Atuação Multiprofissional Na Disfagia Pediátrica

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Data de Submissão: 26/11/2018

Data de Aprovação: 29/04/2019


RESENHA

Atuação multiprofissional na disfagia pediátrica


Multiprofessional action in pediatric dysphagia

Vanessa Souza Gigoski Miranda1, Camila da Cunha Niedermeyer1, Micheli da Silva Tarnowski1, Karoline Flach1,2, Katherine Flach1, Lisiane De
Rosa Barbosa3

Palavras-chave: Resumo
Pediatria, O objetivo desse manuscrito é descrever a importância da atuação multiprofissional em casos pediátricos de disfagia
Equipe de Assistência orofaríngea, identificando aos profissionais de várias especialidades que, o envolvimento do paciente como um todo
ao Paciente, no seu processo de reabilitação, proporciona êxito. Além disso, a comunicação entre a equipe de atenção à saúde
Transtornos de do paciente deve ser priorizada, a fim de oferecer qualidade no atendimento do paciente, trocas de experiências e
Deglutição. aprofundamento de técnicas.

Keywords: Abstract
Pediatrics, The purpose of this manuscript is to describe the importance of multiprofessional performance in pediatric cases of
Patient Care Team, oropharyngeal dysphagia, identifying professionals of various specialties that the involvement of the patient as a whole
Deglutition Disorders. in their rehabilitation process provides success. In addition, communication between the patients’ health care team
should be prioritized in order to provide quality patient care, exchanges of experience and deepening of techniques.

1
Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre, Residência Multiprofissional Integrada em Saúde- Ênfase em Atenção em Terapia Intensiva -
Porto Alegre - Rio Grande do Sul - Brasil.
2
Irmandade Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, Hospital da Criança Santo Antônio - Porto Alegre - Rio Grande do Sul - Brasil.
3
Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre, Fonoaudiologia - Porto Alegre - Rio Grande do Sul - Brasil.

Endereço para correspondência:


Vanessa Souza Gigoski Miranda.
Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre. Rua Sarmento Leite, nº 245, Porto Alegre.
Brasil. CEP: 90050-170. E-mail: vanessa_gigoski@hotmail.com

