Variação Linguística em LE

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XI Semana de Extensão, Pesquisa e Pós-Graduação - SEPesq

Centro Universitário Ritter dos Reis

VARIAÇÃO LINGUÍSTICA NAS AULAS DE


INGLÊS E ESPANHOL COMO LÍNGUA ESTRANGEIRA
Jéssica Pastoriza Del Rios
Mestranda
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul - PUCRS
Jessica.rios@acad.pucrs.br

Mônica Rigo Ayres


Mestranda
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul – PUCRS
monica.ayres@acad.pucrs.br

Resumo: Nosso trabalho pretende abordar o tema da variação linguística no âmbito das aulas
de língua estrangeira, especificamente sobre o ensino de língua inglesa e língua espanhola na
cidade de Porto Alegre, a fim de perceber se o tema é explorado em sala de aula e como se
dá a análise das variações nas aulas, além de pensar em como trilhar o caminho para que a
variação faça parte das aulas por ser um fenômeno natural da linguagem. Fazemos uma
abordagem panorâmica sobre variações nos dois idiomas mencionados. Além disso,
esperamos dar voz às professoras, para que elas possam se manifestar sobre como se sentem
em relação à variação linguística quando estão em sala de aula, frente às perguntas dos
alunos e tendo como carga o que aprenderam sobre o assunto em sua formação, para tanto,
entrevistamos dez professores de inglês e dez de espanhol, com o intuito de perceber o que
está ocorrendo na sala de aula quando se trata de variação. Suas respostas foram analisadas
e serão mencionadas brevemente ao final do artigo. Com isso, pretendemos contribuir para a
valorização da variação linguística nas aulas de língua estrangeira, pois parece ser o espaço
onde ela é mais desvalorizada.
Palavras-chave: Variação linguística; inglês para brasileiros; espanhol para brasileiros.

1 Introdução

O presente trabalho tem por objetivo mostrar a investigação feita sobre a


existência de alguma menção às variações da língua inglesa e espanhola nas
aulas de idiomas em escolas públicas estaduais, públicas municipais, cursinhos
pré-vestibulares e ensino superior. A motivação para a realização da pesquisa
veio do conhecimento de um crescimento no interesse acadêmico em discutir a
importância de se abordar as variações linguísticas nas aulas de língua
materna, assim como os questionamentos que ocorrem, tanto em aulas de
graduação, nas quais os futuros professores querem saber se há um modelo
linguístico a ser seguido para ser ensinado, como em escolas de ensino básico,
onde os alunos, por vezes, perguntam quais as principais diferenças entre o
inglês e o espanhol utilizados em determinados países, ou ainda questionam
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quando ouvem uma pronúncia ou uma regra que contradiz algo que ele tenha
presenciado em linguagem coloquial. Afinal, é através de músicas, filmes,
séries e jogos que os estudantes brasileiros têm algum contato mais
significativo com outras línguas.
Com o intuito de investigar os ganhos que a abordagem das variações
pode trazer aos alunos, porém focando especificamente nas aulas de língua
inglesa e espanhola, foi preciso levantar dados que mostrassem o quão grande
é o número de variantes dessas línguas, muitas vezes ensinadas no Brasil
como invariáveis.
Após a parte que nos subsidiou em teoria, passou-se à parte da
pesquisa de campo, realizada em diferentes escolas e cursos localizados em
Porto Alegre. A praticidade de um questionário entregue e dias depois
recolhido nas escolas ou enviado por e-mail foi escolhida para evitar qualquer
aborrecimento dos entrevistados, que, estando geralmente mais que ocupados
planejando ou lecionando, usufruem pouco tempo livre para participar de
entrevistas mais detalhadas. A elaboração deste questionário, assim como sua
análise, buscou aliar teoria e prática, ou seja, perceber como se reflete no
ensino o conhecimento adquirido durante a formação do professor.

