Resumo I - Ortónimo-Fernando Pessoa
Resumo I - Ortónimo-Fernando Pessoa
Resumo I - Ortónimo-Fernando Pessoa
História:
Fernando Pessoa
Fernando Pessoa é o criador de uma “pequena humanidade”, constituída por figuras “exatamente humanas” com personalidade
própria, como:
Alberto Caeiro- deseja ser natural;
Ricardo Reis;
Álvaro de Campos.
A sua criação literária reflete o “drama-em-gente”, com cada personalidade a ter temperamento, consciência, ideias e sentimentos
diversos do seu executor.
Temáticas:
Fingimento artístico;
Dor de pensar;
Sonho e realidade;
Nostalgia da infância.
Poesia:
Pessoa foi um poeta modernista e como tal, a sua poesia integra traços característicos de correntes artísticas da vanguarda, como o
Futurismo, o Sensacionismo, o Decadentismo, e revela, também influencias de Cesário Verde.
Fernando Pessoa
Heterónimos e semi-heterónimos- Surgem como estados de alma, com múltiplas vozes a exprimirem perceções, conhecimentos e
entendimentos da vida e do mundo.
Heterónimos- figura criada por um autor, com personalidade e estilo próprio, distintos dos desse autor.
Poesia pessoana- drama de personalidades que o leva à dispersão, em relação ao real e a si mesmo; é constante o conflito entre o
pensar e o sentir, que revela a dificuldade de conciliar o que idealiza com o que consegue realizar.
Poesia do ortónimo
A poesia do ortónimo centra-se no fingimento artístico, na dor de pensar, na dicotomia sonho/realidade e na nostalgia de infância.
Fingimento artístico- “Autopsicografia” e “Isto” são composições nas quais o poeta se assume como um “fingidor”, isto é,
alguém que recria os sentimentos por meio da imaginação, do intelecto.
Esta atitude de intelectualização dos sentimentos (“ o que em mim sente ‘stá pensando”) provoca no sujeito poético um extremo
sofrimento, a dor de pensar, e desejos de conseguir ter uma “inconsciência consciente” e de conseguir formas de evasão. Daí a
valorização do sonho, como fuga possível à realidade, e da infância, época recordada com saudade e nostalgia, associada à felicidade
e unidade do “eu”.
Dicotomia
Dicotomia- coisas que se opõem: “Emoção e pensamento”.
Emoção- sentimento;
Pensamento- abstração, intectualização.
Dor subjetiva
Obrigam ao movimento- simboliza uma
dependência entre a razão e a emoção. E assim nas calhas de roda
Estrutura externa:
Número de versos: 4- designação da estrofe: quadra;
Verso: 7 silabas métricas (heptassílabo/ redondilha maior);
Rima: cruzada (abab)
1º estrofe:
“o poeta é um fingidor”- máxima a partir da qual vai ser desenvolvida a teoria da criação poética.
O sujeito poético afirma que a dor que sente é diferente da dor que exprime no poema.
Dores:
Sentida pelo poeta- (dor vivida) “matéria-prima”; o poeta finge a dor, isto é, trabalha a dor;
Escrita pelo poeta- (dor contada);
Dos leitores- (dor sentida pelos leitores).
“Que chega a fingir que é dor”- 1º “que” introduz uma oração subordinada consecutiva e o 2º “que” introduzir uma
oração subordinada substantiva completiva
Intelectualizar= abstração.
“Finge tão completamente que chega a fingir que é dor, a dor que deveras sente.”
1ª- Oração subordinante;
2º Oração subordinada adverbial consecutiva (pergunta: é uma consequência, o que aconteceu?)
3ª Oração subordinada substantiva completiva (pergunta: o quê?)
4ª Oração adjetiva restritiva (o “que” refere-se à dor, dor é um adjetivo (“adjetiva”) e restringe (“restritiva”).
2º estrofe:
O poeta dirige-se aos leitores- os leitores fazem a interpretação que não corresponde à dor que o poeta sente nem à dor que
transmite/ expressa no poema.
Fernando Pessoa
No fundo, os leitores apenas sentem uma dor “imaginária” que corresponde a uma dor que está presente na sua memória de
acontecimentos semelhantes pelos quais já tenham passado.
