Fundamentos Da Língua Portuguesa

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FUNDAMENTOS

DA LÍNGUA
PORTUGUESA

Leticia Sangaletti
Tipos textuais – a estrutura
das dissertações expositivas
e argumentativas
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Identificar a estrutura esperada de um texto preponderantemente


dissertativo.
„„ Reconhecer e elaborar sequências dissertativas na construção de
gêneros variados.
„„ Desenvolver estruturas textuais dissertativas (expositivas e argumentativas).

Introdução
O tipo textual dissertativo se caracteriza pela exposição de uma ideia,
pela defesa de um ponto de vista ou, ainda, pelo questionamento acerca
de determinado assunto. Neste texto, você vai se dedicar ao exame
dessas sequências discursivas. Assim, vai buscar, como produtor e leitor,
compreender e aplicar melhor os pressupostos que as regem.

A estrutura de um texto preponderantemente


dissertativo
Se você buscar uma definição de dicionário, vai ver que dissertação é definida
como discorrer, falar, argumentar, discursar, explicar sobre um tema proposto,
defender um ponto de vista ou informar.
Tanto o tipo textual argumentativo quanto o expositivo são, geralmente,
dissertativos quando o autor escreve sobre determinado tema, conceituando e
expondo todo o conhecimento que possui sobre ele. O intuito desses textos é,
por meio de uma análise objetiva dos fatos, fazer com que o leitor considere
as informações coerentes.
2 Tipos textuais – a estrutura das dissertações expositivas e argumentativas

Para Costa (2005, p. 182), “[...] a dissertação estaria ligada à representação


do pensamento e do raciocínio, uma realidade mais complexa e sua exploração
didática é, normalmente, prevista para os níveis de ensino mais avançados,
especialmente para o ensino médio.”.
A seguir, você pode ver as partes em que se divide a estrutura da dissertação.

„„ Introdução: é a parte que apresenta a tese, o ponto de vista ou a pre-


missa. Esses elementos são pistas que conduzem o leitor à dedução da
abordagem apresentada na tese.
„„ Desenvolvimento: é o corpo do texto, no qual se apresentam os fatos
e exemplos que constituem os argumentos do autor para convencer o
leitor do seu ponto de vista.
„„ Conclusão: trata-se do desfecho. Ao retomar a tese, apresenta uma
reflexão final.

Nos tipos textuais descritos por autores como Marcuschi (2002), não há um tipo disser-
tativo. O que existe são os tipos argumentativos e expositivos, e ambos, geralmente, são
dissertativos. Além disso, há o gênero textual dissertação, que é bastante trabalhado
nas escolas e aparece em provas de vestibular, por exemplo.

Estruturas textuais dissertativas


O texto dissertativo-argumentativo também é conhecido como opinativo. Ele
desenvolve ideias por meio de estratégias argumentativas, de modo a convencer
o interlocutor. A estrutura dos textos de tipo argumentativo é dividida em três
partes, como você pode ver a seguir.

„„ Ideia principal: é a parte em que se apresenta a introdução.


„„ Desenvolvimento: expõe os argumentos e aspectos que o tema envolve.
„„ Conclusão: é uma síntese da posição assumida. Nos textos desse tipo,
você vai encontrar posicionamentos pessoais, exposição de ideias e
defesa de um ponto de vista.
Tipos textuais – a estrutura das dissertações expositivas e argumentativas 3

Já o texto dissertativo-expositivo tem a finalidade de apresentar informações


acerca de um fato ou objeto, enumerando características com linguagem clara
e concisa. O interlocutor conceitua e expõe um tema. Para isso, usa todo o
seu conhecimento sobre o assunto, de maneira impessoal, sem julgamento de
valor e sem o propósito de convencer o leitor.

Para saber mais sobre o processo, leia o texto “O gênero textual dissertação: Um caso
de referenciação anafórica” (VIANA FILHO, 2006).

Sequências dissertativas na construção de


gêneros variados
As sequências discursivas dissertativas-argumentativas possuem como caracte-
rísticas o uso de estratégias argumentativas e o convencimento do interlocutor.
Os gêneros textuais que fazem uso da estrutura argumentativa são: ensaio,
carta argumentativa, dissertação argumentativa, editorial, texto de opinião,
diálogo argumentativo, carta de leitor, carta de reclamação, carta de solicitação,
debate regrado, assembleia, discurso de defesa (advocacia), resenha crítica,
artigo de opinião ou assinado, editorial e ensaio.
As sequências expositivas têm como características a conceituação e a trans-
missão de informações de forma objetiva. Elas se concretizam em gêneros como
reportagem, resumo, fichamento, artigo científico, seminário, texto expositivo em
livro didático, conferência, palestra, entrevista com especialista, texto explicativo,
tomada de notas, resumo de textos, resenha, relatório científico e relatório oral de
experiências. As exposições orais ou escritas entre professores e alunos numa sala
de aula, os livros e as fontes de consulta são exemplos de sequências expositivas.
A seguir, veja as sequências dissertativas usadas na construção de gêneros.