2 Línguas estrangeiras ensinadas no Brasil

A fim de apresentar um panorama geral sobre as línguas estrangeiras


ensinadas no Brasil, se iniciou uma pesquisa bibliográfica que apontou uma
realidade já prevista da predominância do inglês. Existem algumas exceções a
essa realidade, como a rede de ensino municipal de Porto Alegre, RS, que
possibilita outras escolhas à comunidade escolar, como o ensino do espanhol,
italiano e francês, por exemplo. A língua alemã na grade curricular regular
também está presente em algumas escolas públicas e privadas no Brasil,
inclusive, segundo Couto (2012, [s. p.]), “nos anos 2000 o número de alunos de
alemão como língua estrangeira aumentou por volta de 25% no Brasil”.
Um exemplo da importância que teria o ensino de línguas estrangeiras
modernas no Brasil é o texto presente no complemento dos Parâmetros
Curriculares Nacionais para o Ensino Médio:

Não há hoje como conceber um indivíduo que, ao término do ensino


médio, prosseguindo ou não sua formação acadêmica, seja incapaz
de fazer uso da língua estrangeira em situações da vida
contemporânea, nas quais se exige a aquisição de informações.
(MORAES, 2000, p. 93)

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Se o inglês atualmente é o principal entre os idiomas estrangeiros


estudados no mundo inteiro, é natural que essa situação se repita no Brasil,
onde o ensino de uma língua estrangeira muitas vezes é estimulado sob o
pretexto principalmente de alcance de maiores oportunidades econômicas e
sociais, como a justificativa recorrente de que sabendo inglês é mais provável
que se consiga uma vaga em um bom emprego. Com o estabelecimento de
relações mais significativas entre o Brasil e outros países da América do Sul
através do Mercosul e também pela semelhança com o português, o ensino de
espanhol também é amplamente oferecido em escolas regulares de ensino
médio. Inclusive, de acordo com os documentos oficiais que regularizam o
ensino no Brasil, é a oferta da língua espanhola que aparece desde 2005 como
obrigatória, enquanto a aprendizagem de outra língua estrangeira moderna
também deve ser oferecida de acordo com a possibilidade das escolas. Consta
na lei de diretrizes e bases lançada em 1996, no artigo 36, inciso III que “será
incluída uma língua estrangeira moderna, como disciplina obrigatória, escolhida
pela comunidade escolar, e uma segunda, em caráter optativo, dentro das
disponibilidades da escola.” ( BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de
1996). Entretanto, o artigo 1º da lei Nº11.161, de 2005, torna “ O ensino da
língua espanhola, de oferta obrigatória pela escola e de matrícula facultativa
para o aluno”. (BRASIL. Lei nº 11.161, de 5 de agosto de 2005).
Ou seja, a aprovação de tal lei demonstra o interesse por parte das
autoridades, de que os estudantes brasileiros de ensino médio aprendam a
língua espanhola e, se possível, mais uma língua estrangeira a ser escolhida.
Contudo, é perceptível que, ao lado do espanhol, o idioma que a maioria das
escolas oferece é o inglês

3 Variação linguística

Para uma definição do que é variação linguística, trazemos o conceito


defendido por Bagno da heterogeneidade das línguas; pensando que os
idiomas em uso estão sempre em transformação, ele afirma o seguinte:

[...] a língua, na concepção dos


sociolinguistas, é intrinsecamente heterogênea, múltipla, variável,
instável e está sempre em desconstrução e em reconstrução. Ao
contrário de um produto pronto e acabado, de um monumento
histórico feito de pedra e cimento, a língua é um processo, um fazer-
se permanente e nunca concluído. (BAGNO, 2007, p.36)

Isso significa que, em âmbito regional, cronológico ou social, mudanças


no uso de uma língua acontecem sem parar. Ora é a predominância de um
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vocábulo sobre outro, ora a grafia substituindo ou eliminando letras etc. Os


falantes de uma língua determinam como ela se porta e se molda às suas
necessidades. Existem diversos tipos de variações linguísticas. Para este
trabalho, se preferiu analisar as seguintes modalidades de variações:
a) variação diatópica, que analisa a forma de falar um mesmo idioma
em diferentes lugares;
b) variação diastrásica, na qual se compara o uso da mesma língua em
diferentes classes sociais;
c) variação diamésica, que verifica as divergências entre língua escrita
e falada.

