Doenças Exantemáticas
Doenças Exantemáticas
Doenças Exantemáticas
DOENÇAS EXANTEMÁTICAS
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u Diagnóstico diferencial dos exantemas: para diferenciá-los, preste atenção às características do exantema
e aos sintomas que o acompanham!
u Lembre-se do exantema polimórfico na varicela e das manchas de Koplik patognomônicas do sarampo.
u Agentes etiológicos, tratamento e medidas de precaução.
u Notificação compulsória: sarampo, rubéola, síndrome da rubéola congênita e casos graves internados ou
óbitos por varicela.
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Doenças exantemáticas Capítulo 27
2. SARAMPO
2.1. EPIDEMIOLOGIA
Fonte: https://www.maemequer.pt/desenvolvimento-infantil/
saude-infantil/dicionario-da-saude-do-bebe/herpes-zoster/.
O sarampo é uma doença infecciosa exantemática
aguda, transmissível e extremamente contagiosa,
230
Doenças exantemáticas Cap. 27
231
Doenças exantemáticas Capítulo 27
Fonte: Marazzi.10
Fonte: Georgia.11
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Doenças exantemáticas Cap. 27
Outros sintomas que podem estar associados O sarampo é uma doença de notificação compul-
ao sarampo são diarreia e vômitos, sendo que os sória, que deve ser notificada logo após a suspeita
lactentes apresentam maior risco de evoluir com clínica.
desidratação. Também pode ocorrer apendicite
por obstrução da luz do apêndice pela hiperplasia
2.5. T
RATAMENTO E COMPLICAÇÕES
linfoide.
Em pacientes menores de 1 ano, que ainda possuem Vale a pena relembrar as medidas de isolamento hos-
anticorpos maternos circulantes, pode ocorrer uma forma pitalar:
subclínica de sarampo com exantema inespecífico e W Precauções de contato: uso de luvas e aventais ao
breve associado a poucos sintomas. Esses pacientes contato com o paciente, associado à lavagem frequente
geralmente não transmitem o vírus. das mãos ou uso de álcool gel.
W Precauções de gotículas: uso de máscara cirúrgica
quando no mesmo ambiente fechado que o paciente.
2.4. DIAGNÓSTICO W Precauções de aerossóis: uso de máscara N95 quando
no mesmo ambiente fechado que o paciente.
O diagnóstico é feito pelo quadro clínico e epide-
miológico. Além disso, podemos encontrar achados
laboratoriais inespecíficos na fase aguda, como a O tratamento é apenas de suporte, com uso de
leucopenia com redução proporcionalmente maior antipiréticos, hidratação, suporte nutricional e oxige-
dos linfócitos, embora também possa ocorrer uma nioterapia, se necessário. Pacientes hospitalizados
neutropenia absoluta. Na ausência de complicação devem permanecer em precauções de contato e
bacteriana secundária, a velocidade de hemos- de aerossóis durante o período de transmissão
sedimentação (VHS) e a proteína C reativa (PCR) do vírus (até 4 a 6 dias do início do exantema).
também são normais. A deficiência de vitamina A em crianças de países
em desenvolvimento está associada ao aumento
A confirmação do diagnóstico pode ser feita pela da mortalidade do sarampo, com uma correlação
sorologia, principalmente pelo encontro de IgM inversa entre os níveis de retinol e a gravidade do
positivo, que surge 1 a 2 dias após o início do exan- sarampo; por isso, a Organização Mundial de Saúde
tema e continua detectável por até 1 mês, ou pela recomenda a suplementação com vitamina A em
identificação do aumento em 4 vezes dos títulos de menores de 2 anos com sarampo em 2 doses via oral
IgG em amostras pareadas, colhidas na fase aguda de 50.000 UI em menores de 6 meses, 100.000 UI
e na fase de convalescência (2 a 4 semanas depois). entre 6 e 12 meses de vida e de 200.000 UI nos
O isolamento viral por cultura ou a detecção do maiores de 1 ano.
RNA viral pela reação em cadeia de polimerase em
tempo real (RT-PCR) em amostras de sangue, urina As complicações são atribuídas aos efeitos pato-
e secreções respiratórias também é possível, desde gênicos do sarampo no trato respiratório e no sis-
que as amostras sejam colhidas até o 7º dia após tema imune. A maior morbimortalidade ocorre em
o início do exantema. A análise molecular pode ser menores de 5 anos (em especial, nos menores de 1
utilizada para determinar o genótipo circulante do ano) e nos maiores de 20 anos, principalmente na
vírus, além de diferenciar a infecção causada pelo vigência de desnutrição, deficiência de vitamina A ou
vírus selvagem daquela decorrente de vacinação imunodeficiência associada. Deve-se suspeitar de
recente do sarampo. complicação na persistência ou recrudescência da
febre por mais de 3 dias após o início do exantema.