“Não as duas que ele teve,/ Mas só a que eles não têm”- a utilização destes pronomes pessoais, concretiza um
mecanismo de coesão referencial.
3º estrofe:
Há uma dicotomia: “pensar/sentir” - expressa na razão e pelo coração, mostra que a razão se sobrepõe ao coração, pelo que a
poesia corresponde à intelectualização da emoção.
Emoção-leitores
Razão- intelectualização= abstração.
O poeta parte das emoções e intelectualiza-as.
Antítese: razão/emoção.
“Esse comboio de corda/ Que se chama o coração.”- a oração subordinada desempenha a função de modificador do
nome restritivo.
Perguntas:
1. Ao longo do poema, é usada a 3ª pessoa verbal, já que o sujeito lítico se dedicar a tecer considerações de caracter abrangente
sobre a construção poética, que conforme o título anuncia, se aplicam a si próprio também. É utilizado a 3ª pessoa do singular
de forma a conferir uma universalidade e um distanciamento que a 1ª pessoa não permitiria.
2. Ainda que sinta, o poeta necessita de transformar, por meio da razão, as suas emoções, de modo a transmiti-las aos leitores.
Assim, a sua dor real passa a ser uma dor “fingida”, literariamente explorada. Aos leitores cabe interpretarem o que leem, sem
que experimentem os sentimentos do poeta. Sentem apenas aquilo que a sua interpretação determina.
3. A metáfora aproxima as duas entidades envolvidas no processo de comunicação poética, em que se concretiza o fingimento (a
“razão” e o “coração”).
3.2. !!A metáfora esclarece as relações razão/coração sobre que assenta a teoria expressa pelo sujeito poético. Tal
como o comboio de corda é continuamente guiado pelas calhas, assim o coração (fonte dos sentimentos e das emoções)
deve ser, segundo a teoria enunciada nas estrofes anteriores, orientado pelo pensamento, pela abstração. O coração
sente e o pensamento intelectualiza o que o coração sente. O movimento circular e repetitivo do comboio sugere a
constante interligação e interna dependência de ambos.
Fernando Pessoa
(É só) Isto- tentativa de resposta a quem o acusa Isto Pronome demonstrativo- artigo neutro
de mentir/fingir; tem um tom pejorativo/ irónico
Análise:
Estrutura externa:
Estrofes- quintilha;
Verso- hexassílabo
Rima- cruzada e emparelhada
1º estrofe:
Recusa qualquer equivalência/semelhança entre o fingimento e a mentira, já que o fingimento poético é fruto da imaginação não do
coração.
Nesta perspetiva o fingimento poético resulta da intelectualização do sentir/emoção.
Fernando Pessoa
2º estrofe:
“Tudo o que sonho ou passo”- não é igual, o que o faz sentir transtornado /frustrado.
Parte do que sonha e do que vive, desejando alcançar “essa cousa que é linda” (v10.). No entanto, esta oposição entre o sonho e a
realidade constitui simbolicamente uma dificuldade, pelo que esta beleza que pretende alcançar se torna inacessível.
O poeta tem a noção que existe muito mais do que ele consegue alcançar, pois o pensamento vai muito mais além.
3º estrofe:
Para ultrapassar a dificuldade sentida, o sujeito poético procura libertar-se de tudo o que o rodeia, ou seja, das suas emoções mais
imediatas, de modo a alcançar o que é verdadeiramente belo.
Assim sendo, liberta-se da sinceridade humana, dos sentimentos espontâneos, deixando esse papel a cargo do leitor, ou seja, são
eles que devem fazer a interpretação do poema.
Perguntas:
1. Passagem em que o sujeito poético explícito o conceito de “fingimento”, conforme descrito em “Autopsicografia”: “Eu
simplesmente sinto / Com a imaginação”.
2. “Dizem que finjo ou minto”- é usado um sujeito indeterminado para aludir a todos os que revelaram uma atitude crítica face
ao fingimento poético pessoano.
2.2. “Tudo o escrevo. Não / Eu simplesmente sinto / Com a imaginação. / Não uso o coração.”- com o recurso ao advérbio, o
sujeito poético refuta os comentários que lhe são dirigidos e sintetiza a sua teoria da criação artística em 2 frases
declarativas.