A presença do assunto variação linguística em sala de aula é um tema


amplamente estudado no mundo inteiro. O motivo da ascensão desse assunto
no mundo acadêmico de uns anos para cá é explicável pela aceitação da
natureza heterogênea das línguas (BAGNO, 2007, p. 36), e também pela
tentativa de aumentar a confiança dos falantes de uma língua levando-os ao
entendimento de que a aprendizagem da mesma não precisa ser totalmente
baseada em uma só variante, mas sim em situações reais e úteis para que eles
possam sentir que fazem parte da construção da língua que falam.
Apesar disso, muitos são os que defendem que o papel do ensino de
línguas nas escolas, seja materna ou estrangeira, deve focar - na verdade, dar
exclusividade a - uma única variante da língua, geralmente o chamado padrão
culto. Conforme já comentado, esses argumentam que é preciso insistir em
uma padronização do idioma para a sobrevivência do mesmo. Assim como
outros defendem que é ensinando a variante padrão culta aos alunos que se dá
a eles a verdadeira chance de dominar uma língua.
Pode ser útil então saber da relação de prestígio e estigma que sofrem
algumas variações da língua, resumida por Bagno:

Cada variante linguística recebe,


no jogo das relações sociais, avaliações diferentes. Essas avaliações
se distribuem ao longo de uma linha contínua, que vai do mais
estigmatizado ao mais prestigiado, como amplo espectro de gradação
entre esses dois extremos. (BAGNO, 2007, p. 76)

Ou seja, todo falante de qualquer língua passa a ser socialmente


avaliado a partir da variação que utiliza para se comunicar, o que causa o
preconceito linguístico, fazendo com que numa comunidade como a falante de
português brasileiro, alguém julgue como inferior outro brasileiro que apesar de
também falar português, use uma variedade diferente da mesma língua. Como
tanto o inglês como o espanhol são línguas que têm grandes comunidades de
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fala espalhadas pelo mundo, se imagina que a variação é um tema não só


possível, como muito importante de ser trabalhado em aulas desses idiomas no
Brasil se adotarmos o ponto de vista daqueles que entendem o aprendizado de
um idioma muito além de uma série de traduções e regras, como uma opção
de desvendar outros mundos, como diz Rajagopalan:

[...] é nosso dever preparar nossos alunos para serem cidadão do


mundo novo que se descortina diante dos nossos olhos [...] Para
atuar nesse admirável mundo novo, os nossos alunos têm de
aprender a lidar com todas as formas de falar inglês. Isso requer um
bom “jogo de cintura”, ou seja, uma habilidade de se adaptar às
maneiras mais diferentes de falar inglês. [...] Cabe ao professor do
World English expor a seus alunos a um grande número de
variedades de ritmos e sotaques, pouco importando se eles são
“nativos” ou não. (RAJAGOPALAN, 2009, p. 45-46)

O tema variação, conforme visto pelos diferentes autores citados, não


precisa ser exclusividade das aulas de língua materna, e, mesmo que seja
desafiador, deve também aparecer como assunto muito importante quando a
aula é de língua estrangeira, já que ele é considerado parte constituinte de
saberes fundamentais que envolvem o conhecimento verdadeiro de uma
língua.

4 Variações do inglês

Ao tentar explicar o que é e o que não é o inglês padrão, Trudgill


(2011, p. 8) alerta que “inglês padrão não é uma língua, não é um sotaque, não
é um estilo, nem um registro, mas sim um dialeto”, ou seja, segundo Trudgill, o
chamado inglês padrão seria apenas mais uma entre as tantas variedades de
inglês existentes. Entretanto, o tratamos aqui com certa diferenciação, assim
como o faz o próprio autor, avisando que diferente de outras variedades, o
inglês padrão é um dialeto puramente social.
Também relevante para o presente trabalho, que busca analisar teoria e
prática, é a fala de Lima (2011, [s. p.]), para quem inglês padrão é o inglês
usado pedagogicamente. Logo, pode-se acreditar que existe uma variante do
inglês usada de maneira uniforme em salas de aula de inglês como língua
estrangeira no mundo inteiro. O autor explica assim o que é o chamado inglês
americano padrão:
De modo geral, é o inglês usado por jornalistas (CNN, ABC, New York
Times, etc.), órgãos governamentais (o Presidente Obama o usa em
seus discursos), escolas e faculdades (Havard, Yale, etc.) e grandes
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empresas (o mundo dos negócios das grandes corporações). (LIMA,


2011, [s. p.], grifo do autor).