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Doenças exantemáticas Capítulo 27
A causa mais comum de morte no sarampo é a perda do controle dos centros autonômicos do
pneumonia, causada diretamente pela infecção viral tronco encefálico, evoluindo para demência, es-
(pneumonia de células gigantes) ou por infecção tupor e coma. A maioria dos casos morre em 1
bacteriana sobreposta por S. pneumoniae, S. aureus a 3 anos e o tratamento é apenas de suporte.
ou H. influenzae. É comum a evolução para bron- X Sarampo negro ou hemorrágico: situação rara
quiolite obliterante em crianças que apresentaram de erupção cutânea hemorrágica frequente-
pneumonia grave por sarampo. Embora a pneumonia mente fatal.
seja a causa mais comum de morte, a complicação
mais comum do sarampo é a otite média aguda,
em decorrência do excesso de secreção em via 2.6. PROFILAXIA
aérea superior, que pode complicar inclusive com
sinusite e mastoidite. A profilaxia primária do sarampo é a vacinação com
Outras complicações mais graves são descritas a tríplice viral (SCR) aos 12 meses, seguida de uma
associadas ao sarampo, como: dose de reforço aos 15 meses sob a forma da vacina
tetraviral (SCR + varicela).
X Encefalite após sarampo: mais comum em ado-
lescentes e adultos, decorrente de um processo Em indivíduos suscetíveis expostos ao sarampo,
pós-infeccioso imunologicamente mediado, e está indicada a profilaxia pós-exposição com a
não do efeito direto do vírus. Começa durante administração da vacina do sarampo em até 72
o exantema com convulsões, letargia, coma e horas da exposição ou com o uso de imunoglobulina
irritabilidade. Identifica-se pleocitose linfocítica em até 6 dias da exposição, indicada em indivíduos
e concentrações elevadas de proteína no líquor. que não podem receber a tríplice viral (vacina de
Cerca de 15% dos pacientes morrem e 20 a 40% agente atenuado), como gestantes, lactentes meno-
mantêm sequelas a longo prazo, como retardo res de 6 meses e imunocomprometidos.
mental, sequelas motoras e surdez.
X Encefalite por sarampo: ocorre em imunocom-
prometidos (SIDA, neoplasias malignas linforre-
3. RUBÉOLA
ticulares e imunossupressão) e resulta da lesão
direta do cérebro pelo vírus, aparecendo de 1 a
10 meses após o sarampo. Cursa com convul- 3.1. EPIDEMIOLOGIA
sões, mioclono, estupor e coma. Quase sempre
evolui com doença progressiva e morte. A rubéola, também chamada de sarampo alemão ou
X Panencefalite esclerosante subaguda (PEES): de sarampo dos 3 dias, é uma doença exantemática
complicação crônica rara do sarampo de início aguda, de alta contagiosidade e leve em lactentes
tardio e desfecho quase sempre fatal. Resulta e crianças. Em adultos, costuma ser mais grave,
da infecção persistente com vírus alterado do sendo importante principalmente devido à possi-
sarampo, hospedado intracelularmente no siste- bilidade de infecção transplacentária que ocorre
ma nervoso central por vários anos e que após 7 em gestantes e resulta na síndrome da rubéola
a 10 anos inicia uma nova virulência e ataca as congênita. Antes da vacinação universal, a rubéola
células neuronais, desencadeando um processo ocorria em epidemias a cada 6 a 9 anos e era mais
neurodegenerativo. É mais comum em meninos comum em pré-escolares e escolares. Após a intro-
e quando a aquisição do sarampo ocorre em ida- dução da vacina, a incidência caiu em mais de 99%,
de precoce (< 4 anos). Inicia-se com alterações com uma incidência relativamente alta da doença
sutis no comportamento ou desempenho esco- em maiores de 19 anos. No Brasil, de 1999 a 2001
lar, como irritabilidade ou redução da atenção, ocorreram surtos em vários estados do país, com
evoluindo depois com mioclono maciço que, por aumento progressivo no número de casos suspeitos
último, se transforma em coreoatetose, imobi- de síndrome de rubéola congênita devido à incidên-
lidade, distonia e rigidez. Deteriora enfim para cia importante de rubéola em mulheres em idade
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Doenças exantemáticas Cap. 27
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Doenças exantemáticas Capítulo 27
Não se esqueça de que tanto a rubéola quanto a Os pacientes com rubéola devem ser isolados por
síndrome da rubéola congênita são doenças de 7 dias após o início do exantema, mantendo-se pre-
notificação compulsória imediata, ou seja, logo à cauções de contato e de gotículas se hospitalizados.
