Ser Ilustrador - 100 Maneiras de Desenhar Um Pássaro
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FELIX SCHEINBERGER
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FELIX SCHEINBERGER
Ser ilustrador
100 maneiras de desenhar um pássaro
ou como desenvolver sua profissão
FELIX SCHEINBERGER
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GG
®
...um pássaro?
Introdução
tir e aprofundar. Elas podem apresentar um con- Nos últimos anos, a ilustração se tornou um dos
teúdo ou revelar aspectos artísticos – ou podem ser ramos mais importantes dentro do design. Ilustrar
simplesmente bonitas. As ilustrações são tão diver- está na moda!
sas quanto as pessoas que as criam.
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No entanto, a ilustração é um gênero de arte bas- Aqui serão abordadas as premissas básicas da pro-
tante simples. Em parte, isso se deve ao próprio fissão de ilustrador, desde o tema do dinheiro até
meio – de modo geral, histórias em quadrinhos, a questão do local de trabalho mais apropriado.
livros e imagens são, por natureza, silenciosos – e, Como conseguir trabalho? Como negociar com
em parte, às características daqueles que traba- sucesso? Quanto cobrar por uma ilustração? Como
lham com ele, os ilustradores. gerenciar o dia a dia como ilustrador? Tentarei
esclarecer conceitos como direitos de uso, socieda-
Nós, ilustradores, somos pessoas estranhas. Mui- des de gestão coletiva ou previdência social de
tos de nós vivemos e produzimos dentro de nossos artista e, é claro, apresentarei uma ampla varie-
próprios mundos visuais, criando coisas mágicas. dade de técnicas de ilustração.
Há muito tempo nutrimos uma paixão por ilustra-
ções. Isso sem falar que alguns de nós sempre sou- No entanto, estou consciente de que, em um livro
beram que queriam trabalhar com imagens ou sobre um assunto tão complexo como ilustrações,
quadrinhos, ou seja, que queriam ser ilustradores. não será possível dar uma única resposta a certas
Enquanto nossos colegas de escola ainda se per- perguntas. Além disso, vale a pena já deixar claro
guntavam que carreira deveriam seguir, a maioria que nem todas as questões serão respondidas aqui.
de nós já sabia desde o início da juventude que De toda forma, acredito que a impossibilidade de
queria trabalhar com imagens. No entanto, muitos levar um trabalho até o fim não seja razão sufi-
ilustradores, especialmente os mais jovens, sen- ciente para não darmos o primeiro passo.
tem-se um tanto perdidos, como se estivessem no
escuro, quando confrontados com perguntas do Com isso em mente, espero que este livro ajude a
tipo “O que devo fazer para me tornar um ilustra- tornar mais fácil seu dia a dia como ilustrador. Todo
dor?” ou “Como ganhar a vida com isso?”. mundo é diferente. E da mesma forma que certas
coisas nos parecem difíceis, outras nos parecem
Este livro procura trazer um mais fáceis.
pouco de luz para essa escuridão
e responder o maior número Vamos começar, então, pelas mais fáceis!
possível de suas perguntas.
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HENDRIK JONAS
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Sumário
Cores predominantes 58
Planos e perspectivas 60
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Ganhando a vida como ilustrador
Produtividade e gerenciamento
do tempo 171
ALEXANDRA JUNGE
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como se tornar
um ilustrador?
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O medo do papel em branco
Bom, de toda forma, não estou perdido.
V
Sei que ainda estou em algum lugar do Alasca.
PATO DONALD, TEMPO QUENTE NO ALASCA, 1944
LORENZO MATTOTTI
No entanto, a impossibilidade de apagar um erro É por isso que costumo dar o seguinte conselho:
usando uma tecla de atalho tem uma vantagem lide com o medo do papel em branco da mesma
importante: somos levados a aprender com nossos forma como um ator lida com o medo do palco. Esse
erros. Quando ficamos irritados com um erro e medo existe – e mesmo os profissionais mais expe-
não somos capazes de desfazê-lo com um simples rientes precisam lutar contra ele uma vez ou outra.
comando de computador, esse erro permanece em
nossa memória. Por outro lado, quando não fica- Suba no palco e comece a atuar.
mos irritados, acabamos nos esquecendo do erro – E, se você cometer algum erro,
e eventualmente voltamos a repeti-lo. tudo bem. Você cometeu um erro.
Tem outra coisa muito interessante sobre os erros: O maior erro é deixar de começar. Você verá que
eles oferecem um enorme potencial criativo. Ao suas ilustrações o deixarão satisfeito e, posterior-
fazermos apenas aquilo que conseguimos fazer mente, ficará orgulhoso de um “erro” bem-suce-
sem errar, deixamos de aproveitar a chance de des- dido.
cobrir novos territórios. Entretanto, processos cria-
tivos vivem do imprevisto, do incontrolável, ou
seja, de erros. Às vezes, é justamente a mancha de
café ou o traço errado que nos traz uma ideia nova
e nos leva a produzir desenhos melhores.
SARAH PALISI
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Talento
Talento nada mais é do que energia e resistência.