Isso nos leva então a entender que uma forma padrão de um idioma é
sua variante utilizada em ocasiões de grande alcance, certa oficialidade ou
formalidade. Pode ser essa característica que crie a procura de um inglês
padrão que se possa utilizar no mundo inteiro; porém, considerando o enorme
e diverso território em que é possível comunicar-se com o inglês, padronizá-lo
torna-se um desafio e o que se percebe, é que, além desse inglês, existem
muitos outros espalhados pelo mundo.
De acordo com a nomenclatura e as siglas que frequentemente
aparecem na produção acadêmica sobre o assunto, a língua inglesa costuma
ser dividida em três partes. Para aqueles que seguem a teoria dos círculos de
Kachru essa divisão é estabelecida da seguinte forma:

O círculo interno refere-se às tradições culturais e bases linguísticas


do inglês. O círculo externo representa as variedades não nativas
(ISL) nas regiões que passaram por períodos extensos de
colonização. O círculo expansível inclui as regiões onde a
performance de variedades da língua são usadas essencialmente em
contextos de inglês como língua estrangeira (ILE). (KACHRU, 1985,
p. x, tradução nossa)
Há ainda a chamada teoria das ondas, mais recente, de Kachru (2006),
explicada por Rajagopalan:

[...] a expansão do inglês se dá em forma de séries de ondas


sucessivas. A primeira dessas ondas produziu variedades como o
inglês escocês, welsh e irlandês. Outra onda foi responsável por
variedades como o inglês americano e o inglês australiano. Outra
onda ainda resultou nos chamados “novos inglês”, como o inglês
indiano, o inglês de Sri Lanka, inglês Keniano, Nigeriano e outros.
Finalmente, a última das ondas está produzindo o inglês chinês,
inglês ucraniano, inglês brasileiro, etc. (RAJAGOPALAN, 2012, p. 49)

Em resumo, é concluído que se chama, de maneira generalizada, o


inglês como língua nativa o que seria falado nos países em que ele é o
principal idioma em uso, aquele aprendido desde o começo da vida, além de
ser oficial; já inglês como segunda língua seria aquele usado nos países que
foram em certo momento, colônias de países em o inglês era a primeira língua
e onde ele também é oficial, mas não necessariamente a língua mais utilizada
pela população; enquanto inglês como língua estrangeira refere-se ao inglês no
restante do mundo, em países em que apesar da conhecida importância, o
inglês não assume papel de idioma oficial (KIRKPATRICK, 2007, p. 27).
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Para listar as diferenças de origem geográfica (diatópicas) e sociais


(diastrásicas) do inglês, foram consultados trabalhos que procuraram rastreá-
las ao redor do mundo, contudo, se pensarmos que uma língua viva está em
constante transformação por parte de seus falantes, imaginamos que novos
“tipos” de inglês podem surgir e mudar com frequência, dificultando a formação
de uma lista definitiva e exata. O que se pode dizer é que atualmente, com
base nos estudos de Hickey (2014), Kortmann e Lunkenheimer (2013), existem
mais de quarenta variações da língua inglesa sendo usada ao redor do mundo.
As características que tornam as variantes como diferentes umas das
outras são várias. Elas passam por aspectos fonológicos, morfológicos e
sintáticos. Para exemplificar, segue comparação de algumas variações com
aquela considerada padrão, ou seja, com aquela à qual os estudantes de inglês
tendem a ser mais expostos.

Quadro 1 – Exemplos de variações da língua inglesa


Padrão Variação Tipo de diferença

I’ve read the I’ve the book read. (Irish) Ordem das palavras.
book.

She likes my She like my brother. (African Eliminação de


brother. American) redundância.

Time: /taim/ Time: /taɛm/ ou /ta:m/ (South Fonética.