suspeita clínica. Não se faz rotineiramente a imunização de bloqueio
para os contatos, visto ser uma doença mais leve,
mas ela poderia ser feita com a vacina tríplice viral
3.5. T
RATAMENTO E COMPLICAÇÕES aplicada em até 72 horas após o contato. Em mulhe-
res grávidas suscetíveis expostas à rubéola, pode
A rubéola é uma doença branda com prognóstico ser considerado o uso de imunoglobulina.
excelente. O tratamento é apenas de suporte, com
antipiréticos e analgésicos. Imunoglobulina e cor-
ticoides podem ser considerados nos casos de 4. EXANTEMA SÚBITO
trombocitopenia grave não remitente.
As complicações são infrequentes e geralmente
não são fatais. As complicações mais comuns são 4.1. EPIDEMIOLOGIA E ETIOLOGIA
a trombocitopenia e a artrite. A trombocitopenia
pós-infecciosa é mais comum em crianças do sexo O exantema súbito, também chamado de roséola
feminino e geralmente é autolimitada. Aparece cerca infantum ou de sexta doença, é a manifestação clí-
de 2 semanas após o exantema, com petéquias, epis- nica da infecção primária pelo Herpesvírus humano
taxe, sangramento gastrointestinal e hematúria. Já a 6 e, mais raramente, pelo Herpesvírus humano 7,
artrite é mais comum em mulheres adultas começa vírus de DNA de dupla fita da subfamília dos β-her-
uma semana após o início do exantema e envolve pesvírus (a mesma do citomegalovírus). Vemos que
as pequenas articulações das mãos. É autolimitada, a infecção pelos herpesvírus humano 6 e 7 ocorre
desaparecendo sem sequelas em algumas semanas. precocemente no início da vida, sendo mais de
95% dos casos em crianças menores de 3 anos
A encefalite é a complicação mais grave da rubéola.
de idade, com pico de incidência entre os 6 e 15
À semelhança do que ocorre no sarampo, pode ser
meses de idade. Anticorpos maternos transferidos
de dois tipos:
durante a gestação provavelmente impedem que a
X Encefalite pós-infecciosa: acompanha a rubéola
infecção ocorra em menores de 6 meses. A infecção
aguda, surge 7 dias após o início do exantema, pode ocorrer durante todo o ano, sem sazonalidade
com cefaleia, convulsão, coma, sinais neuroló- específica, e a transmissão ocorre por gotículas.
gicos focais e ataxia. O líquor é normal ou com
pleocitose mononuclear branda e/ou proteínas
elevadas. Em geral, ocorre resolução total dos 4.2. PATOGÊNESE
sintomas, mas já foram relatadas taxas de mor-
talidade de 20% e até sequelas neurológicas a O vírus é adquirido a partir do contato com secre-
longo prazo. ções infectantes que penetram as mucosas oral,
X Panencefalite progressiva da rubéola (PPR): dis-
nasal ou conjuntival. Após a replicação viral em
um local ainda desconhecido, ocorre uma elevada
túrbio neurodegenerativo raro que ocorre anos
viremia nas células mononucleares do sangue.
após a rubéola. Início e curso semelhante à PEES,
Após a infecção aguda, como todo herpesvírus, o
com morte 2 a 5 anos depois.
vírus se torna latente nas células mononucleares e
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Doenças exantemáticas Cap. 27
possivelmente nas glândulas salivares, rins, pulmões exantema, é um padrão clínico clássico que deve
e no sistema nervoso central. sugerir exantema súbito. A transmissão do vírus
ocorre apenas na fase de viremia, ou seja, durante a
febre, de forma que, quando a doença é clinicamente
4.3. QUADRO CLÍNICO
identificável, o paciente não é mais transmissor,
não estando recomendado o isolamento.
A maioria dos casos cursa apenas com febre e
irritabilidade, sendo que apenas 25% das crianças
infectadas apresentam o quadro clínico clássico 4.4. DIAGNÓSTICO
da doença.