2.3. “Eu simplesmente sinto”- o advérbio “simplesmente” reforça a ideia de naturalidade dos princípios poéticos de Pessoa e
introduz uma nota irónica no texto, dirigida aos que veem neles apenas uma complexa e insincera elaboração intelectual.
2.5 A ideia do “terraço”, espaço/tempo intermédio entre o que “eu” experimenta e o que deseja, é reforçada, na ultima
estrofe, pelas expressões “em meio”, “enleio” e “ [D]o que não está ao pé”
2.6. A interrogação retórica do último verso conclui e reforça as explicações do sujeito poético, antecipando novas dúvidas
face à sua teoria do fingimento e remetendo o “sentir” para o leitor.
3. O poema constitui uma espécie de “resposta poética” aos que, provavelmente na sequência de “Autopsicografia” e falhando
na interpretação deste poema, o acusavam de mentir nos poemas que escrevia. A esses, o poeta parece querer responder que a
sua teoria criativa é apenas “Isto”.
Outras notas:
A ceifeira
Estrutura externa:
Estrofes- sextilha;
Versos- Octossílabo;
Rima- cruzada
1º estrofe:
O sujeito poético contacta com a ceifeira através do som. Parte da observação da ceifeira, julgando-a feliz, ainda que ela possa ter
condições pessoais e profissionais que a podiam impedir de o ser (ceifeira, viúva)…
2º estrofe:
3º estrofe:
O sujeito poético sente-se simultaneamente alegre e triste (sentimento paradoxal) decorrente da observação.
4º estrofe:
Constatação por parte do sujeito poético de que a ceifeira canta sem pensar (v13). Por outro lado, conclui que ele está
permanentemente a pensar.
5º estrofe:
O sujeito poético deseja ser o outro (inconscientemente feliz) tal como a ceifeira, ainda que se aperceba da impossibilidade de
concretizar esse desejo.
Dicotomia (oposição): consciência/inconsciência; feliz/infeliz; sentir/pensar.
6º estrofe:
Perguntas:
1. O texto estrutura-se em duas partes. Na primeira, que ocupa as três primeiras estrofes, a atenção do sujeito poético incide
sobre o canto da ceifeira e os efeitos (contraditórios) que o mesmo exerce sobre si próprio. Na segunda, que se prolonga pelas
três últimas estrofes, o “eu” lírico manifesta o desejo de se transformar num ser mais natural, semelhante à ceifeira.
2. A ceifeira aparenta estar “feliz” (v. 2) e canta, com uma “voz” “alegre”, “como se tivesse / Mais razões p’ra cantar que a vida”
(vv. 11-12). É associada ao “campo” e à “lida”/trabalho dia´rio do campo (v. 10) e, essencialmente, atrai o sujeito poético pela
sua “inconsciência” (v. 18), que lhe permite ser “alegre”, ou seja, alcançar a felicidade.
3. O verso 14 explica os motivos pelos quais o canto da ceifeira provoca no sujeito poético sentimentos contraditórios (v. 9): ao
contrário dela, ele não consegue viver “sem razão” (v. 13) e está constantemente “pensando”.
4.1. Infinitivo pessoal (“poder ser”, v. 17, [poder] “Ter”, v. 18) e imperativo (“Derrama”, v. 15, “Entrai”, v. 22, “Tornai”, v. 22,
“passai”, v. 24).
4.2. O desejo de receber na sua alma o canto da ceifeira (vv. 15-16) mostra-se viável, ao contrário da aspiração a conseguir a “alegre
inconsciência” (v. 18) da ceifeira, mas, ao mesmo tempo, “a consciência disso!” (v. 19).
5. Através da apóstrofe aos elementos naturais (“céu”, “campo”, “canção”) e da constatação de que a “ciência”, o conhecimento,
“pesa tanto” numa “vida” “tão breve”, o sujeito poético revela o seu desejo de se aproximar mais do estado de “inconsciência” (v.
18) e manifesta, assim, a dor que sente por ser consciente (dor de pensar).