African)
Fonte: HICKEY, R. 2014

5 Variações do espanhol

O português falado em território brasileiro apresenta uma diversidade


linguística imensa. A língua espanhola, falada em diversos países, apresenta
variações dentro de um mesmo país, bem como entre países distintos. Por
vezes, inclusive, a pronúncia das palavras que é comum em um país latino-
americano, por exemplo, também pode ser percebida ao sul da Espanha. Há
um terreno muito fértil a ser explorado na questão da variação no espanhol, as
diferenças podem ocorrer no âmbito da fonologia, pequenas diferenças
sintáticas e também lexicais. Muitas vezes o estudo e a discussão da variação
em língua espanhola ficam restritos à academia, sendo assim, apenas alunos
de graduação em língua espanhola debatem o tema, muitas vezes depois
esquecendo-o ou não dando a devida importância a ele quando vão ensinar
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espanhol nas escolas. O fato da variação não ser abordada nas aulas de
espanhol como língua estrangeira também pode ocorrer por causa do fato dos
professores não se sentirem preparados para lidar com o tema, por não
conhecerem ou não se sentirem familiarizados com mais de uma variante da
língua.
Acreditamos que a língua espanhola tem alcançado cada vez mais
espaço no mundo, e principalmente no Brasil, graças a divisa com vários
países cuja língua oficial é o espanhol, por isso emerge cada vez mais a
necessidade de se discutir a riqueza dessa língua, para que o estudo da
mesma não se torne empobrecido e prejudicado, dando-se valor a apenas uma
variante.

Para discutir o tema da variação, seja em língua materna ou


estrangeira, é preciso que se tenha em mente que as línguas são suscetíveis a
mudanças e que isso é natural, e que é justamente nessas mudanças que se
encontra a riqueza da diversidade linguística. Porém, por vezes a diversidade
acaba fazendo com que se considerem algumas variantes como superiores, ou
mais prestigiadas, enquanto outras são marginalizadas. Geralmente também
há a ideia de que a língua “original”, ou seja, a língua falada na Espanha seria
a mais “pura”, sendo assim o espanhol latino-americano teria sido “corrompido”
por ter se misturado com línguas indígenas, por exemplo. É claro que aqui não
defendemos essa ideia, acreditamos que todas as variedades da língua devem
ser igualmente prestigiadas, pois são línguas reais, em uso efetivo por
determinadas comunidades. De forma alguma a variação linguística representa
o caos, toda variação respeita o sistema da língua, de acordo com Moreno:

[...] há que se levar em conta que a língua


espanhola é vista como uma em todo mundo hispânico, mesmo que
variada; que não existem, em geral, rejeições por parte de falantes de
nenhuma região em relação a variedades distintas da sua; que o
mundo hispânico tende claramente à homogeneidade graças à
influência potente dos meios de comunicação. (MORENO, 200, p. 36,
tradução nossa)

Ainda segundo o autor, as semelhanças entre as variedades são


maiores que suas diferenças.
Ou seja, mesmo que cada região tenha “seu” espanhol, todos são
variedades de uma única língua e isso é reconhecido por seus falantes. A
questão é: como dar conta de todos esses espanhóis na aula de língua
estrangeira? Essa é uma questão difícil de ser respondida, mas esperamos
contribuir no caminho para encontrar a resposta.

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Dentre as diferenças das variedades de espanhol, podemos citar como


exemplo o voseo, que é o uso do pronome vos na segunda pessoa do singular,
ou seja, algumas variedades do espanhol utilizam tú e outras vos, como nos
exemplos: “¿Tú queres té? x “¿Vos querés té?”. Podemos relacionar essa
variação com o que ocorre no sistema pronominal do português, sendo que
algumas regiões utilizam “você” e outras “tu”. Segundo Xavier (2013) “O uso do
“voseo” não é de uso corrente em todos os países da Hispano América e não
se configura de maneira homogênea em todos os países onde ocorre. O
“voseo” rioplatense, por exemplo, tem usos e formas diferentes das do “voseo”
da Colombia ou do Chile.” Pode-se também tratar das diferenças fonéticas de
pronúncia no Uruguai e na Espanha, por exemplo, quanto aos sons de “ll” e “y”
nas palavras lluvia e ya.
Na sala de aula parece ser mais fácil tratar das diferenças lexicais que a
variação proporciona. Como exemplos dessa variação podemos sitar as
seguintes palavras: FEIJÃO - Espanha: judías; Argentina: porotos; Outros
países latinos: frijoles; PAPAI NOEL - Espanha e Colômbia: papá noel; México
e outros países latinos: santa claus; CHILE: viejito pascuero; e, ALUGAR -
Espanha: alquilar; México: rentar; Colômbia: arrendar.
São vários os tipos de variação e em cada um deles há muito que pode
ser explorado, isso sem mencionar a riqueza cultural dos diferentes países
onde se fala espanhol, a aula de língua estrangeira com certeza tem muito a
oferecer aos alunos, sabendo como explorar as nuances da língua a garantia
de sucesso no ensino-aprendizagem torna-se certeira.