O diagnóstico é clínico, baseado principalmente
Após um período de incubação de 5 a 15 dias, inicia
na idade e no padrão de febre do paciente. Nos
o período prodrômico, que pode ser assintomático
primeiros dias de febre podem ser encontradas
ou cursar com sintomas leves do trato respiratório
leucometria de 8000 a 9000 leucócitos/mm3, que
superior, como rinorreia leve, inflamação leve da
depois cai para 4000 a 6000 leucócitos/mm3, com
faringe e hiperemia conjuntival discreta. A doença
relativa linfocitose na fase do exantema. O líquor,
clínica inicia com febre alta (média de 39°C), que
por vezes colhido em decorrência da febre elevada
pode ou não ser acompanhada de irritabilidade e
e da convulsão febril, é normal.
anorexia, persiste por 3 a 5 dias e depois desaparece
em crise. Convulsões febris podem ocorrer durante O diagnóstico etiológico pode ser feito por meio
esse período em 5 a 10% das crianças. da sorologia IgM (presente a partir do 5º ao 7º dia
de doença com pico na 2ª e 3ª semanas e desapa-
O exantema surge dentro de 12 a 24 horas do desa-
recimento em 2 meses), soroconversão do IgG em
parecimento da febre, como lesões individualizadas
amostras pareadas com 2 a 3 semanas de intervalo,
pequenas, róseas e levemente elevadas distribuídas
cultura viral e teste de amplificação viral por PCR
no tronco que depois se espalham para pescoço,
(não implica necessariamente infecção ativa, já
face e extremidades (Figura 7). O exantema não é
que o vírus pode permanecer latente nos tecidos).
pruriginoso e não cursa com vesículas ou pústulas.
Geralmente desaparece após 1 a 3 dias sem deixar
descamação. 4.5. TRATAMENTO E COMPLICAÇÕES
5. ERITEMA INFECCIOSO
5.1. E
PIDEMIOLOGIA E ETIOLOGIA
Fonte: Mame55.14
O eritema infeccioso, também chamado de quinta
A febre alta em lactentes, sem outros sinais e sin- doença, é uma doença exantemática que ocorre
tomas, que se resolve em crise seguida de um principalmente em crianças em idade escolar, entre
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Fonte: Giangrande.15
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Fonte: Knapp.16
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Fonte: Langran.18
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Doenças exantemáticas Cap. 27
Figura 14. Vesículas com halo de hiperemia em que 2 a 3 dias depois chegam até 4 mm de diâme-
língua de criança com doença mão-pé-boca. tro, nos pilares anteriores, palato mole e até úvula
(Figura 16). Geralmente encontramos linfadenopatia
cervical associada. A febre geralmente dura até 4
dias, e o restante dos sintomas até 7 dias. Na maioria
dos casos, a doença é leve sem complicações, mas
também pode evoluir com meningite asséptica.
Fonte: Marazzi.21
Fonte: Heilman.23
247
Doenças exantemáticas Capítulo 27
A radiografia de tórax frequentemente demonstra autolimitado e os achados clínicos. Uma das hipóte-
alargamento de área cardíaca. Pode haver elevação ses é de que um agente ubíquo cause a doença de
de enzimas cardíacas e alteração do eletrocardio- Kawasaki, mas que a doença sintomática só ocorra
grama, com anormalidades do segmento ST, onda em indivíduos geneticamente predispostos, já que
T e/ou do ritmo. A mortalidade pode chegar a 4%, existe um predomínio da doença em asiáticos e ela
mas geralmente ocorre resolução completa dos é dez vezes mais comum em irmãos de crianças
sintomas sem sequelas. que já tiveram a doença de Kawasaki. Predomina
em meninos com menos de 5 anos (80%), com pico
de incidência entre os 18 e os 24 meses. Alguns
8.4. DIAGNÓSTICO
fatores de risco estão associados a maior gravidade
da doença (Quadro 1).
O diagnóstico da doença mão-pé-boca e das outras
doenças causadas por enterovírus é eminentemente Quadro 1. Fatores de risco associados a maior
clínico-epidemiológico, podendo os casos estar gravidade da doença de Kawasaki. VHS: velocidade
associados a surtos comunitários e em creches. de hemossedimentação. PCR: proteína C reativa.