Residência Pediátrica 2020;10(1):48-50. DOI: 10.25060/residpediatr-2020.v10n1-67

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A prevalência de distúrbios da alimentação na pedia- terapia medicamentosa, de acordo com as possibilidades de
tria está de 25 a 45% em crianças com desenvolvimento típico e alimentação. A contribuição do farmacêutico junto à equipe
33 a 80% em crianças com atrasos no desenvolvimento. Porém multidisciplinar, além de aumentar a qualidade e segurança
a incidência de disfagia pediátrica ainda é desconhecida. O no atendimento, proporciona a racionalização de recursos,
que se sabe é que, a incidência de disfunções de deglutição reduzindo custos com o tratamento. A atenção farmacêutica
na população pediátrica vem aumentando, devido as taxas pode ainda auxiliar na adesão dos pacientes ao tratamento,
crescentes de sobrevivência de crianças prematuras, com baixo fazendo-se essencial para o alcance dos objetivos e resultados
peso ao nascer e crianças com históricos médicos complexos1. terapêuticos9,10.
A fonoaudiologia atua no diagnóstico e terapia das A fisioterapia nos casos de disfagia está relacionada
disfagias orofaríngeas, relacionando-se com outras profissões principalmente com o funcionamento adequado do sistema
da saúde, a fim de garantir que os aspectos de deglutição e respiratório, visando a manutenção ou recuperação da função
alimentação possam ocorrer de forma segura e eficiente. pulmonar para garantir a permeabilidade das vias aéreas11.
Também, o fonoaudiólogo não somente atua na assistência Cabe salientar a correlação existente entre a fraqueza mus-
direta à criança com disfagia orofaríngea, como colabora para cular respiratória e as disfunções da deglutição, que podem
estabelecer os protocolos de avaliação e condutas da equipe aumentar o risco de aspiração traqueal e, consequentemente,
multidisciplinar com esse paciente, orienta os cuidadores as a instalação das pneumonias aspirativas. Na ausência de força
formas, posições e técnicas para oferta de via oral de forma muscular respiratória, os volumes e capacidades pulmonares
segura, e previne possíveis alterações2,3. sofrem redução, o que afeta o sistema de proteção das vias
A disfagia em crianças pode resultar em risco de cres- aéreas durante a deglutição. Assim, pode-se destacar algumas
cimento deficiente, desnutrição, deficiência de nutrientes e até intervenções possíveis dentro do tratamento fisioterapêutico,
mesmo atrasos no desenvolvimento4. É papel da nutricionista como a desobstrução das vias aéreas, o manejo de secreções
avaliar e fornecer diagnóstico nutricional do paciente, incluin- e manutenção dos volumes pulmonares, o que colabora dire-
do histórico nutricional, avaliação do crescimento, avaliação tamente para os aspectos de coordenação entre respiração e
laboratorial, sinais clínicos nutricionais e ingestão alimentar, deglutição nas crianças12.
bem como garantir as necessidades nutricionais adequadas a A atuação da psicologia oferece apoio aos pacientes
partir da forma ou consistência mais segura para a alimentação e aos familiares durante o processo de readaptação ou im-
do mesmo. A terapia nutricional na disfagia tem como objetivo possibilidade de alimentação, proporcionando espaço para
de manter ou recuperar o estado nutricional e a hidratação acolhimento e trabalho com os sentimentos vivenciados nessa
do paciente com a dieta adaptada às suas necessidades5,6,7,8. situação, além de auxiliar com estratégias para enfrentamento
Diversos estudos relatam o impacto positivo da da nova condição de alimentação e no processo de reabilitação
participação do farmacêutico clínico no cuidado ao paciente. da mesma. De acordo com Torres13, a importância do psicólogo
O papel do farmacêutico clínico é maximizar a terapia medi- concentra-se na tarefa de atuar como um facilitador no proces-
camentosa e minimizar os riscos, promovendo o uso seguro so dos pacientes, assim como de seus familiares, de adaptação
e racional de medicamentos9. e de mudança de papéis diante da condição de adoecimento.
O uso de muitos medicamentos, conhecido como O adoecimento de uma criança atinge inevitavelmente todo o
polifarmácia, aumenta o risco de ocorrer eventos adversos. sistema familiar, podendo ocasionar o surgimento de diversos
Logo é imprescindível que haja o monitoramento destes pos- sentimentos, como angústia, apreensão e até mesmo o desen-
síveis eventos, buscando reduzir problemas relacionados a volvimento de quadros psicopatológicos, como resultado das
medicamentos e, consequentemente, propiciando a melhora mudanças que são exigidas à criança e à família neste contexto,
da qualidade de vida dos pacientes9,10. Dentre os principais especialmente quando se faz necessária a hospitalização14,15.
parâmetros avaliados na prescrição estão a via de administra- Tendo em vista este cenário, o acompanhamento psicológico
ção, frequência e dose dos medicamentos, compatibilidade, poderá auxiliar na preparação da criança e da família acerca
reconstituição e diluição de medicamentos endovenosos, in- dos procedimentos e intervenções terapêuticas que se farão
terações medicamentosas (medicamento versus medicamento necessários, no sentido de provocar o levantamento de estra-
e medicamento versus alimento), alergias, monitoramento de tégias de enfrentamento16.
reações adversas ao medicamento (RAM) e avaliação do uso Permeando a atuação de todos os profissionais, o
de medicamentos via sonda, visando fornecer as orientações médico, além de ser o responsável por fazer a solicitação de
adequadas para a administração9. intervenção da equipe multiprofissional, muitas vezes, é o
A atuação da farmácia clínica nesses casos de disfa- profissional que inicialmente identifica os sinais e sintomas
gia pediátrica, auxilia na orientação aos demais profissionais da criança disfágica. Para além disso, é o profissional que está
sobre a terapia medicamentosa do paciente e seus efeitos sempre presente nas unidades de saúde, sendo responsáveis
colaterais, visto que alguns medicamentos podem causar xe- pela prescrição do paciente. Cabe ao médico também, identifi-
rostomia, sialorreia e sonolência, dificultando as terapias com car as condições clínicas iniciais para reintrodução de via oral,
o paciente disfágico, além do auxílio com a forma de ingerir a para início de acompanhamento fonoaudiológico.

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Um estudo recente identificou que por mais que os 7. Dodrill P, Gosa MM. Pediatric dysphagia: physiology, assessment, and
profissionais de saúde referissem saber o que é a disfagia, esse management. Ann Nutr Metab. 2015;66(Suppl 5):24-31.
conhecimento ainda é muito incipiente no que diz respeito aos 8. Van den Engel-Hoeka L, Hardingb C, Van Gervena M, Cockerillc H. Pediatric
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cuidados com o paciente disfágico e sobre a administração por 2017 May;10(2):95-105.
via oral de medicamentos17. Portanto, a atuação multiprofis- 9. Ferracini FT, Almeida SM, Locatelli J, Petriccione S, Haga CS. Implantação
sional com esses pacientes proporciona integralizar o cuidado, e evolução da farmácia clínica no uso racional de medicamentos. Einstein.
e compartilhar os conhecimentos específicos de cada área, 2011;9(4 Pt 1):456-60.
objetivando à reabilitação da criança disfágica. 10. Correr CJ, Otuki MF, Soler O. Assistência farmacêutica integrada ao proces-
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