6 Com a palavra, os professores

Acreditamos que os professores, por serem os que dão vida à teoria de


ensino e aprendizagem, devem ter voz neste trabalho. Por isso, contamos com
eles para nos ajudar a entender como se dá o ensino de língua estrangeira nas
escolas, cursos e ensino superior.
Com relação aos professores de inglês, na questão em que os
professores autodeterminavam seu nível de conhecimento, apenas um disse
ser conhecedor básico da variante padrão americana, variante essa, sobre a
qual três outros professores se intitularam como conhecedores intermediários,
já sobre as variações do inglês americano, quatro disseram ser conhecedores
intermediários, dois marcaram como sendo conhecedores avançados e dois se
definiram como conhecedores do básico entre variações do inglês americano.
Quando a questão abrange também o conhecimento de outras variações, fora
a dos Estados Unidos, quatro professores mencionan a capacidade básica de
conhecer variações contrastantes entre países como os Estados Unidos e a
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Grã-Bretanha, por exemplo, enquanto dois se dizem conhecedores básicos


nesse quesito. Apenas um entre os profissionais pesquisados se definiu como
conhecedor avançado de variações do inglês falado em um país que não fosse
os Estados Unidos, infelizmente, não foi informado de qual região se tratava.
Metade do número de entrevistados disse receber às vezes perguntas sobre
variações. Dois deles especificou que as perguntas feitas são sobre diferenças
entre o inglês utilizado em diferentes países; os outros dois que
complementaram suas respostas, disseram ouvir mais perguntas referentes ao
uso oral contrastando com uso gramatical, ou seja, percebendo e questionando
as diferenças entre as regras aprendidas e exemplos notados em músicas e
filmes.
Dois professores respondendo à mesma questão, disseram receber
frequentemente perguntas principalmente sobre diferenças entre inglês
britânico e americano.

No que toca aos professores de língua espanhola, dentre os


entrevistados, um não teve formação acadêmica em espanhol, e por isso não
se acha apto nem a dar aulas de espanhol e muito menos a falar sobre
variação, ele procura auxílio em um curso particular para poder dar aulas na
rede estadual de Porto Alegre. Todos os outros entrevistados possuem
formação acadêmica em língua espanhola e conhecem bem uma variedade do
espanhol, sendo que também têm conhecimento, mesmo que menor, sobre
outras variedades. A maioria dos professores prefere preparar seu material de
aula com auxílio de um livro didático, mas não gosta de basear sua aula
apenas com essa ferramenta, além disso, disseram receber perguntas dos
alunos sobre variações de pronúncia e léxico.

7 Considerações finais

Acreditamos que a riqueza maior da língua está justamente em sua


diversidade, por isso ela deve ser explorada no ensino de língua materna e
estrangeira. Sabemos que a linguagem varia de acordo com região, idade dos
falantes, contexto social, e também em diferentes situações do dia-a-dia.
Esperamos que nossos alunos estejam preparados para lidar com o uso real
da língua em situações concretas, por isso a importância de se analisar
diferentes variedades.
De acordo com os dados coletados, a variação aparece sim como parte
das aulas de língua estrangeira na rede de ensino pública de Porto Alegre,
logo, os professores tentam inserir no ensino básico aquilo que lhes foi exposto
na graduação. Então, mesmo que em um nível básico, a maioria dos
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professores de língua estrangeira das escolas pesquisadas, que representam


uma porção considerável de estudantes da capital do presente estado, têm
conhecimento sobre a existência das variações dos idiomas que lecionam.

Referências

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