Exemplo 1: texto opinativo


Vale a pena investir em prevenção para evitar o bullying
Quando uma pessoa se sente prejudicada pelo ato de outra, uma das
formas de ser compensada é por uma indenização financeira, conseguida
através do Poder Judiciário. Indenizar quer dizer reparar.
4 Tipos textuais – a estrutura das dissertações expositivas e argumentativas

Têm certas coisas que dificilmente vão ser reparadas pelo dinheiro,
principalmente quando dizem respeito à esfera moral.
Todo mundo já ouviu falar do bullying, que, apesar de ser um fenômeno
antigo e permear todos os tipos de relações sociais, parece algo moderno
e que se restringe à relação entre alunos de uma escola.
Bullying é um termo usado para descrever a vitimização de uma pessoa
por outra, com o intuito de demonstrar seu poder. Pode variar de ofensas
verbais até atos físicos violentos.
A vítima geralmente tem características pessoais mais frágeis, como,
por exemplo, ser tímido ou apresentar algum aspecto físico marcante.
Em Belo Horizonte, um jovem foi condenado a pagar a uma antiga
colega de classe o montante de R$ 8 mil por ter, segundo dizem, prati-
cado o bullying.
Há dois anos, colocou-lhe apelidos e fez insinuações maldosas. O
juiz considerou que para tudo há um limite. Para os pais do rapaz, suas
atitudes não passaram de brincadeira.
A garota também não interpretou assim e recorreu à escola, que
disse ter tomado atitudes para mudar o comportamento do aluno, como
transferi-lo de sala e repreendê-lo. Porém, as ofensas continuaram, sendo
necessária a interferência da Justiça.
Um ato agressivo realmente não pode passar desapercebido. Não
acredito que a indenização vá cicatrizar a ferida de um ou transformar
a conduta do outro. Apenas servirá para que o sofrimento da garota
seja vingado e o comportamento do rapaz punido (a punição será para
seus pais).
Mudança efetiva
Esse tipo de violência tem acontecido muito em ambiente escolar. Há
versões modernas como o cyberbullying, que são agressões via internet
ou celular. Reprimi-lo, como a escola e a Justiça tentaram fazer, terá pouca
chance de provocar uma transformação. Na verdade, a repressão impede
uma mudança efetiva.
Apesar de esses atos serem frequentes, pouco espaço tem existido
nas escolas para reflexão, havendo apenas ações repressivas quando
eles vêm à tona. Ora, o ser humano tem um lado agressivo e negá-lo ou
colocá-lo no fundo de um poço não impedirá sua manifestação. Pelo
contrário, poderá dar-lhe forças.
As ações escolares para combater o bullying devem ser no sentido
de preveni-lo, onde mais que seguir uma conduta, o aluno possa dar
sentido a ela, considerando a si e ao outro parte do mundo. Quando
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algo é questionado e pensado, propicia a tomada de consciência de sua


dimensão e importância. O outro poderá ser visto como alguém que
também tem sentimentos.
Um trabalho nesse sentido deve fazer parte do dia a dia de uma
escola e envolver a família dos alunos. Muito do que somos e como nos
expressamos tem sua origem lá. É necessário que ambos ajudem os jovens
a se construir como pessoas, não só no que aprendem, mas como agem.
Provavelmente a indenização não servirá de reparação para nada no
caso do acontecimento mineiro. Porém, não deixa de ter a função de
consolo para a vítima e sua família. Para outros possíveis casos, vale a
pena investir na prevenção. (MATURANO, 2010).

O texto de opinião que você acabou de ler no Exemplo 1 é uma dissertação


argumentativa. Nela, a psicóloga e psicopedagoga Ana Cássia Maturano
(2010) argumenta sobre a importância da prevenção contra o bullying. Há,
por exemplo, nos três primeiros parágrafos, a introdução do tema, que pode
ser entendido na seguinte frase: “Todo mundo já ouviu falar do bullying,
que, apesar de ser um fenômeno antigo e permear todos os tipos de relações
sociais, parece algo moderno e que se restringe à relação entre alunos de uma
escola.”. Depois, no desenvolvimento, a profissional argumenta, a partir de
um caso em escola, que repreensão não tem bons resultados: “Reprimi-lo,
como a escola e a Justiça tentaram fazer, terá pouca chance de provocar uma
transformação. Na verdade, a repressão impede uma mudança efetiva.”. Ao
final, conclui dizendo que vale a pena investir na prevenção, como no trecho
a seguir: “Provavelmente a indenização não servirá de reparação para nada no
caso do acontecimento mineiro. Porém, não deixa de ter a função de consolo
para a vítima e sua família. Para outros possíveis casos, vale a pena investir
na prevenção.” (MATURANO, 2010).