A confirmação etiológica raramente é necessária,
Fatores de risco de gravidade da doença de Kawasaki
mas pode ser feita por meio de cultura viral em
amostras de sangue, urina, orofaringe e até líquor. Idade < 3 meses ou > 5 anos
9.2. PATOGÊNESE
9. DOENÇA DE KAWASAKI
Na doença de Kawasaki ocorre uma vasculite necro-
sante grave de todos os vasos sanguíneos, com pre-
9.1. EPIDEMIOLOGIA E ETIOLOGIA domínio das artérias de médio calibre e predileção
pelas artérias coronarianas. Na fase aguda ocorre
A doença de Kawasaki é uma vasculite febril aguda uma intensa infiltração de células inflamatórias na
autolimitada, que ocorre no mundo todo, porém é parede vascular, resultando em necrose progressiva
mais frequente nos asiáticos. É a principal causa de e formação de aneurismas. Já na fase subaguda
doença cardíaca adquirida em crianças nos Estados ocorre o remodelamento da parede vascular com
Unidos da América e no Japão. A etiologia é des- proliferação dos miofibroblastos da camada média,
conhecida, mas diversas características sugerem podendo resultar em estenose e obstrução da luz
uma origem infecciosa como o grupo etário afetado, vascular. Na fase subaguda também estão elevados
a ocorrência em epidemias episódicas (com sazo- os níveis de todas as imunoglobulinas séricas, suge-
nalidade nos meses mais frios no Brasil), o quadro rindo a ocorrência de intensa resposta imune com
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Doenças exantemáticas Cap. 27
grande produção de anticorpos. Não está claro se X Eritema de mucosa oral e faríngea com língua
o principal fator que leva à doença coronariana é o em framboesa, lábios secos e fissurados sem
agente etiológico, a resposta imune do hospedeiro ulceração. Não se observa exsudato, vesículas
ou ambos. ou úlceras em orofaringe.
X Hiperemia conjuntival bilateral geralmente sem
9.3. QUADRO CLÍNICO exsudato.
X Alterações de extremidades:
A doença inicia com febre elevada (até 40°C) remi-
W Fase aguda: eritema e edema de mãos e dos
tente que não responde a antibióticos e apresenta
pés.
duração de, pelo menos, 5 dias, podendo chegar
W Fasesubaguda: descamação periungueal de
a 2 semanas (caso não seja feito o tratamento),
associada a outras quatro das cinco características mãos e pés.
clínicas (Figura 17) listadas a seguir:
X Linfadenopatia cervical não supurativa, geral-
X Exantema que se inicia no tronco (com acentua- mente unilateral, em cadeia cervical anterior,
ção na área da virilha) e pode ser maculopapular, com diâmetro maior que 1,5 cm.
polimorfo ou escarlatiniforme. Nunca o exantema
se apresenta com vesículas ou bolhas.
Figura 17. Achados clínicos característicos da fase aguda da doença de Kawasaki. A: hiperemia
conjuntival bulbar bilateral. B: língua em framboesa e lábios fissurados. C e D: eritema e
edema de mão e pés. E. exantema maculopapular. F: descamação perineal.
Fonte: Up to kids.24
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Doenças exantemáticas Capítulo 27
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Doenças exantemáticas Cap. 27
Exames laboratoriais
Avaliação clínico‑laboratorial
Se 3 ou +: se persistência da febre
1) Anemia
2) Leucócitos ≥ 15.000/mm³ ECO se descamação típica
3) Plaquetas ≥ 450.000 após 7º dia de febre
4) Albumina ≤ 3 g/dL
5) ALT/TGP aumentada
6) Leucocitúria ≥ 10/campo
OU
ECO alterado
Tratar
ECO: ecocardiograma.
Fonte: McKrindle.25
251
Doenças exantemáticas Capítulo 27
Tabela 2. Achados laboratoriais da doença de Kawasaki. com significativa morbimortalidade. Com o uso
VHS: velocidade de hemossedimentação. PCR: da imunoglobulina intravenosa nos primeiros 10
proteína C reativa. GGT: gama glutamil transferase.
dias de doença, esse risco diminui para 2 a 5% dos
Achados laboratoriais da doença de Kawasaki casos, sendo o tratamento indicado para todos os
Anemia normocítica e normocrômica pacientes diagnosticados.
252
Doenças exantemáticas Cap. 27
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Doenças exantemáticas Capítulo 27
cervical anterior e posterior, além da cadeia subman- No início da doença pode haver leucopenia, mas
dibular). Linfonodos axilares e inguinais também na 2ª a 3ª semana ocorre um pico de leucocitose
podem estar aumentados, assim como linfonodos com linfocitose relativa e absoluta com linfócitos
epitrocleares (muito sugestivos de mononucleose). atípicos acima de 10% ou de 1.000/mm3. Pode ocor-
Além disso, encontramos também hipertrofia de rer também uma trombocitopenia leve de 50.000
amígdalas com exsudato cinza-claro, podendo a 200.000/mm3 e aumento das transaminases em
ocorrer inclusive petéquias em palato, que dura até 75% dos casos (geralmente subclínica, sem
de 7 a 10 dias e pode ser confundida com infecção associação com icterícia ou dor abdominal).
