
resultados que eu obtive e passou o projeto para o doutor Christopher R. Jones, que havia
iniciado o pós-doutoramento no grupo. Christopher Jones tinha concluído o doutoramento
na Universidade de Cambridge.
Ao retornar, deixei uma lista de reações a serem realizadas com vistas à otimização
de algumas etapas. Após mais um ano de trabalho, o Dr. Jones conseguiu concluir a etapa
final e fez uma alteração na rota inicial que descrevi.
Finalmente, parte dos resultados obtidos por mim e por Cris Jones foi publicada no
JACS.174
174
DONOHOE, J.T.; JONES, C.R.; BARBOSA, L.C.A. Total synthesis of (±)-streptonigrin: de novo construction of a
pentasubstituted pyridine using ring-closing metathesis. Journal of the American Chemical Society, v.133, p.16418-
16421, 2011.
141
Capítulo 7
(Eclesiastes 3)
Depois de toda a apresentação, entendo ser imperioso fazer uma rápida avaliação
de minha trajetória e as consequências dos trabalhos realizados.
Fiz uma breve menção sobre a situação do Brasil e da UFV na década de 1990.
Naquela época, o Departamento de Química da UFV ainda não se destacava em termos de
pesquisas, exceto na área de bioquímica, que era a mais pujante. Isso inclusive resultou na
saída do DEQ do grupo de professores de bioquímica para constituir o Departamento de
Bioquímica e Biologia Molecular (DBB) no ano de 1995.
Com o crescimento ocorrido nas duas últimas décadas no Departamento de
Química, a área de química orgânica vem se consolidando, sendo hoje formada por um
grupo de oito professores. Desses, um trabalha exclusivamente com química de produtos
naturais e todos os demais, com síntese orgânica. Ou seja, a área de pesquisa que
implantamos no início da década de 1990 se consolidou e ainda se encontra em franca
expansão. O setor de Química Orgânica do DEQ-UFV é o único em que todos os docentes
estão envolvidos com pesquisa, sendo todos orientadores do programa de pós-graduação.
O grupo é coeso, e a grande maioria trabalha no LASA ou é associada a este. Dos
41 docentes do DEQ-UFV, apenas seis são bolsistas de pesquisa do CNPq, três dos quais
são associados à equipe do LASA.
Até o momento, dezenas de estudantes realizaram trabalhos de IC, monografia de
conclusão de curso, mestrado, doutorado ou pós-doutorado no LASA. Não temos uma lista
completa, mas os egressos de nosso grupo de pesquisa têm se destacado em diversas
atividades após sair desse laboratório. Muitos ex-alunos de IC realizaram mestrado em
outras instituições, enquanto egressos no mestrado continuaram sua formação em nível de
doutorado nas mais importantes universidades do Brasil. Com a implantação do doutorado
em Agroquímica, vários egressos do mestrado têm continuado sua formação na própria
UFV.
Diversos alunos que passaram pelo LASA tornaram-se docentes e pesquisadores
em outras instituições, implantando seus próprios grupos de pesquisa. Apenas para ilustrar,
cito, entre outros, os seguintes nomes: Gelson Conceição, professor livre-docente da USP;
Vanderlúcia F Paula, professora titular da UESB-BA; Patrícia Fontes, professora da UFES;
Vânia Valente, professora da UFV – Campus Rio Paranaíba; Maria Lúcia Ferreira,
pesquisadora da EMBRAPA; Cleber José da Silva, professor da UFSJ – Campus Sete
Lagoas; Juliana de Lana Passos, professora da UFES; Adilson Vidal Costa, professor da
UFES; Flaviano Silvério, professor da UFMG; e Robson Ricardo Teixeira, professor da
UFV.
143
Nesse sentido, minha candidatura a uma nova posição acadêmica tem como meta o
estabelecimento de uma nova carreira, em que devo dar continuidade aos trabalhos que
venho desenvolvendo nas várias esferas de atuação docente. Como o Departamento de
Química da UFMG se constitui em um ambiente novo, com uma enorme possibilidade de
cooperações e com especialistas em muitas áreas da Química, antevejo que meu trabalho
deve extrapolar ao proposto no projeto de pesquisa apresentado no processo de inscrição.