Exemplo 2: trecho de reportagem


Após sofrer bullying na escola por querer estudar insetos, garota
de oito anos vira coautora de artigo acadêmico
Um ano depois, o bullying que uma garota sofreu na escola por querer
estudar insetos virou pesquisa científica, da qual ela é coautora, com
apenas oito anos. Sophia Spencer vive no Canadá e, segundo a mãe,
Nicole, ama insetos e quer um dia virar entomologista, nome dado aos
biólogos que estudam os insetos em seus vários aspectos. A paixão da
menina, porém, não era bem recebida pelos colegas de escola, e a mãe,
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depois de tentar de várias maneiras incentivar o hobby da filha para que


ela não desistisse dele, decidiu pedir ajuda.
Era agosto de 2016 quando a Sociedade de Entimologistas do Canadá
recebeu uma carta de Nicole com um pedido: ‘Se alguém pudesse talvez
conversar com ela mesmo por cinco minutos, ou alguém que não se
importaria de trocar cartas com ela, eu agradeceria muito. Quero que
ela ouça de um especialista que ela não é esquisita ou estranha (como
as crianças a chamam) por amar insetos e bichos’.
Os entimologistas decidiram, então, usar seu perfil no Twitter para
pedir o e-mail de outros pesquisadores e pesquisadoras interessados
em ajudar a mãe de Sophia a apoiar a vontade da menina de seguir
uma área científica.
A ideia viralizou com a hashtag #BugsR4Girls (‘insetos são para meninas’,
em tradução livre). ‘Uma garotinha que ama insetos está sofrendo bullying
e precisa do nosso apoio. Mandem seu e-mail por DM e nós conectamos
vocês’, dizia o tuíte, que foi compartilhado mais de mil vezes: [...]
Muitas pessoas decidiram ajudar, inclusive mulheres que, durante a
infância, eram como Sophia e acabaram seguindo carreira científica na
área [...] (G1, 2017).

No Exemplo 2, você leu uma reportagem que conta a história de uma menina
que sofria bullying por gostar de estudar insetos (G1, 2017). Na introdução do
texto, o leitor conhece Sophia: “Sophia Spencer vive no Canadá e, segundo
a mãe, Nicole, ama insetos e quer um dia virar entomologista, nome dado
aos biólogos que estudam os insetos em seus vários aspectos.”. Além disso,
o leitor descobre o que aconteceu com ela: “A paixão da menina, porém, não
era bem recebida pelos colegas de escola, e a mãe, depois de tentar de várias
maneiras incentivar o hobby da filha para que ela não desistisse dele, decidiu
pedir ajuda.”. Em seguida, no desenvolvimento do texto, é possível saber o
que ocorreu após a mãe pedir ajuda para a Sociedade de Entimologistas: “Os
entimologistas decidiram, então, usar seu perfil no Twitter para pedir o e-mail
de outros pesquisadores e pesquisadoras interessados em ajudar a mãe de
Sophia a apoiar a vontade da menina de seguir uma área científica.”. Ao final,
há a conclusão do texto, em que aparece um dos desfechos do caso: “Muitas
pessoas decidiram ajudar, inclusive mulheres que, durante a infância, eram
como Sophia e acabaram seguindo carreira científica na área.” (G1, 2017).
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BRASIL. Ministério da Educação. Hora do Enem: programa 65 - o esporte como fer-


ramenta de inclusão social no Brasil. Brasília, DF: TV Escola, 2016. 1 vídeo. Disponível
em: <https://tvescola.mec.gov.br/tve/video/hora-do-enem-programa-65-o-esporte-
-como-ferramenta-de-inclusao-social-no-brasil>. Acesso em: 16 nov. 2017.
COSTA, I. B. Gêneros textuais e tradição escolar. Revista Letras, Curitiba, v. 66, p. 177-
189, maio/ago. 2005.
G1. Após sofrer bullying na escola por querer estudar insetos, garota de oito anos
vira co-autora de artigo acadêmico. G1, Rio de Janeiro, 21 set. 2017. Disponível em:
<https://g1.globo.com/educacao/noticia/apos-sofrer-bullying-na-escola-por-querer-
-estudar-insetos-garota-de-oito-anos-vira-co-autora-de-artigo-academico.ghtml>.
Acesso em: 16 nov. 2017.
MARCUSCHI, L. A. Gêneros textuais: definição e funcionalidade. In: DIONISIO, A. P.;
MACHADO, A. R.; BEZERRA, M. A. Gêneros textuais e ensino. Rio de Janeiro: Lucerna, 2002.
MATURANO, A. C. Opinião: vale a pena investir em prevenção para evitar o bullying.
G1, São Paulo, 27 maio 2010. Disponível em: <http://g1.globo.com/educacao/noti-
cia/2010/05/opiniao-vale-pena-investir-em-prevencao-para-evitar-o-bullying.html>.
Acesso em: 16 nov. 2017.
VIANA FILHO, D. F. O gênero textual dissertação: um caso de referenciação anafórica.
2006. Dissertação (Mestrado)–Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2006.

Leitura recomendada
TRAVAGLIA, L. C. Sobre a possível existência de subtipos. In: CONGRESSO INTERNACIONAL
DA ABRALIN, 6., 2009, João Pessoa. Anais... João Pessoa: ABRALIN, 2009. p. 2632–2641.

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