estreptocócica. Em até 50% dos casos pode ser
O diagnóstico é confirmado por exames sorológicos:
identificada esplenomegalia até 2 a 3 cm do rebordo
costal esquerdo, podendo estar associada inclusive X Teste de anticorpos heterófilos: positivo em 40%
à dor abdominal. A hepatomegalia é mais rara (10%) dos casos na primeira semana de doença e em
e também pode ocorrer edema periorbitário (sinal até 90% dos casos na terceira semana. Cerca
de Hoagland). de 40% das crianças com menos de 4 anos não
A maior parte dos sintomas dura menos de 10 dias, desenvolvem anticorpos heterófilos (não é con-
mas a fadiga e a linfadenopatia cervical podem fiável, nessa faixa etária, fazer sorologia). Além
persistir por mais de 3 semanas. disso, esses anticorpos também podem apare-
cer em outras situações (doenças autoimunes e
Na evolução normal da mononucleose não ocorre malignidades) e podem persistir por mais de 1
exantema, a não ser que o paciente seja exposto a ano após a infecção aguda.
derivados da penicilina, indicados pelo diagnóstico
X Anticorpos anti-EBV específicos: os principais são
errôneo de faringite estreptocócica em decorrência
do aspecto da orofaringe. Surge então um exantema o IgM e IgG anticapsídeo viral (anti-VCA), o IgG
maculopapular leve e pruriginoso resultado de uma antiantígenos precoces (anti-EA) e o IgG antian-
hipersensibilidade transitória à penicilina que ocorre tígeno nuclear (anti-EBNa). Na fase aguda ocorre
nesses pacientes. o aparecimento da IgM e IgG anti-VCA em todos
os casos e uma resposta anti-EA na maioria dos
pacientes (Figura 19).
10.4. DIAGNÓSTICO W Anti-VCA IgM: persiste por quatro semanas
(até 3 meses eventualmente) e depois desa-
parece gradualmente.
BASES DA MEDICINA
W Anti-VCA IgG: detectáveis após a primeira se-
mana de doença, com pico no final da fase
Os anticorpos heterófilos são identificados pela aglutina-
aguda, declínio lento ao longo de semanas a
ção das hemácias de carneiro e de cavalo em decorrên-
cia da presença de anticorpos IgM contra antígenos de meses e persistência por toda a vida.
superfície dessas células que se desenvolvem devido à W Anti-EA IgG: persistem por meses e podem se
estimulação imune desencadeada pela infecção primária tornar detectáveis de forma intermitente por
pelo EBV
muitos anos.
W Anti-EBNa IgG: são os últimos a aparecer, ge-
ralmente três a quatro meses após o início da
doença, e persistem por toda a vida.
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Doenças exantemáticas Cap. 27
Fonte: Balfour.3
REFERÊNCIAS
Não existe um tratamento específico para mononu-
cleose, estando recomendado apenas o uso antitér-
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299–301.
a rotura esplênica, mais comum em adolescentes
255
Doenças exantemáticas Capítulo 27
7. McCrindle BW, Rowley AH, Newburger JW, Burns JC, Bolger 25. McCrindle BW, Rowley AH, Newburger JW, Burns JC, Bolger AF,
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Doenças exantemáticas Cap. 27
QUESTÕES COMENTADAS
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Doenças exantemáticas Capítulo 27
com a infecção pelo herpesvírus humano 6 ou tipo esbofeteada com palidez perioral; 2) disseminação
7 (em percentual menor). Fazem parte do gênero como manchas vermelhas pelo corpo, com aspecto
roseolovírus da subfamília beta-herpesvirinae, da rendilhado (clareamento central); 3) Ressurgimento
família Herpesviridae. do exantema rendilhado após melhora clínica quan-
Alternativa C: INCORRETA. O eritema infeccioso é a do o paciente é exposto a fatores desencadeantes
principal manifestação da infecção pelo parvovírus como sol, atividade física e estresse.
B19, um vírus de DNA que pertence ao gênero ery- Alternativa C: CORRETA. A rubéola cursa com um
throvírus, da família Parvoviridae. pródromo de febre baixa, dor de garganta, cefaleia,
Alternativa D: INCORRETA. A síndrome mão-pé-boca mal-estar, hiperemia ocular e linfadenopatia, princi-
pode ser causada por diferentes enterovírus, mas o palmente os cervicais suboccipitais, retroauriculares
principal agente envolvido é o coxsackievírus A16. Os e anteriores. Segue-se, então, a fase exantemática,
outros possíveis agentes incluem o enterovírus 71, com máculas rosadas, pequenas, coalescentes e que
além de outros coxsackievírus A e B. desaparecem em poucos dias. Outro sinal que pode
aparecer em provas são as manchas de Forchhei-
Alternativa E: CORRETA. O sarampo é um vírus do gê-
mer, petéquias em palato identificadas à oroscopia.
nero morbilivirus da família Paramyxoviridae.