1º estrofe:
“Gato que brincas na rua/ Como se fosse na cama, / Invejo a sorte que é tua / Porque nem sorte se chama.”.
“Porque nem sorte se chama” - função sintática de modificador; Oração subordinada adverbial causal.
2º estrofe:
3º estrofe:
“Eu vejo-me e estou sem mim, / Conheço-me e não sou eu.” - Orações coordenadas copulativas
Deíticos pessoais: 4. “És” (vv. 9-10); “teu” (v. 10); “Eu” (v. 11); “vejo” (v. 11); “me” (v. 11); “estou” (v. 11); “mim” (v11);
“Conheço” (v. 12); “me” (v. 12); “sou” (v. 12); “eu” (v. 12).
Perguntas:
Fernando Pessoa
1. 1. O sujeito poético inveja o gato pela ausência de preocupações com que vive, resultado da sua irracionalidade
(“Invejo a sorte que é tua / Porque nem sorte se chama.”, vv. 3-4), pela sua calma aceitação do destino (“Bom
servo das leis fatais”, v. 5), por agir apenas por “instintos gerais” (v. 7), ou seja, comandado apenas pelos
sentimentos (“sentes só o que sentes”, v. 8), conseguindo, assim, ser “feliz” (v. 9).
2. Através do apóstrofe, o sujeito poético aproxima-se da entidade que admira e caracteriza-a usando uma
comparação. Com a comparação destaca a naturalidade com que o gato age, uma vez que está live das
convenções que nos prendem e vive apenas segundo a sua vontade e os instintos próprios de animal irracional.
3. A) A expressão destaca o facto de, num ser que age apenas por “instintos gerais” (v. 7) a “sorte” não ser um
conceito reconhecido, isto é, não pertence a um ser irracional.
3.B) “Todo o nada” que o gato é, porque não pensa no que é, lhe pertence, já que depende exclusivamente dos
seus sentidos/sentimentos. Há uma tensão sentir/pensar.
4. Os dois últimos versos do poema remetem para a situação particular do sujeito poético. Neles, o “eu” que refletiu
sobre a natureza do gato constata que dele se diferencia por não se dominar completamente, uma vez que transforma
permanentemente as suas emoções em pensamentos. Por isso, sente-se estranho face a si mesmo.
5. O poema é constituído por três quadras de versos heptassilábicos (redondilha maior) e com rima cruzada.
Realidade:
O sonho pode ser, muitas vezes, uma forma de evasão e refúgio para o sujeito poético que se sente prisioneiro no interior de si
mesmo.
Análise:
1º estrofe:
2º estrofe:
Continua a oposição, mas para constatar no final que talvez possamos ser felizes nessa outra terra (diminuição da possibilidade).
3º estrofe:
O sujeito poético conclui que a sua atividade pensante, o facto do permanentemente questionar/refletir faz com que o deixe de
sonhar e se aperceba da realidade envolvente.
Fernando Pessoa
4º estrofe:
O sujeito poético realça que a felicidade está em cada um de nós pelo que cabe a cada um tentar encontrar a solução para os seus
problemas existenciais.
Somos felizes no sonho, depois temos que retomar à realidade.
Perguntas:
1. A ilha é “uma mistura de sonho e vida” (v. 2), caracterizada pela “suavidade” (v. 3) e pela presença do “amor” (v.6). Pelas suas
qualidades, é um local desejado pelo sujeito poético (v. 5).
Análise:
Verifica-se um sentimento de alegria e de saudade.
É preferível ele alegrar-se com uma memoria intelectualizada pois é assim que se satisfaz.
Temos neste poema a alusão ao passado, ao presente e ao futuro- traduz o passar do tempo; ao olhar para trás, surge um
sentimento intenso que resulta da memoria de infância.
1ª estrofe
2ª estrofe
O sujeito poético gostava de ter uma memória de infância, o que tem é uma mera construção intelectual.
3ª estrofe
Descreve o futuro como uma visão, algo que não consegue alcançar.
Análise:
Na natureza não há pensamentos associados.
Temos presente uma realidade de dor de pensar.
Não há uma regra própria de estrofes, o que remete para o título, a liberdade.
Fernando Pessoa