V
HEINRICH SCHLIEMANN
ocê ainda se lembra das aulas de edu- Permita-me dizer algumas palavras sobre talento.
cação física, aquela espécie de ritual
estranho que se repetia semanal- Desenhar é uma das primeiras técnicas culturais
mente na escola e que parece ter sido que aprendemos, ainda quando crianças. Muito
criado para provar que alguns jamais conseguiriam antes de conseguirmos escrever ou calcular, já tive-
superar suas limitações, enquanto outros tinham a mos alguma experiência com lápis de cor e papel.
chance de encontrar uma compensação pelos maus E tem mais: todos nós adorávamos desenhar. Anos
resultados obtidos nas aulas de matemática? Nes- mais tarde, quando voltamos a olhar para nossas
sas aulas, apenas os alunos que já sabiam jogar primeiras obras, muitas vezes nos surpreendemos
bola ou que já tinham uma boa resistência física com o prazer e a satisfação que tínhamos ao dese-
eram bem-sucedidos. A maioria das demais crian- nhar. Um sol, uma galinha, uma casa, um pai, uma
ças mal podia esperar para abandonar de vez a prá- mãe, uma criança... Podemos inclusive dizer que
tica de atividades esportivas. todos nós tínhamos talento, segundo o conceito
tradicional dessa palavra. Então, por que é que nem
No mundo da ilustração, encontramos pessoas todo mundo virou desenhista? Por que o mundo
que vivenciam uma experiência semelhante a essa. não é povoado de ilustradores?
No entanto, aqui a questão não são exatamente as
habilidades ou incapacidades físicas de cada um, A maioria das potenciais carreiras
mas sim o chamado “talento”. Afinal, assim como
como ilustrador não vai adiante
acontece no esporte, quando se trata de ilustrar
devido ao que se espera de uma
existe também um certo preconceito, segundo o
carreira como ilustrador e a uma
qual o talento vem de berço. Uma implicação lógica
desse pensamento é dizer que, quando uma pessoa
suposta falta de talento.
não nasce com talento, ela dificilmente terá a possi-
Parte da resposta pode ser encontrada nas expec-
bilidade de aprender a desenhar. E, já que essa pes-
tativas. Afinal, por trás da criança desenhista, há
soa não foi brindada com esse presente divino,
geralmente um adulto dizendo: “Que desenho lindo
que chances ela terá de conseguir bons resultados?
você fez!”
É por pensarem assim que muitos jamais voltam a
Esse elogio – bem como o destrutivo “Aqui você
encostar em um pincel ou um lápis de cor.
não pode desenhar”, que ouviremos em algum
a gaviota
o estorninho-
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-comum
a pega-rabuda
NADJA BUDDE
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momento posterior – adquire vida própria em rela- Quando penso no
ção à nossa “carreira” como ilustrador. Ele se torna tempo em que eu estava
independente. O prazer de ganhar um elogio passa estudando desenho e com-
a ser um fim em si mesmo e, pouco a pouco, vai paro os prognósticos de car-
substituindo o prazer de simplesmente desenhar reira dos meus colegas com o
alguma coisa. Logo a seguir, quase todas as crian- que realmente veio a acontecer
o corvo
ças entram em uma fase em que preferem copiar com eles, tudo o que posso dizer é
desenhos de forma a obter ilustrações o mais pare- que dificilmente sabemos quem vai se dar bem ou
cidas possível com o “mundo real”. O desenho – ou, não. Muitos alunos de “talento”, que aparente-
de forma mais ampla, a comunicação e a criativi- mente tinham um futuro ótimo diante de si, acaba-
dade – se torna um veículo para ganhar reconheci- ram por seguir caminhos diferentes. Por outro lado,
mento. alunos supostamente “fracos” encontraram um
caminho formidável. Segundo minha experiência,
Por outro lado, o medo de se tornar incapaz de o fator mais importante é o compromisso que você
satisfazer as expectativas dos outros leva a um blo- assume consigo mesmo. Se você é preguiçoso, seu
queio da criatividade individual. Muito cedo deixa- “talento” não o ajudará.
mos de desenhar apenas por desenhar e, com o Se há uma coisa que não podemos aprender é a ter
passar do tempo, vamos dando cada vez mais interesse pelo desenho. No entanto, se preservar-
importância à opinião de críticos ou admiradores. mos o prazer de desenhar, fica mais fácil desenca-
Quanto mais velhos ficamos, maiores vão se tor- dear um automatismo positivo.
nando nossas exigências em relação às nossas pró-
prias habilidades artísticas. Em algum momento, Quando gostamos de fazer uma
chegamos a um limite. Nesse ponto, os elogios dos coisa, costumamos fazê-la várias
nossos pais já não são tão entusiasmados quanto vezes. E, quanto mais vezes
antes. E, quando decidimos fazer um curso profis-
a fizermos, melhores nos
sionalizante de desenho, logo percebemos que a
tornaremos.
concorrência continuou trabalhando enquanto
nós ficamos para trás.
Por esse motivo, o termo “talento” é, na minha opi-
nião, superestimado. Muito mais importante do
Porém, nós, humanos, estamos sempre apren-
que o talento é a paixão pela ilustração.
dendo. Quando chegamos ao mundo, tudo o que
conseguimos fazer é comer, dormir e digerir. Todo
o resto – de tocar piano a fazer geleia e lutar judô –
precisa ser aprendido. o
pa
Eu acredito que aquilo que costumamos chamar to
de “talento” seja, acima de tudo, uma espécie de
“empurrão inicial”. É claro que as aulas de música
vão parecer mais fáceis para uma criança cujos pais
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JONAS LAUSTRÖER
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Ilustrar significa tomar decisões