Alternativa D: INCORRETA. Varicela é uma doença vesi-
copapular, e não maculopapular, como traz a questão.
Questão 3 Além disso, caracteriza-se por lesões pleomórficas
(PROCESSO SELETIVO UNIFICADO/MG – 2016) Criança de 4 anos (em diversos estágios de evolução – máculas, pápu-
de idade, gênero masculino, apresenta febre, exan- las, vesículas e crostas) em todo o corpo, podendo
tema maculopapular generalizado, acompanhado acometer também mucosas.
de linfadenopatia occipital e retroauricular há três
dias. História vacinal completa. Diante deste caso, Questão 4
deve-se suspeitar de:
(SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DE BELO HORIZONTE – 2019) Em
⮦ Adenovirose. 2018, o Brasil vivenciou um dos seus piores surtos
⮧ Eritema infeccioso. de sarampo dos últimos anos, com mais de mil
⮨ Rubéola. casos confirmados. Em relação ao sarampo, é IN-
CORRETO afirmar que:
⮩ Varicela.
⮦ Por ser um sinal patognomônico, diante do apa-
dificuldade:
recimento das manchas de Koplik, o uso profi-
Y Dica do autor: Questão simples de doenças lático de antibiótico deve ser instituído o mais
exantemáticas, que quer saber se o aluno sabe qual breve possível.
a doença que caracteristicamente apresenta linfade- ⮧ A doença tende a se comportar de forma endê-
nopatia cervical e retroauricular. Devemos lembrar mica nos locais onde as coberturas vacinais não
que as principais doenças exantemáticas maculo- são homogêneas e estão abaixo de 95%.
papulares são: sarampo, rubéola, exantema súbito e ⮨ O período de maior transmissibilidade ocorre
eritema infeccioso, escarlatina e doença de Kawasaki. entre os 2 dias antes e os 2 dias após o início
Alternativa A: INCORRETA. Adenovírus geralmente do exantema.
cursam com infecção do trato respiratório, causan- ⮩ Para todo paciente que apresentar febre e exan-
do desde nasofaringite até pneumonia, ou do trato tema maculopapular, acompanhados de tosse
gastrointestinal, causando diarreia principalmente e/ou coriza e/ou conjuntivite, deve-se realizar a
em crianças. notificação compulsória através do preenchi-
Alternativa B: INCORRETA. A fase exantemática do eri- mento da ficha do SINAN.
tema infeccioso apresenta-se em estágios: 1) face
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Doenças exantemáticas Capítulo 27
reticulado em tronco e extremidades. O agente etio- Alternativa D: CORRETA. O parvovírus B19 causa o
lógico e uma complicação são: eritema infeccioso. O exantema tem três fases: face
esbofeteada (eritema malar e palidez perioral), exan-
⮦ Herpesvírus 6 e 7; complicações neurológicas. tema rendilhado em tronco e membros (máculas eri-
⮧ Coxsackievirus A16 e A10; complicações car- tematosas que evoluem com clareamento central) e
díacas. recidiva do exantema quando da exposição a fatores
⮨ Vírus do sarampo; pneumonia. desencadeantes, como sol, exercício físico e estresse.
⮩ Parvovírus B19; manifestações hemorrágicas.
dificuldade: Questão 7
Y Dicado autor: Menina de 4 anos que apre- (SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE DE SÃO PAULO – 2017) Uma menina
sentou um pródromo com febre e mal-estar, evoluin- com 8 meses apresenta quadro de febre elevada
do hoje com face esbofeteada (eritema em regiões há 2 dias. Ao exame clínico, apenas temperatura
zigomática, preservando a região central da face) de 39,2°C. Realizada triagem para infecção uriná-
e exantema rendilhado em tronco. Existem duas ria, negativa. Após 3 dias de febre elevada, houve
doenças exantemáticas que se manifestam com normalização do quadro febril com aparecimento
a face esbofeteada: o eritema infeccioso, causado de exantema maculopapular, não pruriginoso e
pelo parvovírus B19, e a escarlatina, causada pelos rosa-claro, especialmente em tronco e pescoço.
estreptococos β-hemolíticos do grupo A infectado por A principal hipótese neste caso e o agente mais
bacteriófagos produtores de exotoxinas eritrogênicas. comum são, respectivamente:
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Ao exame físico, apresenta-se em regular estado apresentam resposta parcial ao uso da imunoglo-
geral, hipoativo, choroso, descorado 2+/4, hidratado, bulina, não sendo um tratamento de primeira linha.
febril, com hiperemia em conjuntivas e orofaringe, Alternativa D: INCORRETA. Assim como a penicilina, o
lábios vermelhos e edemaciados, exantema macu- uso de qualquer antibiótico, por via oral ou venosa, não
lopapular predominando no tronco e na região peri- é recomendado e não muda a evolução da doença.
neal, e edema em mãos e pés. Os exames mostram:
hemoglobina = 7,5 g/dL; leucócitos = 18.000/mm³;
plaquetas = 750.000/mm³; VHS = 40 mm/na 1ª hora. Questão 10
O tratamento mais adequado para esse menino é: (FACULDADE DE MEDICINA DO ABC/SP – 2018) Escolar de oito
⮦ Penicilina benzatina. anos é levado a consulta por apresentar febre alta há
10 dias. Exame físico: edema palpebral, petéquias no
⮧ Imunoglobulina endovenosa.
palato, exsudato amigdaliano, adenomegalia cervical
⮨ Pulso de metilprednisolona endovenosa. anterior e posterior, fígado palpável a 3,5cm do RCD e
⮩ Antibioticoterapia endovenosa. baço a 2,5cm do RCE. Qual o diagnóstico e tratamento:
dificuldade: ⮦ Aspirado de medula óssea e corticoterapia.
Y Dica do autor: O paciente em questão apre- ⮧ Hemograma e antibioticoterapia.
senta um quadro típico de Doença de Kawasaki, ⮨ Bacterioscopia e cultura da secreção faríngea e
vasculite de médios vasos com predomínio do aco- antibioticoterapia.
metimento das artérias coronárias. O diagnóstico é ⮩ Sorologia para vírus de Epstein-Barr e observa-
feito pelo encontro de febre por pelo menos 5 dias ção clínica.
associado a pelo menos 4 das 5 características clí-
nicas: hiperemia conjutival bilateral não exsudativa, dificuldade:
linfonodomegalia cervical aguda não supurativa, le- Y Dica do autor: A mononucleose infecciosa
sões em lábios ou mucosa oral, exantema polimorfo é transmitida pelo herpes-vírus Epstein-Barr. A tríade
e alterações em extremidades, como edema e eri- clássica de apresentação clínica envolve faringite, fa-
tema palmoplantar. Veja que o paciente apresenta diga e linfonodomegalia. Cerca de 90% dos pacientes
febre há uma semana, hiperemia conjutival, lesões apresentam linfadenopatia generalizada, 50% vão ter
eritematosas em lábios e orofaringe, exantema ma- esplenomegalia e até 10% hepatomegalia.
culopapular difuso e edema de mãos e pés, confir-
Alternativa A: INCORRETA. Não há indicação para rea-
mando o diagnóstico. A conduta imediata é, além de
lizar aspirado de medula óssea.
realizar ecocardiograma para todos os pacientes, o
uso de imunoglobulina venosa e AAS em doses an- Alternativa B: INCORRETA. O hemograma pode nos
ti-inflamatórias. A principal complicação é o aneu- dar pistas (leucocitose com linfocitose e cerca de
risma coronariano, o que justifica a solicitação de 20 a 40% de atípicos), mas a antibioticoterapia não
ecocardiograma e o seu acompanhamento mesmo está indicada.
em pacientes sem alterações no exame físico, como Alternativa C: INCORRETA. É comum haver a suspeita
sopros cardíacos. de faringite de origem bacteriana, e, se solicitados,
Alternativa A: INCORRETA. O uso de penicilina benza- esses exames virão negativos. Se for iniciado o tra-
tina não é recomendado para Kawasaki. tamento com antibióticos, em 80% dos casos haverá
um exantema maculopapular secundário a uma hi-
Alternativa B: CORRETA. É a medida mais eficaz para
persensibilidade a derivados da penicilina que ocorre
a doença, devendo ser realizada o mais precoce-
nesses pacientes.
mente possível, de preferência nos primeiros 10 dias
da doença. Alternativa D: CORRETA. Diante de um quadro com a
tríade clássica da mononucleose, linfonodopatia e
Alternativa C: INCORRETA. A pulsoterapia com metil-
esplenomegalia, é necessário investigar EBV. O tra-
prednisolona está indicada na doença de Kawasaki
tamento é de suporte.
apenas naqueles pacientes que não respondem ou
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